Isabella
É claro que ela voltaria.
Victória não passava de um animal peçonhento, venenosa e ardilosa como ela era, sabia muito bem como manipular as situações ao seu favor, não era a toa que ela conseguia se esgueirar e escorregar por onde queria.
A sua sede de vingança sempre falava mais alto, isso a impediu de me matar no passado, deixando assim uma enorme pedra em seu caminho. Ela queria que eu sofresse, seu plano era fazer da minha vida um inferno… e isso ela conseguiu. Meu primeiro ano de nascida não foi um mar de rosa, mas isso não me destruiu, nem mesmo Maria me destruiu como ela achou que aconteceria. O humano sem utilidade, de escravo virou uma poderosa General, com um forte poder de fogo. Não foi atoa que ela correu quando me viu de pé em sua frente, no final do meu primeiro ano de vida, eu não tinha intenção de ir atrás dela naqueles tempos, mas o destino tinha me presenteado quando a encontrei em umas das cidades de Maria próxima a Dallas, ela ainda se beneficiava do acordo de Maria e estava sempre pela região, eu apenas a encarei imaginando como seria satisfátorio ter minhas mãos nela, enquanto ela apenas correu, sem eu ao menos fazer um movimento em sua direção.
Esse ano em que ela se manteve próxima, tentando se tornar inabalada, enquanto buscava qualquer noticia sobre minha miséria, sem sucesso, a fez acreditar que eu não tinha resistido. É claro que ela fugiria ao ver o quão forte, furiosa e fatal eu tinha me tornado. Depois daquele dia, eu fiquei uns bons anos sem ouvir falar dela e também não procurei, eu tinha muitas prioridades naquela época.
Ela não deixaria sua sede de vingança de lado, ainda mais depois de todo o seu plano não ter funcionado. Ela tinha tentado me derrubar e a única coisa que tinha conseguido foi me deixar ainda mais forte.
Eu sai da delegacia não me importando de passar na sala do meu pai, eu conseguia ouvir seus sussurros com Maria e não queria me intrometer. Eu sabia que isso iria acontecer, afinal de contas, bastou bater os olhos um no outro e o amor explodiu por suas orelhas, no meu ponto de vista parecia uma versão bem bizarra do "imprinting" dos lobos. Porque caramba, meu pai suspirou e Maria sorriu. Não era sua risadas sardônicas, era um sorriso brilhante e cheios de dentes, e não era como se ela fosse atacar o pescoço de alguém.
Porra. Não tinha dado a devida atenção a isso naquele momento, não quando eu só pensava em nos proteger, eu precisava manter minha atenção no fato de que estávamos sendo atacados de todos os lados e eu só pensava em correr, nos proteger e eu estava morrendo de medo de não conseguir manter meu melhor amigo inteiro.
Isabella
2017
- Não conte comigo para essa viagem. Não deixarei meu posto por culpa de unos viejos que se creen reyes. Maria. - eu segurava o telefone com ainda mais força na minha orelha. (por causa de alguns velhos que se acham reis.)
- Eles te escutam e entendem o que você diz, ninã. (menina)
- Al diablo esto. Galveston caiu. Você entende? Handall aquele verme os levaram para uma emboscada. Não deixarei Houston desprotegido. Damian tem que retornar hoje. Fique por ai, não é seguro aqui, e eu te mantenho informada. (Foda-se isso.)
- Então venha…
- No saldré de mi casa. (Não sairei de minha casa) – rosnei.
- Niña terca. (menina teimosa)
A ligação foi encerrada com ela me xingando muito além de teimosa. Mas eu estava falando a verdade de que não sairia. Mas eu não iria mentir, eu realmente tinha ficado aliviada de que ela estava bem longe quando tudo aquilo explodiu. Quando aquele verme nos traiu dando sua cartada final ao entregar Galveston para os invasores e comprometendo bons número dos nossos homens que ficavam na região.
A única coisa que estava me segurando naquela sala, era a ligação de Damian, ao qual ele informava que estava voltando com informações. Ele tinha conseguido sair, então eu estava conseguindo respirar.
Toda aquela confusão tinha acontecido quando nômades começaram a atacar pedaços de terras ao nosso redor, embora Maria não desse muita importância, isso me irritava, eram cidades pequenas, muitas das vezes precárias, com poucos recursos para qualquer grupo se aproveitar, então sim, eu me intervia, mesmo que isso levasse Maria aos seus limites comigo. Texas estava tendo um número muito grande de estrangeiros muito deles hostis, era uma novidade irritante. Estávamos em tempos tranquilos, tínhamos terras, propriedade, controle sobre nosso número e até mesmo tratados de divisas com outros covens que se sentiam seguros em permanecer na região, seguindo nossas regras é claro.
Toda a situação acabou levando Maria ao limite, com os nômades e comigo, quando eu mais uma vez ataquei e aprisionei um deles, tendo uma longa conversa que durou 3 dias. Os três dias que a deixou louca por não ter nenhuma notícia minha, mas eu tinha novidades… eu tinha um nome, os Romenos. Maria tinha ficado tão puta ao ponto que ela aceitou minha ideia de encontrar os Volturi's e levar até eles os últimos acontecimentos.
Foi quando o filho da puta resolveu fazer os primeiros ataque nos separando, eu segui para Nova Orleans quando um ataque começou a Galveston. Eram horas de distância, mas eu retornei na mesma hora que eu tinha recebido o sinal de Damian, pedindo que eu o encontrasse em Houston. E isso já fazia mais de 10 horas.
Eu estava furiosa com a emboscada que Handall orquestrou levando parte dos nossos recém-nascido para a morte, e ainda mais Damian, que era difícil manter a coerência naquela situação. Eles estavam espalhados… todos eles, e naquele momento eu me sentia sozinha, furiosa e sem saber o que se resolver primeiro. Handall tinha conseguido me desestabilizar me pegando de surpresa e naquele momento eu tinha feito a promessa de que ele nunca mais teria esse poder sobre mim. Ele poderia me atingir o quanto quisesse, mas eu ainda me manteria firme para destruí-lo.
Estávamos no interior de Houston, eu tinha conseguido chegar na cidadezinha que eu tinha me encantado pela calmaria do campo sem problema nenhum, o grupo que me acompanhava não era muito grande e por isso mantemos nossa atenção redobrava, e não muito longe da propriedade. Eu e Maria tínhamos conquista o controle do território, assim como Dallas e Luisiana, mas foi ali em Houston que eu tinha escolhido construir a minha casa, um complexo seguro aonde eu treinava os soldados e sentia paz e liberdade por ser afastada de outras propriedades e da cidade grande, eu conseguia circular durante o dia com tranquilidade.
Tinha sido um longo período batalhando e conquistando e muitas vezes trocando de cidade, construindo propriedades que suportasse a quantidade de vampiros que ia crescendo. Eu nunca tinha vínculo com nada, eu se quer me importava com as terras pela qual batalhávamos, mas Houston tinha sua importância, algo como se simbolizasse casa, não a minha, mas eu mudaria isso e mudei, quando construí meu canto escondidinho na cidadezinha de Magnólia ao norte de Houston, aonde muitas vezes eu ia e me escondia.
Vampiros de quem eu nunca tinha ouvido falar, estavam invadindo nossa região, Maria tinha me explicado por alto quem eles eram e assim como eu, ela também não sabia o porquê de estarem aqui, eu estava preocupada com todos, eu odiaria me envolver em uma briga que não me interessava, mas eles apertaram todos os botões ao mexer com a minha cidade.
Sentada no meu escritório o cômodo que eu menos ficava naquela casa, minha mente viajava em estrategias, no que eu poderia fazer, eu não pensava em ataque e sim em defesa, meu objetivo principal seria arrumar um ponto seguro para reagrupar. Handall me conhecia, então rotas precisavam ser mudadas.
- General, fogueira não muito longe daqui. - Um dos soldados bateu na porta me informado sobre fumaças roxas subindo ao céu. Peguei meu celular tentando mais uma vez entrar em contato com Damian, não era tão longe daqui… e nem um ponto muito conhecido entre meu grupo, alguém tinha chegado perto de mais.
- Chame Tobias e Dona. Eles vão comigo para uma verificação. Quero todos a postos, enquanto estiver fora, fiquem atento ao meu sinal. - estava já pronta para sair quando uma fumaça de poeira surgiu se levantando pela estrada, alguém vinha em nossa direção e para meu profundo alivio era Damian.
- Finalmente. - me aproximei tentando examiná-lo.
- Não temos tempo. Tenho notícias que não a deixará feliz, General… Dallas será o próximo alvo… se quisermos…
- Todos a postos. Estamos saindo imediatamente.
Sem olhar para trás sai da cidade que eu tinha acolhido no meu coração, a casa que eu construí e vivi pelos meus últimos 4 anos. Um lar que eu criei não apenas para mim, mas para todos aquelas que me seguiam, confiavam em mim e seguiam minha liderança. Eu lutava com eles, eu lutava por ele, eu não deixava ninguém sozinho para trás.
2019
Tinha sido a porra de um inferno, mas eu não desistiria. Eu dirigia loucamente pela estrada, eu sabia que seria uma porra de uma longa viagem, as primeiras horas foram insuportáveis ouvindo seus rugidos de dor, rosnados furiosos e gemidos de agonias, enquanto ao seu lado tinha uma companheira com soluções de um choro seco. E era tudo culpa minha, mas eu não desistiria.
Eu ouvia a voz de Damian ao meu lado, passando coordenadas por telefone, eu sabia que estávamos sendo seguido por uma quantidade de vampiros que corria, já estávamos a cerca de horas dirigindo, mas eu sabia que teria que parar para alimentá-lo, ele precisava comer. Ele precisava ficar forte, seu ferimento não o mataria, mas era uma tortura que ele não merecia, assim como a dor poderia levá-lo a loucura e tudo isso seria culpa minha.
Foi com esse sentimento que eu parei na próxima cidade, estávamos na metade da madrugada e estando toda suja, descabelada e sozinha, não demorou para eu ser abordada em um beco escuro, eu não senti nada quando quebrei o pescoço de um homem com quase 2 metros de altura, eu se quer senti seu peso em meus ombros, quando o carreguei até o carro, aonde eu rasguei o pescoço do homem e levei até a boca do filho da mãe que tinha se tornado o meu melhor amigo e que quase morreu para salvar a minha vida.
O fluxo de veneno tinha diminuído, mas a porra do carro estava uma lambança que só, então sai novamente para encontrar outro carro enquanto Damian desse um fim naquele. E isso se repetiu por mais 3 cidades até que cruzamos a fronteira entrando em Washington, a vantagem de não precisarmos parar com tanta frequência e nem nos cansarmos tornou o que se seria muito difícil, menos complicado. Parávamos apenas para nos alimentarmos e nos atualizarmos com a localização dos grupos que nos seguiam na travessia. 36 horas depois chegando a pacata cidade pequena, segui direto por um caminho que pudesse passar o tempo que fosse, eu nunca esqueceria.
Entrar com o carro na floresta no final da rua não foi o problema, com Damian o carregando, eu arrombei a porta da cozinha com facilidade, a viatura não estava na frente de casa, então estava tudo bem, pelo menos era o que eu achava.
- Mas… o que?
- Oi pai… não grita, por favor.
Um mês tinha passado desde que eu tinha voltado para o lugar que eu pensei que eu nunca mais poderia pisar. Tinha sido uns dias infernais, que quase levou tudo de mim, eu tive que trancar meu pai que tinha virado um homem histérico, no quarto. Algemar Peter no Sótão, porque ele estava alucinando por conta da falta de seu braço. Ser forte para Charlotte, que estava destruída por conta da dor do seu companheiro. E ainda sim, garantir a segurança de 15 vampiros na cidade que estava aos cuidados de uma matilha de lobos nenhum pouco amigáveis.
Minha última mensagem para Maria tinha sido no dia do ataque que sofremos em Dallas, eu não tinha tempo explicar.
"Estou voltando e levando-os comigo."
Eu não me arriscaria em mandar, muito. Mas eu acreditava que depois de todos esses anos, ela me conhecia, o suficiente. Para eu sair é porque nada mais existia por ali. E que eu nunca, jamais faria isso sozinha. Ela estava longe desde o início de toda essa confusão. Para seu profundo ódio, ela permaneceu em Volterra todo esse tempo, eu insistia que ela ficasse, enquanto ela queria voltar, mas antes de tudo nós precisávamos saber o que estava acontecendo, e presas naquela guerra não iriamos conseguir muita coisa.
Bati na porta do quarto assim que o céu começou a clarear, eu não precisava dos meus super sentidos para saber que ele já estava acordado, eu só o conhecia o suficiente. Ele não estava mais preso, obvio, mas tinha sido sua escolha permanecer lá e me ignorar.
- Pai. Estou entrando.
Pai. Passei 17 anos da minha vida chamando o homem a minha frente pelo nome, eu nem mesmo acreditava que a minha primeira palavra tinha sido "papai"… Renée era uma mulher incrível, mas nunca tinha dado tanta atenção a nomenclaturas, sempre tratando meu pai por Charlie, era como ela tivesse enraizado isso em mim. E agora estava eu aqui… a filha que devia está morta há 14 anos, não parava de chamá-lo do que ele tinha sonhado o ouvir a vida toda.
- Eu trouxe café. - coloquei a caneca próxima a cadeira que ele estava sentado enfrente a janela. Essa semana me trouxe lembrança de mim mesma que a muito tempo eu tinha esquecido. O que causou calafrios que eu nem achava ser possível. Cortava-me o coração vê-lo assim e eu não permitiria isso, não permitiria que ele sucumbisse como eu fiz. Eu lutaria por ele, assim como ele lutou por mim todos aqueles meses.
- Eu juro, eu estou a todos esses dias... tentando entender, que merda de brincadeira é essa, que no dia que eu recebo a ligação de que Renée e Phil morreram, a minha filha morta a mais de 14 anos aparece viva… viva e do mesmo… jeito… como se o tempo não tivesse passado para ela. Carregando um homem, sem um braço, sem sangue e com muitas outras pessoas esquisitas. Ele tinha que estava em um hospital Isabella, e não amarrado no meu sótão… e pelo amor de Deus, como ele não esta morto, depois disso durar um mês.
Ele tinha finalmente falado comigo, foi um gripo, um desabafo, mas pelo menos tinha sido palavras e não apenas silêncio como foi nos outros dias e embora agora fosse eu que estivesse muda com a noticia de minha mãe e seu marido estarem mortos, eu ainda estava aliviada em ele ter reagido. Meu estado confuso me fez reagir, abraçar seu corpo quente e macio com o meu duro e frio foi reconfortante, Charlie Swan, meu pai, tinha o mesmo cheiro de maresia, característico de suas viagens de pescas em La Push e café, não tinha nada a ver com seu sangue e minha fome. Era apenas a sensação de que eu tinha alguém ali, algo especial que eu tinha perdido e eu tinha tido a benção de ter de volta. A cocegas que seu senti quando seu bigode encostou em minha testa, quando ele me beijou e me aperto ainda mais no abraço que eu roube, me mostrou que não era apenas eu que estava recebendo um milagre, e eu sabia que o dele era ainda mais especial do que o meu, por sua ignorância a possibilidade de eu realmente está ali.
Sons de madeiras sendo quebradas, pancadas e rosnados, surgiram no fundo de nossa casa, eu sai sendo acompanhado por Tobias, tínhamos pessoal nossa fazendo rondas nas proximidades da mata, eu pedi que respeitassem a fronteira da tribo, minha conversa, que foi mais como briga, com Samuel o atual líder do bando, não tinha sido nada amigável, ainda mais por conta do nosso estilo de refeição que estava gritante nos nossos olhos.
Eu conversei, contei minha história e encontrei Jacob Black, o que ajudou um pouco os anciões a me ouvirem, já que eu era a filha do chefe, e amigo de Billy.
Um lobo gigante foi arremessado para o meu quintal, fazendo Charlie pular quase um metro para trás de susto. O animal agonizava, enquanto um vulto raivoso saia por entre as arvores e avançava, eu me apressei em alcançá-la e terminar seu ataque, fazendo um sinal para que Tobias ajudasse o lobo.
- Saia. - sua ordem, saiu em meio a rosnados.
- Cálmate. (Acalma-se)
Maria estava como furação, pronto para destroçar, sua bagunça ia de suas roupas até aos seus olhos. O que me fez pensar no que ela tinha passado até chegar aqui.
- Você precisa respirar e se acalmar. Nós estamos seguros aqui Maria, mas para isso continuar assim, você precisa me ouvir e se acalmar.
Eu a segurei firme em seus ombros, querendo que seus olhos focassem nos meus. Eu sabia que seu controle vivia por um fio tanto quanto o meu, e se uns dos dois arrebentasse agora, seria a porra de uma briga feia e dolorida, até que tudo se acalmasse novamente.
- Bells…
Eu tinha esquecido dele ali e naquele momento só o pensamento do meu pai, perto de uma Maria descontrolada acionava todos os botões em mim, de proteção a fúria. Eu estava pronto para gritar que ele se afastasse, enquanto me preparava para contê-la, mas só a sua voz atraiu a atenção dela de uma forma que eu sequer tinha conseguido.
Eu vi os olhos vermelhos brilharem, escurecerem conforme ela puxava sua respiração, com certeza, buscando por seu cheiro, e depois seus olhos clarearem de uma forma como se a tempestade que se passava por eles tivesse se dissipado. Um vermelho brilhante se sobressaiu, na mesma hora que seu ombro perdeu toda a sua tenção. Um suspiro surgiu atrás de mim, enquanto um sorriso brilhante abriu nos lábios na mulher na minha frente, com o lobo esquecido caído mais atrás, ela tinha apenas olhos e sorrisos para o meu pai… mas que porra.
Ela tentou dar um passo, mas eu não recuei e me firmei entre os dois, com seu corpo chocando contra o meu, ganhando finalmente sua atenção.
- Agora está tudo bem. Ficaremos todos bem, Isabella.
E por mais bizarro que isso tudo tivesse soado… Porra, como eu acreditava nela.
Isabella
(Atualmente)
Meu surto ao encontrar meu pai transformado, foi mais como uma pirraça do que qualquer outra coisa, porque desde aquela noite em que Maria voltou e o encontrou, eu sabia que era questão de tempo que a transformação acontecesse. O brilhos nos olhos dos dois tinha deixado isso bem claro.
Bem, pelo jeito agora eu tinha a eternidade para digerir que meu pai e Maria estavam… acasalados.
Quando cheguei em casa fui inundada pelas lembranças, eu tinha passado apenas um ano morando nessa casa quando me mudei de Phoenix. E estranhamente eu tinha mais lembranças agora, da minha infância quando passava as férias com meu pai aqui, do que quando eu era uma humana de 17 anos. Minha memória estranhamente funcionava melhor agora também, diferente de muitos casos que o vampiro perdia lembranças de quando era humano, isso não aconteceu comigo.
Pelo que eu podia ver meu pai tinha mantido as fotos, a poltrona velha que gostava de sentar e assistir a jogos, a mesinha de centro ainda tinha algumas marcas antigas das latinhas de cerveja que ele costumava apoiar direto na madeira, mas também tinha novas coisas… Pequenas coisas que ao mesmo tempo que eram novos ali, era velhos hábitos para mim, e que se misturavam em uma sincronia tão perfeita, o chapéu azul marinho pendurado no cabideiro bem ao lado da porta, um par de botas jogados ao canto. No sofá uma manta xadrez com franja e uma caneca preta ainda estava na mesinha, a costumeira mania que ela tinha de largar as coisas por ai, por sempre sair com pressa dos lugares. Um quadro de um cavalo bem próximo a minha foto do dia da formatura e o seu cheiro em cada canto da sala, era tão marcante quanto qualquer objeto deixado espalhado e ele se misturava ao do meu pai, o que me enchia com uma sensação de… estar em casa, depois de alguns anos longe.
- O seu quarto continua no mesmo lugar. - me virei, assustada por não ter notado a sua presença.
Maria estava encostada na porta de pernas e braços cruzados.
- Vamos deixar a briga para lá fora, sim. Seu pai não ficaria nada contente se destruíssemos a mobília dele.
- Eu não vou te bater. - resmunguei.
- Com toda certeza você não chegaria nem perto.
Eu rir, porque nós duas sabíamos que eu realmente levaria uma boa surra se tentasse, mas também sabíamos que eu daria uns bons socos também… não seria a primeira vez e também não seria a última.
- Aonde ele está?
- Foi levar o verme do Laurent até a casa dos Cullens, por alguma razão ele não confia em deixá-lo sozinho com eles.
- E você não foi, por quê?
- Porque não perdi nada lá. Além disso, nós precisamos conversar.
Ela tinha um mundo de palavras para jogar encima de mim. De gritos furiosos por eu ter cometido a besteira de me entregar a Handall ignorando suas ordens de reagrupar, as palavras isoladas de contentamento por eu está bem e de volta, mesmo quase tendo desaparecido antes de se quer voltar para casa de fato.
- Eu ouvi Jasper, falando para Carlisle sobre você ter sentido o cheiro de Victória. Você contou para ele como nos conhecemos? - neguei com a cabeça. - Por que não?
- Porque não é da conta de nenhum deles.
- Nem de Jasper?
Eu a encarei, tentando descobrir o que ela queria insinuar com as duas palavras. Ela era perspicaz de uma forma irritante, então se ela soubesse de algo, ele poderia poupar meu tempo em tentar me induzir a contar algo e perguntar logo de uma vez. Mesmo que eu não fosse dizer a nada, só não faria joguinho de ninguém.
Eu tinha tanto em minha mente nos últimos tempos, e esses últimos dias não ajudaram em nada minha sanidade. Eu não lidaria com nada daquilo.
- De nenhum deles, Maria.
Sai da sala e fui para a cozinha olhar pela janela que dava para o fundo do terreno. Aquele local sempre me traria um sentimento agridoce as minhas lembranças, o dia que eu em que eu passei por aquelas árvores, para fazer uma caminhada com meu namorado e sai dela quase 12 horas depois sendo carregado por um nativo de 2 metros de altura desacordada. O dia que derrubaram o primeiro dominó causando assim uma reação em cadeia na história da minha vida.
Essas lembranças não me afetavam mais, não tinham tanta importância o que tinha acontecido no passado, mas elas tinham feito parte na hora de que eu estava me moldando para o meu novo eu. Eu não deixaria que nada no meu passado interferisse no meu futuro, lembranças, memórias e dores não tinha controle sobre mim.
Mas o que acontecesse daqui para frente sim.
Eu passei os últimos anos me esquivando de sentimentos que me levasse a me ligar a qualquer pessoa. Eu tinha Peter, Charlotte, Damian, meu pai e até mesmo Maria. Eu não os considerava um erro, mas sim umas consequências da minha vida e espero que isso não os ofendesse, mas era assim que eu funcionava agora, era assim que eu me protegia. E eu não deixaria ninguém mudar isso, nem mesmo ele, com aqueles olhinhos brilhantes de expectativas para o meu lado.
- Você vai precisar conversar com ele.
- Eu não preciso conversar nada com ninguém Maria. Porque nada disso me importa de fato.
- Tudo bem, mas se me pegar sentada na sua frente e rindo da sua cara, porque eu estava certa esse tempo todo e você me ignoro até ser chutada na sua bunda pela verdade, não venha querer me bater porque ai sim eu literalmente serei eu chutar ela.
- Vocês continuam com essa violência?
Charlie Swan estava entrando pela porta da cozinha, ele tirava sua jaqueta que fazia parte do seu uniforme de xerife e nos olhava com um olhar risonho estampado feliz e pela primeira vez eu encarei seus olhos vermelhos como duas tochas queimando, ele tinha um sorriso nos lábios que fazia seu bigode tremer. Ele se aproximou de Maria selando brevemente seus lábios nos dela, o que me fez fazer uma careta e depois ele se aproximou me abraçando e beijando minha testa.
- É tão bom, finalmente tê-la em casa, filha.
Sim, era muito bom está em casa, o segurei um pouco mais em meu abraço, mas logo tratei de empurrá-los para a sala, porque eu tinha minha mente cheia de coisas que eu não queria pensar naquele momento, estar de volta a essa cidade e casa estava me afetando mais do que a última vez que eu estive aqui a quase 3 anos atrás. E eu tinha certeza que meu ultimo passei na floresta tinha culpa disso. Eu precisava de uma distração e nada melhor do que uma história de como e porque toda aquela mudança aconteceu depois que eu parti.
- Então veja… tecnicamente a culpa de eu ter transformado seu pai, foi sua. - o talento que Maria tinha em gerir conflitos me causava inveja… eu me perguntava como não tínhamos nos acabado em guerra antes.
- Maria. - meu pai reclamou, em um tom tão manso… próprio para a cadela que residia no interior dela… que ela não me ouvisse dizer isso.
- Você teve um ataque cardíaco, Charlie, porque sua filha teimosa como uma mula empacada se entregou de boa vontade nas mãos de um doentio, ignorando minhas ordens diretas de recuar e reagrupar. - como eu disse… uma cadela.
- E você estava lá e me salvou, estamos bem e seguros agora. Todos nós. - o tom conciliador do meu pai a acalmou, tão rapidamente que parecia magica, em um tempo não tão distancias, coisas tinham voados entre nós duas por um tempo, antes de uma das duas se acalmasse um pouco, para conseguir controlar a situação.
Mas eu não seria uma idiota ignorante, se eu me assustei só com a ideia do meu pai tendo seu coração quase morrendo por conta de um susto e preocupação, eu imagino como Maria tenha ficado passando por tudo aquilo sozinha.
- Eu sinto muito, pai.
- Está tudo bem, querida… apenas não cometa nenhuma outra loucura.
- Hah, então ainda bem que seu coração é tão duro quanto a cabeça dela. Porque isso é algo muito difícil de se esperar. Você prestou atenção ao estado em que ela chegou hoje.
Eu não senti falta nenhum pouco dessa Maria ranzinza, pelo amor de Deus, tudo bem que ela era uma vaca o tempo todo, mas porra nem mesmo um companheiro foi capaz de adoçar o humor dessa mulher.
Querendo desviar a minha atenção das suas provocações e deixando-a ainda mais nervosa, eu contei aos dois o que presenciamos no caminho para cá. Eu estava de volta para casa, mas não podíamos ser ingênuos achando que eu voltei para brincar de casinha junto com eles. Tínhamos muita coisa o que se resolver. Maria voltou a reclamar que não tinha levado o Dr Cullen no hospital para que ele conhecesse e meu pai disse que eles tiveram uma boa conversa sobre Laurent.
- O jovem aristocrata quis vir com uma história de direitos, respeito e abuso de poder, sobre o homem está sem língua e está lá contra a sua vontade. Serio? Ele, o imbecil que largou minha filha de 18 anos em uma floresta sozinha? Bem, não importa… o Dr. Cullen, conseguiu descobrir que Eleazar e Irina estão em Denali mas…
- O que Charlie? - perguntou Maria.
- Eles não estão sozinhos.
Ele não precisava dizer mais nada… eu sabia muito bem quem era, eles me encararam esperando um surto. Ah, eu não surtaria agora… e nem desse jeito… eu tinha minhas mãos coçando a tanto tempo, eu iria apenas fazer o que eu amava, o que me ajudava a limpar minha mente e claro, fazia de melhor… eu sairia a caça.
