Saint Seiya pertencem a kurumada.
Une raison d'espérer
Olhava o horizonte com frustração. Aquela terra insólita estava minando suas forças muito mais do que os benefícios que traria. Fazia sol, e uma suave brisa balançou seus louros cabelos cacheados famosos na capital do império. O calor o fazia ter vontade de tirar a toga, mas isso não seria razoável a um general do seu porte. Para a soldadesca Milo deveria estar acima dos desconfortos comuns.
A guerra na Gália (1) durava mais do que imaginara, afinal só aceitara esta incumbência pelo retorno quase certo de um triunfo quando voltasse a Roma, tanto pela força de suas legiões quanto por suas habilidades, sem falsa modéstia, primorosas no campo de batalha.
Mas havia cometido um grave erro, e reconhecia o fato. Subestimara o inimigo. Apesar das poucas tropas e escassos recursos, o chefe que organizara essa revolta era sem dúvida um brilhante estrategista.
Com uma manobra arriscada, mas ao mesmo tempo genial, retirara a população das vilas da região e queimara todos os provimentos que não carregaram. Em um evento impossível reuniu todos os povos da Gália, deixando o exército romano sem ter a quem atacar e sem comida. Numa terra distante onde o soldo não chegava com regularidade, e quando chegava não tinha nenhuma serventia, o risco de um motim estava estampado em seu futuro próximo. Era necessária uma atitude rápida.
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A batalha havia terminado. Não narrarei como os romanos liquidaram os gauleses, foi uma batalha como todas as outras, apenas um pouco pior talvez. A distância e a escassez fizeram dos romanos bestas-feras que trucidaram o inimigo surpreendido por uma traição. Sim, em todos os lugares havia preço para a honra e Milo sabia disso, era então uma questão de saber negociá-la.
Milo ansiava, embora não quisesse demonstrar, pelo momento em que encontraria o comandante gaulês, responsável por tantos meses de privação de sua amada vida civilizada e romana. Adoraria ver aquele bárbaro implorando seu perdão, e pensava em deixá-lo viver apenas pelo prazer de humilhá-lo com o seu poder.
Era grego e cidadão romano, orgulhoso de sua posição nas forças armadas da maior nação do mundo, esperava impressionar o imperador com essa vitória, digamos muito significativa, da terrível campanha da Alésia. E, quem sabe, conquistar o posto de governador de alguma província próspera e bem tranqüila onde poderia aproveitar do seu amor, que esta guerra suja havia separado.
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O portão se abriu e dele saiu o general do extinto recrutamento gaulês. Avançava altivo. Não esperou que os centuriões romanos o arrastassem de pés e punhos atados até os joelhos do general. Montando um cavalo ajaezado como para um dia de batalha, vestindo ele próprio sua mais rica armadura, saiu da cidade e atravessou a galope a distância entre os dois acampamentos, até o lugar onde estava Milo, que de costas, esperou que ele jurasse obediência a Roma. Sem dúvida devia ter uma aparência impressionante dada a reação dos soldados, o general esperou, mas o chefe gaulês não demonstrou nenhum sinal de arrependimento ou desejo de implorar pela própria vida. Não se entregaria aos facínoras.
Camus falou em latim, não muito correto, contudo, mas latim mesmo assim. Concedeu a vitória e pediu misericórdia para as suas tropas e para o povo de sua tribo. Nada disse a seu respeito, apenas não queria mais mortes em sua pátria. O cheiro dos cadáveres e de sangue enchia o ar.
Sem se dirigir ao nobre inimigo, nem mesmo se dignando a olhá-lo, Milo chamou dois centuriões e ordenou que acorrentassem o gaulês. Sequer o olhou. Não valia a pena encarar a feiúra desses povos irracionais.
O gaulês solicitou sua resposta novamente, com respeito, mas, impositivamente.
- Não discuto com bárbaros! – Apesar de tê-lo feito várias vezes em tempos de paz, respondeu irritado com a impertinência do outro. Ainda assim promulgou suas ordens poupando a tribo de Arveni (2), se esta se declarasse amiga de Roma. Não se tratava de misericórdia, apenas esperteza política já que Arveni era a tribo de Camus.Disse então aos centuriões:
- Levem esse homem, ele deve ser mantido em vigilância constante! – Já havia lhe designado um papel: ele seria apresentado no triunfo de César!
Porém ouviu um leve gemido quando os pesados grilhões envolveram os pulsos e tornozelos do prisioneiro e instintivamente virou a cabeça na direção do barulho. Surpreendeu-se. Esperava, como de praxe, um velho barbudo e sujo, mas o que via diante de si era completamente diferente! Um jovem de sua idade aproximadamente, cabelos vermelhos como o rubi de seu elegante anel, assim como seus olhos, que apesar de frios destilava ódio. Ódio aos romanos dominadores, ódio aos traidores, ódio a si próprio que não pode impedir a derrota e colocado em risco e perdido tantos conterrâneos. A bela face do rapaz atrairia os soldados há muito sem diversão. Mas Milo não se preocuparia com isso, afinal era só um prisioneiro.
- Pode virar as costas, mas você, como os outros, não passam de fantoches nas mãos de Cezar! Estou com esses grilhões, mas minha alma é livre! – Novamente num latim incorreto, o tom grave e decidido, fez Milo observá-lo com curiosidade. Mesmo destruído e aprisionado o chefe inimigo não perdia seus ideais. Com bem menos que aquilo grandes generais já haviam implorado misericórdia, onde o jovem demonstrava arrogância e, inevitavelmente, coragem. "Veremos o que algumas noites enclausurado e a pão e água farão a esse ar nobre."
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Tulipas vermelhas. Olhos vermelhos, cabelos... Onde os pensamentos o levavam novamente? Não se importava com bárbaros, aceitara aquela batalha, que era uma tarefa ingrata todos o sabiam, apenas por que Cezar tinha um charme especial para persuadir, passava o braço em torno da pessoa, pegava o lóbulo da orelha entre o polegar e o indicador e brincava enquanto confiava seus segredos. Não toleraria isso de nenhum outro homem, mas de Cezar sentia um arrepio de prazer. No entanto não esquecia o gaulês. A todo o momento vinha-lhe à mente a imagem do rapaz com os cabelos lisos e fartos espalhados soltos pelas costas enquanto os grilhões o curvavam à frente. Seus olhos lhe fitando diretamente sem medo algum. Aquilo o exasperava. Era conhecido pelos seus feitos de guerra, e sempre era temido. Até aquele momento.
Iria vê-lo e tiraria aquela ousadia com as próprias mãos! Pois sim, ainda ouvia suas palavras. Fantoche. Não, não aceitaria aquela afronta. Era apenas um bárbaro derrotado e suas palavras não valiam nada. Mas incomodaram. Incomodaram muito.
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Uma massa vermelha. Era tudo que conseguia distinguir na meia escuridão da cela entre as rochas frias. Não esperava tamanha barbaridade dos soldados. O coração dos homens ainda o surpreendia, eles eram capazes de amar suas esposas, amantes, cuidar dos filhos e ter um jardim. Mas, escondiam dentro de si instintos animalescos aos quais se entregavam em uma guerra. Um prisioneiro ainda é um prisioneiro e devia chegar vivo a Roma. Alegando esses motivos para si, ordenou aos guardas que levassem o gaulês a seus aposentos.
- Senhor, mas porq...
- Este é um prisioneiro político, deve chegar pelo menos vivo em Roma – lembrou-se oportunamente que não devia explicações a subordinados – ousa me contrariar soldado?
- er... Não Senhor!
- Então obedeça!
- Sim Senhor!
...será que continua?
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(1) Gália – A narrativa ocorre em, aproximadamente, 50 a.C. Em Roma era dessa forma que eles designavam o território que hoje conhecemos como França.
(2) Arveni – O nome é real, existiu mesmo uma tribo com esse nome, onde nasceu Vercigentórix, ele bravamente lutou contra Roma dando grandes dores de cabeça a Cezar. Camus, nessa fic, é inspirado nele, já que até mesmo psicologicamente são parecidos.
Tá aí, mais uma!
Qualquer coisa já sabem! Mandem reviews, e me digam o que acharam!
Perdoem os erros de gramática! Ainda não achei ninguém pra betar... T.T
E beijos gigantes pra vcs!!! XD
