Autora: Blanxe
Beta: Dréinha (Andréia Kennen)
Casal: SasuNaru
Gênero: Yaoi, Romance, Angst, Drama, Tragédia, Referência a M-PREG.
Reminiscência
Tento descobrir o que te faz se comportar assim
Enquanto eu me deito
Ferido e doente…
E eu não me importo
Se você disser que esse amor é pela última vez…
oOo
Gaara acompanhava Sasuke a uma certa distância. Estavam naquela caminhada há dois dias e ainda não sabia onde o moreno queria chegar. Havia a certeza de que ele sequer tinha noção do paradeiro do filho, mas parecia conhecer um rumo para seguir.
Antes de deixar a vila, o ruivo foi cuidado ao deixar uma mensagem para que não houvesse uma comoção por causa de seu desaparecimento. Achava até muito plausível seguir o Uchiha, mesmo sendo um Kage. Não poderia ignorar que o outro era volátil o suficiente para precipitar-se e acabar prejudicando, ao invés de colaborar. O mistério sobre o ataque e as intenções do sequestro de Hoshi, permaneciam no ar. Por isso mesmo, permitir que Sasuke agisse por puro instinto, estava fora de questão.
Anoitecia quando alcançaram um vilarejo. Durante o percurso, os dois não haviam trocado mais do que meia dúzia de palavras. Mas isso não incomodava o ruivo. O que o deixava ressabiado, era o trajeto que seguiam. Pensava no quão pouco conhecia o outro homem para simplesmente confiar que este estivesse fazendo a coisa certa.
A escuridão da noite já encobria o céu. Continuaram caminhando, enquanto ouviam seus passos ecoando nas ruas vazia daquela vila. Os habitantes do lugar já deveriam estar recolhidos, dado o horário avançado.
No entanto, a presença de um terceiro elemento surgindo no meio da rua, a alguns metros a frente deles, fez com que parassem. Gaara reconheceu de imediato a figura que se colocava no caminho.
- Eu quase não pude acreditar quando senti seu chakra se aproximando. – a mulher comentou, com um sorriso irônico. - Que ventos o trazem até mim, Sasuke?
- Preciso da sua ajuda. – o moreno informou.
O Kazekage, ao raciocinar rapidamente, compreendeu as ações de Sasuke ao percorrer um caminho tão longo para chegar ali. Ele sabia exatamente onde encontrá-la, e via nela a forma mais fácil de descobrir onde estaria Hoshi. Apesar da animosidade que existia entre eles, o ruivo tinha que admitir, pelo menos para si mesmo, que o descendente dos Uchiha tinha alguma inteligência. Assim, permaneceu calado, escutando a conversa entre ambos.
- Interesseiro. – ela o acusou, com humor embutido. - Deveria ter previsto que justamente você, não apareceria para uma simples visita de cortesia.
Nisso Gaara tinha que concordar com ela. Sasuke sempre fora alguém que usara as pessoas para benefício próprio – cumprir com os objetivos que determinara para si. Mesmo que agora estivesse motivado a salvar a vida do filho, não alterava a forma dele agir.
A mulher meneou a cabeça para que fosse seguida e assim o fizeram. Discutir qualquer assunto, no meio da vila, – mesmo que esta estivesse dormindo – não era algo muito sábio. Ela os guiou para fora dos limites do vilarejo, adentrando na área fechada da floresta. Gaara decidiu manter-se um pouco distante, enquanto Sasuke conversava com a ex-companheira, tentando convencê-la a ajudá-lo.
- Suigetsu e o Juugo? – o moreno perguntou, sabendo que ela compreenderia o que queria saber.
- Ih, esqueça esses dois. – ela aconselhou, desgostosa. - Depois que o Taka se desfez, os dois se perderam no mundo. – fez-se uma pausa, em seguida inquiriu: - Mas o que deseja de mim?
- Que encontre o meu filho. – Sasuke respondeu, abruptamente.
Karin espantou-se. Ficara confusa e, para ter certeza de que não escutara errado, indagou:
- Encontrar o quê?
Sasuke inspirou profundamente e repetiu, desviando brevemente o olhar.
- Meu filho. – E após um segundo, voltou a encará-la, determinando: - Você deve ser capaz de localizá-lo.
A mulher continuava tentando processar o que escutara de sua antiga paixão. Ainda era estranho conceber o que aquele homem acabara de lhe revelar. Não conseguia imaginá-lo como um pai de família, com uma esposa dedicada e uma vida simplória. E, pelo que se lembrava, ele tinha aquele sentimento doentio pelo hospedeiro da raposa de nove caudas. Pegou-se curiosa sobre o que acontecera na vida do amigo depois que haviam se separado.
Saindo de seus pensamentos, viu que Sasuke esperava por uma resposta e, recompondo-se do lapso, esclareceu:
- Se ele tiver a mesma linha de chakra que você, acredito que não tenha problemas. Mas… - deixando que a curiosidade tomasse o melhor de si, questionou: - Quando foi que começou a distribuir Uchihinhas por aí?
- Eu só tenho ele. – Sasuke elucidou, voltando ao assunto em questão: - Foi levado por Kabuto.
- Kabu-quem? – Karin exclamou, com olhos do tamanho de pratos, para em seguida contestar como se o moreno tivesse perdido a cabeça: - O capacho já deve estar morto, Sasuke.
- Não. – ele reafirmou, seriamente. - Pelo menos me pareceu bem vivo quando sequestrou meu filho.
Karin suspirou. Sabia que poderia ser possível. Se Kabuto estivesse mesmo vivo - como Sasuke afirmava – buscava por vingança. Mas, havia passado tanto tempo, que era óbvio prever que o fiel assistente de Orochimaru tivesse morrido ou ganhado outro rumo no mundo.
Seria um grande problema para Sasuke estar na mira de uma pessoa obcecada como Yakushi, ainda mais pelos métodos que este estava adotando: atingi-lo indiretamente. Karin não entendia como o moreno tinha o dom de atrair confusão.
O moreno sequer deveria lembrar-se de sua existência, até aquele momento. E só recordou-se, por precisar de seu dom para rastrear o chakra do filho. Ele sempre soube onde encontrá-la. Pois uma vez, há muito anos atrás, avisara que firmaria residência naquele lugar. Não negava que sempre tivera esperança de que Sasuke um dia lhe desse a chance de se aproximar, principalmente depois que ouvira da morte daquela aberração por quem o amigo se apaixonara. Só que isso nunca aconteceu.
Tirando um instante para reparar no ex-líder do time Taka, notou, - como no primeiro instante que o vira no vilarejo - o quanto os anos haviam lhe sido generosos. A feição infantil fora substituída totalmente por traços adultos e uma expressão endurecida, dando a ele um aspecto muito sério e intimidador. Ele ficara mais alto alguns centímetros, o corpo emanava uma masculinidade tentadora, ainda mais, por estar vestido com o traje que tinha o símbolo de seu clã nas costas.
Quase se estapeou mentalmente.
"Quando vou aprender a controlar minha libido?", pensou, sorrindo. E logo formulou sua própria resposta:
"Nunca."
Ignorando a presença do ruivo, que esperava um pouco mais ao longe - observando tudo de braços cruzados e encostado a uma árvore - Karin se aproximou do belo homem a sua frente, decidida a acabar com uma frustração que carregara por anos. Assim, enlaçou-o pelo pescoço subitamente, e tomou a boca dele na sua, sem dar-lhe chance de repeli-la.
Impressionado com a ousadia da mulher, Gaara assistiu a situação a sua frente com estranheza e constrangimento. Num primeiro momento, realmente pensou que Sasuke iria empurrá-la para longe, ao reparar em sua apatia ao beijo. Mas quando seus olhos fecharam e pôs-se a corresponder ao avanço de Karin, o Kazekage demonstrou estranhamento e um pouco de revolta. Com a eminência de reencontrarem Naruto, como o Uchiha tinha a coragem de…?
Bem perto dali, escondido na copa de uma das árvores altas, os olhos vermelhos observavam com a expressão enojada e rancorosa, a cena que se dava mais abaixo.
- Era isso que você queria ver? – ele falou baixo, consigo mesmo. – Você sempre foi um masoquista idiota. Correndo atrás desse Uchiha, oferecendo a ele tudo de mais estúpido que seu coração ordenasse. Espero que a visão tenha lhe dado todo o sofrimento que desejava.
Karin abriu os olhos repentinamente em meio ao beijo e afastou Sasuke bruscamente.
Vendo o estresse e a confusão impressos no semblante da mulher, Sasuke notou quando ela direcionou o olhar para o topo de uma das árvores.
- O que houve? – ele inquiriu, sabendo que para Karin estar tensa e meio defensiva, algo deveria estar errado.
- Um chakra. Naquela árvore. – sinalizou a direção com a cabeça e informou: - Tinha mais alguém aqui.
Sasuke franziu o cenho, ao mesmo tempo em que Gaara, ao ouvirem sobre o intruso. O ruivo desencostou-se da árvore e olhou para cima. Como nenhum deles percebera a aproximação ou a presença de um quarto elemento ali?
- E como você não percebeu isso antes? – Sasuke quis saber, desconfiado.
- Eu não sei. – Karin balançou a cabeça negativamente. Nem ela entendia ao certo o que ocorrera, mas não havia dúvidas sobre o que distinguira. - E o que senti foi rápido demais. Desapareceu como se nunca tivesse existido. – baixando o olhar e oscilando entre os dois homens que a observavam tão confusos quanto ela, prosseguiu: - Ninguém tem o poder de sumir assim. Mesmo que tivesse fugido, eu ainda estaria sentindo seu afastamento.
Sasuke ficou tenso de repente ao recordar-se da familiaridade com a situação que passara enquanto visitava o túmulo de Naruto. Naquele momento, ele também sentira que estava sendo observado e distinguira, apesar de fraco, um chakra. Esse mesmo chakra desaparecera repentinamente com a chegada de Hoshi. Algo em seu coração se comprimiu, causando-lhe aflição, que conteve e conseguiu camuflar. Ainda assim, indagou:
- Karin, esse chakra era familiar?
Ela inspirou profundamente e contou:
- Faz muito tempo, mas poderia jurar que era o mesmo daquele retardado do Naruto. Só que não pode ser, afinal, ele está morto. – a mulher disse, reparando na troca de olhar entre os dois homens. Desconfiada, ela quis se certificar, temerosa pela resposta que receberia: - Ele está morto, não está?
Sentindo-se subitamente irritado consigo mesmo e até mesmo com Karin, Sasuke se afastou. Queria poder se socar por sua estupidez, mas agora era tarde demais. Naruto estivera ali e vira o beijo, tinha certeza disso. Estava espionando-o, mas há quanto tempo e por quê? A Kyuubi estava no controle do corpo de seu amado, então, qual o motivo dele estar à espreita daquele jeito? Seria possível que realmente ainda existisse um pouco de seu Naruto naquele corpo?
- Eu não tenho tempo a perder. – Sasuke anunciou, friamente. - Você já teve o que queria, Karin.
Inconformada, a mulher cruzou os braços e reclamou:
- Ei, ei! Você pode demorar semanas, até mesmo meses para encontrar seu moleque sem a minha ajuda. Acredita que nas mãos de alguém como Kabuto ele terá tanto tempo? Não acha que mereço bem mais que um beijo?
Foi quando Gaara se deu conta do que aquele beijo basicamente se tratava: uma troca. Mesmo que a raiva por Sasuke tê-la beijado ainda se mantivesse presente, o ruivo também admirava a capacidade do moreno de colocar a busca pelo filho acima de qualquer questão moral que pudesse haver – se é que realmente existia – dentro de si.
- Karin… - Sasuke sibilou, demonstrando que não estava disposto a barganhar mais para conseguir a ajuda da mulher, de forma civilizada.
Ela suspirou vencida e começando a caminhar, resmungou:
- Sasuke assexuado. Vamos lá, atrás do moleque.
oOo
Hoshi escutou cada palavra que aquele homem tinha a dizer sobre seu pai. Contos de um tempo que sequer pensava em nascer. Sobre batalhas que nunca ouvira falar, enquanto outras estavam descritas apenas em livros de história. Sobre um clã que foi massacrado por ninguém menos que seu tio. Sobre o puro desejo de vingança que regera a vida de Sasuke Uchiha durante anos, e que o motivou a trair seus amigos e a machucar aquele que, há pouco soubera, ser ninguém menos que a pessoa quem lhe dera a vida.
O garoto aprendeu cada passo que Sasuke Uchiha dera para conseguir o poder necessário, para cumprir um desejo egoísta e de como ele fora bem sucedido em tal empreitada. Sasuke matara, em termos, Itachi Uchiha, o próprio irmão. Supostamente vingara a destruição de um clã que segundo as palavras daquele homem, não merecia tamanha consideração, já que o próprio tramava contra Konoha.
Soube da busca incessante de Naruto para trazer Sasuke de volta a vila. E que este abdicou até mesmo, do sonho de ser um Hokage, para cumprir com o seu objetivo e não falhar em sua busca. E de quantas vezes fora simplesmente descartado e, até mesmo, quase destruído pelo objeto de suas afeições.
De cabeça baixa, em pé no meio daquele quarto, Hoshi tentava assimilar tudo o que lhe fora contado; querendo encontrar uma ligação com o pouco que o pai lhe contara durante aquele tempo.
Seus avós… Aqueles que sabia terem sido protetores… Seu tio… Aquele que seu pai dissera ser cuidadoso e muito forte; que pensava ter morrido de uma doença.
E Naruto… Seu pai não dissera e demonstrara amar Naruto mais do que tudo no mundo?
Então, como ele poderia ter tentado matá-lo? Como conseguiria ser uma pessoa como aquela que Orochimaru descrevera?
Talvez fosse por isso que aquele loiro agora estava se voltando contra Sasuke. Contudo, ainda era difícil acreditar em toda a história.
- E como pode Naruto estar vivo? – perguntou, sentindo-se meio atordoado. - Eles não o mataram?
- Graças a mim, Hoshi-kun. – Orochimaru disse, com certo tom de orgulho em sua voz. - Sasuke me usou e depois tentou me destruir, assim como veio, mais tarde, destruir Naruto. Achei justo que ambos tivéssemos a chance de fazer com que ele pagasse por tudo o que fez.
- O que você fez? Ele parece ter a mesma idade que eu.
- Mas ele tem a mesma idade que você. Depois do velório e de Sasuke-kun deixar Konoha, recuperei o corpo de do jinchuuriki da Kyuubi e o preservei. Levei muito tempo até conseguir criar um jutsu que o trouxesse de volta a vida. – Orochimaru recordava-se de cada vida que tivera que sacrificar, da quantidade de chakra que teve que arrancar dessas pessoas para restaurar todo o sistema vital de Naruto e, consequentemente, da Kyuubi. Porém, isso não o incomodava nem um pouco, pois tivera sucesso. Depois de quinze anos, conseguira aperfeiçoar seus métodos e trazer o falecido amante de Sasuke de volta a vida. Logicamente, o loiro criara uma resistência contra a reversão, mas, ao final, foi inútil. Sorrindo, continuou: - O resultado foi perfeito, Naruto retornou como se a batalha contra os idiotas de Konoha jamais tivesse ocorrido.
Trazendo à tona as palavras de seu pai, quando este contara sobre o passado, de como Naruto morrera, Hoshi contestou:
- Mas ele não os culpava pelo o que tinha acontecido. Por que então se voltar contra?
Orochimaru riu levemente e retorquiu:
- Há coisas que vão além de sua compreensão, Hoshi-kun.
O garoto fechou a expressão e, com uma determinação impressa nos olhos negros, afirmou:
- Eu não acredito em você. – Ele viu o homem pálido erguer uma das sobrancelhas e prosseguiu: - Meu pai não é o tipo de pessoa que você descreveu! E, se esse Naruto idiota está contra ele agora, depois de tudo, então, está contra mim também.
Acreditava em seu pai, mesmo que a verdade tivesse sido omitida, confiava no caráter dele, na pessoa que conhecia. E não numa versão inventada por alguém que mal conhecia. Devia isso a seu otousan. Verdade ou não, ninguém o colocaria contra a única pessoa que amava no mundo.
- Quanta devoção, mesmo sabendo que seu pai não merece nem mesmo o presente de ter você. – Orochimaru disse, debochadamente.
- Ele pode não ter me contado todas essas coisas ruins, mas eu sei que foi só para me poupar. – falou, de maneira petulante.
- Mesmo se soubesse que ele seria capaz de destruí-lo para ter Naruto de volta? – o homem de lisos e longos cabelos negros, rebateu.
Hoshi franziu o cenho. Aquela fora a coisa mais estúpida e absurda que já ouvira até ali. Seu pai jamais trocaria sua vida pela de outra pessoa. Nunca! Aquele imbecil a sua frente só poderia ser louco, não tinha outra explicação.
- Ele não seria capaz… - começou a dizer, mas foi interrompido.
- Você não sabe do que Sasuke-kun é capaz… - Orochimaru o contrariou. - Ah, sobre a parte que eu realmente queria lhe contar, Hoshi-kun… Está disposto a ouvir o que tenho a dizer sobre o seu pai?
Hoshi riu, realmente achando engraçado que o tal Orochimaru insistisse em querer ludibriá-lo.
- Você ainda não terminou?
Passando a língua pelos lábios, Orochimaru se aproximou mais do garoto a sua frente, notando sua apreensão. Gostava das reações que vinham daquele rapaz e da forma que não se cansava de enfrentá-lo com aquele olhar petulante.
- Eu praticamente, não falei nada sobre seu pai. – confessou, num tom falsamente inocente.
- Como não? – Hoshi questionou, não retroagindo ante a presença do homem diante de si, encarando os olhos deste sem desviar. Se existia algo mais sobre o passado de seu pai que ainda ficara por dizer, não acreditava que seria pior do que o que já ouvira.
Mas o menino sentiu-se ainda mais tenso quando o rosto de Orochimaru se inclinou, aproximando-se do seu ouvido, sussurrou:
- Itachi Uchiha. Eu quero lhe contar sobre Itachi-san. – ele disse, com um sorriso evidente em sua voz e, após uma breve pausa, finalizou: - Seu pai.
O sangue pareceu se esvair de seu corpo, bem como o coração que falhou uma batida em seu peito. Teria escutado direito? Ou apenas interpretara errado? O que aquele homem estava querendo insinuar, afinal?
Sua falta de reação – o atordoamento em meio ao choque - só permitiu que as palavras deixassem seus lábios quase debilmente.
- O quê?
Um riso abafado, perto de sua orelha, causou-lhe um arrepio. Em seguida, escutou o outro retrucar:
- Eu não disse que existiam coisas que Sasuke-kun omitira? Ou seria mentiu? – ponderou irônico, tocando a cintura do garoto e passando a língua pelo lóbulo de sua orelha, ousadamente. - Afinal, todos acreditam realmente que você é filho dele.
Tomado por um sentimento de raiva e negação, Hoshi empurrou Orochimaru para longe de si e, furioso, esbravejou:
- Eu sou filho dele! – Encarou o olhar indiferente do homem e com as orbes negras oscilando para uma expressão quase de súplica, indagou: - Não sou? – sentindo o peito doer ao notar que o homem não se retratava no que dissera, Hoshi explodiu: - Ele disse que eu era!
- Pois ele o enganou. – contrariou, divertindo-se com o sofrimento que via transbordar do rapaz. E, sem piedade, continuou: - Você tem o sangue Uchiha correndo em suas veias, mas não é o sangue de Sasuke-kun. Seu progenitor foi Itachi-san.
- Não… Isso está errado. - Hoshi negou, balançando a cabeça, e acusou: - Você é quem está mentindo!
Orochimaru riu. Era impressionante como algumas palavras poderiam destruir a alma de uma pessoa. Presenciava isso bem diante de si, na forma como o garoto tentava enfrentar a realidade, sem muito sucesso.
- Não tenho motivos para mentir. – afirmou, apreciando a umidade que começava a se criar nas belas orbes ônix do jovem. - Acredite, você é filho de Naruto Uzumaki e Itachi Uchiha… E você se parece tanto com Itachi-san. – finalizou, quase nostalgicamente.
O barulho da porta se abrindo e a entrada repentina do rapaz loiro, chamou a atenção de ambos, interrompendo bruscamente a conversa que tinham ali.
- Nosso acordo não foi esse, Orochimaru. – o Jinchuuriki citou.
- Existem cláusulas que não foram bem especificadas em nosso acordo, Naruto-kun. – O homem replicou, cinicamente.
Estreitando os olhos para o Sannin, o loiro alertou:
- O moleque está fora do seu alcance.
- Devo presumir que está agindo em defesa de sua cria. – Orochimaru ironizou, implicando com o outro.
- Presuma o que quiser. – disse, de forma desinteressada. - A única coisa que quero é destruir Sasuke Uchiha. E, quando minha vingança estiver realizada, nosso trato se findará.
Ignorado dentro daquele quarto pelos outros dois, Hoshi sentia a mente espiralar. Tudo o que Orochimaru lhe contara desde o início de sua conversa, até o presente momento, fazia com que o ódio e a mágoa se chocassem violentamente, principalmente, perante a presença de Naruto. Se sua vida estava se transformando num inferno, o único culpado era ele. Se fosse verdade o que lhe fora revelado, o loiro fora quem causara todo o caos.
- Como você pode? – estourou, com as mãos fechando fortemente em punho, encarando furiosamente o outro jovem. - Ele sofreu todo esse tempo com a sua morte! Como pode pensar em machucá-lo?
Com os olhos vermelhos voltando-se na direção do filho, Naruto rechaçou:
- Ficaria surpreso com o quanto de dor e sofrimento seu querido Sasuke causou.
- Ficando sentimental? – Orochimaru não perdeu a chance de debochar de seu subordinado. - Quem diria…
O olhar aguçado direcionou-se repentinamente para o moreno e o loiro sibilou:
- Cale a boca, ou eu mesmo te mato, cobra nojenta.
- Meu pai não… - Mais uma vez Hoshi tentou ir em defesa de Sasuke, mas foi rispidamente interrompido.
- Não escutou o que lhe foi dito, pirralho? – Naruto indagou vendo o garoto engolir em seco. – Sasuke não é seu pai. Ele é um demente ignóbil que só sabia ser manipulado pelos outros e nem isso ele conseguia fazer direito. – apontou com rancor. - Ficava batendo cabeça, achando que precisava sempre vingar alguém, odiar alguém, e não tinha sequer força suficiente para isso. Sempre foi um fraco.
Mesmo balançado pela confirmação de Naruto de que Sasuke não era seu pai, Hoshi lembrou-se das palavras do mais velho, dos anos em que amou somente a ele e mais ninguém e assim, tentou gerar algum tipo de emoção naquele rapaz que deveria ter algum sentimento por seu otousan.
- Ele disse que você era importante… Ele ama você!
- Sasuke Uchiha não ama a ninguém, além dele próprio. – contrariou as palavras do garoto. - As coisas só têm importância para ele quando o estão favorecendo de alguma forma. Você foi uma conveniência, porque Sasuke queria reerguer o clã maldito. Entretanto, em nenhum minuto, ele pensou nas conseqüências. E, de tão fraco que era, permitiu que eu tomasse a frente de uma batalha inteira a favor de Konoha. E como solução, para eliminar o último problema que a vila tinha, preferiu me destruir.
- Meu pai não é assim! – gritou frustrado. - Ele não permitiria que o matassem se tivesse escolha!
- Acorde, pirralho! E admita que não conhece o homem chamado Sasuke Uchiha. Você não sabe nada sobre ele!
Orochimaru observava, quieto, a discussão entre pai e filho. Achando curioso o modo como Hoshi insistia em negar a realidade, e a forma como o loiro lidava com a cria, com a qual tivera pouco contato. Definitivamente, era interessante ver a animosidade que crescia entre eles, principalmente dentro de Hoshi. O garoto parecia pronto a atacar o próprio pai, ou simplesmente desmoronar ali mesmo, devido às lágrimas que ameaçavam transbordar dos olhos negros.
- Não importa qual seja a história, eu conheço meu otousan e ele nunca, NUNCA, seria isso que vocês o acusam! – Hoshi insistiu. Mesmo que Sasuke não fosse seu pai, mesmo que a dor em seu coração fosse insuportável por saber que o vínculo que existia com ele nunca fora o que acreditou ser, durante toda uma vida. Ainda assim, não permitiria que eles o subestimassem. – E a única coisa por qual lamento, é por ele ter se apaixonado por uma pessoa como você!
- Uma pessoa como eu? – Naruto ergueu uma das sobrancelhas loiras, e com escárnio relatou: - Alguém que correu atrás do sobrevivente do clã maldito, não permitindo que este acabasse virando uma mera marionete nas mãos de pessoas como Orochimaru? – Ele sequer fez questão de tomar noção da cara desgostosa que o homem pálido lhe lançara, limitando-se a fitar Hoshi. - Alguém como eu que deu a vida para salvar a dele e a sua, moleque inútil?
- Alguém como você deveria ter ficado morto. – Hoshi cuspiu com raiva, os olhos escuros, em meio às lágrimas que agora escorriam livremente pelo rosto alvo, oscilaram adquirindo rapidamente uma tonalidade intensa de vermelho.
No segundo seguinte, tudo se perdeu.
oOo
Continua...
Notas da Blanxe:
Dessa vez eu acho que não demorei, não é mesmo?
Espero postar o próximo capítulo em breve.
E quero agradecer a todos que vem me mandando reviews e me incentivando a continuar atualizando esse projeto.
Muito obrigada mesmo!
