II

Comunismo de algodão

-Dividir para unificar-

Era uma verdadeira batalha de lençóis em meio a uma discórdia de algodão. A coberta fora projetada para adequadamente cobrir duas pessoas, porém para aquelas duas pessoas em particular a coisa não funcionava desse jeito. Ela puxava de um lado, ele, de outro.

Mas que inferno! Todo o dia, o mesmo cabo de guerra, pareciam crianças emburradas lutando por um brinquedo! Se eram adultos, por que não agiam de acordo?

"Vamos comprar dois lençóis. Assim cada um fica com o seu."

Decidido. Bastante simples, pragmático o suficiente para um casal tão moderno quanto eles. O fim de uma rotina que estavam felizes em poder enterrar.

Naquela noite, cada qual com o lençol que lhe cabia, deitaram absolutamente despreocupados. Felizes em seu egoísmo, embolaram-se o máximo que puderam nas cobertas, aproveitando a liberdade do individualismo cego. Tudo exatamente como queriam. Sem brigas sonolentas, sem puxa-empurra...

Por que então não conseguiam dormir?

Pode ter sido ela, pode ter sido ele, ou talvez os dois juntos. Apenas sabe-se que em dado momento um dos lençóis foi atirado para fora da cama, enquanto o outro se via perigosamente esticado, à beira de um rasgo.

Aquela guerra, afinal, não teria fim. Mas de que importa? Sentir a presença firme um do outro na outra ponta do lençol, mesmo que distante, era precisamente o que os unia tanto.