Esclarecimento: Só reiterando que esta história não me pertence, ela é uma adaptação do livro de mesmo nome, de Helen Bianchin, que foi publicado na série de romances "Paixão", da editora Harlequin Books.


Capítulo 8

Nami acordou com o persistente som do alarme de seu celular, gemeu e estendeu a mão para desligá-lo.

Já eram sete da manhã ? Tinha a impressão de não ter dormido por mais de duas ou três horas.

Espreguiçou-se ainda sonolenta, e de repente se deu conta de que não usava nada por baixo das cobertas.

Então se lembrou.

O pesadelo, Luffy...

Luffy.

Ela lhe pedira para ficar. E ele ficara. Nami fechou os olhos, com as imagens girando em sua mente. Evocativas, eróticas e totalmente primitivas. Deus do céu.

Um leve som a fez reabrir os olhos e olhar atônita para Luffy saindo do banheiro da suíte... nu, exceto pela toalha enrolada na altura dos quadris.

Por um segundo, seus olhos se cruzaram para, em seguida, Nami desviar quando ele atravessou o quarto em direção à cama.

- Como você se sente ? - a voz de Luffy tinha uma qualidade quase indefinível, e ela meneou a cabeça, incapaz de dizer uma palavra sequer. Sentia-se... como se sentia ? Completamente ciente de que dormira com ele - Olhe para mim.

Ele abaixou-se à beira da cama, segurou-lhe o queixo e inclinou a cabeça em direção a ela.

O rosto de Nami corou levemente e seus olhos pareciam absurdamente grandes.

Ele cheirava a sabonete, e os cabelos ainda estavam úmidos do banho. Assim, de perto, era todo músculos, energia e ombros largos.

Ela lembrava-se muito bem do quanto fora bom ter sido envolvida por aqueles braços, o toque sensual da boca... oh, Deus, tudo.

- Por favor, eu preciso tomar um banho, me vestir...

- Quietinha - disse Luffy gentilmente e, inclinando-se um pouco mais, recostou seus lábios contra o dela, traçando a curva dos lábios involuntariamente semi-abertos e os mordiscando com cuidado.

Então, segurou-lhe o rosto quando baixou a cabeça e começou uma exploração evocativa que trouxe uma resposta imediata, antes que se afastasse um pouco para examinar-lhe as feições.

- Melhor assim - ele acariciou-lhe o pescoço com ambos os polegares, acalmando a rápida pulsação, com seus olhos escuros e indecifráveis enquanto a estudava.

- Não vamos - Nami deu um leve suspiro - fazer uma repetição da noite passada.

- Evitar não fará com que o desejo desapareça - um toque de honestidade forçou-a a falar:

- Isso nunca deveria ter acontecido.

Luffy afastou uma mecha de cabelos que cobria a lateral do rosto dela.

- Você acha que não ?

Ela estava incerta se concordava ou discordava.

- Não esperava que você ainda estivesse aqui - conseguiu dizer finalmente.

- Você imaginou que eu a deixaria acordar sozinha ?

Entre os diversos pensamentos que lhe vinham à mente, acordar sozinha não era o mais importante deles, mas se concentrava no pior de todos.

- Nós fizemos sexo sem segurança.

- Posso lhe fornecer um atestado de saúde.

Uma leve, mas descontrolada risada partiu de Nami, morrendo em seguida. Não teria pensado em pedir um.

Para falar a verdade, não tinha pensado em absolutamente nada.

As implicações cresceram com assombro quando fez rapidamente as contas, então sentiu a tensão começar a diminuir com o conhecimento que um risco de concepção era mínimo.

- Se você está preocupada com uma gravidez... não fique. Caso aconteça, nós lidaremos com isso.

- Não existe nós.

- Sim, existe.

- Não...

- Você quer discutir ?

Havia algo que ela não podia definir por baixo da pergunta feita com suavidade.

- Não neste momento.

- Esperta.

- Se você não se importa - disse Nami, friamente - , eu gostaria de tomar uma ducha e me vestir.

Luffy levantou-se, e tão logo saiu do quarto, ela se dirigiu ao banheiro.

Tola. A autopunição tinha pouca relevância, e se entregou debaixo do chuveiro enquanto a água quente caía sobre seu corpo. Então pegou o sabonete e ensaboou-se vigorosamente, descobrindo diversas partes sensíveis somente quando se enxugou.

O que tinha feito ?

Violado todas as suas crenças moralistas preconcebidas... todos os seus princípios.

Nami vestiu um jeans de sua própria criação e completou com uma blusa de linho, depois escovou os cabelos e os manteve soltos sobre os ombros.

Seu corpo ainda estava sensível pelos toques de Luffy... e tinha de admitir que se sentia bem. Viva, de um modo que nunca imaginara ser possível.

Um mínimo de maquiagem acentuava seu brilho natural; ela calçou os sapatos, pegou sua bolsa e seu laptop, então deu um suspiro profundo e desceu a escada.

Entrando na cozinha, cumprimentou Rebecca, Sanji e Shanks, pegou um iogurte e algumas frutas frescas e levou tudo para o terraço envidraçado.

Luffy olhou para cima assim que a viu chegando, e Nami sentou-se em frente a ele sem uma palavra.

Ele ergueu o bule de prata.

- Café ?

- Obrigada.

Havia uma vitalidade evidente, uma sensação de poder por baixo da fachada sofisticada.

Olhá-lo foi o bastante para que o sangue começasse a ferver nas veias de Nami, fazendo seu coração disparar e seu corpo pulsar de desejo.

Foi um alívio quando ele bebeu os últimos goles de seu café e se levantou, e não havia nada que ela pudesse fazer para evitar o roçar dos lábios de Luffy em sua testa.

- Cuide-se.


Alguns dias transcorriam bem no estúdio, mas aquele não parecia ser um deles. Nami ficou frustrada ao saber que o tecido encomendado não chegara como prometido, e uma cliente mudou de idéia sobre o tamanho dos botões já revestidos, o que era uma perda de tempo e já acontecera diversas vezes.

Para piorar as coisas, havia três chamadas de Rob Lucci no seu celular... o que a aborreceu muito, a despeito de sua resolução de não deixar que tais ameaças a afetassem mais.

Ela daria tudo para caminhar ao longo da praia, ouvir uma boa música em seu iPod e se desconectar do mundo por algum tempo.

Seria difícil iludir e despistar Shanks... mas não impossível. Sua mente procurava possibilidades e seus olhos brilharam quando pensou em uma que poderia funcionar.

- Vivi, preciso ir à farmácia pegar um remédio que mandei preparar - ela pegou a bolsa - Volto em dez minutos, certo ?

Vivi assentiu em silêncio, e Nami deixou o estúdio, sorriu para o guarda-costas quando ele se aproximou de imediato.

Cinqüenta metros os separavam da farmácia e ela conversou alegremente enquanto eles percorreriam o trajeto.

- Você não precisa entrar comigo. Não me demorarei - Shanks deu um sorriso e fingiu um interesse na vitrine da farmácia enquanto ela entrava.

Ele poderia ficar de olho nela, sabia disso, mas se fosse esperta, teria os minutos necessários para escapar pela porta dos fundos, atravessar a rua e então entrar na alameda lateral que levava à rua principal. De lá, poderia facilmente acessar a praia.

Primeiro, precisava parecer estar examinando alguma coisa em uma das prateleiras, que a escondia parcialmente do campo de visão de Shanks.

Seu plano era conseguir a permissão de um dos balconistas para sair pelos fundos, e ela escolheu um rosto familiar com a desculpa perfeita.

- Pobrezinha. Claro, vá em frente.

Nami percorreu rapidamente um pátio asfaltado que a levou até a rua.

Pronto. Tinha conseguido !

- Indo a algum lugar ?

Toda aquela alegria terminou no momento em que se virou em direção à expressão nada amigável de Shanks.

- Sim, um passeio ao longo da praia... sozinha.

- Não é muito sábio de sua parte.

- Considere isso como um lapso de bom senso - ela lhe estudou as feições num esforço de descobrir alguma compaixão - Uma noite de poucas horas de sono seguida por um dia exaustivo. É assim tão terrível querer escapar por pouco tempo ?

- Tolice, nas atuais circunstâncias. Tudo o que precisava fazer era solicitar, e eu caminharia pela praia com você.

Só que não seria o mesmo, e Nami lhe disse isso.

- Então, para onde vamos ? Para o estúdio, a praia ou a casa ? - a casa não era a sua, e a praia havia perdido o seu interesse.

- O estúdio - enquanto retornavam para o seu local de trabalho, ela declarou: - Suponho que você vai contar a Luffy.

- Meu trabalho não valeria a pena, nem minha reputação, se eu não contasse.

Quanto transtorno só por querer uma folga !

No mais, tudo acontecera para tornar seu dia ainda mais frustrante, e Nami teve um grande desconforto quando Shanks atravessou os portões que protegiam a mansão de Luffy e parou na garagem.

O Bentley não estava em sua vaga costumeira, e ela sentiu um leve alívio quando entrou na casa antes de Luffy chegar.

Quanto tempo tinha ? Cinco... dez minutos ? Tempo suficiente para tomar um banho e se manter incomunicável por trás de uma porta fechada.

O que somente atrasaria o inevitável confronto, mas pelo menos ganharia algum tempo sozinha.

Com isso em mente, Nami encheu a vasta banheira, acrescentou óleo de banho, depois tirou as roupas, prendeu os cabelos e se afundou nas bolhas de espuma perfumada.

Felicidade plena.

Fechou os olhos enquanto a água perfumada fazia sua mágica.

- Dia difícil ?

Nami abriu os olhos ao som da voz profunda de Luffy, e imergiu um pouco mais na água enquanto o fitava com raiva.

- O que você está fazendo aqui ?

Ele trocara seu terno de trabalho por uma calça de algodão e uma camisa pólo. Se mostrava, precisava admitir, incrivelmente másculo e em plena forma. A malha da camisa moldava os ombros musculosos, evidenciando os bíceps rígidos, dando-lhe uma imagem poderosa.

Poderosa até demais. Ela lembrava muito bem a sensação de estar naqueles braços, a sutileza em seu toque. Quanto ao sexo... paixão excitante em seu máximo.

- Você não tem alguma coisa para me contar ? - Nami enfrentou-lhe o olhar.

- Estou certa de que você já soube de tudo através de Shanks.

Ele entrou no banheiro.

- Sim, mas gostaria de ouvir de você.

- Estou em desvantagem em relação a você aqui na banheira.

- Você escolheu o local - os olhos castanhos faiscaram.

- Não esperava que você invadisse a minha privacidade.

- Erro seu.

Luffy pegou uma toalha, desdobrou e entregou-lhe. Se ele esperava dela uma saída calma da banheira ali na sua frente, estava muito enganado.

- Desapareça - disse Nami, atirando contra ele uma esponja encharcada, e teve seu momento de satisfação quando a acertou contra o peito dele.

Num movimento rápido, Luffy mergulhou a mão e puxou a vedação da banheira, e ela deu um grito zangado quando o nível da água começou a baixar.

- Você... - as palavras pararam enquanto puxava a toalha da mão dele e se cobria rapidamente, com lágrimas tolas marejando seus olhos - Vá embora, por favor.

O "por favor" o tocou. Por alguns segundos, Luffy permaneceu olhando-a. Então se virou e deixou o banheiro.


Pensar em encarar Luffy à mesa do jantar era angustiante.

Vestiu uma calça preta sob medida e uma blusa branca; seria um traje adequado para uma refeição informal, e Nami fez uma trança nos cabelos, passou batom e desceu a escada em silêncio.

Luffy lhe dedicou um olhar calculado quando ela entrou na sala de jantar, e Nami mal falou enquanto recusava o vinho em favor de água gelada. Apesar da excelente refeição de Rebecca, comeu apenas mecanicamente, ansiosa para terminar logo, de modo que pudesse escapar para sua suíte sob o pretexto de dar continuidade ao trabalho.

- Quero sua palavra de que não tentará outro truque como este novamente.

Nami ergueu a cabeça para encará-lo.

- Não quero ser tratada como uma criança desobediente.

- Você é uma adulta responsável - ele aguardou um revide da parte dela - O que estava pensando ?

- Se sou adulta e responsável, deixe-me em paz.

- Insultos e ironias não levarão a lugar algum, Nami - com cuidado, ela cruzou os talheres sobre o prato, dobrou o guardanapo, e então levantou-se.

- Você está certo - murmurou educadamente - Aproveite o restante de sua refeição - ela foi fria, na verdade, fria ao extremo - Boa noite.

Era bom sair com dignidade... embora tivesse a distinta impressão de que qualquer vitória teria sempre vida curta.

Quanto tempo levaria para Lucci deixar de persegui-la ?, pensou enquanto subia os degraus.

Pretendia sair daquela casa, desfazer o falso noivado, e ir para longe de Luffy.

Mas estava presa numa armadilha, uma que ela mesma criara... pelo menos com alguma ajuda sua... e havia uma necessidade de acabar logo com essa trama e recuperar sua vida normal sem a interferência obsessiva de Lucci.

Como sempre, Nami sentiu conforto com seu bloco de rascunhos, então pegou o laptop, sentou-se de pernas cruzadas na imensa cama da suíte e começou a trabalhar.

Já era tarde quando ficou cansada o suficiente para parar, vestir uma camiseta de algodão e se aconchegar debaixo das cobertas.


Ela teve um sono sem sonhos e só acordou ao toque do despertador.

Hora de levantar e começar um novo dia.

Sem pensar, sentou-se, afastou as cobertas... somente para ofegar à vista de um homem seminu familiar saindo do seu banheiro.

- O que significa isso ?

Luffy apenas inclinou a cabeça.

- Você está acordada.

Nami olhou para o espaço na cama ao seu lado, viu a marca de cabeça no travesseiro junto ao seu, as cobertas atiradas para trás...

- Você dormiu aqui ?

Ele ergueu uma sobrancelha com ar malicioso.

- Depois da última noite, esperava que eu não dormisse ?

- Isso é ultrajante - ela corou levemente. Meu Deus, Luffy passara a noite deitado ao seu lado, e ela nem sequer tinha notado a sua presença ? Como era possível ? Não o teria percebido ? Por outro lado, aquela fora a melhor noite de sono que tivera em um longo tempo. Sem sonhos, quase como se seu subconsciente soubesse que estava em um lugar seguro ao lado de um homem que a protegia somente com sua presença durante a noite, e cuidava para que alguém a protegesse durante o dia.

Dormir tão bem era um conforto diante do medo que havia experimentado desde que Lucci reaparecera em sua vida. Todos os momentos tinham sido passados com ansiedade... esperando pelo instante em que seu ex-noivo pudesse surgir.

Agora, graças a Luffy, podia reconhecer e superar aquele medo, segura na proteção de um homem que quase ousaria amar. Isso se ele retribuísse o seu amor.

- Você não pode dormir comigo.

- A palavra operante é dormir - a voz dele era rouca e baixa, excitando-a - A cama é grande. Você pode montar uma parede de travesseiros no meio, se isso a tranqüiliza.

- Você está louco ?

- Por que ser tão recatada ?

- Você sabe o porquê.

- Nosso acordo permanece.

- Quero que o acordo vá para o inferno.

- Com medo, Nami ? - ele fez uma pausa imperceptível - De mim ou de você mesma ?

- Em seguida, você dará sua palavra de honra.

A expressão de Luffy endureceu, e a voz era perigosamente calma quando respondeu:

- Você já a tem. Esta suíte ou a minha. Escolha.

A suíte dele era maior, tinha dois banheiros, dois enormes guarda-roupas embutidos. O que ela estava pensando ?

- Não tenho tempo nem vontade de lidar com isso quando preciso me vestir e estar pronta para o trabalho.

- Então farei a escolha por você - disse ele suavemente - Transfira todos os seus pertences para a minha suíte.

- É mais fácil provável que eu morra antes de fazer tal coisa !

- Neste caso, farei isso por você.

- Você não pode...

- Pode contar com isso.

Por quê ? Ela teve vontade de esbravejar e estava extremamente tentada a pegar um travesseiro e atirá-lo nele. A única coisa que a impediu foi a ameaça de retribuição nos olhos de Luffy.

- Estarei por perto quando o pesadelo começar e você tiver de lutar com as cobertas, antes que a escuridão se torne aterrorizante e você grite por ajuda.

Nami sabia por antecipação como seria ser pega numa reprise do atentado de violência de Lucci.

- Você está levando o papel de cuidar de mim um pouco longe demais.

- Usando suas palavras... deixe-me em paz - dizendo isso, ele vestiu um roupão e saiu do quarto. Por alguns minutos, Nami não se moveu, então praguejou algo muito pouco delicado e correu para o chuveiro.

Luffy já havia partido para a cidade quando ela desceu a escada e tomou um café da manhã frugal, pegou seus apetrechos de trabalho e saiu para o seu estúdio com Shanks.

A tensão aumentava enquanto a manhã se transformava em tarde, e Nami era uma pilha de nervos ao fim do dia. Um telefonema de Bell-mère, de Melbourne, com o habitual "Você está bem, querida ?" teve um efeito tranqüilizador.

A farsa aumentava a cada dia, e Nami detestava o subterfúgio, especialmente sabendo que este envolvia sua mãe.

Mas teria de impor limites à farsa, decidiu enquanto o guarda-costas parava o carro na garagem da casa.

Não compartilharia do mesmo quarto, da mesma cama, com Luffy. Se ele tivesse mandado transferir suas coisas de suíte... ela faria tudo voltar para o lugar de origem.


Rebecca cumprimentou-a no foyer com um sorriso caloroso.

- Minha querida, você teve um bom dia ? O jantar atrasará meia hora. Luffy telefonou para dizer que sairá um pouco mais tarde do escritório. A propósito, mudei todas as suas coisas para a suíte dele. Talvez você queira reorganizá-las.

O que ela poderia dizer senão:

- Obrigada.

Enquanto subia a escada, jurou solenemente que devolveria todas as suas coisas ao lugar original.

Não tomou muito de seu tempo, e Nami recolocou as roupas nos devidos lugares, tomou uma ducha demorada, vestiu calça esporte e blusa de linho, escovou os cabelos, passou um discreto batom nos lábios antes de voltar para o quarto... para encontrar Luffy pessoalmente envolvido no processo de juntar um punhado de suas roupas.

- Deixe-as aí.

Ele a fitou com os olhos escuros e quase imóveis.

- Você realmente quer fazer as coisas do modo mais difícil ?

- Não quero fazer de modo algum !

- Você quer privacidade... e terá. Mas compartilharemos o mesmo quarto.

- Não se importa com o que eu quero ?

- Nesta situação... não.

- Você é o homem mais...

- Você já disse isso antes.

- Irritante - a palavra continha um grau de satisfação que Luffy ignorou quando foi em direção à porta.

- Trarei as roupas para cá novamente.

- Então acho que teremos uma noite bem movimentada.

Nami quase lhe atirou qualquer coisa, e planejou transferir tudo de volta... depois do jantar, quando ele se isolasse em seu escritório.

O plano funcionou, e ela congratulou a si mesma quando se enfiou sob as cobertas e desligou a luz do abajur. Era tarde, e logo caiu num sono profundo, do qual acordou, nos primeiros raios da aurora, para descobrir que a cama em que estava não era a sua, nem era aquela a sua suíte.

Pior. Não estava sozinha, pois Luffy ocupava o outro lado da cama, separado por uma barreira formada por travesseiros.

Em algum momento durante a noite, ele a tirara de sua suíte e a levara para lá. Como ousara ?

A vontade de pegar um dos travesseiros e atingi-lo era forte.

Os olhos escuros se abriram e a encararam.

- Nem pense em fazer isso - disse ele com uma voz rouca, cabelos despenteados e precisando se barbear.

- Você não sabe o que eu estava pensando.

- Se envolve contato físico - avisou ele - , esteja certa de que pode vir a não aprovar as conseqüências.

Nami retribuiu com um olhar fulminante.

- Não gosto muito de você.

- Teimosa.

Naquele momento, o celular de Nami tocou e ela atendeu.

- Como ele é na cama, vadia ? - soou a voz baixa e ameaçadora - Você gosta ? - os dedos de Nami tremiam quando desligou, e seus olhos ficaram vagamente assombrados.

- Lucci ?

- Sim - ela não podia suportar ter que olhá-lo e, sem dizer nada, saiu da cama, se dirigiu ao banheiro mais próximo e rapidamente lavou o rosto com água fria.

Sentia um desconforto incomum quando completou sua rotina matinal, depois se vestiu, aplicou uma maquiagem leve e voltou para o quarto.

- Quer me contar o que ele falou ?

"Não". Ela respondeu em um gesto com a cabeça.

- Apenas as obscenidades de costume.

Luffy estava barbeado e vestido apenas com a calça do terno, camisa de algodão branca, dando um nó na gravata.

Fechou a fisionomia quando observou as feições pálidas de Nami.

- É somente uma questão de tempo - sim, mas quanto tempo ?

- Não estou disposta a tomar o café da manhã. Tentarei alguma coisa na lanchonete mais tarde.

Ele cobriu a distância entre eles e segurou-lhe o queixo.

- Coma algo aqui antes de sair.

- Isso é uma ordem ? - ele sorriu largamente.

- Um pedido, certo ?

- Pegarei um iogurte da geladeira e levarei para mais tarde.

Luffy tocou com um dedo os seus lábios.

- Vou checar se você se alimentou durante o dia.


O dia seguiu no padrão normal, com uma ligação de Bell-mère, ainda de Melbourne, com notícias atuais sobre a saúde da irmã, e dois telefonemas desligados que Nami atribuiu a Lucci.

Foi mais por uma questão de princípio que ela transferiu seus pertences de volta à suíte de hóspedes quando retornou do trabalho. Pura perda de tempo, pois Luffy voltou com tudo para a sua própria suíte.

Ele não disse uma única palavra... o que não foi preciso, pois ela ergueu as mãos num gesto de rendição.

- Tudo bem, você venceu.


Luffy aceitou sem discutir a aparente necessidade de Nami se dedicar ao evento de moda que se aproximava, enquanto ele passava horas em seu escritório de casa, estabelecendo contato com vários patrocinadores do leilão que levantaria fundos beneficentes.

Nami já estava na cama quando ele se juntou a ela, e embora a barreira de travesseiros permanecesse no mesmo lugar, era difícil deitar ali... tão perto e ao mesmo tempo tão distante.

Todos os seus sentidos pareciam sintonizados nele. E quando ele se deitou em silêncio na escuridão, foi impossível não imaginar como seria tê-lo à sua procura, tomando-lhe a boca num prelúdio de intimidade. Queria sentir as mãos másculas sobre seu corpo, a boca sensual em seus seios. Deus do céu... a reconstrução vagarosa de quando atingiu o clímax e a alegria de fazer amor. Com ele, somente ele.


P. S.: Nos vemos no Capítulo 9.