Presidência da Ecomoda
06:53 PM
Betty veste o casaco. A porta da sala se abre e Aura Maria entra.
AURA MARIA: - Mandou me chamar, Betty?
BETTY: - Sim, Aura Maria. Entre, por favor, e feche a porta.
Aura Maria entra.
BETTY: - Aura Maria, o doutor Armando já foi embora?
AURA MARIA: - Sim, acabou de sair.
Betty respira fundo.
AURA MARIA: - Betty, me perdoe, mas está acontecendo alguma coisa entre vocês dois, não está?
Betty acena afirmativamente com a cabeça.
AURA MARIA: - (FALANDO SEM PARAR) Ai, Betty, me conta o que há! Você está nos deixando preocupadíssimas. Até alguns dias atrás vocês estavam todos felizes, de beijinhos pra lá e pra cá, planejando casamento… E agora é só essa tristeza, o seu Armando se atracando a socos com um empregado sem ninguém entender porquê e nem se encontrar vocês querem mais! Parece que voltou tudo ao que era antes! Betty, se o seu Armando andou mentindo esse tempo todo pra você, a gente vai dar uma lição nele que ele vai se arrepender de ter nascido...
BETTY: - Aura Maria, pelo amor de Deus, não é nada disso! E eu peço por tudo que é mais sagrado, não façam nenhuma cena, não inventem coisas que não existem. Por favor. Não quero nenhum comentário, não quero falar sobre isso, está bem?
AURA MARIA: - (SURPRESA/CHATEADA) Está bem, Betty…
Betty pega a bolsa e se aproxima de Aura Maria. Segura a mão dela.
BETTY: - Até amanhã, Aura Maria.
Aura Maria sorri, triste.
Estacionamento da Ecomoda
07:08 PM
Betty anda pelo estacionamento, mexendo na bolsa à procura das chaves. Quando se aproxima do carro percebe um envelope preso ao limpador de para-brisa.
Betty retira o envelope lendo seu próprio nome no verso, na caligrafia de Armando. Ela fecha os olhos e entra no carro, jogando a bolsa e o envelope no banco do carona. Coloca a chave na ignição mas não dá a partida. Observa o envelope por um instante e finalmente o pega e abre, retirando um pequeno cartão de dentro. Ela começa a ler.
ARMANDO (OFF): - Sinto tanta falta de conversar com você. Te amo. Armando.
Betty sorri, tristemente. Dá a partida no carro e vai embora.
Quarto de Betty
Dia Seguinte – Um dia para a véspera de Natal
07:10 AM
Betty está sentada em frente ao espelho, terminando de se arrumar. Batidas na porta.
BETTY: - Pode entrar.
Dona Júlia abre a porta e entra.
JULIA: - Filhinha, vai descer pra tomar café?
BETTY: - Em um minuto, mamãe.
Betty escova os cabelos. Dona Júlia a observa pela reflexo.
JULIA: - E como vão as coisas?
Betty se vira na cadeira, suspirando. Dona Julia senta-se na cama de Betty, ficando de frente para ela.
BETTY: - Estou... na mesma ainda. Nada mudou.
JULIA: - E o seu Armando?
Betty se levanta, indo até o armário. Começa a mexer nas roupas, tentando disfarçar. Dona Julia observa a filha, esperando.
BETTY: - Ele deu uma surra no Miguel, mamãe.
Dona Julia cobre o rosto com uma das mãos, surpresa.
JULIA: - Não acredito!
Betty pega um casaco do cabide e o veste.
BETTY: - Uma irresponsabilidade do Armando ter feito isso. Imagina o problema que poderia ter colocado a empresa...
JULIA: - Pois eu acho que foi bem feito!
BETTY: - Mamãe!
JULIA: - Já era hora desse miserável ter o que merecia. Foi embora daqui como se nada tivesse acontecido depois de tudo que te fez! Pois antes tarde do que nunca, minha filha.
Betty revira os olhos.
JULIA: - Mas não se zangue com isso, minha filha. Me diga, ainda vamos passar a véspera de Natal no apartamento do seu Armando?
Betty olha para Dona Júlia, pega de surpresa pela pergunta.
JULIA: - Só mencionei isso porque tinha ficado combinado e seu pai já me perguntou quantas garrafas de whisky ele tem que levar...
Betty senta-se ao lado de sua mãe na cama.
BETTY: - Eu esqueci completamente...
Betty apoia a cabeça nas mãos e começa a chorar. Dona Júlia passa mão pelas costas dela.
JULIA: - Ai, filha... Calma.
BETTY: - (CHORANDO) Eu quero sumir, mãe. Eu não sei mais o que fazer com tudo isso que está dentro de mim.
JULIA: - Calma, meu amor... Se você preferir, vamos ficar aqui em casa, como fazemos todo o ano. E se as coisas melhorarem você chama o doutor para vir aqui. Acho que o seu pai até vai ficar mais aliviado de não precisar sair de casa.
Dona Julia puxa Betty para si, limpando o rosto dela.
JULIA: - E agora, chega de chorar. Hoje você tem um dia muito importante pela frente, não é mesmo? Então respire fundo. As coisas vão melhorar, você vai ver. O tempo cura tudo, minha filha.
BETTY: - Será, mamãe?
JULIA: - Além do mais, é quase, Natal, Betty. E essa época faz milagres. Confia, meu amor.
Dona Julia beija Betty na testa. Betty suspira.
Fachada da Ecomoda
10:13AM
Gutiérrez supervisiona o carregamento dos caminhões com as roupas da campanha beneficente. Vários funcionários, dentre eles o Quartel das Feias, também está em frente a Ecomoda, usando as camisetas da campanha, observando a movimentação, se preparando para a entrega dos presentes.
Armando, de óculos escuros para esconder os hematomas, observa de longe. Ele se aproxima do Quartel, puxando Sandra do meio do bolinho das meninas.
ARMANDO: - Sandra.
SANDRA: - Sim, doutor?
ARMANDO: - Você sabe da doutora Pinzón?
SANDRA: - Ah, sim, ela e a Aura Maria estão finalizando alguns relatórios e já vão descer, doutor Armando. (DESVIA O OLHAR) Ah, olha elas aí.
Armando se vira e percebe Betty, seguida por Aura Maria, saindo pelas portas de entrada da Ecomoda. Ele tira os óculos escuros e olha para ela. Betty desvia o olhar e se aproxima de Gutiérrez.
BETTY: - Tudo pronto, Gutierrez?
GUTIERREZ: - Quase, doutora Pinzón. Finalizando o último caminhão e estaremos prontos para ir para Ciudad Bolívar.
BETTY: - E os brinquedos? Foram comprados e embalados como pedimos?
GUTIERREZ: - Sim, sim, minha querida doutora. Tudo supervisionado pelo doutor Armando. Ele cuidou de todos os detalhes.
Betty desvia o olhar para Armando. Ele conversa com Inesita, há certa distância.
BETTY: - E conseguiram contratar o Papai Noel?
GUTIERREZ: - (SORRI) Ah, but of course! E tenho certeza que a doutora vai gostar muito!
BETTY: - (SEM ENTENDER) Como assim, Gutiérrez?
GUTIERREZ: - Ah, nothing, doutora. Mas pode ficar tranquila, tudo está sob controle.
Armando se aproxima de Betty a puxando delicadamente pelo braço.
ARMANDO: - Betty, acho que vou indo na frente, preciso encontrar com a Catalina e ver como está a montagem da tenda em Bolívar.
BETTY: - Está bem... Quando o Gutierrez terminar aqui, vamos direto para lá.
ARMANDO: - Muito bem.
Armando fica olhando para Betty. Betty observa o rosto dele, ainda inchado e machucado. Ela ergue a mão para tocar o rosto dele, mas desiste. Armando percebe.
ARMANDO: - Betty, eu...
BETTY: - Doutor Armando, se me dá licença.
ARMANDO: - Beatriz, espera. E-eu... queria te entregar isso.
Armando estende um envelope para Betty.
BETTY: - (DESCONFORTÁVEL) Don Armando...
ARMANDO: - Não é nada demais.
Betty pega o envelope. Armando segura a mão dela por um instante, a olhando nos olhos intensamente, como se quisesse dizer mil coisas. Betty morde o lábio, angustiada. Armando a solta e vai embora.
Betty abre o envelope e lê.
ARMANDO (OFF): - A sua compaixão me emociona. Vai ser uma alegria para mim observa-la hoje e fazer parte de algo que você proporcionou a todos nós. Boa sorte, meu amor. E tenho certeza que verei você refletida nos olhos de todas as pessoas hoje. Te amo, te amo, te amo. Armando.
Betty derruba uma lágrima, emocionada. Ela procura Armando com o olhar. O vê, de longe, ao lado do carro, segurando a porta aberta, olhando para ela. Ela balança a cabeça, agradecendo. Armando sorri e entra no carro.
N/A: E aí, que estão achando? Obrigada à Juliana Menezes por seus comentários!
