Autora: Blanxe
Beta: Dréinha (Andréia Kennen)
Casal: SasuNaru
Gênero: Yaoi, Romance, Angst, Drama, Tragédia, Referência a M-PREG.
Reminiscência
Estou agüentando outro dia
Só para ver o que você jogará no meu caminho
Estou me segurando nas palavras que você diz
Você disse que eu ficarei bem...
oOo
Onde eu estou? – Hoshi se perguntava confuso, andando pelos corredores daquele lugar sinistro e desconhecido. Não poderia negar que estava assustado, mas não hesitava em continuar a caminhar, enquanto se indagava o que havia acontecido.
Estava discutindo com Naruto, quando de repente a raiva se tornou tão grande…
E agora estava ali.
A lembrança do motivo de tanto ódio emergia aos poucos em sua consciência. As palavras de Orochimaru, toda a história sobre o passado de seu pai…
Não…
Sasuke não era seu pai.
O maldito Naruto confirmara.
Tudo o que acreditava, destruído.
Gostaria de conversar mais – não com o odioso jovem que infelizmente lhe dera a vida – mas com Orochimaru. Ele o afetava menos que o loiro e, certamente, responderia suas perguntas. Pelo menos, mostrara-se disposto a isso, principalmente, pela forma como o tratava. Através dele, ficaria sabendo sobre a situação real de seu nascimento e sobre Itachi…
Seu coração doía só de pensar que seu otousan – Sasuke – não era realmente quem pensava ser. Continuava difícil imaginar uma inversão de papéis. O homem que ouvira falar e a quem conhecia como sendo seu tio, era ninguém menos que seu verdadeiro pai…
Indagava-se sobre o que Orochimaru insinuara. O tipo de pessoa que Sasuke era e, se ele de fato o eliminaria, se a recompensa para isso fosse ter Naruto de volta.
Levando em consideração o que ele fizera no passado, o jovem que fora descrito para si, o amor que Sasuke sentia pelo garoto de cabelos loiros… Se ele tivesse mesmo cuidado e aceitado sua existência para satisfazer Naruto, então…
Balançou a cabeça negativamente querendo afastar aquela linha de pensamento, pois, no momento, tinha que se preocupar em descobrir que lugar era àquele, onde fora aprisionado. E, o mais importante, como sair dali.
Seus passos eram quase cautelosos, enquanto torcia o nariz ao sentir seus pés sob aquela água nojenta que cobria o chão. Olhava ao redor, as paredes, os corredores, tudo lembrava muito uma galeria de esgoto.
Como infernos viera parar ali?
Seu cenho se franziu ao alcançar um enorme portão. Imaginou que talvez fosse a saída daquele lugar estranho. Contudo, ao se aproximar vagarosamente, a escuridão que era retida além das grades, mostrou-se, na verdade, como uma prisão, e admirou-se ao ver o selo que estava colado ali.
Desconfiado e receoso, Hoshi se aproximou mais das grades e chamou:
- Tem alguém aí?
Sua voz ecoou sem resposta pelas paredes daquele lugar. E, apesar de aparentar estar completamente sozinho, sua visão aguçada distinguiu algo além daqueles portões. Criou coragem, tocou as barras douradas e forçou-se a enxergar o que existia no fundo daquela cela.
Suas mãos se fecharam com mais força ao redor do metal, enquanto engolia em seco para tentar amenizar o bolo que se formara na boca de seu estômago.
- Ei! Se isso é uma brincadeira sua, bastardo, é melhor parar de palhaçada!
A forma sentada, encolhida e encostada em uma parede, não lhe respondeu; sequer se moveu de sua posição. Não tinha duvidas: era o maldito Naruto.
No entanto, existia algo de diferente…
Hoshi observou com mais atenção a palidez no rosto, nos braços largados ao lado do corpo e, principalmente, no olhar do loiro. Estes eram tão límpidos, belos e azuis, como o céu num dia de sol.
Nunca vira aqueles olhos antes. O Naruto que conhecia e que lhe causava tanto ódio tinha aqueles carregados orbes vermelhos com pupilas verticais, enquanto o adolescente que se encontrava ali…
Não poderia ser…
Não poderia…
O demônio.
Seu pai lhe contara sobre o demônio. O ser desprezível que fora lacrado dentro do garoto quando ainda era apenas um bebê.
Seu raciocínio formou-se rápido, levando em consideração as possibilidades, tudo o que ouvira, até então, e chegou numa provável resposta.
Como não percebera antes?
- Ei, Naruto! – chamou alto, querendo tirar suas dúvidas. - Está me ouvindo?
Nada.
O loiro não respondia e, pela primeira vez, Hoshi sentiu uma pontada estranha no coração. Aquele Naruto parecia um boneco quebrado que fora jogado e esquecido ali. Não havia vida, nem mesmo nos surpreendentes olhos azuis. Estes estavam entreabertos, cansados, desfocados e o semblante que só vira exibir expressões debochadas, irônicas e ameaçadoras, agora demonstrava apenas, uma nuance de tristeza.
- Ei!! Fala comigo! – exigiu, sacudindo as grades e criando um eco do metal por todo o lugar. – Naruto!
Uma mão foi espalmada violentamente contra a grade, fazendo com que Hoshi se sobressaltasse.
- Querendo criar confusão onde não deve, filhote? – a voz lhe perguntou, causando calafrios em sua coluna. E não precisava se voltar para trás para saber quem era.
Recuou um passo quando repentinamente, aquele Naruto que desprezava, se materializou na sua frente, do outro lado do portão.
Assustado, viu o sorriso se alargar nos lábios do garoto de olhos vermelhos. Provavelmente ao constatar que ele, Hoshi, estava com medo. Mesmo assim, acusou:
- Você não é o Naruto. É a raposa de nove caudas!
A risada do loiro repercutiu pelos corredores e, foi com admiração, que ele comentou:
- Que orgulho aquele idiota teria se visse que não herdou os neurônios dele, moleque. Mas, como vê… - meneou a cabeça para trás, na direção do corpo largado, e informou: - Naruto não tem mais como se orgulhar de nada.
Ainda não compreendia exatamente o que significava tudo àquilo. Entretanto, sua dedução fora rápida. Quando àquele garoto era vivo, ele carrega dentro do seu corpo, um demônio selado. Agora, a história parecia ter se invertido. O demônio estava vivo, e carregava o garoto selado dentro dele. E, por mais que não simpatizasse com Naruto, achava a situação injusta.
O menino voltou seus olhos para o corpo que aparentava estar desprovido de vida, no entanto, direcionou sua pergunta para Kyuubi:
- O que você fez com ele?
- Eu não fiz nada. – Kyuubi respondeu, seriamente. - Sasuke Uchiha fez.
Trincando os dentes, Hoshi rebateu:
- Meu pai nunca faria nada contra o Naruto.
Se existia uma coisa da qual tinha certeza, essa era o amor de Sasuke por Naruto. Inegável e incomensurável…
De qualquer forma, confirmara assim que aquele garoto que era semelhante ao Naruto, não passava da raposa de nove caudas. Ficou em silêncio por um instante, formulando perguntas em sua cabeça. Precisava questioná-lo, e tentar assim, agrupar o máximo de informações possíveis:
- Que lugar é esse?
- Essa é a minha mente, a qual você só foi capaz de entrar por causa desses seus olhos amaldiçoados. – explicou e, com um sorriso de puro escárnio, finalizou: - Quem diria que herdaria o Sharingan dos Uchiha.
Os olhos, agora não mais escuros e sim vermelhos, se arregalaram ante a insinuação da Kyuubi.
- Sharingan… - ele sussurrou, se conscientizando que havia realmente algo diferente com sua visão.
Seu pai havia lhe contado sobre aquele poder único do clã Uchiha, no entanto, com sua idade e sem qualquer treino especifico, jamais imaginou que um dia despertaria o Sharingan. Porém, agora entendia perfeitamente como fora parar ali.
- Você está prendendo o Naruto aqui, não é? – olhou para o selo e depois novamente para o demônio de olhos vermelhos. – Por isso você tem o controle do corpo dele.
- Óbvio, filhote. – Kyuubi respondeu, com um leve dar de ombros.
- Eu não sou seu filho! – retorquiu, irritado com a maneira que o outro se referia a si.
- Ah, mas de certa forma é. Meu filhote. – O loiro a sua frente disse arrastadamente. - Se não fosse por mim, por minha intervenção, aquele idiota ali jamais teria como dar a luz a um filho. Eu fui a fonte de poder que o manteve nesse corpo. Graças a mim, hoje você existe.
Um vinco se formou entre as sobrancelhas finas e escuras de Hoshi. Que o demônio interveio para que seu nascimento fosse possível, isso já sabia. Mas, qual fora o propósito? Existia algum, ou…
- Se você fez isso, então, se importa com ele. – concluiu seu pensamento.
Como a Kyuubi não confirmara, muito menos, negara sua afirmativa. Hoshi assumiu positivamente a implicação que fizera. Aquele demônio se importava com seu hospedeiro a ponto de dar-lhe a possibilidade de gerar um filho. Porém, se isso fosse mesmo a verdade, então, por que permitia que Naruto ficasse daquele jeito?
- Por que não faz nada? Por que ele está assim?
Com uma risada abafada, Kyuubi se afastou dos portões, dando as costas para Hoshi. Adentrando a cela, retrucou:
- Como se eu fosse permitir que ele voltasse a comandar esse corpo e cometer as mesmas besteiras de antes. – Kyuubi se aproximou do corpo de Naruto e, se abaixando junto a este, apontou, fitando seu hospedeiro. – Vê isso? É apenas o resultado do resto de esperança que ele tinha em Sasuke, que se esvaiu. – Segurou o rosto apático do loiro pelo queixo, erguendo-o para si, fazendo Hoshi se contrair, pela forma desgostosa, mas ao mesmo tempo terna, que o demônio encarava o garoto. – Tão tolo e apaixonado… Ver a pessoa que tanto ama nos braços de outro alguém pode ser um ferimento tão letal quanto a lâmina de uma espada cravada certeira no coração.
Sem entender sobre o que aquele demônio se referia, Hoshi inquiriu, confuso:
- Do que está falando?
Kyuubi largou bruscamente o rosto de Naruto e, se levantando, negou dar-lhe uma resposta:
- Não lhe interessa, moleque.
Hoshi, mais uma vez, analisou a situação. Viu o demônio ainda fitando o corpo passivo de Naruto, desviou os olhos para o selo no portão e engoliu em seco.
- Então, ele ainda pode voltar. Se eu tirar esse lacre… - murmurou para si mesmo, estendendo a mão para alcançar o selo.
No entanto, sobressaltou-se, ao sentir seu pulso agarrado, quando estava prestes a tocar o papel.
- Não ouse! – Kyuubi grunhiu, surgindo a milímetros de distância de seu rosto, segurando-o tão forte que as garras marcaram sua pele alva.
Antes que pudesse pensar em reagir, foi lançado por um forte empurrão para longe da cela.
A realidade voltou a clarear e seu corpo se chocou contra a madeira da cama.
A força do impacto nas suas costas tirou o ar de seus pulmões, momentaneamente. E os poucos segundos que teve a chance de reconhecer que retornara para o quarto, desapareceram quando sua visão escureceu e seu corpo pendeu para o chão, desmaiado.
Admirando com o que vira, Orochimaru sorriu obliquamente e indagou para um ofegante e atordoado "Naruto", que segurava a cabeça com uma das mãos como se sentisse algum tipo de dor.
- Precisava dessa agressividade?
- Esse fedelho enxerido invadiu minha mente. – resmungou, contrariado, e avisou: - Ele sabe que Naruto está preso e quem eu sou na verdade.
Aquilo para Orochimaru não era nada que ameaçasse algum de seus planos. Aproximou-se do garoto e verificando que este estava apenas desacordado, pegou-o nos braços e o deitou na cama, gentilmente.
- Isso o incomoda? – o Sannin questionou, se referindo ao fato do menino ter descoberto sobre a verdadeira identidade daquele quem dominava o corpo do loiro agora.
- Não. – disse, balançando a cabeça e observando Hoshi completamente apagado na cama. - Desde que ele não tente fazer de novo.
- Não é surpreendente? – Orochimaru comentou, admirando o semblante do garoto. - Hoshi-kun herdou o Sharingan, afinal.
Ouviu um grunhido ameaçador vindo do garoto loiro, quando sua mão tocou o rosto suave e alvo do garoto.
- Já mandei tirar as patas dele! – Kyuubi esbravejou.
Orochimaru riu, se divertindo com o estresse evidente do outro, notando a forma como ele, instintivamente, queria proteger o mais novo.
Estúpida criatura…
Poderia espernear, rosnar ou o que quisesse. Nada faria com que deixasse de expressar seu interesse por Hoshi, ainda mais vendo nele, nitidamente, a inegável e absurda semelhança com Itachi.
- Por onde esteve? – quis saber, se levantando da cama e se afastando do garoto, pelo menos por enquanto.
- Vigiando os passos de Sasuke Uchiha. – Kyuubi respondeu, deixando que a tensão sucumbisse com a distância que aquela cobra estendera entre Hoshi. - Ele está a caminho. Pediu ajuda a uma mulher que, ao que parece, pode rastrear o chakra do moleque.
O moreno de olhos âmbar pensou um pouco. Mas, rapidamente, deduziu quem poderia ser a pessoa a quem Sasuke pedira auxílio.
- Karin. Ela saberá exatamente onde estamos.
- O que pretende fazer? – O adolescente de olhos vermelhos retorquiu. - Fugir?
- Não. – negou rindo. - Onde estaria a diversão se não promovêssemos um reencontro entre pai e filho, depois de tudo o que contei a Hoshi-kun?
O loiro não sorriu, sequer reagiu ante a intenção por trás das palavras de Orochimaru. Contudo, por dentro ansiava por aquele momento.
O momento que veria aquele Uchiha definitivamente quebrado e sozinho.
oOo
Sasuke olhava para o fogo crepitando como se estivesse em transe. Na verdade, estava apenas perdido em seus pensamentos. Sentado no chão de terra, encostado a uma árvore, contabilizava mais uma noite a caminho do esconderijo onde seu filho provavelmente era mantido. Karin estava conseguindo rastreá-lo, mas ainda faltava um pouco para alcançarem seu destino. Por ele, não teriam parado, mas a mulher reclamara de fome e insistira que deveriam descansar. Só por isso dera aquele tempo: para poderem comer e recompor as energias. No entanto, estava inegavelmente inquieto por dentro.
Debatia-se mentalmente entre sua ânsia de reencontrar Hoshi e sobre o episódio da floresta, onde permitira ser beijado por Karin, e correspondera. Certamente Naruto o vira.
Naruto ou Kyuubi?
Preferia acreditar que fora apenas a maldita raposa de nove caudas.
De qualquer forma, sentia falta do filho. Nunca haviam se separado por tanto tempo, e a ausência dele o incomodava. Principalmente, pela preocupação quanto ao seu bem-estar. Com Karin tendo localizado sua energia, garantira que estava vivo e bem, mas até quando poderia se permitir acreditar que nas mãos daqueles dois seres - Kyuubi e Kabuto – Hoshi, realmente estaria cem por cento bem?
Só em imaginar que um pequeno arranhão pudesse ser causado ao filho, sentia o sangue ferver de ódio. Especialmente, por aqueles que ousaram tocá-lo e tirá-lo de junto de si.
Naruto não o perdoaria.
Seu Naruto…
O coração angustiava-se e doía toda vez que pensava em seu dobe, agora. Aquele golpe que estavam utilizando contra si era baixo demais. Usar o corpo de seu falecido amante para desestabilizá-lo, para trazer de volta uma esperança e massacrá-la ao mesmo tempo, era algo doentio.
Mas, mesmo que fosse falso, poder vê-lo novamente, depois de anos, aquecera o vazio que existia em seu âmago.
Queria que Naruto estivesse bem, que sua essência não se limitasse somente a ser um novo corpo para o demônio de nove caudas. Queria que lá dentro, ainda existisse pelo menos um pouco, de seu amor… Essa seria a pequena chama que trazia esperança para tentar ter a pessoa que tanto amava de volta para si.
Estava desesperado, sabia disso. Desesperado por um meio de ter seu amante ao seu lado como antigamente. Queria poder abraçá-lo, beijá-lo, senti-lo verdadeiramente e, quando acordasse, sorrir contente por ver que tudo deixara de ser somente um sonho.
Não aguentava mais sonhar… Desprezava os malditos pesadelos que o lembravam de sua falha, sua perda.
Se existisse um meio de que seu Naru…
- Está pensando no que aconteceu na floresta? – Gaara interrompeu seus pensamentos, sentando-se ao seu lado no chão da pequena clareira.
- Não é da sua conta. – resmungou, chateado por ter sido interrompido.
Para Sasuke, infelizmente, as palavras ríspidas não tiveram efeito no ruivo.
- Se a mulher estiver certa, - Gaara meneou a cabeça na direção de Karin, que atiçava o fogo com um graveto. - ele viu tudo.
Sem desviar os olhos do fogo, Sasuke retorquiu convicto:
- Ele não é o Naruto.
Gaara ficou quieto e Sasuke se satisfez por um momento, pensando que suas palavras haviam sido suficientes para calar o outro, mas se enganou. Para alguém cuja personalidade - assim como a sua - ressaltava-se a introspecção, o ruivo estava muito sociável para seu gosto. Talvez os anos tivessem mudado aquele homem, afinal, há quanto tempo tinha contato com ele?
Quebrando sua perspectiva, o Kazekage sussurrou, pesaroso:
- Também está tentando se agarrar a isso?
Percebia que tanto ele, como Gaara pensavam da mesma forma, e isso o incomodava. Mas as palavras dele foram o bastante para que abaixasse um pouco a guarda e confessasse, num timbre que quase deixara transparecer sua desolação:
- É só o que eu tenho para me segurar.
Achava estranho estar tendo aquele tipo de conversa com um de seus maiores rivais do passado, pelo afeto de Naruto. Porém, existiam anos que separavam aquela rivalidade. O motivo pelo qual se estranhavam, havia morrido e, mesmo que estivesse em parte de volta, no fundo sabia que seria infantilidade sua manter aquela rixa. Não era mais um adolescente de quinze, para dezesseis anos, movido por atitudes impulsivas, mesmo que Gaara continuasse sendo uma pessoa mal-quista por si.
- Tem que começar a pensar na possibilidade de termos que eliminá-lo mais uma vez. – O ruivo o alertou, cauteloso, analisando suas reações. – Deve se preparar para isso.
Mediante aquelas palavras, Sasuke virou o rosto para encarar o homem sentado ao seu lado e com o olhar endurecido, afirmou:
- Minha única meta, no momento, é salvar o meu filho. Não vou pensar em nada além disso.
Para si, sua última frase soara falsa. Contudo, não estava mentindo, seu objetivo acima de qualquer coisa, estava em resgatar Hoshi. Todavia, mentia ao afirmar que não pensava mais em nada. E parecia que Gaara também não comprara o que dissera.
- Mas o obstáculo que está se interpondo entre você e sua meta é exatamente esse. – O ruivo ponderou e, em seguida, aconselhou: - Pense friamente, Uchiha, caso contrário, poderá colocar em risco todo seu objetivo.
- Cale a boca, Gaara. – Sasuke grunhiu irritado, perdendo a paciência por ele teimar com aquele assunto. Mesmo... sabendo que ele tinha razão.
Mentalmente, se indagava se o Kazekage estava buscando se preservar, enquanto tentava evidenciar melhor a situação que poderiam vir a enfrentar.
Contudo, se já não bastasse o ruivo lhe chamar a atenção, o mesmo acabou ganhando o apoio de Karin, que de onde estava, - perto do fogo - respaldou o que o outro havia dito.
- Ele tem razão, Sasuke. - ela assegurou, olhando-o diretamente através dos óculos que refletiam partes da cor alaranjada das chamas da fogueira. - Eu não sei muito sobre o que está acontecendo, mas se você não estiver preparado, pode esquecer o intuito de ter seu moleque de volta, porque, acredite, não conseguirá sobreviver para recuperá-lo.
Foram palavras duras, entretanto, realistas. Karin tinha razão. Precisava se conscientizar que, se viesse a estar frente a frente com Naruto, não poderia hesitar, caso contrário, acabaria morto…
Acabaria falhando estúpida e vergonhosamente com Hoshi.
Pelo menos, esperava ter, até lá, tomado todas suas decisões. E que sua determinação não vacilasse perante a força do que ainda sentia por aquele loiro.
oOo
Tsunade terminava de ler a mensagem recém-chegada do time que ela enviara em busca do filho de Sasuke Uchiha. A sua frente, sua fiel assistente olhava em expectativa, ao mesmo tempo em que, após algumas batidas na porta, a presença de Sakura foi percebida por ambas.
A discípula da Sannin havia reportado, há alguns dias atrás, sobre a violação do túmulo de Naruto. Bem como a constatação de que, certamente, estariam lidando com o verdadeiro, e não com uma réplica do garoto.
A loira recebera também o comunicado de que o Kazekage partira acompanhando Uchiha e, por isso, não poderia ser mais grata. Sasuke, acima de tudo, era impulsivo. O moreno tinha o costume de reclamar da impulsividade de Naruto, quando ele próprio dividia o mesmo defeito. Prova disso, era como se precipitara ao partir daquele jeito, ainda recuperando-se de ferimentos causados no ataque que sofreram. Por isso, estando Gaara junto com ele, já a deixava menos preocupada, pois, sem dúvidas, o ruivo saberia lidar e deter qualquer atitude que pudesse ser prejudicial para eles.
Mas esperava que pelo menos Sasuke, tivesse a ciência de que nada poderia ser mudado; que o passado era imutável. E deveria estar preparado para o sofrimento que viria ter, caso o desfecho pendesse para a aniquilação do hospedeiro da raposa de nove caudas.
A certeza de que não restava nada, além da odiosa Kyuubi, em seu protegido, fazia com que a Hokage se deprimisse um pouco. Tanta luta. O desfecho trágico. E, no final, Naruto acabou perdendo seu corpo, completamente dominado pelo demônio.
- Sai enviou outra mensagem. – avisou em voz alta, para que Shizune e Sakura, que se aproximava de sua mesa, escutassem. - Eles parecem ter encontrado uma pista de onde estão escondidos.
A notícia trouxe um misto de alívio e insegurança para ambos os semblantes das duas mulheres, agora, a sua frente. Mas foi a morena quem acabou por questionar:
- O que vai fazer, Tsunade-sama?
- Eles têm ordens de trazer o filho de Uzumaki e Uchiha de volta. – atestou, o que era mais óbvio e fácil para ela responder.
- Mas acha que conseguirão? – a mulher de cabelos rosa, indagou. - Se tiverem que enfrentá-lo, acha que poderão perseverar?
O elemento que ficara implícito no que sua discípula dissera, não precisava ser denominado. Falavam da possibilidade do time ANBU, formado por aquelas pessoas de confiança, acabar hesitando quando estivesse frente a frente com o inimigo: Naruto. Os quatro que formavam aquele grupo, acima de tudo, haviam sido amigos do loiro; pessoas que se importavam e amavam o jinchuuriki. Todavia, Tsunade tinha que confiar na responsabilidade e profissionalismo dos seus subordinados naquela missão.
- Eles têm ordens de evitar um confronto direto. A meta deles é permanecerem incógnitos e resgatarem Hoshi, sem gerar alarmes. – a loira esclareceu, percebendo de imediato, que fora compreendida pelas outras duas.
- E quanto a Sasuke e o Kazekage? – Shizune questionou.
- Eles estão fora de minhas mãos. – Tsunade suspirou. – Mas confio em Gaara, então, vamos rezar para que ambos não se machuquem.
Se pegando a um momento para pensar em consequências e decisões, Sakura concluiu que ficar esperando de braços cruzados, - enquanto seus amigos corriam risco - estava longe de ser uma opção para si.
Dando um passo a frente, ela se pronunciou:
- Tsunade-sama, permita que eu vá ao encontro deles? Sei que posso ajudar.
A Godaime olhou com comiseração a garota que treinara, e que agora, era uma mulher feita. Além do que, se transformara numa médica melhor do que jamais fora. Infelizmente, via nas orbes verdes, o mesmo brilho de desespero que acreditava existir nos olhos de Sasuke: a vontade de mudar o passado; uma segunda chance.
Era triste ver o quanto estavam se enganando.
- Sakura, sei como se sente, mas não vai adiantar…
- Eu não quero tentar trazê-lo de volta ou lutar. – Sakura a interrompeu, com a voz e o olhar em súplica, implorando para que fosse compreendida… suplicando por mais uma chance. - Só preciso estar por perto, se por acaso, precisarem de mim.
Mesmo se penalizando internamente, Tsunade olhou com firmeza para a discípula. E, usando de um tom repreensivo e duro, para fazê-la abandonar aquela ilusão, contrapôs:
- Pare com isso, Sakura. O que aconteceu no passado, não há como mudar. – percebeu a mednin se retrair ante ao timbre das palavras, mas Tsunade não se deixou ter pena naquele momento e apenas prosseguiu: - Você tentou tudo o que pôde e sabe que não foi o suficiente. Não se martirize achando que as coisas serão diferentes agora.
Shizune permaneceu em silêncio, sem expressar qualquer opinião, ao perceber a ameaça velada no olhar de sua superiora. Mas reparou nos punhos de Sakura se fechando. Ela estava lutando contra suas próprias convicções e a dura realidade que Tsunade queria que fosse entendida.
- Pode haver um jeito de selar novamente a Kyuubi… O Naruto ainda pode… - Sakura tentou expor pensamentos que sua superiora já sabia, por isso, fitou a Godaime em pura angústia e implorou: - Deixe-me ir… Por favor.
- Você fica. – a loira determinou, sem vacilar. - E isso é uma ordem, Haruno.
Engolindo em seco, Sakura assentiu com a cabeça e antes de se retirar, replicou:
- Sim, senhora.
Com consternação, Shizune acompanhou com o olhar a saída de Sakura da sala, para somente depois voltar-se para sua superiora e questionar:
- Não acha que foi muito dura com ela?
- Acho. – Tsunade confessou, com um pouco de remorso no semblante. – Mas passar a mão na cabeça dela só pioraria as coisas.
Shizune assentiu, aceitando o ponto de vista da Godaime, acreditando, acima de tudo, que ela sabia o que dizia e fazia, quando o assunto era o bem estar daqueles que estimava.
oOo
Hoshi despertava lentamente de seu estado inconsciente. Desorientado, seus olhos negros se abriram parcialmente, fitando o teto do quarto. Segundos se passaram, até que tudo retornasse a sua mente de maneira dolorosa. Reconheceu o local como sendo o cárcere onde Orochimaru o mantinha preso e lembrou-se dos últimos eventos vividos ali…
Permitiu que os olhos se fechassem novamente, sentindo a ardência das lágrimas que queriam aflorar. Desejava ter acordado e ver que tudo não passara de um pesadelo, porém, estava longe de ser um sonho ruim. A realidade conseguia ser pior do que qualquer outra situação que um dia pudesse ter imaginado.
Sasuke não era seu pai.
Naruto estava preso num selo dentro do próprio corpo.
A raposa de nove caudas tinha um desejo de vingança doentio por seu otousan.
Não…
Sasuke não era seu otousan…
Não era…
Não era…
Respirou fundo, buscando acalmar o pânico que ameaçava dominá-lo.
Recordou-se de sua vida ao lado do homem chamado Sasuke Uchiha e de como o conhecia, melhor do que qualquer um.
Ele não mentiria.
Nunca.
Reavaliando friamente as atitudes de seu pai, - as que conhecia e não as que foram ditas por Orochimaru e Kyuubi - existia a omissão, Sasuke omitira muita coisa. Ele mesmo afirmara que fora para protegê-lo. Hoshi compreendera, depois, a posição dele.
Tinha que pensar friamente. Não podia permitir que seu lado emotivo falasse mais alto num momento como aquele. Aquelas pessoas queriam ferir Sasuke, se vingarem dele. Eles o haviam sequestrado com um propósito. E agora começava a entender o por que: O interesse era muito grande em fazê-lo acreditar que Sasuke era uma pessoa ruim.
Eles queriam jogá-lo contra seu otousan.
Óbvio que o colocando contra Sasuke, isso o feriria. Sem falsa modéstia, Hoshi sabia ser a única coisa que o mais velho tinha e que o mantinha vivo. Se o odiasse, se ficasse com rancor, isso destruiria Sasuke muito mais do que qualquer ferimento direto em seu corpo.
E seu pai nunca mentira para si.
Em Konoha, quando levantou a possibilidade de ser apenas seu filho adotivo, ele negou firmemente e afirmou que era sim seu filho legítimo.
Sasuke não mentiria. Ele não era assim.
Sasuke era seu otousan. Sentia isso. Tinha essa convicção e ninguém o faria mudar. Confiaria em seu pai e somente nele.
oOo
Continua...
