Autora: Blanxe

Beta: Shii

Casal: SasuNaru

Gênero: Yaoi, Romance, Angst, Drama, Tragédia, Referência a M-PREG.

Aviso: Partes em itálico na história significam lembranças ou sonhos

Agradecimentos: À Niu e Evil Kitsune que me deram uma considerável ajuda com o desenvolvimento desse enredo.


Reminiscência

Se o seu nome fosse um feitiço
Para eu decolar e me livrar da hesitação
Atravessando o céu e a escuridão
Seria capaz de mudar
Até o futuro traçado por alguém…

oOo

O caminho para volta à Konoha era conhecido por ambos, mas para o jovem que seguia a diante deles, era a primeira vez que o trilhava. Mesmo assim, andava despreocupadamente e com aquele jeito de estar satisfeito com tudo. Sakura se via incapaz de não prestar atenção durante todo o percurso que faziam e principalmente compará-lo com o amigo já falecido.

- Hoshi tem o sorriso dele… e a personalidade também.

Sem dispensar nem mesmo um olhar para a companhia ao seu lado, Sasuke sucintamente respondeu:

- É…

Sakura sorriu levemente, tentando imaginar como teria sido a vida do moreno depois que partira com o bebê. Ninguém esperava que ele fosse assumir tal responsabilidade, mesmo assim, ela presenciara a promessa feita a Naruto e vira que fora sincera. Mas era difícil projetar em sua mente um Sasuke de apenas dezessete anos, com toda sua impaciência e rispidez, tomando conta de um bebê e sendo bem-sucedido nessa tarefa. No entanto, compreendia que viver no berço de suas melhores e piores lembranças não ajudaria Sasuke a perseverar, muito menos quando sempre existiriam críticas a respeito de seu relacionamento com o jinchuuriki da kyuubi e de como Hoshi fora gerado.

Porém, achava que o mais árduo deveria ser conviver com alguém que se parecia tanto com a pessoa que amou, em seus trejeitos e atitudes. Uma lembrança constante que Sakura pensava que poderia manter para sempre aquela ferida aberta.

- Deve ser difícil pra você. – ela comentou lastimosa.

Sasuke dessa vez nada falou. Não era de ficar expondo seus sentimentos para ninguém. Mas o fato de Hoshi lembrar tanto Naruto em certos aspectos de sua personalidade não o deixava triste, pelo contrário, foi isso que o fizera suportar os dias de solidão e a falta que sentia do loiro de olhos azuis. O sorriso e o jeito hiperativo faziam-no lembrar de sua promessa todos os dias, fazia com que soubesse que tinha uma parte da pessoa que amava perto de si. Hoshi era a prova viva do que haviam sentido e vivido.

- Sasuke, por que decidiu voltar? – escutou uma Sakura curiosa perguntar. - Eu pensei que não atenderia ao convite.

Seria sua decisão se não tivesse pensado primeiramente na memória de Naruto, mas também, havia outro motivo.

- Desde o incidente… - disse hesitante. - Eu nunca visitei o túmulo dele.

Sakura entendia Sasuke com facilidade. Para o homem que desertara de Konoha, lutara contra os próprios amigos e se apaixonara por um deles para em seguida simplesmente perdê-lo, existia muito mais do que mero descaso ou falta de interesse em nunca ter retornado ao local onde descansava o rapaz que amara…

Havia o peso da culpa e muito arrependimento.

- Como Hoshi encara tudo isso? – ela acabou expondo uma curiosidade que tinha. Gostaria de saber o que o garoto pensava sobre o outro pai, como via a situação de crescer sem sua presença e, principalmente, por não ter sido gerado como uma criança normal. Afinal, sua gestação fora dentro de outro homem.

- Ele não encara. – Sasuke quebrou todas as expectativas da mulher e sequer se deu ao trabalho de olhar em sua direção e confirmar sua expressão chocada.

- Como assim? – ela indagou, demonstrando em sua voz seu total estado de incompreensão.

O moreno suspirou e explicou com todas as letras:

- Ele ainda não sabe sobre Naruto.

- O quê?

Sasuke lhe lançou um olhar reprovador por causa do timbre alto da voz de Sakura. Não pretendia chamar a atenção do filho para a conversa que estavam tendo, muito menos para aquele assunto em questão. Ela pareceu entender a mensagem escrita nos olhos negros do moreno, e dispensando um rápido olhar para garantir que Hoshi continuava seguindo na frente sem perceber a alteração de humor na conversa entre eles, finalmente questionou:

- Como ele não sabe?

- Eu nunca contei sobre Naruto. – confessou indiferente, mas as palavras que seguiram vieram carregadas de um sentimento de pesar: - Queria que ele tivesse uma vida normal, sem o peso do passado.

- Mas isso é injusto. – a amiga o acusou e sem pestanejar, Sasuke rebateu com amargura:

- Existem muitas coisas injustas nesse mundo.

Dada a conversa como encerrada, o moreno apertou o passo, distanciando-se da amiga. Ela jamais entenderia realmente seus motivos. Ninguém entenderia. Não queria que Hoshi passasse pelo mesmo processo que ele e até mesmo Naruto haviam sofrido. Uma infância de solidão por saber que não fora gerado por um meio natural, ter noção de que carregava os genes de um jinchuuriki, desejar vingança por aqueles que atacaram e mataram seu outro pai. Não queria aquilo para o filho e se o mínimo a fazer para garantir essa normalidade era se afastar de Konoha e esconder a verdade, então o fez sem pensar duas vezes.

Decidir voltar a Konoha implicava trazer à tona os sentimentos e a verdade. Estava preparado para contar sobre o passado a Hoshi e não duvidava que seria compreendido, afinal, era filho de Naruto e tinha herdado sua personalidade. Saberia julgar e entender a situação, sem sofrer tanto quanto se vivesse com o peso da realidade desde pequeno.

- Estressou o velho? – Hoshi, que havia diminuído a passada para caminhar lado a lado com Sakura, quis saber.

A mulher balançou a cabeça, e com um sorriso que não chegava aos seus olhos, tentou contornar a situação.

- Ele sempre se estressou por coisas bobas.

O jovem de belos e expressivos olhos negros deu de ombros e confidenciou:

- Não gosto de vê-lo chateado, mas eu sei que essa viagem ainda vai trazer muito aborrecimento.

Sakura franziu o cenho, interessada na conversa. Era a primeira vez que tinha a oportunidade de conversar com o garoto por mais tempo e achou que seria uma ótima chance de conhecê-lo melhor, mesmo que ainda estivesse abalada pela revelação feita por Sasuke.

- Por que diz isso? – ela perguntou inocentemente ao garoto.

- Porque vai trazer o passado de volta. – ele respondeu sem hesitar. - Se ele deixou e nunca voltou a Konoha até hoje, deve existir um motivo muito forte. Eu vi o jeito como o Otousan ficou quando soube sobre essa tal homenagem.

Sakura respirou fundo, querendo conter a raiva que agora sentia pelo amigo que caminhava bem mais a frente. Como ele conseguia esconder a verdade de Hoshi? Como tinha coragem de fazer isso: apagar Naruto da existência na vida do próprio filho? Era inconcebível, entretanto, não tinha direito de se intrometer e, com muito custo, se forçou a comentar sem detalhes específicos:

- Uma pessoa muito importante pra ele vai ser um dos principais homenageados.

O sorriso do garoto brilhou e ele indagou empolgado:

- Naruto, certo?

Seu pai – ela sentiu ganas de corrigi-lo, mas se deteve. Sentiu tristeza e rancor por ter que escutar Hoshi falar do próprio pai como se fosse um estranho qualquer.

- Certo. – confirmou num murmúrio desgostoso.

Hoshi riu e, em seguida, falou algo que a surpreendeu:

- Eu sei o quanto ele foi importante pro meu pai.

- Sabe? – Sakura replicou confusa.

- Sei. – Hoshi confirmou e olhando para a figura do homem caminhando mais a frente, comentou: - Otousan tem pesadelos. Em todos, acaba gritando o nome dele.

Sakura engoliu em seco ao se conscientizar que Sasuke estava longe de ter alguma paz, mesmo com a vida tranqüila que agora levava.

- Eles eram muito… amigos. – forçou-se a dizer para não deixar a conversa morrer.

- Mais do que amigos. – Hoshi imediatamente a corrigiu, ganhando um olhar duvidoso da mulher mais velha. Erguendo uma sobrancelha, rebateu com displicência: - Qual é? Ele grita nos sonhos! Bem… às vezes eles não são tão ruins, se é que me entende. – finalizou lançando um longo olhar de esguelha para a amiga de seu pai para ter certeza que esta havia entendido o seu ponto.

Ela ficou por alguns segundos fitando Hoshi com os olhos verdes completamente abismados.

- Eu acho… que seu pai o subestima. – ela enfim retorquiu, com um sorriso oblíquo.

- Não muito. – ele riu coçando a nuca e, em seguida, deu de ombros. - Eu sei que ele quer me proteger de algo, mas não gosta de conversar e eu respeito sua decisão se isso faz com que sofra menos.

Sakura sorriu ternamente ao ver o carinho embutido nas palavras do jovem, percebendo o quanto este amava Sasuke. E, mesmo discordando da atitude de seu amigo em esconder a verdade, se Naruto estivesse vivo, se orgulharia pela forma como ele criara seu filho e como este se tornara tão cúmplice do outro pai.

- Maaaaas… - o garoto disse com um olhar malicioso, passando o braço em torno do pescoço da mulher de cabelos cor de rosa. - Isso não quer dizer que você não possa me contar, Sakura-chan! Quais são os detalhes sórdidos da vida do meu velho?

- Detalhes sórdidos? – Sakura indagou, olhando-o de esguelha, desconfiada e com velado interesse.

- É, você sabe… - Hoshi falou casualmente. - Otousan deve ter sido bem pervertido pra gritar o que ele grita quando tem uns sonhos bons com o Naruto.

O rubor tomou conta da face de Sakura, ao mesmo tempo em que seus olhos se arregalaram com o despojamento de Hoshi ao falar sobre aquele assunto tão… íntimo de seu próprio pai. Entretanto, ela não era imune à curiosidade e na esperança de conseguir saná-la, perguntou como quem não quer nada:

- E o que ele grita?

No exato momento em que Hoshi abriu a boca para contar, Sasuke lançou um breve olhar para trás e indagou:

- Posso saber o que vocês dois conversam tão baixo?

O garoto congelou imediatamente, tirando o braço que mantinha ao redor do pescoço de Sakura e deu uma risadinha ao responder.

- Nada não, otousan! – em seguida, mostrando-se amuado, resmungou com um bico: – Ele tem algum tipo de radar, chega a me dar nos nervos quando ele faz isso!

oOo

A viagem até Konoha não poderia ter sido mais tranqüila. Enquanto Sasuke mostrara-se comedido nas conversas, Hoshi entretinha Sakura com seu falatório constante. Ela ficara sabendo praticamente tudo sobre a vida que levavam desde o fato que Sasuke nunca mais se interessara por ninguém a partir do momento em que fora embora de sua vila natal, até que Hoshi se dedicava aos estudos, sem nunca ter tido contato com qualquer treinamento ninja, assim como o garoto não fazia a menor idéia de quem era sua 'mãe' e parecia não se importar nada com isso. Havia uma abnegação estranha em Hoshi, uma que Sakura distinguia apenas ligava ao elo muito forte com Sasuke, como se ele desconfiasse que existisse muito mais por trás da recusa de seu pai em falar do passado do que imaginar que uma suposta mãe o teria abandonado ou morrido ao dar-lhe a luz.

Só esperava que Sasuke soubesse bem o que estava fazendo voltando a Konoha trazendo consigo o peso de uma omissão daquelas.

Ao chegarem à cidade, os olhares que receberam dos ninjas na entrada da vila foram o suficiente para que soubessem o que esperar do resto das pessoas que ali residiam. O passado não era algo que se apagava ou se esquecia facilmente e, por mais que os anos tivessem ficado para trás, a lembrança de quem fora Sasuke Uchiha mantinha-se viva na memória dos que conheciam o mito. Mas a cada passo que davam e a cada habitante que o reconhecia, o olhar que recebia não era de medo ou ressentimento, mas de curiosidade.

Hoshi parecia intrigado com as pessoas que os fitavam enquanto caminhavam e não se deteve em perguntar:

- Sei que você ainda é bonitão, otousan, mas não acredito que essa gente toda esteja nos olhando por causa da sua magnânima beleza. Qual é a da parada?

- Seu pai é um dos homenageados também, Hoshi. – Sakura se adiantou a elucidar para o garoto. - As pessoas o respeitam e estão um pouco impressionadas já que não o vêem há quinze anos.

Um "Oh" mudo se formou nos lábios do garoto sem emitir qualquer som, para logo em seguida ironizar:

- Nossa, quem diria que o velho seria alguém tão importante assim.

Sasuke o olhou atravessado e o repreendeu, porém, num timbre não tão sério:

- Eu digo que você vai levar um chute no traseiro se continuar me chamando assim.

- Que isso? – Hoshi, riu. – Ainda fere seu ego ser chamado de velho?

- Hoshi. – Sasuke advertiu demonstrando com o olhar que deveria parar com as ironias.

- Tá, tudo bem. – o garoto rodou os olhos e findou a brincadeira: - Eu entendi a mensagem.

Eles pararam em frente a uma das hospedarias e Sakura lamentou internamente por ter que se despedir, mesmo que brevemente. Os poucos dias que havia passado junto com os dois foram o suficiente para que se afeiçoasse a presença de ambos, mas tinha deveres a cumprir e o primeiro deles era se reportar a sua superiora.

- Eu vou informar a Tsunade que já chegamos. – ela informou e olhou diretamente para Sasuke, exibindo um leve sorriso: - A vila não mudou muita coisa, acho que pode averiguar por si próprio e levar Hoshi para conhecer tudo.

- Obrigado, Sakura. – o moreno agradeceu sincero. – Mande lembranças minhas à Godaime.

- Aposto que ela fará questão de cumprimentá-lo pessoalmente. – replicou, desviando o olhar brevemente para Hoshi que parecia entretido, admirando ao redor. – Principalmente a ele.

Ela não precisava dizer mais nada, pois Sasuke entendera muito bem a indireta. A quinta Hokage criara um laço muito forte com Naruto quando este estava vivo e certamente não perderia por nada a chance de ver com seus próprios olhos o legado que ele deixara. Estava admirado por ela não tê-lo procurado antes para ver o desenvolvimento de Hoshi, mas em se tratando da sempre esquentada e ocupada Hokage, era até compreensível.

- Vejo vocês depois. – Sakura se despediu definitivamente e quando já estava a alguns passos de distância, foi que Hoshi notou a partida da amiga de seu pai e só então berrou, dando adeus com uma das mãos erguidas.

- Tchau, Sakura-chan!

Ela se virou, retribuiu o aceno e sorriu ao continuar seu caminho, carregando uma nostalgia incomensurável em seu peito.

oOo

Acomodando-se em um dos quartos da hospedaria, Hoshi se espalhava pelo cômodo enquanto Sasuke se postara a uma das janelas que dava uma vista direta da cidade. Como Sakura dissera, Konoha não havia mudado tanto em quinze anos e isso trazia certamente um saudosismo triste e ao mesmo tempo alegre. Ver os lugares por onde passara diariamente quando era somente uma criança, as lembranças que cada recanto da vila lhe trazia, decerto o afetavam mais do que a princípio pensou que aconteceria. No fundo, a vontade de ir embora imediatamente o corroia, um pânico repentino de ser esmagado pelas recordações o assolava, mesmo que tentasse encobrir o que sentia por baixo de uma fachada de indiferença.

- Nossa. Konoha é legal. – escutou o filho comentar, mas a mente de Sasuke estava bem distante dali, por isso, replicou mecanicamente:

- É.

O garoto parou de espalhar algumas roupas em cima da cama e virou-se para fitar o pai. Observando-o com meticulosidade a figura do mais velho parado junto à janela do quarto, Hoshi perguntou aleatoriamente, querendo confirmar alguma desconfiança:

- Foi aqui que o senhor cresceu, não foi?

E novamente foi uma resposta automática que recebeu.

- Sim.

O semblante de Hoshi se contraiu num misto de preocupação e angústia, como na noite em que vira seu pai sozinho no jardim dos fundos da casa onde moravam. Konoha e o passado pareciam sinônimos de tristeza para ele e gostaria muito de entender o porquê. Desde que Sakura havia chegado com o convite, via o humor do mais velho se deteriorando e, apesar de não demonstrar, aquilo afligia Hoshi. Dúvidas se misturavam em sua cabeça, mas a única certeza que tinha era que não queria ver o pai sofrendo calado daquele jeito.

- Quer me falar alguma coisa, otousan? – acabou perguntando, se aproximando lentamente do pai.

Sasuke saiu daquela perambulação mental e virou-se para encarar o filho. Podia notar que o mais novo parecia ansioso e ao mesmo tempo hesitante. Desconfiava que tivesse reparado em sua ausência de espírito enquanto tentava puxar conversa, mas a pergunta que lhe fizera atingira-o certeiramente.

Ele queria falar muitas coisas para Hoshi - contar tudo - só não sabia como, nem por onde começar. Chegava a repensar a decisão de revelar o passado para o próprio filho, regido pelo desconforto que sentia ao imaginar que estaria expondo um sofrimento que guardara por anos. No entanto, permanecendo em Konoha com a homenagem e tudo o mais, estava assinando a sua obrigação de dizer o que guardara por tanto tempo.

- Quero levá-lo para conhecer alguns lugares.

Hoshi franziu o cenho, mas em seguida concordou com a cabeça. Talvez a resposta para sua pergunta viesse daquele passeio que o pai acabara de propor, por isso, seguiu-o deixando o quarto que haviam acabado de alugar para andar pela cidade.

oOo

Sasuke não se incomodava com os olhares de espanto e cochichos enquanto andavam pelas ruas de Konoha, mas agradecia por até então não ter esbarrado em nenhum dos antigos amigos. Nenhum deles era discreto o suficiente e acabariam falando mais do que deveriam, antes de conseguir contar o que precisava ao filho.

- Estudei na escola sobre Konoha, mas essas caricaturas na montanha, hein… - Hoshi comentava olhando para o local em questão. - Que coisinha mais brega.

Sasuke riu. Quase disse que um daqueles rostos se tratava do avô dele, mas seria precipitado e acreditava que a história não deveria começar por aquela parte. A verdade era que continuava sem saber por onde iniciar. Conhecendo o filho, com certeza ficaria espantado e quem sabe a princípio duvidasse, mas confiava que ele não se chatearia por ter guardado aquele segredo, que entenderia seus motivos. Afinal, já tinha idade suficiente para isso.

- Se o Naruto foi tão importante assim, por que ele não está ali? – o garoto perguntou intrigado.

Dessa vez, Sasuke sorriu – um sorriso melancólico – enquanto olhava para a montanha, se lembrando dos surtos daquele menino loiro que afirmava com toda fibra de seu ser que viveria para um dia se tornar o maior Hokage que Konoha já havia conhecido. O sonho de Naruto simplesmente ficara pelo caminho… nunca foi capaz de realizar.

- Porque ele não teve a chance de viver pra se tornar um Hokage.

Hoshi olhou para o pai, percebendo penosamente como este reagia toda vez que o nome do amigo era trazido às conversas. Não deveria ficar insistindo naquele assunto se fazia tão mal ao mais velho, no entanto, existia algo dentro de si que persistia em buscar por respostas. Nunca fora assim, sempre conseguira conter sua curiosidade e até nem mesmo se importar com qualquer verdade que seu pai escondesse de si, só que agora… Agora aquela ânsia por saber crescia de uma maneira assustadora, como se fosse imprescindível conhecer sobre o passado, principalmente a parte que envolvia o tão comentado Naruto.

- Como ele morreu? – questionou, continuando a caminhar ao lado do pai.

- É uma historia complicada. – Sasuke comentou, internamente sentindo-se acuado. A verdade teria que vir à tona, mas por que continuava hesitando?

- Bem, o que mais temos é tempo, não é? – Hoshi riu, incentivando o pai a contar.

Sasuke tomou coragem e decidiu responder, evitando arduamente que as imagens daquele dia se reprisassem em sua mente. Contou como quem lê uma notícia num jornal, sem muitos detalhes, apenas um resumo muito parco sobre como a vida de Naruto havia se perdido para sempre.

- Ele tinha um demônio dentro de si que perdeu completamente o controle num dos últimos ataques sofridos em Konoha. Ele estava tentando proteger… - travou-se em dizer 'você', corrigindo seu lapso. – … a vila e acabou desencadeando algo que não conseguiu mais ter o domínio.

- E? – Hoshi insistiu, querendo saber o desfecho.

- E tiveram que matá-lo. – Sasuke replicou quase num sussurro.

- Eles… o mataram?

Hoshi teve dificuldades para compreender o que o mais velho havia contado. Se entendera direito, os próprios ninjas de Konoha haviam matado Naruto. Olhou para o pai num misto de consternação e ainda assim curiosidade. Queria saber onde ele se encaixava nisso? Por que não tinha defendido alguém que, ao que sabia até então, Sasuke considerava importante? Seria esse o grande motivo dele ter abandonado Konoha? Culpa? Arrependimento?

Precisava saber, mas antes que pudesse vocalizar suas dúvidas, uma voz os surpreendeu.

- Uchiha! Não acredito que resolveu dar as caras.

O garoto viu no semblante de seu pai o nítido aborrecimento com a chegada daquele desconhecido e o ouviu resmungar o nome do outro com desgosto.

- Sai…

Não pode evitar reparar na figura que os abordara. Sua pele pálida e o sorriso cordial que adornava seus lábios era o que mais chamava a atenção. Apesar de a primeira vista simpatizar com o homem, parecia que seu pai não estava muito contente em revê-lo. Seria idiota não presumir que se tratava de alguém do passado, a questão era: por que seu pai se incomodava com sua presença?

O desconhecido de cabelos tão negros quanto os de seu pai tomou consciência de sua presença e o olhou com estranho interesse e curiosidade, para só então perguntar:

- E não me diga que esse… é o seu novo amante?

Sasuke percebera uma coisa que os anos não tinham conseguido mudar: ainda tinha uma aversão descomunal por Sai. A voz dele o irritava, suas perguntas inconvenientes o deixavam com vontade de socá-lo e sua aparição não poderia ter sido em pior hora. Assumir que Hoshi era seu amante fora a pior tirada daquele verme idiota, mas antes que pudesse simplesmente enxotá-lo, seu filho se adiantou para se apresentar formalmente:

- Sou Uchiha Hoshi.

- Hoshi? – Sai indagou, por um momento deixando o sorriso amistoso de lado e demonstrando certo aturdimento. Olhou do garoto para Sasuke e então perguntou: - O descendente de Uzumaki?

- Cai fora, Sai. – Sasuke grunhiu, vendo seus planos de conversar com Hoshi indo por terra com a presença do ninja ali.

Mesmo sem ter uma resposta, a ameaça pareceu ter sido suficiente para que Sai assumisse positivamente a pergunta que fizera.

- Ora, Uchiha, depois de anos volta e ainda quer nos privar da companhia do…

- Eu disse para dar o fora! – Sasuke o interrompeu antes que dissesse mais do que deveria e no confronto de seus olhares, o outro ninja pareceu ter entendido muito mais do que o fato de não ser bem-vindo perto dos outros dois.

- Sempre gentil e cordial. – Sai cantarolou debochadamente, retomando ao sorriso costumeiro e, antes de partir, brincou com o garoto: - Depois eu te seqüestro, pequeno.

Sasuke fuzilou o outro moreno com o olhar, mas sua tranqüilidade por vê-lo ir embora durou pouco.

- Por que ele me chamou de descendente de Uzumaki? – Hoshi perguntou com uma seriedade que o pai raramente via no semblante do filho.

Era em momentos como aquele, quando Hoshi assumia aquela postura mais centrada e menos brincalhona, que Sasuke conseguia ver uma cópia de si mesmo no garoto. Isso quase nunca acontecia, porque geralmente ele encarnava muito bem a personalidade de Naruto, mas quando deixava aquele jeito de lado, realmente o assustava ver o quanto poderiam ser parecidos.

O maldito Sai conseguira plantar ainda mais desconfiança na cabeça de Hoshi. Suas opções agora se restringiam a expor a verdade sem mais delongas.

Olhando diretamente nos olhos tão idênticos aos seus, Sasuke respondeu:

- Porque é o que você é.

oOo

Continua...


Nota da Autora: Peço desculpas pela demora já que havia prometido essa atualização para semana passada, mas alguns contratempos ocorreram e fizeram que o atraso acontecesse. Pro pessoal que acompanha as fics de GW, as postagens da Leave continuam sendo prioridade e nessa semana que entra certamente terá outro capítulo online.

Nota da Beta: er... Agora ele vai explicar tudinho e o Hoshi... vai... entender .-. Né? AAAAAAH! .-. Tô com medo dele dar uma de rebelde sem causa e sair correndo, se rebelando .-... Força, Sasuke! Deixe comentários para Blanxe-sensei! Alimentem a escritora!