Então, amanhã será o casamento de Natássia e Milo.

Juro que não me importei muito, pois já estou acostumado a ser o garoto gordinho de outrora e Milo o sempre sociável e elegante garotão de faculdade.

Convidei Hyoga para almoçar e vir morar comigo há uma semana. Ele não tocou no macarrão nem aceitou o convite, pensei em dar-lhe umas boas palmadas, mas do jeito que o rapaz espichou é capaz de me dar ele uma surra.

Na cabeça aborrecente de minha prole a culpa de tudo que deu errado em sua vida é culpa única, total e exclusivamente minha, isso inclui o casamento de sua mãe, sua mudança para a capital, sua pele oleosa e propensa a espinhas.

Que fique suficientemente claro que eu torço pela felicidade de minha ex, do mesmo modo que torço para a do meu filho, o fato dela ter se recuperado tão bem do divorcio, até mesmo antes de mim, me assusta um pouco. Ainda tenho que levar minhas meias e cuecas para minha mãe aos fins de semana, mas juro que vou comprar uma Brastemp em breve.

No fundo, acho que preciso fazer sexo e de uma namorada... onde será que eu posso encontrar essa mulher ideal?

*

A resposta para a dúvida de Camus chegou naquela manhã de 5ª feira, às sete e meia da manhã, em um limosine preto.

"Julia Roberts?!".

"O que? A mulher é rica, é bonita, é sexy e casada..." - disse seu amigo Mu já estendendo um Dry Martini para o colega no bar perto do trabalho naquela noite.

"Ela é meio impossivel" - disse tomando um gole - "Tanto quanto Natássia!".

"Não... sua ex é mais impossível" - também virou seu drinque - "Afinal, ela está com, como Milo era chamado na faculdade?, o homem das mãos mágicas...".

"Obrigado por me lembrar"- retribuiu tirando dez euros e colocando em cima do balcão - "Acho que vou para casa".

"Porque? Não comeu ninguém, Camus".

"Eu não vim para comer alguém, eu vim desabafar".

"Vai ficar enferrujado, cara" - disse brincalhão - "Mas, ande lá. E melhore essa cara".

Camus já se levantara quando sentiu o peso de um corpo bater contra o seu.

"SEU MERDA! QUEM VOCÊ PENSA QUE É? HEIN?"

"CALA A BOCA, VADIA".

"VEM CALAR, BABACA!" - disse debruçando-se sobre Camus - "AFINAL, ESTOU ACOMPANHADA AGORA".

Camus piscou, porque afinal essas desgraças só aconteciam com ele, mas não podia negar que era uma linda mulher de cabelos azuis, olhos azuis, blusa azul e seios fartos.

"HILDA! Vamos... vamos parar com isso sim?" - disse o homem loiro se dirigindo até ela - "Não importune o cara".

"Siengrifield, porque aquela piranha chilena?" - ela caiu chorosa sobre uma cadeira ao lado de Mu, estendeu a mão para seu líquido e começou a beber.

"HILDA! VAMOS AGORA!".

"Ela não quer ir com você!" - disse Camus finalmente tomando uma postura.

"Como é?!" - perguntou o homem loiro que era mais alto do que ele - "Não se meta!".

"Já me meti. Deixe-a em paz, ok?".

"Quem é você, Clark?

"Apenas... uma pessoa que estava bebendo em paz".

"Quer saber de uma coisa, Hilda? Você não vale o esforço. Eu cansei de você!" - disse o homem dando meia volta e indo para a porta vendo que os seguranças já se mexiam para a confusão.

"Humm... valeu!" - disse limpando a boca com a costa da mão - "Mas, não vou dar para você".

Ela se levantou e saiu meio que cambaleando pelo salão, passou pelo banheiro, deu a volta na pista, chegou a chapelaria, pegou sua bolsa, pagou a comanda e finalmente chegou a rua.

"Que mulher louca!" - disse Mu a Camus - "Mas, sabe, era de uma mulher viva assim que você precisava".

"Deus que me livre de mais problemas" - deu um gole no Martine.

*

Sim. Fora obrigado a ir ao casamento. Normas sociais hipócritas que dizem: se seu melhor amigo pegou sua ex mulher, vá parabeniza-lo.

De fato, foi o que eu fiz, a cerimônia foi simples, mas minha ex estava linda como sempre e Hyoga a levou aos braços do noivo.

A propósito, conheci a namorada do meu filho, uma linda moça de cabelos loiros e olhos negros chamada... alguma coisa Eiri. Delicada e gentil, embora Hyoga venha com insinuações horríveis sobre ela.

"Ela é gostosa. E faz um bom boquete!".

"Essa é a educação que eu te dei? E o respeito que deve para com as mulheres, não é menor que o que deve para sua mãe!" - disse dando um tapa em sua nuca.

"Ai... só estou falando de homem pra homem, merda!".

"Você não é um homem, moleque!" - disse se irritando.

"Nem você, porque se fosse minha mãe não estava se casando com o seu amigo!" - desvencilhou-se do pai e tomou a direção oposta.

Camus encontrou os noivos, os cumprimentou e ainda teve que dar um presente para eles - a coisa mais barata da lista de casamento e que conseguiu encontrar na Fast -, depois encontrou sua ex sogra, seu ex sogro, seu ex cunhado, cunhada, sobrinhos, e os pais de Milo que lembraram da época que Camus viajava no verão e acampava com ele na casa dos magnatas na Grécia. Mas, teve uma pessoa, sentada em um último banco, com uma singela garrafa e óculos Dior pendurado no nariz fino que chamou sua atenção.

Ele se aproximou, sentou ao seu lado e puxou um assunto qualquer.

"Se estivesse tocando Moonriver estaria em dúvida se é você mesma ou Audrey Hepburn".

Ela engasgou, retirou os óculos, pigarreou e disse:

"Oh meu Deus, que mundo pequeno".

"Conseguiu chegar em casa bem?!".

"Han... sim. Obrigada!".

"E você e seu namorado estão bem de novo?".

"Ah não... Siengrifield é piloto, quando cheguei em casa ele já tinha feito as malas para o Marrocos" - disse com tragicomicidade - "Hilda".

"Camus".

"E ai? Da noiva ou do noivo?".

"Dos dois. Eu sou o ex marido dela e ele meu melhor amigo".

"Parabéns".

"Não tenho bem certeza".

"Sei como é! Sabe, você deve ter tido uma impressão horrível de mim ontem, eu, lamento muito pelo que você viu e ouviu".

"AH! Não se preocupe. E você? Da noiva ou do noivo?".

"Era amiga da noiva na faculdade, fazia anos que não nos víamos, eu lamento se não vim para o seu casamento com ela".

"Ah... não perdeu nada... foi um lindo casamento de quintal, mas não se compara a esse bufê oferecido pelo noivo" - disse com uma pitada de escárnio.

"Entendo".

"E o que você faz?".

"Ahhh... sou aeromoça. E você?".

"Administrador. Nossa, deve ser uma maravilha poder estar sempre um lugar diferente, eu te invejo".

"Não inveje! Eu nunca pude constituir uma família sólida por causa do meu emprego. Você, ao contrário, tem uma vida tranqüila e um lindo filho".

"Ah! Um lindo filho que me odeia".

"Não faz mal... eu também odiava meus pais com a idade dele. Tem seus olhos".

"Obrigado!".

"Bom, eu tenho que ir. Eu tenho que voar para o Arizona ainda esta noite".

"Certo".

"Aproveite a festa".

"Tentarei".

"Ah! E desculpa alguma coisa!".

"Não por isso. Você não tem telefone? Poderíamos jantar?".

"Bem... acho que nada dentro de um mês".

"Tudo bem, eu aguardo".

Ela retirou da bolsa um cartão pequeno e róseo, sorriu, deu um beijo em cada bochecha de Camus e sumiu no gramado. Depois, o homem foi tentar pegar o buquê, e mais uma vez, não deu certo.