Presidência da Ecomoda
10:25 AM
Catalina entra na sala de Betty, segurando a caixa de presente. Betty limpa as lágrimas por baixo dos óculos, tentando disfarçar. Catalina senta-se em frente à ela, colocando a caixa sobre a mesa.
BETTY: - Desculpe, dona Catalina, por ter saído daquela maneira.
CATALINA: - Não precisa se desculpar, Betty. Eu percebi que algo está acontecendo entre você e o Armando. Me perdoe pelo presente, não queria causar nenhum tipo de mal-estar…
BETTY: - Imagina, dona Catalina. Está tudo bem. Não é culpa sua. É que…
Betty fica em silêncio, olhando para baixo.
CATALINA: - Betty, não quero me intrometer na sua vida. Mas sabe que pode confiar em mim, não é mesmo?
BETTY: - Claro que sim.
CATALINA: - Quer me contar o que está havendo?
Betty ergue o olhar para Catalina. Começa a chorar, soluçando. Catalina levanta-se, dá a volta na mesa e abraça Betty.
Sala de Armando
10:27 AM
Armando observa o porta-retratos que ganhou de Catalina. Passa os dedos sobre o rosto de Betty. Suspira.
Presidência da Ecomoda
10:53 AM
Betty seca as lágrimas com um lencinho de papel. Catalina lhe entrega um copo de água.
BETTY: - Como é possível que eu sinta essas coisas, dona Catalina? Quando eu achava que tudo tinha ficado pra trás...
CATALINA: - Betty, não é tão simples assim.
BETTY: - A gente conversou tanto sobre isso... Sobre como, apesar de tudo, ambos crescemos com o que aconteceu. Mas agora parece que tudo foi em vão. E que no final das contas não houve perdão, que esse tempo todo eu estava me enganando.
CATALINA: - Betty, eu não posso dizer que sei pelo que você está passando, porque realmente, nunca vivi algo assim. Mas eu posso falar que o que vejo diante de mim não é uma mulher que não perdoou. Muito pelo contrário. Eu vejo uma mulher viva, inteira, que tem sentimentos, uma mulher de carne e osso. Betty, ninguém espera que você seja a Madre Teresa!
BETTY: - Mas como é que vai ser daqui pra frente, dona Catalina? Como é que eu posso pensar num futuro com uma pessoa que me traz tantas recordações ruins?
Betty chora, abaixando a cabeça. Catalina a observa.
BETTY: - Isso não é certo. Nem comigo, nem com o Armando. Não é justo que ele também precise reviver isso, dia após dia, só porque eu não consigo deixar esse passado de lado.
Catalina sorri.
CATALINA: - Betty, não percebe? Apesar de ferida você ainda pensa no bem-estar desse homem. Você não acha que é motivo suficiente para ter esperanças de que isso vai passar?
BETTY: - (ANGUSTIADA) E se não passar?
CATALINA: - Betty, seja honesta comigo. Você ama o Armando?
BETTY: - (ANGUSTIADA) E-eu… Eu não sei…
Betty cobre o rosto com as mãos, chorando. Catalina suspira, preocupada.
BETTY: - (CHORANDO) Quando eu penso no quanto ele mudou, quando penso nas coisas maravilhosas que ele me diz, em como ele tem me tratado... não tenho como dizer que não estou apaixonada pelo Armando… Mas ao mesmo tempo, quando eu lembro de tudo que aconteceu… Eu sinto raiva, dona Catalina. E não sei o que fazer com isso, porque parece que vai me consumir!
CATALINA: - Betty, você precisa de tempo. Ter visto o Miguel reavivou algo em você que ainda não tinha sido superado. Não se condene tanto por isso, se dê esse tempo, se permita sentir raiva se é o que você está sentindo. Talvez seja apenas uma última prova que o amor de vocês precisa.
BETTY: - Mas será que o amor é suficiente, dona Catalina? Será que vai conseguir superar o que eu sinto agora?
CATALINA: - Betty, o que está, de verdade, no fundo disso? Você acha que o Armando ainda mente quando diz que te ama?
Betty suspira.
CATALINA: - Seria interessante você pensar sobre isso. Tentar entender porque essas lembranças vieram com tanta força depois que esse Miguel apareceu. Você vê esses dois homens como a manifestação da mesma coisa? O que abalou tanto você depois de ve-lo? Porque sinceramente, Betty, não consigo conceber que você ainda pense que o Armando não te ama.
Catalina pega o porta-retratos e põe sobre a mesa.
CATALINA: - Olhe essa foto.
Betty ergue o olhar e observa o porta-retratos.
CATALINA: - Existe um motivo pelo qual eu quis presentear vocês dois com essas fotos. E é muito simples: vocês dois iluminam os lugares com o amor que sentem um pelo outro. Existe uma energia que emana de vocês e eu confesso que senti isso há muito tempo, desde as primeiras vezes que nos vimos aqui na Ecomoda.
Catalina sorri.
CATALINA: - Betty, o amor de vocês preenche os corredores dessa empresa, circula como uma energia renovadora, que envolve a todos. Não é a toa que ninguém queria que nenhum dos dois renunciasse. Não era só uma questão financeira. Vocês se complementam de formas que o mundo ainda está por descobrir. E eu queria que você pudesse ter uma prova real dessa devoção, dessa admiração, desse amor que o Armando sente por você e você por ele.
Betty chora em silêncio. Catalina segura uma das mãos dela.
CATALINA: - Quando você quiser uma prova de que vocês vão superar isso, olhe pra essa fotografia. Esse é o homem que existe hoje, Betty. Esse é o Armando que você ajudou a criar. O Armando que te fez sofrer, esse que você revive dentro de si, não existe mais. Não só porque ficou no passado ou porque se arrependeu do que fez, mas porque você e ele, juntos, o mataram. Assim como aquela Betty insegura e apagada, também morreu. Você não percebe que a Betty que foi enganada tanto pelo Armando, quanto pelo Miguel, não existe mais? Ela morreu em Cartagena. E ela morre a cada dia em que você escolhe ser diferente, lutar por si mesma, não se deixar abater. Não tente trazer do túmulo essa Betty do passado.
Betty pega o porta-retratos o trazendo para si. Respira fundo. Catalina levanta-se, pegando a bolsa.
CATALINA: - Você tem todo o direito de tomar seu tempo para se reerguer. Isso não é nenhum pecado. Mas não se afaste do Armando. E não digo isso por ele, mas por você mesma. Não se prive de estar envolvida pelo amor dele. Se dê esse direito, Betty.
Catalina sai da sala. Betty suspira, observando a foto.
Sala de Armando
11:22 AM
Armando fala ao telefone. Batidas na porta.
ARMANDO: - (AO TELEFONE) Sim, doutor Bezerra. Está tudo fluindo conforme o combinado.
Catalina abre a porta e ao perceber que Armando está ao telefone, recua. Armando faz sinal para que ela entre. Catalina entra.
ARMANDO: - (AO TELEFONE) Pode ter certeza que o manteremos informado. Obrigado, doutor Bezerra. Até breve.
Armando desliga.
CATALINA: - Desculpe, Armando. Não sabia que você estava ocupado.
ARMANDO: - Imagina, Cata, era só uma ligação de rotina para os bancos. Você sabe como é.
Catalina assente, sorrindo.
CATALINA: - A Sandra me disse que você queria falar comigo...
ARMANDO: - Sim, sim… Sente-se, por favor.
Catalina puxa a cadeira e senta-se. Armando cruza as mãos sobre a mesa, se inclinando na direção dela.
ARMANDO: - Cata, eu imagino que você esteve conversando com a Betty…
CATALINA: - Sim.
ARMANDO: - Olha, me desculpe, não quero me intrometer em nada íntimo dela. Mas imagino que ela deve ter contado… (DESVIA O OLHAR) Sobre o que houve…
Catalina acena afirmativamente com a cabeça. Armando se ajeita na cadeira, respirando fundo. Catalina percebe o desconforto e a dificuldade dele em se abrir.
ARMANDO: - Cata, me perdoe de verdade por colocar você nessa posição, mas…
Catalina segura o braço dele, delicadamente.
CATALINA: - Armando, pode perguntar o que você quiser, e se eu puder, responderei.
Armando pigarreia. Morde o lábio inferior e suspira.
ARMANDO: - (ANGUSTIADO) Como ela está?
Catalina se acomoda na cadeira, se preparando para falar.
CATALINA: - Ela está tentando entender o que acontece, Armando. E estão sendo dias difíceis pra ela.
Armando abaixa a cabeça, triste.
CATALINA: - Eu sei que vocês viveram coisas muito complicadas, Armando. E nem sempre é fácil superar.
ARMANDO: - Eu achei que tínhamos superado esse inferno…
CATALINA: - Esse rosto não é de um homem que superou, Armando.
Armando olha para Catalina, entristecido. Passa a mão pelos hematomas.
ARMANDO: - Eu sou um cretino.
Catalina dá um sorriso triste.
CATALINA: - Quer falar sobre o que aconteceu?
ARMANDO: - A Betty não te contou?
CATALINA: - Muito vagamente.
ARMANDO: - Bem, você está olhando para o resultado da minha briga com esse tal Miguel. Ou melhor, da minha briga comigo mesmo.
Armando levanta-se, ficando de costas para Catalina. Ela o observa.
ARMANDO: - Eu não sei mais o que fazer com tudo isso, Cata. Estávamos indo tão bem… Ou ao menos era o que parecia. Aí surge esse infeliz e tenho a sensação de que voltamos no tempo. A Beatriz me evita, diz que minha presença a faz sofrer. E ela tem todas as razões do mundo pra isso, como é que eu posso criticar o que ela sente? Não posso. Ela precisa de tempo, ela precisa descobrir se vai poder me perdoar algum dia, ela tem que descobrir se essa relação tem futuro… Mas o que eu faço comigo?
CATALINA: - Armando…
ARMANDO: - Como é que eu vou me perdoar se ela não me perdoar primeiro? E como é que eu vou viver sabendo que ela sofre? Me diz, Cata. (DESESPERADO) Você não imagina a força que estou fazendo pra não me enfiar num bar e beber como um desgraçado!
CATALINA: - Armando, você precisa manter a calma.
ARMANDO: - Mas como, Catalina? Como? Sem ela, nada mais faz sentido...
Ainda de costas para Catalina, Armando se apóia numa das mesas e abaixa a cabeça. Catalina percebe que os ombros dele tremem. Ela se levanta e se aproxima de Armando, colocando uma das mãos nas costas dele. Ele desaba em lágrimas, soluçando.
CATALINA: - Chora, Armando. Aqui tem um ombro amigo pra você.
Armando apoia a testa no ombro de Catalina e chora enquanto ela passa as mãos nos cabelos dele, preocupada.
N/A: E aí, o que estão achando? ~muitas emoções...
