O fato de seu filho parecer que sempre faz tudo para te atingir é meio estranho, mas não deveria ser para um pai como eu que está sempre acostumado a tudo que é possível. Nada em meu filho me choca, sua determinação se aproxima muito da minha, mas sua falta de escrúpulos me assusta um pouco. Não levem a mal, é um bom rapaz, mas com princípios não tão sólidos quanto os meus.

Quando ele chegou com os amigos em minha casa permiti que entrassem, se apossassem de um dos quartos, e etc. Eles fumam e bebem, mas eu me recuso a refrear os impulsos de Hyoga, acho que isso faz parte da educação de um homem. Que as mulheres falem que isso faz parte da cultura machista, mas um homem que não sabe beber também não sabe se impor.

Hyoga saiu na primeira noite, foi apresentar seus conterrâneos aos dois, quando saíram revistei suas mochilas atrás de drogas e graças a Deus não achei nada. Nada me desagradaria mais do que saber que trabalho até as 14horas do sábado para que meu filho gaste com cocaína meus esforços como administrador.

Ele me ligou mais tarde- às 11horas -, dizendo que iria dormir na casa da Eiri, obviamente eu não acreditei por causa do rock alto ao fundo, se ele me dissesse onde estava eu não teria impedido de ir. Ele não sabe o que quer, é frio e calculista e a única pessoa com quem realmente deve se importar é sua mãe. Freud explica isso de muitas formas.

Enfim, Hilda vai fazer uma escala no meu apartamento essa noite, não estou realmente me importando com o meu filho nesse momento... ela pegou um bronzeado delicioso em Miami na sua última ida aos Estados Unidos.

*

"Bonita, piranha".

"Mais respeito com a Hilda, filho" - disse logo após despachar a namorada e de apresentá-la ao filho- "Onde estão seus amigos?".

"Dormindo" - retrucou irritado parecendo sonolento - "Você não teria um Engov certo?".

"Pensei que precisasse de uma compressa, mas não de um remédio para ressaca". - disse Camus levantando-se e indo até seu armário de cozinha para buscar um remédio - "E ai? O que foi que você bebeu?" - e acrescentou - "Com a Eiri".

Era óbvio - e Hyoga entendera - que Camus sabia que ele não esteve com Eiri merda nenhuma, mas pais como Camus são tão compreensivos e egoístas que não se importariam com detalhes infimos como o paradeiro dos próprios filhos.

"Vodka, Cuba, Guerra-fria, Amarula....".

"Eiri bebe bem, han?".

"Você não faz idéia".

"Sua mãe ligou".

"E o que disse?".

"Que você estava cansado demais da viagem para poder falar com ela, que tinha dormido cedo e comido macarrão instantâneo".

Hyoga riu enquanto deglutia o remédio.

"Pai, preciso falar com você. É muito sério".

"Engravidou alguém?".

"Não tão sério".

"Ufffs, então posso parar de tencionar meus ombros".

"Eu escolhi que carreira quero seguir na faculdade, estou com boas médias e acho que posso conseguir uma boa classificação se me empenhar e vou encerrar o ano com boas notas. Eu ainda não falei com minha mãe, mas... enfim... preciso do seu apoio".

"Diga".

"Quero fazer artes cênicas".

Camus cuspiu todo o café no tampo da mesa, depois levou palmadinhas céticas do filho nas costas e por fim disse:

"O que?"

"Calma, pai! Eu sei que não é nem de longe o curso dos sonhos e...".

"Não é o curso dos sonhos? Você.... você perdeu o juízo? TEATRO? E VOCÊ VAI VIVER DO QUE? COMER DO QUE? DE SUA LINDA E IMPORTANTE ARTE?".

"PAI! TEATRO É UMA PROFISSÃO COMO QUALQUER OUTRA! É... É... NÃO SE PREOCUPE, EU QUERO FAZER A LICENCIATURA...".

"OHHH! ENTÃO, VOCÊ VAI SALVAR O MUNDO FAZENDO TEATRO? VAI AJUDAR TODAS AQUELAS CRIANÇINHAS ENSINANDO-AS A ENGANAR, A MENTIR, PELO AMOR DE DEUS, HYOGA! SE QUER FICAR VAGABUNDEANDO É SÓ FALAR! EU DOU UM ANO DE CALDO PARA VOCÊ!".

"NÃO ESTOU VAGABUNDEANDO! TEATRO É UMA CARREIRA SÉRIA QUE SÓ NÃO VAI PARA FRENTE, POR CAUSA DE PALHAÇOS IGNORANTES COMO VOCÊ! E EU NÃO ESTOU PEDINDO AUTORIZAÇÃO! EU ESTOU COMUNICANDO!".

"NÃO! TEATRO NÃO TEM FUTURO! NÃO DÁ EMPREGO! NÃO E NÃO! SUA MÃE NUNCA VAI CONCORDAR COM ISSO E NEM EU! MESMO QUE VOCÊ PASSE NUMA FEDERAL... TEATRO ESTÁ FORA DE QUESTÃO!".

Hyoga fez um gesto como se fosse virar a mesa, mas conteve o impulso cerrando seus punhos e por fim, abaixando a cabeça resignado, disse:

"Não. Eu não vou ser um administrador medíocre como você. Eu amo aquele palco, é a única coisa que eu sei fazer e que gosto. É teatro, papai. E você não pode fazer nada contra isso".

Deu meia volta na ponta dos pés, foi para seu quarto e trancou a porta. Nem ele nem os amigos abriu a maçaneta antes do meio dia, então perto das duas horas todos estavam encapuzados em suas respectivas capas de viagem para encarar o frio cortante do lado de fora.

"Tem passagens para as 15horas, seu Camus" - disse um moço magrela e alto - "Nós já estamos indo tá? Valeu a hospitalidade".

"Esperem! Eu levo vocês".

Camus pegou seu carro, enfiou as malas, as bagagens, os jovens dentro do carro e os despachou na estação. Foi com pesar que viu seu único filho entrar no trem de volta sem sequer se despedir direito do seu velho.

"Você não tem noção de como ter dinheiro é importante, Hyoga! Para pagar suas roupas, seu plano de saúde, gasolina no seu carro, as roupas que você veste... e quando você for um homem como eu vai querer proporcionar o melhor conforto para sua família e isso o teatro não vai poder te dar".

"E tem coisas, papai, que o dinheiro não vai comprar para mim" - disse virando a cara - "Tchau".

*

"Camus, o que você queria que ele fizesse?".

"Não sei, Hilda! Mas, teatro? Isso não é profissão de homem!".

"Ohohoh, Camus... por favor, não seja preconceituoso".

"E como, como ele vai conseguir se sustentar com isso?".

"Camus, você nunca teve a idade dele não?" - perguntou abraçando o homem de lado na cama de casal na casa do administrador - "Se teatro é a dele, porque não permitir que ele tente? É difícil, ele nunca terá um emprego fixo, mas se entrar em uma boa companhia... você se esquece que agora ele está em Paris? Sua arte vai ser muito mais valorizada...".

"Não, Hilda. Não sei não".

"Bom... de qualquer modo, você deveria conversar com a mãe dele sobre isso" - disse dando uma bicada em seu cigarro de menta, desenrolando-se no lençol e indo nua até o chuveiro no banheiro do corredor.

"Hilda... Hilda... se soubesse você não sugeriria isso".

"Disse alguma coisa, querido?".

"Não. Nada não".

Procurou na gaveta do Engov outro remédio, hoje precisava ser normal, necessitava de um calmante , menos sexo e cama.


NOTA DO PATROCINADOR: Estou pegando birra do Camus, eu devia fazer algo terrível com ele, mas o que seria?

Obrigado aos meus 4 leitores!

Não gostou do que leu? FUCK YOU! ^^ Bye bye