Ecomoda
Dia Seguinte - Três dias para a véspera de Natal
07:50 AM
Armando sai do elevador. As mesas das secretárias ainda estão vazias. Ele vai até a porta da presidência. Olha para os lados verificando se alguém o observa e entra.
Presidência da Ecomoda
07:52 AM
Armando fecha a porta de correr da sala de Betty. Coloca sua pasta sobre a mesa e abre, tirando de dentro um envelope. Ele coloca o envelope encostado no telefone, de forma que fique bem visível. Armando observa o envelope por alguns instantes e suspira. Ouve as vozes do Quartel chegando e sai rapidamente pela porta que dá para a sala de reuniões.
Ecomoda
08:01 AM
As portas do elevador se abrem e Betty entra com a fisionomia abatida. Aura Maria e Sandra vem ao encontro dela.
AURA MARIA: - (PREOCUPADA) Betty, como está?
SANDRA: - Ai, Betty estávamos morrendo de preocupação!
BETTY: - (DISFARÇANDO) Eu estou bem, meninas.
Betty faz menção de andar mas Aura Maria a segura. Sofia e Bertha se aproximam do grupo.
AURA MARIA: - Betty, você não vai deixar a gente assim, precisamos fazer um 911!
BETTY: - Meninas, por favor...
SOFIA: - (INTERROMPENDO) Ai, não, Betty! Estamos desesperadas sem saber o que aconteceu com você!
BERTHA: - Ainda mais depois de ontem, que o seu Armando chegou todo arrebentado da produção!
SANDRA: - Porque ele brigou com esse tal de Miguel Herrera, Betty? Você sabe quem ele é?
Betty arregala os olhos.
BETTY: - (SECA) Como vocês sabem o nome dele?
O Quartel das Feias se entreolha, sem jeito.
AURA MARIA: - (SEM GRAÇA) Ah, Betty, a gente fez uma pequena investigação…
BERTHA: - Demos uma olhadinha nos arquivos dos funcionários temporários, mas bem de leve!
Betty suspira de irritação.
SOFIA: - Betty, o que está acontecendo, hein?
SANDRA: - Você sabe que pode se abrir conosco, somos suas amigas.
BETTY: - (IRRITADA) Que uma coisa fique bem clara: não quero nenhuma de vocês investigando, remexendo ou fofocando pelos corredores sobre a minha vida pessoal, entenderam?
As meninas do Quartel ficam surpresas com a reação de Betty.
BETTY: - (IRRITADA) Vocês entenderam?!
AURA MARIA: - (GAGUEJANDO) Sim, Betty…
Betty sai em direção à presidência e entra, batendo a porta. As meninas do Quartel ficam chocadas.
BERTHA: - (SUSSURRANDO) Vocês viram isso? Aí tem.
Sofia revira os olhos. Sandra faz sinal para que ela se cale e todas voltam para as suas mesas em silêncio.
Presidência da Ecomoda
08:20 AM
Betty entra na sala e larga a bolsa no encosto de sua cadeira. Respira fundo, passando as mãos pelo rosto, tentando soltar a tensão. Começa a mexer em alguns papéis e vê o envelope próximo ao telefone. Ela observa o envelope onde diz "Para Beatriz". Betty pega o envelope e o abre, retirando algumas folhas escritas.
Ela começa a ler.
ARMANDO: - (OFF) Minha estimada Presidente…
Betty cobre a boca com a mão, sem acreditar no que lê. Ela fecha os olhos e deixa o corpo cair sobre a cadeira. Respira fundo. Abre os olhos e continua a ler a carta.
ARMANDO: - (OFF) Minha estimada Presidente… Sim, começo essa carta desta forma, não porque queira fazer você lembrar daquela outra carta, terrível, que nos machucou tanto. Mas porque quero criar uma nova lembrança, que apague aquela outra ou que pelo menos possa servir como a continuação do nosso processo de curar nossas feridas. Lembro de você me dizendo exatamente isso, naquela tarde, depois que a pedi em casamento. Nós podemos criar novas lembranças para apagar as antigas, você disse, com essa sabedoria e bondade que arrebata todos os dias o meu coração. É chegada a hora de apagarmos mais uma - aquela maldita carta - reduzi-la em pedaços e submete-la ao esquecimento.
Antes de mais nada preciso revelar algo a você, que nesse momento em que escrevo me causa imensa vergonha e arrependimento: depois de sair de sua casa ontem, tive uma briga com Miguel. Queria poder contar-lhe pessoalmente, mas sei que agora você não quer me ver e saberei respeitar isso. Depois que conversamos, tomou conta de mim o mais absoluto desespero, sentimento esse que sem muita demora se converteu em frustração e quando finalmente cheguei à Ecomoda, já estava cego pela raiva. Confesso que não sei que caminho minha mente fez para que eu fosse parar na empresa, e a fúria me fez esquecer como tudo aconteceu. Quando dei por mim já Freddy e Wilson tentavam me impedir de matar aquele homem. Naquele momento me senti o pior dos perdedores porque sabia que você desaprovaria minha reação desmedida. Sei que aquilo era a última coisa que você queria que acontecesse. Voltei para minha sala arrasado e não saí de lá durante o resto do dia. No entanto, tomei as providências para que Miguel fosse bem cuidado e que as contas do que quer que ele necessite sejam postas a meu encargo. Por sorte soube que ele teve apenas alguns hematomas e inchaços - assim como eu. Ele foi dispensado dos seus afazeres de trabalhador temporário mas vai receber pelos dias que trabalhou e que trabalharia - e tudo isso sairá do meu salário.
Mais tarde saí da Ecomoda e fui até sua casa. Tudo o que eu mais desejava eram os seus braços ao meu redor, o calor do seu corpo para aplacar a dor interna e externa que eu sentia, mas obviamente não me atrevi a entrar. Voltei para meu apartamento e pensei muito, me culpei, me odiei. E agora percebo que enquanto descontava toda a minha frustração naquele homem, agredia nele a mim mesmo. Me vi refletido em Miguel, da mesma forma como você me viu. E compreendi você, Betty. Compreendi e quis destruir tudo aquilo que machucou você, através dele e através de mim. Mas sei que as coisas não se resolverão assim e que o tempo é nosso único aliado. Se agora te escrevo é porque essa é a forma que encontro para estar próximo e de chegar até você sem causar mais dano.
Como disse antes, Beatriz, quero respeitar a sua vontade de ficar longe de mim. Mas ao contrário de meses atrás, não vou me afastar da Ecomoda. Você me ensinou a amar essa empresa como eu nunca soube amá-la e é meu dever com ela, com você e comigo mesmo que eu continue a trabalhar para que ela prospere. Mas prometo me manter longe, não cruzar o seu caminho, não importuna-la até que você sinta que está pronta para isso. Mas há algo mais: acho covarde da minha parte deixar para você a decisão de me procurar, como se eu não tivesse responsabilidade com nada. Não quero que você sinta que não estou próximo, que não me importo. Como eu disse, você é, e sempre será, a minha prioridade. Então me permita ser uma voz em uma carta, ao menos por enquanto.
Você não imagina o quanto me dói pensar que nesse momento você relembra e repassa pela mente tudo o que vivemos. Sim, eu fui o homem que a enganou. Fui o pior que existe. Mas por sua causa tento todos os dias ser a melhor versão de mim. É claro que falharei muitas vezes, não sou ingênuo de pensar que me transformarei no melhor homem do mundo. Mas se tento, é tudo por sua causa. Não há outro motivo. Nada que não seja você faz sentido na minha vida.
Amo você, Betty. Com um amor que arrebenta meu peito, grita, chora e ri. Você está dentro de mim, por entre a minha pele, como uma força tão arrebatadora, que perturba meus sentidos, me transforma, chegando a lugares onde ninguém mais conseguiu chegar.
Eu estou aqui com você, Betty. Mesmo quando você quer distância de mim, mesmo quando me detesta, estarei aqui e esperarei por você.
Para sempre seu,
Armando.
Betty coloca a carta sobre sua mesa e se debruça sobre ela, em lágrimas.
Ecomoda
09:30 AM
Catalina sai do elevador segurando sua bolsa e uma sacola, se aproximando da mesa de Aura Maria.
CATALINA: - Bom dia, Aura Maria! Betty e Armando estão?
AURA MARIA: - Sim, dona Catalina. Vou avisar que a senhora chegou. Quer que a acompanhe até a sala de reuniões?
CATALINA: - Não é necessário, Aura Maria. Obrigada.
Catalina vai para a sala de reuniões. Aura Maria faz sinal para Sandra.
AURA MARIA: - Você avisa o doutor Armando?
SANDRA: - Sim, pode deixar.
Aura Maria pega o telefone, discando o ramal de Betty.
Presidência da Ecomoda
09:32 AM
Betty para de digitar no computador e atende o telefone.
BETTY: - (AO TELEFONE) Catalina Ángel está aqui?
AURA MARIA: - (OFF) Sim, Betty. Lembra-se da reunião sobre a campanha beneficente?
BETTY: - (AO TELEFONE) Ah, sim, claro. Não sei como fui esquecer disso… Avise ao doutor Gutiérrez, por favor. Obrigada, Aura Maria.
Betty desliga o telefone. Suspira e levanta-se.
Sala de Reuniões
09:34 AM
Catalina larga a bolsa e a sacola sobre uma das cadeiras. Armando entra na sala de reuniões pela porta que dá para o seu escritório. Catalina olha para ele sorrindo, mas ao perceber o rosto de Armando cheio de hematomas e seu lábio cortado, arregala os olhos.
CATALINA: - Armando, mas o que foi que houve?!
Catalina se aproxima de Armando, tocando a bochecha dele. Armando abre a boca para explicar mas é interrompido por Betty, que abre a porta da sala de reuniões. Catalina tem a fisionomia preocupada.
CATALINA: - Betty, o que aconteceu com o Armando?
Betty para na porta, olhando Armando pela primeira vez. Seus olhos enchem-se de lágrimas ao ver o estado dele. Armando olha pra ela, profundamente entristecido. Betty desvia o olhar, entrando na sala e fechando a porta de correr. Catalina percebe o clima estranho entre os dois.
ARMANDO: - (DISFARÇANDO) Ah, não foi nada, Cata. Depois eu explico.
CATALINA: - Não pode ter sido nada, Armando! Pelo seu estado parece que quase te mataram!
Armando dá um sorriso sem graça e senta-se. Betty senta-se longe dele na mesa. Catalina os observa, estranhando. Gutiérrez entra na sala.
GUTIERREZ: - Good morning, ladies and gentlemen.
Gutiérrez senta-se. Betty, incômoda, começa a reunião, enquanto o olhar de Catalina passeia entre Armando e Betty, intrigada.
[corte]
Gutiérrez arruma seus papéis e levanta-se.
GUTIERREZ: - Muito bem, dona Catalina. Vou enviar o memorando aos funcionários sobre a distribuição das doações amanhã. Assim que eu souber o nome dos voluntários, envio para a senhora.
CATALINA: - Obrigada, Gutiérrez.
GUTIERREZ: - If you'll excuse me, doctors.
Catalina sorri. Gutiérrez sai da sala. Betty começa a arrumar seus papéis e se levantar.
CATALINA: - Betty, por favor, espere um minutinho.
Betty para o que está fazendo e olha para Catalina. Armando se levanta, fechando o botão do paletó.
ARMANDO: - Vou deixá-las então, para que conversem…
Armando faz menção de sair, mas Catalina o detém.
CATALINA: - Não, não, o que tenho pra falar também envolve você, Armando.
Armando senta-se novamente, sem entender. Catalina abre a sacola que trouxe e tira duas caixas de presente.
CATALINA: - Como vocês sabem, eu viajarei amanhã logo depois da entrega das roupas da campanha beneficiente e não estarei em Bogotá para o Natal. Por isso hoje também vim trazer o meu presente pra vocês.
BETTY: - (SORRI) Ah, não precisava, dona Catalina.
CATALINA: - Claro que sim. Não há nada que me dê mais satisfação do que presentear meus amigos queridos.
ARMANDO: - (SORRI) Catalina, você não existe.
Armando pega a sua caixa de presente e olha para Betty, que está fazendo o mesmo.
CATALINA: - Antes de abrirem gostaria de dizer que esse presente estava sendo elaborado há alguns meses, mais precisamente naquele evento de moda em que fomos representar a Ecomoda, lembram-se?
Betty olha para a caixa, intrigada.
ARMANDO: - A Fashion Week de Bogotá?
CATALINA: - Precisamente. Lembram que levei uma amiga fotógrafa?
BETTY: - Sim, você falou que ela iria tirar fotos para os arquivos do Hugo, se bem me lembro…
CATALINA: - (SORRI) Pois bem, espero que vocês não se importem que eu tenha mentido, nem que tenha invadido a privacidade de vocês, mas achei que seria o presente perfeito.
Armando olha para a própria caixa, desamarra o laço e a abre. Betty faz o mesmo.
Armando retira um porta-retrato de dentro da caixa e o observa, respirando fundo. No porta-retrato uma foto de Armando e Betty lado a lado, de mãos dadas. Armando conversa com alguém enquanto Betty olha para ele, sorrindo apaixonada.
Armando olha da foto para Betty, que do outro lado da mesa, também observa um porta-retrato.
Na foto que Betty tem nas mãos, ela está dando uma entrevista para um canal de televisão em primeiro plano enquanto Armando olha para ela, com os olhos brilhando, cheio de orgulho.
Betty larga o porta-retrato e sai rapidamente para sua sala.
ARMANDO: - Beatriz...
CATALINA: - Betty, que passa?
Betty bate a porta deixando Catalina e Armando sozinhos. Catalina olha para Armando. Ele suspira, passando a mão pelo rosto.
CATALINA: - (SEM ENTENDER) Armando, o que está acontecendo?
ARMANDO: - Catalina, eu prefiro que a Betty conte a você. Se me dá licença.
Armando levanta-se, pegando a caixa e o porta-retrato.
ARMANDO: - Muito obrigado pelo presente. De verdade.
Armando sai para sua sala. Catalina fica confusa, olhando para o porta-retratos de Betty.
N/A: Demorei mas voltei! Perdão pelo sumiço, mas a vida as vezes sai do controle. *wink wink
