Aviso: Alguns dos personagens encontrados nesta história e/ou universo não me pertencem, mas são de propriedade intelectual de seus respectivos autores. Os eventuais personagens originais desta história são de minha propriedade intelectual. História sem fins lucrativos criada de fã e para fã sem comprometer a obra original.

Sumário: Após a superação dos eventos perturbadores conduzidos pelo Regente e por Kastor, Damen e Laurent, finalmente, são coroados em seus reinos. No entanto, é necessário ainda os dois amantes se estabelecerem como reis perante as nações vizinhas de Vask e de Patras e lidarem com acontecimentos estranhos que se sucedem no aniversário de 22 anos de Laurent. Ao mesmo tempo, os dois reis precisam ainda conduzir o seu relacionamento amoroso que, além de suscitar desconfiança em Vere e Akielos, traz os desafios naturais de uma ligação amorosa.

Longfic que se passa após os acontecimentos da trilogia do Príncipe Cativo e O Palácio de Verão e outros contos, abarcando o período de reinado de Damianos de Akielos e Laurent de Vere.

Categoria: Angst/Romance/Slash/Aventura/ Mistério/+18/ Conteúdo LGBTQIA+/Yaoi

Alguns temas sensíveis e que provocam gatilhos estão presentes na trilogia original de O Príncipe Cativo, e, alguns desses tópicos delicados podem estar presentes aqui, não sendo a intenção da fic, de modo algum, naturalizar ou apoiar o indefensável.

A EXECUÇÃO DOS MORTOS

CAPÍTULO 1

RETORNO

(...) What is this life that pulls me far away?
What is that home where we cannot reside?
What is that quest that pulls me onward?
My heart is full when you are by my side

Calling, yearning, pulling, home to you

(Caravanserai – Loreena McKennitt)

Escurecera cedo. O ar em Arles era gelado naquela época do ano em que a primavera despontava tímida, após um severo inverno.

Damen acomodou uma manta de lã crua sobre os seus ombros, presa com o pingente de ouro de leão enquanto, montado em seu cavalo, ele tomava o caminho da área de treinamento ao invés da entrada principal do palácio veretiano.

Damen, talvez, nunca se acostumasse totalmente nem com o clima e nem com as roupas de Vere, com toda a panóplia de laços, trançados e ilhoses, mas a sua motivação valia o esforço. Valeria sempre.

Fazia mais de um mês que Laurent viera para Arles, deixando Delpha a fim de resolver alguns assuntos pendentes na corte da capital, a qual em muitos aspectos, ele e Damianos desprezavam por toda a perturbação que ela lhes havia proporcionado.

Um dos pontos centrais que trouxera Laurent até ali, no entanto, tratava-se justamente da alforria de escravos, que era um projeto conduzido ao lado de Akielos e que encontrava na estrutura tradicional da sociedade, muita resistência ainda. Resistência não somente dos membros da corte, mas também de alguns escravos de estimação que se questionavam como poderiam viver de agora em diante.

Laurent, amiúde, era visto nos últimos meses rodeado por livros de pensadores, sentado ao lado do fogo com as sobrancelhas contraídas e embasando o seu argumento, a fim de debater tópicos abolicionistas com o Conselho.

Algumas vezes, ele pedia que Damen se sentasse ao seu lado e lia um trecho que o impressionara em voz alta. Pelo menos, os ringues já haviam sido proibidos em todo o reino e essa era uma vitória que deixara Laurent muito feliz. Uma pequena vitória.

Galopando pelo pátio da arena de treinos no primeiro andar, Damen, finalmente, alcançou a entrada dos fundos do palácio, jogando as rédeas do seu cavalo para um serviçal.

"Exaltado!" _ cumprimento-o o servo de olhos baixos e cabelo calvo.

"Boa noite, Tristan. Onde está o rei?"

"Está na sala de reuniões com o Conselho. A chegada da sua comitiva era esperada somente para amanhã de manhã, Exaltado. Devo ir informá-lo?"

"Não. Isso é... uma surpresa. Surpresa de aniversário. Não diga nada a ele." _ informou Damen, enrubescendo um pouco.

Laurent completaria vinte e dois anos no dia seguinte e a empreitada de chegar rápido fizera com que Damen cavalgasse durante uma noite inteira à frente de sua tropa, deixando os seus homens em Barbin.

Após mais de um mês afastado de Laurent, resolvendo assuntos relacionados a Akielos, Damen sentia a saudade doer em seu peito em antecipação por ver o amante veretiano.

Certa manhã, quando um mensageiro lhe trouxera uma carta de Laurent, Damen se recolheu na beira de um riacho, deixando os seus homens esperando na encosta enquanto lia o pergaminho como um adolescente apaixonado.

Nikandros, na ocasião, revirou os olhos nas órbitas e se pôs a conversar com Pallas sobre a saúde do seu cavalo Dydimos, matando o tempo.

Não era uma carta necessariamente romântica. Era Laurent sendo Laurent na língua de Akielos. E por isso mesmo, Damen sorrira porque era como ter parte dele consigo em um pedaço de papel.

"Sei que não vai chegar no dia programado. Você abusa das liberdades que toma com o rei de Vere, Damianos. Mas não se atreva a chegar atrasado. Estarei o esperando."

Então, Damen chegou em Arles sem atrasos. No entanto, um dia antes do combinado.

Adentrando o palácio, o akielon cumprimentou dois serviçais que já haviam estado em Delpha e que se curvaram diante dele. Os homens transportavam um amplo espelho para o quarto de um dos conselheiros. Damen, ao ver o seu reflexo, constatou com algum constrangimento, o ar um tanto desleixado que a longa viagem lhe conferira.

"Exaltado, o senhor deseja algo? Podemos ir avisar ao rei que está aqui..."

Os serviçais de Vere não estavam acostumados com monarcas sorrateiros, chegando sozinhos, passando por entradas minúsculas e com um ar travesso no rosto. Estavam acostumados com a postura impecável e alinhada do rei de Vere.

"Preparem um banho para mim e uma refeição simples. A que horas o rei de Vere seguirá para o seu quarto?"

"Ele tem se recolhido cedo todas as noites, logo após o banho."

"Ótimo! Não deixem ele saber que eu já cheguei. É uma surpresa..."

Os serviçais, fazendo uma mesura, pareciam presos em um dilema.

"Mas, Exaltado, como ficaremos se o rei se aborrecer conosco?"

Havia uma preocupação genuína dos homens em falharem com Laurent. Contudo, nesse instante, uma voz conhecida se sobrepôs atrás de Damen com um ar um tanto divertido.

"Exaltado Damianos! Quando vai se acostumar a entrar pela porta da frente, ao invés de usar os fundos do palácio feito um escravo...?"

Era Jord. Ele sorria ao lado de um outro soldado da Guarda Real.

"Alguns hábitos não mudam, Jord..."

Após algumas negociações que contaram com o apoio de Jord, Damen conseguiu convencer os serviçais a manterem o sigilo e pode alcançar uma das salas de banho onde se lavou sozinho, esfregando os seus cabelos; a pele suja com a poeira da estrada enquanto imergia em vapor úmido.

Purificando-se com a água quente, sabão e óleos perfumados que eram escoados em uma densa espuma sobre as lajotas coloridas e superaquecidas, Damen se sentiu renovado.

Um dos serviçais lhe trouxe roupas limpas e ele se trocou, seguindo para o Quarto Real.

Laurent, no seu primeiro ano de reinado, por questões tácitas e compreendidas por Damen, ordenara que demolissem a ala inteira que o Regente ocupara anteriormente e a qual se destinaria a ser os seus novos aposentos. No lugar, Laurent mandara construir um gazebo e uma biblioteca em que uma instrutora da corte ensinava meninos e meninas da cidade a lerem e a escreverem durante alguns dias da semana. A outra parte abrigava uma reforma misteriosa.

Laurent expandira o quarto que já ocupava enquanto príncipe e o transformou, então, no Quarto Real.

Dois soldados se mantinham a postos, fechando a entrada do recinto com lanças. Os dois homens pareceram um pouco confusos com a proximidade do rei Damianos.

"Majestade, não podemos deixar que entre nos aposentos reais... O rei disse que ninguém, fora os criados que têm permissão, podem entrar..."

Nova negociação diplomática com a promessa de que o rei de Vere demonstraria mais satisfação com o descumprimento das suas ordens do que com o cumprimento delas.

A satisfação exigente de Laurent parecia colapsar algum senso de comprometimento em seus homens, que se esforçavam para alcançar a validação do rei de Vere ou, pelo menos, uma vontade vaga de morrerem tentando.

Damen compreendia esse sentimento e registrou para si mesmo que se esforçaria naquela noite não só por Laurent e por si mesmo, mas por aqueles soldados também.

Quando, finalmente, convenceu os veretianos a lhe darem passagem, Damen adentrou o quarto e se deparou com diversas salas contíguas e uma enorme cama decorada no quarto central com aqueles tecidos de seda espalhafatosos pendurados que pareciam pássaros exóticos alçando voo.

Aquilo lhe trouxe um senso de familiaridade e de pertencimento. Havia uma lareira acesa com as labaredas crepitando sobre grossos troncos recém-cortados.

Havia uma refeição leve de carne com pães e frutas sobre a mesa. Havia vinho e água em jarros de cerâmica bojudos. Havia o perfume de Laurent nos lençóis e no ambiente.

Aquele era o mundo de Laurent, do qual Damen, rei de Akielos, também fazia parte. E fazer parte daquele mundo era parte da felicidade de Damianos.

Observando a vista através da sacada do quarto, Damen observou os jardins geométricos de Arles, cercados por ciprestes e majestosas flores-de-lis. A noite revelava duas minúsculas estrelas que se tornavam vez ou outra nítidas na noite escura, antes de sumirem atrás das nuvens.

Damen estivera naquele mesmo aposento somente duas vezes antes, no período em que ainda fingia ser um escravo. Mas a sensação agora era completamente diferente.

E se, naquela época, lhe dissessem que ele estaria ali esperando por Laurent algum dia, com antecipação e saudade, ele julgaria o fato não apenas improvável, mas inconcebível.

Mas Damen não era o mesmo. Tampouco Laurent.

Sentando-se na poltrona reclinável do rei, Damen, então, aguardou.

(cut)

Demorou cerca de uma hora para Laurent voltar para o seu quarto. Quando o veretiano chegou, ele estava com os cabelos úmidos e trajando uma túnica leve por cima da roupa. De sua pele fresca, exalava um perfume inebriante de sabonete e óleos delicados.

Laurent passou pelo arco da porta dupla, parecendo pensativo e só quando caminhava pelo quarto, a figura que o espreitava em um canto mal iluminado, de braços cruzados, falou:

"Seja bem-vindo, Majestade!"

Laurent possuía demasiada dignidade para gritar; arregalar os olhos ou se encolher diante do susto que levou. A sua reação foi mais a reação instintiva de alguém com treinamento militar, alcançando rapidamente uma adaga que carregava na algibeira das suas vestes e deixando cair a toalha dos cabelos.

Depois, ele praguejou como se estivesse ainda no acampamento da época em que era príncipe.

"Eu podia tê-lo matado, Damen!"

"Não tenho dúvida disso! É por isso que esperei se afastar para anunciar a minha chegada. Dessa distância, você poderia me atirar no máximo um cálice..."

"Estou melhorando a minha pontaria com o arremesso de adagas. Não faça mais isso!"

Um rubor subiu pelas faces de Laurent quando Damen, com as mãos para cima, se aproximou para abraçá-lo. Laurent se adiantou em deixar a adaga sobre a mesa.

"Qual é o problema com a Guarda Real? Como você entrou aqui sem que eu fosse avisado?" _ queixou-se o rapaz, erguendo os olhos vívidos e azuis sob o abraço de Damen _ "Por que eu nunca sou avisado?"

Damen distribuía beijos delicados no rosto do outro homem enquanto segurava a sua nuca.

"Porque a sua Guarda talvez desconfie que, no fundo, você gosta dessas surpresas..."

O rubor de Laurent alcançava agora as suas orelhas e pescoço.

"Como chegou aqui tão cedo?"

"Cavalgando uma noite inteira e usando a cidade como atalho. Queria ser o primeiro a dar ao meu rei os parabéns, antes de Arles ficar repleta de visitantes e autoridades querendo a sua atenção..."

Laurent enterrou, então, o rosto no peito de Damen e emitiu um som juvenil que parecia o de um adolescente tímido.

"Você vai estar lá comigo, não vai?"

"É claro que estarei." _ disse Damen, erguendo o rosto do outro homem com o indicador e beijando a sua fronte_ "É o seu primeiro aniversário como rei desde que ascendeu ao trono. Sei que está nervoso..."

"Não, não estou, mas... estou feliz que esteja aqui..."

Damen mergulhou, então, o rosto e beijou a boca de Laurent com a familiaridade e acolhimento que aquele gesto permitia que os dois tivessem.

Com os seus lábios colados, Damen deslizou a sua língua para a boca de Laurent e sentiu aquele prazer que sentia por Laurent demonstrar com os seus gestos delicados o quanto sentira a sua falta também. Um novo arrepio se fez presente quando Laurent deslizou a sua língua para a boca de Damen, massageando tudo o que conseguia alcançar. Houve a pressão suave da carícia e a vontade de aprofundarem ainda mais aquela intimidade.

Quando descolaram, finalmente, os seus lábios, um aturdimento passou pelo rosto de Laurent no instante em que Damen o ergueu em seus braços, levando-o até a cama.

O rapaz de cabelos loiros tinha os seus braços muito brancos ao redor do pescoço de Damen e se manteve um pouco rígido com o movimento.

"Você é muito forte..."

"Você é leve..."

"Eu sou um rei!"

"Eu também sou. Você me disse uma vez que eu deveria carregar o cavalo em que você estivesse montado. Prefiro levar você assim..."

"Não faça isso em público!"

"Não. Só no nosso quarto, Majestade..."

Damen depositou com cuidado o rapaz sobre os lençóis que deslizaram para um canto sob o seu contato. Havia um forte rubor nas faces de Laurent e ele se manteve derretendo pouco a pouco conforme Damen lhe dava beijos curtos e lhe acariciava as mechas do cabelo dourado. Laurent, então, pousou os seus dedos nos braços cor de oliva do rei de Akielos e estendeu o seu toque até o cabelo escuro.

Após cessarem os beijos, os dois amantes se olharam por um instante. Em seguida, Damen encostou a cabeça no ventre de Laurent e deixou que ele lhe afagasse com o seu toque suave enquanto ele mesmo acariciava as coxas muito pálidas do veretiano.

Laurent informou Damen das novidades em Arles e comentou sobre os preparativos para a grande festa que se daria no dia seguinte no Salão Principal e que o rei de Akielos poderia ter visto se não se esgueirasse pelos fundos do palácio, feito um assaltante e não uma autoridade real.

Damen, por sua vez, contou que se deparara com as comitivas de Patras e de Vask no caminho, que viajavam pelas estradas rumo à capital. Até Chasteigne, ele escoltara também as carruagens de um eufórico Charls, ansioso por reencontrar o rei Laurent e nervoso por se deparar com o rei Damianos. Vez ou outra, Charls ainda se confundia e chamava Damen de Lamen.

Laurent também falou brevemente sobre as reuniões com o Conselho e a sua batalha pelo estabelecimento de um tratado de abolição revisado, que contava principalmente com o apoio de Herode.

Então, após a troca de informações entre reis, Laurent se aninhou um pouco mais no peito de Damen e o akielon se pôs a acariciá-lo com mais insistência, dizendo:

"Um mês inteiro... Senti tanta saudade sua..."

Laurent tinha as bochechas matizadas da cor das sedas rosas de seu travesseiro. A afetividade não extraía dele mais toda aquela rigidez do primeiro ano de cortejo, mas o deixava num estado adorável de entrega e vergonha que derretia o coração de Damen.

Naqueles momentos, subitamente, Damen não se sentia mais como um homem adulto de quase vinte e sete anos, mas como um menino apaixonado de dezesseis que descobre o primeiro amor, sentindo o seu coração vulnerável e exposto.

"Eu também senti a sua falta, Damianos..."

"É como um sonho poder te tocar..." _ murmurou Damen, beijando os espaços pálidos da pele leitosa do outro homem. Beijou-lhe também na altura do calcanhar, da panturrilha, puxando o pé nu de Laurent para o seu ombro com devoção.

Laurent desviou o seu olhar para o lado e tinha os punhos fechados, apertando os lençóis.

"Então... Você ficou todo esse tempo me esperando? Podia ter se aliviado com alguma mulher ou com algum guerreiro na sua viagem. Sei que você gosta muito de sexo e que eu mantenho a sua atenção presa por muito tempo..."

Damen se deteve. Depois, inclinou-se, beijando o dorso da mão de Laurent. Ele não gostava quando ele falava daquele jeito.

"Eu não quero uma mulher. Também não quero um guerreiro. Estou em aliança com Vere e não desejo outra cama."

Os lábios de Damen se estenderam até o pulso de Laurent em que o bracelete dourado se mantinha, assim como o seu. Perguntou então:

"Posso acreditar que o meu rei se manteve também fiel à minha pessoa durante a minha ausência, mesmo diante da constante bajulação dos interessados?"

"Você está falando igual a mim, Damen..."

"Você esteve com outra pessoa?"

Laurent fitou os olhos escuros de Damen com aquele rubor em suas bochechas.

"Sabe que não..."

"Então, por que me pergunta se estive com alguém? Sabe que estou comprometido com você..."

Por alguns segundos, os olhos de Laurent se mantiveram distantes e a vermelhidão em suas bochechas se intensificou.

"Certo..." _ disse por fim ele, puxando o rosto de Damen para um beijo.

Os dois homens voltaram a se beijar com delicadeza. Mas, após algum tempo, as carícias com os lábios se aprofundaram e Damen sentiu que Laurent o puxava para cima do seu corpo. As suas línguas já escapavam de seus lábios e Damen deslizava os dedos para a boca de Laurent, induzindo-o a abri-la mais.

Os dois reis se beijaram com a ponta de suas línguas e Damen percebeu que Laurent estava gemendo baixinho sob a sua boca. Percebeu também que o seu próprio membro endurecia sob a calça de tecido veretiano.

"Laurent, quero você. Pensei em você todos os dias..." _ gemeu Damen em akielon no ouvido do rei de Vere, desamarrando um laço de sua roupa e circundando o fio em seus dedos_ "Sonhei que estávamos fazendo amor quando a minha tropa parou em Arran. Sonhei com um daqueles momentos há dois anos em que dividíamos uma tenda e eu era o seu escravo..."

Laurent, sentindo o poder das palavras, murmurou com a respiração entrecortada enquanto puxava os laços da gola de sua camisa, ajudando Damen.

"E o que você fazia...?"

"Tudo o que o meu príncipe me mandava fazer... Eu desamarrava nó por nó da sua roupa e beijava o seu corpo... Eu te tomava apaixonadamente na nossa tenda enquanto todos aqueles homens lá fora falavam de guerra..."

"E foi bom?"

"Como sempre, Alteza..."

Laurent arfava um pouco e tateava o corpo do outro homem. Foi com um arrepio em sua espinha que Damen sentiu Laurent mover um pouco de leve o quadril sob o seu peso quando o amante lhe tocou sob a túnica fina.

Damen mergulhou o rosto no pescoço de Laurent, beijando-o naquela linha do queixo em que as veias azuladas se encontravam como estrias no mármore.

"...Pensei em nós dois todas as noites... Lembrei da nossa despedida em Delpha."

"Damen..."

Laurent permitiu, então, que Damen removesse a sua túnica; as roupas de dormir que não contavam com tantos laços e nós. Depois, retirou a roupa de Damen com mãos habilidosas, puxando a camisa por cima de braços erguidos. O seu olhar deslizou para aquela área na virilha em que o desejo do amante já despontava exigente.

Laurent também estava excitado e, puxando Damen para si, se pôs a tocá-lo naquela região, massageando a ponta do seu membro com o polegar e fazendo movimentos circulares sobre a parte úmida.

Damen murmurou o nome de Laurent. Depois, tocou com dedos cuidadosos o cabelo loiro do rei de Vere quando ele envolveu o seu pau com a boca.

Passado mais de um ano de cortejo, aquela proibição de toques já havia sido superada, mas ainda assim Damen era delicado o suficiente em sua carícia para não deixar nenhum questionamento pendente de que Laurent fazia aquilo porque queria. E de que a cama dos dois sempre seria um lugar seguro para Laurent proporcionar prazer porque estava envolvido e não porque o que tinham era uma manobra triste de ganhos.

Laurent se mostrou impiedoso em sua carícia, pressionando a língua sobre a ponta do pau de Damen, antes de mergulhar e levá-lo até a garganta. Ele sentiu o homem sob si afastar as pernas, entregue àquele prazer sublime enquanto ora acariciava as mechas de cabelo loiro ora apertava os lençóis sob os seus dedos.

Estando afastados há mais de um mês, não levou tanto tempo para Damen ser levado ao clímax circundado pelos espasmos do seu corpo; pelo tremor suave; pela visão que tinha quando ele e Laurent sustentavam um o olhar do outro naquele ato.

Aquele prazer líquido e perolado que alcançou a boca de Laurent enquanto Damien continuava sendo chupado por algum tempo arrancou um gemido profundo do rei de Akielos, que movia inconscientemente a sua virilha.

Damen desconfiava que, tendo alguns traumas elaborados, Laurent se descobria gostando muito de proporcionar aquele prazer ao seu amante. Recebendo-o sempre deliciosamente daquela forma quando o rei Damianos retornava de alguma viagem.

Damen ainda ofegava enquanto Laurent, após engolir, se deitava ao seu lado. Seu rosto estava afogueado e com o dorso da mão, o veretiano esfregou os lábios com alguma impessoalidade. Damen o puxou para mais um beijo, murmurando por sobre a sua voz alterada.

"Vem cá..."

Foi com lábios famintos que Damen se curvou para beijar os mamilos rosados de Laurent, entumecidos e sensíveis ao seu toque. Mordiscou-os de leve e os chupou, arrancando um suspiro profundo de Laurent, cuja pele estava febril.

Depois, ele esticou a sua mão para tocar o rapaz naquela linha rígida do umbigo até a virilha. O toque do pau de Laurent era como seda fina em sua mão um tanto áspera pelas rédeas da montaria. O corpo de Laurent reagiu rapidamente à carícia.

"O que quer que eu faça no seu aniversário, Majestade?" _ indagou Damen no ouvido de Laurent, vendo a sua pele se arrepiar junto com a penugem muito fina e escassa do seu corpo. Depois, Damen voltou a chupar os mamilos de Laurent.

"Sabe o que eu quero..." _ respondeu o veretiano com um fio de voz.

"Não sei... Preciso que me diga..."

Damen sentiu Laurent pressionando os dedos em seus ombros, sendo tomado pelo prazer de lábios e mãos que o estimulavam.

"Me fode..."

"Devagar e lento como você gosta..."

"Faz como você quiser, Damen... Faz mais de um mês!"

Damen depositou um beijo delicado no rosto do outro homem, antes de se levantar.

"Onde posso apanhar o óleo?"

Laurent tinha os olhos semicerrados e um certo atordoamento passava pelo seu corpo. O prazer o deixava tonto com um formigamento em sua pele. Ele demorou um tempo para responder e, no fim, com uma expressão ainda confusa, disse:

"Deixei no cacifo próximo ao trono real..."

Damen chegou a fazer menção de ir apanhar o lubrificante, acreditando que ele estava guardado em algum lugar do quarto quando ele se deteve bruscamente. Deteve-se ao fim das palavras proferidas por Laurent.

"O que?"

"No cacifo próximo ao trono real..." _ repetiu Laurent, ainda embalado pelo prazer e se tocando brevemente, antes de jogar a cabeça para trás, tentando suportar a espera.

Damen tinha um olhar aturdido.

"E isso é lugar de guardar os nossos lubrificantes, Laurent? Por que precisa de óleo próximo ao trono?" _ indagou o akielon com alguma desconfiança.

"Eu o encomendei de um boticário e ele o trouxe hoje mais cedo. Acabamos com todas as nossas reservas antes de eu partir em viagem e esperei você voltar para adquirir mais. Eu esqueci o óleo junto ao trono. Talvez isso o convença a avisar de sua chegada na próxima vez, Damianos..."

Havia uma expressão perdida no rosto de Damen como se ele não soubesse o que fazer porque, de fato, ele não sabia. Ele era um homem grande e de pé em meio ao quarto. Na cama, estava Laurent, o seu belo amante, excitado e envolvente que pedia que o tomasse. As suas pernas estavam entreabertas e aquela visão começava a proporcionar um efeito em Damen.

"Venha. Eu não me importo se fizermos sem..." _ declarou Laurent, estendendo a mão.

"Não, Laurent. Da última vez, você sentiu dor, apesar de ter mentido, e amanhã vai ser um dia longo. Não quero que fique desconfortável no dia do seu aniversário... Além do mais, sabe que não gosto quando não é prazeroso para você tanto quanto é para mim..."

Aquelas palavras fizeram com que os olhos azuis de Laurent se movessem na direção de Damien e o canto da sua boca se estendesse em um discreto sorriso.

Depois, apoiando-se em seu cotovelo, Laurent fez menção de se levantar com uma certa determinação enquanto se enrolava em um lençol de seda.

"Certo. Vou mandar Jord ir buscar o óleo..."

Damen só percebeu que segurava o braço de Laurent quando já o estava fazendo há um tempo.

Por um momento, toda a vida de Damianos passou por seus olhos. A sua infância em Akielos; a sua adolescência e o treino com espadas; a traição do seu irmão Kastor; a sua vinda para Vere como escravo; o tempo em que lutou como um guerreiro ao lado de Laurent e a sua ascensão como rei. Por último, tudo se congelou nos olhos de Jord fitando o seu corpo nu e o de Laurent, com o pau enrijecido. Os dois pedindo ao homem da Guarda Real que lutou bravamente ao lado deles, que se arrastasse até o trono real feito um ladrão, a fim de reaver o lubrificante que coroaria a foda real e que ajudaria o rei de Akielos a comer o rei de Vere gostoso.

"Não, você não vai!"

Laurent esticou o seu braço até a porta e Damen teve a terrível certeza de que ele estava falando sério. As liberdades de Vere e a relação que os veretianos tinham com a intimidade e o prazer ainda o chocavam.

Laurent estava impaciente.

"Damen, me solta! Precisa ser um soldado porque já dispensei os meus serviçais. Prefere ir buscar então?"

O rei de Akielos se reteve, fitando o rapaz diante de si de cima a baixo. Um pensamento parecia ocorrê-lo. Assentindo como se houvesse calculado um plano secreto e eficaz, ele falou para Laurent:

"Volte para a cama..."

"Mas o que... Vai usar o óleo do candeeiro?"

"Não. Vem. Eu vou cuidar de você... Deita aqui..."

Franzindo um pouco o cenho e não alcançando as palavras de Damen, Laurent, com uma expressão intrigada ainda, sentou-se no colchão, sobre os lençóis de seda. Laurent ainda enrijecia um pouco os seus movimentos quando não conseguia prever o que ia acontecer.

"Vire de costas..." _ murmurou Damen em seu ouvido.

O rapaz fez menção de se virar, mas se deteve, olhando por sobre o seu ombro.

"Vai bem devagar, Damen..."

"Hum... Vou relaxar você primeiro... Vire-se."

Laurent sentiu a mão de Damen em seu ombro, forçando-o a se virar com delicadeza. E com alguma tensão ele se entregou quando foi surpreendido por beijos em sua nuca. Beijos que começavam como uma cócega e se tornavam uma descarga de sensações.

"Isso é bom..." _ murmurou Laurent, fechando os olhos.

"Eu sei do que você gosta..."

Depois, Damen iniciou uma trilha sinuosa por aquela linha reta da medula de Laurent, depositando os lábios nos seus ossos, músculos e vértebras. Na pele aveludada e perfumada que se arrepiava sob a sua boca. Laurent gemeu, sentindo como se a sua derme estivesse muito sensível. Como se estivesse nu da própria carne.

Por um tempo, Damen se deteve com os lábios em seu cóccix e quando ele afastou a entrada de Laurent, o rapaz compreendeu, finalmente, as palavras do amante.

Vou relaxar você primeiro.

Laurent gemeu com surpresa quando a língua de Damen lhe tocou daquela forma. Depois, enrijeceu-se, tentando decodificar aquela sensação. Em seguida, relaxou de novo quando Damen introduziu a sua língua com mais profundidade.

E, então, Laurent se transformou num vai e vem de gemidos de prazer e de protesto.

"Damen... O que está fazendo? Aí não... Damen..."

Mas Damianos, com o rosto enterrado atrás de Laurent, naturalmente, não podia responder.

Anilíngua. Laurent não fazia ideia do que era aquilo e nem de como sentir aquilo. Era o ápice da abnegação dos amantes? Ele agarrou os lençóis, experimentando a boca de Damen em seu ânus, ao mesmo tempo em que sentiu a sua ereção latejar com força. Olhando para trás, o rapaz teve a sensação de que o seu rosto se incendiaria quando percebeu que Damen o observava, estudando as suas reações.

"Não pense..." _ murmurou Damen, detendo-se por um segundo, antes de dar continuidade.

Laurent, então, baixou o rosto, tentando se libertar de suas barreiras e de sua vergonha. Estava seguro. Ele estava com Damen.

Pestanejando, o veretiano tentou se entregar àquele prazer. E se entregou por algum tempo, gemendo a princípio baixinho e depois, mais alto. Ele só percebeu que movia o seu quadril sozinho, com os lábios entreabertos quando Damen soltou uma discreta risada, fitando-o com interesse.

"Acho que descobrimos um novo ponto fraco seu!" _ e ele deu um tapinha muito leve na coxa de Laurent. Outra liberdade conquistada, após mais de um ano de cortejo. Liberdade da qual o rei de Vere gostava muito e perante a qual ruborizava, desviando o olhar.

"Você não precisava..."

"Mas eu quis fazer."

"Creio que seja desagradável para você..." _ as bochechas de Laurent atingiam um novo tom de vermelho.

"Se fosse ruim, eu nem começaria. Vem, monta na minha cara..."

"Que?!"

Por um momento, os dois homens se encararam e Damen percebeu que aquele era um terreno totalmente novo para Laurent. Havia uma genuína vontade de rir, perante a qual Damen resistia bravamente. Era estranho como Laurent considerava minutos atrás mandar Jord ir buscar o seu óleo para penetração ao lado do trono real, mas estava desconcertado perante uma intimidade, a qual era natural para Damen.

Explorar o prazer com o amante entre quatro paredes, sem nunca se acomodar em uma só forma de fazer sexo era saudável em Akielos. Laurent estava com o rosto completamente vermelho sobre o pescoço e o restante do corpo muito brancos.

"Laurent, você já deve ter visto aqui na corte de Arles algum escravo de estimação fazendo algo parecido nos caramanchões ou nos ringues..." _ disse Damen de um modo didático.

"Eu não frequentava os ringues. Eu... eu nunca havia visto... Nem nunca soube... Nem pensei que as pessoas faziam assim. Talvez seja algum costume típico de Akielos..."

"Não diria que é algo típico de Akielos... Já houve..." _ Damen se deteve quando percebeu um olhar de curiosidade de Laurent_ "Bom, não interessa. Você parece ter gostado bastante."

O rapaz baixou o seu olhar azul. Seus cabelos loiros estavam um tanto despenteados.

"Foi um pouco surpreendente, mas é interessante..."

"Vem. Eu vou ser cuidadoso. Não se preocupe."

Damen, fazendo o possível para arredar a timidez de Laurent para um canto, convenceu-o a se sentar em seu rosto. De costas para ele, Laurent tinha as mãos apoiadas no peito de Damen enquanto era estimulado com a língua. E ele, animado por Damen, movia o seu quadril. O prazer retornou intenso e impiedoso.

A língua de Damianos se movia com incontida lascívia, deslizante, sorvendo os gemidos de Laurent enquanto o akielon sentia os dedos do amante se fecharem sobre o seu peito.

Em um momento de torpor, Laurent, esticando a mão para trás, mergulhou os dedos no cabelo escuro de Damen ao mesmo tempo em que tocava o seu próprio pau, sentindo ondas de prazer sobre prazer movimentarem o seu corpo como num maremoto. Aquela era uma sensação singular e o veretiano se sentia derreter, evaporar, morrer naquela carícia nova que tinha como depravada, invasiva e pujante.

Os gemidos de Laurent se tornaram mais altos quando ele sentiu Damen o penetrando com a língua e o veretiano anunciou o seu clímax, dizendo o nome inteiro do seu amante com a voz ofegante.

Damianos.

Sem se importar com o peso sobre o próprio rosto, Damen puxou Laurent mais para si, fazendo movimentos firmes com a sua boca enquanto o forçava a cavalgar. Suas mãos nos flancos de Laurent sentiam a movimentação rítmica de seus quadris estreitos, da sua musculatura e ossatura buscando por alívio. A sua pélvis se contraiu, então, até se desprender, trêmula.

"Eu vou gozar, Damen..." _ arfou novamente Laurent já gozando e se mexendo com mais impetuosidade ao ter o seu corpo assolado por espasmos fortes que o faziam morrer naquele ato pífio e elevado. Laurent apertava os olhos e tinha os lábios úmidos entreabertos.

Damen sentiu o prazer líquido, quente feito o sangue escorrer por seu peito. Sentiu o peso morno de Laurent e o seu corpo trêmulo. Sentiu-o arquejar por um tempo prolongado, tomado ainda por movimentos lânguidos e sem forças.

Quando Laurent conseguiu mover as suas pernas e se deitar ao lado de Damen, o rei de Akielos soube, fitando o corpo extenuado do outro homem, que Laurent havia gozado com vontade. Aquela entrega advinha de um processo longo e que recebera bastante atenção naquele tempo de namoro. Uma vitória conquistada.

Damen era um amante atencioso, dedicado e pouco a pouco, Laurent aprendia a se entregar sem ostentar aquela rigidez de músculos retesados e mandíbula contraída. O coração do veretiano batia acelerado e, com os olhos semicerrados, ele tinha a mão no peito ofegante. Não conseguiria falar.

Damen constatou que no estado em que Laurent se encontrava, não haveria retirada estratégica para o banheiro e nem uma toalha porque o rei de Vere, puxando o ar para os seus pulmões, não tinha cabeça para isso naquele instante.

Laurent se acostumara a depender do controle para sobreviver no ecossistema inóspito que o acompanhou desde que Augustus morrera, mas quando ele renunciava ao comedimento, parecia não restar nenhum fragmento de restrições em seu sentir. E o seu corpo parecia usufruir daquela fresta de espontaneidade.

Damen se levantou, então, rumando para o banheiro. Ele pegou uma toalha, dobrando-a sem muito cuidado e enxugando o seu peito. Depois, higienizou a sua boca porque ele tinha certeza de que os hábitos de limpeza de Laurent se aguçariam, se fosse beijado por Damen, após ele praticar a anilíngua. E de fato, quando Damen retornou, deslizou uma toalha limpa pelas coxas de Laurent e fez menção de beijá-lo, o rei de Vere se mostrou hesitante.

"Pode me beijar. Conheço você bem o suficiente. Já cuidei disso..."

Laurent ergueu os seus olhos azuis e hesitou, antes de perguntar:

"Sei que você possui muitas habilidades, Damianos. Naturalmente, já havia feito isso antes..."

"Já." _ respondeu Damen laconicamente, deslizando a toalha por aquela pele alva.

Laurent engoliu em seco e perguntou:

"Com quem?"

"Com uma mulher em Akielos e com um escravo que estava muito nervoso em sua primeira vez..."

"Você era bastante gentil com os seus escravos..." _ e depois de um tempo _ "A mulher era Jokaste?"

Damen ergueu o rosto, desviando o olhar ao atirar a toalha em um canto.

"Não quero falar do passado agora, Laurent. Não interessa. Quero pensar em nós dois... Foi adequado?" _ perguntou o akielon, deslizando o dedo pelos lábios de Laurent com um tom de brincadeira.

Laurent contraiu um pouco as sobrancelhas, observando a toalha atirada por Damen.

"Você ainda brinca com a palavra adequado, após tanto tempo. Eu fodi como um virgem metade do tempo naquela primeira vez em Ravenel e não sabia o que dizer. Não pode enterrar isso no seu passado também?"

Damen sentiu a temperatura ao redor de Laurent se elevar quando o veretiano usou contra ele as palavras proferidas nas ruínas de Marlas na época em que os dois combatiam Kastor e o Regente para recuperarem os seus tronos.

A tensão entre os dois era grande naquele período e Laurent desprezava Damen com insultos, referindo-se à primeira vez que fizeram amor como algo mecânico e sem coração, quando, na verdade, a alma de Damen se prendera para sempre naquele instante.

De modo que, naquela ocasião em que se sentira demasiadamente ferido, após seguir Laurent debilmente até as ruínas de Marlas, Damen revidara as palavras duras do veretiano, sem saber na época como a sua reatividade remexia em raízes profundas dele.

"Você fodeu como um virgem metade do tempo. Na outra metade, como se soubesse ao que estava acostumado."

Damen ainda se lembrava do olhar triste, desconcertado e obstinado de Laurent em Marlas ao ouvir essas palavras. Tristeza, desconcerto e obstinação. Tudo ao mesmo tempo sobreposto em um rosto sem cor.

Nas ruínas, o frio príncipe de Vere parecia, então, um garoto e não um homem feito que eviscerava outros homens com abuso verbal. Talvez ele estivesse sendo aberto um pouco de dentro para fora por Damianos também. Talvez ele fosse um amante medíocre mesmo, que não sabia o que fazia consigo e com a sua inabilidade em raciocinar perante as carícias perspicazes do rei de Akielos.

"Certo..." _ retorquiu Damen sobre a cama do Quarto Real, afastando-se um pouco, após ouvir as palavras ríspidas de Laurent_ "Certo. Eu achei que não se ofenderia..."

Houve um silêncio constrangedor. Então, Laurent, parecendo cair em si; parecendo emergir de algo secreto, alcançou o braço de Damen com os dedos pálidos. Ele fechou os olhos, respirando fundo por um momento e depois falou:

"Não. Desculpa... Eu não devia falar assim com você. Você disse que não queria se lembrar do passado... Eu... Me desculpe..."

Damen observou uma sombra perpassar pelos olhos de Laurent, antes que o veretiano erguesse as suas retinas circundadas por um tom de azul vívido.

"Há algo o preocupando, Laurent?" _ perguntou Damen, esticando o braço e acariciando o cabelo loiro do outro rapaz, colocando-o atrás da orelha_ "Eu estou aqui. Eu sempre estou aqui para você."

Laurent desviou o seu olhar, apertando os lençóis com o punho fechado.

"Não há nada, Damianos..."

Damen puxou o rosto do rapaz para o seu ombro, acariciando as suas madeixas loiras, a sua face, a linha suave de sua orelha e de sua nuca.

"Perdoe-me por essas palavras, Laurent. Eu estava muito magoado quando as disse em Marlas e não deveria ter..."

"Não, Damen! Não! Eu fui cruel com você. Deliberadamente. Não peça desculpas..."

Por um momento, os amantes se mantiveram abraçados e Damen experimentava uma rigidez nos músculos de Laurent. Os dois homens voltaram a se deitar, então, e, por alguns minutos se resguardaram no silêncio, entreouvindo os ruídos distantes do palácio e as suas respirações.

Alguém afinava um órgão. Havia o barulho de cascos de cavalo pateando o átrio e de portas batendo. O crepitar do fogo na lenha recém-cortada os aquecia e iluminava as curvas retas de seus corpos com a luz mortiça.

"...Você é muito importante para mim, Damianos..." _ disse, finalmente, Laurent com o rosto enterrado no ombro do rei de Akielos_ "Isso ainda me assusta um bocado e, às vezes, me atrapalho. Me desculpe..."

Damen tinha Laurent recostado em seu corpo e os dois reis se fitaram. Olhos terrosos e olhos azuis se entrelaçando como num beijo cálido. O céu sobre a terra.

"Você também é muito importante para mim, Laurent..."

Não apenas isso...

Damen engoliu em seco, sentindo as palavras em sua garganta. Sentindo a necessidade delas. Sentindo-as reais enquanto aceleravam o coração em seu peito. Abarcando toda a extensão do universo que ele tinha dentro de si e sobre o qual, Laurent caminhava como se estivesse em seu próprio reino.

Palavras que Damianos nunca dissera a ninguém.

Palavras de amor.

Por que, afinal, ele nunca havia dito a Laurent que o amava?

A ligação entre Damen e Laurent se estabelecera em um período conturbado em que os dois jovens estiveram muito perto de perderem tudo o que possuíam, inclusive as suas próprias vidas. Havia segredos e dores vivas entre eles como um punho estrangulado, movendo-os em direções de afastamento e de colisão.

Contudo, após isso, houvera paz. Houvera dias lânguidos de entrega e de afeto em que eles fortaleceram tudo o que tinham, derrubando cada pilar remanescente de um velho mundo ao se aprofundarem um no outro.

Houvera um momento em que Damen quase expressara o seu sentimento por Laurent no palácio de Ios durante aquele verão maravilhoso que passaram juntos. Após tomarem banho de mar, a pele de Laurent estava rosada e coberta de sal. Os cabelos, úmidos e um pouco mais compridos na ocasião, estavam presos em sua nuca, pontilhados de areia branca. Havia um toldo de seda no estilo veretiano sobre as suas cabeças, montado para quando o sol atingisse o seu auge. Um dos serviçais trouxera para os dois homens refrescos em jarros de cerâmica e frutas frescas em uma bandeja de prata.

Laurent sorria e reunia conchas em suas mãos, parecendo não o príncipe com roupas justas e cativo em si mesmo que o fora até então.

"O sol e o ar fresco fazem bem para ele", pensou Damianos na ocasião, acariciando os cabelos claros com uma orquídea atrás da orelha e os ombros salpicados de água do mar. Damen e Laurent comeram gomos de laranja e fizeram amor sobre o mármore fresco quando pediram que os serviçais os deixassem a sós.

Damen tinha Laurent com os membros entrelaçados nos seus, despido do quíton até a altura da cintura. O sol se punha quando ele beijou a fronte do príncipe de Vere. Os dois homens se olharam, então, sob a luminosidade raiada de fogo e o akielon tinha formadas em seus lábios as palavras que nunca dissera a ninguém. Ele se afogava nas pupilas barulhentas de Laurent e se sentia novamente com dezesseis anos.

Damianos gostara muito de Jokaste, antes de ser mandado para Vere como escravo. Ele gostara muito do guerreiro Pietro, cujo cortejo se estendera por mais sete meses, após as sete horas em que os dois homens permaneceram trancados no quarto pela primeira vez. Damen gostara muito de outras pessoas, antes de conhecer Laurent. Mas nunca sentira o amor fundo em seu peito como algo que parecia aquecê-lo, tornando-o imbatível e vulnerável ao mesmo tempo.

Damen ensaiava as palavras. Experimentava o seu sabor novo.

Mas, então, o momento passou. Laurent, naquele fim de tarde em Ios, desviou o seu olhar com um forte rubor nas maçãs do rosto e mudou de assunto. Depois, pestanejou como se sentisse sono e adormeceu nos braços de Damen com os dedos enrodilhados no tecido do seu quíton.

Foi o momento que Damianos chegou o mais perto de dizer:

"Eu amo você, Laurent. Amo você há muito tempo. Amo profundamente. Amo como nunca amei ninguém. Estou assustado. Estou feliz."

Apesar de esse silenciar-se, o relacionamento dos dois reis seguiu como algo maravilhoso; o sonho vivo em que Damen vivia. Mas as palavras ainda moravam no seu interior, sem serem ditas, movendo-se como mariposas que se debatiam em seu estômago, atraídas pela luz de Laurent.

Damen percebia com vinte e cinco anos que o amor era para os fortes. Sentir era algo destinado aos homens de verdade. Não havia caramanchões, ringues ou escravos de prazer para ensinarem o que era amar. Não havia reis naquele território. Só garotos de dezesseis anos vulneráveis diante da imensidão de si mesmos.

Deitados ainda na cama do Quarto Real de Laurent, Damen sentiu pouco a pouco a rigidez do veretiano se dissipar enquanto ele depositou alguns beijos no seu rosto e no seu ombro, sobre a cicatriz antiga. Por fim, Damen mergulhou as faces no pescoço do outro rapaz, arrancando-lhe uma risada sonora.

Os dois amantes se olharam e Laurent, acariciando o cabelo de Damen, murmurou com o rosto ruborizado:

"Sabe, acabamos não fazendo..."

"A noite ainda não acabou, Laurent, se é isso que quer saber..."

"Eu não queria ter gozado ainda daquela forma..."

"Você queria sim. Você queria muito."

"Não, eu não queria. No início, achei diferente, mas confiei em você. Achei que você pararia depois, mas quando me convenceu a sentar na sua cara, ficou melhor ainda e eu não consegui pensar. Eu não consegui me segurar e você não parava de usar a boca e..."

"Você gostou tanto, Laurent, que não consegue parar de falar sobre isso. Vou lembrar disso futuramente. O meu intuito era só relaxar você, mas houve uma mudança de planos quando vi como você estava... Gosto quando você perde o controle..." _ confessou Damen, passando o dedo pelos lábios rosados do amante.

Laurent se manteve quieto, estando ainda ruborizado.

Após um tempo, os dois homens voltaram a se beijar com volúpia porque Damen sentiu o faiscar nos olhos de Laurent quando lhe acariciou as coxas alvas. O akielon se deteve com a mão na virilha de Laurent, consciente de que não havia usado a toalha naquela área. Ele umedeceu os seus dedos com os resquícios daquele líquido perolado e, quando Laurent afastou as suas pernas, Damen iniciou o penetrar delicado e cuidadoso dos seus dedos.

Laurent jogou a cabeça para trás, apertando os lençóis de seda.

Damen sentia a própria excitação voltar a assolar o seu corpo. Laurent estava com as pernas abertas diante dele, movendo-se em seus dedos e entregue com um sorriso enviesado em seus lábios entreabertos. Os olhos fechados. O murmúrio inaudível de palavras que se transformavam em gemidos doces. A visão de sua entrada rosada, pequena e apertada se abrindo com as estocadas suaves dos seus dedos.

"Damen..."

O rei de Akielos se deteve, fitando o amante de Vere.

Por que em todas as vezes parecia que ele o amava ainda mais? Por que com Laurent era diferente de tudo o que Damen já experimentara antes? Os dois já haviam feito amor muitas vezes, mas o coração de Damen ainda se acelerava, seu corpo se arrepiava em antecipação juvenil.

"Depressa, Damen..." _ gemeu Laurent, apertando os lençóis.

"Não quero que as coisas saiam do controle como em Delpha..." _ respondeu o akielon.

Laurent sentiu ainda por algum tempo o deslizar de dedos úmidos. Ele movimentou o seu quadril, sorvendo aquele ritual em que o seu corpo começava a se abrir. Talvez, fosse ainda um efeito da anilíngua, mas o jovem se mexia com uma sede voraz, com antecipação, como se tudo o que houvesse fossem os dedos de Damianos o penetrando.

Com um sorriso de satisfação, Damen beijou Laurent e, enquanto o beijava ainda, começou a penetrá-lo com o seu pau. Para Damianos, a satisfação do seu amante era onde o seu prazer se convidava para participar e ele se moveu, então, tomado pelo desejo do seu próprio corpo.

Laurent gemeu mais alto, sob os lábios de Damen, quando o sentiu penetrá-lo com o cuidado que dedicava àquele ato. Lentamente. Com estocadas delicadas e esperando Laurent se mover primeiro, sinalizando que estava bom. Que o seu corpo se abria definitivamente para aquele prazer indômito e íntimo. Que o prazer o havia alcançado.

"Está bom assim, Alteza?" _ murmurou Damen no ouvido de Laurent, que assentiu com um gemido, embalado pela fantasia. Pela lembrança daquela época em que ele era um príncipe e Damen fingia ser o seu escravo.

Era permitido fetichizarem o espaço em que se encontraram? Os meses de mentiras que existiram para se aproximarem, se mordendo e se acarinhando ao mesmo tempo, enquanto os dois amargavam tantas questões dolorosas em lacunas.

Damen e Laurent foram, respectivamente, um leão e uma serpente se farejando em meio a uma arena povoada por criaturas mais letais. Fetichizar aqueles dias em que eram um príncipe e um escravo os acalmava. Ressignificava a dor. Era assim que eles se apropriavam da sua história.

Além do mais, no passado, quantas vezes Laurent não sentira aquela eletricidade animal ao se flagrar olhando para Damen nos meses em que lutaram juntos? Na época, Laurent desejara os movimentos do céu e da terra em seu próprio corpo por um prazer insistente que não conseguia nominar e nem sabia sentir. Na ocasião, o príncipe de Vere se descobriu novamente solitário e inquieto na arena em que precisava existir como uma puta de gelo e não como um ser que anseia tanto. Como uma autoridade que estrangula a necessidade de carinho.

Quando Damen fodera as mulheres vaskianas e caíra no sono em sua tenda, Laurent permaneceu fitando o rosto adormecido dele sob a luz mortiça do fogo por muito tempo. Os ritmos distantes dos tambores ecoavam em seu corpo como se ele também exalasse um novo ritmo, descumprindo os seus comandos. Aquele ato de alívio poderia diluir a tensão que se estabelecia entre os dois. Damianos desejava mulheres e, pela ausência delas, a mente do akielon, provavelmente, pregava peças quando o olhar de Damen se demorava no contorno da nuca de Laurent, no seu cabelo loiro, na linha dos seus lábios.

Mas a tensão não se dissolveu e o ápice foi quando Laurent se flagrou em plena cavalgada, fitando a figura de Damen conversando com Jord. Não era um gesto provocante. Não era sequer a tentativa de flerte. Era somente a figura de Damen com os seus olhos escuros e a pele cor de oliva andando a cavalo e os olhares dos dois se chocando. Damen sorriu com aquela confiança, com a nobreza do homem que nascera para ser um rei. Somente sorriu. E Laurent percebeu que estava se arruinando.

Laurent, na ocasião, bateu com as botas esporadas no flanco de sua montaria e se distanciou dos seus soldados. Bateu em retirada, sem olhar para trás como se se encontrasse diante de uma guerra perdida.

"O príncipe vai cavalgar um pouco mais à frente..." _ anunciou um dos batedores da comitiva, com uma das mãos direcionando o seu grito.

O porquê de Laurent se distanciar da tropa permaneceu no ar, intrigando os veretianos e o escravo akielon, que acreditava que Laurent tecia um plano pérfido e indecifrável a cada instante. Que ele era um réptil que estava sempre deslizando um pouco a frente dos homens comuns. A pele fria e a língua experimentavam ambientes inóspitos e familiares. O sangue gelado.

Mas Laurent, na ocasião, não traçava estratégias. Ele somente se recostou em um tronco de árvore; sentindo a sua respiração ofegante; o seu coração em compasso célere; o arquejar do seu tórax sob as suas armaduras. Ele fechou os seus olhos e ergueu o rosto para o sol pálido da manhã, para as copas das árvores, aspirando o cheiro de resina entre o farfalhar verde.

"O que está havendo? Isso não deve acontecer... Não deve!" _ murmurou Laurent, deslizando os dedos pela crina do seu cavalo quando voltou a montá-lo e seguiu para perto da sua frota novamente_ "Isso não pode acontecer com Damianos de Akielos."

Mas quando o príncipe retornou, lá estava Damianos com a sua expressão preocupada, observando-o com o abismo de seus olhos escuros e humanos. Então, com um desespero que não se esqueceria nunca, Laurent sentiu o choro em sua garganta morrer antes mesmo de se tornar algum som. Ele não podia fugir de si mesmo.

Se deixasse Damianos permanecer, seria assustador. As coisas não iam melhorar. Precisava libertá-lo.

Mas se o deixasse partir, algo seria arrancado de Laurent.

De novo.

Laurent estava perdendo o controle... Estava sendo devastado sem piedade pelo cambiar da doçura do primeiro amor e pela dor causada pelas implicações disso. Ele não sabia o que fazer.

Então, ele respondeu com rispidez a um de seus homens e se isolou em sua tenda, exigindo distanciamento e tempo. Damianos de Akielos matara Augustus com uma espada. E agora, sete anos depois, estava matando Laurent, o mais novo, de dentro para fora sem ao menos precisar de uma.

Para Laurent, a descoberta do amor fora mais sombria. Ele não era um garoto de dezesseis, mas o menino de treze dormindo no quarto do Regente. Preso naquele aposento ainda. Desesperado para sair dele. E vendo Damen como um homem que teria arrebentado a porta e lhe tirado de lá. Que sempre arrebentaria a porta. E que sempre o tiraria de lá...

No Quarto Real, o rei de Vere tinha os olhos fechados, bloqueando ao seu redor tudo que não fosse aquela sensação poderosa de ter o seu amante dentro de si. Ele afastava as suas coxas, abrindo-se mais para o corpo do homem que o penetrava. Laurent sentiu Damen puxar as suas pernas sobre os ombros, beijando brevemente a sua panturrilha. Em seguida, iniciou o seu movimento.

Laurent deslizou os seus dedos compridos pelas costas do akielon; a pele oliva queimada de sol; as cicatrizes em seu dorso; a marca em seu ombro...

Era bom. Era demasiadamente bom, após mais de um mês sem aquele enlaçar de pernas; união de quadris e remexer de virilhas. Era bom sentir os murmúrios de Damen em akielon em seu ouvido; em sua carne. A linguagem de consoantes próximas que ocasionavam o som duro da língua no véu palatino, estalando em um dialeto que trazia a sensação do sol sobre a pele.

"Você é meu!"

Laurent sentia uma febre explodir em seu corpo e quando Damen se ajoelhou para estocá-lo com mais impetuosidade, Laurent levou a mão ao seu próprio pau pulsante e úmido. Ele afastou as suas pernas com entrega e volúpia.

"Damen, fala de novo..." _ implorou ele, apertando os lençóis de tecido fino sobre a sua cabeça.

"Você é meu, Laurent... Eu sempre quis você..."

O veretiano moveu a sua mão com mais vigor, falando por sobre a sua respiração entrecortada. Damen jogou a cabeça para trás, controlando a sua excitação, os seus movimentos. Os seus gemidos eram roucos e ele segurava o quadril de Laurent, erguendo-o. Em um determinado momento, quando o seu corpo pulsou quase chegando ao clímax, o akielon cessou as suas estocadas, indo mais devagar. Ele queria satisfazer Laurent primeiro.

O jovem de cabelos loiros se estimulava com movimentos rítmicos, com Damen dentro dele e o rosto se afogueando em ofegante deleite. Laurent gemia com um choramingar manhoso, o qual Damen incitava, ao perceber que a sua estocada alcançava uma nota de prazer mais aguda.

Quando os espasmos alcançaram o corpo de Laurent, Damen precisou de renovado autocontrole.

O veretiano se movimentou com mais vigor, como se uma explosão transpassasse a linha alongada de seu corpo. Até que ele se tornou lânguido. Proferindo suspiros fracos como se a consciência o abandonasse. Com a pequena morte e o gozo entre os dedos, esporrado na linha reta de sua barriga que subia e descia.

Damen, então, se apoiou sobre ele, depositando o peso do seu corpo sobre o corpo de Laurent e sentindo o amante trêmulo sob si, estimulando-o a encontrar o seu alívio também. Damen, então, reiniciou movimentos contínuos em uma foda mais ritmada por seu próprio prazer, sentindo que o clímax estava perto.

Quase sem forças, Laurent murmurou no ouvido de Damen em akielon. Os sons mais delicados e cantados da língua veretiana e a entonação das vogais foram substituídos por consoantes se esbarrando como em uma multidão:

"Na tenda, naquela época, eu já queria... Eu pensava nisso o tempo todo, Damianos. Senti medo por te desejar tanto..." _ e, afundando os dedos nos cabelos negros de Damen, ele acrescentou com os vocabulários de cama em akielon que aprendia com o seu amante_ "Goza forte dentro de mim!"

As palavras atingiram Damen com toda a força que elas tinham e ele sentiu a pulsação profunda de seu clímax; o prazer em estado líquido se comprimindo contra as paredes carnais de seu sexo.

Ele sentiu o amor que experimentava por Laurent explodir não somente em um único ponto, mas como se ele se fundisse em todo universo, deixando o mundo em suspenso. Em um recanto de silêncio e melodia. No sol e no barulho do mar de Ios.

E, então, ele gozou, indo mais fundo em toda a imensidão que se tornava quando estava com Laurent. Naquele instante que eram um só. E que ele se sentia infinito e pequeno.

Damen sentiu o amor pulsar em seu peito como se o constituísse em um conjunto de células, poros e gestos. E o mesmo amor se tornava o seu filtro para olhar todas as coisas visíveis e invisíveis sobre a terra. Era a membrana do mundo.

Amor.

Damen poderia morrer disso.

E ele precisava proferir o seu amor claramente a Laurent, antes de fazer o que viera fazer em Arles.

(cut)

No dia seguinte, um serviçal autorizado bateu à porta do Quarto Real e Damen, cobrindo a sua cabeça com o travesseiro, ouviu os ruídos do empregado veretiano preparando a mesa de café da manhã repleta de leite, pães, ovos, carnes, queijos macios, frutas e mel. Sobre a bancada de madeira, foi disposto um tecido de seda estampado com padrões de flor-de-lis e um castiçal.

A refeição se apresentou bem-vinda, após a noite intensa que Damen e Laurent tiveram e o início da manhã em que trocaram palavras doces na cama.

Em seguida, enquanto degustavam o desjejum, os dois conversaram por algum tempo, ouvindo o ruído de cascos de cavalo adentrando os pátios, vozes distantes e música animada. Havia o barulho de espadas e rodas, talvez no pátio leste.

Terminando o café da manhã, Damen e Laurent seguiram para os banhos, dispensando os serviçais e, em meio às lajotas e azulejos superaquecidos, Damen esfregou o corpo de Laurent, logo após ensaboar as suas costas muito brancas com uma pedra perfumada com fragrância doce de uva. Depois, com um recipiente de prata, Damen entornou água com pétalas de flores nos braços e pernas do veretiano, que se avermelhavam pelo calor.

Enquanto lavava o corpo de Laurent, Damen observou a água cair sobre a pele pálida como pérola do veretiano e gotículas se demorarem, escorrendo lentamente por suas espáduas. Observou os mamilos rosados, a pele macia de menina, a linha dura até o seu umbigo, o seu sexo. Espreitando-o, Damen declarou com um rubor em seu rosto, disfarçado pelo fervor do ambiente:

"Eu passei a te ver como um amigo quando estávamos rumando para o sul naquela época. Eu confiava em você, Laurent. Eu queria estar ao seu lado. E isso, para mim, foi mais assustador do que te desejar tanto."

Laurent ouviu as palavras, deixando Damen lavar o seu corpo com movimentos circulares. Depois, disse:

"Então você me tinha como um amigo?"

"Também."

"Você não costumava ser amigo dos seus amantes?"

Damen se manteve em silêncio, refletindo sobre a pergunta.

Após isso, Laurent banhou Damen. O rei de Akielos achou particularmente adorável quando Laurent lhe deu um beijinho, após lavar os seus cabelos com o sabão de um frasco com vidro filigranado e com tampa dourada. Em seguida, o veretiano derramou água quente nele de um jarro bojudo, escoando espuma do seu corpo limpo.

O vapor ao redor dos dois jovens era quente e inebriante e Damen beijou o ombro de Laurent enquanto o enxugava com um tecido macio.

"Nada de retornarmos nus para o quarto, assim como fazemos em Ios. Vou chamar um serviçal para ele nos ajudar a nos vestirmos." _ declarou Laurent, se enrolando em uma túnica de banho.

"Não. Deixa que eu cuido de você. Eu ainda me lembro de como se faz..."

Damen, então, ajudou Laurent a vestir a calça de cós trançado, as botas lustrosas e a camisa branca com laços delicados amarrados nos pulsos. O cinto com uma fivela dourada com o símbolo da estrela de Vere envolveu a sua cintura estreita e foi preso por Damen que se ajoelhou diante de Laurent. Depois, o akielon ajudou o amante a trajar a jaqueta azul com lacinhos apertados embaixo do pulso até a altura do ombro, puxando o fio através do furo circundado de metal e sentindo a fricção do barbante com o material de ilhó.

Finalizando aquele ritual familiar e prolongado, Damen se pôs a fechar os botões de pérolas nas costas de Laurent e, finalmente, perguntou com a naturalidade de alguém que indaga o outro sobre o tempo:

"Então, qual é o plano?"

"Achei que não me perguntaria nunca, Damianos..."

"Achei que teríamos um momento no café da manhã com um mapa aberto, algumas anotações, um tanque de areia e uma conversa estratégica em akielon..."

"É menos complicado do que isso. Precisamos ter os olhos em Patras e Vask. Não estou acostumado a sequer comemorar o meu aniversário, mas isso não se trata de camaradagem, mas de uma manobra política. Patras e Vask sabem que Vere e Akielos estão unindo forças para promoverem o fim da escravidão e eles temem o impacto que isso possa causar em suas próprias terras. Eles estão temerosos com o risco de serem pressionados a mudarem as suas políticas internas."

"Acho que podemos ter em Torveld um aliado. Mas não podemos medir o quão de influência ele tem sobre o rei Torgeir."

"O rei Torgeir trará todos os seus escravos preferidos, a fim de ratificar o cuidado que lhes dedica. Trata-se de uma boa demonstração da satisfação dos seus e da sua suposta humanidade, antes de qualquer possível acusação. A imperatriz Vishkar de Skarva me preocupa mais do que ele... A escravidão é misturada a um sistema de concubinato em suas terras e as questões são mais complexas. Não anseio por uma guerra e nem por uma ruptura com Patras e Vask. Só precisamos reforçar os nossos laços e nos mantermos firmes."

Damen assentiu, abotoando a última pérola da jaqueta de corte justo do veretiano e viu Laurent se voltar com os seus olhos estreitos e azuis. Ele estava pronto para as suas jogadas políticas. Para a sua guerra de pequenas vitórias.

Laurent se estendeu, então, até um baú de cerejeira com nós escuros e, com cuidado, desdobrou o traje akielon de Damen que estava guardado em seu interior. Em seguida, ajudou Damen a se vestir com mãos delicadas e hábeis. A indumentária real havia chegado uma semana antes, enviada por um mensageiro akielon para a formalidade daqueles dias em Arles e Laurent a guardara em seu quarto junto aos seus trajes.

"Somos reis que acabaram de ascender ao trono, Laurent. Existe muita desconfiança ainda ao nosso redor..." _ declarou Damen quando Laurent se ajoelhou para deslizar as tiras da sandália em suas panturrilhas compridas.

"Sobretudo daqueles que apoiaram o Regente e Kastor e só viraram a casaca no último segundo, quando perceberam que as nossas cabeças não iam ser cortadas e erguidas em uma estaca para serem devoradas pelas moscas... Herode, com o apoio de Mathe, disse em Conselho que uma comemoração de aniversário que reúna todos pode ser um bom pretexto para atenuar os ânimos; trazer um espírito de paz e reforçar a irmandade de Vere e de Akielos. Creio que Patras e Vask não iniciariam uma guerra com Vere e Akielos unidos, mas pode haver alguma provocação sadia..."

Damen franziu as suas sobrancelhas escuras.

"Provocação sadia...?"

"Somos duas crianças ao lado de Torgeir e de Vishkar, Damianos. Coroados há um ano. Você sofreu um golpe de Kastor e eu, do meu tio. Nos unimos a despeito do que houve em Marlas. É provável que nos testem, assim como os soldados testam os novatos que ingressam na Guarda. Eles precisam saber onde estão pisando e descobrirem quais rumores sobre nós são verdadeiros..." _ explicou Laurent, didaticamente, ajeitando o alfinete com o pingente de leão no manto vermelho de Damen.

Damen pensou nos rumores desagradáveis que ainda os circundavam e que já haviam chegado aos seus ouvidos: matador de príncipe; assassinos de irmãos; fornicadores sobre o túmulo da própria família; o akielon que fode com o rei de Vere e o mantém de quatro também no reino; o veretiano que chupou o pau do rei de Akielos e o domesticou. Herdeiros que não sabiam ainda separar uma foda juvenil do trono. Que ainda se envolviam demais, esporrando aqui e ali e esquecendo de governar. Dois jovens que não sabiam ainda guardar os paus dentro das calças. Unir Akielos e Vere era um pretexto para os dois reis continuarem fodendo. Ou foder era um pretexto para os dois reis unirem Akielos e Vere.

Damen, no entanto, não verbalizou os seus pensamentos, tendo ciência de que os rumores, certamente, não teriam passado desapercebidos por Laurent.

Laurent finalizou com Damianos, ajeitando a sua coroa de folhas de ouro sobre os cabelos negros. E Damen coroou Laurent com a sua tiara de pontas delicadas e cravejadas de safira. Os dois homens sorriram um para o outro e Damianos enrubesceu um pouco enquanto erguia o queixo do veretiano com a ponta do dedo:

"Sei que muitos dirão isso hoje, mas preciso ser o primeiro a falar que você está tão estonteante que chega a me deixar arrebatado, Laurent. Se Torgeir e Vishkar disserem que eu estou enfeitiçado por você e que perdi o meu discernimento, eu vou precisar concordar. Você é o homem mais atraente que eu já vi..."

Laurent sustentava o seu olhar azul, com bochechas matizadas de vermelho e um sorriso nervoso.

"Está flertando comigo, Damianos?"

"Estou. Por que não comemorava os seus aniversários antes? Os cortejos dos seus admiradores o entediavam?"

Laurent, desviando o seu olhar, então, respondeu:

"Eu comemorava o meu aniversário quando era criança. Meus pais e Augustus promoviam grandes festas. Eu ganhei um pônei! Mas depois, tudo perdeu o sentido..."

Damen moveu a cabeça com um entendimento tácito.

"E o que acontecia no dia do seu aniversário então?"

Laurent cruzou os braços com algum desconforto, dizendo:

"O Regente promovia festas e apresentações nos ringues que tinham a ver com o gosto dele e não com o meu. Eu normalmente jantava e ficava lendo em meu quarto... No meu aniversário de dezenove anos, Nicaise e eu apostamos nos jogos de malhas e vimos uma apresentação de mágica de um viajante circense. Foi divertido."

Damen sentiu um desconforto em seu peito. Depois, tomou a mão de Laurent e a beijou com suavidade. Às vezes, ele se esquecia do quão a vida de Laurent na corte fora deslocada e solitária enquanto príncipe.

Damen, então, disse:

"Eu entendo que hoje é um dia estratégico, Laurent, mas podemos deixar também algumas preocupações de lado e nos divertirmos? Preparei várias surpresas para você..."

Damen viu as maçãs do rosto de Laurent se tingirem de vermelho, justamente quando se empalideciam novamente.

"Que tipo de surpresas?"

"Surpresas que eu espero que o deixem feliz. Surpresas para o aniversário alegre que você merece... As surpresas serão dadas ao logo do dia. A melhor delas chegará daqui a alguns dias por uma logística que entenderá futuramente..." _ sussurrou Damen, beijando o rosto de Laurent e o sentindo quente e tímido_ "Mas as outras, vou dando a você aos poucos..."

"Você não precisava..."

"Eu disse uma vez que o cortejaria com toda a delicadeza e cortesia que você merece... Feliz aniversário, Laurent!"

Laurent ergueu o olhar para fitar o rosto sorridente de Damianos e se recordou de quando disparou em seu cavalo, tentando fugir daquele homem que fazia os seus joelhos tremerem. Ele ainda os deixava trêmulos.

"...Sei que a comitiva de Pratas e de Vask chegará no fim da tarde e que teremos que jantar com o rei e com a imperatriz. Então, tomei a liberdade de preparar uma surpresa para agora de manhã em um aposento menos ilustre..."

Damen viu o olhar de Laurent estudá-lo, parecendo tentar medir os seus bolsos e as dobras de sua roupa, procurando uma surpresa escondida.

"O que é?"

"Você verá..."

"Damen, por que você gosta tanta de fazer surpresas? _ perguntou Laurent, olhando por sobre o ombro do amante e ao redor no quarto.

"Porque gosto de ver você nesse estado de animação. Eu gosto de surpreender você e você gosta de ser surpreendido..."

Laurent se deteve com um sorriso tímido ao mover o rosto.

"Fomos feitos um para o outro..."

"Sim! Deveríamos nos casar..." _ declarou Damen com um sorriso nervoso.

O silêncio que se fez foi um pouco mais longo do que o akielon esperava.

Laurent estava com o rosto abaixado e havia um rubor que se alastrava por sua fronte e pescoço. Quando ele voltou a falar, pigarreou, antes de dizer com uma voz pausada:

"O casamento entre homens não é permitido em Vere."

Damen permaneceu um tempo muito quieto. Não era a resposta pela qual ele esperava.

"É curiosa uma sociedade que estimula o sexo homossexual e proíbe o sexo heterossexual. E, ao mesmo tempo, favorece o casamento heterossexual e veta o casamento homossexual. Em que momento as pessoas podem viver as suas histórias plenamente?"

Havia um tom de amargura na voz de Damen. Laurent disse então:

"Akielos não aceita o casamento entre homens também..."

"Eu sei. Mas nós dois somos os reis de Akielos e de Vere. É a nossa vez, Laurent. Não dos nossos pais, dos nossos avós ou de nossos antepassados. Podemos mudar as leis. Podemos favorecer outras libertações... Quando, futuramente, cantarem a canção de Damianos de Akielos, quero que o seu nome esteja nas estrofes. Não como um aliado; não como um amigo; não como um amante, mas sim como o meu rei!"

Laurent tinha os olhos velados, fitando Damen. Por um segundo, o seu peito se ergueu e afundou como se ele respirasse fundo. Por alguns segundos, um sorriso lindo e juvenil se desenhou em seus lábios rosados e entreabertos. Mas, depois, um tom mais austero retornou para o seu semblante.

"Não é tão simples mudar as leis. Estamos vendo isso com as nossas tentativas de estabelecer o fim da escravidão em Vere e em Akielos. E além do mais, um casamento de verdade também não é simples, Damianos..."

Damen contraiu as sobrancelhas.

"Eu tenho maturidade o suficiente para saber que um casamento é sério, Laurent. Não estou te convidando para brincar de faz-de-conta ou para foder num caramanchão. Estou te convidando para ser o meu rei."

Laurent ergueu os seus olhos azuis e, por um instante, pareceu que ia replicar algo. Mas, depois, ele se deteve e disse simplesmente:

"Pode ser que você se entedie com os lençóis de Vere em algum momento. Não prefere deixar as opções em aberto?"

Damen ergueu as suas sobrancelhas escuras, não gostando do rumo da conversa.

"Você, por acaso, está entediado com os lençóis de Akielos? É por isso que não quer se casar comigo?"

Laurent moveu o rosto, fechando os olhos.

"Não, não é isso... Só que..." _ ele se silenciou e Damen segurou os seus ombros com delicadeza, forçando-o a olhá-lo.

"Laurent, o que está havendo? Tem algo que queira me dizer?"

O veretiano se deteve com uma expressão confusa. Ele tirou as mãos de Damen dos seus ombros, apertando-as ao redarguir:

"Eu não tenho nada para dizer. Só quero manter as coisas simples..."

"O que quer dizer com isso?"

Nesse instante, uma batida se fez na porta do Quarto Real e um soldado veretiano entrou, dirigindo-se ao rei de Akielos:

"Exaltado! Os seus homens o aguardam..."

Damianos fez um gesto vago de assentimento quando o homem se retirou. O seu olhar estava perdido ainda em Laurent, trajando as suas roupas veretianas austeras com corte justo. Havia algo não dito entre os dois. E Damen teria insistido se Laurent não beijasse o seu rosto e dissesse com uma delicadeza apaziguadora:

"Podemos conversar sobre isso em outro momento, Damianos. Mas não pense que estou o rejeitando. Eu não rejeitaria nunca você."

Damen fitou o rosto do rapaz diante de si e puxou um dos cordões da jaqueta azul, com um sorriso bobo.

"Você é complicado feito essas roupas aqui, Laurent."

"E você simplifica tudo como se fosse um quíton." _ retrucou Laurent, alinhando uma dobra da veste de Damen que revelava um pouco mais do seu quadril_ "Aliás, se Lazar assoviar para as suas pernas hoje, eu mando prendê-lo nas masmorras!"

"Ciúme?" _ indagou Damen com a linha dos lábios voltada para cima.

"Lazar assoviou para as suas pernas nos jogos quando você lutou com Pallas... Eu só me lembrei disso."

"Lazar não assoviou para mim. Ele assoviou para Pallas... E não deve ter sido para as pernas de Pallas porque estávamos nus, mas sim para o pau dele..."

"Ou para o seu!"

"Você podia ter assoviado para mim na ocasião, Laurent... Seria um incentivo para eu finalizar a luta antes..."

"É um pouco difícil assoviar para você quando está se agarrando com outro homem embaixo do meu nariz, Damianos..."

"Você é ciumento..."

"Não, não sou, mas Pallas era apaixonado também por você nessa época... E achei que você havia dito que tinha uma surpresa para mim..."

Damen sorriu, envolvendo a mão do outro homem e o conduziu para o corredor acarpetado com janelas gradeadas ao longo da passagem que projetavam quadrados de sol pelos rostos do akielon e do veretiano.

Lá fora, havia o barulho de fogos estourando e um homem gritava, dando coordenadas a outro. Havia jarros bojudos com arabescos ornamentados com flores-de-lis perfumadas nos cantos, o símbolo da realeza de Vere. Havia também fitas douradas enfeitando as escadas e os balaústres.

Damen roubou um beijo de Laurent, antes de guiá-lo para uma porta fechada. Laurent completava vinte e dois anos e Damen, com alguns anos de atraso, tentaria tornar aquele dia inesquecível.

O rei de Vere tocou, então, a mão de Damen quando ela se fechou sobre a maçaneta da porta do aposento. Ele murmurou para o akielon:

"Você errou. Você disse que a melhor surpresa chegaria daqui a uns dias. Mas, na verdade, ela chegou antes do esperado, Damianos. Ela estava no meu quarto ontem quando vim do banho. Ela está nos meus sonhos e nas minhas lembranças. Ela está comigo sempre."

Então, como Damen se mantinha parado e com a boca entreaberta, foi Laurent que girou a maçaneta da porta e a empurrou para dentro da sala que os aguardava. Damen se manteve embalado pelas palavras do veretiano e alheio a tudo que não fosse o cabelo loiro, os olhos azuis e a sinfonia doce daquele mantra de amor.

O menino de dezesseis anos em Damen se descobria apaixonado, após já ter sido amado e até mesmo adorado; idolatrado entre o seu povo. Descobria-se não como um receptáculo, mas como um condutor, como uma fonte infinita de sentimentos indizíveis que jorravam de sua alma em profusões delicadas e incessantes. Sendo conduzido por Laurent, ele crescia de um modo silencioso.

Laurent, por sua vez, outrora chamado de príncipe frígido, aumentava a temperatura ao seu redor, envolvendo Damianos em um incendiar-se; em combustão espontânea. Em febre. Em sol de Ios.

Havia um burburinho de pessoas no recinto e Damianos e Laurent atravessaram o portal diante deles. Dentro do aposento, as vozes cessaram.