O infinito é tão humano!

Gentilmente o arrasta para longe do acampamento. Suas andanças coincidentemente atingem um pequeno curso d'água. A água, cristalina e tranqüila, faz Milo ter uma idéia súbita:

- Vamos nos banhar? – não era uma pergunta.

Camus o fita surpreso, mas então seu olhar escorrega para si, nota suas roupas e seus braços ainda sujos de sangue. Algo que a pequena tina com dois palmos de água salobra do acampamento não seria capaz de remover e, finalmente, assente.

Retiram os cintos e se desfazem das peças de roupa. Milo espreita o gaulês remover sua vestimenta tão naturalmente, seus pensamentos tornam-se turvos, talvez seus objetivos não sejam tão impossíveis afinal. O ruivo, nada percebendo, se enfia debaixo da água. A refrescância envolve seu corpo, um toque fofo o sobressalta.

- O que se passa? – questiona confuso ao constatar que o grego usa sua própria túnica como ferramenta para limpá-lo, jamais pensaria nisso. Talvez fosse mais um dos costumes estranhos de Roma.

- Nada demais Camus, apenas relaxe. – realmente deveria ser uma prática entre companheiros de guerra. Roma era mesmo esquisita, mas não deveria ofender com uma recusa. Quedou-se imóvel, sentindo o toque, apreciando até.

Milo deleitava-se. Seria mais fácil do que imaginava. Embora sentisse como um escravo servindo a um nobre, o que seria revoltante para sua posição, mas ninguém precisaria saber. Não se exporia em relações com um prisioneiro bárbaro, apenas degustaria o momento. Camus não o rejeitava, e sua imagem tão passiva o aquecia de maneiras insondáveis. Os cabelos ruivos limpos e molhados escorriam sedosos pela pele ainda mais pálida pela luz do luar. A baixa temperatura da água tornava seus lábios mais vermelhos, sua visão oferecia um tributo à deusa Afrodite(1).

Percorreu toda a extensão física do rapaz. Quando não havia mais o que limpar, sem nenhum outro pretexto e decepcionado, iniciou seu próprio banho. Fechou os olhos desejando relaxar, e sentiu, para sua imensa surpresa, Camus continuar o processo que antes lhe oferecia. Um calafrio de prazer percorreu-lhe da ponta da cabeça até o seu sexo.

Camus, obviamente, sequer imaginava as reações que provocava. Acreditava que o gesto de Milo seria uma espécie de honraria a um companheiro de batalha, e quis demonstrar sua gratidão imitando-lhe. Jamais considerou que um olhar tão azul pudesse se tornar tão nublado por causa de uma banho.

Inexplicavelmente, somente para ele, Milo toma sua boca em um beijo sem controle e inesperado. Deu um pulo para trás e afastou-se transtornado e confuso. O grego observava-lhe inerte. O que raios se passavam afinal? Devia lembrá-lo que não possuía sangue de baratas? Tampouco paciência para joguinhos? Porém, a face de Camus demonstrava a mais viva inaptidão para compreender suas atitudes. Em um relâmpago a verdade explodiu em sua mente. Camus era intocado! Na prisão deveria ter sido apenas espancado, do contrário saberia do que se tratava, e se disporia a favor ou contra, e não aparvalhadamente como o fazia agora.

Resolveu tentar novamente, Camus era um caso que valia a persistência.

- Você nunca fez? – penetrando seu olhar indagador em suas íris cobreadas.

- Não tenho o prazer de compreendê-lo – respondeu, com seu latim deficiente, mas delicioso de se ouvir, o loiro quase desejava que fosse essa a maneira correta de se pronunciar, parecia muito mais belo assim.

- Quer experimentar um beijo... Camus?

Era melhor ser direto, o ruivo realmente não tinha o conhecimento. Fato provado pelo arregalar momentâneo de seus olhos. Mas ele logo acalma. Já havia beijado antes, aliás, sempre beijava seu irmão antes de fazê-lo dormir, era uma boa criança. Milo estava a agir muito estranho, entretanto, e apenas momentaneamente, desejou conhecer melhor a cultura de Roma. Conhecer os inimigos. Estrategicamente já imaginava como usar sua cultura contra os próprios romanos.

Milo aproximou-se do ruivo novamente, tocou-lhe os ombros e percorreu suas mãos até o pescoço, alojando-as na nuca onde os cabelos ainda úmidos demonstravam-se mais deliciosos ao toque. Camus sentiu uma sensação estranha, involuntariamente suspirou, Milo sorriu e aproximou seus lábios, mais calmo dessa vez. Um doce encostar e uma leve carícia pediam carinhosamente a passagem, mas os dentes de Camus permaneciam fechados, inclusive apreciara a doçura da língua que lhe acariciava a gengiva. Boa sensação, mas não entendia o porquê do grego se esforçar tanto para lhe ensinar isso, um beijo romano. Oras, imperfeito como eles!

- Camus... Realmente você... Não deseja?

Sua fala reticente postou-lhe dúvidas. O que o general queria que fizesse? Seu olhar desentendido deve ter sido resposta suficiente para Milo, que pediu:

-Apenas abra os lábios, quero lhe mostrar como se faz de verdade. – seus olhos azuis transmitindo ondas que lhe chegavam difusas, ainda que prazerosas. Sem grandes expectativas encara novamente o desafio, que começa a se tornar entediante. Os romanos poderiam arrumar coisas melhores para fazerem.

Entretanto o que era desafio se torna uma onda gigantesca que levava pra longe e para cima. Milhares de átomos sensitivos chocando em seu corpo, a língua de Milo lhe penetrava a boca e pensamentos nunca antes existidos surgem em sua mente, seu corpo ferve, e subitamente lembra-se de sua nudez, despercebida até agora mesmo sob a friagem da noite. Finalmente se convence de que não era uma prova de honradez, nem um costume entre amigos, somente então lembrava-se de certos aspectos da vida romana que lhe havia assombrado. E que agora o conquistava! Como pode?

Afastou-se de um Milo aturdido, bruscamente, catou sua túnica enfiando-se pela gola e sumiu na imensidão da noite, restou ao general vestir as suas vestes ainda mais rápido e correr atrás do fugitivo. Nunca um prisioneiro fugira do seu cárcere, muito menos de seus braços.

Agradeço de coração a todos que leram e me incentivaram a continuar!

Um beijo realmente especial à vcs!

XD