Autora: Blanxe

Beta: Andréia Kennen

Casal: SasuNaru

Gênero: Yaoi, Romance, Angst, Drama, Tragédia, Referência a M-PREG.


Reminiscência

Estou sentindo a sua falta
Sentindo tanto a sua falta
Não quero desistir de você nunca mais
Você pode me entender, ou tocar-me, ou beijar-me?
Por favor, você consegue me tirar desse ponto zero?

oOo

- Sai! – Gaara chamou, em meio ao terror de ver as garras, que seguravam o pescoço do Capitão ANBU, se fechando com força ao redor deste. Um leve, mas audível estalar de algo se quebrando, ecoou pelo templo juntamente com sua voz.

Porém, o chamado aflito pelo nome do ANBU foi em vão. Percebeu isso quando Naruto jogou, com desdém, o corpo do outro para o lado. Sai se chocou contra o chão de pedra, pesadamente, causando um ruído surdo.

Não era necessário tentar ajudá-lo, pelo estalo dos ossos se partindo anteriormente, podiam deduzir que o loiro havia quebrado o pescoço dele.

Sai estava morto.

O loiro olhou com escárnio para o Sasuke, vendo, satisfeito, a fúria que aquelas esferas negras sustentavam.

- Que olhar é esse, Uchiha? – Naruto ironizou. – A indignação do Kazekage é explicável, mas esse seu olhar desgostoso não faz o menor sentido, afinal, você odiava seu substituto tanto quanto odeia o homem ao seu lado.

Sasuke nunca gostara de Sai, muito menos das pessoas que estavam mortas ali. Para ele, aqueles eram amigos de Naruto, não seus. Mas ver estes morrendo à sua frente da maneira que estavam sendo, mexia com seus valores adquiridos com o tempo que decorrera ao lado do loiro. Aprendera a ter, pelo menos, uma ínfima consideração por eles, já que eram queridos pelo homem que amava. Assim, ainda que o ciúme regesse a repulsa que sentia por Sai, jamais desejou que ele tivesse uma morte como aquela: pelas mãos daquele por quem era fascinado.

O ser de virulentos olhos rubros nunca seria aquele por quem ele havia se apaixonado.

- Onde está o meu filho? – Sasuke limitou-se a inquirir com a voz desprovida de emoção.

Uma sobrancelha loira se elevou e, com sarcasmo, Naruto perguntou:

- Seu? Possessivo demais, não?

Parecendo ter se recuperado do choque de ver o Capitão ANBU ser assassinado, o Kazekage indagou:

- Quais os seus motivos para estar agindo assim?

- Gaara… - o loiro deixou que o nome do ruivo rolasse suavemente por seus lábios e no instante seguinte surgia à frente dele investindo em um ataque. - Um dos eternos apaixonados. Será que é necessário dissertar sobre meus motivos?

Tomando uma postura defensiva, o Kazekage fitou bem no fundo dos olhos vermelhos, enquanto a areia que trazia junto consigo se encarregava de deter as garras que ameaçaram rasgar sua garganta e afirmou:

- Você não é o Naruto.

- Genial. – o garoto disse, parando um momento e batendo palmas, debochadamente. – Descobriu isso sozinho ou precisou de ajuda?

Uma sombra pairou às costas do loiro e a lâmina da espada cortou o ar, abatendo o corpo do adolescente transpassando-o diagonalmente.

- Onde ele está? – Sasuke demandou uma resposta, vendo indiferente a figura que atacara se dissipar como um borrão diante de si.

- O meu hospedeiro ou o meu filhote? – a voz de Naruto ecoou pelo templo, fazendo tanto Gaara quanto Sasuke olharem ao redor a procura de localizá-lo. - No primeiro caso, ele está morto. – o timbre repercutiu rancoroso pelas paredes do templo. - Ou por acaso esqueceram-se que o mataram?

- Nossa intenção não era matá-lo. – Sasuke ainda ousou argumentar, sem entender porque perdia tempo ao fazê-lo. - Apenas deter a raposa de nove caudas.

- Isso é pessoal! Queriam me assassinar. – Naruto acusou numa falsa indignação e reapareceu a frente de Sasuke que reagiu instintivamente, bloqueando o ataque da kunai com a espada, enquanto o loiro, exibindo os caninos em um sorriso zombeteiro, dizia: - E justo você, Uchiha? Eu fui tãaaao bonzinho. – no instante seguinte, seu equilíbrio se perdia, quando a mão de um bushin se fechava nos fios negros de seus cabelos, puxando seu corpo para trás, o mantendo refém sobre a ponta de uma kunai embaixo de seu queixo. A cópia que o segurava sussurrou venenosamente em seu ouvido, enquanto aquela que estava a sua frente, mantinha o sorriso e ainda sustentava o embate entre a sua arma e a espada de Sasuke: - Te dei uma nova família para brincar, e como me retribuiu?

- Kyuubi… - o moreno rosnou, ao passo que um casulo de areia se formou em volta do bushin que o mantinha preso, imobilizando qualquer reação do mesmo.

O clone desapareceu assim que, ante a ordem de Gaara, a areia se fechou com agressividade em torno do mesmo, deixando Sasuke livre para atacar o garoto a sua frente. Manejando a espada com destreza, resvalou a kunai do inimigo para o lado e atacou com a mão energizada em um Chidori.

Outro bushin que desapareceu com a intensidade do golpe.

- Eu mesmo. – o jovem disse, ressurgindo mais adiante e se exibindo. - Numa versão mais patética, mas ainda capaz de te destruir e a todos em Konoha.

- Você não tem motivos para isso. – desta vez, foi Gaara quem argumentou, comandando outro ataque com a areia.

- Não tenho? – o loiro inquiriu, insatisfeito, criando com um meneio de mão, uma cortina de chakra vermelho ao redor de si, defendendo-se da areia. Ainda envolto pela energia, ele rugiu: - Naruto não é um motivo suficiente para você, humano idiota?

- Naruto não desejaria a morte de Sasuke. – o Kazekage rebateu, ao mesmo tempo em que o moreno no outro canto do templo invocou o Amaterasu.

- Naruto era um fraco. – o rapaz acusou, enquanto as chamas negras pareciam consumir a defesa de chakra que criara, pois a mesma, pouco a pouco, se dissipava revelando o ser que consumira o corpo físico de Naruto e agora se apresentava em sua encarnação de quatro caudas: sua essência em uma semi-forma de raposa e humano, onde os olhos vazios e um sorriso bizarro emolduravam o rosto vulpino. - Sofreu e nunca tirou lição alguma daquilo. Mas eu via tudo de arquibancada e, ao contrário dele, estou disposto a me vingar.

Quando Kyuubi dissipou facilmente o Amaterasu, se colocou de quatro no chão e seus lábios se abriram e, uma massa de pura energia começou a se formar, tanto Sasuke quanto Gaara se prepararam para o pior.

oOo

Hoshi não entendia nada de como aqueles pergaminhos deveriam funcionar e eram tantos, serviam para tantas coisas, que ele se sentiu, momentaneamente, perdido. O que ele necessitava realmente não estava em nenhum daqueles rolos, o que ele precisava saber era como quebrar o selo que prendia Naruto naquele lugar horrível.

Mas também, tinha que pensar nas consequências desse ato. Se simplesmente entrasse na mente de Naruto e retirasse o selo, como seria se Kyuubi estava dominando o corpo dele? As personalidades entrariam em conflito, passariam a coexistir, ou Naruto seria capaz de colocar o demônio de volta naquela cela?

- O que acha de se tornar um discípulo meu? – Orochimaru perguntou, trazendo o garoto de volta de seus pensamentos. - Eu poderia ensiná-lo a usar seu Sharingan e se tornar forte.

A proximidade do homem colado atrás de si continuava incomodando-o, mas precisava daquela estratégia para seguir ludibriando o Sannin que persistia em tocá-lo de uma forma íntima que não o agradava em nada. Pois, se ele fosse capaz de ajudá-lo, mesmo que indiretamente, a conseguir o poder para ajeitar aquela situação toda, valeria à pena.

No mesmo instante, pensou na ironia que se apresentava com aquela sua ideia: parecia estar agindo como seu pai no passado. Reprimiu um sorriso de escárnio. Não era contraditório, recriminar tanto seu otousan, pelo que quer que ele tenha se imposto antigamente para conseguir a força necessária para alcançar seus objetivos, e, agora, estar basicamente prestes a fazer o mesmo?

Talvez compreendesse o próprio pai, bem mais do que o Sannin imaginara.

- Não acha que já estou velho demais para isso? – retorquiu, para não criar uma pronta aceitação e assim gerar a desconfiança do outro homem.

Orochimaru riu curtamente e mordiscou o lóbulo da orelha do adolescente, causando um estremecimento no mesmo. Satisfeito, o Sannin tocou o queixo do rapaz e o virou levemente para si, fazendo com que este o olhasse diretamente nos olhos.

- Com as habilidades do seu clã, seria um grande desperdício se não aceitasse.

Hoshi engoliu em seco. A vontade que tinha era de empurrar o outro para longe, principalmente ao ver, claramente, a intenção dele de beijá-lo. A teoria era bem mais fácil do que a prática, no entanto, tinha que gerar proximidade, fazê-lo crer que estava sendo bem-sucedido.

Todavia, aquele tipo de contato era demais até mesmo para sua determinação. Para sua sorte, no exato momento em que iria afastar Orochimaru para longe, um estrondo ecoou por todo esconderijo, abalando visivelmente a estrutura do lugar.

O jovem Uchiha ficou apreensivo e assustado. Orochimaru, por sua vez, sorriu ironicamente.

- Parece que Sasuke-kun finalmente chegou.

A menção do nome do pai, fez o coração de Hoshi acelerar. Esperava que fosse verdade, pois isso garantiria que seu otousan estava bem.

- Me acompanha, Hoshi-kun? – o Sannin se afastou, caminhando para a porta.

Hoshi olhou uma última vez para os pergaminhos, mas logo seguiu atrás de Orochimaru.

oOo

Sasuke ofegava, tentando se estabilizar em pé depois do último ataque que sofrera vindo de Kyuubi. Ao seu lado, Gaara parecia estar no mesmo estado; nem mesmo a barreira que formou com a areia foi o suficiente para protegê-los dessa vez.

A raposa mantinha a posição de ataque e uma expressão de zombaria, vendo seus inimigos machucados. Sabia que sua força era superior a qualquer um dos dois, ou até mesmo ao poder deles combinados, e poderia acabar com ambos em segundos, mas estava se divertindo brincando com suas presas.

Quando Orochimaru trouxera o seu hospedeiro de volta a vida, lhe dando a oportunidade de assumir o corpo de Naruto, com o propósito de fazer Sasuke pagar pela traição, Kyuubi aceitara prontamente. Nada tinha a perder e ainda teria o controle do corpo onde havia sido selado. Logicamente, preferiria estar livre em sua forma natural, mas o Sannin não lhe daria tal liberdade, por isso, concordara em ajudar com plano que desenvolvera. Graças a ele, também fora possível encontrar seu filhote novamente. Vê-lo crescido e parecido com ninguém menos que Itachi Uchiha lhe trouxe surpresa, mas não menos orgulho, afinal, era, acima de tudo, sua cria, um ser gerado e protegido por seus poderes.

Apesar de ser uma criatura insolente e arredia, irritando-o ao extremo, Kyuubi queria manter o jovem perto de si e, agora que estava enfrentando diretamente aquele a quem mais queria ver morto, não encontrava motivos para adiar suas intenções. Findaria seu ódio e ainda teria seu filhote consigo e Naruto resguardado de qualquer um que pudesse pensar em fazer-lhe mal.

Estava preparado para atacar outra vez, querendo ver como aqueles dois conseguiriam escapar vivos ou contra-atacarem, mas sua concentração foi quebrada pela voz elevada de Hoshi.

- Otousan!

Todos os três voltaram suas atenções para a direção de onde provinha o som. Kyuubi fez uma expressão desgostosa pelo fato de Orochimaru estar muito próximo de seu filhote, o envolvendo com um dos braços pela cintura. Sasuke ficou aliviado ao ver Hoshi aparentemente bem, mas, assim como Gaara, mostrou-se perplexo ao registrar quem o acompanhava.

- Orochimaru?!

- Como tem passado, Sasuke-kun? - O Sannin sorriu ante o pronto reconhecimento e estarrecimento de seu antigo discípulo. Olhou para o estado semi-humano de Kyuubi e ironizou: – Vejo que está se divertindo bastante, Naruto-kun.

- Mas como isso é possível? – Gaara indagou, confuso.

Ao que ambos se recordavam, havia sido Kabuto quem surgira em meio ao ataque em Konoha e levara Hoshi. Orochimaru deveria estar morto, só que o fato se tornava impossível, já que o próprio se mostrava bem diante deles.

- Kabuto foi um ótimo recipiente e me deu o tempo que eu precisava para descobrir um meio de não perecer e assim conseguir a minha vingança. – fez questão de responder com deboche. Em seguida, encostou-se no garoto, fazendo um leve carinho em seu braço. - Mas quem diria que encontraria algo tão interessante no processo, não é mesmo, Hoshi-kun?

Os olhos vermelhos de Sasuke se crisparam de raiva, avançando na direção de seu antigo mestre.

- Não toque nele! – ordenou, raivoso.

Hoshi ficou tenso assim que a criatura, parecendo ser feita de puro chakra, bloqueou o caminho de seu pai, o atingido no peito, violentamente, com uma das garras. O corpo de seu otousan foi lançado contra uma das paredes do templo e os rasgos causados em seu tórax sangravam, deixando o garoto mais desesperado. Mas, vê-lo machucar-se e por sua causa, não lhe traziam mais angústia do que pensar no que deveria estar sendo para o mais velho ser ferido fisicamente por aquele que amava. Ele precisava ajudar o pai, mas não sabia como. Ainda que quisesse gritar, tentar correr na direção dele, forçou-se a manter-se firme e praticamente indiferente.

A única maneira de reverter aquela situação, seria voltar a mente de Naruto e tentar libertá-lo. Não sabia como conseguir ambos: retornar a mente do loiro e livrá-lo da prisão em que se encontrava. No entanto, precisava agir.

Mas, primeiro, como ele ativava aquela droga de Sharingan?

- Contei algumas coisas para o menino que você fez questão de omitir. – Orochimaru disse, mostrando divertir-se ao ver Sasuke tentar, com dificuldade, se colocar de pé. - Ele parece não ter acreditado muito, mas nós dois sabemos a verdade, não é mesmo, Sasuke-kun? Sabemos sobre Itachi.

A expressão do moreno ferido se endureceu ainda mais, porém, nada replicou. Por algum motivo, a falta de um rebate vindo do pai, alarmou Hoshi, trazendo à tona, novamente a dúvida: Teria ele, verdadeiramente, mentido sobre sua paternidade?

Não era hora de ficar se martirizando com isso.

- Preste mais atenção a mim, Uchiha. – Kyuubi reclamou, usando as caudas para tentar atingir seu alvo, mas Gaara manipulou a areia e atingiu-a antes que chegasse até Sasuke, evitando que o ferisse. Kyuubi voltou o rosto com um sorriso distorcido para o Kazekage e contemplou: - Ah, nunca entendi essa sua capacidade de proteger esse infeliz. – Aos poucos, a energia rubra que fluía pelo corpo se dissipou, fazendo o demônio retornar ao físico humano de Naruto. A pele destruída pelo calor do chakra se regenerando tão rápido como jamais acontecera quando o loiro era vivo. Os olhos vermelhos com íris verticais fitaram o ruivo maliciosamente, enquanto se aproximava. - Ele tirou de você o que mais queria, não foi? – o garoto falou, contendo o riso ao ver o homem a sua frente retroagir, esperando que a qualquer momento pudesse atacá-lo. - Por que não permitir que eu o mate? Eu poderia te oferecer o que mais quer.

Gaara franziu o cenho, até então impassível, à medida que Sasuke, do outro lado do templo, detinha que um grunhido ganhasse voz. O descendente do clã Uchiha, por mais que soubesse que aquele não era o seu Naruto, se achava incapaz de conter os ciúmes ao ver a imagem de seu amante abordar o Kazekage com discreta lascívia. Apesar de tudo, continuava a ver seu marido na figura que os atacava impiedosamente, mesmo que, no fundo, Naruto não existisse mais.

O ruivo recuperou a compostura perdida por milésimos de segundos, voltando a ficar inexpressivo. Para ele, a oferta de ter Naruto para si seria tudo o que ele desejara há quinze anos. Porém, jamais seria possível tê-lo para si, pois aquele a sua frente não passava de um embuste.

- O que eu mais quero… - disse, levantando a mão e fazendo a areia envolver as pernas do loiro ao mesmo tempo em que um ataque atingia o demônio pelas costas. - …não é você.

Kyuubi recebeu o impacto, mas não demonstrou qualquer reação senão um breve desequilíbrio e repuxar no canto dos lábios. As esferas vermelhas da raposa brilharam de um jeito sádico para Gaara e o loiro expressou, suavemente:

- Eu vou matá-lo.

- Você não vai, não. – A voz de Sasuke afirmou, vinda de trás do demônio.

Ele ia atacá-lo. Estava preso pela areia de Gaara, logo tinha como garantido o sucesso de sua investida, mas subestimou seu inimigo. As caudas de chakra ressurgiram repentinamente e, sem que seu dono precisasse se virar, uma delas se enrolou ao corpo de Sasuke, o apertando fortemente. A espada, que segurava em sua mão, foi ao chão retinindo ao contato com o solo rochoso e o moreno deixou escapar um grunhido de dor, enquanto a energia intensa que fluía pela cauda ao redor de si, queimava sua pele como ácido.

- Não é humilhante ter Hoshi-kun aqui, presenciando sua morte e o quanto você é fraco e desprezível? – Orochimaru zombou, satisfeito por ver o sofrimento no semblante de Sasuke, que lutava para se livrar da situação em que se encontrava.

No mesmo segundo, Kyuubi gerou uma esfera que se não fosse pela cor carmesim, se igualaria a intensidade do antigo Rasengan que Naruto usava como golpe. Gaara arregalou os orbes verdes e não teve escolha a não ser retroagir a areia que prendia as pernas do rapaz a sua frente, para poder se defender.

No entanto, o ataque veio mais rápido do que sua capacidade de gerar um escudo forte o bastante para se proteger. A força da esfera de energia rompeu a areia e atingiu Gaara no tórax, jogando-o para trás violentamente.

Os olhos de Hoshi se arregalaram e, sem conseguir conter-se mais, desvencilhou-se de Orochimaru com uma cotovelada e gritou pelo pai, correndo na direção do mesmo.

- Otousan!!

Sendo movido pela voz do garoto, o loiro embalou a cauda de maneira brusca, atirando Sasuke para longe, e se virou para encarar a fúria do jovem. Mas, para sua total surpresa, o adolescente tinha se aproximado de si tendo no olhar ativado o Sharingan.

E tudo parou para ambos.

oOo

Hoshi piscou os olhos e conscientizou-se do ambiente ao seu redor. Primeiramente fez uma careta de nojo ao sentir os pés até seus tornozelos molhados e notar a água turva que cobria o chão. Entretanto, no instante seguinte, foi tomado por uma euforia sem igual.

- A-ha! Eu consegui! Eu consegui! Consegui! Consegui!

Sua voz ecoou pelas altas paredes que formavam o caminho que levava a cela onde estava Naruto. Sem titubear, colocou-se a correr pelos longos corredores, com a determinação de encontrar o garoto loiro e liberá-lo daquele estado, para que pudesse pelo menos, parar de atacar seu pai. Com tanta força, ele poderia destruir Orochimaru e, depois disso, tudo ficaria bem. Ou pelo menos se forçava a crer nisso, pois, no fundo, não tinha a menor ideia das consequências no momento em que quebrasse aquele selo.

Uma chance. Apenas uma chance. Era tudo o que precisava. Tinha que conseguir.

Avistou as barras de ferro dourado do local onde vira o verdadeiro Naruto pela primeira e última vez e estreitou os olhos, impondo mais velocidade a sua corrida. Seu único temor era que o demônio o interceptasse antes de concluir seu intuito.

Ofegante, chegou até as grades e antes de qualquer coisa certificou-se de que o loiro continuava dentro da prisão. Quando o observou estando do mesmo jeito alheio, jogado no canto da cela, por um momento, Hoshi sentiu o peito apertar. Era uma imagem que o perturbava; aquela inércia, a falta de vida naqueles olhos azuis, a nuance de tristeza que parecia envolver todo semblante. Sequer conhecia realmente quem aquele garoto fora e, definitivamente, não o reconhecia como um outro pai. Então, qual a explicação para a existência daquele sentimento de desolação dentro de si?

Respirou fundo, esforçando-se a desviar o olhar e determinou-se: bastava de divagações!

Esticou o braço na direção do selo ao alto da entrada, sentiu os dedos tocando a textura do papel… mas outros dedos se fecharam firmemente aos fios longos de seus cabelos escuros, bruscamente puxando-os para trás.

- Você é o tipo de criatura teimosa que não se contenta em ser chamado a atenção apenas uma vez, não é, filhote? – Kyuubi grunhiu, afastando o jovem de seu objetivo.

- Ai, larga o meu cabelo! – Hoshi gritou, se debatendo para se livrar da pegada dolorosa que ela mantinha em si, mas, em vão.

- Você tem que aprender a respeitar os mais velhos… - o jovem de olhos vermelhos sibilou, puxando mais os cabelos de Hoshi e o arrastando para longe da sela. – e eu disse que não ousasse tocar no selo.

- Não vai me impedir de tirar o Naruto dali! – o moreno esbravejou, mesmo com a expressão contorcida em dor. - Se me jogar pra fora, eu arrumo um jeito de voltar e terminar o que comecei!

- Filhotes desobedientes merecem ser punidos para aprenderem a lição. – ponderou o demônio, parando de puxar o garoto e, trouxe o corpo dele para junto do seu, onde tomou posse de um de seus braços e o torceu com força para trás. - O que acha de eu quebrar um braço seu, filhote? Será que ajudaria a convencê-lo a se comportar?

Hoshi segurou-se para não gritar novamente, e reagiu. Inclinou o corpo para frente, sentindo que seu braço poderia se partir a qualquer momento, mas aproveitou-se do espaçamento conseguido para jogar o pé para trás e atingir Kyuubi bem no meio das pernas.

Imediatamente, cambaleou para frente ao repentinamente ser solto. Amparando e acariciando o braço machucado, olhou para a figura encurvada que segurava os gemidos de dor e riu debochado:

- E não é que o demônio tem mesmo bolas.

Sem perder mais tempo, correu de volta a cela e, sem hesitar, arrancou o selo que se destacava no alto das grades e o rasgou. O portão então se abriu e, sem demora, entrou, apressando-se na direção do garoto ao fundo do cárcere.

- Naruto! – chamou e, alcançando o loiro abatido, ajoelhou-se ao lado dele, fazendo uma expressão de desgosto quando aquela água lhe cobriu os joelhos, mas se focou em sacudir o outro garoto. - Naruto!

Mas Naruto não se moveu, sequer piscou os olhos, ou aparentou ter lhe escutado. O que fizera de errado? Por que ele não saia daquela inércia? Seria mesmo possível que existisse outro selo por ali? Orochimaru havia dito que tivera que reforçar o que havia feito para controlar Naruto ali, só que, se era um reforço, e se é que existia mais algum, quando tirasse aquele principal, o segundo simplesmente não seria suficiente para segurar o outro ali. Pelo menos, era assim que as coisas funcionavam em seu raciocínio. Ou será que rasgar o selo não era o suficiente para quebrar seu efeito?

- Por quê? – perguntou mais para si mesmo do que para a figura inerte a sua frente. - Por que ele não responde?

- Porque é um tolo. – a voz rouca respondeu atrás de si, fazendo com que se sobressaltasse.

As garras de Kyuubi se fecharam na parte de trás de sua roupa, afastando-o do outro rapaz e, por mais que tentasse impedir de ser levado embora, não tinha força suficiente para lutar contra a raposa de nove caudas.

Mesmo assim, criava resistência.

- Naruto! Otousan precisa de você! – disse alto, mas frustrando-se com a apatia do loiro, esbravejou: - Acorda, paspalho! Ele está se ferrando por sua culpa!!

Kyuubi riu com escárnio, tirando o garoto de dentro da cela.

- Digno de um Uchiha. – contemplou, jogando o moreno, sem qualquer delicadeza, para frente. - Egoísta e teimoso.

Hoshi caiu de joelhos e mãos no chão. Dessa vez, sem se importar com a água que lhe causava tanta repulsa, falou:

- Não é justo… - fechou os olhos em negação e continuou falando como se Naruto pudesse ouvi-lo, de alguma maneira. - Você o amava, não amava? Como pode permitir que o machuquem? - indagou, inconformado, para confessar suavemente, em seguida: - Ele é tudo o que eu tenho, você não me deixou mais nada… Eu não posso perdê-lo. – apertou os punhos com raiva e logo gritou: - Não posso, ouviu?!

- Chega desse drama, filhote. – Kyuubi reclamou, enfadado. - Hora de…

- …de você voltar pro seu lugar, Kyuu.

Hoshi abriu os olhos assustado e, assim como a raposa, virou-se para trás. Vislumbrou, brevemente, a imagem do garoto de cabelos loiros e grandes olhos azuis encarar sua duplicata de olhos vermelhos, mas, depois disso, uma forte luz branca se expandiu pelo local, e Hoshi sentiu ser bruscamente jogado de volta a realidade.

oOo

Sasuke havia se surpreendido ao ver nos olhos do filho o Sharingan ativado. Não tinha ideia de como ou quando Hoshi o havia adquirido e sempre pensou que ele jamais desenvolveria aquela habilidade. Porém, isso era o que menos importava. No momento em que viu o mais novo parar e seu olhar se chocar com o de Kyuubi, e este simplesmente parar qualquer ataque, soube que havia algo de errado. Sua desconfiança era que Hoshi havia invadido a mente da raposa e estava se arriscando a enfrentá-lo dentro desta, mas não tinha certeza. Para ele, o filho era incapaz de fazer frente ao demônio de nove caudas e isso o desesperava.

Entretanto, antes mesmo que pudesse cogitar a ideia de se intrometer, Hoshi cambaleou uns passos para trás, parecendo estar desorientado, ao mesmo tempo em que o corpo de Naruto desabou no chão.

Gaara, que estava mais próximo, se adiantou até o garoto. Os ferimentos causados pelo golpe lançado por Kyuubi ainda estavam expostos e doloridos, mas nada que ameaçasse efetivamente sua vida, por isso, suportou os machucados em prol de auxiliar o jovem Uchiha, caso fosse necessário.

- Você está bem? – perguntou, colocando a mão no ombro do adolescente.

- Ainda um pouco zonzo, mas… - levou a mão à cabeça, tentando amenizar o mal-estar, enquanto seus olhos retornavam a cor normal, e finalizou: - acho que to inteiro.

- Admirável, Hoshi-kun. – Orochimaru exaltou, enquanto permanecia observando à distância os acontecimentos. – É tão surpreendente a forma como vem, sozinho, lidando com o Sharingan quanto seu pai quando mais novo.

Sasuke fitou o Sannin com ódio, mas um ganido de dor reverteu sua atenção para a direção do corpo do loiro estendido mais adiante. Vendo o outro ainda indefeso, afirmou a si mesmo que não poderia permitir que aquela oportunidade passasse: mataria Kyuubi enquanto estivesse inconsciente.

Não havia por que hesitar ou duvidar: era a melhor oportunidade que tinha em mãos – apesar de não ser a mais honrosa. Todavia, precisava agir, pois, mesmo que não admitisse em voz alta, sabia que somente Gaara e ele, não seriam capazes de derrotar a raposa de nove caudas.

Sem querer dar chance para que Orochimaru atrapalhasse suas intenções, Sasuke se adiantou até o corpo de Naruto.

Quando Hoshi viu o pai avançando com a espada em punho e raciocinou o que estava para acontecer, se assustou.

- Otousan!!

Sasuke distraiu-se, olhando apreensivo para o filho, mas foi surpreendido pelo golpe do corpo de Naruto se projetando sobre o seu e fazendo com que caísse de costas no chão.

Tenso, pensando primeiramente em se defender, o descendente dos Uchiha tentou jogar o loiro para longe de si, mas este prendia seu corpo com o dele.

- Sentiu minha falta, teme?

Seus olhos negros se arregalaram ao se darem com a clareza dos orbes azuis diante de si e o sorriso faceiro plantado nos lábios, mas não teve tempo de processar mais nada, pois um soco atingiu dolorosamente sua face.

- Eu acho que não. – Naruto grunhiu, desferindo outro golpe no rosto do moreno e, logo em seguida, o beijando na boca com volúpia. No instante seguinte, ameaçou ofegante: – Vou cumprir o desejo do seu irmão se um dia ousar beijar outra pessoa, novamente, ta me escutando, bastardo?

Completamente aparvalhado, Sasuke demorava a compreender a situação que vivenciava, enquanto, aos poucos, uma euforia tomava conta de seu ser.

- D-Dobe?

- Eu mesmo. – Naruto confirmou, fitando com carinho e atenção os traços do rosto do moreno abaixo de si. Tocou uma das faces, sentindo a textura delicada e alva da pele de Sasuke e a acariciou, notando o leve marejado que começava a se formar nos olhos negros. - Os anos foram gentis com você, bastardo.

Ao lado de Hoshi, Gaara podia afirmar que sentia praticamente o mesmo que Sasuke. A emoção de ver de volta a vida, diante deles, a pessoa que mais amavam, era sem dúvidas, avassaladora.

- Quanto amor… - Hoshi resmungou. - Teme, dobe, bastardo… é tanta gentileza que chega a me emocionar.

Naruto riu ao escutar o deboche do garoto e se levantou, estendendo a mão e ajudando Sasuke a se erguer também. Voltou-se para ver o próprio filho crescido ao lado de um de seus amigos mais queridos e sorriu, num misto de tristeza e satisfação. O tempo havia passado e as pessoas haviam mudado, enquanto ele fora trazido de volta e obrigado a permanecer como na época em que morrera. Aquilo, bem no fundo, o incomodava.

Seu filho, cuja ultima lembrança datava de quando o mesmo ainda usava fraldas, agora tinha praticamente a mesma idade que ele, Naruto. Alguns dos amigos que tanto estimava, estavam mortos pelo chão do templo; suas vidas tiradas por suas próprias mãos, mesmo que não tivesse sido ele no controle naquele momento. Um leve sentimento obscuro o assolou, mas isso foi colocado no fundo de sua mente assim que escutou a voz de Orochimaru lhe atiçar.

- Quer dizer que Hoshi-kun conseguiu tirá-lo do cárcere?

A expressão amena se desfez e o rancor tomou conta de seus traços. Aquele homem lhe trouxera mais problemas do que seria capaz de suportar. Violara seu túmulo e o devolveu a vida, colocando Kyuubi contra ele. O demônio jamais teria agido por conta própria se não fosse o rancor que guardava por Sasuke, mas se tivesse a oportunidade de conversar com a raposa, teria feito com que ele entendesse o que se passou há quinze anos. Contudo, Orochimaru não permitiu e o selou dentro do próprio corpo, instigando mais e mais o ódio em Kyuubi. Quando este lhe mostrou seu amante beijando aquela mulher desprezível que um dia fora parceira dele no time Taka, acabou perdendo o resto de vontade de lutar contra a força do selo que o Sannin havia colocado para lhe suprimir, mas estava ciente de tudo o que acontecia, ouvia tudo ao seu redor e foi justamente a súplica de seu filho que o fizera despertar.

Conseguira controlar Kyuubi por si só; conseguira voltar e, por tudo o que aquele homem o fizera passar, o esmagaria.

- Eu vou matá-lo. – jurou, entre dentes.

- Não vai. – Orochimaru riu. - Você sabe que não pode.

Assim que o Sannin atacou, Naruto gritou para o Kazekage:

- Gaara, tire meu filho daqui!

Gaara apenas assentiu com a cabeça e pegou no braço do garoto.

- Venha. – ordenou.

Hoshi franziu o cenho. O que será que acontecia com aquela gente que tanto gostavam de ficar puxando-o e empurrando-o o tempo todo? Ele não queria sair dali; tinha que ficar para manter o otousan sobre suas vistas, pois o receio de perdê-lo ainda não se apagara totalmente, mesmo com o aparecimento de Naruto.

- Eu quero ficar! – determinou, apresentando resistência a intenção de Gaara.

O ruivo o olhou com seu jeito apático e explicou:

- Se ficar, pode acabar atrapalhando ou se machucando.

O pensamento de que seria um estorvo se permanecesse ali, fez com que Hoshi reconsiderasse. Olhou um pouco desolado e em dúvida, para seu otousan que lutava ao lado de Naruto e decidiu confiar nas habilidades deles.

oOo

Do lado de fora, a noite parecia até algo surreal para Hoshi. Tanto tempo preso dentro daquele covil e finalmente tinha sua liberdade de volta. Admirou o céu escuro e limpo, sentindo satisfação ao toque da brisa noturna em sua pele.

Para tudo ficar ainda melhor, só faltava seu otousan deixar aquele templo são e salvo. Sorriu levemente ao se lembrar de como o mais velho ficara aturdido quando notou que Naruto havia verdadeiramente voltado dessa vez. Acalentava-o ver um brilho de felicidade que jamais vira cintilar nos olhos dele. Nunca presenciara tamanho sentimento vindo do mais velho e isso, de certo modo, o entristecia, pois certificava que o mesmo mantivera uma fachada apenas para criá-lo bem, mas também, o fato o fazia admirar ainda mais aquele homem que dedicara a vida para vê-lo crescer feliz.

Agora, a sua maior satisfação seria que seu otousan obtivesse plena felicidade. Sabia que com Naruto vivo e ao lado dele, seu pai estaria completo e nunca mais teria que mascarar tristeza alguma. Hoshi jurou a si mesmo que faria de tudo para preservar aquela alegria na vida do pai.

- O que está acontecendo lá dentro? – Karin os abordou, assim que Gaara chegou acompanhado de Hoshi, até onde estava esperando. – Eu senti o chakra de Orochimaru… mas é impossível, não é?

- É uma longa história. – o ruivo disse.

- Esse é o filho de Sasuke? – quando Gaara deu-lhe uma resposta positiva com um aceno de cabeça, ela sorriu maliciosa: - Nossa, você é mesmo bonitinho. Parece com Itachi.

Hoshi a olhou com displicência e retorquiu:

- Não acha que está muito velha pra ficar me olhando desse jeito?

- Eu tenho experiência. – Karin se insinuou, fazendo com que Gaara franzisse o cenho e o adolescente rodasse os olhos.

- O mundo está cheio de depravados. – o garoto torceu o nariz. - Primeiro o homem cobra, agora a bisonha com óculos.

Uma forte explosão os assustou, fazendo com que voltassem imediatamente suas atenções para o templo. Sem hesitar, o Kazekage ordenou a Karin:

- Cuide dele.

Dito isso, o ruivo correu de volta em direção ao templo, mas no segundo seguinte, Hoshi fechou a expressão e avisou:

- Preciso ir, tia.

Uma veia pulsou na têmpora da ruiva, mas ignorando a forma como o jovem a chamara, tentou impedi-lo:

- Ei, o Kazekage mandou que ficasse aqui comigo!

Correndo para o templo, atrás de Gaara, Hoshi replicou:

- Você não pode me proteger, feiosa!

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Naruto tinha acabado de deter o avanço de Orochimaru que centrava todos seus ataques em Sasuke. Sabia que ele não ousaria destruí-lo e que todo seu ódio se limitava ao antigo discípulo, mas o loiro jamais permitiria que o Sannin o matasse.

- Não vai conseguir me atingir, você sabe disso, não é, Naruto-kun? – Orochimaru debochou, depois de ter facilmente se esquivado de um Rasengan. - Desista.

Naruto fechou os punhos, sabendo muito bem que teria que admitir a verdade se quisesse findar aquela ameaça. O que mais o atormentava em sua decisão não era o fato de ter que abdicar de tudo, mas sim, o sofrimento que isso causaria a seu amado, mais uma vez.

Abaixou a cabeça; seu ato fazendo com que o Sannin sorrisse vitorioso.

- Sasuke… - ele falou o nome do outro baixo. - Eu sinto muito.

Sasuke, que estava próximo ao loiro, não entendeu aquela atitude. Naruto não era uma pessoa que desistia facilmente de lutar, então, qual o motivo daquele timbre e postura derrotista?

- Naruto? – o moreno chamou, inseguro.

O loiro inspirou profundamente e penosamente confessou:

- Ele criou uma ligação com o chakra da raposa. Ele foi capaz de sustentar e viver no mesmo corpo até hoje porque tem um jutsu que liga a minha existência a dele.

Sasuke engoliu em seco, ignorando o ar triunfante do homem que o treinara na juventude e, querendo negar o que sua mente facilmente raciocinara, tentou expressar:

- Isso quer dizer que…

- Que ele é um maldito parasita se alimentando do chakra do Kyuu. – Naruto completou com rancor. - Mas assim que eu não mais existir, ele também estará morto.

Imediatamente, Sasuke segurou forte no braço do mais novo e o obrigou a virar-se para si.

- Nunca! – negou, imperativo, carregando no olhar a determinação do que havia dito.

Naruto levantou os cristalinos olhos azuis para o rosto do moreno, vendo que seria mais difícil do que cogitara. Não queria ter que se separar dele, muito menos queria obrigá-lo a reviver todo o pesadelo que fora ajudar a matá-lo da primeira vez, porém, não tinha escolha. Jamais permitiria que Orochimaru ficasse livre e tivesse assim meios de ferir as pessoas que amava.

- Por favor… - suplicou. - eu não tenho como, mas você… faria isso por mim?

Sasuke viu a decisão e a dor nos orbes claros de Naruto e negou com a cabeça, o abraçando.

- Não…

- Foi bom ter tido a chance de ver o homem que você se tornou e como nosso filho cresceu… Você o criou bem. - Naruto admitiu e, suavemente, riu: - Ele se parece com Itachi.

Apertando o rapaz contra si, Sasuke sorriu melancolicamente e confessou junto ao ouvido dele:

- Foi doloroso conviver com alguém que tinha a sua personalidade irritante e ter que encarar todos os dias a face do meu irmão mais velho. Foi um castigo por tudo o que fiz, eu tenho certeza. Mas, ao mesmo tempo, ele é a única coisa que ainda me segura aqui.

- Se nossas vidas pudessem se repetir, eu estaria ao seu lado a todo o momento… (1)– Naruto murmurou, fechando os olhos, aproveitando do calor do corpo do outro homem.

Sasuke sentiu que poderia sufocar a qualquer momento com aquele sentimento que o consumia rapidamente. A sensação de impotência misturada com a certeza de que estava, depois de tanto, tanto tempo, com a pessoa que amava nos braços e que a perderia novamente, era quase insuportável. Suas convicções pareciam ser afetadas também por esse mal-estar, pois em segundos sua mente cogitava a possibilidade de deixar Orochimaru de lado e sumir com Naruto para bem longe, um lugar em que nada nem ninguém pudessem machucá-lo ou tirá-lo de si. Konoha e o resto do mundo que se virassem. Um fardo tão grande não poderia ser depositado sobre os ombros de uma única pessoa. Não era justo, nem consigo, nem com Naruto.

Porém, a intenção de embarcar numa loucura daquelas se perdia completamente ao olhar nos olhos da pessoa que tanto amava. Ele jamais aprovaria tal coisa e jamais o perdoaria se fizesse isso a força. Para Naruto, os amigos, Konoha, o filho e ele – Sasuke-, sempre seriam as prioridades acima de sua própria vida e aquele altruísmo fora uma das coisas pelas quais se encantara pelo jinchuuriki.

- …E eu não pediria por mais nada.(2) – sussurrou de volta para o loiro.

Orochimaru, entendendo exatamente o que o garoto pretendia, começou a fazer um jutsu para detê-lo. Não podia permitir que ele estragasse todos os seus planos, muito menos que os destruísse com a ideia patética de dar fim a própria vida.

- Perdão, Sasuke. – Naruto pediu, com um sorriso.

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Continua...


Notas da Blanxe:

(1) e (2) – ambas as frases pertencem a música que eu escrevi essa parte final da cena do Naruto e do Sasuke... One More Time, One More Chance – Masayoshi Yamazaki...

Demorou de novo, mas taí o último capítulo. É, não termina assim, tem um epílogo ainda e, como já avisei previamente pra não ter surtos desnecessários, a fic continua em mais 3 arcos!

Respostas de Reviews sem Login:

Lady Yuraa - Provavelmente em algum momento eles irão ficar juntos, são varios arcos, então tem muita coisa ainda pra acontecer na vida do Sasuke e do Hoshi... Obrigada por comentar!