Ele acorda e olha ao redor. Seus instintos dizem que o lugar é perigoso. Não há

nada na sala além de uma mesa, cadeiras e um espelho. Percebeu que seria interrogado.

Um homem negro abre a porta. Vestido de terno e gravata, ele olha seriamente para o preso.

- Finalmente o conheci, Leon Scott Kennedy. Meu nome é William Brown.

- Isso é mais um plano dos discípulos do Saddler? – perguntou.

- Claro que não, nós sabemos que você acabou com ele. E não apenas isso, você desmantelou os Los Illuminados.

- Mas infelizmente nossas fontes descobriram que os fanáticos não foram totalmente extintos – disse uma mulher que estava entrando na sala.

Uma moça morena, de olhos azuis e com uma blusa vermelha e saia preta abriu uma pasta em cima da mesa. Na primeira página tinha uma foto. A casa de tijolinhos brancos e detalhes em azuis mostravam uma localidade de arquitetura antiga.

A mulher virou a página e a foto de uma floresta apareceu. Um corpo ao centro queimava enquanto várias pessoas ao redor faziam gestos.

- O que querem de mim, afinal? – Leon perguntou, irritado.

Eles simplesmente ignoraram a pergunta.

- Está quente aqui, não?

A moça puxou e segurou os cabelos nas mãos. Leon pensou que por um momento aquela mulher era familiar. Provavelmente estava vendo coisas devido a pancada na cabeça.

- Só queremos sua cooperação. Sabemos de tudo o que enfrentou em Raccoon City, e também o que vivenciou na Europa. Não há pessoa mais preparada que você para assumir esse caso – disse a moça calmamente.

- E se eu não quiser?

- Você não tem escolha Sr. Kennedy. Chame os guardas e levem-no daqui – ordenou Brown.

Leon foi carregado pelos guardas. Tudo o que ele tinha pensado estava errado. Em vez de celas, ele foi levado a um belo quarto.

- Sinta-se à vontade, Leon – a mulher de blusa vermelha disse sarcasticamente e assim fechou a porta e a trancou.

O quarto em si era simples, roupas limpas e passadas jaziam nos cabides. Leon se lembrou do banho relaxante que queria ter tomado em sua casa. Uma portinha o levou a um banheiro minúsculo. Não sabia por quê, mas não temia aquelas pessoas. Pensou isso porque de certa forma o rosto da mulher morena lhe trouxe boas lembranças.

" - Precisamos trocar esse curativo! – insistiu a garota.

- Eu já disse, estou bem melhor agora.

Depois de tanta insistência, Leon a deixou ver o ferimento.

- Sherry, me passe os panos que estão naquele canto – disse apontando.

A criança loirinha atendeu ao pedido e logo voltou com o solicitado.

- Descanse, Sherry. Tenho uma ótima enfermeira cuidando de mim agora.

Ela achou engraçado e riu. A moça que cuidava dele também riu. Ela seguiu a menininha até o banco no fundo do vagão, tirou o colete dela e o fez de travesseiro. Demorou segundos até que ela dormisse. Claire voltou-se para Leon.

- Pobre Sherry. Não tem mais família. Passou por tanta coisa e mesmo assim nunca perdeu a esperança.

Leon lembrou-se da mãe da menina:

- Ada... foi a Anette que...

- Isso não importa agora, Leon.

O rapaz sentiu certo ciúme na voz de Claire.

- O que importa é que saímos daquele inferno vivos. E pensar que meu irmão passou por tudo isso.

Claire abaixou a cabeça e parou de lutar contra seus sentimentos. Ela amava o irmão e se preocupava com ele. Uma lágrima correu o rosto dela. Leon a secou com seus dedos.

- Calma, tenho certeza que ele está bem.

Ela olhou para ele. Eles ficaram se olhando, Leon ainda estava com a mão no rosto dela.

O trem lentamente perdeu a velocidade."

Parecia um filme que ele assistia em sua mente. Desligou o chuveiro e perguntou-se o que tinha acontecido com a Claire e a Sherry. O vidro do box estava embaçado, mas ele conseguia ver que uma pessoa o observava. Ele amarrou a toalha na cintura e deslizou o vidro. Era a mulher de blusa vermelha.

- Pensei que já tinham invadido a minha privacidade o bastante.

A mulher estava com os olhos fixos nele, mas seu pensamento estava distante.

Ela virou-se e saiu. Estava quase chegando à porta que dava acesso ao exterior quando Leon a alcançou e puxou o braço dela.

- Me solte! – exigiu a moça.

- Cansei desses joguinhos. Quero saber o que vocês querem de mim, agora!

Ao dizer essas palavras, Leon reparou que sob a luz do quarto os cabelos da mulher, com os reflexos, ficaram aparentemente avermelhados.

- Claire? – perguntou, incrédulo.