Nota: Nossa, quanto tempo sem atualizar nada... Desculpem a todos, mas estou tentando voltar a ter miolos, pois ultimamente meu cérebro não quer funcionar... TT
Deixo pra vocês mais um "pequeno" capítulo dessa fic.
Capítulo 4O primeiro almoço na Mansão Malfoy foi um pouco tenso e silencioso. Harry tentou não mostrar sua curiosidade por não estarem presentes os senhores Malfoy, mas a ausência era marcante.
James estava calado e comia tudo que tinha direito, visto que a mesa estava farta e bem variada, já Albus tentava comer com classe sem deixar a comida cair de seu garfo. Era como se ele tivesse consciência de que estava em um lugar elegante e era obrigatório mostrar etiqueta e educação.
Harry até se surpreendeu que o menino não ficou batendo o garfo no purê de batatas ou no refogado enquanto mastigava, como era seu costume em todas as refeições.
- Filho, coma um pouco de espinafre ao molho branco. Tem pedacinhos de frango misturado.
Harry ergueu os olhos para enfocar o loiro ao ouvi-lo pronunciar casualmente, então observou o pequeno Scorpius que torcia o arrebitado nariz em desagrado.
- Não gosto de espinafre... – o pequeno negou baixinho.
- Você quase não come legumes, por isso está fraquinho desse jeito. Eu percebi que você mal tocou em sua salada. – Draco parou de cortar o bife para olhar ao filho – Melhor comer o espinafre e o refogado à francesa.
- Não gosto de espinafre nem de berinjela, tem gosto ruim...
- Scorpius... – seu tom foi de repreensão. Não permitiria que seu filho o desafiasse e deixasse de comer alimentos saudáveis. No prato do garoto só havia arroz, pedacinhos de panqueca e a carne quase intocada.
- Mamãe nunca me obrigava a comer o que não quero...
Draco elevou uma sobrancelha antes de estreitar os olhos enquanto Scorpius mantinha o olhar cabisbaixo e seus dedinhos apertavam o garfo.
Notando que o menino estava começando a temer o pai, Harry achou melhor intrometer.
- Seu pai tem razão Scorpius... – o menino o olhou com o cenho franzido enquanto Draco passou a mirada penetrante para si – Sua mãe não ligava para o que você deixava de comer, mas seu pai se preocupa muito com você. Eu também me preocupo e te proponho uma coisa... – sorriu para tomar um pouco da confiança do pequeno – Albus também detesta espinafre, mas ele também precisa comer. Se Albus comer o espinafre você também comerá?
- Ah não papai... – Albus torceu a boca com repulsa – Eu já estou comendo o retogado...
- Se diz refogado – James negou com a cabeça. Então se inclinou para cochichar com o irmão – Veja Al, o seu amiguinho loiro só vai comer espinafre se você mostrar que não tem medo de experimentar... – Albus prontamente olhou para o loirinho que o olhava com atenção - Se você comer, nosso pai ficará feliz e o pai dele também.
Harry camuflou um sorriso enquanto colocava um pouco da comida no prato do filho. Havia ouvido perfeitamente o incentivo do mais velho.
Albus cutucou o espinafre com o garfo antes de voltar a olhar para Scorpius que o observava com aqueles grandes olhos de tormenta. Pegou um pouco e levou à boca, comendo obediente. Até que não era tão ruim como pensava...
Harry sorriu mais abertamente. – Agora um pouquinho para Scorpius...
O menino esperou que Potter o servisse para também comer, assim como Albus estava fazendo. Não reclamou quando o moreno também lhe serviu com um pouco de refogado.
Sentindo-se menos intimidado, Harry passou a agir como se fosse em sua própria casa. Que se danassem os modos refinados dos anfitriões, não era nenhum aristocrata e tinha dois filhos, um com apenas cinco anos recém cumpridos.
Usando seus próprios talheres, passou a picar o bife de Albus em pequenos pedacinhos, tomando o cuidado de misturar a carne entre o arroz. Quando terminou comeu o pedaço que havia ficado espetado em seu garfo.
- Hei! – Albus ria ao mesmo tempo em que reclamava puxando o prato para o lado oposto ao pai, que era o lado em que James estava sentado – Não pode comer meu bife!
- Hum... Está tão bom... – Harry sorriu ao filho, piscando um olho.
James aproveitou a distração do irmão e também lhe roubou um pedaço da carne e comeu. – Está mesmo...
- Assim não vale! – Albus chutou o irmão ao perceber que tentava lhe furtar outro pedaço.
Scorpius os olhava com divertimento, mordendo o lábio inferior para camuflar o sorriso. Seus olhos tormentosos passaram a brilhar quase prateados ao presenciar a brincadeira da família Potter.
Para si, as refeições eram sempre sérias e monótonas, pois nunca podia conversar enquanto comia, muito menos brincar.
- Quer que eu o ajude com o bife?
Seus olhos então se desviaram para o rosto de Harry, quem havia se oferecido com um sorriso. Ficou duvidoso sem saber se era certo ou errado, pois sua mãe sempre lhe ordenava a cortar a própria comida como gente grande.
Como não era respondido, Harry passou a fatiar em pequenos pedaços o bife de Scorpius, notando desde o início que o menino não comia por não saber usar direito a faca.
Com receio, o menino olhou ao pai temendo que este lhe desse uma bronca, mas Draco apenas olhava a cena com um semblante indecifrável.
Ver a Harry Potter ensinar maus modos a seu filho era algo que nunca imaginou vivenciar. Scorpius começou a rir alto quando o moreno fez o mesmo que havia feito com o pequeno Albus e ver e ouvir o filho rindo era algo que sentia falta fazia tempo e só agora percebeu isso.
Não foi depois do falecimento de Hellenna que o menino deixara de rir, era muito antes, poucas vezes o viu assim...
- Eu odeio sopa de aspargo – Scorpius torceu a boquinha.
- Eu também odeio sopa de aspargo! – Harry lhe piscou um olho com cumplicidade – Vamos ter que riscar da lista esta horrível sopa, assim estaremos livres dela para sempre!
- Sem sopa de aspargo? – o menino sorriu largamente.
- Que tal canja de galinha ou um caldo de cebola e tomate?
- Parece bom – Scorpius olhou para Albus – Eu gosto de sopa de galinha e você?
- Eu adoro! E papai faz uma canja que é uma delícia!
Um quase imperceptível sorriso se assomou nos lábios de Draco, ao ver como seu filho participava da conversa e sorria abertamente. Pousou os olhos em Potter o notando distinto a tudo. Pela primeira vez na vida o via de forma diferente e detalhada, sem o conceito criado e alimentado pelos anos em Hogwarts.
E via como ele tinha a facilidade de chamar a atenção de Scorpius e a traze-lo para fora de si mesmo...
James sorriu consigo mesmo ao notar esse sorriso em Draco Malfoy. O observava desde que se sentaram à mesa e o analisava como todo bom Gryffindor.
Conhecia a Draco Malfoy tão bem quanto conhecia a infância e adolescência de seu pai. Tanto pelos relatos dos pais como principalmente dos tios Ron e Hermione ou algumas histórias mirabolantes do tio George.
Sabia que este homem elegante e refinado vivia encrencando com seu pai, e que ele era da Casa das Serpentes. Sabia da adversidade que existia entre Potter, Malfoy e Weasley, tanto pelo nível social por parte materno, como por rivalidade e competição por parte paterna.
Nem mesmo seu pai sabia que estava tão a par desse aristocrático loiro. E o analisando pessoalmente, concordava em muitas coisas que havia ouvido, principalmente no gênio forte e determinado que o senhor Malfoy dispersava e na arrogância característica dessa família, mas agora pôde notar algo distinto...
Não sabia dizer o que era, mas estava na forma dele olhar ao pai...
Tentou buscar na mente alguma palavra que se caracterizava com essa mirada penetrante, essa atenção minuciosa e agora esse sorriso camuflado, porém denotando certa gratidão e...
Arregalou os olhos ao descobrir a palavra exata.
Admiração...
Sim! Essa era a palavra!
Draco Malfoy nutria uma grande admiração por seu pai. Era uma admiração oculta e vetada, mas essa mirada era como as miradas de muitos fãs do famoso Salvador do Mundo Mágico, mas não uma admiração fútil e rotulada como a maioria.
O olhar prateado denotando um brilho astuto e culto não poderia ser uma mera ola de: "Harry Potter é poderoso e derrotou ao que não deve ser nomeado", não... Se James não estava enganado, talvez poderia, visto que era apenas um garoto com sete anos de idade, era uma admiração ao que seu pai era por dentro, e não pelo que ele fez, mas pelo que ele fazia e vivia dia trás dia.
Mas quando Draco Malfoy era confrontado pelo verde dos olhos de Harry Potter, essa "admiração" se submergia nas profundezas grises de suas íris e o que vinha à superfície desses olhos tormentosos e aparentemente frios, eram a animosidade de anos e o ressentimento de algo inesquecível...
Então percebeu que Draco Malfoy se refugiava e se isolava para manter esse abismo entre ele e seu pai...
Então se perguntou mentalmente: Por que?
E pela primeira vez parou para analisar e estudar a Harry Potter, deixando de lado que ele era seu pai. O observou como se estivesse observando alguém distinto.
Notou como o olhar esverdeado que particularmente achava perfeito e que fatalmente quem teve a sorte de herdar foi Albus, se pousavam com uma sede de descoberta e curiosidade no semblante aristocrático de Draco Malfoy. E via certo respeito brilhando vagamente nessa mirada determinada.
Seu pai respeitava ao senhor Malfoy mesmo eles tendo uma enorme lista de desavenças no decorrer dos anos e pôde distinguir que seu pai buscava algo a mais, como se tivesse esperanças de encontrar algum indício de algo desconhecido para sua cabeça de criança.
Mas quando apenas uma parede de frieza lhe recebia através das palavras, gestos ou olhar desse homem loiro, era como se uma sutil decepção se apoderava de si num lapso imperceptível e o que vinha a estampar nos olhos verdes era a indiferença.
E uma nova pergunta se formou em sua mente: O que seu pai buscava?
Eram coisas muito complexas para se entender, mas se afeiçoara ao senhor Malfoy e até mesmo com o filho dele, apesar de acha-lo tão pentelho e mimado como Albus. E o melhor de tudo era que eles faziam com que seu pai se esquecesse um pouco de sua mãe...
Nesse meio tempo em que refletia consigo mesmo a comida havia sido retirada e agora aparecia em sua frente um delicioso pedaço de pudim. Levou uma colherada à boca chegando à conclusão de que seu pai ficaria mais feliz ali com a família Malfoy do que no apartamento.
Uma pequena meleca de pudim em calda de maracujá o acertou em cheio. Notou que Albus, o autor dessa calamidade em seu braço, e Scorpius, certamente a mente macabra por trás do ato infame, riam com gosto de sua cara.
Reconsiderou. Tanto seu pai se esquecia de sua mãe, quanto Albus também se via mais contente naquele lugar.
Se isso fizesse com que todos ficassem felizes, faria o possível para romper com a barreira que separavam Harry Potter e Draco Malfoy... Construiria uma ponte para ligar a ambos através do abismo que o dono dessa mansão criava e ajudaria seu pai a encontrar nesse loiro o que tanto buscava...
Sorriu divertido para Albus e Scorpius. – Querem brincar não é?
ooo
- Eu não acredito que fez isso... – James rolou os olhos pela décima vez que seu pai lhe ralhava – Poderia ter machucado a Scorpius, James!
Caminhavam pelo corredor a passos rápidos. Albus e Scorpius riam divertidos enquanto eram levados pelas mãos por um Harry Potter envergonhado e nitidamente irritado. James os seguiam arrastando os pés e Draco vinha logo atrás achando a cena interessante.
- Qual é pai. Eles estão é adorando a situação – reclamou com um enorme bico – E foram eles que iniciaram.
Uma pegajosa calda de morango deslizava pelos sedosos e claros fios de cabelo de Scorpius assim como restos de pudim de caramelo deixavam as roupas de Albus irreconhecíveis.
- Eu ia repreender o seu irmão, mas você teve que revidar – Harry negou com a cabeça lançando um olhar severo ao filho menor que não parava de rir – Não acho graça nenhuma Albus. Estamos aqui como visitantes e é feio brincar com a comida e sujar a sala de jantar dos outros. Que tipo de educação pensarão que eu lhes dei?
- Foi divertido ver a cara de Al quando o pudim o atingiu, mas o mais engraçado foi ver o susto que Scorpius levou quando a calda deslizou pela cabeça dele – James não agüentou segurar a risada.
- Eu também te acertei! – o loirinho lhe mostrou a língua em desaforo.
- Não era para ter jogado a calda nele Jey! – Albus, num movimento imprevisível, se desprendeu da mão de Harry e tentou sujar as roupas de James com a mão coberta de melado, mas como o irmão era maior e mais rápido conseguiu desviar o que fez com que tropeçasse e quase fosse ao chão se Draco não houvesse lhe segurado.
- Albus! – Harry o repreendeu já se sentindo frustrado. Ficou pior quando as risadas de Scorpius chegaram a seus ouvidos e sabia muito bem porque o menino estava rindo e não era exatamente de nenhum de seus filhos, mas de Malfoy.
Depois de ajudar o menino a se equilibrar, Draco ergueu os olhos para Potter e o notou olhando precisamente para sua camisa branca e não para seu rosto. Acompanhou a direção do olhar esverdeado dando conta de uma marca de doce com o nítido formato de uma mãozinha com os cinco dedinhos perfeitamente carimbados na altura de seu peito. Albus Severus certamente havia se apoiado em si para não cair...
- É a primeira vez que eu vejo o papai com a camisa suja! – Scorpius não cabia em si.
- Sinto pelo que ocorreu há pouco e agora pela sua camisa, Malfoy... – Harry suspirou com cansaço – Melhor ir trocar de roupa. Eu dou um trato nos meninos.
A ama trabalhava até o horário do jantar depois disso ia para casa, mas nesse dia ela tivera de ir mais cedo para resolver o problema com as lareiras visto que o Ministério estava proibindo qualquer mago ou bruxa utilizar desse meio de transporte e comunicação. Harry realmente não se importava em cuidar dos filhos, sempre cuidou deles principalmente depois que se divorciou. Cuidar de Scorpius não seria um problema.
- Não há necessidade de se desculpar. Não morrerei por causa de uma mancha em minha roupa – passou os olhos pelos garotos vendo que os dois menores tentavam chutar o maior se escorando em Potter – Tem certeza que não quer que eu chame um elfo para cuidar deles?
- Eu dou conta, é só coloca-los no banheiro e tomar precauções para que não façam nenhuma gracinha.
Draco concordou com a cabeça, mas no fundo duvidava que o moreno conseguiria com esses três diabinhos. – Então... Irei tomar um banho... Qualquer coisa pode chamar algum elfo.
- Não há necessidade, não se preocupe.
Assim que o loiro se retirou, Harry voltou a caminhar levando consigo os três garotos.
Foi quando se aproximavam do quarto de Scorpius que o menino começou a se inquietar, notando finalmente o que havia feito.
- Mamãe teria dado uma bronca e me deixado de castigo se me visse assim... – Scorpius olhava para o chão enquanto dizia baixinho, então ergueu os olhos para Harry – Você vai nos deixar de castigo?
Harry notou um medo profundo nos olhos do menino, era quase pavor. Isso lhe fez ficar preocupado. Parou de caminhar e ajoelhando no chão para estar na altura do pequeno, o olhou dentro dos olhos.
- Qual era o castigo imposto por sua mãe?
Scorpius tremeu apertando as mãozinhas contra o peito. – Você vai me dar o mesmo castigo? Mas eu não vou fazer de novo, eu juro...
James franziu o cenho e segurou a mão de Albus com firmeza. Ouvir a voz desesperada de Scorpius estava causando medo neles também.
- Eu juro que me comportarei direitinho... – Scorpius repetia sem parar, implorando que não o castigassem.
Nesse momento Harry sentia seu coração se apertar, vendo diante de si o que um dia havia sido... Em sua triste infância chegava a implorar para que tio Vernon não o castigasse, mas sempre acabava trancafiado durante um dia inteiro depois de apanhar.
Puxou o garotinho contra si e o abraçou apertado sem se importar que suas roupas se sujassem, apenas queria dar conforto e carinho ao menino.
- Está tudo bem Scorpius... Eu não vou te castigar... Está bem? Não farei nada – dizia baixinho afagando as costas tensas do menino – Apenas preciso saber qual era o castigo... – afastou-se um pouco para poder olha-lo nos olhos – Consegue me dizer?
- Mamãe me... Agh... Agh... Mamãe... Cof, cof... – como se estivesse sem voz, o menino começou a tossir.
- Tudo bem Scorpius... Está tudo bem... – Harry voltou a abraça-lo, seus olhos tornando-se duros e enraivecidos pelo que descobriu – Vamos tomar um banho pra ficar limpinhos e poder brincar... Está bem?
Com o garotinho loiro no colo, abraçado em seu pescoço, Harry estendeu a mão para Albus, quem a segurou obediente.
Teria que falar sobre isso com Malfoy e dizer que além de castigar o menino com algo que o apavorava e que era nocivo ao seu psicológico de criança, Hellenna o fez jurar sob o feitiço inquebrantável para não contar nada a ninguém. Isso era muita crueldade... Duvidava que Malfoy estava a par desses castigos, talvez nem sonhava que o filho era torturado psicologicamente pela própria mãe.
Antes de entrarem no quarto de Scorpius, encontraram Narcissa no caminho.
- Por Merlin! Que imundice! – ela torceu o nariz em desagrado – Como pode permitir que seus filhos fiquem nesse estado deplorável?
- São apenas crianças que resolveram brincar em horário errado senhora Malfoy... E eu já briguei com elas, isso não irá se suceder novamente...
- Dos teus filhos já era provável devido à mãe que possuem, mas permitir que esse tipo de educação influencie meu neto, não tolerarei.
Harry estreitou os olhos. – Ginny é uma ótima mãe e não é por provir de uma família de classe econômica mais baixa que sua educação não será adequada. Não convém falar de uma pessoa a qual a senhora não conhece.
- Uma mulher que abandona o marido e os filhos para se enredar com outro e não esperar um minuto para engravidar já mostra muito além do que preciso conhecer, senhor Potter – Narcissa elevou o nariz em desafio. Sabia sobre a vida de Potter graças à sua capacidade inata de extrair tudo que queria das outras pessoas apenas conversando, Luna Lovegood era a prova disso.
Harry apertou os dentes ao ouvir esse comentário ferino. Ginny poderia ter feito o que fez, talvez coisas muito piores, mas uma coisa tinha certeza; seus filhos foram muito bem cuidado e receberam educação e carinho de ambas as partes, até o dia em que ela foi embora.
- Insisto que a senhora não sabe o que diz e meus filhos receberam uma boa educação, independente do que aconteceu...
- Não o culpo de não conhecer o tipo de pessoa a qual escolhe para formar uma família e criar seus filhos, visto que o senhor nunca teve um modelo a seguir dado a sua infância e convivência entre muggles e bastardos, mas creia-me quando digo: se sua ex-esposa não teve peito de manter um casamento por amor ao marido, ao menos amor aos filhos ela deveria ter, o que não é o caso. – Harry calou. Seus olhos se desviaram para o chão enquanto sentia a tensão e algo triste e sufocante lhe dominando por dentro. Seus dedos logo se apertaram ao redor da mãozinha de Albus, desejando interiormente não acreditar nessas palavras de Narcissa. Acreditar que seus filhos estavam bem, que prontamente superariam, mas lá no fundo sabia que ele próprio não soube superar, e a voz da matriarca lhe chegou cortante, perfurando seu coração perguntando o que acabava de se perguntar - Como duas crianças poderão se desenvolver quando sabem que foram abandonados pela própria mãe?
- Já chega! - Narcissa se calou ao ouvir o filho lhe dirigir a palavra de forma rude e seca. Draco estava banhado e vestia um conjunto de algodão cômodo e elegante – Não cabe à senhora se intrometer na vida dos outros...
A matriarca apertou os lábios de forma rígida. – Eu me vejo no direito de intrometer visto que esteja em minha casa e convivendo com meu neto. Não permitirei que maus modos influenciem no crescimento de Scorpius.
- Correção mãe... Esta é minha casa também e eu a partir de quando me casei, tenho o direito a ser o patriarca. E quando eu digo pra senhora deixar a vida de Potter em paz eu digo em sério. E quanto às crianças, eu estava presente e permiti que isso acontecesse e não precisamente foi culpa de Potter ou dos filhos dele – elevou uma sobrancelha caso não tenha sido claro o suficiente – Não o insulte ou a qualquer um que ele aprecie...
Narcissa voltou a apertar os lábios agora de um modo bem ofendida, mas no fundo estava orgulhosa do respeito que o filho exigia quando queria. Desviou os olhos para Potter que olhava de maneira surpresa a Malfoy.
- Muito bem... – Harry olhou para a mulher que o observava desafiante. Narcissa deu um passo em direção ao moreno e sussurrou – Só espero que não se cegue com uma decrépita Weasley à um Malfoy, como da primeira vez...
Draco estreitou os olhos ao não conseguir ouvir o que sua mãe sussurrou a Potter, enquanto o moreno estampava genuína confusão em seu semblante. Sem deixar tempo para perguntas por parte de Potter ou repreensões por parte do filho, Narcissa já retomava seu caminho a passos elegantes e desaparecia ao fundo do corredor.
Harry desviou a mirada a um ponto vago. Buscando na memória o que essas palavras lhe diziam...
Havia preferido a Ron que a Malfoy... Havia aceitado em sua vida a família Weasley que a família Malfoy...
E Narcissa lhe dissera como se ele próprio impôs a escolha, uma escolha que não existia. E viu algo que até então nunca havia se dado conta e que se perguntassem antigamente diria: "eu precisava optar por um deles e escolhi o que me era mais sensato".
Mas havia uma terceira opção, e esta era aceitar a ambos e conhecer a ambos. Ninguém nunca lhe implantou uma escolha, apenas os dois lhe ofereceram amizade e ele, tão ignorante como era, resolveu descartar um ao invés de aceitar a ambos...
Naquele dia Ron havia caçoado de Malfoy e este havia revidado, a rincha não era consigo, mas acabou por escolher um lado ao invés de ficar neutro...
- Potter! – sobressaltado se enfocou ao loiro que o mirava com o cenho franzido – Não dê atenção ao que ela disse... – Malfoy realmente parecia irritado pelo ocorrido.
- Não tem importância... – soou baixo, então sentiu como Albus lhe sacudia a mão.
- Vamos papai, quero tomar banho para ir brincar...
Indiferença... Essa era a resposta de seu filho menor ao que ouviu sobre a mãe... Era como se Albus realmente não se importava que ela os havia abandonado. Então notou que James fitava o chão, certamente sentido pelas palavras da senhora Malfoy.
- Jimmy... – chamou baixo, carinhosamente.
James ergueu os olhos prontamente, surpreso que seu pai lhe chamara dessa forma como há muito não fazia, não por não querer, mas por sua própria rinha de garoto que detesta os apelidos diminutivos que são para bebês. Agora ouvir esse amoroso chamado o fazia sentir-se tão bem...
- Não ligo pelo que ela disse da mamãe, eu gosto dela, mas ao mesmo tempo eu a odeio por te fazer sofrer, pai... – sentia necessidade de aclarar, para que não houvesse dúvida ou enganos – Como eu disse, eu gosto da mamãe, mas eu amo você papai e ela te faz triste e isso me faz gostar menos ainda dela.
- Oh Jimmy... – Harry fechou os olhos tentando afugentar a tristeza que sentia para só se inundar de amor pelo filho após essas palavras – Sabe que eu não quero que odeie sua mãe... Ao mesmo tempo em que fico feliz em saber o tanto que você me ama e que sente por mim, me entristece saber que seu amor pela mãe está acabando...
James se abraçou ao pai, aproveitando para abraçar a Albus junto. – Não deveria pai... Se é a mamãe que não se importa de estar perdendo a gente...
Scorpius acariciou superficialmente o cabelo de James, atraindo assim a atenção do garoto.
- Eu também não tenho mais mamãe... – disse como se isso pudesse consolar também.
Albus lhe dedicou um sorriso desde onde estava. – Não se preocupe Scorpius, agora você tem a gente – então olhou para Harry – Não é papai?
Harry sorriu ao filho depois ao loirinho lambuzado de calda de morango. Scorpius o olhava ansioso, como se esperasse sua resposta com preocupação.
- Verdade... Agora você tem a gente. Tem a James para dar uma de irmão mais velho e tem a Albus para te apoiar nas bagunças e tem a mim, que serei tão estraga brincadeiras como uma mãe e tão chato como o teu pai.
Scorpius sorriu timidamente antes de fazer uma careta. – Ah não! Não seja como o papai... Ele nunca tem tempo e quando está em casa está sempre ocupado no escritório...
Draco, que havia decidido a se manter apartado do assunto de Potter, não pôde deixar de se surpreender com o que o filho acabava de dizer.
Ver a conversa entre o moreno e seus filhos lhe provava o quão eram unidos e se apoiavam e se amavam como uma verdadeira família pese o que fosse, como todo Gryffindor e sua cria. E isso também lhe aclarava o que sempre se perguntava mentalmente.
Harry Potter ainda amava a Weasley caçula e sofria por ela.
Então a revelação de que seu filho se sentia como sempre se sentiu em relação a Lucius, foi um golpe duro...
E ter o olhar verde o acusando aprofundou essa sensação.
- Venha Malfoy. Acho que precisarei de ajuda... – e um sorriso maroto surgiu nos lábios de Harry Potter.
ooo
Draco permaneceu sentado na beirada da cama do filho e observava entre a porta do banho como Potter esfregava a cabeça dos meninos com shampoo de vanilla para que todo resíduo de doce fosse retirado. James havia ido para seu quarto tomar banho sozinho, mas como Albus e Scorpius eram menores e estavam em estado pior, o moreno decidiu ele mesmo lavar a cabeça dos garotos e supervisiona-los para ter certeza que estavam se banhando direito.
Sentados na banheira com a água a encobrir-lhes até a cintura e cada qual com uma esponja macia e sabonetes coloridos os meninos se limpavam entre brincadeiras.
- Melhor deixar as roupas sobre a cama para facilitar... – Harry comentou enquanto enxaguava o shampoo da cabeça do filho.
- Hum... Certo... – Draco olhou ao redor até se fixar no armário. Levantou e foi em busca de alguma roupa. Se estava em dúvida de qual escolher, ficou pior ao notar que o filho possuía ali dentro um milhão de peças se não estava enganado – Um macacão e uma camiseta?
Harry sorriu um pouco ao ver o perfil do loiro, confuso e um pouco deslocado ali naquele quarto.
- Seria o ideal visto que eles terão toda a tarde para brincar... – voltou a olhar a Malfoy enquanto ajudava a Albus lavar as costas – Preciso descrever como seria um macacão ou você consegue encontrar sozinho?
Harry riu ao receber uma mirada assassina por parte do loiro. – Eu sei como é um macacão...
Draco voltou a atenção para o armário e pediu em voz alta dizendo as palavras "macacão" e "camiseta". Uma repartição de cabides se deslocou para frente dispondo perante si as peças desejadas. Elegeu uma camiseta em tom verde com desenhos abstratos e um macacão jeans com detalhes também verdes e os pôs sobre a cama ao lado de um macacão camurçado preto e camiseta branca com desenhos de balões que pertencia a Albus que antes de banhar os meninos Harry havia ido buscar. Notou que havia uma cuequinha junto com as roupas do filho de Potter então tratou de pegar uma para Scorpius também.
Tudo pronto voltou os olhos para o moreno que terminava de tirar a espuma de Scorpius...
Sorriu tristemente ao se lembrar de Hellenna e em como ela banhava o filho, as mãos delicadas afagando a cabeleira loira do menino enquanto dizia que mantivesse os olhos fechados.
Potter possuía as mãos maiores e mais firmes, e ao invés de apenas jogar água sobre a cabeça do garoto e quitar-lhe a espuma com os dedos, Potter o reclinava para trás, deixando o filho quase deitado e com cuidado retirava a espuma, sorrindo ao garoto que de olhos abertos o mirava divertido.
- Preciso das toalhas, Malfoy... – Harry o olhava nos olhos, percebendo sua dispersão.
Sem pronunciar palavra Draco apanhou duas toalhas e as levou até o banheiro. Sorriu quando o filho lhe sorriu contente.
Harry embrulhou a Scorpius em uma toalha e o carregou para entrega-lo ao colo do pai. Fez o mesmo com Albus e carregando-o deixou o banheiro para seca-lo sobre a cama.
Um pouco desajeitado Draco o imitou, ajudando o filho a se secar. Depois o ajudou a vestir.
Alguns minutos depois os meninos estavam prontos para brincar.
- Deveria ter mais tempo e contato com seu filho... – Harry comentou casualmente, observando os pequenos sobre a cama jogando em um tabuleiro – O tempo não volta atrás sabe? E eles crescem mais rápidos do que desejamos...
Draco apenas o olhou, deslizando a mirada até a altura de sua barriga. Sim, admitia que precisava ter mais contato e dar mais atenção a Scorpius e corrigiria isso. E não erraria com o novo bebê...
Então desviou a mirada ao notar que Potter girava o rosto para fitá-lo ao não receber nenhum tipo de resposta.
Quando ia retruca-lo, James adentrou o quarto.
- Pai! Tem um ser horrível no meu quarto!
Preocupados, ambos adultos foram ao quarto do garoto e ali avistaram saindo pela porta, um elfo doméstico.
- É ele pai! – James apontava com o dedo detrás do pai – Estava revirando meu baú!
Harry notou que este elfo era distinto. Possuía a pele escurecida por fuligem se não se enganava e alguns fios brancos sobre a cabeça. Tinha as orelhas pontudas, porém caídas e roídas pela idade. Quase se recordava a Kreacher só que mais velho e encurvado. Arrastava detrás de si um pano desgastado e um espanador.
Notando que o patrão estava presente com o convidado de honra, o elfo se encolheu humilde.
- Pardón milord... – os olhos grandes e redondos demonstravam que estava assustado.
- O que fazia Dotty? – Draco perguntou.
- Lord Abraxas Malfoy, milord... – o elfo parecia não conseguir se comunicar direito e sua voz era áspera e abafada.
- Esqueci de avisa-lo que o quadro de Abraxas Malfoy foi transportado para o salão dos retratos. Agora pode ir...
O elfo fez uma reverencia e arrastando os grandes e enegrecidos pés, retomou o caminho lentamente.
- É apenas um elfo doméstico, James... – Harry franziu o cenho olhando diretamente ao filho – Como se você nunca tivesse visto um antes...
- Mas este era diferente, não parecia como os elfos! – o garoto insistiu – E falava estranho...
- Dotty é o elfo mais velho da família e já não faz muita coisa a não ser limpar os retratos da mansão. Também não usa a aparatação para se locomover, o que foi bom, visto que você não pode ficar perto dos elfos – Draco esclareceu, olhando diretamente a Potter.
- Falando em elfos... – Harry olhou ao filho que os observava com atenção e sorria discretamente – Quem me ajudará com as paredes do meu quarto já que não posso usar magia?
- Eu percebi que o senhor Malfoy tem muito bom gosto! – James se intrometeu rapidamente – Por que não pede para te ajudar na escolha pai? Às vezes você não tem muito senso de combinação... Sem ofensas... – James mostrou suas brancas fileiras de dentes ao que Harry estreitou os olhos – Bem... Acho que irei lá incomodar os dois mimados...
Draco riu ao ver o filho maior de Potter se retirar saltitante. – Ao menos seu filho reconhece o que é ter bom gosto. Pensei que fosse como você Potter, sem noção...
- Há-há... – Harry resmungou baixinho. Passou ao lado de Malfoy e entrou em seu quarto o notando exageradamente branco. Suspirou com cansaço passando a vista ao redor.
A velha Ann era squib então não possuía magia, fora que ela já havia ido embora fazia horas. A senhora Narcissa Malfoy já o tirou do sério nesse mesmo dia e com certeza seria um louco desgarrado se pedisse ajuda ao patriarca Lucius Malfoy para ajuda-lo a re-decorar seu quarto.
Corrigiu-se mentalmente. Como havia entendido na discussão com a mãe de Malfoy, o patriarca agora era o loiro e não exatamente seu pai... Franziu o cenho sentindo a cabeça doer. Não entendia a escala aristocrática e quem era o quê nessas linhagens genealógicas, era muito confuso.
E como um pensamento puxa outro, olhando essas paredes brancas se recordou de Sírius e o quarto onde a árvore genealógica da família Black decorava cada extensão do cômodo com seus retratos e nomes.
E não pôde deixar de sentir aquela conhecida tristeza...
- Potter... Potter! – dedos frios em seu rosto o fizeram despertar sobre-saltado.
Draco o chamava com preocupação, sua mão em seu rosto, dedos pálidos tocando o contorno de sua face, enredando em seu cabelo enquanto a pressão de um braço em volta de sua cintura o fez abrir os olhos e enfocar o rosto aristocrático e os olhos de tormenta.
- O que... – levou a mão à cabeça, sentindo uma leve dor pulsante que ameaçava em aumentar. Então se deu conta que estava recostado ao corpo de Malfoy e este lhe segurava pela cintura, amparando sua cabeça com a outra mão.
- Consegue se manter de pé até chegarmos à cama? – Malfoy realmente parecia preocupado e... Irritado.
- O que fiz dessa vez? – perguntou baixo enquanto era guiado até o leito onde se sentou com cuidado.
- Veja por si mesmo... – sim, Malfoy estava realmente irritado consigo a julgar pelo tom de voz e as letras arrastadas.
Ergueu os olhos para encara-lo, então se deu conta... Com assombro notou as paredes manchadas de um cinza escuro sombrio, como o céu cinzento carregado de nuvens prontas para descarregar sua fúria e suas lágrimas...
- Fui eu... – não acreditava no que via – Eu que... Fiz isso?
Havia tingido inconscientemente as paredes brancas com a tristeza e raiva de si mesmo ao se recordar de sua perda mais triste...
- Chamarei o doutor Hermman...
Uma mão se fechou ao braço de Draco, impedindo que se afastasse.
- Eu estou bem, só foi um pequeno descontrole em minha magia...
- Exatamente por isso preciso chamar ao medimago – disse firme, como se era o correto.
- Não há necessidade Malfoy.
- Potter... – foi quase um grunhido. Olhos estreitos e teimosos.
Harry fechou os olhos com cansaço. Conhecia esse Draco Malfoy e quando esse Malfoy dava de querer fazer algo, era certo que sim, o faria.
- Te ensinarei um feitiço e você pode se precaver por si mesmo... – Harry sorriu um pouco ao notar o interesse nos olhos prateados.
- Do que está falando?
- Pegue sua varinha e a aponte para mim...
Draco se afastou prontamente chegando a assustar a Harry, que não esperava uma reação tão brusca.
- Não usarei nenhum feitiço em você, seu tonto! Lembra o que o velho esse do St. Mungus disse? Nada de feitiço! Nada de feitiço e poções! – agora sim parecia furioso.
- Malfoy...
- Já disse Potter! Não perderei meu filho e eu o terei custe o que custar, não importa o que tenha que fazer.
Harry se levantou da cama e tampou a boca de Draco com uma mão. – Shiii... Malfoy, dá pra me escutar um minuto? – o inquiriu com a mirada esverdeada até receber uma afirmação com a cabeça, então se afastou voltando a se sentar na cama – Te ensinarei um dos feitiços utilizados pelos medimagos para saber como está o paciente. Enquanto não se aprende os movimentos certos e a forma de pronunciar as palavras, simplesmente não acontece nada, é um feitiço neutro, completamente inofensivo, por isso é usado em pacientes enfermos por doenças ou por maldições. Não tem contra indicações entende?
Draco apenas o observava, então desviou os olhos para a lareira. – Certo... É um feitiço inofensivo... – retirou da roupa sua varinha e a apresentou ao moreno.
- Movimente o pulso em um curto semicírculo e pronuncie como se soprasse: Vitacorpus Vitamentis. Apenas respirando entre as duas palavras.
Draco apertou a varinha entre os dedos recitando mentalmente o feitiço. Duvidou um pouco, mas o olhar esverdeado aguardando as ações o incitava a intentar. Girou o pulso apontando para Potter e pronunciando o feitiço.
- Vitacorpus Vitamentis...
Harry sorriu abertamente ao não acontecer nada. – Precisa treinar mais e não gire muito forte o pulso, é com suavidade e pronuncie como se sussurrasse.
Draco respirou fundo e aliviando a firmeza de sua mão contra a varinha, usou de toda sua classe natural para mover o pulso enquanto de olhos presos aos olhos de Potter sussurrou como se sussurrasse no ouvido de alguém.
- Vitacorpus Vitamentis...
Harry corou. Ouviu perfeitamente como a palavra "vita" era pronunciada com ênfase no "V" e no "T" e a letra "A" quase tornava muda para o "O" ser prolongado e o "R" arrastado com suavidade e em como Malfoy dava um nítido suspiro entre as palavras, a segunda tomando o mesmo efeito da primeira foi completamente suavizada no "M" com um distinto ênfase no "tis" que se prolongou até sumir em um sopro.
Era como costumava sussurrar as palavras no ouvido de Ginny num momento íntimo e isso lhe desconcertou e constrangeu mais do que imaginava.
Então forçou seus pensamentos a se perderem num recanto qualquer de sua mente e prestou atenção nas letras e números que apareceram flutuando sobre seu corpo.
Draco sorriu em vitória notando que eram as mesmas palavras e números que havia visto flutuar sobre Potter quando o medimago o estava atendendo.
- Pelo visto, consegui...
- Não se convença Malfoy, é um dos feitiços básicos que aprendemos no início do curso... – Harry riu ao receber uma mirada estreita e mal-humorada.
Não era exatamente tão simples assim. Este feitiço se aprendia no início de curso por ser o mais usado. Praticamente tinha que conjura-lo antes de qualquer outro feitiço ou poções. Era simples e ao mesmo tempo complicado por exigir movimentos precisos e exatos fora o tempo de pausa entre as duas palavras não podia se exceder a meio segundo e nem a pronunciar o feitiço como se fosse uma palavra só, mas este detalhe Malfoy não precisava saber...
- Vejamos... – Harry observou as palavras e os números – Corpus: 95, Mentis: 92, Máxima: 68 e Reductus: 10. O primeiro é como está o meu corpo e pelo número deduzimos que perfeitamente bem, sem machucados. A queda de cinco pontos é porque estou muito cansado e com uma leve dor de cabeça, nada grave. O segundo é meu psicológico, nada de estresse mental, nem distúrbios, alucinações entre outras coisas ou a redução seria maior, porém está decaindo e se não me engano pode ser pelo descontrole de magia que me levou a tingir as paredes sem perceber. O terceiro é minha magia...
- Que constatamos que decaiu muito – Draco o interrompeu, vendo como o número se reduziu a quase metade para quem de manhã portava cem por cento de magia graças ao seu sacrifício – Potter! Está quase com a metade do total!
- É como se eu fosse uma criança que não consegue estabilizar a magia... – Harry refletiu consigo – Crianças não possuem o consciente totalmente separado do inconsciente. É como se o meu consciente estivesse deixando de controlar minha magia e meu subconsciente tomando o lugar.
- Só sei que está com redução de magia Potter. O que é alarmante no seu caso.
- Preciso apenas descansar para recuperar magia – notou como Malfoy erguia uma sobrancelha totalmente duvidando de suas palavras – Existe essa possibilidade. Acontecem casos assim com freqüência no St. Mungus acredite. E no meu caso, podemos tentar por essa noite e se minha magia não se estabelecer e continuar com essa cotação irei ao consultório do doutor Hermman sem oposições.
Harry conhecia muito bem o medimago Paul Hermman, afinal, estudou e estagiou com ele na área de medimagia e parte da academia de aurores, e sabia que ele obrigaria a ambos aumentarem a magia com o tal do contato corporal e como o doutor nunca estava satisfeito com pouco, os forçaria a um vínculo que subisse seu nível mágico ao topo. Só tinha medo de ser um contato muito demorado ou muito vergonhoso, então preferia não vê-lo até a próxima semana quando teria consulta.
Draco estreitou os olhos e refletiu durante alguns minutos, pesando as conseqüências. Seus olhos desceram para a barriga de Potter onde permaneceram durante a maior parte do tempo.
Harry se incomodou um pouco, mas entendia que a maior preocupação de Malfoy era com o bebê.
Suas mãos formigaram para se moverem e tampar essa parte de seu corpo, mas fez o possível para não se mover.
Sabia também que era capaz de nenhum dos dois conseguir descansar com a dúvida de o bebê sobreviver à sua pouca magia ou não, então uma idéia lhe surgiu. Era algo difícil, mas poderia funcionar e certamente era melhor que uma sessão constrangedora com o Doutor Hermman.
Suas bochechas coraram à medida que deslizava os dedos pela barra da camiseta e subia o tecido para desvendar perante o olhar surpreso de Malfoy, sua pele levemente bronzeada onde o único contraste com essa superfície lisa era a covinha que formava o umbigo.
Notou como as faces de Malfoy tomavam um matiz rosado contrastando com sua palidez e seus olhos logo buscaram os seus numa muda e alarmada pergunta.
Era hora de esclarecer essa pergunta e não apenas ficar envergonhado pelo que acabou de fazer...
- Você... – limpou a garganta notando que sua voz mal havia saído – Você pode usar o mesmo feitiço enfocando no bebê...
Só então Draco percebeu que havia cessado o feitiço e apenas apertava a varinha entre os dedos. Firmou a atenção na barriga de Potter e uma gostosa sensação se apoderou de si num misto de alegria, por poder saber como estava seu filho e algo de perturbação, pelo estranho da situação.
- Vitacorpus Vitamentis... – sussurrou lançando o feitiço diretamente a essa parte tão interessante da anatomia de seu antigo rival e viu como as letras e números se formavam no ar. Leu em voz alta – Vitae: 100 e Core: 190.
- Quer dizer que ele está vivo e desenvolvendo perfeitamente. O outro dado é o coração que está batendo quase que o dobro da batida do meu coração, o que é normal nessa fase de gestação – Harry explicou em voz baixa, vendo como um genuíno sorriso se formava nos lábios de Malfoy.
- E... Eu posso estar usando este feitiço para saber se ele está bem?
- Sim... Não há um limite para se usar este feitiço nas pessoas. Como eu disse, é um feitiço inofensivo. Apenas peço para que me informe quando quer usa-lo para saber sobre o bebê, pois a roupa veta parcialmente o feitiço como se fosse uma fraca barreira e isso acaba inutilizando o resultado.
- Oh, claro... – Malfoy concordou rapidamente, vendo as letras e números evaporarem quando interrompeu o feitiço.
O silencio logo caiu pesado sobre ambos. Nenhum tinha o valor suficiente para se mirarem.
Por parte de Harry a situação era ainda pior, se isso fosse capaz, o que sim, Harry tinha certeza que ficaria pior.
Seus olhos vagaram pelo quarto enquanto tentava ter coragem de dizer o que tinha que dizer. Era uma necessidade, dizia mentalmente a si mesmo.
- Eu... – se sentiu estranho ouvindo sua própria voz romper o silencio – Eu li algo a respeito de como os parceiros... Ahnn... – mordeu o canto da boca tentando se expressar da melhor forma possível. Sabia que seu rosto deveria estar vermelho e ignorou isso – Esquece esse negócio de parceiros... – se corrigiu rapidamente e mal notou que Malfoy acatou rapidamente a idéia de esquecer essa palavra como se ela fosse um insulto – Quero dizer que eu li sobre pessoas que sentem algo forte por outra pessoa, e se vinculam emocionalmente ou fisicamente e há as curas através de vínculos quando uma pessoa passa magia de cura para outra pessoa a que esteja vinculada dentro desse assunto de vínculos e contatos sem usar a varinha ou conjuros e os vinculados, e bem, os pares tem essa capacidade e podem até se curar mutuamente... – diminuiu a voz e a rapidez com que tentava esclarecer - Eu acho que é mais ou menos isso que o doutor Hermman quis dizer com magia através do contato corporal...
Draco franziu o cenho sem entender realmente. – Você se expressou um pouco confuso.
Harry apertou os lábios e finalmente enfrentou a Malfoy.
- Vou ser sincero com você pela primeira vez na minha vida...
- Ah! Que interessante... Você vinha sendo mentiroso e falso até agora? – Draco quase poderia sorrir ao sentir que estava começando a voltar a pisar em terreno conhecido e que por acaso se chamava "discutir e encrencar com Harry Testa Partida Potter" – E eu devo ficar ofendido e indignado?
- Isso é sério Malfoy! Eu nunca fui mentiroso e falso, mas sim, eu omito as coisas, pois ainda não confio em você.
- Que novidade... – Draco se calou ao receber uma mirada perigosa por parte do moreno – Certo, continue sua explicação ou vou te ignorar e chamar ao medimago – cruzou os braços com enfado.
- Não foi por mera curiosidade que o doutor Hermman perguntou se estávamos juntos – notou como as feições do loiro se enrijeciam – Existe uma magia muito mais poderosa do que a usual que utilizamos para conjurar feitiços. É a magia natural que corre por nosso corpo e ela tende a aumentar conforme os sentimentos...
... Houve casos de pessoas que se curaram através do contato corporal com o parceiro e a necessidade de estarem juntos para superarem os desafios e a própria morte. Quando um começa a definhar e perder as forças, o outro o socorre para se estabelecerem. É como o pilar de um edifício que sozinho não suportaria o peso da construção e desabaria, mas estando em dois, esse peso se nivela e eles se erguem...
... Creio que conosco não será tão diferente. Eu estou perdendo magia e ela é a fonte de vida do bebê e segundo o doutor Hermman, isso é normal nos gestantes masculinos. Então concluímos que o papel do segundo pai não fica em segundo plano como ocorre numa gestação feminina. Você é fundamental para que eu consiga levar a diante essa fase até o bebê nascer...
... Então o doutor Hermman nos questionou com outra pergunta fundamental...
Draco se viu dizendo em voz alta a perturbadora pergunta. – "Estão realmente dispostos a seguir esta gestação até o final?".
- Você disse que era óbvio...
- Por não saber o que implicava isso tudo! – retorquiu com moléstia.
- Então eu agora pergunto: Malfoy, você estaria realmente disposto a seguir com essa gestação mesmo sabendo a quê implica?
- E a quê exatamente implica Potter?
Harry corou furiosamente desviando a mirada para o tapete. – Não me obrigue a dizer em voz alta Malfoy... – pronunciou entre os dentes.
- E a quê exatamente implica Potter? – perguntou novamente, dessa vez mais alto e desafiante.
Harry fechou as mãos em punho. Respirou fundo voltando a enfrentar esse loiro, sussurrando. – O nome já diz tudo... Toques... Contato de pele contra pele com duração cada vez mais prolongada... E eu realmente imploro para que seja apenas isso... Então volto a te perguntar, Malfoy... Está disposto?
Draco engoliu um nódulo que por algum motivo estava enroscando na garganta e sua cabeça parecia estar a mil por hora. Era como se vozes alarmadas lhe gritasse para desistir.
- "É loucura... Você está se decaindo, se sujando... É nojento, grotesco, imundo...".
Harry sorriu sem humor. Sabia que Malfoy não toleraria, nem por nada nem por ninguém e às vezes se via pensando da mesma forma. Toleraria um homem te tocando? A resposta era distinta: nunca!
E a voz do loiro lhe chegou de surpresa.
- É óbvio...
Harry sentiu como o sangue lhe descia aos pés mais frio que o gelo. – ... Que?...
- Não mudarei minha resposta... Esse bebê é importante pra mim. Consegue entender?
- Por sua esposa?
- Não... Não somente por Hellenna, mas por mim... Eu sempre desejei ter mais de um filho e... – seus olhos se pousaram sobre a barriga de Potter – E ele está tentando viver... Está lutando e porque eu não lutaria?... Lutaria por ele...
Harry desviou a mirada para o lençol refletindo essas palavras e se vendo na pele de Malfoy.
Como seria desejar ter um filho, saber que finalmente ele estava ali, com o coraçãozinho batendo e ao mesmo tempo ter a realidade o golpeando cruelmente lhe recordando que com somente um piscar de olhos ele poderá morrer...
Lembrou-se na gestação de Albus e em como seu coração parecia sangrar a cada batida vendo Ginny prostrada na cama e gritando de dor enquanto os medimagos diziam que o bebê poderia nascer sem vida.
Seu emocional estava tão abalado e comprometido que seus colegas de trabalho não permitiram que a ajudasse como medimago, mas que ficasse ao seu lado dando apoio de esposo e rogando com todas as forças como um pai esperançoso...
E ali estava Draco Malfoy passando por uma situação similar a que passou...
Não esperava essa confissão de Malfoy e ouvi-lo pronunciar tão fervorosamente com tanta esperança, como se buscasse forças para convencer-se a si mesmo que esse bebê viveria, o fez crer fielmente que fizera a coisa certa e o que passaria entre eles não era tão atroz como julgavam.
Por ele...
Tomou a mão direita do loiro o pegando de surpresa.
- Potter... O que?...
- Preciso de magia recorda? – Harry levou a mão pálida de encontro à barriga e a pôs sobre sua pele sem duvidar. Seu corpo se estremeceu ao sentir o contato – Apenas se concentre no que precisamos...
Malfoy possuía a mão fria de palma larga e dedos longos e suaves. Se não fosse pelo tamanho, julgaria ser uma mão feminina muito bem tratada. Suas mãos ao contrário eram calosas devido sua longa estadia com seus tios e fazendo qualquer tipo de serviços, desde podar o jardim até limpar a chaminé da lareira. Então se viu pensando se seus toques poderiam ser menos prazerosos por esse inconveniente. Talvez sim, visto que Ginny o havia trocado tão rapidamente por Wood...
- Os de sangue-puro deveriam ter mãos como as de Malfoy... – pensou consigo.
Fechou os olhos e recostou a cabeça na cabeceira da cama negando-se a mirar a qualquer lugar, menos ainda a este loiro.
Draco manteve a mirada fixa sobre sua mão. Não movia um músculo como se qualquer movimento involuntário Potter pudesse tomar como uma carícia e tudo seria ainda pior.
Seu impulso era retirar a mão e xinga-lo por semelhante ato, mas ao mesmo tempo não conseguia coordenar os movimentos.
Então sentiu algo diferente que lhe quitou qualquer outro pensamento e desconforto...
Era um suave e quase imperceptível pulsar...
Abriu mais os olhos se concentrando na palma da mão, agora quente em contato com a pele de Potter. E ali estava...
Não evitou sorrir, deslizando o corpo pelo colchão até ficar à altura do moreno, que com o movimento abriu os olhos na defensiva quase se endireitando ao faze-lo.
- Malfoy? – estava confuso.
- Estou sentindo... – voltou a sorrir deslizando lentamente a palma pela extensão da barriga de Potter – ... Bem aqui... Acha que é o coração batendo?
Harry corou e se dispôs a segurar a mão de Malfoy para que parasse de toca-lo. Seus dedos se fecharam contra a mão pálida e só assim para que Draco se desse conta do que fazia.
Olhos prateados se ergueram de golpe ao mesmo tempo em que puxava a mão do contato com Potter.
Enquanto nos olhos verdes se lia incômodo, medo e vergonha, nos azuis acinzentados se lia repulsa e indignação pelo que acabava de fazer.
- Foi sem querer... – foi a pouca escusa de Malfoy antes dele sair do quarto e bater a porta atrás de si.
Harry sobre-saltou com o som da porta se fechando, então tratou de relaxar o corpo e afugentar a sensação em seu corpo. Ainda tinha marcado em mente o que viu no semblante de Malfoy e no que sentiu.
Repulsa... Nojo... Vergonha... Medo... Rejeição...
Levou a mão à boca sentindo como seu estômago embrulhava e sua garganta se contraía liberando um líquido abundante e salgado que preenchia sua boca com rapidez. Correu para o banheiro e apenas teve tempo de cair de joelhos antes de liberar tudo que havia ingerido no almoço.
Depois de alguns minutos liberando tudo que havia no estômago, passou a tossir sentindo a garganta arder e os olhos escorrerem.
Lavou o rosto e escovou os dentes para se limpar antes de regressar lentamente ao quarto, sentindo um leve mareio ao caminhar.
Foi então que notou que o quarto havia mudado...
As paredes não apresentavam manchas cinzentas e sim eram de tonalidade creme com as cerâmicas e os marcos das janelas e portas em tabaco que contrastavam com a lareira e o piso em mármore negro.
Os móveis eram da mesma cor dos marcos e os estofados em vinho aveludado. Sua cama antes branca agora estava coberta com uma colcha de veludo verde-musgo com os dosséis negros, assim como os travesseiros e almofadas eram em vinho.
Um enorme e colorido tapete felpudo sob a cama dava mais calor enquanto outro menor de cor palha adornava o chão entre a lareira e as poltronas.
Harry sorriu ao notar que seu quarto não tinha um padrão específico, eram misturas de Gryffindor, Slytherin, seu próprio estilo e talvez, se não se enganava, de Malfoy. Passou a mirada pela lareira, o piso e o dossel que apresentavam o elegante tom preto.
Dessa vez tinha certeza que não foi sua magia que modificou o quarto e sim a de Malfoy, e lá no fundo concordava com James.
Malfoy tinha bom gosto mesmo quando não combinava as cores...
ooo
Draco se manteve recostado na porta olhando fixamente a palma da mão. Sentia sua magia agitada em seu corpo e sabia que algo havia feito sem que percebesse.
Fechou a mão em punho e desviou a vista para a porta a qual se apoiava, vendo como esta lentamente adquiria um tom mais escuro e polido.
Sua magia ainda estava em atividade...
Caminhou pelo corredor tentando entender o que havia acontecido, quando notou que James Potter estava parado no meio do corredor, olhando para a parte escura que levava para a ala leste da mansão.
Estranhando, caminhou até o garoto e parou ao seu lado, lançando um olhar inquiridor ao começo da escadaria que descia rumo aos cômodos em desuso.
- Algo errado James? – apoiou uma mão ao ombro do menino.
- Não senhor... – James negou rapidamente, o olhando – É que me pareceu ouvir algo vindo daquela direção.
- Deve ter sido algum dos elfos domésticos... Eles são os únicos que percorrem a ala leste para limpar e manter os móveis.
- Ninguém nunca vai ali?
- Teu pai te mostrou fotos de Hogwarts? – Draco girou para vê-lo nos olhos.
- Sim, várias fotos.
- Esta mansão não é apenas uma mansão, é como se fosse um castelo, pois somos de linhagem muito antiga... Só não é tão grande como Hogwarts porque é uma moradia familiar... Somos poucos para conseguir usar todos os cômodos, então isolamos o restante para ninguém se perder...
James parecia fascinado. – Mas o senhor sabe de cada canto desse castelo?
- Assim como todos os castelos deve haver lugares que ninguém sabe...
Fez uma pausa, notando o brilho aventureiro nos olhos do garoto, o que lhe fez recordar-se de suas próprias malandragens de criança, assim como se lembrava de ver esse brilho nos olhos de Potter quando freqüentavam a escola.
Mas ali não era Hogwarts e não havia milhares de estudantes e diversos professores para cuidar de cada criança bisbilhoteira e curiosa, e era um recinto Malfoy... O nome já dizia tudo...
- Sei que gosta do desconhecido e de aventuras, mas este lugar é perigoso para se andar sozinho... Somos poucos e quase nunca você verá o avô de Scorpius, raramente cruzará com os elfos domésticos... – notou como o entusiasmo do garoto diminuía rapidamente – Seu pai não pode ficar andando atrás de vocês preocupado se estão bem ou não e sim, este lugar é enorme o que pode ocorrer de se perder sozinho por aí.
- Entendi... – contrariado James torceu os lábios e ergueu a mão direita – Nada de me aventurar por essas partes da casa...
- Ótimo... – Draco acariciou o cabelo do menino – Venha, está um belo dia para se passear pelo jardim. Há um lago próximo e que certamente você vai adorar.
- Um lago? Legal!
Draco sorriu quando James lhe acompanhou alegremente, comentando que o pai os levava de vez em quando para se divertirem em um lago.
A primeira parada foi no quarto de Scorpius para chamá-los a acompanha-los no passeio. Encontrou os meninos deitados de bruços no tapete, juntinhos enquanto desenhavam e riam entre eles.
O pequeno loirinho levantou os olhos e ao vê-lo, ergueu o papel ao qual pintava.
- Olha papai, é você e o papai do Albus... Você gostou?
Draco pegou a folha e olhou com cuidado. De fato havia um boneco loiro ao lado de outro moreno. O que lhe chamou a atenção foi que o boneco moreno estava gordo.
- Não acha que ele está muito redondo?
Os dois meninos começaram a rir novamente entre eles. Foi a vez de Albus estender o seu desenho e explicar. O mesmo ocorria no desenho do pequeno Potter.
- É porque o papai está esperando um bebê.
James colocou os olhos em branco. – Nosso pai vai ficar extremamente contente por saber que vocês empenharam em desenha-lo no oitavo mês...
Draco sorriu vendo o formato do boneco e imaginando a cara que Potter faria ao ver esses desenhos.
- Ficaram ótimos, meninos! Querem colocar na parede? - os dois concordaram felizes.
James voltou a colocar os olhos em branco. Albus parecia se dar muito bem com aquela família.
Draco fez um simples feitiço para emoldurar as folhas e as fixou na parede próxima à cama do filho.
- Que tal irmos ver o lago antes do chá das cinco? – ofereceu, vendo que eles se entusiasmavam e já tomavam a frente seguidos de perto pelo garoto maior.
Draco ia segui-los, quando seus olhos se pousaram na porta do quarto de Potter. Parou de andar e pensou por um momento.
Não queria que ele ficasse trancado ali dentro se o dia estava fabuloso lá fora. Sabia que ele estava cansado e perdera magia, mas...
Olhou aos meninos que o esperavam perto da escada e voltou a olhar para a porta.
James sorriu ao ver como o pai de Scorpius finalmente se decidia.
Draco voltou ao quarto e bateu de leve na porta antes de abri-la. Encontrou a um Harry Potter esparramado na cama, braços abertos e fios negros soltos da costumeira coleta. Ele fitava o teto muito pensativo e parecia não ter ouvido seu chamado.
Duvidou um pouco antes de voltar a chamá-lo, dessa vez pelo nome.
- Potter...
Harry se sobressaltou um pouco antes de fitá-lo. – Malfoy...
Com cuidado o moreno se sentou para olha-lo melhor. Estava um pouco pálido e o mareio ainda resistia, porém com menos intensidade.
- Venha, precisa tomar um pouco de ar puro e descansar ao mesmo tempo – Harry franziu o cenho sem entender – Vamos... Ou quer que eu lhe carregue? – ironizou com um sorriso pertinente como há muito Harry não via.
Draco abriu caminho segurando a porta aberta e sorrindo interiormente ao notar como o moreno lhe lançava um olhar de repreensão, mas com um nítido brilho de divertimento. Logo, ambos deixavam a mansão seguindo os três meninos.
ooo
Narcissa soltou a cortina de renda e se afastou da janela. Caminhou pensativa ao redor do quarto, passando os dedos por suas mechas louras que caíam por seu ombro.
Lembrava-se o que Luna Lovegood lhe disse sobre o incidente que Harry Potter havia passado, no rompimento do casamento e em como ele se esforçava para ser um bom pai, pois cuidar sozinho de duas crianças pequenas ao mesmo tempo em que trabalhava no St. Mungus não era fácil.
Havia perguntado para a moça se Potter ainda amava a ex-mulher e esta lhe garantiu que ele sentia muita falta dela.
- Draco parece estar mais tranqüilo com Potter aqui... Percebeu que ele não tocou no nome de Hellenna e nem se isolou em seu aposento?
- Não quero aquele mestiço imundo em minha casa! – Lucius sussurrou – Ele humilhou nossa família...
- Ele salvou nossa família... – ela o corrigiu.
- E deixou nossa reputação na lama... Não o quero nem mais um minuto dentro dessa casa...
Narcissa parou de andar e fitou o marido que estava recostado numa poltrona, encoberto pelas sombras do quarto.
- Diga isso a Draco então... – ela notou como ele se enrijecia – Diga para Draco manda-los embora.
- Ele nem mais se lembra que tem um pai... – Lucius sussurrou para si mesmo, com mágoa.
Narcissa suspirou com tristeza, se aproximou do marido e tomou-lhe a mão com carinho. Sabia que era verdade, que o filho simplesmente isolou o pai e o ignorava desde então, desde o fim da guerra. Mas isso foi em conseqüência das próprias atitudes de Lucius...
Ela como esposa e mãe se dividia em duas e sofria por ambos, não querendo vê-los tão distantes e carregados de seqüelas.
- Sabe querido... Estava pensando que talvez, Potter seria uma boa influencia para Draco e aumentaria o status da nossa família... E os filhos dele parecem fazer muito bem a Scorpius...
Lucius puxou a mão bruscamente e a fulminou com a mirada. – Jamais, ouça bem Cissy... Jamais permitiria que esse indivíduo tomasse parte de nossa família... – sibilou ameaçadoramente – Por todos os nossos ancestrais, que você não tenha insinuado algo desse gênero... Que eu esteja desvairando a entender que você, justamente você, tenha sequer insinuado que Draco se envolveria com outro homem e não um qualquer, mas Harry Potter...
Narcissa afastou com temor indo se sentar em uma poltrona frente à lareira. Sorriu um pouco voltando a passar os dedos pelas longas mechas de seu cabelo para disfarçar seu descontrole.
- Claro que não... Jamais pensaria em meu Dragão envolvido com um homem... É desonroso e vergonhoso...
- Então, querida... – o patriarca sorriu com ironia – Convença ao nosso filho a manda-lo embora. Ele e suas crias pertinentes...
A mulher apenas abaixou os olhos, terminando de prender o cabelo em uma trança. Se dependesse dela, aceitaria tudo apenas para ver o filho e o neto felizes...
- Sim querido... Farei o que puder para convencer a Draco...
ooo
O lago da Mansão Malfoy era grande, não tão grande quanto o de Hogwarts, mas se via imenso e tranqüilo.
Havia uma plataforma de madeira construída na beira da água e dois barcos longos e estreitos que se assemelhavam a folhas descansavam num dos lados da plataforma, esperando algum aventureiro para ocupa-los.
Harry olhou ao redor e além, notando como a paz e a harmonia logo o invadia. Realmente esse passeio era muito mais tranqüilizante do que ficar trancado em seu quarto esperando o sono vir.
Assim que seus pés tocaram a madeira da plataforma, viu como o filho de Malfoy passou correndo ao seu lado. O garotinho ria tentando fugir de Albus que vinha logo atrás e ao chegar na beirada do pequeno cais, não conseguiu parar, caindo dentro da água.
- Scorpius! – desesperado correu para socorre-lo, mas foi impedido por Malfoy, que lhe segurou pela cintura. Seus olhos logo se encontraram com os olhos prateados – Malfoy! Ele vai se afogar!
- Não passa nada... – Draco caminhou consigo até a beira e ambos olharam ao menino, que ria travesso.
A água era rasa e só lhe chegava até a cintura. Apesar de estar todo molhado, o sol da tarde fazia com que o clima fosse quente e ótimo para brincar na água.
Albus também aproveitou para pular na água e brincar com o novo amiguinho.
- Cinco metros adentro é raso que se pode caminhar com tranqüilidade, depois disso há um declive e a água se aprofunda até não poder medir o chão com os olhos – o loiro explicou com calma, vendo como os meninos espirravam água um no outro.
Então sentiu um golpe no ombro. Buscou a mirada esverdeada notando como Potter estava furioso consigo.
- Idiota! Poderia ter me avisado! Não sabe como me assustou ver Scorpius caindo da plataforma! – Harry se desvencilhou de seu braço e afastou alguns passos indo se sentar perto da grama.
O mareio havia voltado mais forte e por pouco não demonstrou como tonteava. Preferia mil vezes lidar com isso sozinho ao que ter Malfoy lhe atormentando achando que o bebê poderia morrer.
Draco por sua vez o olhava sem saber o que fazer, nem o que dizer...
Sentiu-se bem ao saber que o moreno se preocupava e cuidava de Scorpius como se fosse um de seus filhos, mas ao mesmo tempo isso lhe causava um imenso desconforto.
Potter não tinha que criar seu filho, o único que tinha o direito de se preocupar e cuidar de Scorpius era si mesmo, uma vez que Hellenna já não estava mais.
James sentou ao lado do pai e o olhou com preocupação.
- Você está bem pai?
- Estou bem Jimmy... Porque não vai se divertir com seu irmão e Scorpius? – sorriu ao filho, para mostrar que estava tudo bem.
James pendeu a cabeça para um lado, ponderando numa pergunta.
- Hum... Porque vocês vivem se afastando?
- Afastando? – Harry franziu o cenho sem compreender.
- Eu percebi isso desde cedo... – o menino cruzou os braços seriamente, como se conversasse como um adulto – O senhor Malfoy te evita o tempo todo... Ele fala com você, mas não te mira muito e quando estão mais perto logo começam a brigar...
- Porque nunca nos demos bem... Você sabe disso... Ele apenas quer o bebê que é filho dele... – Harry bocejou, sentindo a necessidade de dormir um pouco – Agora vá brincar e se divertir, enquanto tirarei uma soneca.
James duvidou um pouco até que encontrou o olhar prateado do senhor Malfoy sobre si.
- Eu cuido do seu pai enquanto você estiver se divertindo...
Um amplo sorriso foi a resposta do garoto que num salto se pôs de pé e foi atormentar os dois menores.
E o senhor Malfoy cumpriu com sua palavra, visto que a tarde passou lentamente, tranqüila e alegre para as crianças e relaxante para Potter que adormeceu sem que percebesse.
Draco conjurou uma manta macia sob o corpo do moreno para que não se lastimasse com a dureza da madeira. Retirou do bolso um lenço no qual o transformou em travesseiro.
Com cuidado passou a mão por baixo da cabeça de Potter e a ergueu suavemente para ajeitar-lhe o travesseiro. Sem querer seus dedos se embrenharam pelas mechas negras, sentindo como eram macias.
Parou e observou os fios que envolviam sua mão, então fechou os dedos em punho para que eles não deslizassem e o observou com mais atenção.
Sentia o calor chegar em seu tato por estar tão perto do pescoço levemente bronzeado e sentia o perfume que desse cabelo se desprendia...
Era um cheiro simples e rústico, sem ser aquela mistura de shampoo feminino ou de creme, essência corporal e hidratante. Era um cheiro de sabonete, de ervas e de madeira, assim como os shampoos que usava.
Um cheiro masculino...
Sobressaltou quando as mechas em sua mão deslizaram e caíram sobre o travesseiro.
Então girou o rosto em busca das crianças ao não escutar mais o barulho da água e suas risadas, deparando-se com três cabeças assomando-se pela plataforma e olhos atentos observando o que fazia.
Scorpius e Albus tamparam as bocas para não rirem e desapareceram da vista de Draco, James sorriu maroto e apoiou os braços na madeira ainda o olhando com divertimento.
- Devo dizer ao meu pai sobre isso?
Draco estreitou os olhos e cruzou os braços. – Sobre o que exatamente?
- Vejo que não... – o garoto fez bico – Mas direi de todas as formas – pensou consigo mesmo, voltando a sorrir.
Quando o sol desaparecia no horizonte, Draco achou por certo voltarem.
Tomou a varinha e levitou os três meninos que estavam longe de quererem voltar pra casa e com outro feitiço estavam devidamente secos, ou Narcissa entraria em histeria ao ter o piso de madeira nobre que revestia o corredor empapado de água.
Seus olhos caíram sobre o corpo de Potter e ficou com pena de acorda-lo. Porém, não durou muito, visto que Albus se agarrou ao pai e o sacudiu sem piedade para que acordasse.
- Papai! Olha papai, eu posso ficar com ela?
Harry abriu lentamente os olhos, sinal de que já estava acostumado a ser acordado dessa forma. Abraçou o filho e enfocou o que o pequeno lhe mostrava.
- O que você pegou? – com cuidado Harry abriu os dedinhos do filho e viu, quietinha na palma da mão, uma espécie pequena de Salamandra.
- Posso ficar com ela?
- A maioria das Salamandras são venenosas... – Harry titubeou um pouco, então recorreu ao conhecimento de Malfoy – Sabe se esta é uma delas?
Draco caminhou até os dois e observou o pequeno anfíbio de coloração preto com um colarinho vermelho vivo. Scorpius se aproximou também mostrando a mãozinha fechada.
- Também tenho uma... – disse timidamente, olhando de vez em quando para Albus – Posso ficar com a minha papai?
- Ainda são bebês, certamente crescerão mais e poderão demonstrar um pouco de agressividade... – Draco analisou com cuidado.
- São ou não são venenosas Malfoy? – Harry franzia o cenho, com medo das crianças correrem risco de vida. Sentou com cuidado, sentindo a tontura voltar a atacar – Não quero que eles brinquem com animais nocivos.
- Não há problema Potter – Draco sorriu ao receber dois lindos sorrisos dos pequenos – As Salamandras são fiéis aos donos assim como os Basiliscos e muito menos perigosas.
- Podemos ficar então? – Scorpius sorriu ao pai quando este afirmou com a cabeça.
- Papai? – Albus fez carinha de choro, implorando com os olhos.
Como o esperado, Harry não resistiu. – Está bem... Mas cuidem delas ok? Nada de machuca-las ou elas ficarão zangadas com vocês.
Foi a vez de Albus sorrir e se abraçar ao pai antes de segurar a mão de Scorpius e o puxar em direção ao irmão.
- Onde elas dormem Jey?
James colocou as mãos nos bolsos da calça e sorriu aos menores com ar superior. – Num terrário tontos... Uma espécie de aquário, mas que no lugar de água se coloca terra, pedras e galhos para elas se esconderem. E precisa de um aquecedor, pois como eu li em um livro da tia Mione, as Salamandras apreciam altas temperaturas.
- Meu pai arruma um pra gente... – Scorpius sorriu afetado para James erguendo o arrebitado nariz – Ou meu pai pode deixar que a gente cuide delas num dos jardins de inverno...
- Pentelho esnobe... Só porque é rico... – o maior grunhiu por baixo vendo como o irmão era praticamente arrastado pelo loirinho e parecia nem se importar.
- James... – ao captar seu nome girou a cabeça para se encontrar com duas miradas inquiridoras. A do pai e a do senhor Malfoy.
- O que eu fiz agora? – resmungou.
- Pegou as Salamandras para os dois... – Harry respondeu, seriamente. E antes do filho negar, vendo a carinha de indignado que fazia, acrescentou – Eles são muito pequenos para conseguirem acha-las e captura-las sozinhos, não negue.
James apenas deu de ombros. – E que mal há nisso? Todos possuem cachorros ou gatos como animais de estimação... Eles não tinham nada...
- Salamandras não são gatos ou cães... – Harry negou com a cabeça se erguendo e ajeitando as vestes – Poderia incentivá-los a ter algum animalzinho inofensivo como um Chow-chow ou um peixinho dourado...
- Chow-chow? – Draco lhe lançou uma mirada incrédula enquanto James colocava o olhar em branco – Meu filho é um Slytherin. Nunca teria como companhia um negócio como este.
- Pai... Nenhum Gryffindor teria um Chow-chow como animal de estimação! Só um Hufflepuff... E pra começo de conversa, eles me disseram que adorariam ter uma serpente e que queriam caçar serpentes para domesticá-las... – sacudiu os braços como forma de indignação antes de seguir atrás dos pentelhos para vigia-los de perto – Meu pai não entende! Meu irmão está se tornando uma ovelha negra e ele não percebe isso! – apontou para Albus e Scorpius que já estavam a alguns metros de distância – Veja! O melhor amigo dele é um Slytherin mimado, esnobe e insolente!
- James! O que eu disse sobre insultar os outros? – Harry o repreendeu.
- Desculpe!
Uma risada logo desviou a atenção de Harry do filho para Malfoy. Este ria divertido, braços cruzados e olhar fito nas crianças.
- Do que está rindo?
- Seria interessante se um Potter entrasse na Casa das Serpentes... Filho daquele que honrou a Casa dos Leões... – Draco começou a caminhar sem mira-lo – Ficaria decepcionado se isso acontecesse Potter?
Harry pensou por um momento, vendo o caminhar elegante de Malfoy. Sabia que ele havia sido um dos poucos alunos exemplares de Hogwarts e que possuía inteligência e astúcia de sobra... Sabia que como todo Slytherin, fazia as coisas pelas escondidas, e que era extremamente calculista, estrategista e que pensava friamente antes de agir...
E que quando queria, dava o sangue, por mais puro que fosse, por aqueles a quem julgassem merecedores... Assim como Severus Snape uma vez havia feito...
E essa foi a primeira, entre tantas outras vezes, que pensou sobre essa possibilidade e foi a primeira e única resposta que teria quando lhe inquirissem sobre o assunto...
- Não me decepcionaria... Ficaria orgulhoso se acontecesse...
Viu como sua resposta afetou a Malfoy quando este parou de andar e quase girou o rosto para encara-lo, mas não fez.
- Como se você se orgulhasse das características de um Slytherin?
Harry às vezes odiava quando ele fazia isso. Quando não podia olhar dentro desses olhos tormentosos quando era afrontado por perguntas. Muitas vezes Malfoy fizera isso quando estudavam, tanto para provoca-lo como para escapar de suas desconfianças antes do caos desabar sobre suas cabeças...
Queria poder ver-lhe o rosto nesse momento e saber o que pensava, como estaria reagindo a cada palavra...
- Me admira a forma com que pensam, planejam e agem. Calculadores e detalhistas... – murmurou, olhando os ombros alinhados de Malfoy, em como sua postura fazia com que suas costas e altura parecessem maiores - ...Como conseguem enganar as pessoas com facilidade para em seguida mostrarem muito além do que pensávamos...
Silêncio... Suas últimas palavras sumindo com o vento...
Levou as mãos ao ventre e tocou com cuidado.
Ature a quem odeia por que ele é a salvação de teus males... É como um Malfoy pensa...
E por um instante, um mísero instante, chegou a pensar em porque continuava levando esse ser dentro do corpo. Um Malfoy que prontamente nascesse lhe rejeitaria.
- Ele não precisará mais de ti... – ouviu um sussurro como se sussurrassem dentro de sua cabeça – Nem pai nem filho precisarão de ti...
Sacudiu a cabeça voltando a sentir-se mareado. Notou que no chão, onde outrora estava deitado, a manta havia desaparecido e no lugar do travesseiro havia um lenço negro. O pegou e o observou com cuidado, vendo uma solitária letra bordada em fios de prata.
Automaticamente o colocou no bolso e a passos lentos seguiu caminho. Malfoy o esperava há pouca distancia, vendo como o sol aos poucos descendia pelo horizonte.
ooo
Narcissa esperava na sala de visitas enquanto alinhava as xícaras e o bule de porcelana francesa. Não estava presente no almoço, mas não faltaria ao chá das cinco.
Barulhos na escada anunciaram a chegada daqueles que aguardava pacientemente.
Viu como o filho descia com as crianças que banhados sorriam alegremente, incluindo Scorpius.
Não passou despercebido que o neto estava de mãos dadas com o menor dos Potter...
Draco também estava banhado e com cavalheirismo se inclinou depositando um beijo em sua testa.
- Mãe... – sussurrou baixinho como forma de saudação.
Depois foi a vez de Scorpius que lhe beijou a face com respeito seguido de Albus, coisa que não esperava.
James apenas a saudou respeitosamente com a cabeça. – Senhora...
- Pois bem... Onde está Potter? – Narcissa passou a mirada ao redor, notando desde o início a falta de presença do moreno.
- No banho certamente... Logo ele estará conosco... – Draco respondeu, ajudando os meninos a se acomodarem.
Como dito, Potter logo se fez presente ao descer a escada.
No início não lhe deu atenção, mas não pôde deixar de erguer os olhos ao sentir o perfume que provinha do moreno. Âmbar amadeirado se não se enganava... Um toque de pimenta e algo de cedro e ervas frescas...
Seus olhos logo caíram sobre o cabelo umedecido e ainda assim desgrenhado que deslizava molhando a camisa branca de Potter.
Harry havia tido problemas no banho com a tontura que persistia em incomodá-lo. A todo custo se banhou e se enxugou, deixando a tarefa de secar o cabelo para depois, ou não agüentaria ficar mais um minuto em pé.
Se escorando na parede foi ao quarto onde se sentou na cama para tomar um pouco de fôlego e assim afastar as náuseas.
- Grande Merlin... – rogou de olhos fechados. Era horrível sentir-se assim... Como as mulheres conseguiam?
Sorriu tristemente ao pensar que Ginny havia passado por isso duas vezes.
Sentindo-se melhor, se levantou e se situou frente ao espelho, passando a escovar o cabelo ainda úmido.
Não soube porque, mas fitou seu próprio reflexo e aos poucos foi deixando de fazer o que fazia para quedar-se parado e pensativo.
Sua mirada percorreu cada membro, desde a cabeça até os pés para em seguida voltarem e se fixarem na região da barriga.
Não tinha um corpo afeminado, longe disso. Seu corpo era bem talhado, ombros largos e musculatura definida. Quadril estreito apesar de que havia muitos homens com o quadril mais fino que o seu.
Não... Não tinha um corpo feminino. Era perfeitamente masculino.
- Sou homem e continuo sendo homem... – disse a si mesmo em voz alta.
Mas então... Por que se sentia estranho?
Era como se estivesse perdendo sua identidade e características...
Virou de lado e se deu uma crítica analisada, voltando a se fixar na região da barriga.
Passou os dedos pela musculatura do ventre notando que nunca uma mulher teria aquele vão demarcando o firme e malhado que estava seu corpo, porque somente um homem tem aquela região dura e demarcada.
Assim mesmo não estava se sentindo bem...
Optou por ignorar isso e tratou de se vestir com algo leve e macio, de preferência o algodão, pois logo seria o jantar e depois iria diretamente à cama.
Quando terminou de se arrumar, voltou a se olhar no espelho se sentindo um pouco melhor.
Havia optado por uma camisa branca e calça preta de tecido sem botões ou zíper.
Um modelo bem masculino...
Voltou a ficar pensativo.
Não seria mais masculino daqui a alguns meses... Era uma camisa larga e que se não estivesse com a calça, pareceria um vestido...
Franziu o cenho não entendendo como esse pensamento chegou ao seu cérebro.
- Estou ficando estressado... – grunhiu levando a mão direita à testa e dando as costas ao espelho – Foi uma má idéia me olhar durante tanto tempo...
Então avistou sobre uma das poltronas frente à lareira, uma almofada pequena e redonda com franjas ao redor. Estendeu a mão, mesmo lembrando que não podia usar magia, convocou a almofada com um Accio e esta logo estava em sua posse.
A observou com cuidado... Macia, com finos detalhes extremamente discretos, mas que fazia toda a diferença... Era nitidamente elegante e caríssima...
Mas não estava olhando essa almofada para ver seus detalhes ou o valor que possuía. Voltou a se ver no espelho e a colocou debaixo da camisa, na altura da barriga e deu uma boa olhada no resultado.
- Oh, merda... – virou o rosto para o lado fugindo dessa imagem e se sentindo horrivelmente péssimo com a visão que se tinha. Parecia um enorme barril com duas pernas finas...
Girou o corpo de lado e respirando fundo tomou valor e deu uma discreta mirada em seu perfil.
Se a imagem pudesse surtar um espelho, certamente seu reflexo nesse momento teria partido o seu em milhões de pedaços...
Deixou a almofada cair no chão e sentindo aquele bolo revolvendo no estômago e completamente deprimido, foi em busca de Malfoy.
Não estava mais com ânimo de participar do chá das cinco... Talvez não participaria do jantar também...
Enquanto avançava pelo corredor, pensava na desculpa que daria por perder a refeição... Poderia dizer a verdade, que estava muito cansado e queria apenas dormir...
Hibernar como os ursos e acordar daqui nove meses...
Olhou ao redor se dando conta que Malfoy não lhe dissera onde era seu quarto.
- É a porta ao lado...
Harry olhou assustado ao dono dessa voz, vendo que se tratava de um quadro com o retrato de um velho homem de barba branca, óculos e um ar estudioso.
- Quem é o senhor?
- Psit! – o retrato lhe ordenou de forma arrogante, o que o fez perceber que era algum ancestral Malfoy - Não me incomode fedelho... Sua andança me desconcentra assim como sua magia instável... – ele o olhou sobre as lentes, analítico – Posso ver que possui algo distinto aos demais, mas não logro entender o que seja de fato...
Harry se incomodou sobremaneira com esse comentário. Era como se o insultasse dizendo que estava grávido por isso se diferenciava dos demais.
Não esperou que o estúpido retrato terminasse de falar. Entrou no quarto indicado e fechou a porta para evitar ouvir mais insultos.
- Velho irritante... – resmungou baixo, então deu a volta e olhou ao redor.
Um quarto levemente sombrio, mas ao mesmo tempo aconchegante... A cor predominante era o preto e a prata, como se não pudesse ser diferente, mas havia detalhes em turquesa que se destacava sobre as tonalidades densas.
- Malfoy? – chamou com receio, se dando conta que talvez o loiro não gostasse que estivesse ali.
Bem... Que se danasse agora que já tinha entrado.
Curioso, caminhou até uma larga cômoda e observou os variados objetos que havia em cima. A maioria perfumes...
Sentiu o cheiro de alguns até que sorrindo, resolveu por passar um deles que lhe agradou e o acalmou consideravelmente.
Ergueu os olhos para se olhar no espelho que se situava acima da cômoda, quando viu através do reflexo o quarto de banho cuja porta estava aberta.
Malfoy se enxugava com uma toalha escarlate que se contrastava com sua pele extremamente pálida coberta de gotas. O cabelo sempre impecável estava desgrenhado e pingando, caindo sobre a fronte devido a cabeça estar abaixada. Os fios da nuca empapados de água grudavam na pele e na curvatura do pescoço com os ombros.
Não soube porque seus olhos, por mais que forçasse em desvia-los, seguiram os movimentos da toalha que descia pelo abdômen, passando lentamente pelo ventre até a região mais íntima do corpo...
Tinha que admitir que Malfoy possuía um corpo impecável e isso lhe fez, por uma fração de segundos, ou minutos para ser mais sincero, ter inveja do tão bem formado que era, ainda mais que estava encafifado que daqui a alguns meses seu próprio corpo nem de longe lembraria o que era...
O som do vidro de perfume que escorregou de seus dedos e bateu, para seu constrangimento, um pouco violento sobre a cômoda o fez reagir com rapidez. Afastou-se da direção do espelho que sabia que se tinha essa visão de Malfoy, Malfoy teria de si se erguesse os olhos de onde estava, e fugiu.
Em poucos minutos estava fora do quarto e já entrando em seu próprio aposento onde foi parar escorado na porta com o coração desesperado e se xingando mentalmente.
Que anta que era! Por que teve que bisbilhotar os pertences daquele loiro?
Depois disso chegou à conclusão que se não aparecesse para o famoso chá, seria muito estranho de sua parte...
Agora estava ali, sentado frente a Malfoy, ao lado da senhora Malfoy e sem um pingo de vontade de beber.
Narcissa o serviu com elegância dizendo algo sobre as ervas e um monte de história sobre a porcelana que utilizavam, mas que sinceramente não estava dando a mínima atenção. Apenas sorria como se a estivesse ouvindo e fingia beber um ou dois goles, isso, até sentir-se tremendamente desconfortável com a mirada de Malfoy sobre si, grudada como se fosse abelha no mel, desde que chegou.
- Ele não deve ter se dado conta... – tentava se convencer.
Nem sabia porque ficou olhando pra esse monte de arrogância que se gaba do sangue que se tem...
Ta, só foi um momento de dor de cotovelo, inveja e autopiedade, mas isso não vinha ao caso, pois segundo a maioria, Harry Potter não possuía esses males da humanidade já que era um herói...
Bufou mentalmente. Se seus fãs soubessem que era muito mais propício a isso do que o saudável, estariam decepcionados...
Merlin! Malfoy possuía tudo que também possuía! A única coisa que mudava era o fato dele ser loiro... Talvez um pouco mais alto... De ombros um milímetro mais amplo...
- Por que a senhora não leva um pouco de chá para o papai? – Harry se arrepiou com a voz de Malfoy saindo de suas próprias inquisições e reprimendas e viu, incomodado, como Narcissa lançava uma mirada confusa ao filho antes de apertar os lábios com ressentimento e se retirar da mesa sem contradições.
Quis implorar para que ela ficasse, mas achou que seria muito estranho de sua parte...
O silencio logo começou a incomodar mais que o esperado o obrigando a enfrentar a mirada opressora a qual estava sendo submetido.
- Quer... Dizer algo?
- O perfume que está usando... – o loiro começou lentamente, analisando cada reação que pudesse ler no semblante de Potter – Se parece muito com o que eu uso...
Harry apenas deu de ombros, dando pouco caso ao assunto. – Porque é um dos seus perfumes... – vale miserável! Agora se Malfoy estava na dúvida de quem entrou no seu aposento, juntaria os pauzinhos e veria que no final aparecia nitidamente um Harry Potter.
Quase sorriu quando Malfoy franziu o cenho sem entender, talvez sem compreender tanta naturalidade.
Naturalidade só de fachada, convenhamos...
- E posso saber porque está usando o meu perfume?
- Me identifiquei com ele... – voltou a dar de ombros, como se fosse simples. Então acrescentou por maldade, querendo causar desconforto em Malfoy assim como estava desconfortável com o assunto – Te incomoda que eu fique com o seu cheiro? – para arrematar, elevou uma sobrancelha.
Harry poderia dizer a hora exata que o corpo de Malfoy se tencionou, só não percebeu que além de ter causado essa reação, causou que os fios louros da nuca se eriçassem num calafrio originário desde a espinha dorsal.
Draco estreitou os olhos voltando a ter domínio das próprias reações. O desgraçado do Potter queria molesta-lo até não poder mais, mas não permitiria isso.
- Não use mais minhas coisas... – advertiu simplesmente, dando como assunto encerrado. Só não contava que para o moreno o assunto ainda tinha uns tópicos a esclarecerem.
Harry desviou a mirada para sua xícara fazendo uma careta de desagrado. – Estava passando mal... – isso bastou para ter toda e total atenção dos olhos prateados – Fui no seu quarto dizer que não queria descer para o chá e também que estou sem fome para o jantar... – seus dedos passaram a brincar com a porcelana, sem se atrever a subir os olhos para ver, mais uma vez, como Malfoy ficava preocupado pelo bebê – Eu não tenho perfume, nunca na realidade dei importância pra isso, mas... Esse cheiro em particular me tranqüilizou e me fez sentir melhor...
Quando terminou sua narrativa estava corado, vendo como era patético o que acabava de confessar.
Pelo jeito o pateticismo nunca o abandonaria...
- Por que não me disse que estava passando mal? – um sussurro apenas audível.
- Porque me incomoda esse... – se interrompeu se remexendo na cadeira finalmente encarando o loiro. Agora sim estava muito desconfortável e irritado – Apenas incomoda! Não sou mulher entende? Não sou acostumado a ser tratado assim, como se eu fosse desmontar se o vento me atingir... Como se eu não pudesse fazer nada, ser dependente... – respirou fundo tentando se acalmar – Sempre fui eu quem fez algo pelos outros, sempre fui eu que tive que suar e dar sangue para que minha esposa não precisasse se preocupar, para dar de tudo que ela e meus filhos necessitavam... - Harry retirou do bolso o lenço e o pôs sobre a mesa – Me incomoda a forma que me trata...
Seus dedos deslizaram sobre a mesa levando consigo o fino tecido bordado em prata, afastando-o de si como se fosse algo proibido para guardar. Via como a letra "D" aparecia por entre seus dedos, querendo se mostrar, brilhando conforme a luz.
Então dedos alheios retiveram seus movimentos quando uma mão se pousou na sua. Uma mão fria e suave, tal como havia sentido horas atrás nesse mesmo dia.
Dessa vez foi seu corpo que se retesou...
- Papai, você já se esqueceu da mamãe?
Harry puxou a mão no mesmo instante, o assombro tomando suas feições. Desviou os olhos para Albus. – Que? Não querido... – negou rapidamente - O papai não esqueceu da mamãe... – sentindo necessidade, carregou o filho e o pôs sentadinho em seu colo – Ainda vamos passar um fim de semana todos juntos, como antigamente, está bem?
Draco permaneceu com a mão posta sobre o lenço, olhando como Potter beijava a cabeça do filho menor, fazendo promessas que certamente nem ele próprio sabia se poderia cumprir...
Por que ele fazia isso? Por si mesmo ou pelos filhos?
James fitava a mesa com o semblante sério e os lábios comprimidos. Talvez ruminando por Albus ter sido linguarudo bem numa hora imprópria.
- James... – Draco chamou baixinho, captando a atenção do garoto – Porque não leva seu irmão e meu filho lá pro quarto? Tem um monte de jogos para se divertirem antes do jantar.
Com um aceno de cabeça o maior dos Potter se levantou e praticamente arrancou o irmão dos braços do pai.
- Vem Al, vamos brincar com Scorpius...
Draco apenas afagou o cabelo do filho como incentivo e viu como James subia a escada tendo cada um de um lado, segurando em suas mãos.
Então se focou unicamente nesse moreno que quanto mais tentava entender, mais indecifrável se tornava...
- Porque não esquece ela? – foi direto, estranhamente rude para um assunto que não fazia parte.
Harry o olhou com surpresa para logo em seguida estreitar os olhos. – E a que te interessa minha vida Malfoy?
- Só acho que você deveria deixar de ser tão patético e aceitar que foi trocado por outro... – arrastava as palavras, coisa que fazia tempo não fazia. Não dessa forma ao menos – Vendo-o assim, até entendo porque ela te largou... – agressivo. Quis morder a língua, mas as palavras escapavam como se seu estômago não pudesse retê-las por estar cheio de uma raiva sutil, quase imperceptível.
- Não fale do que não entende... – Harry sibilou, tomado por uma cólera crescente – Você não sabe o que é ter dois filhos pequenos que não sabem porque a mãe foi embora e lidar com isso, não saber o que dizer... Não saber se é capaz de cria-los...
- Então resolve viver esperando que ela volte para te socorrer? Poupe-me dessa tolice! – sua voz se elevou, apenas um tom, mas o suficiente para que Harry estreitasse ainda mais os olhos, o verde de suas íris relampagueando de ira.
- Eu não espero nada dela! – Harry se levantou derrubando a cadeira – Apenas não quero que meus filhos cresçam como eu cresci! Não quero que odeiem Ginny, nem que me odeiem! Não quero pensar que nunca tive e nunca conseguirei ter uma família normal! – se afastou bruscamente, sentindo como o mundo começava a girar – E eu sinto... Oh Merlin... Como eu sinto falta dela... – essa última frase escapou estrangulada por sua garganta – Sinto falta dos beijos, dos abraços... Sinto falta do calor que ela possuía...
Fechou os olhos tentando se esquecer dessa falta... Desse vazio que sentia...
Então foi encostado contra a parede. Abriu os olhos tendo diante de si, ha poucos centímetros, a Malfoy.
Draco mantinha o olhar estreito e sabia que não mediu a força quando empurrou Potter contra a parede.
- Respira fundo... – sussurrou, sabendo que a culpa de ter descontrolado ao moreno era unicamente sua. O sentia tremer cambaleante – Potter...
- Afaste-se. De. Mim. – Harry voltou a sibilar, incomodado com a proximidade, com o corpo alto e forte que o limitava a ficar espremido contra a parede. E a tontura turvava sua visão o deixando ainda mais vulnerável – Afaste-se ou eu juro que te atacarei com um feitiço, mesmo não podendo usar magia...
O bule de porcelana se rompeu sobre a mesa, sinal de que o moreno estava saindo do controle.
Quando Draco estava pensando que não poderia controla-lo, Doutor Hermman entrou pela porta, sendo guiado por um assustado elfo doméstico.
- O imobilize pelas costas o mantendo preso com os braços cruzados frente o peito – foi sua ordem.
Harry mal teve tempo de processar a chegada do medimago, quando foi girado de frente à parede e teve os braços presos da forma mencionada.
- Malfoy! – gritou, tentando se livrar – Seu canalha! Isso é...
Remexeu-se como pôde, mas estava praticamente dominado. Forçou durante alguns minutos até que cansado, deixou o corpo descansar contra o corpo do loiro, ficando quieto e de respiração agitada.
Draco se moveu lentamente encostando contra a parede para ter apoio. Percebeu que nessa posição, era como se Potter abraçasse a si mesmo ao mesmo tempo em que ele o abraçava por trás. Seu peito ficava completamente em contato com as costas do moreno, assim como seu rosto próximo ao pescoço, onde os fios negros lhe tocavam a face timidamente.
Tinha certeza que se virasse o rosto para ele, seu nariz se embrenharia nessa manta rebelde e seus lábios o tocariam na nuca, pois ele era alto, quase da sua altura. Então resolveu virar o rosto para o lado oposto, se afastando o máximo que podia.
Doutor Hermman negou com a cabeça, vendo os dois. – Toda vez que ele se descontrolar, devido sua instabilidade emocional e mágica, faça isso – disse diretamente a Malfoy – Eu avisei que nessa fase eles ficam instáveis e depressivos, ainda mais quando não conseguem ter controle da própria magia e no caso de Harry principalmente, devido o elevado grau de poder que possui e do que já passou durante a adolescência. Sabemos que ele não controla a própria força...
... Nessa posição, vocês possuem um contato maior e ele se acalma com rapidez porque você o ínsita a isso. É como uma proteção e um comando, sua respiração ditando a respiração dele... Invariavelmente ele começará a acompanhar sua respiração e sucessivamente se relaxará... – fez uma pausa, agregando - Vocês podem usar esse método diariamente, para estabilizar a magia e se sentirem mais confortáveis um com o outro...
Draco fulminou o velho com a mirada. – Acho que não pedimos sua opinião quanto ao que devemos ou não fazer para nos aturarmos melhor.
- Não é uma opinião, é como uma prescrição medimágica. Esse contato ajudará o bebê a continuar crescendo e a estabilizar a magia no senhor Potter... É terapêutico – e sorriu hipocritamente feliz, na opinião de Draco.
- Afinal, porque veio aqui? – o loiro inquiriu tendo a necessidade de mudar de assunto.
- Um garoto me chamou através de um telefone muggle que se leva no bolso.
- Um celular? – elevou uma sobrancelha.
- Deve ser esse o nome – o velho deu de ombros, sem interesse – Eu ganhei esse troço muggle de um paciente e nem quase usava, mas dei o número para aqueles que tinham contato com os muggles caso houvesse alguma emergência e não tivessem meios mágicos para me contatar – olhou as horas em um antigo relógio de bolso - Bem, agora me vou – se despediu com um aceno antes de sair pela porta e deixando a Draco sem saber se continuava nessa posição ou se soltava a Potter.
- Hei! Velho! – chamou, frustrado.
Já no jardim, doutor Hermman ficou sério e pensativo. Harry era um paciente difícil... Não perguntou nada, mas tinha uma leve impressão que esse descontrole de há pouco foi por culpa de ambos, se cutucando até saírem fora de controle.
ooo
James colocou o celular do pai de volta no lugar sobre a cama e deixou o quarto fechando a porta com cuidado.
Caminhou pelo corredor até onde estavam Albus e Scorpius.
- E então? – perguntou baixinho, esticando o pescoço sobre a cabeça dos menores para poder ver pela escada.
Albus e Scorpius estavam sentados lado a lado no primeiro degrau e assistiam a cena com olhos enormes.
O de olhos verdes negou com a cabeça. – O papai está quietinho agora...
- Por que o meu pai está agarrado no seu pai? – Scorpius fez uma careta engraçada.
Albus apenas ergueu os ombros sem saber enquanto James sorriu marotamente respondendo. – Porque o papai está carente...
oOo
OoOoO
Continua...
OoOoO
oOo
Agradecimentos a: Condessa Oluha; Srta.Kinomoto; Minakashun; Fabrielle; St. Luana; tsuzuki yami; monique - olá! Obrigada pelo review e que bom que esteja gostando da fic. Demorei, mas esse chap deu 36 paginas no Word! Bjim; Nyx Malfoy; Pietra-Malfoy; Raw Potter - olá! Obrigada pelo review, bjim; SOPHIE BLACK30; Death.A.; Sy.P; Serena Malfoy - olá! Obrigada pelo comentário e desculpe essa demora toda, mas aqui estamos com mais um capítulo. Espero que se divirta, bjim; CarineCG; Setsune - olá! Obrigada por comentar! Desculpe não ter atendido seus pedidos, mas infelizmente ando sem inspiração e ânimo pra escrever. Espero que esse chap esteja à altura. Bjus; Princesa corvinal - olá! Obrigada pelo review e por sua opinião! Goste de saber o que os leitores estão achando e o que gostariam de ler para ir moldando melhor a trama. Bjo; Nanda W. Malfoy; Lilavate; Dani Malfoy - olá! Obrigada pelas palavras maravilhosas! Acho que nesse chap deu pra ter uma idéia de como o Draco vai lidar com a instabilidade do Harry hehehe, quanto às outras perguntas só com o caminhar da fic ou estraga o suspense. Obrigada mais uma vez por comentar! Bjim; Fabi - olá! Que bom que está gostando desse contato todo que eles serão submetidos por "força" maior hehehehe. Gostei de saber da sua opinião, achei que escrevia melhor Draco seme e Harry uke que o contrário. Espero que tenha se divertido com esse capítulo, bjks; Patty Potter e Dora Miller.
Obrigada a todos que comentaram e a todos que estão acompanhando mesmo com minha demora. Grande abraço!
