.
Capítulo Cetro e Nove
Está Esquecendo Algo?
9 de Junho, 1994
"Hermione, se acalme," Remus implorou enquanto ela o olhava como se tivesse sido traída. Aqueles olhos – aqueles olhos cor de chocolate – estavam cheios de dor, e o matava ver que ela estava olhando assim para ele.
"Eu não contei a ninguém!" Hermione gritou. "Eu venho acobertando você!"
"Hermione, me escute, por favor! Eu posso explicar tudo."
Podia mesmo? O Voto Perpétuo disse que só poderia contar às pessoas que já soubessem sobre a viagem no tempo dela, além de poder contar a Sirius quinze anos depois que o Voto foi feito, o que aparentemente era agora. Isso significava que Mia sabia. Mia sabia que Sirius era inocente, escaparia este ano e precisaria saber a verdade sobre ela.
Remus olhou para Sirius, que ainda estava olhando para a garota com uma mistura de tristeza devastadora e um pequeno indício de esperança e medo. Seu coração se partiu pelo amigo, que deve ter ficado tão confuso ao vê-la.
"Eu confiei em você!" Harry gritou para Remus quando ele se virou para encarar o garoto. "Todo esse tempo você foi amigo dele!"
"Você está errado. Eu nem sempre fui amigo de Sirius, mas agora sou. Deixe-me explicar-"
"NÃO!" Hermione gritou. "Harry, não confie nele, ele está ajudando Black a entrar no castelo. Ele quer você morto também! Ele é um lobisomem!"
A maneira como ela disse a palavra o cortou profundamente, e Remus se encolheu fisicamente como se tivesse sido picado. Durante todo o tempo em que ele conhecia Mia, ela nunca se referiu a ele ou a sua condição com tal tom em sua voz; ouvir isso agora doía mais do que ele estava disposto a admitir.
Uma vez que a palavra saiu de seus lábios, Hermione engasgou e cobriu a boca como se tivesse amaldiçoado, arrependimento em seus olhos.
Remus fez o que pôde para manter a calma na situação, apesar do fato de que Harry e Ron agora estavam olhando para ele, horrorizados.
"Não está nem um pouco de acordo com seu padrão usual, Hermione," ele disse com um leve sorriso, tentando esconder a mágoa. "Apenas um em cada três, receio. Não tenho ajudado Sirius a entrar no castelo e certamente não quero Harry morto. Mas não vou negar que sou um lobisomem."
Ron fez um grande esforço para se levantar novamente, mas caiu para trás com um gemido de dor.
Ofegando, Ron gritou, "Afaste-se de mim, lobisomem!"
Remus parou e engoliu a raiva e o sentimento familiar de rejeição que vinham com a discriminação. Então, com um esforço óbvio, ele se virou para Hermione, que parecia mortificada com o que ela havia feito. Apesar de já saber a resposta, ele perguntou: "Há quanto tempo você sabe?"
Hermione franziu a testa, claramente chateada consigo mesma. "Desde que o Professor Snape passou a redação."
"Você realmente é a bruxa mais brilhante da sua idade, Hermione," ele disse com profunda admiração.
Houve um longo suspiro de silêncio que pairou no ar até que um guincho baixo veio do bolso de Ron, e Remus sentiu mais do que viu Sirius avançar. Ele se virou para pegar o amigo nos braços, usando sua força superior contra Sirius, que lutava para se libertar.
"Estamos perdendo tempo! Ele tem que morrer. Agora! Se você não quer fazer isso comigo, Remus, eu vou fazer isso sozinho!"
"Espere! Padfoot—"
Sirius se afastou de Remus e gritou, com lágrimas em seus olhos cinza-claros enquanto batia com o punho no peito. "Eu fiz a minha espera! Doze anos! Em Azkaban!"
Remus finalmente notou as roupas imundas que Sirius usava; eram roupas de Azkaban, sem dúvida: sujas, mofadas e quase rasgadas. O peito de Sirius era facilmente visível, e ali, no centro, havia uma cicatriz marcando-o como prisioneiro. Remus franziu a testa com a visão antes de seus olhos se desviarem para o lado onde ele ainda podia ver claramente o nome tatuado escrito no peito de Sirius: Mia.
"Tudo bem então." Remus assentiu e estendeu a varinha para Sirius. "Como quiser."
"Não!" Harry se moveu para ficar na frente de seus amigos. "Você traiu meus pais! Você os vendeu para Voldemort!"
"Isso é uma mentira!" Sirius rosnou. "Eu nunca teria traído James e Lily!"
"Harry," Remus disse suavemente, calmamente. "Você tem que ouvir-"
"Ele ouviu?" Harry gritou, apontando o dedo para Sirius. "Quando minha mãe estava morrendo! Ele a ouviu gritando?!"
Sirius estremeceu com as palavras. "Não! Eu não estava lá quando... eu não estava lá para impedir. E vou me arrepender pelo resto da minha vida!"
Harry parecia prestes a virar um assassino, e Sirius parecia estar quebrado. Remus sabia que se o garoto tentasse alguma coisa, Sirius não se defenderia. Harry mataria seu próprio padrinho e sofreria muito por isso quando a verdade viesse à tona. Remus precisava agir rápido. Harry tinha o temperamento de seus pais e queria derramar sangue dos Black.
Remus ficou protetoramente na frente de Sirius. "Alguém traiu seus pais, Harry. Alguém nesta sala agora. Alguém que, até bem recentemente, eu acreditava estar morto."
"Ele está praticamente morto," Sirius acrescentou cruelmente por trás do braço de Remus. "Saia, saia, Peter. Saia, saia e brinque."
"Você não está ajudando, idiota," Remus murmurou.
"Peter Pettigrew?" Harry encarou Sirius. "Ele está morto! Ele o matou há doze anos!"
"Eu pretendia," Sirius rosnou, "mas Peter levou a melhor sobre mim. Não desta vez, no entanto!" Ele avançou para Ron, que caiu com um grito de dor quando o peso de Sirius pousou em sua perna quebrada.
"Sirius, NÃO!" Remus gritou, lançando-se para frente e arrastando Sirius para longe de Ron novamente, "ESPERE! Você não pode fazer isso assim. Eles têm o direito de saber o porquê! Precisamos explicar!"
"Podemos explicar depois! Provavelmente haverá muitas explicações." Sirius o encarou, seu olhar cinza correndo rapidamente para Hermione, que estava protetoramente perto de Harry.
"Não! Eles têm o direito de saber tudo, Sirius!" Remus estalou, ignorando a atenção ocasional de Sirius em relação a Hermione; haveria tempo para isso mais tarde se todos sobrevivessem a isso. Ele se virou rapidamente para Harry. "Todo mundo pensou que Sirius matou Peter; eu mesmo acreditei nisso até ver o mapa esta noite. Porque o Mapa do Maroto nunca mente. Peter está vivo."
"E ele está bem ali," Sirius anunciou, apontando o dedo para Ron.
A ruiva empalideceu. "E-eu?"
Sirius revirou os olhos. "Você não, seu idiota. Seu rato."
"Scabbers?" Ron segurou protetoramente o rato que estava escondido em seu bolso. "Scabbers está na minha família há..."
"Doze anos?" Remus perguntou intencionalmente.
Hermione falou com uma voz trêmula e pretensamente calma, "Mas Professor Lupin, Scabbers não pode ser Pettigrew. Simplesmente não pode ser verdade."
"Por que não pode ser verdade?" Remus perguntou calmamente, um toque de ternura em sua voz, como se quisesse deixá-la saber que ele não estava bravo com ela por sua explosão anterior.
"Porque..." Hermione hesitou por um momento. "Porque as pessoas saberiam se Peter Pettigrew fosse um Animago. Estudamos animagos na aula com a professora McGonagall. E eu os procurei quando fiz minha lição de casa. O Ministério mantém um registro mostrando em que animal eles se transformam, suas características e outras coisas. Eu fui e procurei a Professora McGonagall no registro, e há apenas sete Animagos neste século. O nome de Pettigrew não estava na lista."
"Certo de novo, Hermione. Mas o Ministério nunca soube que havia qu-três Animagos não registrados correndo por Hogwarts." Remus notou a maneira incrédula com que Sirius estava olhando para ele, presumivelmente porque ele havia percebido a mentira.
"Hermione, você está certa de que eu sou um lobisomem. Eu fui mordido quando era muito jovem," ele disse e suspirou quando viu o olhar de pena cruzar o rosto dela. "Eu nem pensei que seria capaz de vir para Hogwarts, mas o Professor Dumbledore mexeu alguns pauzinhos e eu consegui uma educação adequada. Eu estava preparado para ser muito solitário. O Salgueiro Lutador foi plantado no verão antes do meu ano porque esta cabana foi o local designado para eu me transformar, foi montada para que eu pudesse ir para Hogwarts e ainda manter as pessoas seguras."
"Além das minhas transformações, eu estava mais feliz do que nunca na minha vida. Pela primeira vez, eu tinha amigos, grandes amigos." Ele disse e deu um tapinha nas costas de Sirius. "Sirius Black, Peter Pettigrew, e seu pai, Harry: James Potter."
Harry se levantou, ainda tremendo, parecendo confuso.
"Agora, meus três amigos dificilmente poderiam deixar de notar que eu passava todos os meses na ala hospitalar..."
"Enxaqueca," Sirius zombou sarcasticamente.
Remus olhou para ele antes de se voltar para Hermione, Harry e Ron. "Eventualmente, eles descobriram o que eu era—"
"Mais como tropeçamos por acaso," Sirius retrucou petulantemente, interrompendo-o novamente.
"Você quer contar a maldita história?" Remus estalou.
"Não, eu quero matar o maldito traidor!" Sirius rosnou. "Se apressa, porra!"
Remus respirou fundo e lentamente e continuou falando, "Ao invés de me abandonar como eu pensei que eles fariam, meus amigos fizeram algo por mim que tornaria minhas transformações não apenas suportáveis, mas os melhores momentos da minha vida. Eles se tornaram animagos."
"Isso é impossível," Hermione disse, sua boca aberta em choque. "Não é apenas incrivelmente difícil, é altamente perigoso, e para os alunos tentarem... Seria necessário..."
"Anos?" Remus sorriu e assentiu. "Sim."
"Para a maioria de nós," Sirius murmurou.
"Peter, como o menor, escorregava sob os galhos do Salgueiro Lutador e tocava o entalhe que o congela. Sirius e James se transformaram em animais tão grandes que conseguiram manter o lobisomem sob controle," Remus explicou.
Sirius inclinou a cabeça para o lado. "Esquecendo alguma coisa?"
Remus o ignorou. "Então você vê, Snape esteve certo sobre mim o tempo todo."
"Snape?" Sirius se virou e o encarou boquiaberto. "O que Snape tem a ver com isso?"
"Ele está aqui, Sirius. Ele está ensinando aqui também."
"Eu sei." Sirius gemeu. "Eu vi o rosto estúpido dele vagando pelo castelo. Eu vou para Azkaban e Snivellus recebe uma oferta de emprego?"
"Por que Snape te odeia?" Harry perguntou a Remus.
"Porque ele é um idiota sujo, podre e gorduroso!" Sirius disparou.
"Porque," Remus começou, ignorando a explosão de Sirius, "Professor Snape e seu pai eram rivais de longa data. Sonserina contra Grifinória. A rivalidade entre as Casas era muito parecida com os de agora."
"Não teve nada a ver com as rivalidades da Casa," interrompeu Sirius. "Ele começou."
"Veja Harry, Sirius pregou uma peça em Snape que quase o matou," disse Remus, olhando para o amigo e notando a maneira como Sirius desviou o olhar. "Um truque que envolveu a mim, uma lua cheia e esta mesma cabana."
"Oh, ele mereceu. Pelo menos um pouco," Sirius resmungou. "Ele estava sempre se esgueirando tentando nos expulsar por uma coisa ou outra, e ele ameaçou..." Ele rosnou e se deixou levar enquanto sua atenção se voltava para Hermione.
"Sirius enganou Snape para ir para baixo do Salgueiro Lutador. Se ele tivesse chegado até esta cabana, teria ficado cara a cara com um lobisomem. Felizmente, seu pai descobriu o que Sirius tinha feito e salvou Snape bem a tempo. Dumbledore forçou Snape manter silêncio sobre minha condição."
"Então é por isso que Snape não gosta de você," Harry disse lentamente, "por que ele pensou que você estava na brincadeira?"
"Isso mesmo," disse uma voz fria da parede atrás de Remus. "Eu disse a Dumbledore que você estava ajudando seu velho amigo a entrar no castelo. E aqui está a prova. Expelliarmus!"
"Brilhante!" Sirius disse alto depois de perder a varinha em sua mão. Ele aplaudiu enquanto olhava para os olhos negros de Snape com desdém. "E - como sempre - completamente errado. Agora devolva nossas varinhas. Remus e eu temos alguns negócios inacabados para resolver."
"Dê-me uma razão," Snape ousou, aproximando-se rapidamente de Sirius e enfiando a ponta de sua varinha na garganta do homem. "Dê-me uma razão para fazê-lo, e eu juro que o farei."
Sirius estava tremendo de ódio óbvio quando Snape olhou em seus olhos.
"Não seja tolo, Severus!" Remus estalou.
"Ele não pode evitar. É um hábito," Sirius zombou.
"Cala a boca, Sirius!"
"Escutem vocês dois," Snape zombou deles. "Brigando como um velho casal. A criatura e o criminoso."
"Sai daqui!" Sirius cuspiu.
"Professor Snape," Hermione disse baixinho do canto da sala, sua voz baixa. "Não faria mal ouvir o que eles têm a dizer, f-faria?"
"Srta. Granger, você já está enfrentando suspensão desta escola. Você, Potter e Weasley estão fora dos limites, na companhia de um assassino condenado e um lobisomem. Pela primeira vez na vida, segure sua língua!"
Ela tentou de novo: "Mas se... se houve um engano..."
"Fique quieta, sua garota estúpida!" Snape gritou, parecendo de repente bastante perturbado. "Não fale sobre o que você não entende!"
Sirius rosnou alto e, apesar da varinha em seu pescoço, avançou em direção a Snape com uma expressão assassina. "Cuidado com a porra..." ele começou a dizer, mas foi interrompido por um grito alto de "Expelliarmus!"
Snape voou para trás na parede e Sirius e Remus se viraram para ver Harry parado ali com sua varinha apontada para o alto.
"Obrigado, Harry," Sirius disse com um sorriso orgulhoso.
Hermione estava tremendo, olhos castanhos arregalados. "Você atacou um professor!"
"Ainda não estou dizendo que acredito em você," Harry disse a Remus.
Remus assentiu enquanto se aproximava de Snape para verificar seu pulso, estremecendo com o sangue na cabeça do homem. Isso não vai ser facilmente esquecido, ele pensou consigo mesmo enquanto recuperava as varinhas coletadas, entregando uma de volta para Sirius.
"Eu entendo, Harry. Acho que é hora de oferecermos a você alguma prova." Ele olhou para Sirius, esperando que seu amigo tivesse algo para mostrar.
Quase imediatamente, Sirius enfiou a mão no bolso e tirou um pedaço de papel dobrado, entregando-o.
"O ministro idiota jogou isso em mim quando ele veio para as inspeções. Provocando-me sobre o aniversário de Harry," Sirius disse com uma careta. "Eu reconheci o rato imediatamente. Quantas malditas vezes eu o vi se transformar? A legenda dizia que as crianças iriam voltar para Hogwarts. Eu tive que..." Ele olhou para cima, seus olhos encontrando os de Harry. "Eu tinha que ter certeza de que você estava seguro."
"Merlin," Remus sussurrou, encarando a fotografia no jornal. "Sua pata dianteira."
"E daí?" Ron disse desafiadoramente.
"Ele está com um dedo faltando," Sirius respondeu.
"Claro," Remus disse sem fôlego. "Tão simples, tão brilhante. Ele mesmo cortou?"
Sirius assentiu, o movimento firme. Remus podia ver a maneira como seus dentes se cerravam através da pele pálida e fina de sua mandíbula. "Pouco antes de ele se transformar. Quando eu o encurralei, ele gritou para toda a rua saber que eu havia traído Lily e James. Então, antes que eu pudesse amaldiçoá-lo, ele explodiu a rua com a varinha nas costas; matou todos. Ele correu para o esgoto com os outros ratos, deixando-me sentado lá segurando suas vestes cobertas de sangue.
"Scabbers provavelmente perdeu o dedo do pé em uma briga com outro rato. Ele teve uma vida difícil e este ano foi aterrorizado por aquele gato louco!" Ron apontou para o amasso laranja, que estava ronronando na cama próxima.
"Aquele gato é a criatura mais inteligente que eu já encontrei," Sirius declarou, andando e acariciando o amasso, que acariciou sua mão afetuosamente. Harry, Ron e Hermione ficaram de queixo caído.
Ron estremeceu quando ele experimentalmente moveu a mão para mais perto de Crookshanks, que se virou e sibilou para ele. "Maldito gato."
"Ele reconheceu Peter pelo que ele realmente era," Sirius observou em voz alta, parecendo um pouco presunçoso que o amasso era afetuoso com ele e mais ninguém. "Quando consegui me comunicar com ele, ele se ofereceu para me trazer Peter se pudesse capturá-lo. Ele me trouxe comida das cozinhas e as senhas para a torre."
"Crookshanks trouxe comida para você?" Hermione perguntou.
"Seu?" Sirius perguntou, olhando para ela.
Ela assentiu.
"Eu sou... eu sou muito grato a você, então." Ele acenou com a cabeça para ela, sua voz falhando enquanto falava.
Remus pensou por um longo momento e então se virou para Ron. "Há uma maneira certa de provar o que realmente aconteceu. Ron, me dê esse rato."
"O que você vai fazer com ele se eu o der?" Ron exigiu, a voz tensa.
"Forçá-lo a se mostrar," Remus respondeu. "Se ele realmente for um rato, não vai machucá-lo."
Ron hesitou. Então, finalmente, ele estendeu Scabbers e Remus o pegou. Ele começou a guinchar sem parar, torcendo-se e virando-se, os olhinhos negros esbugalhados na cabeça.
"Junto?" Remus perguntou baixinho a Sirius, segurando Perebas com força em uma das mãos e sua varinha na outra. Sirius assentiu. "Na contagem de três. Um, dois, três!"
Um flash de luz branco-azulada irrompeu de ambas as varinhas; por um momento, Scabbers ficou paralisado no ar — sua pequena forma cinza girando loucamente. Ron gritou, e o rato caiu e bateu no chão. Houve outro flash ofuscante de luz e então...
"Bem, olá, Peter," Remus disse agradavelmente, como se os ratos frequentemente explodissem em velhos amigos de escola ao seu redor. "Muito tempo sem ver."
Peter olhou para o rosto zangado de Sirius. Ele se virou e olhou para Remus, que parecia ser o menor de dois males. "R-Remus... Ele veio tentar me matar de novo! Sirius matou Lily e James, e agora ele vai me matar também. Você tem que me ajudar, Remus!"
"Ninguém vai tentar matar você até que tenhamos... resolvido alguns detalhes," Remus ameaçou.
Sirius sorriu sombriamente.
"Resolver alguns detalhes?" Peter guinchou, assustado, antes de cair de joelhos e gritar, "Eu não queria! O Lorde das Trevas, você não tem ideia das armas que ele possui! Ele teria me matado, Sirius!"
"Então você deveria ter morrido!" Sirius rugiu. "Morrer em vez de trair seus amigos, como teríamos feito por você!"
"Ron..." Peter rastejou pelo chão e caiu aos pés do menino. "Eu não tenho sido um bom amigo - um bom animal de estimação? Você não vai deixar eles me matarem, Ron, vai? Você está do meu lado, não é?"
Mas Ron estava olhando para Peter com a maior repulsa. "Eu deixei você dormir na minha cama!"
"Não, não, não. Menino gentil, mestre gentil..." Peter rastejou novamente em direção a Ron. "Você não vai deixá-los fazer isso. Eu era seu rato, eu era um bom animal de estimação."
"Se você foi um rato da mesma forma que foi um humano, não há muito do que se gabar, Peter," Sirius disse severamente.
Ron, ficando ainda mais pálido de dor, torceu sua perna quebrada para fora do alcance de Peter.
Peter ficou de joelhos, cambaleando em direção a Hermione.
"Menina doce, garota esperta, você..." Peter fez uma pausa e olhou para o rosto dela como se houvesse algum reconhecimento ali. Depois de um longo momento, o que prendeu sua atenção se desfez, e ele estendeu a mão, pegando as vestes dela.
Remus e Sirius reagiram instantaneamente, e Peter foi jogado de volta no chão, tossindo quando o ar foi retirado de seus pulmões. Quando ele finalmente conseguiu ofegar, ele olhou para eles, horrorizado. Remus só podia imaginar como ele parecia naquele momento. Anos de experiência o ensinaram a sentir quando o lobo estava na superfície, e ele quase podia ver seu próprio olhar dourado refletido nos olhos arregalados de Peter. Sirius estava respirando com dificuldade ao lado dele, rosnando ferozmente.
"Sirius, o que eu poderia ter feito?" Pedro chorou. "O Lorde das Trevas... Você não tem ideia. Ele tem armas que você nem imagina. Eu estava com medo, Sirius. Nunca fui corajoso como você, Remus e James. Nunca quis que isso acontecesse. Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado me forçou-"
"Não minta! Você passou informações para ele por um ano antes de Lily e James morrerem! Você era o espião dele! Foi você quem nos traiu e armou aquela armadilha. Você matou Mary, não foi?" Sirius agarrou e rasgou as mangas das vestes de Peter, revelando a Marca Negra em seu antebraço esquerdo.
Pedro chorou.
"Você deveria ter percebido," Remus disse calmamente, "se Voldemort não te matasse, nós o mataríamos." Doze anos. Por doze anos, ele chorou por Peter junto com James e Lily. Por doze anos, ele quebrou sua promessa a Mia e escolheu não confiar em Sirius. Remus nunca tirou uma vida, nem mesmo em batalha. Mas isso... isso valeria a pena. "Adeus, Peter," ele disse insensivelmente, levantando sua varinha ao mesmo tempo que Sirius.
"Não!" Harry gritou, correndo para frente. Ele se colocou na frente de Peter, de frente para as varinhas que foram imediatamente retiradas. "Você não pode matá-lo."
"Harry," Sirius disse, ofegante de raiva. "Esse... rato é a razão de você não ter pais. Ele roubou a vida deles, roubou a minha vida e tudo de mim."
"Eu sei. Você ainda não pode matá-lo."
Sirius e Remus tremeram de raiva.
"Vamos levá-lo até o castelo", disse Harry, olhando para os dois homens com olhos suplicantes. "Vamos entregá-lo aos dementadores. Ele pode ir para Azkaban."
Sirius andava pela passagem em direção ao Salgueiro Lutador, seguindo atrás do amasso laranja que abria o caminho e Remus, que não só estava puxando Pettigrew devidamente amarrado, mas também carregando a maior parte do peso do menino Weasley e sua perna quebrada. Flutuando à frente dele estava um Severus Snape inconsciente - que Sirius achava ser o melhor tipo de Severus Snape - levitado por sua própria varinha na mão de Sirius. Uma parte muito pequena e muito infantil dele pensou em bater a cabeça do outro no teto algumas vezes.
Harry e a garota - Hermione - seguiram atrás dele.
A garota.
Remus havia prometido que ela era Mia, mas obviamente havia circunstâncias complicadas considerando que ela parecia diferente, era pelo menos cinco anos mais nova do que ele se lembrava dela, o nome dela era diferente, e o que era mais aparente - e perturbador para Sirius - era que ela não o conhecia.
"Você sabe o que isso significa, Harry?" Sirius perguntou abruptamente enquanto faziam seu lento progresso ao longo do túnel, ignorando a forma como a garota engasgou quando a cabeça de Snape realmente bateu no teto quando ele perdeu o foco. "Entregar Pettigrew?"
"Você é livre."
"Sim," Sirius disse e soltou um suspiro de alívio - o que parecia de esperança. Ele limpou a garganta antes de falar novamente. "Mas eu também... não sei se alguém já lhe disse... sou seu padrinho."
"Sim, eu sabia disso."
Sirius sorriu, olhando para o garoto que era uma cópia exata de James. "Bem, seus pais, er, no mundo mágico os padrinhos são muito importantes. Eu deveria ter sido..." Ele começou, mas então parou e passou a mão pelo rosto em frustração.
Agora era o momento certo para confessar toda a sua culpa por não estar lá enquanto Harry crescia? Agora era o momento certo para ensinar o menino sobre laços e como, por causa de seu vínculo familiar, ele se sentia como se Harry fosse seu? Isso era ultrapassado?
"Bem, eles me fizeram seu guardião," ele disse, achando a palavra completamente inadequada, mas foi o melhor que ele conseguiu pensar no momento. "Eu entenderia, porém, se você quiser ficar com sua tia e seu tio-" Mesmo que ele não quisesse. "-mas, bem, você pode levar algum tempo para pensar sobre isso. Assim que meu nome estiver limpo, se você quiser uma casa diferente-"
"Eu poderia viver com você?" Harry quase gritou. "Deixar os Dursleys?"
"Eu entendo se você não quiser-"
"Você está louco?" Harry resmungou.
Sirius parou em seu caminho e se virou para olhar para seu afilhado, que o encarava com um olhar claro e penetrante. Sirius olhou brevemente para a bruxa ao lado de Harry, que estava sorrindo para ele gentilmente, parecendo o amor de sua vida que havia desaparecido quatorze anos atrás.
Eu estou louco? Sirius pensou consigo mesmo e então apenas riu baixinho.
"Claro que quero deixar os Dursleys!" Harry exclamou, desviando a atenção de Sirius da garota. "Você tem uma casa? Quando posso me mudar?"
Sirius riu do entusiasmo do menino; era tão reminiscente de James que doía. Ele notou a distinta falta de cuidado de Harry em deixar os Dursleys, e embora ele certamente não pudesse culpá-lo - tendo encontrado Petunia e Vernon várias vezes - ele arquivou mentalmente o momento, sabendo que em algum momento no futuro ele precisaria pergunte sobre a vida de Harry sob seus cuidados. "Você quer? Você quer mesmo isso?"
Harry sorriu. "Sim, eu quero!"
Sirius continuou a levitar Snape para fora do Salgueiro Lutador, recuando para deixar Harry e a garota passarem pela saída debaixo da árvore até que todos estivessem ao ar livre. Ele respirou fundo, sentindo-se livre pela primeira vez em doze anos.
"Um movimento errado, Peter," Remus ameaçou antes de cair de repente para frente, agarrando o peito e ofegando. "Sirius..."
Ah não. Os olhos de Sirius piscaram imediatamente para o céu, onde ele viu a lua subindo lentamente acima das nuvens.
"Ah não!" A garota disse, lançando-se na frente de Harry como se pudesse de alguma forma protegê-lo de um lobisomem em transformação. A visão teria feito Sirius rir se eles não estivessem em um perigo incrível.
Sirius se moveu entre os adolescentes e Remus, que estava tremendo, os dentes cerrados, tentando conter os gritos enquanto a dor assolava seu corpo. Sabendo que o inevitável estava para acontecer, Sirius virou-se para ela e olhou nos olhos castanhos profundos. "Corra," ele sussurrou. "Corra agora."
Harry correu para ajudar a desacorrentar Ron de Peter e Remus, mas Sirius rapidamente pegou seu afilhado pelo meio e o jogou de costas na direção da garota. "Harry, deixe comigo. Leve-a e corra!"
Um rosnado veio de Remus, que havia se curvado para frente, seu corpo se alongando e se movendo. O som de ossos quebrando ecoou ao redor deles, e Sirius pôde ouvir a garota soltar um soluço. Ele observou enquanto ela e Harry ficaram congelados, olhando para a cena na frente deles.
Ele se lançou para a frente e pegou o afilhado pelos ombros, tirando-o de seu estupor. "Harry! Mantenha-a... mantenha-os seguros. É o seu trabalho," ele disse antes de dar um passo para trás e deixar seu corpo se mover para baixo em sua forma de Animago, assim como Moony, em toda a sua glória, se espreguiçou e soltou um uivo penetrante.
O lobisomem empinou e estalou as mandíbulas na direção dos adolescentes, libertando-se das amarras que o prendiam a Ron e Peter. Antes que ele tivesse a chance de agarrar novamente o garoto ferido no chão, Padfoot saltou para frente, prendendo suas mandíbulas ao redor do pescoço de Moony e forçando o peso de ambos para trás.
Sirius sentiu, não pela primeira vez em sua vida, as garras do lobisomem rasgando-o.
Eventualmente eles se separaram e Padfoot rosnou ferozmente, colocando-se entre o lobo e o caminho de volta para o Salgueiro Lutador. Moony pairava dominantemente sobre ele e Sirius sentiu o impulso de se submeter, mas lutou contra isso. O lobo notou a desobediência do membro de sua matilha e rosnou, estalando suas mandíbulas contra a pele e pelos das costas de Padfoot. Ele soltou um grito agudo no momento em que um uivo alto veio de outro lugar na floresta.
Moony sentou-se rapidamente, soltando-o. Padfoot caiu no chão choramingando e sangrando, e observou enquanto Moony partia rapidamente para a Floresta Proibida. Padfoot ganiu ao se levantar, usando toda a força que tinha para tentar perseguir o lobo, mas só conseguiu chegar ao Lago Negro, onde desabou no chão.
"Sirius!"
Ele podia ouvir Harry gritando seu nome enquanto ele mudava de volta para sua forma humana, e um frio inquietante familiar tomava conta de seu corpo.
"Não," Sirius gemeu de dor e medo quando centenas de dementadores desceram sobre ele. Ele podia ouvi-la em sua cabeça, sua Mia, implorando para que ele não a deixasse, implorando para que ele ficasse. Ele deveria ter ficado. Ela estava desaparecida quando ele voltou. Por que ele não ficou?
Estúpido. Teimoso.
"Hermione, pense em algo feliz!" Harry chorou.
Algo feliz, Sirius pensou consigo mesmo enquanto seus olhos se fechavam e o frio penetrava em seus ossos. Havia uma forte pressão em seu peito; parecia que o Vínculo de Alma estava endurecendo em um escudo protetor, como se estivesse sendo atacado.
Pense em algo feliz.
Troféus da Copa de Quadribol, corredores do quinto andar, cicatrizes em forma de meia-lua combinando, uma moto voadora, café da manhã, lençóis vermelhos e uma banheira com pés. Um veado, um lobo e uma raposa correndo por entre as árvores. Uma ruiva de olhos verdes e um garotinho de cabelo preto. Sorvete de morango, pulseira de ouro, cordão de prata e anel de opala.
A sensação de Firewhisky em um beijo.
Olhos cor de âmbar.
"Expecto Patronum! Hermione, me ajude! Expecto Patronum!"
