Ciudad Bolívar
11:28 AM

Um dos caminhões da Ecomoda está estacionado na rua, ao lado de um parque. Uma tenda montada ao lado do caminhão abriga alguns funcionários da Ecomoda que se revezam para experimentar roupas e sapatos em adultos e crianças humildes da região.
Gutiérrez, com um megafone, vai chamando e organizando as pessoas em uma fila.
Em um espaço aberto, debaixo das árvores, Catalina coordena a distribuição de cestas básicas e lanches.
O clima é de confraternização e alegria.
Betty, vestida com uma das camisetas da campanha, se aproxima de Catalina, sorrindo.

CATALINA: - (SORRI) Que bom ver finalmente um sorriso no seu rosto, Betty.
BETTY: - Essas pessoas, dona Catalina... Que gente maravilhosa! Ouvi cada história, de luta, de sacrifício... Faz eu me sentir tão pequena. Meus problemas não são nada perto do que essas mães, esses pais, essas crianças enfrentam todos os dias.
CATALINA: - Pois você está ajudando o Natal dessas pessoas a ser muito melhor, Betty.
BETTY: - Eu? Eu não estou fazendo nada, dona Catalina.
CATALINA: - Como nada, Betty? Olha toda essa gente aqui?!
BETTY: - O que eu fiz de fato, dona Catalina? Fiz cálculos em uma planilha? Quem realmente fez o trabalho braçal? Foram os funcionários da Ecomoda. Cada linha costurada, cada ponto cerzido, foram feitos pelas mãos habilidosas dos funcionários da Ecomoda. E olhe para eles. Continuam aqui, dando o melhor de si. Que sorte que nós temos.

Catalina olha para Betty e sorri.

CATALINA: - Betty, muito me alegra saber que você valoriza tanto seus funcionários. Mas não se subestime. Esse foi um belo trabalho em equipe. Cada um tem o seu lugar. Se não houvesse você na sua sala, fazendo cálculos na sua planilha, ninguém poderia estar aqui hoje também.

Betty sorri. Ela olha para os lados, inquieta.

CATALINA: - Procurando alguém?
BETTY: - (DISFARÇANDO) N-na… na verdade, procurando pelo Papai Noel. Ele já não devia ter chegado para a entrega dos presentes?
CATALINA: - (OLHANDO NO RELÓGIO) É verdade. Mas já deve estar por chegar.
BETTY: - Foi você que o contratou?
CATALINA: - Fui eu sim, porque?
BETTY: - (ALIVIADA) Porque quando perguntei ao Gutiérrez ele me respondeu de um jeito tão estranho que me deu até medo.

Catalina começa a rir.

CATALINA: - Medo do que?
BETTY: - De chegar um Papai Noel estranho, daqueles que traumatizam criancinhas.
CATALINA: - (RINDO) Ai, Betty. Não se preocupe tanto. Olha, pra você ficar tranquila, vou ligar para a agência perguntando. Me dá um minutinho.
BETTY: - (SORRI) Está bem, dona Catalina.

Catalina pega o celular na bolsa e se afasta de Betty. Disca um número.

CATALINA: - (AO TELEFONE) Onde é que você está? (PAUSA) Ai, meu Deus, eu não falei que era pra você não vir dirigindo? (PAUSA) Porque o Esteban não te trouxe?! (PAUSA) Meu Deus, você é inacreditável! (PAUSA) Onde? (PAUSA) Está bem, estou indo pra lá. (PAUSA) Está bem, está bem. (PAUSA) Na rua de baixo, eu entendi!

Catalina desliga o telefone. Passa a mão pela testa, suspirando.

CATALINA: - Que homem neurótico, meu Deus do céu!

[Corte]

Catalina anda por uma rua pouco movimentada, com algumas casinhas humildes. Vê de longe um Papai Noel sentado com as pernas para fora de um carro, com a porta aberta, calçando as botas. Catalina ri, balançando a cabeça.
Em pé ao lado do carro, Freddy, vestido de duende, também está terminando de se arrumar, fechando os botões de um colete verde.
Catalina se aproxima do carro, se abaixando ao lado do Papai Noel.

CATALINA: - Posso saber o motivo dessa demora, Armando?
FREDDY: - Dona Catalina, graças a Deus!

Armando ergue a cabeça, a barba de Papai Noel pendurada somente de um lado do rosto.

ARMANDO: - (ALIVIADO) Catalina! Meu anjo da guarda! Me ajuda, pelo amor de Deus!
CATALINA: - O que você fez, Armando?
ARMANDO: - O que eu fiz?! Eu não fiz nada, Cata. Foi esse maquiador que você contratou pra me arrumar não fez! Ele estava todo apressadinho, terminou o serviço como a cara dele e deu o fora! E olha pra mim! Mal consegui me vestir, essa barba já está caindo, essa maquiagem que ele fez além de não cobrir metade dos meus hematomas já está desmanchando! Vai ser uma catástrofe!

Catalina revira os olhos.

CATALINA: - Mas era só o que me faltava... Vou matar o Esteban! Mas calma, vamos resolver isso.

Catalina se agacha em frente à Armando, abrindo a bolsa e retirando uma bolsinha de maquiagem. Armando respira aliviado.

CATALINA: - Uma boa produtora está sempre preparada. Vamos resolver isso rapidinho. E depois você, Freddy.

[Corte]

Armando, completamente vestido e maquiado como Papai Noel, tranca o carro e entrega as chaves para Catalina. Freddy, também perfeitamente vestido e maquiado como duende, se coça, desconfortável com as roupas que veste.

FREDDY: - Eu devia ter pensado melhor antes de aceitar ser o ajudante do Papai Noel.
ARMANDO: - Para de reclamar, Freddy.

Catalina termina de fechar o saco vermelho e entrega para Armando.

ARMANDO: - Isso aqui não está muito leve, Cata?
CATALINA: - Ai, Armando! Esse saco é de mentirinha. Os brinquedos que você vai entregar estão na tenda. Por acaso você ia carregar cinco mil brinquedos aí nesse saco?

Freddy começa a rir.

ARMANDO: - Para de rir, imbecil. Você é o ajudante do Papai Noel, você que ia ter que carregar.

Catalina olha para os dois, puxando a roupa, ajeitando os gorros e terminando de arruma-los.

ARMANDO: - E então?
CATALINA: - Vocês estão maravilhosos!

Freddy fica todo orgulhoso, arrumando a gola da roupa.

ARMANDO: - (SORRI) Dá pra saber que sou eu?
CATALINA: - Sabe que não, Armando? Se eu não soubesse, não teria como reconhecer. E como você vai falar? Treinou uma voz de Papai Noel?
ARMANDO: - (IMITANDO O PAPAI NOEL) Tipo essa voz assim... Olá, criançada! Ho Ho Ho...

Catalina e Freddy morrem de rir.

CATALINA: - Que coisa mais fofa, Armando.

Armando sorri por trás da barba.

FREDDY: - Uma fofura mesmo, seu Armando.
ARMANDO: - (IRRITADO) Freddy, eu vou partir sua cara no meio.
CATALINA: - Vamos, rapazes... Parem com isso. Concentração no personagem. E andem de uma vez que a Betty deve estar morrendo de preocupação.

[Corte]

Na tenda, Betty conversa com uma mulher que segura uma menina pela mão. A certa distância se percebe um burburinho.

MENINA: - Mãe! Mãe, olha! O Papai Noel!

Betty olha para onde a menina aponta. Ao longe, Armando e Freddy se aproximam cercados pelas crianças. Betty sorri. Ela procura com o olhar as meninas do Quartel. Cada uma em seu setor na tenda estão morrendo de rir de Freddy vestido de duende no meio das crianças.
A mulher que conversava com Betty começa a ser arrastada pela filha na direção do Papai Noel.

MULHER: - A senhora me dá licença, mas sabe como é criança...
BETTY: - Imagina, podem ir!

A mãe sai com a filha que está quase aos pulos de alegria. Betty observa a comoção das pessoas com a chegada do Papai Noel e sorri emocionada. De longe, Armando olha para ela e acena. Betty acena de volta, rindo, sem perceber que é Armando.