Isabella
Maria não tinha mentido quando disse que meu quarto continuava no mesmo lugar, e do mesmo jeito… as cores tinham mudado, me conhecendo a essa altura, ela sabia como a cor roxa me dava nos nervos, mas a cama, o armário e a maldita cadeira continuava ali. Charlie precisava deixar esse sentimentalismo pelos objetos de lado, urgentemente. Aquele quarto guardava tantas lembranças, de tantas Bellas...
Eram Bellas completamente diferentes… a Bella criança que morou naquele quarto durante as férias de verão, era mais feliz e completa do que qualquer outra que possa ter entrado naquele quarto. A inocência garantia essa felicidade a ela. Diferente do que todos achavam, ela amava esses dias, em que ela conseguia ser uma criança aos olhos de Charlie, porque ela assim que ele a enxergava e não a adulta em corpo de adulto que a sua mãe cisma de dizer a todos que ela era. E essa Bella também se perdeu em algum momento no passar dos tempos, provavelmente quando ela parou de visitar seu pai nas férias de verão, por estar sempre tão ocupada.
Depois a Bella de 17 anos perdeu o que ela achava ser o grande amor da sua vida, a menina que tinha presenciado o casamento fracassado de seus pais, não acreditava no amor, até sentir o que ela sentiu, se deslumbrar com o que ela conheceu, sonhar com o que poderia ter. Ter seu coração partido foi dolorido, ela não perdeu apenas o namorado ela perdeu a si mesmo também naquele dia… o que era a pior coisa que poderia ter acontecido em toda aquela situação.
Até que essa Isabella também se perdeu… deixando Charlie devastado sem sua filha.
" Tudo desmoronou Isabella, você precisa entender isso… Nós lutamos juntas, conquistamos isso juntas, e vai ser juntas que conquistaremos muito mais… "
Essas foram as palavras de Maria quando eu me recusava a sair. Recusava deixá-la voltar, recusava reconhecer que eu tinha perdido tudo… de novo. E eu não conseguia acreditar nela, eu não queria acreditar. Eu queria que ela acreditasse em mim, que confiasse em mim, que eu traria tudo de volta.
Foi o meu pior erro que eu cometi, esse erro quase me custou muito. Foi quando eu me vi guiando as pessoas que confiavam em mim enquanto vestia uma venda a qual Handall tinha colocado em mim sem eu se quer ter percebido, o desejo por vingança me deixou cega de uma forma, que me fez errar com todos eles.
Minha recusa a sair, nos deixou presos, lutando pelo nosso espaço, por comida e por sobrevivências. Nossos números não foram suficiente, o ataque ao Rancho de Petter aconteceu durante a noite. Eu não sairia enquanto não tivesse a certeza de que ninguém tinha ficado para trás. As chamas já estavam altas, quando eu escutei o grito de Peter, e os sons de brigas. Eram dois contra um. E eu só conseguia me perguntar o que ele estava fazendo ali quando ele tinha sido o primeiro a sair com Charlotte e Damian.
Eu cheguei a tempo de impedir que sua cabeça fosse arrancada, mas não consegui evitar que o vampiro que eu empurrei para as chamas não levasse seu braço junto. Seu grito de dor ao ter seu membro incendiado poderia ter a capacidade de ter deixado qualquer um surdo. O segundo vampiro estava pronto a empurrá-lo as chamas, que estava próxima de mais, por conta do veneno que se espalhava, mas eu reagi, o decapitando e deixando para trás enquanto carregava Peter para a janela mais próxima e me jogando com ele segundo antes das chamas tomarem conta de tudo.
Eu tinha seus gritos gravados ainda em minha memória por todo o caminho que percorremos na nossa fuga. Assim como eu carrego a culpa em todos esses anos e continuarei carregando, não importe o que eu faça.
"Nós temos algo aqui Isabella… podemos fazer acontecer, criamos tantas coisas, cresceremos aqui também. O mundo lá fora está desabando em nossas cabeças. Não é uma batalha inteligente. Escute-me. Nós podemos fazer isso, podermos cuidar de Forks ."
Essas foram suas novas promessas, quando nos livramos dos primeiros nômades, que tentaram se aproximar, de Forks. Já tinha se passados alguns meses que estávamos na cidade, escondidos de olhos curiosos, isso até que atacaram a escola. Meu pai estava de plantão e eu e Maria corremos até ele, quando descobrindo do que enfim se tratava. Duas crianças morreram naquele dia, mas eu tinha certeza que se não era por nossa presença o estrago teria sido muito maior.
Eu acreditava nela, em tudo o que ela tinha conseguido e eu estava pronta para o que ela quisesse que eu fizesse.
"Enquanto tivermos juntos… faremos nosso lar Isabella. Não são as paredes e o tipo de solo que aos nossos pés que fazem aquele ser o nosso lugar. Nada disso importa sem a pessoa certa ao seu lado. E você e seu pai… são as minhas pessoas. Entende isso… Eu farei de Forks a nossa casa… Eu devolverei tudo o que foi tirado de você, Niña."
"… Não são as paredes e o tipo de solo aos nossos pés que fazem aquele ser o nosso lugar. Nada disso importa sem a pessoa certa ao seu lado... "
Peter se feriu provando que ninguém nunca ficaria para trás, inclusive eu. Eu o amava. E sempre que eu dizia isso a ele e a Charlotte eu não sentia medo, eu sentia alívio. Eu fiquei ao seu lado cuidando de toda a sua recuperação, apoiei Charlotte quando eu sabia que ela precisava de força, porque não era fácil. O delírio veio com força, mas nunca foi uma hipótese deixar Peter desistir, ele não estava sozinho, nenhum de nós estava. Porque nada parecia ser tão certo, quanto a ligação que nós tínhamos
E foi essa mesma ligação que me fez ir atrás dela, quando Handall a levou. Ninguém nunca ficaria para trás. Maria poderia ficar furiosa o quanto quisesse, eu nunca recuaria os deixando.
"Eu farei de Forks a nossa casa… Eu devolverei tudo o que foi tirado de você, Niña"
De tudo o que ela poderia me devolver, meu pai, era o mais precioso. Maria fez de minha vida um inferno uma boa parte do tempo, isso não era um segredo de ninguém, mas eu sempre seria grata a ela no final das contas.
Embora meu quarto fosse um belo cenário de alguma peça sobre os fantasma do meu passado, houve, grande mudanças nos outros cômodos. Eles tinham construído um banheiro no meu quarto e pelo que eu entendi o quarto de Charlie tinha virado um de hospedes, que era aonde estavam as coisas de Peter e Char e o Sótão também tinha virado um quarto, que era aonde Damian se enfiou logo assim que chegou.
Ainda encarando o quarto sem ter a coragem de entrar e mexer nas coisas, a ideia de ficar ali era perturbadora, mesmo com as mudanças… havia lembranças em cada canto daquele quarto, começando pela janela, olhar para ela me trazia a imagem de uma Bella sentada próximo a ela, sempre aguardando por algo. E essa Bella não existia mais, aquele lugar não me pertencia mais.
A Isabella que tinha retornado, cheia de bagagem em suas costas, de pecados a conquistas, não cabia naquele quarto, minha história de vida não combinada com a inocência que a Bella de 5 anos tinha deixado por aquelas paredes.
Então foi sem nenhum pingo de arrependimento que eu peguei a mala de Damian e a depositei em meu quarto e depois subi para explorar meu novo quarto. A cama era grande, o que me agradou, mesmo que ela ficasse no canto, na direção da caída do telhado. O espaço que entes era completamente escuro, tinha sido pintado de branco para ajudar a clarear, e a janela antiga de vidral tinha sido trocado por uma grande lisa e livre de qualquer imagem esquisita.
A logística do espaço tinha me agradado muito, com duas janelas, fazendo a claridade entrar de um forma bem agradável. Sem contar que eu tinha visibilidade para os dois lados da casa, podendo sempre está de olho. O teto era mais alto no centro, com o caimento maior em direção a cama.
E nem vou sitar o banheiro e toda a privacidade que eu precisava, eu ficaria superconfortável por ali.
- Fui despejado e realocado no mesmo dia? Serio? Aproveitou que eu nem sequer desfiz a mala né.
Damian entrou pela porta que eu tinha deixado aberta, eu estava largada na cama como uma estrela do mar, eu levantei a minha cabeça e sorri para ele.
- Você vai sobreviver!
- No mesmo corredor que Peter e Char… acho difícil. - eu sorri, esse era um outro motivo que tornava esse quarto perfeito. Eu estava bem longe dos casais.
Ele empurrou minha perna e sentou na beirada da cama, e começou a me atualizar de tudo o que foi feito a partir do momento que eu me afastei do grupo em Portland. Esse era Damian, o garoto compreensivo, que esteve do meu lado desde o primeiro momento em que eu coloquei meus olhos nele. Ele tinha o poder de entender o que estava acontecendo sem eu ao menos dizer uma palavra. Eu poderia está a bagunça que fosse, que ele continuaria sendo o meu ponto de equilíbrio, o que muitas das vezes me fazia correr dele, quando minha mente estava por um fio e tudo o que eu mais queria era me estourar. Ele sentia, me apoiava e sempre se matia firme por nós dois.
Ele estava me contando como tinha se alinhado com os Quileutes, fora mim ele era um dos poucos que conseguia manter uma conversa civilizada com os lobos. Não era como se ninguém aqui nãos se suportássemos, só eras menos intransigentes um com os outros. Maria e Sam era outro assunto, desde que eles se esbarraram até o meu quintal na noite que Maria chegou a Forks.
Empolgado com o que eu tinha a dizer sobre a vigilância da floresta, a qual eu dei a ideia de levantarmos cercas dificultando o acesso à cidade pela floresta, algo pouco parecido com o que Peter tinha feito na casa em Houma, não seria uma grande defesa se houvesse ataques mais funcionaria como um bom sistema de alarme para invasão, pelas áreas que nossos olhos não pudessem está atento no momento.
Ele não perdeu tempo em se despedir com um cumprimento dizendo que começaria a trabalhar no projeto e eu fiz questão de lembrá-lo de se alimentar, deixando claro que eu tinha prestado atenção as manchas negras que tinha em seus olhos.
Bem eu também precisava me movimentar, pegando uma peça de roupa apresentável, eu fui até o banheiro e me deixei afundar na banheira pequena e confortável que tinha ali.
Char chegou não muito tempo depois que eu sai do banho, ela trazia com ela um arquivo que Maria queria que eu desse uma olhada sobre o hospital. Eu não era idiota, eu entendia perfeitamente que estava agora por minha responsabilidade recrutar Carlisle Cullen para a vaga de médico, já que eu tinha atrapalhado todo o seu dia de serviço e amanhã ela passaria o dia com reverendo Weber, para resolver assuntos sobre a comunidade.
Eu não tive como não sorrir com o pensamento de como ela tinha levado a sério suas palavras, Maria estava se empenhando… a mulher sanguinária que passava pelas cidades como um trator, fazendo questão de não restar uma parede em pé para aqueles que a irritavam pudessem reconstruir algo. Hoje, tinha entrado de cabeça e agarrados em suas mãos firmes a cidadezinha que seu companheiro tinha como lar. Ela com certeza cairia antes de deixar qualquer coisa acontecer por aqui… e bem, ela não estava sozinha nisso…
Eu sei que não dormia mais e fazia muito tempo desde a última vez que eu me deixei relaxar, colocar uma roupa confortável me deitar em uma cama macia cheia de travesseiros e com um cobertor, parecia um sonho de tão distante que era a lembrança. E eu me permiti fazer isso naquela noite, me espalhei nela com os arquivos que Maria tinha em enviado sem intenção nenhuma de me levantar, me fechando para o mundo apenas por aquela noite.
Eu tinha passado os últimos dois dias correndo de sentimentos que queriam crescer em mim, de pensamento que não saiam de minha mente. Eu me enfiei em uma nuvem de fúria, dor e morte. Liberando instinto animalesco em mim, que muitas das vezes fazia graça nas batalhas contra o território. Seattle teve uma noite agitada, com mortes de traficantes e estupradores em becos. Assim como pequenos focos de incêndios e m partes isoladas na cidade. Ela assim como as outras, estava sofrendo com ataques misteriosos e pessoas desaparecendo, embora não fosse nada tão crítico como o Sul, mas era evidente que as pessoas sabiam que algo vinha acontecendo.
Tinha nômades pela cidade e os dois vampiros que eu trouxe faziam parte de dois pequenos grupos que estavam brigando entre si por espaço na cidade. Ter minhas mãos cheias isso me trouxe de volta a razão, eles estavam perto de mais do meu lugar. Eu precisava voltar. Eu tinha ficado longe por cerca de 2 anos, mesmo estando completamente fora no ultimo ano que passei presa com Handall, eu não sabia como as coisas andava ao certo, eu confiava em Maria para a segurança de meu pai, Damian e Petter também cuidariam de tudo, mas acima de tudo, eu ainda me sentia responsável por todos eles.
Eu estava vendo os relatórios sobre os últimos atendimentos, quando algo bateu na minha janela, no relógio digital que estava próximo a cama marcar meia noite, a sensação de "Déjà-vu" foi forte, as janelas estavam trancadas e a cortina fechada, algo completamente diferente do que costumava ser quando eu morava nessa casa, o quarto era novo, a rotina era nova, no entanto, eu continuava sendo a mesma curiosa de sempre, então me levantei para puxar a cortina e encontrar Edward, pronto para bater mais uma vez na minha janela… pelo jeito o retorno, e as lembranças aos velhos hábitos, não estavam bagunçando apenas a minha mente.
Eu não sei porque fiz isso, mas virei a tranca e puxei a porta abrindo a janela, ele achou que isso era algum tipo de convite, mas estiquei minha mão o impedindo de entrar, então eu sai para encontrá-lo.
- Eu não sei o que se passou na sua mente para achar que estaria tudo bem você vir bater na minha janela de madrugada, Edward.
- Pensei que seria bom conversarmos. Não tivemos como fazer isso desde que nos encontramos.
- Isso continua me explicando o porque seria uma boa ideia você está aqui.
- Por favor Bella, vamos só conversar… podemos… dar uma volta?
Eu desviei meus olhos para a floresta que estava no fim do meu quintal e não consegui segurar a risada… totalmente debochada.
- Você sabe que se entrarmos em uma floresta, juntos, quem tem mais chance de não voltar desse passeio é você né? - sua cara de confuso e ultraje me fez rir.
- Eu vi o que você fez… eu tive que entrar na mente de Laurent, isso está tão errado em vários níveis… você precisa de alguém para conversar Bella. Eu posso ser esse alguém. Eu fui…
eu o empurrei mais, me movimentando para sair pela janela e fechando-a atrás de mim. E com o meu dedo eu o apontei bem na direção de seu peito, desejando que tivesse algo lá para que eu de fato pudesse machucar.
- Você foi o namorado, que escolheu terminar com a filha do xerife em uma floresta, só simplesmente a deixando para trás. Você também foi o menino rico, filho do medico que se cansou de perder tempo namorando a menina do interior e saiu com a sua família para a cidade grande. - falei recordando de todas as palavras que eu ouvi quando as pessoas achavam que eu estava tão mal ao ponto de não conseguir entender o que elas falavam, seus comentários carregados de julgamento e deboche. - Agora para mim, você foi o garoto que me despertou interesse Edward, que chamou minha atenção, me deixou curiosa e encantada. Você me enlaçou no seu dedinho me apresentando um mundo incrível, o mesmo mundo, mas que víamos com olhos diferentes e pelo o seu era tão mais incrível, eu queria isso para mim.
- Bella, amor… ainda podemos…
- Não podemos. E não é só porque você quebrou meu coração, você quebrou aquela menina que sonhava com uma eternidade ao seu lado, porra, você tinha despertado um sentimento de pertencimento em mim que quando você foi embora, eu só pensava em sentir isso de novo. Não contente em me sentir insuficiente, eu magoei pessoas importantes para mim, por não conseguir ser forte o suficiente para me erguer naquela época. Eu me perdi.
- Eu precisei estar no chão Edward, para me erguer sozinha, eu precisei queimar para me tornar forte, eu precisei estar sozinha para saber que eu não precisaria de ninguém para ser suficiente.
- Não foi minha intenção. Você precisa entender que eu te amava, eu precisava de você segura, eu precisava que você vivesse a vida que…
- A vida que eu merecia… e eu vivi… acredito que eu tenha merecido tudo o que me aconteceu, ela não foi bonita e ainda não é. Poderia até mesmo ser comparado como a penitência pelos meus pecados. Porque eu pequei e muito, Edward. A alma que você queria tanto preservar, foi consumida a muito tempo.
- Não… por favor, não diga isso.
Eu estava preste a continuar, mas o barulho na floresta chamou nossa atenção, os passos não pararam nem quando nos viramos para a direção, os cabelos loiros brilhavam com a luz da lua, ao mesmo tempo que fazia sombra em seu rosto.
- O que ele está fazendo aqui? - Edward perguntou, como se ele tivesse direito de exigir alguma explicação.
- O irmão é seu. Pergunte você, aproveite e leve-o de volta com você, sim. E outra coisa, não volte a bater na minha janela. Essa casa tem a porra de uma porta, ela é azul e grande, impossível de não ver.
Dei as costas para os dois e entrei novamente fechando a janela e a cortina, os deixando do lado de fora, com seus problemas de família, que não tinham nada a ver comigo, mesmo que tentassem me arrastar para isso.
- Primeira noite em casa e eu já tenho que colocar grades em sua janela? - a piada sem graça do meu pai me fez bufar, eu podia ouvir alguns rosnados do lado de fora e não demorou muito a ameaça de Peter de jogar água geladas em cachorros no cio.
- Tarde de mais para isso pai. Se tivesse cuidado disso assim que cheguei a anos atrás, teríamos evitado muitos problemas.
E estava totalmente ignorante a isso. Eu não era mais a Isabella que se envolvia em dramas, essa não era mais a minha história.
