Estou sentada em frente a mesa baixa no jardim da residência de meus avós dividida entre bebericar o doce chá servido há pouco, virar uma página do romance clichê que estava devorando nos últimos dias e observar os gêmeos de cinco anos brincando entre ridadas soltas deixando meu coração aquecido diante a inocência das crianças, duas crianças inocentes que não conheciam os horrores da crueldade deste mundo, se pudesse ambos nunca iriam testemunhar os horrores da guerra como muitos outros fizeram em tenra idade. Eu era muito jovem quando Kyuubi fora solta em Konoha, ainda tinha pesadelos com aquela noite de terror cuja muitas pessoas foram mortas, e por causa daquele ataque a desconfiança aumentara sobre minha família tanto entre os civis ignorantes quanto os superiores da Aldeia.

Não era uma tola, sabia muito bem que essa tensão aumentava cada dia, principalmente, quando deixava a segurança do Compexo Uchiha. Eu podia sentir os olhos dos aldeões queimando em minhas costas, os sussurros nada discretos e os dedos apontados para o uchiwa em minhas roupas, o medo cravado nos rostos e os comentários que deixava meu sangue fervendo, éramos chamados de olhos do demônio por causa do Sharingan – o doujutsu que tinha orgulho em ter despertado, mesmo com o estresse sofrido ao fazê-lo naquela missão para Sunagakure no Sato com minha equipe genin.

Usar tal disparate para se referir a um dos doujutsu mais poderosos já conhecidos era um insulto, me estranhava como esses civis ignorantes poderiam fazer esses tipos de comentários sobre um clã fundador, mas era óbvio que não éramos respeitados o bastante, eles tinham medo do meu clã – o que podia ser uma dor de cabeça, ainda mais por causa da situação que nos encontrávamos atualmente, jogados num distrito fora da Aldeia após o ataque da Raposa de Nove Caudas e sendo constantemente vigiados, por isso não tirava a razão de muitos que estavam ressentimentos com esse tratamento.

A isolação, a falta de confiança acabaria se tornando um problema mais tarde.

"Nee-san!" o grito infantil do gêmeo mais velho dissipou meus pensamentos, fazendo-me fixar os olhos escuros no garotinho de cabelos negros, que corria em minha direção com a bola de temari em mãos, com o mais novo vindo atrás dele com um pássaro de origami.

"Estão com fome?" perguntei deixando Atsumu cair em meus braços, apertando seu pequeno corpo contra mim. "Vovó deve ter feito algo muito gostoso pra gente, vamos entrar, hm?"

"Sim! Sim!" disse Osamu balançando a cabeça freneticamente, ao que um sorriso abriu-se no meu rosto. "Eu amo muito a comida da vovó."

"Eu também." concordou Atsumu.

Deixei meu livro sob a mesa do jardim juntamente com os utensílios do chá para vir buscá-los depois, minhas mãos segurando firme as mãos dos meus irmãos mais novos e adentramos a cozinha. Os gêmeos sentaram um do lado do outro sob as almofadas na mesa baixa enquanto servia o umeboshi para os meus irmãozinhos.

Nossa avó estava em uma reunião com as mulheres do clã e Mikoto-sama, então, seria minha responsabilidade fazer o jantar. Ela estava sempre buscando uma atividade desde que nosso avó faleceu ano passado após pegar um resfriado que não curava nada. Meu pai chegava sempre tarde em casa, uma vez que ele fazia parte da Polícia Militar de Konoha, e nossa mãe morreu de febre pós-parto, desde então, me dediquei a cuidar de Atsumu e Osamu.

Ela fazia muita falta todos os dias, mas sabia que um dia voltaria a vê-la e isso trazia-me certo consolo, mas não podia deixar de ficar triste ao saber que meus irmãos nunca haviam lhe conhecido, e os gêmeos raramente perguntavam ao seu respeito, ambos cresceram me vendo como a sua figura materna.

"Vocês fazem uma bagunça.", murmurrei ao me inclinar sob à mesa para limpar o rosto de ambos, que estavam sujos.

O som da porta shoji sendo aberta chamou minha atenção; os passos calmos que sabia pertencer a vovó guiam-na para a cozinha. Não tardou para que a idosa adentrasse no meu campo de visão, o cabelo grisalho preso em tranças intrincadas no topo da cabeça, ostentando rugas ao redor dos olhos miúdos, enquanto um sorriso suave fez-se presente no rosto envelhecido.

Kasumi Uchiha era uma ex-kunoichi que largara a vida ninja para se dedicar exclusivamente aos assuntos do clã, não era para menos que ela fazia parte do círculo de anciões que aconselhava o líder de nosso clã; Fugaku-sama.

"Kanae-chan.", ela disse, após segurar ambas as minhas bochechas, deixando um selar carinhoso ali. "O desnaturado do seu pai estará de plantão esta noite novamente, por mim ele poderia morar naquela maldita delegacia."

"Vovó!", os gêmeos exclamaram juntos, fazendo o sorriso da idosa aumentar.

"Não diga coisas assim, baa-chan." reclamei servindo umeboshi para ela também. "O trabalho dele é muito importante para manter a segurança de nossa aldeia."

Ela zombou de minhas palavras. "Minha neta inteligente sabe melhor do que isso, fomos colocados para este trabalho pelo Nidaime para nos colocar sob controle, não temos direito a ter um posto mais alto. É um insulto ao nosso clã, ainda mais por que também somos um dos fundadores desta vila, mas parece que Tobirama Senju esqueceu disso."

"Mas Itachi-san é capitão de um esquadrão ANBU.", lembrei levando um pouco de comida a boca, fazendo minha avó zombar novamente.

"Uma criança tola.", ela foi rápida em dizer. "Uma marionete para aqueles no poder conduzir as cordas ao seu favor, não importa quão gênio ele seja, ainda é uma criança ingênua."

"Vovó, as coisas estão ficando muito tensas ultimamente.", comentei hesitante.

"Não se preocupe.", ela balançou a mão, com a testa franzida. "Você será informada de nossos avanços no momento certos, suas habilidades serão de extrema importância."

"Não há outra opção?", questionei com um gosto amargo na boca. "Lorde Fugaku não conversou com Hokage-sama?"

Os lábios de minha avó franziu-se numa linha severa. "Seus pedidos foram negados, outra reunião ocorrerá em breve e você precisará está presente, afinal, você será a futura Matriarca do Clã Uchiha."

Meu estômago embrulhou com esse lembrente, cujo não gostava de mencionar muito menos de pensar. Eu não queria me casar com Itachi, mas não tinha voz sobre esse assunto, uma vez que já fora decidido quando era mais nova após minha avó insistir no casamento com Fugaku-sama e ele não tivera outra opção a não ser aceitar, sendo que Kasumi era muito respeitada entre os demais.

Eu já tinha alguém em meu coração, mas o destino armou para me casar com o seu melhor amigo.