Michael

A rajada de vento frio cortara seu rosto como uma navalha afiada. Seu coração apertou-se em seu peito ao observa-lo deixar o lar que tanto amavam. Não lhe disseram uma única palavra, apenas o observou e caiu, indo diretamente à perdição.

O céu tornou-se cinza, coberto por nuvens densas de tempestade enquanto todos observavam. Podia distinguir somente as enormes asas de cada um daqueles seres delicados e, ao mesmo tempo, vorazes e terríveis.

Largou sua espada prateada e partiu para longe, sentindo espessas e torturantes lágrimas descerem por seu rosto. Lágrimas de arrependimento.

Sentou-se sob a relva e observou, tristemente, a Terra. As folhas de uma bela árvore começavam a cair, enquanto o chão, antes verde claro, tornava-se cada vez mais branco com aqueles pequenos flocos que caíam delicadamente sob a grama.

Sabia que tinha feito exatamente o que seu Pai mandara. Mas aquilo era certo? Expulsar seu próprio irmão, chamar-lhe de aberração e condena-lo a nunca mais voltar para casa não lhe parecia a coisa mais correta do mundo.

Mesmo feito o que tinha feito, Lúcifer ainda era seu irmão. E ele ainda o amava muito.

Michael soluçou, ignorando aquelas espessas gotas que saíam de seus olhos.

- Eu sinto muito, irmão... – Foi a última coisa que disse.

Lúcifer

Estava só.

Sua família havia planejado toda aquela traição contra ele por não se curvar diante das criaturas nojentas que seu Pai havia criado. Eles não mereciam tudo aquilo que haviam recebido. Eram macacos com cabelos, lascivos, vorazes e com sede de sangue.

Não demoraria muito até que finalmente destruíssem aquela maravilhosa criação.

Sentiu-se vazio.

Seus olhos pousaram numa pequena criatura congelada aos seus pés. Um pássaro. Cuidadosamente, pegou a ave entre as mãos, observando com todo o cuidado o corpo imóvel e frio.

O rouxinol morrera de olhos abertos. Traído por aquele que tanto amava. A Terra o traíra, tirando sua vida de uma maneira fria e dolorosa.

Pousou a ave de volta no chão e continuou a caminhar.

Ergueu os olhos com tristeza, dando uma última olhada em sua morada, o lugar que tanto amava e cuidava com tanto fervor.

Sentira dois olhos em sua nuca, vindos do alto e o viu.

Michael estava olhando para ele. Parecia triste, arrependido.

Lúcifer ergueu os olhos e desaparecera. – Adeus, irmão.

Fora a última coisa que Michael ouvira antes que seu irmão fosse colocado em sua nova casa.