Draken não tinha esquecido o Dia dos Namorados. Não. Ele nunca esqueceria um dia como aquele. Entretanto, ele não pôde comprar um presente para Mikey, seu namorado, a tempo devido à agenda deles, que estava tão repleta de entrevistas que mal conseguiam respirar corretamente. A nova temporada de corridas começaria em março, e Mikey, além de estar treinando intensamente e testando cada um dos equipamentos de sua moto, também tinha que dar inúmeras entrevistas em um único dia.
Depois de quase dez anos como piloto profissional de motos, era mais do que normal ter muitos compromissos ao mesmo tempo, mas ele ainda parecia exausto e, muitas vezes, não sabia como responder às perguntas dos repórteres. Ken, por outro lado, estava ocupado consertando a moto que Mikey usaria. Ele tinha que finalizar tudo antes de 6 de março e, mesmo com a ajuda dos outros membros da Top of Manji, ainda era um pouco de trabalho, mas nada que o fizesse querer desistir.
Eles estavam acostumados a isso. Era uma rotina que eles conheciam muito bem, mas eram ambos humanos e, ocasionalmente, só queriam relaxar um pouco um com o outro. Foi por isso que tiraram aquele dia de folga para descansar um pouco e ficarem juntos. Embora Ken não tivesse um presente em suas mãos naquele momento, ele ainda tentava tornar o Dia dos Namorados divertido e diferente do que os casais normais fazem.
A começar pelo fato de ele não ter dito ao Mikey para onde eles estavam indo.
— Você parece tão concentrado hoje... está tentando me sequestrar? — O comentário de Mikey fez Draken rir. Seu namorado estava bem acomodado no banco do passageiro, prestando atenção aos menores detalhes e tentando encontrar pistas ao longo da estrada. — Eu sei! Nós vamos visitar um aquário! Aquele enorme.
Draken queria dizer "quase lá", mas isso seria óbvio demais e Mikey notaria. — Por que só não admira a paisagem? Em breve você vai descobrir. — Draken comentou, prestando mais atenção à estrada. Ele não havia decorado o caminho, mas se tudo estivesse correto no mapa de seu aplicativo, ele veria uma placa roxa a qualquer momento.
— Não há muito o que admirar por aqui, além de você, é claro. Eu só vejo arbustos deste lado, mas se eu virar minha cabeça assim, — disse Mikey, encostado no banco do carro e olhando mais de perto para o tatuado. — Oh, deste modo, posso ver um cara muito bonito e gostoso... isso me dá vontade de tirar esses estúpidos cintos de segurança e pular em seu colo...
— Olhe ali! Parece que chegamos! — Draken o cortou antes que as coisas saíssem do controle. Ele não era tão bom em se controlar quando Mikey soltava aquelas frases. Bem a tempo, ele identificou a placa de um tom arroxeado com o símbolo de um golfinho, idêntico ao que estava no mapa. — É logo ali.
— Um golfinho? — Mikey questionou. — Então é mesmo um aquário?
— Leia atentamente. — respondeu Draken, acenando com a cabeça para a outra grande placa logo à frente deles. A nova placa era cor-de-rosa e continha uma seta apontando para um portão gradeado que estava bem aberto. Ainda assim, dentro do carro, ambos podiam ver várias pessoas, especialmente crianças, correndo ao redor do local.
— O zoológico? — Mikey olhou para o letreiro do zoológico com descrença. — Ken-chin! Eu não posso acreditar.
— O quê? Não gostou da surpresa? — Draken dirigiu o carro em direção ao estacionamento local, olhando brevemente para seu namorado, apenas para observar a expressão excitada em seu rosto. Ele parecia mais feliz do que Draken imaginava.
— Claro que gostei. Mas eu nunca pensaria nisso. Tipo, faz anos desde que fui a um zoológico... a última vez que vim com Emma e Shin, eu ainda era uma criança... acho que foi em 1999.
— 'Tá me dizendo que a última vez que você visitou um zoológico foi há cerca de 24 anos? Caramba, isso é uma loucura. Provavelmente estamos velhos demais para isso.
— Ora, não venha com essa, ainda carrego o espírito de uma criança dentro de mim. — Ken mal estacionou seu carro e Mikey já estava praticamente pulando para fora do veículo. — Vamos lá! Eu quero ver tudo.
Ken sorriu, orgulhosamente. Aparentemente, não ter um presente, mas levar seu namorado ao zoológico, era o plano ideal para aquele dia especial.
Quando Mikey disse que ainda havia uma criança dentro dele, ele estava totalmente certo e Draken sabia mais do que ninguém sobre isso.
Ele parecia uma criança que queria ver tudo de uma vez sem parar, e toda vez que tentava se aproximar demais dos animais ou tocá-los, Ken dava-lhe um sermão. Isso o lembrava dos bons velhos tempos quando era só ele e Mikey andando pelas ruas de Tokyo e faltando às aulas. Também o fez perceber como Mikey nunca perdera aquela essência brincalhona e infantil dele. Era um lado dele que Draken gostava muito. Sempre gostou.
Desde que conhecera Mikey, Ken notara este comportamento no mais novo, que ele sabia o momento certo para brincar e o momento certo para ser um líder racional e sério. Durante as corridas, era a mesma história. Ele era empenhado, sempre liderando o caminho com seriedade, mas fora dali, ele se tornava o mesmo cara que uma vez disse a Ken que não sabia como amarrar os cadarços de seu tênis.
Mas foi este mesmo cara que fez Ken se apaixonar.
Eles caminhavam tranquilamente até a última área do zoológico quando Mikey, de repente, puxou o mais alto pelo braço até a seção dos hipopótamos. Eles já tinham passado por ali, mas algo parecia chamar a atenção de Mikey.
— Você tem alguma fixação com hipopótamos? — o Ryuguji perguntou, curiosamente. — Esta é a terceira vez.
— Você quer saber algo engraçado? Algo que eu acabei de lembrar. — Ken balançou a cabeça, o incentivando a continuar. — Quando eu era criança e visitei o zoológico pela primeira vez, passei horas na seção desses hipopótamos esperando que eles aparecessem. Sei que eles não ficam muito tempo debaixo d'água, mas todos estavam demorando para sair dali. Como eu era uma criança, isso me decepcionou. Eu esperaria horas por eles, mas meu avô tinha sérios problemas de glicose e precisava comer algo com proteínas, então naquele dia eu não tive outra opção a não ser deixar os hipopótamos para trás. Eu fui dormir tão frustrado porque não os tinha visto. Agora, lá estão eles. — Mikey apontou para os animais gigantes. — Finalmente, fora da água. São legais, mas eu não chegaria muito perto. Eles poderiam me matar com uma única mordida.
— Disse o cara que provocou um chimpanzé com uma banana e até tentou tocar uma leoa. — o mais alto riu.
— O chimpanzé foi maneiro. Ele roubou os óculos de uma senhora. E eu teria tocado naquela leoa se não fosse a ameaça do segurança de me prender.
Após mais alguns minutos, Ken estava convencido de que a área onde os hipopótamos estavam seria a última do vasto zoológico que eles visitariam. Eles não pretendiam ficar lá até o céu escurecer, e como já tinham visto a maioria dos animais, isso não faria muita diferença. Principalmente ao ver o quanto Mikey se entretinha com os hipopótamos. Havia uma expressão de diversão em seu rosto e seus olhos brilhavam cada vez que uma daquelas grandes criaturas fazia seu típico barulho alto.
E ele não conseguia parar de olhar fixamente para ele por ser uma cena tão adorável. Como Manjiro podia ser tão fofo? Tão concentrado naqueles animais, aqueles que nem sabiam o motivo de estarem sendo observados e filmados por tantos humanos.
— Ken-chin, estou ficando envergonhado.
O tatuado piscou, saindo de seu transe e percebendo que Mikey estava olhando para ele com um beicinho.
— Por que?
— Eu senti o seu olhar.
Draken puxou o mais baixo para um abraço e depositou um beijo no topo de sua cabeça.
— Eu estava olhando para você porque você estava uma gracinha. Me dá vontade de beliscar suas bochechas também.
— Não se atreva! — Mikey o apertou, pressionando seu queixo no peito do maior. — Você fez o meu dia, sabia? Eu estou muito feliz. Tipo, muito, muito feliz.
— E o que vou receber por te fazer tão feliz deste jeito, meu amor? — Ken inclinou seu rosto, esfregando seu nariz contra o de Mikey.
— Você vai me levar ao McDonald's e me comprar um grande milkshake, e quando chegarmos em casa, eu te pago com um belo boquete porque eu sinto que você merece. O que você acha, querido?
Ken não precisou responder. Somente apanhou as mãos do Sano, conduzindo-os rapidamente para o estacionamento enquanto ouvia as risadas do corredor favorito dele logo atrás.
