-Ah não vovô, isso não pode ser verdade! - reclamou uma pequena mocinha, se recusando a dormir e também a acreditar na história de seu avô.

-Tudo é verdade, sim, Dinah, não acredita em mim? Pergunte ao seu pai, ou à sua avó, ou à sua mãe, todos eles já me viram fazer todas essas coisas - Indiana garantiu à neta.

-Não, não pode ser, você teria que ser um super herói pra fazer tudo isso, e nem eles existem - argumentou Dinah.

-Porque heróis de verdade se viram como podem, era bem o que eu fazia - o avô continuou insistindo.

-Tudo bem, então, eu acredito só pra te deixar feliz - concedeu a garotinha, para a indignação do avô.

-Dinah, não é assim que se fala com seu avô, que educação é essa, menina? Foi seu pai que te ensinou a me atormentar, não foi? - provocou Indiana.

-A... Ator... o que é isso? - ela ficou curiosa com a palavra desconhecida.

-Você nem sabe o que é atormentar... - Indy cedeu e riu - está bem, outro dia eu te explico, mas agora trate de dormir, por favor.

-Tá bem, vovô - Dinah aceitou as condições.

Indiana ajeitou seu cobertor e beijou sua testa, desligou o abajur e antes que saísse do quarto de vez, prestes a alcançar a maçaneta da porta, olhou para trás, pois Dinah o tinha chamado mais uma vez.

-Vovô? - ela disse.

-Você disse que iria dormir, docinho - apontou o avô.

-E eu vou, eu só queria dizer que, eu amo suas histórias, mesmo sem conseguir acreditar nelas - ela fez questão de dizer.

-Acho que já é bom o bastante pra mim - Indiana considerou aquilo como uma vitória parcial e a deixou descansar.

Dinah tinha se saído bastante ao pai dela e é claro, tinha um pouco das características da mãe. Depois que Indy e Marion se casaram, as coisas começaram a entrar nos eixos entre eles, o que também beneficiou Mutt. O rapaz tinha deixado o apelido vergonhoso já há muito tempo, e detestava quando o chamavam assim, ele agora era Harry Jones, professor de literatura na universidade Marshall, mesmo local em que tinha estudado (Seu pai ficava de olho nele ali, enquanto trabalhava como vice-reitor). Seu gosto por aventuras o levou a descobrir mais histórias fantásticas (das quais ele também tinha suas dúvidas, como Dinah), e acabou se afeiçoando à literatura.

No mesmo local, ele conheceu Carmem Souza, uma brasileira que tinha conseguido uma bolsa em Marshall. Ela o achava um tanto arrogante, metido e sem noção de quando parar de flertar, mas o conhecendo mais a fundo, via que tinha um coração bondoso dentro de uma armadura de bad boy. Mutt, ou melhor, Harry mudou muito depois que eles começaram a namorar.

Foi dessa união que surgiu a pequena Dinah, neta de Marion e Indy, que tinha puxado bastante a eles também. Tinha gosto por aventuras e uma língua bem afiada, que não poupava nem o avô, por mais que ela tivesse um enorme carinho por ele.

O tempo foi passando e a pequena Dinah se tornou uma jovem impetuosa, acabando seus estudos na escola e começando seus estudos justamente na Universidade Marshall. O local parecia ter se tornado um segundo lar das gerações da família Jones.

Depois de muito pensar, e tentar decidir qual seria o curso ideal para si, Dinah acabou optando por biologia. Isso se devia a boas lembranças que ela tinha de uma visita ao Brasil na sua infância, quando sua mãe lhe mostrou as belezas da sua terra natal no estado de Minas Gerais.

Dinah tinha começado seu primeiro semestre muito bem, era aplicada e estudiosa, brilhante como todos os outros Jones que passaram pela Marshall, mas logo sua língua afiada a colocou em apuros.

Naquela manhã de trabalho, Indy estava ocupado com sua menos, ou nem um pouco favorita ocupação, ler documentos e relatórios, autorizar seminários, e cuidar da faculdade em geral.

De repente, para sua alegria, ele foi interrompido por uma batida na porta.

-Entre - respondeu Jones, se colocando de pé em antecipação à sua visita.

-Desculpe interromper seu precioso trabalho, vovô - Dinah se esgueirou para dentro da sala, parecendo cautelosa, sorrateira como um gato prestes a roubar comida.

-Pelo jeito você aprontou de novo, o que foi dessa vez? - Indy suspirou, já cansado daquelas situações.

-Quem disse que eu não posso vir aqui só pra dar um oi pro meu lindo vovô? - ela aproveitou a oportunidade para se aproximar e beijar sua bochecha afetuosamente.

-Nada de tentar me comprar, aposto todas as fichas que você está com uma suspensão aí atrás - deduziu o avô, não comprando todo aquele charme, notando o papel que ela escondia atrás das costas - o que foi que você fez dessa vez?

-Nada, eu juro, eu só me desentendi com a sra. Waters de novo - Dinah foi sincera ao se justificar - ela corta os meus comentários, sendo que eu já vi ao vivo e a cores o que ela está falando, ela se irritou porque eu sabia mais do que ela.

-E ela é tão impetuosa quanto você, era natural criarem uma briga - Indy compreendeu a situação, também tendo sua própria fase rebelde.

-Não foi uma briga propriamente dita - reiterou Dinah - ela não gosta muito de mim.

-Docinho, você sabe que nunca deve questionar um professor, mesmo quando sabemos que eles estão errados - Indy a aconselhou - mas num ambiente neutro e com os argumentos certos, quem sabe? Mas não se arrisque demais, nem sempre vale a pena.

-Está certo, vovô, compreendi - a jovem sorriu.

Apesar da pouquíssima severidade, ela sabia que deveria honrar a boa vontade de Indiana e não se aproveitar do fato de ele ser o vice-reitor. Mais uma vez, a porta do escritório do Prof. Jones foi batida naquela manhã e se tratava justamente de mais alguém da sua família.

-Dinah, que tá fazendo aqui a uma hora dessa? Não deveria estar na aula? - o pai dela perguntou.

-Não é nada demais, Harry, ela só está me prestando uma pequena visita - Indiana foi mais rápido, defendendo a neta, que sorriu, agradecida para ele - e você também, pelo jeito.

-Bom, parece que hoje é o dia de visitas para Indiana Jones pelo jeito - Harry deu um sorrisinho torto - vieram procurar um Henry Jones, mas com certeza não se trata da minha pessoa.

-Não pode me adiantar o assunto? - o pai se levantou, curioso com aquele assunto.

-Não, não me contaram nada, mas querem falar diretamente com o senhor - Harry explicou.

-Bom, não vamos deixar esses senhores esperando - Indy decidiu.

Ele foi ver do que se tratava tudo isso, enquanto Dinah e Harry ficaram no escritório. Ela deu um sorriso de disfarce ao pai, enquanto mantinha a folha de suspensão ainda escondida atrás das costas.