Capítulo 06 – Revelação
Ben sentia-se mergulhado no fundo de sua mente. Será que isso era a morte? De alguma maneira, parecia não ter deixado completamente o corpo...Estava tudo escuro e flutuava no meio do nada, sem saber o que fazer.
O lugar onde se encontrava transmitia a sensação de infinito, não havia limites ou qualquer tipo de barreira. Ao longe, pôde ouvir vozes, que pareciam indefinidas, mas que chamaram a atenção de Ben.
"O que deve ser?"
Decidiu que flutuaria até a origem do barulho. Quem sabe encontraria uma resposta? Enquanto se aproximava, notou que uma luz bem suave brilhava e que as vozes saíam de lá, como se fosse uma passagem.
Conforme ficava mais perto, o brilho se intensificava e chegava a cegá-lo, de tão poderoso. Nesse momento, as vozes eram mais nítidas e pareciam fazer parte de uma conversa entre dois adolescentes, um garoto e uma garota.
Ben reconheceu que pertenciam a Kevin e Gwen, respectivamente. Será que eles estavam do outro lado da luz? Será que também tinham morrido e esperavam por ele no céu? Ele flutuou o mais rápido que pôde e tocou na luz.
De repente, sentiu que seu corpo estava sugado pelo brilho e tudo ficou muito claro, até que a luz se apagou. Percebeu que podia mexer seu corpo e que estava deitado no chão.
Com muito esforço, abriu os olhos. A visão ainda estava turva, porém aos poucos conseguiu enxergar. Gwen estava debruçada sobre ele, seu semblante preocupado, enquanto mexia no corpo do primo. Kevin também demonstrava preocupação, as sobrancelhas levantadas e os olhos alertas.
-Estou achando você muito distante, Ben. Tem certeza de que não se machucou?
-Hã? –ele não sabia o que estava acontecendo, sentiu-se perdido. –Você não tinha morrido, Gwen?
-O que? –a ruiva não acreditou no que ouviu. –Kevin, acho que ele bateu a cabeça durante a explosão.
-É...Melhor ir ao hospital. –o moreno respondeu, segurando Ben no colo.
-Mas...Você tinha morrido Gwen! E você sumiu, Kevin! –ele continuou falando, tentando colocar os pensamentos em ordem. –Estou falando sério!
-Acho que você anda comendo Chilli Fries demais.
Kevin colocou Ben no banco do carona e apertou o cinto de segurança. No momento em que ligou o carro para partirem, sentiu alguém segurando a manga da sua camisa.
-O que foi? Está se sentindo mal? –perguntou.
-É que...-os tóxicos olhos verdes se encheram de lágrimas. –Eu queria ir para casa...
-Tem certeza Ben? Acho melhor te levarmos ao hospital. –Gwen comentou, colocando a mão no ombro do primo.
-Por favor, quero ir para casa...
-Ok...
Dentro de alguns minutos, o Camaro estava estacionado na frente casa dos Tennyson. Depois de se despedir dos dois, Ben entrou e rumou direto para o quarto. O que poderia ter acontecido? Gwen não morreu e Kevin não sumiu...
Aquilo era mais um truque do seu cérebro? Estava convicto de que morreu pelas mãos da criatura no parque, durante a tempestade. Enquanto pensava em todas as possibilidades possíveis, uma brisa brincou seus cabelos e Paradox surgiu no quarto.
-Ai! Não me assuste desse jeito...-ele comentou, com a mão sobre o peito.
-Ah, desculpe. Não fiz por mal. –o cientista disse, dando um leve sorriso. –Então Ben, como foi a viagem no tempo?
-Viajem? Do que você está falando? –o adolescente o encarou, confuso.
-Acho que ainda não entendeu o que aconteceu, não é? –tirou o saco de balas do bolso e comeu algumas.
-Não...Realmente não estou entendendo mais nada...
-Vou explicar então... –o homem sentou-se em uma cadeira, sério.
"Quando você atravessou aquele campo de força, para poder entrar na cabine da nave, o Omnitrix reagiu com o impacto da explosão... Você foi sugado para dentro da sua própria mente e vagou para inconsciência. Tudo o que viu ou sentiu, era fruto dos seus maiores medos. Isso foi materializado por causa da interferência que o Omnitrix sofreu durante a travessia pelo escudo de energia." –ele terminou a explicação, não deixando de observar a reação do adolescentes.
-Quer dizer que tudo aquilo nunca aconteceu? –Ben perguntou incrédulo.
-Talvez... Não posso afirmar nada por enquanto. A mente é um verdadeiro labirinto, cheio de mistérios e ainda é uma área inexplorada pelos seres humanos. –Paradox afirmou, com o semblante pensativo.
-Mas existe alguma possibilidade, mesmo que remota?
-Creio que sim...Esses eventos pertencem a uma linha do tempo muito distante. Mas desde que Mike Morningstar esteja vivo, sempre há uma possibilidade de se tornar realidade.
-Não consigo acreditar...Foi tudo tão real. –o adolescente olhou para o dispositivo no pulso. –Ele está danificado?
-Não, você voltou à consciência porque a interferência havia acabado. –o cientista examinou o Omnitrix. –Mas evite forçar qualquer situação como fez antes, por via das dúvidas.
-Obrigado...-Ben agradeceu antes de Paradox sumir no ar.
Ele continuou sentado na cama, perplexo. Então a morte de Gwen e o sumiço de Kevin aconteceram no recôncavo de sua mente, no lugar onde a racionalidade não existe. Mesmo assim, poderia ser possível, afinal de contas Mike estava vivo. Preso no Vácuo Nulo, porém vivo. Se Kevin conseguiu escapar, por que Morningstar não poderia?
Essa pergunta martelava Ben...Só de pensar da possibilidade que seus maiores medos pudessem se tornar realidade, sentia calafrios percorrendo o corpo. Resolveu desviar a atenção para algo mais importante e ligou para o celular de Gwen...
-Oi, sou eu.
-Ah, como você está? –ela perguntou, aflita.
-Melhor agora...Preciso conversar com você e o Kevin...
-Estamos perto da sua casa, daqui a dez minutos estaremos na porta. –a garota disse antes de desligar.
Depois de uma pequena espera, Ben ouviu a buzina do Camaro do lado de fora. Ao olhar pela janela e ver que o carro realmente estava ali, sentiu um calor aumentando no peito, eles não haviam partido de sua vida. Desceu as escadas rapidamente e correu, entrando no veiculo na porta de trás.
-Então, para onde vamos? –Kevin perguntou, encarando Ben pelo espelho retrovisor.
-Para o parque...-os tóxicos olhos verdes encontraram os do moreno, que desviou o olhar.
—X—
Alguns minutos mais tarde e o carro fora estacionado na frente do parque de Bellwood. O lugar trazia lembranças inquietantes para Ben, mas achou que ali era o melhor local para explicar com calma tudo o que viu. Ele não sabia por onde começar eram tantos detalhes que vinham a sua mente, que precisou de alguns minutos para raciocinar.
-Então, lembram quando houve aquela explosão? –sua voz era trêmula e indecisa.
-Sim...-eles responderam ao mesmo tempo.
-O Omnitrix acabou sofrendo uma interferência muito forte e acabei sendo sugado para dentro da minha mente... –Ben continuou falando, embora ele mesmo não acreditasse no que dizia.
-Uma espécie de coma? –Kevin perguntou, curioso.
-É...
-Você viu muitas coisas ruins, não é? –Gwen comentou, olhando para o primo, cautelosa. –Está tão pálido.
-É complicado falar sobre isso...-ele respondeu, encarando a grama. –Vou resumir o que aconteceu...
"Para mim, o tempo continuou transcorrendo normalmente, enquanto eu estava aéreo na realidade. Bom, anoiteceu e Kevin me chamou para sair e fomos a um galpão. Vocês haviam preparado uma festa surpresa pra mim e até o vô Max estava lá... Tudo ia muito bem, até que Mike apareceu."
-Mas ele não está no Vácuo Nulo? –o moreno comentou, tentando entender a história.
-É, porém de alguma maneira ele escapou e apareceu na festa. –Ben explicou, sentindo gotas de suor escorrendo pelas têmporas. –Me deixe continuar...
"Ele estava com uma aparência horrenda, como se tivesse envelhecido muito rápido. Então, você Kevin, saiu na direção dele para lutar. Mas Mike absorveu grande parte dos seus poderes e pareceu rejuvenescer com isso. Também absorveu os ataques da Gwen e..." –ele não conseguia falar, as palavras sumiam.
-Eu morri, não foi? –ela completou a frase, com pesar.
Ben não falou nada, apenas confirmou com aceno de cabeça. As lágrimas escorriam pelo rosto, conforme lembrava da cena. O corpo dela jogado no chão, com o sangue escorrendo na têmpora... Isso ainda machucava, mesmo sendo apenas ilusão.
-Não precisa continuar, se não quiser. –Kevin disse, colocando uma mão no ombro do amigo.
-Está tudo bem...Eu preciso falar. –ele respondeu, levantando a cabeça e engolindo o choro.
"Mike arremessou Gwen muito longe com um ataque poderoso. Corri para tentar te ajudar, mas já estava morta quando cheguei. Kevin ficou cego de tanta raiva e partiu para cima dele, porém Morningstar fugiu.
Depois disso, fomos ao seu enterro. Foi muito difícil saber que nunca mais poderia vê-la...Enquanto eu e Kevin dávamos nosso último adeus, ele decidiu que caçaria Mike e o faria pagar pelo crime que cometeu..."
-Eu fugi e deixei você sozinho. –Kevin refletiu em voz alta, não acreditando no que ouvia. –Eu fiz isso mesmo?
-Não coloco culpa alguma em você. Sei como se sentia naquele momento. –Ben afirmou sinceramente, encarando-o. –Eu entendo.
-Aconteceu mais alguma coisa? –Gwen perguntou, sentindo-se tonta com a idéia de ouvir sobre a própria morte.
-Bom, sim. Aconteceram coisas horríveis...
"Logo após a partida de Kevin, eu fui para casa e tentei descansar. Estava exausto e não conseguia mais parar de tanto chorar. Quando acordei no dia seguinte, resolvi caminhar um pouco. Achei que o exercício pudesse fazer que meu cérebro parasse de pensar.
Quando cheguei aqui no parque, fui perseguido por uma criatura estranha. Nunca tinha visto antes, não se parecia com um alienígena. Tinha o contorno de um ser humano, mas era feito de trevas. Era como se fosse uma sombra ambulante.
Tentei lutar, mas o Omnitrix não funcionava e tive que fugir. Porém, a criatura foi mais rápida que eu. Ela agarrou meu pé e quando estava perto o suficiente, me estrangulou com seus tentáculos."
-Nossa...-a ruiva sussurrou, impressionada com o relato. –E como você acordou?
-Não sei, depois que fui estrangulado acordei dentro da minha mente. –Ben franziu as sobrancelhas tentando lembrar. –Eu vi uma luz ao longe e quando toquei nela, acabei acordando.
-Eu realmente tenho medo do que acontece na sua mente Tennyson. Acho que você deveria parar de comer tantas Chilli Fries e quem sabe marcar hora com um psiquiatra. –Kevin comentou, com um sorriso tímido.
Ben começou a rir baixinho, mas o riso se transformou em uma gargalhada alta. Kevin e Gwen se entreolharam se entender a reação dele, porém acabaram rindo junto e em pouco tempo ficaram mais animados.
As experiências que aconteceram foram guardadas no fundo da mente de cada um e nunca mais tocariam no assunto. Era desconcertante e gerava um sentimento estranho, que parecia tornar o ambiente mais denso e triste.
Deixaram o parque e rumaram para o , onde fizeram um banquete repleto de todas as guloseimas que a lanchonete podia oferecer. O sol se deitava no horizonte lentamente, pintando o céu com cores avermelhadas. Era ótimo estar na companhia deles novamente, saber que tudo estava em segurança e que não precisava mais temer o desconhecido.
-Acho que nunca comi tanto, minha barriga parece que vai explodir...-Ben comentou enquanto saiam da lanchonete.
-Já falei que você ainda vai passar mal, por causa dessa sua mania de comer até não poder mais. –Gwen advertiu, olhando para o primo.
-É por isso que não arranja uma namorada. Ninguém vai querer ficar com um cara que come que nem porco. –Kevin fazia barulhos de suíno enquanto falava.
-Você não está muito longe disso, Kev. Aquela coisa dos canudos no nariz é nojento...-a ruiva sentiu um arrepio na espinha ao lembrar da cena.
-Mas você achou engraçado e chorou de tanto rir! –ele rebateu o argumento, com um sorriso malicioso nos lábios. –Eu sei que se amarra nessas coisas, só não admite.
-Não me compare a você! –Gwen corou feito tomate. –Eu ri porque no momento foi legal, mas mesmo assim ainda é nojento.
-Sei...Vou fingir que acredito. –Kevin andou mais rápido e alcançou Ben, que estava mais à frente. –Então, o que quer fazer agora?
-Não sei...Fica difícil raciocinar quando se tem muita comida no estômago. –ele respondeu, arrastando o corpo. –Estou começando a ficar com sono...
-Te dou uma carona para casa. Tá afim de sair mais tarde? –o moreno convidou, com o coração palpitando.
-Claro, vai ser ótimo. –ele disse entre um bocejo e outro, os olhos semi cerrados. –Agora eu quero ter a soneca da tarde...
Kevin dirigia o carro lentamente, sem a habitual pressa. Gwen olhava para o céu, sentada no banco do carona. Enquanto que Ben dormia nos bancos traseiros, parecendo uma criança. Uma sensação de paz e tranqüilidade inundava seus corações.
Era como se tudo estivesse perfeito, sem problema algum. Sentiam-se tão leves que poderiam voar, ir de encontro à lua e as estrelas que surgiam no céu. Não poderiam estar melhores com eles mesmos e com o mundo.
-Ei, por que você parou o carro? –Ben reclamou, acordando após uma freada brusca.
-Puta que pariu! –Kevin praguejou com toda a força que conseguiu. –Isso não pode estar acontecendo...
-O que está acontecendo? –ele se levantou, ainda zonzo.
-Ele está aqui. –Gwen respondeu, demorando ao pronunciar as palavras.
Ben não acreditou no que viu. Todo o sono que sentia sumiu repentinamente, ao ver que Mike Morningstar estava parado no meio da rua. Dessa vez sua aparência era a mesma de quando se conheceram, perfeitamente saudável.
-De novo não...-Ben sussurrou incrédulo, ao ver que o inimigo de aproximava do carro, rodeado de energia brilhante.
-FIM?-
Nota: obrigada por terem acompanhando a fic! *-* Não esqueçam das reviews...
Eu escrevi uma continuação e se chama "Let You Go", espero que acompanhem! :D
