O que enchia os sentidos de James e sua primeira oficial eram os flashes das armas dos inimigos em sua direção. Tudo tinha começado quando uma negociação tinha sido feita com os habitantes nativos do planeta Fregah, que estavam visitando. No entanto, quando não concordaram com o acordo que foi proposto pelos oficiais da Frota Estelar, trataram de resolver a situação com violência, não se importando com uma pessoa de seu povo e que de certa forma, tinha se aliado aos visitantes.

Alia era uma jovem que servia a família do líder da Comunidade local. Por sua gentileza e sorriso fácil, acabou caindo nas graças do capitão, o que de certa forma foi ruim, pois a colocou no meio daquele tiroteio. Ao observar toda a situação antes que chegassem ao perigo vigente do presente, Spock notou que aquele era um comportamento típico de Kirk, depois de trabalhar e conviver alguns meses com ele. Sua lógica mais direta a direcionaria a pensar que aquele comportamento de flerte com qualquer espécie de fêmea que encontrasse, era simplesmente a falta de lógica humana, mas ela começou a ponderar se não se tratava de algo mais profundo.

Colocando esse sentimento de lado, Spock se concentrou no que era mais importante no momento, escapar do planeta e tentar resolver tudo pacificamente, não necessariamente nessa ordem. Pensando numa solução rápida, a Comandante saiu de trás de seu esconderijo de pedras antes que o capitão pudesse impedi-la.

-Spock, o que é que está fazendo? - gritou Kirk desesperado, enquanto tentava proteger Alia ao mesmo tempo.

Ignorando os comandos de seu capitão de forma atípica, Spock mirou o phaser em tonteio no oponente mais próximo, no entanto, logo depois foi atordoada por um peso que a empurrou dali. Já que não esperava que isso acontecesse, o tal peso foi bem sucedido em derrubá-la num baque brusco, que a deixou em alerta quando mais flashes de tiros se aproximaram bem acima da sua cabeça. Ela rastejou para trás da rocha mais próxima, mas ao olhar para os seus arredores em busca de mais alvos que pudessem atingi-la, notou seu capitão atingido, o braço dele e parte do seu peito tinham sido dilacerados pelo laser num corte longo e profundo, que estava sangrando.

Sem mais alternativa, só restou a Spock contatar o engenheiro chefe.

-Sr. Scott, nos tire daqui - disse ela, tentando manter a calma, ao comunicador - três para subir.

Enquanto eram teletransportados, Spock considerou o que fazer com Alia.

-Vá para um dos aposentos de hóspedes = ordenou a Comandante para a visitante alienígena.

Sem entender muito bem o que estava acontecendo, ela seguiu o oficial de segurança mais próximo que prometeu ajudá-la a explicar onde estava, enquanto que Spock se concentrou em James agonizando, debruçado em seu ombro. Apesar de terem uma diferença de altura pequena e ela ser considerada alta, mas um pouco menor que o capitão, Spock se ajeitou para apoiá-lo, enquanto o levava até McCoy.

-Mas pelo amor de Deus, o que aconteceu lá embaixo? - disse o doutor atônito aos dois de uma vez, enquanto James se ajeitava n leito mais próximo.

-Tivemos um tiroteio inesperado - Spock explicou sem tirar os olhos do capitão - não havia outra saída a não ser escapar pelo teletransporte, o capitão Kirk... - ela hesitou atipicamente, lembrando-se da cena de maneira um tanto emotiva, o que a fez exalar pelo nariz rapidamente, contendo a emoção - salvou minha vida e por isso se feriu.

Ao terminar de falar, ela olhou de volta para o médico. Havia algo que estava praticamente segurando os pés da Comandante ali. Não poderia deixar Jim mesmo confiando em Leonard, até saber que ele estava bem.

-Alia...? - perguntou James enquanto ainda gemia de dor.

McCoy começou a trabalhar nele imediatamente.

-Verificarei - disse Spock, assentindo.

Dando meia volta e olhando a hóspede repentina, a vulcana podia não entender e admitir, mas aquela pergunta sobre Alia da preocupação do Capitão a deixou um tanto magoada.

Talvez fosse pelo fator humano e altruísta de se preocupar mais com os outros do que com a si mesmo, essa com certeza era uma das características mais impressionantes de James Kirk. Agora, Spock compreendeu que não era hora para ponderar sobre o que tinha acontecido na missão e no que aquilo reverberava em seu ser. Cuidaria do que era urgente e importante no momento, o que significava obedecer a ordem de seu capitão.

Tendo a sensibilidade de entender que tudo aquilo era novo para a jovem, Spock se aproximou, pensando que um rosto familiar a acalmaria.

-Por que me trouxeram pra cá? O que vão fazer comigo? Eu preciso voltar para casa! - suplicou a garota, desesperada.

-Se acalme, por favor, Alia, se confia em Jim, sabe que ele não te machucaria, nem te colocaria numa situação perigosa - a vulcana explicou com calma e paciência - sabe que ele tomou a decisão de trazê-la a bordo para sua própria segurança.

-Eu sei, mas eu não posso ficar aqui, meu mundo é Fregah - a jovem insistiu.

-Você acredita que se retornasse até lá, seus compatriotas a tratariam com compaixão e a perdoariam de se aliar conosco? - Spock fez o questionamento que resumia toda a situação deles.

-Eles são meu povo, me receberiam sim - ela afirmou sem hesitar, o que pareceu ser legítimo e confiável a Spock, no entanto, a comandante tinha suas dúvidas sobre aquilo.

-Recomendo que descanse até que tome sua decisão e a informe ao capitão, ele estava preocupado com você, certamente gostaria de ter ciência do que fará - Spock recomendou e então a deixou, indo buscar o que precisava saber no momento.

Encontrou Jim na enfermaria repousando, seu uniforme dourado de comando tinha sido retirado devido às suas feridas. Seu peito estava exposto, mas as feridas tinham sido tratadas, já se fechando. Ver que ele estava melhor encheu Spock de alívio.

-Sua hóspede está bem - ela respondeu de prontidão ao capitão, mas com seu próprio questionamento pertinente no fundo de sua mente.

-Ótimo, eu vou vê-la assim que Magro me liberar - ele deu um sorriso fraco, ainda sentindo as consequências de suas escolhas.

-Se me permite, capitão - Spock iniciou sua pergunta, percebendo que precisava de uma resposta o quanto antes.

-Sim, Spock? - Jim se virou para ela, disposto a falar de bom grado.

-Por que fez isso? Se colocou na frente de batalha num confronto cruzado sendo o membro mais importante desta tripulação, não me faz sentido - ela disse de forma direta.

-Ah Spock, sério que não percebe? - um pouco de decepção saiu pela voz de Jim ao dizer isso, ela apenas respondeu com uma sobrancelha erguida - você é minha primeira oficial e minha amiga, eu simplesmente não podia deixar que morresse.

-Amiga... - ela repetiu a palavra em tom baixo, refletindo sobre ela, pensando que ter amigos nunca foi uma coisa muito presente na vida dela - somos amigos, capitão?

-Eu não sei porque duvida, mas eu te considero uma amiga, valiosíssima por sinal - ele fez questão de enfatizar - eu entendo seu ponto de vista vulcano, sim, eu fui imprudente, mas seguindo a lógica humana, eu fiz o que fiz porque era o certo a se fazer, simples assim.

-É uma resposta satisfatória, embora eu confesse que precise de mais tempo para compreendê-la totalmente - confessou a comandante.

-Você pode até não entender nunca, mas apenas aceite - foi o que Jim recomendou.

-Vou deixá-lo descansar - ela disse, deu meia volta e se ausentou do local.

Sentindo gratidão pelo que Jim fez, Spock compreendeu mais uma vez que altruísmo realmente era simplesmente parte de quem seu capitão era, dando-se ao trabalho de resgatar até mesmo uma mestiça como ela, que segundo ele mesmo, era muito valiosa.