Os sonhos de Kimberly eram preenchidos com o canto da Garça. Todas as noites ela ouvia seu pássaro protetor, ocasionalmente o pterodáctilo unia-se ao canto. Esses sons continuavam enquanto ela estava acordada e isso a ajudava a manter-se calma. O quê ela não sabia é que o canto da garça a envolvia em um casulo de proteção, impedindo que qualquer outro ser mágico soubesse da existência da criança em seu ventre.
Essa mesma proteção impedia que os médicos ouvissem o coração da criança. Em sua primeira consulta o médico ficou assustado e pediu imediatamente um ultrassom. Acreditando que o bebê estivesse morto, só depois de ver a criança se mexendo no útero que a equipe médica se acalmou. Kim voltou para casa com a mãe e uma lista gigantesca de exames e seriamente preocupada.
Até então, tudo estava saindo conforme o planejado. Conseguiu um laudo médico que indicava que devia afastar-se do Treinamento para o Pan Global devido à lesão nas costas. O treinador ficou sensibilizado e garantiu que ela poderia voltar quando estivesse melhor, Susan se despediu da amiga chorando e prometeu que ganharia a medalha por ela. Tommy nunca mais ligou.
Pierre concordou que a mulher cuidasse da filha na Flórida. Estava cheio de trabalho e planos para o futuro, ele ficaria mais seis meses na França e depois iria estabelecer-se em Nova York e montar seu ateliê. Esperava que as duas se juntassem a ele no próximo ano na Big Apple.
As duas se mudaram para um pequeno apartamento em uma cidade próxima a Miami, onde existia um grande centro de fisioterapia, bons hospitais e a Casa Verde, o orfanato mais conceituado do estado. Só Pierre possuía o endereço, Susan e o treinador seu novo telefone. Ninguém conseguiria encontrá-las.
Porém, mãe e filha estavam muito preocupadas depois da consulta médica. Kimberly sabia que o bebê estava vivo, mas a interferência da Garça poderia chamar a atenção. Ela não poderia ter a criança longe de um hospital. Os sentimentos de Carol estavam confusos, a possibilidade da criança já estar morta a assustará.
Ela entregou uma caneca com leite quente para a filha e disse:
— Não se preocupe querida, o bebé está bem. Nós vamos fazer os exames e vai dar tudo certo.
— Eu sei... – Murmurou bebericando o leite.
— Querida, eu sei que o dia foi difícil. Não quero te cansar muito, mas eu quero que pense que você não precisa fazer isso Kimberly.
Vendo a expressão confusa da filha ela continuou:
— Você não precisa dar essa criança para adoção. Você pode ficar com ele. Não importa o quê o seu pai fale, eu vou te ajudar. Não vai ser fácil, mas eu vou estar com você em cada segundo do caminho.
— Mamãe...
— Kimberly me escute! A decisão é sua, mas você precisa saber que eu vou te apoiar. Se quiser, eu cuido da criança enquanto você treina para as olimpíadas. Provavelmente, não será com o Treinador Schmith, mas você ainda pode conseguir.
Lágrimas escorreram dos olhos de Kimberly enquanto olhava a mãe.
— Ah, mamãe!
Carol levantou-se e deu um beijo na cabeça da filha.
— Não precisa responder hoje. Vai descansar querida e amanhã falaremos sobre isso. Eu só quero que você saiba que tem outras opções. – com essas palavras ela saiu do quarto deixando a filha sozinha.
Kimberly não conseguiu se conter e chorou abertamente. As lágrimas e os soluços altos podiam ser ouvidos na casa toda. Ela tocava a barriga murmurando:
— Eu não tenho opção.
—-/-/-
De madrugada, depois de se certificar que a mãe estava dormindo, Kimberly se teletransportou para o Centro de Comando.
— Saudações Kimberly! – cumprimentou Zordon.
Ela sorriu e murmurou:
— Parece que já estava me esperando.
— Sim, Dulcea entrou em contato comigo mais cedo avisando sobre o distúrbio com a Garça.
— O que está acontecendo Zordon?
— A Garça está cantando para proteger a criança. Esse canto impede que ela seja rastreada por seres malignos como Rita e Zeed.
Kimberly suspirou aliviada.
— E o pterodáctilo?
— Ele também está protegendo a criança, mas a Garça é mais poderosa. Dulcea disse que o canto da Garça protegerá a criança mesmo depois que ela nasça – sorrindo ele continuou. – Ela está segura Kimberly!
— Então, eu estava certa – murmurou amargamente. – A única maneira dela ser encontrada é através de mim. Se ela estiver comigo e eu for rastreada ela também será.
- Infelizmente sim, criança! Porém, Dulcea e eu sempre poderemos rastrear a Garça e se ela estiver com problemas poderemos ajudá-la.
— Tudo bem. Zordon durante as consultas médicas e o parto, os médicos precisam ser capazes de ouvir o bebê.
— Você tem uma ligação muito íntima com a Garça Kimberly. Se você pedir, ela ficará em silêncio por alguns instantes.
— Como eu faço isso Zordon?
— Cante para ela.
—-/-/-
Nas noites seguintes, Kimberly passou a cantar junto a Garça. A princípio o animal ficou confuso, mas logo entendeu a motivação de sua antiga pupila. Durante os exames médicos, a Garça calou-se enquanto Kimberly cantava em sua mente.
O médico ficou aliviado ao ouvir forte o coração do bebê, olhando para a garota afirmou:
— Felizmente está tudo bem. O bebê está forte e sadio. Gostariam de saber o sexo da criança?
Kimberly balançou a cabeça afirmativamente:
— Parabéns, Srta. Hart. Você terá uma menina.
Carol sorriu com a resposta:
— Podemos esperar para quando doutor?
— Provavelmente em Setembro, houve uma confusão com o tempo no começo do ano durante um dos ataques dos alienígenas. Então, alguns partos estão adiantados. Estamos bem longe da Alameda dos Anjos, vocês não precisam se preocupar com nenhum ataque – gracejou o médico.
Carol e Kimberly se entreolharam e riram.
Na saída do consultório, Carol olhou a filha e perguntou animadamente:
— Que tal irmos para o shopping e comprar roupinhas para a minha netinha?
— Mamãe, nada mudou. Eu não vou ficar com o bebê.
Carol olhou a filha espantada.
— Pensei que tinha mudado de ideia. Afinal, você quis saber o sexo da criança.
— Vai ser muito mais fácil encontrar bons pais adotivos sabendo o sexo do bebê – ela tocou a barriga e completou sorrindo. – Uma menina recém nascida de pais brancos jamais ficará em um orfanato. Estou feliz que seja uma menina.
— Sinceramente, eu não te entendo Kimberly!
— Eu entendo mamãe e isso é o suficiente...
