Autora: Blanxe
Beta: Andréia Kennen
Casal: SasuNaru
Gênero: Yaoi, Romance, Drama, Tragédia, Referência a M-PREG
Reminiscência
Eu tentei ao máximo ser reservado
Mas, invés disso, eu sou um livro aberto
E eu ainda vejo seu reflexo dentro de meus olhos
Eles estão procurando propósito
Eles ainda estão procurando vida…
oOo
Quantas horas passara ali, em seu cárcere, deitado, pensando em tudo e ao mesmo tempo em nada? Hoshi não saberia dizer. Ter uma noção do seu tempo de clausura era praticamente impossível, pois, sequer conseguia distinguir se era dia ou noite.
Deduziu que não adiantaria criar escândalos ou espernear para ser libertado. Percebera que a meta dos seus captores estava longe de permitir que fosse embora, afinal, estes ansiavam se vingar de Sasuke, - seu otousan - que deveria, com toda certeza, estar a sua procura. Se é que já não estaria por perto.
Conhecendo bem seu pai, Hoshi sabia que este não descansaria enquanto não estivesse seguro. No entanto, isso preocupava o garoto. Havia sido dito que ele se ferira no ataque a Konoha e, se esse ferimento não tivesse cortado suas pernas fora, não havia meio do mais velho ter dado tempo para se curar. Super protetor do jeito que era, Sasuke Uchiha, mesmo em meio a adversidades, viria atrás dele.
- Acordado, Hoshi-kun? – a voz lhe trouxe de volta de seus devaneios.
Estivera tão distraído, que não notara a entrada de Orochimaru no quarto. Mas não se assustou. Sem se mostrar disposto a se levantar, apenas continuou de olhos fechados, mantendo as mãos cruzadas atrás da cabeça, como se estivesse muito despreocupado, mesmo na situação em que se encontrava.
- O que você quer? – indagou emburrado. – Já me contou o que queria. Posso ir embora?
Perdeu o sorriso que brotou no semblante do moreno, mas sentiu, sem problemas, a aproximação dele.
- Sasuke-kun está vindo para cá, atrás de você. – Orochimaru ironizou. - Não quer esperá-lo?
A confirmação de sua desconfiança fez com que Hoshi quase quebrasse todo o autocontrole que vinha mantendo a duras penas. Precisava estar centrado e tentar agir o mais racional possível, caso contrário, prejudicaria tanto a si mesmo, quanto ao pai.
- Não. – o garoto respondeu, secamente.
Num falso tom pesaroso, seu captor lamentou:
- Eu sinto muito por Sasuke-kun tê-lo feito viver numa mentira.
As palavras ganharam uma reação de Hoshi, que abriu os olhos, virando a cabeça rapidamente para o lado, fitando o homem que chegava perto da cama onde se encontrava deitado.
- Eu acho que você não sente não. – o jovem Uchiha rebateu, com um jeito debochado. Observando o sorriso oblíquo que emoldurava os lábios do Sannin. Não querendo dar espaço para qualquer outro tipo de aproximação, Hoshi impulsionou o corpo para cima, jogando as pernas para fora da cama e se levantou. - Mas me conte aí sobre esse negócio de eu ser filho do meu tio.
Bem, dois poderiam dançar aquela valsa. Se Orochimaru estava inventando uma mentira para quebrar sua confiança em seu otousan, teria que ser um grande contador de histórias também para lhe explicar com detalhes como Naruto e seu tio – Itachi – acabaram gerando um filho.
- Acredita em mim, Hoshi-kun? – o moreno perguntou, num elevar de sobrancelhas, um pouco duvidoso de que o adolescente estivesse mesmo aceitando o fato de não ser cria de Sasuke.
- Me dê motivos que me façam acreditar nessa baboseira. – Hoshi retorquiu, com os olhos negros em desafio.
- Eu poderia matá-lo. – Orochimaru disse, olhando para o garoto com escárnio. - Não acha que faria um estrago muito maior em seu vulgo pai, do que simplesmente ficar aqui brincando de mentir?
Hoshi meneou a cabeça de um lado para o outro,como se ponderasse, e expôs a sua própria lógica.
- Faria… Mas o capeta não deixa, não é?
Não precisava explicar quem era 'o capeta' para o Sannin, em seu olhar demonstrava que havia ligado a expressão ao demônio que habitava o corpo de Naruto.
- Seu vocabulário realmente é esplendoroso. – o moreno, de tez extremamente pálida, zombou. - Não seria filho do Jinchuuriki de outra forma.
Rodando os olhos, Hoshi cantarolou:
- 'Tá evadindo a minha pergunta…
- Realmente, você é bem observador. – apontou o mais velho. - Naruto-kun não permitiria que…
- Ele não é o Naruto. – o garoto interrompeu, com rispidez.
- O corpo é. – replicou, quase que imediatamente, o homem. – Mas a criatura parece ter instintos paternais, mesmo sendo um demônio impiedoso.
A menção direta ao ser que ocupava o hospedeiro em que um dia fora selado, trouxe ao garoto uma grande dúvida. Em momento algum, Sasuke lhe contara que o demônio de nove caudas guardava algum tipo de rancor. Ao detalhar sobre o passado e como a raposa dera a chance a Naruto de gerar uma vida – sua vida –, jamais transmitira qualquer negatividade sobre Kyuubi. Pelo contrário, parecia até mesmo grato ao bijuu.
Então, de onde surgira aquele desejo de vingança tão intenso? O que havia no passado que o demônio se vira ofendido a ponto de estar compactuando com um dos maiores inimigos de Konoha?
- Por que Kyuubi odeia tanto o meu pai? – questionou o garoto.
O Sannin deu de ombros e como se fosse uma coisa banal, explanou:
- Porque durante anos Sasuke-kun fez o queridinho dele sofrer, se humilhar e sacrificar-se. Sasuke fez Naruto colocar o que sentia acima do próprio orgulho, sem nenhuma retribuição. – o mais velho vendo o olhar incerto do jovem, caçoou: - Você não conhece o verdadeiro Sasuke Uchiha, Hoshi-kun. Precisaria ver com seus próprios olhos para crer que seu 'otousan' foi tão traiçoeiro e sedento por vingança como hoje você julga a mim e a Kyuubi, sermos.
Hoshi, depois de um breve momento, após ter perdido sua postura segura em meio as palavras de Orochimaru, se recompôs. Eles já haviam tentando convencê-lo antes com aquela história, tinham lhe contado sobre todo o passado distorcido que queriam que acreditasse, porém, sem demonstrar se aceitara aquela realidade ou não, debochou:
- Tudo bem, cara pálida. Digamos que o malvado Sasuke magoou o pobre e indefeso menino Naruto e o coitadinho morreu e virou santo. – cruzou os braços sobre o peito e inquiriu: - Em que parte Itachi entra nisso?
Orochimaru lançou-lhe um olhar, erguendo uma das sobrancelhas, e rebateu, irônico:
- Na parte boa?
Hoshi piscou uma vez, olhando para o homem a sua frente como se tivesse crescido uma segunda cabeça no ombro do mesmo e, em puro sarcasmo, treplicou:
- Não diga? – vendo o mais velho continuar a lhe fitar de maneira inabalada, deixou de lado sua faceta e insistiu: - Sério, meu otousan deu a entender que Naruto e ele eram tão apaixonados que dava nojo de olhar. Como meu tio de repente levou Naruto pro matinho e o engravidou?
Orochimaru ficou parado, mirando o rapaz por alguns segundos, como se desacreditasse no que acabara de ouvir e resmungou:
- Sinceramente, eu estou começando a lamentar que não se pareça mais com Itachi.
Uma veia pulsou na testa do garoto e demonstrando sua insatisfação pela tirada do mais velho, exigiu:
- Desembucha, cascavel! 'Tá cansando a minha beleza aqui.
Infelizmente, nada havia preparado Hoshi para a resposta direta de Orochimaru.
- Foi um cio.
- O QUÊ? – o Uchiha exclamou, completamente estupefato.
De todas as respostas estúpidas e sem cabimento que pudesse ter imaginado, aquela fora simplesmente a mais descabida que poderia ouvir.
- Não aprendeu isso no colégio, Hoshi-kun. – implicou o Sannin, explicando: - Aquela coisa toda de período fértil e incontrolável onde os animais copulam sem se importar com nada. Confesso que você não vai ter uma historinha de romance entre seus verdadeiros pais. Não existiu afeto, apenas sexo. E nove meses depois, você veio ao mundo.
Ao mesmo tempo em que a explicação se apresentava como algo surreal, a certeza com que aquele homem relatava os fatos, era quase palpável… Quase fazia com que fosse difícil duvidar da história, por mais que parecesse loucura. Não sabia mais definir o que era insanidade ou não, desde que seu pai comunicara que sua mãe, na realidade, era um homem. Principalmente, porque o mais velho continuava a contar:
- Sasuke me traiu e Itachi engravidou Naruto; Sasuke conseguiu a vingança que queria. Depois de algum tempo, Naruto e ele se acertaram. Pouco depois de seu nascimento, Naruto se colocou em total perigo para vencer Madara, e os amigos "fieis", com a ajuda de Sasuke, mataram Naruto. Fim da historia. – olhou o mais novo com displicência e indagou: - Satisfeito, Hoshi-kun?
Não… Estava longe de estar satisfeito. Estava se cansando de escutar aquelas mentiras, principalmente por essas mesmas estarem mexendo consigo de uma maneira desagradável. Sendo assim, tentou partir para outra abordagem.
- E por que o Naruto está daquele jeito? Ele está selado dentro do próprio corpo e parece… morto.
Isso fez com que um novo brilho surgisse nos olhos amarelos daquele homem. Ignorando sua pergunta, Orochimaru comentou, com interesse:
- É incrível como você conseguiu despertar o sharingan e entrar na mente de Naruto-kun, sem nem mesmo ter um treinamento apropriado.
Ele tinha razão. Mas Hoshi também estava certo que isso só acontecera por mero acaso. Jamais imaginara que um dia ativaria aquele sharingan. Nunca tivera curiosidade, já que não era puramente Uchiha. No entanto, usar o poder fora algo inconsciente e se lhe perguntassem como fazia para entrar na mente de uma pessoa, como fizera com a Kyuubi, seria incapaz de responder.
- Corta o papo fiado, ofídio! – irritou-se, fazendo uma careta. - Você é chato, hein? Deve ser por isso que o otousan te deu um pé-na-bunda-até-mais-ver.
- E viva o DNA do jinchuuriki… – Orochimaru murmurou, fitando-o de maneira frustrada. O garoto poderia ser uma cópia, fisicamente, de Itachi, mas a personalidade de Naruto começava realmente a dar nos nervos. No entanto, querendo suprir a sede por informações de Hoshi, explicou: - Quando eu consegui aperfeiçoar a técnica para fazê-lo voltar à vida, Naruto-kun foi meio… arredio. Tive que usar um selo a mais para contê-lo, além daquele que o prende a cela de sua mente. Mas, até onde me lembre, Kyuubi mantinha contato com o garoto escandaloso.
Foi quando Hoshi percebeu que era isso que precisava: saber como aquilo tudo funcionava. Se conseguisse entender como eram feitos os selos e como quebrá-los, poderia tirar Naruto daquela cela, ou até mesmo, avisar seu otousan de como ajudar o loiro a conter o demônio. Se Kyuubi era tão poderoso como falavam, teriam que ter um meio de derrotá-lo ou trancá-lo de volta em Naruto.
- Como? – perguntou, mostrando-se confuso e interessado. - Como usa esses selos e tudo o mais?
Orochimaru sorriu obliquamente e comandou:
- Venha comigo.
Sem questionar a oportunidade, o garoto seguiu o homem para fora do quarto. Era a primeira vez que sairia de seu cárcere, desde que fora trancafiado ali. Seria uma boa chance para tentar fugir, mas também uma grande burrice, pois nada conhecia sobre aquele lugar. Determinou prioridades. E no topo delas estava fazer com que Orochimaru lhe mostrasse como fazia aqueles selos e como funcionavam, para assim ter uma vantagem. Depois arrumaria uma maneira de fugir daquele covil.
oOo
O capitão ANBU olhava para a entrada do suposto esconderijo para onde Hoshi teria sido levado. Um dos rastreadores havia indicado aquele como sendo o local onde o garoto possivelmente estaria. Parecia um templo antigo, abandonado. Ao redor, não identificavam qualquer atividade suspeita. Ninguém guardava o local e o silêncio nada mais era do que um reflexo do abandono daquele lugar, em meio a densas paredes de rochas que formavam um desfiladeiro que pareciam estar ali como uma imponente forma de defesa e camuflagem ao mundo exterior.
Cautelosamente, o time tomou uma posição estratégica, ao sinal de seu capitão, antes de adentrar no templo. Atentos a cada canto do local, a cada mínima oscilação do ar, os quatro avançaram passo a passo, imergindo na escuridão que só era amenizada pelas luzes das velas acesas nos altares.
Essa era a única prova de que o local não estava completamente abandonado: as chamas que iluminavam o breu. Para que elas estivessem ali, vívidas, alguém teria que tê-las acendido. Poderia ser qualquer um, mas se o rastreador indicara que ali se encontrava o garoto Uchiha, então, estavam longe de acreditar que um aldeão de algum vilarejo mais próximo tivesse iluminado o templo.
O oscilar das chamas em um dos altares laterais pegou a atenção da mulher que usava uma máscara de porco mas, antes mesmo que pudesse se colocar em posição defensiva, ou erguer uma kunai, a leve brisa passou diante de si e atingiu seu rosto. Seus olhos azuis arregalaram-se ao passo que a porcelana que cobria seu rosto se partia simetricamente no meio e caía ao chão.
O mesmo aconteceu com os outros três de seu grupo. Antes mesmo que pudesse sequer piscar, suas máscaras eram destruídas e suas faces reveladas.
- Byakugan! – imediatamente um dos ANBU ativou seus olhos, usando assim sua visão de 360 graus para tentar localizar o inimigo, mas, já era tarde.
- Lento demais. – a voz rouca falou atrás de si, antes de, imperceptivelmente, atacar.
Os outros três membros do grupo assistiram, horrorizados, o corpo do companheiro sofrer um impacto para frente.
- Neji! – os três chamaram em uníssono, ao passo que viam o amigo desabar no chão.
Eles ainda não viam nada. Mas o inimigo estava lá, com eles. A prova encontrava-se alojada no ponto cego atrás da nuca de Neji. Em sua única fraqueza, estava cravada uma adaga de lâmina longa. O sangue minava do ferimento, profusamente. O corpo do terceiro elemento, daquele time, via-se completamente inerte, seus olhos abertos, mas sem vida.
- Sem tanta sorte dessa vez? – a voz indagou com escárnio.
Os três remanescentes gelaram, desviando imediatamente os olhos na direção de onde a voz soara. Sobre um dos altares, ao fundo do templo, os orbes vermelhos brilhavam e o sorriso maligno despontava com caninos afiados a mostra, mas o garoto por trás deles era o mesmo que foram obrigados a matar há quinze anos.
- N-Naruto… - a única mulher do grupo balbuciou.
O garoto loiro abriu mais o sorriso, exibindo as presas e zombou:
- Boo!
Todas as velas do templo se apagaram e a escuridão imperou.
oOo
Hoshi seguiu Orochimaru de perto, enquanto ele o guiava pelos corredores sombrios de seu esconderijo. Reparou em tudo, desde as várias portas que passaram pelo caminho, bem como a enorme escadaria que subia para algum lugar que havia ficado para trás. Tinha que admitir que o maldito lugar mais parecia um labirinto sem fim. Poderia se perder facilmente por aquele ninho de cobra, se não tivesse uma boa memória, mas até então, estava conseguindo guardar com facilidade um pequeno mapa que criava em sua cabeça.
O homem de pele extremamente alva parou, finalmente, em frente a uma porta larga; abriu a mesma, fazendo um meneio com a mão para que entrasse. Confiante, Hoshi adentrou o cômodo, e a primeira definição que teve do lugar foi de que era um laboratório, ou algo muito próximo disso.
- Aqui eu pesquiso e aperfeiçôo novos jutsus.
Olhando as estantes com curiosidade, bem como o resto da sala, Hoshi corrigiu o que o outro havia lhe falado:
- Kinjutsus.
- Vejo que não é um leigo, Hoshi-kun. – Orochimaru riu, acompanhando o rapaz.
Hoshi rodou os olhos, mas não replicou. Sua atenção se voltou para os pergaminhos empilhados numa das mesas e vendo que seu alvo estava bem diante de si, ele se aproximou.
- Você poderia ser um ninja extraordinário. – o mais velho continuou.
- Eu nunca tive interesse nisso… – Hoshi confessou e concluiu: - Até agora.
- Então, deveria aproveitar o seu dom. – sugeriu Orochimaru.
O garoto elevou uma das sobrancelhas finas e indagou sarcástico:
- Para quê? Matar você?
Isso só fez com que o Sannin risse e dissesse:
- Você pode tentar, mas nunca vai conseguir. – Orochimaru então se aproximou por trás e sussurrou no ouvido do menor. - Sasuke-kun não foi bem sucedido nisso, nem mesmo seu pai Itachi.
Grunhiu, internamente, ante à referência de Itachi como sendo seu verdadeiro pai e também, devido a proximidade excessiva daquele homem, contudo, não fez nenhum movimento brusco para afastá-lo, pois precisava de distração para chegar aonde queria.
Antes que pudesse tocar um dos pergaminhos que descansavam sobre a mesa, Hoshi foi surpreendido pela mão do Sannin que se adiantou e pegou um deles, oferecendo ao garoto.
- Abra. – ordenou.
Aceitou o pergaminho que lhe era oferecido e em suas mãos o desenrolou. Não entendia muito de qualquer tipo de jutsu, mas não era burro. Por isso, o que leu ali fez com que seus olhos se arregalassem.
Perdido em meio às palavras do pergaminho que ensinavam como ressuscitar integralmente uma pessoa, Hoshi permitiu, sem se importar, que o corpo do outro se colasse mais ao seu por trás e um dos braços brancos, envolvessem sua cintura.
- Não é magnífico, Hoshi-kun? – a voz arrastada perguntou junto ao seu pescoço. – O que a civilização poderia ganhar executando kinjutsus como esse...
- Seria contra a ordem natural das coisas.
- Claro que não, meu querido Hoshi-kun. – Orochimaru negou, pegando outro pergaminho e oferecendo ao garoto. - Isso seria contra a ordem natural das coisas.
Hesitantemente deixando de lado o pergaminho que tinha nas mãos, Hoshi aceitou e desenrolou o outro, ficando ainda mais transtornado do que quando lera o primeiro.
- Mas isso é impossível. – murmurou, incrédulo.
- Devo dar créditos a sua negativa. É impossível para qualquer um, mas não para alguém com os dons do seu clã. – o Sannin abafou uma risada e deslizou a língua pela linha do pescoço do garoto. - Se eu o tivesse antes, meus planos teriam se concretizado mais facilmente.
Era errado. Aqueles pergaminhos, tudo aquilo… Era muito errado, mas… Se aquele conhecimento estivesse nas mãos de seu pai, há anos atrás, ele não teria sofrido tanto… As coisas teriam sido diferentes…
oOo
Sasuke olhou para o templo completamente no escuro e estreitou os olhos. Karin os tinha levado até aquele lugar completamente isolado, indicando a presença de seu filho por ali. No entanto, podia sentir o chakra forte que emanava de dentro do local. Olhou para Gaara, depois para a mulher de cabelos cor de vinho e esta confirmou sua suspeita.
- Tem duas pessoas lá dentro. Uma delas é o Naruto.
O moreno sentiu seu coração se apertar e ânsia de correr para dentro do templo se tornar intensa. Naruto estava perto… Muito perto. Mesmo não sendo, realmente, seu Naruto. Acima disso tudo, a vontade de simplesmente vê-lo sobrepujava qualquer outra parte racional em seu ser, que lhe afirmava que isso poderia ser sua perdição.
Buscando manter o foco central, questionou sobre a outra pessoa que se encontrava com Naruto.
- Hoshi?
- Não. – a mulher negou. - Ele está perto, mas quem está com o jinchuuriki não é o seu filho.
Gaara não esperou mais explicações. Sem dizer uma palavra, começou a caminhar com a intenção de entrar no templo. Sasuke apenas seguiu o seu exemplo, mas foi detido pela pegada repentina em seu braço.
- Não, Sasuke! – a ex-companheira advertiu. - Não é seguro.
Gaara prosseguiu, sem se importar com a discussão entre o casal, se apressando ainda mais, movido por um mau-pressentimento.
- Fique fora, Karin. – Sasuke grunhiu, tentando se desvencilhar da mulher, mas está o segurou mais firme.
Ela olhava-o com um misto de medo e desespero, mas Sasuke, no fundo, sabia o motivo.
- Não! Você não está entendendo! – Karin argumentou. - O chakra dele… é assassino. Ele vai te machucar.
O moreno sabia que sim. Já haviam enfrentado o dono daquele chakra antes e, mais do que nunca, tinha certeza da proveniência de tanto poder. Isso o tranquilizava, ao mesmo tempo em que o afligia. Porém, não desistiria. Se precisasse passar por cima de quem quer que estivesse usando a imagem de Naruto, para assim resgatar seu filho, o faria sem vacilar. Karin jamais compreenderia, por isso, ofereceu um de seus raros, mas discretos sorrisos e retirou a mão dela de seu braço.
- Vá se esconder.
Karin olhou, desolada, o homem se afastar em direção a entrada do templo. Acreditava que Sasuke Uchiha era um louco. Mesmo que sua pretensão fosse única e exclusivamente salvar o filho, enfrentar sozinho o hospedeiro da raposa de nove caudas, era puro suicídio. Por mais que tivesse treinado, por mais que houvesse aprimorado suas habilidades, uma única pessoa jamais seria páreo para intensidade de poder que ela sentia emanar daquele ser que estava dentro do templo, naquele exato momento. Nem Gaara, nem Sasuke, nem dúzias de ninjas conseguiriam aplacar a fúria e a sede por vingança que transbordava de Naruto, desmedidamente.
oOo
Gaara tentou forçar seus olhos no meio da escuridão em que se encontrava o lugar, mas sem muito sucesso. Seus sensos, porém, estavam todos aguçados. Sua mente alerta. Naruto estava ali, segundo Karin e, ainda que a ansiedade por reencontrá-lo fosse enorme, a ciência de que poderia ser atacado a qualquer momento, o fazia se precaver.
Sequer teve tempo para registrar os ruídos, ou até mesmo para realmente se dar conta que Sasuke agora estava ao seu lado, porque tudo se perdeu no exato momento em que as velas do templo foram acesas, todas de uma única vez, clareando todo o salão.
Não conseguiu conter a surpresa em seus orbes esverdeados, por causa do horror que se apresentava a sua frente.
Três corpos jaziam no chão, esparramados ao longo do templo. Três rostos que ambos – tanto ele, quanto Sasuke – conheciam bem: Neji Hyuuga, Ino Yamanaka e Rock Lee. O líquido escuro e espesso cobria a superfície de pedras que constituía o piso do local. Todos os três mortos. Brutalmente mortos.
Uma risada chamou a atenção dos dois para o altar central, fazendo com que se assustassem ao verem ninguém menos que o loiro que tanto desejavam reencontrar. Entretanto, a cena que se mostrava bem diante de seus olhos, fazia com que tudo se tornar-se apenas apreensão.
- Chegaram atrasados, mas ainda podem presenciar a morte do líder deles. – Naruto debochou.
O capitão do time ANBU grunhiu quando as garras que se fechavam em torno de seu pescoço pressionaram com mais força. Estava suspenso no alto, apenas por um punho, mas seu corpo machucado não tinha forças para reagir. Ele mal acreditava que seus ninjas – seus amigos – haviam sido derrotados tão facilmente, e que agora estavam mortos. Definitivamente, aquele não era Naruto. Por mais que o loiro outrora tivesse sido forte, aquele não era seu estimado companheiro do time 7. Aqueles olhos vermelhos pertenciam a Kyuubi. O assassino ali era o demônio. O verdadeiro Naruto jamais machucaria um de seus colegas, nunca permitiria que se ferissem… Isso o fazia questionar, debilmente, onde fora parar a alma do loiro – do garoto que o ensinara a viver e a sentir…
O capitão sorriu melancólico e abriu os olhos escuros. O ar lhe faltava, seu corpo doía insanamente, mas forçou-se a erguer um dos braços e estender a mão na direção do rosto de seu inimigo. Os olhos vermelhos demonstraram confusão, provavelmente por não sentir nenhuma intenção de contra-atacar. Poderia ser seu fim e, mesmo sabendo disso, esticou os dedos e tocou a face do loiro, tremulamente. A pressão em seu pescoço, por um instante cessou, permitindo que balbuciasse o nome do loiro. Mas aquele não era ele, os olhos que lhe fitavam agora de maneira enojada, não tinham a mesma tonalidade azul cristalina, o ódio que o semblante detinha, jamais seria demonstrado por ele. Por isso, seu sorriso falseou, ao passo que seus orbes negros se embaçavam pelo marejado que aos poucos escorreu por sua face alva em poucas lágrimas.
Não sentiu dor, foi rápido demais até para registrar que havia mesmo acontecido, mas antes de tudo terminar, achou ter ouvido a voz de alguém gritar seu nome. E isso fez com que o leve sorriso voltasse a adornar seus lábios pálidos.
Alguém ainda se importava.
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Continua…
Notas da Autora: Peço desculpas pela demora, mas a inspiração pra essa fic só voltou há pouco tempo... Bem, como já dá pra perceber, essa fic está chegando ao final, mas ela é apenas a primeira parte de mais três arcos que serão postados, logo, deixo avisado que a Reminiscência termina, mas o enredo continuará em outro arco... provavelmente o proximo capítulo será o último, seguido de um curto epílogo... Tentarei não demorar muito para atualizar...
