Parte 5 – Malfoy Encrencado.
A revelação não poderia ser pior – ou mais surpreendente. Igor Karkaroff? O Comensal da Morte que traiu os companheiros a fim de livrar a própria cara após a primeira queda de Voldemort e anos depois tornou-se o diretor do Instituto Durmstrang, comandando a escola com mãos de ferro e enfatizando as Artes das Trevas! E, o que era lamentavelmente terrível...

O garoto a sua frente seria uma das primeiras vítimas da vingança de Voldemort, depois de seu retorno, há quase três anos.

Toda a raiva que sentia havia se desmantelado frente a essa pequena revelação. Hermione afrouxou toda a sua pose autoritária. Antes de sentir qualquer rancor, sentiria compaixão pela pessoa a sua frente, alguém a quem chegou a conhecer, até a trocar palavras, que jamais fez algo contra ela ou qualquer um de seus amigos. Embora fosse alguém com o passado ligado à segregação racial, sequer a destratou por ela ser uma nascida trouxa, mesmo quando ela foi o centro da atenção de Victor Krum – que era o queridinho do Diretor Karkaroff.

A Igor não passou despercebido a surpresa seguida de melancolia que a garota demonstrou, o que contribuiu para aumentar sua aflição e receio. Ele levantou e a encarou firmemente nos olhos.

O que você sabe a meu respeito?! Por que você perdeu sua pose ao ouvir meu nome?

Hermione se desconcertou; simplesmente esqueceu que estava na presença de outra pessoa e a mesma pessoa que era o objeto principal de suas divagações. A garota se afastou lentamente, meneando a cabeça, tentando consertar sua vacilada.

N-não... não foi nada disso. É que... acho que não esperava... eu não sei...

Eu posso ter muitos defeitos, mas lhe asseguro que a burrice não é um deles. Você ficou chocada quando ouviu meu nome, isso quer dizer que ele significa algo para você. Não espere que eu tire isso de você à força e me diga qual é a importância do meu nome!

A raiva que havia cedido retornou. Como é possível que uma única pessoa pudesse despertar sentimentos tão contraditórios em questões de segundos?! Hermione fechou as mãos em punho com força, amarrando a cara. Se estivesse com sua varinha, com certeza azararia esse moleque impertinente! Mas não tinha sua varinha, estava desarmada. Afastou-se um pouco mais do rapaz, que estava próximo demais do suportável. Deveria jogar com a sinceridade, mas sem contar os fatos concretos; não podia despertar a inimizade dele, principalmente porque estava trancada e indefesa ali, junto a ele!

Eu o conheço.. ou o conheci, há três anos, durante o primeiro Torneio Tribruxo depois de um século sem ser realizado! Ora! Você deve concordar que é chocante se deparar com a versão infantil de alguém que você conheceu já velho!

Sem saber o que deveria sentir com isso (orgulho, vaidade, raiva ou humilhação), Igor levou as mãos à cintura, olhando a garota sarcasticamente, mudo por algum tempo, somente alimentando a expectativa dela quanto a saber se ele aceitaria aquela resposta vaga. Sorriu por fim, sem responder nada a ela, e levou a mão ao bolso traseiro da calça, puxando a varinha e a alcançando à Hermione, que se assustou e se afastou mais um pouco, batendo dolorosamente contra uma carteira.

Ele sorriu mais abertamente, mostrando que se divertia com a situação: — Não tenha medo, Monitora-chefe, é a sua própria varinha... estou devolvendo ela a você.

Hermione franziu o sobrecenho, estranhando a atitude amistosa do rapaz. Apesar do nome e de algumas poucas linhas de sua feição que fazia lembrar vagamente do inescrupuloso Igor Karkaroff, esse garoto, a sua versão jovem, era quase totalmente diferente daquele que se tornaria Diretor da escola russa de Magia. E, pensando bem, o jovem Severus Snape também se diferenciava muito desse Snape traiçoeiro de agora...

O que Voldemort fez à vida desses meninos para que eles se tornassem o que se tornaram?!

Será que o mesmo ocorrera com Lucius Malfoy?

Vamos, menina! Não espere que eu fique aqui o dia todo como porta-varinhas, não é?

A garota bufou e fechou a mão em torno do punho da varinha, que era a sua própria. Não estaria mais indefesa, mas ainda estaria na companhia desse estranho que ela não conseguia encontrar muitas semelhanças com aquele Karkaroff de que tinha conhecimentos.

E vai destrancar a porta também, vai me deixar sair?

Não gosta da minha companhia, Srta... ah... qual o seu nome, afinal? Não está sendo muito vantajoso para meu lado, você saber quem eu sou – ou quem eu serei – e eu sequer sei seu sobrenome! Eu lhe entreguei sua varinha, poderia me retribuir com seu nome, não?

Hermione quase sorriria com ele, mas ela já havia sido adestrada por demais pela Ordem da Fênix para dar uma de mocinha tolinha, então respondeu secamente, para dar a entender que o fato de ela conhecer a versão "atual" do garoto não queria dizer que eles eram íntimos em nenhuma circunstância:

Você saber meu nome não resolve em nada o seu grande problema. O que precisamos fazer é sair daqui e ir até Minerva McGonagall, para ela ver o que poderá fazer por vocês!

Ah, entendi... você é esperta! Não vai me dar nenhuma informação sobre essa época para que eu não use isso como uma vantagem quando eu voltar para o meu próprio tempo... e isso inclui o seu nome?

Se chegou a essa conclusão, é mais esperto do que eu, Igor Karkaroff, mas isso é sabido, logo não é surpreendente! Vamos procurar McGonagall para resolver esse problema de uma vez! Você por acaso não conhece as regras das viagens no tempo? Pode ser muito desastroso para você mesmo!

Igor se aproximou de Hermione, ficando, praticamente, cara a cara com a garota que se retraiu, mantendo o semblante bravio.

Eu acredito que esteja sendo desastroso para mim, Senhorita... – Igor apontou a varinha para a porta, às suas costas, e um estampido anunciou que esta havia sido destrancada. O garoto tornou a guardar a varinha no cós traseiro da calça, dando um passo ao lado e, com sarcasmo, indicando a saída à Hermione.


Harry e Rony se deixaram cair sobre as poltronas de frente à lareira da Sala Comunal da Grifinória, "exaustos" por procurar por Hermione sem encontrá-la. Rony, pra variar, estava extremamente aborrecido e não fazia o mínimo esforço para ocultar isso ou deixar o ambiente um pouco melhor, aliviando para o amigo que ele achava que tinha a obrigação de aturar seu mau - humor.

Aquela... infantil.. mimada!Bufou Rony, se encolhendo raivoso na poltrona.

Harry abriu a boca, sorrindo com cinismo e olhando enviesado para o amigo: Aaah! Bem que eu havia desconfiado! Então é isso: vocês brigaram de novo?

Rony dirigiu o olhar mais horrível que conseguiu produzir para Harry, que só o fez sorrir com mais cinismo: Nós NÃO brigamos! Apenas não nos entendemos novamente! Hermione gosta muito de fazer doce, uma dondoca! Não vê? Basta ela ser contrariada um pouquinho que some e desaparece!

Vindo de você, eu não acredito, Rony! Com certeza você andou pressionando ela novamente e ela se encheu e resolveu dar um tempo longe de você!

Eu? Pressionando?! Quer dizer que agora exigir os meus direitos é o mesmo que pressionar?! Achei que fosse meu melhor amigo, Harry!

Harry se levantou estupefato, olhava para o amigo como se ele fosse um ser de outro mundo – o que era, de fato :P

Você consegue ter plena consciência do que diz, Rony? Você chama de exigir direitos a pressão que faz pra garota transar com você?!

E não é? – Rony respondeu a mesma altura, saltando da poltrona.

Harry ficou ainda mais embasbacado: Então você acha mesmo que uma garota tem a OBRIGAÇÃO de transar com o cara só porque são namorados?!

Seja por falta de coragem ou convicção ou porque não queria discutir com o amigo, Rony ficou mudo e com a expressão ainda mais raivosa de antes. Harry mais nada disse, por estar estupefato demais ao encarar essa face extremamente machista do amigo. Sabia e sempre soube que Rony era um cabeça dura, mas deparar-se com esse lado troglodita dele era quase inverossímil. Vendo que Rony se fechou para ele e que não diria mais nada, confirmando que o que Harry lhe dizia era verdade, o moreno, ainda embasbacado, meneia a cabeça, não querendo acreditar nisso, e sai do Salão Comunal para espairecer pelos corredores frios do castelo.

No caminho para a Biblioteca – pois tentaria novamente o mesmo bat-local para ver se encontrava Hermione – Harry se depara com Gina, que vinha de algum outro ponto qualquer do castelo. Ela parecia apreensiva e seus olhos castanhos cintilavam por alguma aflição quando ela parou e encarou ao namorado.

Aconteceu alguma coisa, Gin?

A ruivinha se demorou na resposta. A Harry, a impressão que tinha era de que ela cairia no choro a qualquer instante – o que não era nada típico da caçula Weasley.

Não sei, mas não gosto dessa sensação que estou sentindo... estou preocupa com a Mione! Era para termos nos encontrado na Biblioteca há uma hora e ela não veio e não a encontro em nenhum dos seus lugares habituais! Harry... o que será que houve entre ela e meu irmão?!

Harry engoliu a seco. Por mais trasgo que Rony fosse, não acredita que ele chegasse ao nível baixo da violência. O garoto gaguejou em sua resposta:

E-eles brigaram, tenho certeza! Mas, Gin! Seu irmão não seria capaz de fazer mal a uma mosca, quanto mais à Hermione!

HARRY! Você é maluco!? – Gina explodiu, indignada. Meu irmão é um imbecil, mas tem ótima índole! É claro que ele não deve ter feito mal à Mione! Exceto.. é claro...

O quê?! – Harry sempre ficava nervoso com as explosões de Gina, que lembravam muito as explosões da própria mãe Weasley, coisa que fazia as explosões do Tio Walter parecerem pirracinhas.

... ele não deve ter feito nenhum mal a ela alem de ter-lhe ferido o ego, com certeza! Eu sei dessa estória do meu irmão de ta forçando a barra com ela! Aquele trasgo da montanha!

Ah, bom, isso sim! E Hermione tem um enorme ego... não é dificil mirar, acertar e ferir com gravidade.

Gina riu, quebrando a tensão do momento. Por osmose, Harry acabou rindo das próprias bobagens e os dois se abraçaram e saíram juntos para mais uma tentativa de encontrar Hermione escondida em algum canto do castelo.


Lucius Malfoy despertou como alguém que teve uma ótima noite de sono, lavou-se e, quando foi buscar por vestes novas, deparou-se com um fato estranho:

Meu malão! Onde diabos está aquela coisa?!

O rapaz de cabelos longos e loiros olhou desconfiado por todo o dormitório, porém, a única coisa estranha que percebeu no lugar foi a ausência de seu malão, aliás, a ausência de todo e qualquer malão! Era para haverem três malões: o seu, de Igor e de Sevvie, mas não havia nenhum ali.

Decerto, algum estúpido elfo doméstico os tirou dali para alguma limpeza detalhada, embora jamais tivessem feito isso, ou... Novamente o garoto passou em revista todo o dormitório, olhando perscrutador cada canto e cada detalhe. Parecia por demais o seu próprio dormitório, mas todos eram iguais, todos com cinco camas de dossel com cortinas de veludo verde ornamentadas com motivos fitomórficos em fios de prata; todas as colchas de veludo das camas eram verdes e ostentavam o brasão da Sonserina; todos os pisos eram em tábua corrida de mogno; a iluminação era levemente esverdeada por conta da luz que era filtrada pelos vitrais das estreitas janelas no alto das paredes; e todos tinham um luxuoso lustre de prata e cristais, adornado com forma ofídicas.

Não havia nada a estranhar. Talvez, pelo excesso de álcool no sangue da noite anterior e o caso do Snape estupefato e pego por McGongall, tenham feito eles irem para o lugar errado.

Nada mais para se alardear, Lucius deu de ombros, lamentando apenas não poder, no momento, trocar suas roupas por roupas melhor apresentáveis. Pela hora, não cogitava em fazer isso e iria para o Salão Principal, pois que já era quase a hora do almoço.


A decoração de Natal havia sido retirada, ficando apenas as doze árvores com suas fadinhas a iluminá-las. As quatro mesas longas pertencentes às quatro Casas de Hogwarts estavam novamente dispostas em seus devidos lugares e com suas arrumações típicas. Lucius entrou no Salão, sendo o primeiro a chegar. Achou muito melhor assim, pois seria estragar o seu dia se desse de cara com aquele quarteto simplório da Grifinória. Cogitou por instantes onde Sevvie e Igor poderiam estar, mas a respostas lhe veio instantaneamente: na biblioteca, com as caras enfiadas em algum livro empoeirado. Deu de ombros, afinal, tinha que ser compreensivo com os amigos, pois não tinham a mesma sorte que ele, então tinham mais é que se matarem de estudar para chegarem a ser qualquer coisa um mínimo louvável.

Sentou-se em seu lugar habitual e, como de mania, inclinou-se contra a cadeira, fazendo-a cambalear sobre as duas pernas traseiras. Ainda estava exausto da noite anterior e pensava seriamente em voltar para sua cama logo após o almoço. Quando abriu os olhos, deparou-se com algo estranho àquele salão: o teto encantado.

Por que aquilo despertou tanto interesse em Lucius, ele próprio não saberia dizer, mas chamou sua atenção de forma que ele se endireitou na cadeira e olhou seriamente para o teto abobadado, de pedras cinzentas encaixadas em arcos. Nos trezentos e sessenta e cinco dias do ano, nas vinte quatro horas de cada dia, aquele teto permanecia encantado, dando a impressão de que não havia um teto, mas o céu aberto, com direito a chuva e relâmpagos se assim estivesse o tempo lá fora.

Isso é.. muito estranho! Estou aqui há sete anos e é a primeira vez que vejo o verdadeiro teto do salão... dizem que o encanto é de Dumbledore e...

O garoto se emudeceu, ficando muito mais sério e até preocupado, levantando-se e olhando mais atentamente todos os detalhes do Salão Principal.

O que terá feito Dumbledore desfazer o feitiço? Qual motivo forte o suficiente para fazê-lo se preocupar em desfazer algo insignificante como isso?

Passos e vozes conversantes se aproximavam, desviando a atenção de Lucius para a entrada do Salão. Sentiu seu coração se comprimir por uma inexplicável expectativa e receio e, instintivamente, o rapaz leva a mão à varinha guardada no bolso interno de sua jaqueta.

Gina Weasley e Harry Potter entram no Salão, conversando de forma séria, quase como se discutissem. Os dois pararam ao perceberem um vulto estranho à mesa da Sonserina: não havia sonserinos na escola, todos foram passar as férias de Natal com suas famílias.

Os dois sentiram o ventre gelar quando focalizaram a figura pálida e esguia de Lucius Malfoy. Harry, imediatamente, sacou a própria varinha e partiu para cima do loiro.

Pouco diferenciava o jovem Lucius de seu futuro filho Draco: ele era alguns centímetros mais alto e seus cabelos eram longos, caindo abaixo dos ombros. Mas Harry, cego em sua fúria repentina, não percebeu esses detalhes, ele só enxergava a fisionomia de Draco.

Draco, que havia planejado durante todo o ano anterior o assalto à Hogwarts, e, com isso, foi o culpado pelo assassinato de Dumbledore por Snape! Harry queria vingança, queria apagar aquela dor da impotência pela morte do Diretor e se Draco não tivesse causado todos aqueles problemas, ter enfrentado um Dumbledore enfraquecido e o desarmado, Snape jamais teria a capacidade de tirar a vida daquele homem!

EXPELLIARMUS!!

Lucius conjurou um feitiço de proteção bem a tempo de não ser atingido pelos filetes vermelhos de Harry. O sonserino aproveitou a proteção do feitiço e pulou por cima da mesa, ficando livre para contra-atacar ou fugir. Harry preparava um novo ataque quando o grito de Gina encheu seus ouvidos, desanuviando-lhe um pouco da sua ira:

HARRY, NÃO! NÃO É O MALFOY! NÃO É DRACO!


Continua...

Snake Eye's – Dezembro de 2008.


N/A: Obrigado pelos reviews!