Capítulo Oito - União

Foi despertada abruptamente por Rowena. O olhar da amiga era aflito. Não parava de gritar que o leão caíra e a serpente não conseguia ajudá-lo. Helga levantou-se num pulo. O que quer que estivesse acontecendo era grave. Nunca vira Rowena perder a calma.

Ambas jogaram vestidos de trabalho sobre o corpo e correram pelos cômodos da casa, rumavam para o quarto dos homens. Helga puxou a manta da porta de uma única vez. Alguns já haviam se levantado e estavam trabalhando no campo. Outros ainda dormiam, Helga pôde ver o vulto alto de Axel jogando o tartan azul sobre o corpo. Rowena agarrou-se em seu braço. Axel as olhava, aturdido.

– O que aconteceu, Rowena? Você está bem? Deveria voltar para a cama! Ainda não se recuperou...

– Axel, você precisa vir! Axel! Eles precisam de nossa ajuda! – Rowena puxava o noivo pelo braço.

Lançando um olhar indagador para Helga, ele seguia Rowena.

– Ela deve ter visto, Axel. Rowena vinha tendo sonhos, sonhos sobre dois bruxos que se aproximam das Terras Altas. Eles estão em apuros! – Helga tentou fazer com que o homem entendesse.

– Mas onde eles estão?

– Só ela pode saber...

– Tente se acalmar! – virando-se para a noiva, segurou-lhe os braços. – Ansiosa dessa forma não vai conseguir ajudá-los.

Rowena respirou uma, duas vezes. Helga pôde ver seus olhos avermelhados.

– Na Muralha de Antonino, rápido! Tem que ser logo, Axel. – deixando duas lágrimas correrem pela face, continuou. – É algo grande e poderoso...

Axel saiu em desabalada corrida gritando pelos homens e mulheres da casa.

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Helga havia procurado suas ervas de cura. Precisariam de toda ajuda possível, não sabiam do que se tratava exatamente. Rowena não conseguia passar a sensação do que presenciara.

No pátio à frente da casa dos Ravenclaw, havia um grupo de busca reunido e pronto para a partida. O velho Ravenclaw estava presente, mas quem gritava ordens era Axel. Viu seu, outrora pequeno, irmão Coinneach aproximar-se integrando o grupo. O tempo parecia ter passado absurdamente para ele, já despontavam pelos em seu rosto. Grupos foram formados e utensílios pela última vez conferidos. Rumaram para a saída do povoado, só poderiam aparatar do lado de fora.

O ar estava parado, nenhuma brisa trazia cheiros ou sons. Helga tremeu sob a sensação do mal-agouro. Coinneach olhou em sua direção e tentou tranqüilizá-la.

Aparataram sem demora para a Muralha. O grupo heterogêneo se destacou sobre a edificação. Por alguns segundo todos olharam ao redor, até que ouviram um rugido estrondoso. A fileira de bruxos e bruxas se desfez, alguns aparataram, outros levitaram e voaram até a origem do som.

– MacFusty! Rápido, este é para você! – Axel, sempre a frente do grupo, havia chegado ao local de onde viria o rugido. Aparatava rapidamente sobre as bordas de um pequeno vale, gritava ordens para todos.

Um homem de barba loira e cerrada avançou aparatando até a beirada do vale. Helga pôde ouvir sair de sua boca um poderoso grito:

Stunner – o brilho tomou conta da paisagem.

MacFusty e Axel lançaram-se à ravina. Helga levitou até o local sempre com sua bolsa de ervas. Rowena, que estava ao seu lado, num impulso aparatou, desaparecendo das vistas de Helga.

Mais e mais bruxos saltavam a fenda. Helga ouviu um grito agudo, preocupou-se com sua amiga e, de varinha em punho, lançou-se também pela parede da ravina. Foi quando viu: um enorme dragão negro balançando sua cauda perigosamente, acertando dois homens e um cavalo que se encontravam próximos ao leito do rio.

Em seguida, o animal medindo cerca de onze metros, virou-se na direção do grupo liderado por Axel. A besta era gigantesca e estava irada. Uma cascata de sangue jorrava de sua ferida aberta no flanco direito, porém não deveria ser nada para tão grande animal.

Um fio de fumaça escapou da mandíbula do dragão, em segundos ele lançou uma enorme flecha flamejante. Helga aparatou para a segurança de uma pedra suficientemente grande para esconder seu corpo. Pôde ver a rajada de fogo passar por sobre sua cabeça. A fera alcançava uma distância incrível com seu ataque.

Gritou feitiços como os outros. Viu quando uma mulher chamada Morven MacFusty voou na direção do leito do rio, arremessada pelo pesado rabo do animal. Helga passou os olhos pelo leito. Morven havia sumido dragada pelas águas. Rowena estava indo na direção dos dois homens que estavam inconscientes.

Helga correu pela beira tentando encontrar Morven. Viu um pedaço do tecido de suas roupas boiando mais a frente, apontou-lhe a varinha.

Wingardium Leviosa!

O corpo de Morven foi içado da água. Helga correu até ele e constatou que ainda respirava. Olhou na direção de Rowena e na do grupo. MacFusty e Camdyn, primo mais novo de Axel e Rowena, apontavam suas varinhas para o dragão. O animal parecia fazer um enorme esforço para se mover, porém não estava de todo paralisado. Uma nova linha de fumaça saiu de sua boca. Helga desesperou-se, mas ouviu um grito ao seu lado. Coinneach apontava sua varinha para a besta e invocava o Feitiço da Inconsciência.

Finalmente o dragão negro mostrou sinais de que iria tombar. Pendendo para o lado do rio, o animal bateu pesadamente sobre as águas do leito. Uma onda molhou Helga, seu irmão e Morven. Agarrada à mulher inconsciente, Helga manteve-a segura, para não ser levada pelo movimento das águas.

Deitou Morven sobre uma rocha lisa. Apontou-lhe a varinha e invocou o feitiço:

Enervate!

Morven piscou pesadamente os olhos e soltou um gemido. Deixando a garota sob os cuidados de Coinneach, Helga rumou de encontro a Rowena.

Os dois homens estavam em péssimo estado. Helga abriu sua bolsa de ervas e tirou os utensílios necessários para começar o preparo de poções. Rowena havia utilizado os feitiços que podia para diminuir os danos. O ruivo estava com um enorme corte na cabeça. A palidez de sua pele indicava que perdera já muito sangue.

Já o segundo homem havia voltado à consciência. Seus olhos verdes fitavam Helga de forma insistente. Não falava nada, talvez não tivesse forças. Os cabelos negros estavam desgrenhados e molhados. Helga deteve-se instantes a olhá-lo, e logo ele voltou a desmaiar.

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O ruivo, que soubera se chamar Godric Gryffindor, das charnecas de Cymru, passara semanas em estado de inconsciência. A pulsação do soldado de Cymru estava anormalmente acelerada e ele suava frio.

Helga dedicou todo seu tempo à cura dos dois forasteiros durante meses. Salazar Slytherin, o moreno nativo de Norfolk, havia se recuperado mais rapidamente e passava longas horas a conversar com Rowena e Helga.

Souberam que o dragão havia sido levado, inconsciente, pelos MacFusty de volta às Ilhas Hébridas, de onde era nativo.

Helga ouviu, horrorizada, sobre as atrocidades cometidas no litoral e do avanço viking. Ouviu como a família Slytherin, muito conhecida no mundo bruxo, havia sido dizimada, restando apenas Salazar. Num dos muitos delírios noturnos do enfermo, Helga soube de Seely, e então Salazar dividiu, com a nativa de Érin, seus sentimentos e seu desespero. O rapaz contou-lhe da chegada dos galeses e da partida com Godric. Contou-lhe de como, certa noite, estavam perdidos e Godric avistou uma bela águia planando até a Muralha de Antonino.

Após o despertar de Godric, Rowena contou aos dois sobre suas visões e de como foram encontrados. Passaram muito tempo discutindo e ganharam intimidade. Godric passeava, quando estava mais disposto, pelo povoado do Clã Ravenclaw e visitava o galpão. Helga podia ver o brilho de satisfação que tomava os olhos dos dois companheiros.

Conversaram por muito tempo, colocando suas idéias em ordem. A perseguição aos bruxos era cerrada. Como os Slytherin haviam provado, com sangue: nem os mais poderosos estavam seguros. O trabalho de Helga e Rowena havia seduzido Godric e Salazar. Assim, da união entre Godric Gryffindor, Helga Hufflepuff, Rowena Ravenclaw e Salazar Slytherin, nasceu a idéia de algo maior. Algo muito mais vasto e abrangente...