Parte 3 – Revelado.
O jovem Snape foi levado pela Diretora McGonagall, para a sala circular, acompanhada de Hermione, que ainda estava apreensiva, não por ter nocauteado o rapaz, mas por saber a identidade dele, se é que Minerva estava mesmo certa disso.
McGonagall colocou o rapaz suavemente numa poltrona de veludo carmesim, e, apenas como medida de precaução, conjurou cordas que se enrolaram, não muito firme, em torno do corpo de Snape, prendendo-o à poltrona. Sua cabeça pendeu molemente sobre o peito, mostrando que ele ainda estava desacordado.
Hermione, com voz chorosa, dirigiu-se a McGonagall, que foi sentar-se atrás de sua escrivaninha, aparentemente sem saber o que fazer ou como resolver esse problema.
—Professora? O que faremos com ele? Digo, se ele for mesmo o prof... ser ele for mesmo quem a senhora pensa que é?
McGonagall parecia muito cansada: —Em primeiro lugar, espero MUITO estar equivocada! Espero que o rapaz seja algum espião ou mero curioso, pois assim sei exatamente o que fazer... será apenas questão de entrar em contato com o Ministério e pedir a presença de aurores aqui.
Hermione olhava desconfiada para Minerva. Tanto ela quanto a professora sabiam, intimamente, que a primeira suspeita era a mais provável, embora parecesse tão improvável de absurda que era.
—Mas... se ele for mesmo um espião... é um espião um tanto quanto relapso, por ter deixado que eu tão facilmente o golpeasse. Ele me pareceu meio "distante", quieto demais para ser alguém que estava fazendo algo que sabia ser errado...
—Você está certa, Hermione, mas não devemos ficar gastando neurônios em especulações. Tudo que devemos fazer, por enquanto, é esperar que o jovem acorde, e poderemos perguntar quem ele é e o que faz aqui em Hogwarts.
—A senhora fará isso sozinha, professora? Digo.. não vai pedir a ajuda de mais ninguém, ou outro professor para nos dar assistência caso precisarmos? Talvez o professor Slughorn pudesse nos ajudar...
—Sei o que está pensando, Hermione, mas não quero envolver mais ninguém nisso até ter a certeza do que estou fazendo... pois se for mesmo Snape, terei de pensar em que farei a ele sem levantar esse escândalo que seria.
—Mas.. se for mesmo Snape, o que a senhora achar que ele fez?
—Ele não a reconheceu, não foi?
—Foi o que me pareceu...
—Então... se for mesmo Snape, ele fez uma viagem no tempo, uma longa viagem...
Os jovens Igor Karkaroff e Lucius Malfoy estavam tão exaustos – e um pouco embriagados também – que sequer perceberam que TALVEZ o dormitório e as camas que pensassem que fossem as suas, não o fossem, de fato.
Mas isso era uma questão que TALVEZ eles fosse resolver no dia seguinte, quando acordasse com a mente limpinha e brilhante e, finalmente, percebessem que havia viajado no tempo através da magia louca provocada pelo amigo Severus Snape.
Por ora, Igor se jogou emborcado sobre a cama fofa, afundando a cara no travesseiro e, meio segundo após, ressonava profundamente. Lucius, que tinha mais desenvolvido o hábito de raciocinar, ainda ruminava os fatos ocorridos a pouco menos de meia hora e, raciocinou por uns cinco minutos até ser também engolfado pelo sono.
Quentinhos, tranqüilos e confortáveis, os dois sonserinos teriam uma ótima noite de sono, embora TALVEZ lhes fosse a última noite tranqüila durante muito tempo.
Na sala circular da Diretora, nem Minerva e nem Hermione conseguiam relaxar e ambas estavam completamente em alerta quando viram que o jovem Snape começava a se mexer na poltrona e, lentamente, despertava.
McGonagall saiu de trás de sua escrivaninha e pôs-se ao lado de Hermione, que estava de frente para Snape, mas numa distância de três metros ou mais, e as duas ficaram meio que escondidas na penumbra da sala.
Snape, zonzo pelo efeito do feitiço, levantou sua cabeça – que latejava na têmpora! – e olhou para os lados letargicamente, só percebendo, um tempo depois, que estava amarrado numa poltrona. A corda não estava apertando muito seus braços, mas sentia suas extremidades comicharem, indicando que suas mãos estavam dormentes devido a insuficiência sangüínea no local. E, quando percebeu isso, sua mente entrou em alerta, e então percebeu as duas pessoas que estavam paradas diante dele, há alguns metros à frente.
—Que brincadeira é essa?! – Gritou, irritado. —Quem foi que me atacou pelas costas?! Me desamarre, droga!
Minerva McGonagall saiu completamente da penumbra, com a varinha em mãos, mas abaixada, e avançou uns passos até o jovem, e Snape se calou de imediato, o rosto lívido, estupefato.
—Pro-professora McGonagall... por que? Por que estou amarrado? O que aconteceu, afinal?
A Diretora ficou impassível, apenas observando atentamente ao rapaz. De fato, era o mesmo rosto e o mesmo trejeito de Severus Snape em seus tenros dezessete anos. Mas faria um jogo diferente, afinal, tinha que descobrir quem ele era DE FATO e como conseguiu estar ali – se é que era mesmo um Snape vindo do passado.
—O senhor foi encontrado andando fora de hora pelo castelo e a Monitora-chefe foi obrigada a contê-lo, pois não obedeceu quando ela lhe passou uma ordem para se identificar.
Snape riu.
—E desde quando um aluno é estuporado pelas costas e amarrado SÓ porque não obedeceu uma ordem de um monitor?! Ou eu estou muito bêbado pelo excesso de cerveja amanteigada ou a senhora está brincando comigo, Minerva McGonagall.
Minerva estreitou os olhos, aproximando-se mais um pouco do rapaz. Agora a luz vinda das velas do candelabro próximo iluminavam perfeitamente o rosto da Diretora.
O riso de Snape se esvaeceu até desaparecer completamente, deixando-o apenas boquiaberto. Com melhor claridade e menos tensão, o rapaz pôde reparar bem na pessoa a sua frente. Certamente tratava-se da professora de Transfiguração e diretora da Grifinória, Minerva McGonagall, mas uma Minerva envelhecida em uns vinte anos, ao menos! Havia rugas em seu rosto e seus cabelos tinham largas mechas de puros fios brancos.
Hermione aproximou-se, confiante em McGonagall, e Snape voltou sua atenção à moça alta que parara ao lado da professora. Usava o uniforme de inverno da Grifinória e sustentava na capa o distintivo de Monitor-chefe. Elevou seus olhos até o rosto da garota e viu que não tinha nada de Lílian Evans, como pensou que fosse, antes de ser nocauteado. A moça tinha o rosto muito delicado, longos cabelos encacheados que desciam pelos ombros, numa coloração que ia do castanho ao loiro, e os olhos eram profundos, talvez negros, não dava para ver com nitidez com aquela luz precária. Mas, com certeza, a garota era muito bonita e, também tinha certeza, ele a teria percebido se houvesse a visto uma única vez que fosse...
E então, Snape teve a certeza de que... seu feitiço funcionara!
E abriu novamente um largo sorriso, deixando escapar uma risada de contentamento. Minerva e Hermione se entreolharam, pois isso era algo inédito e incrível: ver Snape sorrindo com sinceridade e alegria.
McGonagall fez a cara mais séria que conseguiu, e encarou o rapaz com severidade:
—Diga quem é e o que está fazendo em Hogwarts. Sabemos que não é um aluno daqui...
Snape continuou sorrindo, até um pensamento perpassar por sua cabeça: quantos anos ele atravessou no tempo? A McGonagall a sua frente estava muito envelhecida e certamente não avançou no tempo em alguns meses e ainda menos em alguns dias. Quantos anos, afinal? Dez, quinze, vinte anos à frente?!
E seu sorriso de desmanchou por completo. Pelo visto, McGonagall não o reconhecia, e a garota não o conhecia e nem ele a ela; e ele não era mais um aluno de Hogwarts e as duas sabiam disso... então ele estaria encrencado! O que deveria fazer? Contar a verdade absoluta ou inventar algo?
Inventar algo, àquela hora, depois de uma péssima noite de Natal, com a cabeça cheia de problemas e o sangue cheio de cerveja, e, ainda por cima, depois de ser estuporado, não parecia uma idéia sensata...
Minerva o pressionou: —Diga quem é e o que faz aqui, agora! – E apontou a varinha pro rapaz, que piscou na ponta e iluminou o rosto pálido, agora mais lívido.
Snape gaguejou. Contando a verdade, poderia matar a velha do coração, mas se contasse uma mentira, ele é quem entraria pelo cano, cedo ou tarde: —S-sou eu, professora! Severus Snape! Não se lembra de mim?
—E o que faz aqui, Severus Snape? – Minerva fingiu que não se abalou nem um pouco com o nome do rapaz. Hermione virou-se surpresa pra professora e o próprio Snape a olhava aturdido.
—Estava... só... passando... – O que ele lhe diria afinal? "—Oi, professora! Sou eu, Snape, da Sonserina, e vim do passando, dar uma voltinha no futuro porque estava muito entediado por lá!"
—Só passando, é isso?
Snape não conseguiu responder, apenas deu de ombros.
McGonagall virou-se para Hermione, tão abruptamente que a garota se assustou:
—Hermione! Prepare uma coruja, a mais veloz que tivermos, e vamos enviar uma mensagem urgente ao Ministério da Magia! Temos que delatar um intruso dentro do recinto de Hogwarts. E chame também os outros monitores e os guardas que fazem a ronda nos jardins da escola.
Snape ficou apavorado!
—O o o que vocês vão fazer?! P-por que chamar os aurores?! Eu não fiz nada de mau e nem pretendo! Por favor! Deixe-me falar com o Diretor! Dumbledore vai compreender!
Hermione olhou com piedade pro rapaz e voltou-se rápido pra McGonagall, esperando outra instrução ou ver qual posição ela tomaria.
A Diretora suspirou cansada e se aproximou só mais um pouco de Snape, arqueando o corpo para ficar quase a mesma altura dos olhos dele. O rapaz estava nervoso e aparentemente com medo.
—Então, me diga, Severus Snape... de onde você vem? Eu sei que não é aluno daqui...
—MAS SOU! Por favor, professora! Deixe-me falar com Dumbledore!
Hermione interveio: —Não pode! Não há como fazer isso!
Minerva olhou zangada para a garota e Hermione se calou de imediato, levando as mãos à boca. A Diretora se pôs novamente ereta e encarou ainda mais seriamente o rapaz amendrontado.
—Se o senhor fosse mesmo um aluno de Hogwarts, Severus Snape, saberia que eu, Minerva McGonagall sou a diretora da escola... e lamento lhe informar que Alvo não poderá fazer nada pelo senhor... ele morreu há mais de um ano...
Snape recebeu a noticia com um enorme choque e deixou a cabeça pender sobre o pescoço, olhando em desespero o chão de madeira escura. Sentiu seus olhos se marejarem, mas não permitiu chorar. Viajar ao futuro foi mesmo uma péssima idéia!
—Professora... – Chamou Hermione. —Ainda mando chamar os aurores?
—Não, se... – Minerva fez suspense, chamando a atenção de Snape. —...o rapaz concordar em nos contar como chegou até aqui...
Snape levantou a cabeça, concordando: —Está bem, professora... conto tudo que a senhora quiser... mas, eu JURO, que não vim pra cá com nenhuma má intenção! Eu.. eu sequer acreditei que isso fosse mesmo acontecer!
Minerva ficou quieta, olhando fixamente o rapaz, e ponderando. Levantou o braço da varinha, apontando para ele, que olhou aquilo com desespero. A Diretora murmurou algo e as cordas que prendiam Snape à poltrona, se desmancharam numa nuvem de fumaça. Assim que o rapaz se viu liberto, esfregou energeticamente os braços para ajudar a retornar a circulação normal do sangue para os membros.
E Minerva mostrou algo a ele: —A sua varinha está comigo, jovem Severus... não preciso lhe dizer não deve tentar nenhum truque ou gracinha, não é mesmo?
—Sim, senhora...
E o jovem Snape, mesmo receoso, pôs-se a contar sua historia para McGonagall. Hermione prestava atenção nele, mas em ambas havia um ar estranho...
No ano anterior, o Severus Snape daquela época tinha matado Alvo Dumbledore. E diante delas estava a versão jovem do assassino, apenas um rapaz melancólico e assustado. O que elas deveriam fazer com o rapaz?!
A narrativa do jovem Snape se estendeu por quase meia hora. Cansado, recostou-se na poltrona, ao menos aliviado de expurgar aquilo dele. McGonagall estava pensativa e foi pra trás da sua escrivaninha, talvez para pensar melhor. Hermione olhava apreensiva para o rapaz, que estava de olhos fechados, mostrando exaustão.
—E... como você voltará ao seu tempo, Sev... Snape?
O rapaz abriu os olhos novamente, encontrando a garota lhe observando atentamente e com uma ruga de preocupação. Sentiu um choque gelado no peito, mas não deu muita importância.
—Eu suponho que... fazendo o mesmo procedimento do feitiço...
—Não me parece que você teve muito controle sobre esse feitiço... você, ao menos veio para a época que queria?
Snape ficou pensativo e sentiu uma pontada no seu orgulho. De má vontade, procurou mais informações com a garota.
—Em... que data.. estamos?
—25 de dezembro de 1998...
—O QUÊ?! 1998??
Hermione se sobressaltou com o grito do rapaz e até mesmo Minerva se assustou, perdendo sua concentração. Snape levantou-se com violência e pôs-se a andar pela sala circular. Hermione, assustada, levantou-se também depressa, pondo em posição de ataque a varinha que não havia deixado de segurar por dentro da capa. O rapaz sequer percebeu, tão centrado estava em seus pensamentos, mas a garota lhe apontava baixo a varinha. A Diretora levantou-se de sua cadeira, também preparada com sua varinha.
Depois de parar e virar-se novamente para Hermione, Snape sentiu uma grande decepção de vê-la com a varinha em punho, na direção dele. Por que elas tinham tanto medo dele, assim?
—Eu não entendo... por que está em posição de ataque contra mim? Eu lhes disse que não vim aqui pra fazer nenhum mal...
—Eeh, bem... oras! Você deve compreender muito bem que tudo isso é muito estranho! E se um bruxo é capaz de viajar vinte anos no tempo, é capaz de muitas outras coisas! – Defendeu-se Hermione, sem-graça.
Snape sorriu com sarcasmos, lembrando demais o Snape de agora, e abriu os braços: —Pode até ser, e como eu o faria.. ah, Monitora-chefe Hermione? A professora Minerva está com minha varinha, se esqueceu?
—Não, não senhor, não esqueci! E também não me esqueci que deve sempre manter a desconfiança! Confiança cega pode levar pessoas à morte, sabe?!
McGonagall repreendeu Hermione, chamando-a para um canto. O rapaz ficou novamente aturdido, não achou que fosse necessário tantas defensivas contra ele, afinal ele não tinha feito absolutamente nada além de estar no lugar errado e na hora errada... ou melhor, na época errada também.
—Hermione! – Murmurou McGonagall para a garota. —Procure não confundir as coisas! Quem está aqui conosco é um rapaz inocente, e não o próprio Severus Snape, compreende?
—Não acredito que a senhora confie nele, professora! – Hermione protestou.
—Não é uma questão de confiança, é uma questão de bom senso. O rapaz falou a verdade e saiba que isso não é algo impossível de acontecer. E até descobrirmos uma forma correta de envia-lo de volta ao seu tempo real, ele terá que ficar conosco, sob nossa vigilância, é claro!
—Mas, professora?!
McGonagall deixou Hermione e foi até Snape, que esperava não muito tranqüilamente.
—Você deve estar muito cansado. Irei providenciar um quarto isolado para você ficar e pela manhã pensaremos melhor o que fazer com seu caso.
—Professora, eu... eu agradeço muito – Snape ficou muito surpreso com a atitude de McGonagall, e quase feliz por isso. —Achei que a senhora iria mesmo chamar os aurores!
—A possibilidade não está descartada, senhor Snape! E não pense que ficará em Hogwarts como fosse uma visita. Eu cuidarei de toda a segurança, segurança para o senhor e para nós também.
McGonagall, com um aceno de sua varinha, fez a porta de sua sala se destrancar e abrir, e indicou a Snape que seguisse a sua frente. Antes de ir, o rapaz deu uma última olhada para Hermione, mas nada disse, nem seu expressão poderia dizer muito. Hermione sustentou com determinação o olhar, deixando claro que estava aborrecida e que não era para Snape achar que ficaria numa boa ali. O rapaz fez o que a professora lhe ordenou e saiu a sua frente, sempre com Minerva as suas costas, numa certa distancia que não permitiria que ele se virasse e a atacasse de surpresa, e com a varinha da Diretora apontando sempre pras suas costas, a ponta da varinha já pronta, e acesa.
Hermione ficou um tempo apenas observando os dois se afastarem. Mil coisas ia em sua cabeça, mas, a única coisa que tinha certeza era que Snape não era confiável nem com vinte anos a menos. Pensava também como Harry e Rony reagiriam quando soubessem disso, e, certamente, eles saberiam, pois quantos mais estivessem em alerta contra o jovem Snape, melhor para todos e para Hogwarts.
Fim da 3ª parte. Continua...
By Snake Eye's - 2008.
N/A: Por mais incrível que pareça, um episódio de Futurible saiu!
Não sei o que está acontecendo, mas parece que minha inspiração e minha disposição de quatro anos atrás estão voltando! Então vamos aproveitar!!
Reviews, please!
E obrigado para quem leu e comentou! OBRIGADO, principalmente, PELA ENORME PACIÊNCIA!!
Abraços!
