Boa leitura!


Capítulo Vinte

Meu Vizinho e o Casamento

Gargalhei e Edward me olhou confuso, ainda segurando a caixinha do teste em mãos se aproximou e sentou perto de mim na cama.

— Do que você tá rindo? — questionou ainda mais pálido.

— De você, idiota. — Peguei a caixinha da mão dele. — Isso aqui não é meu. — Balancei a embalagem e o vi respirar aliviado, e se deitar na cama, provavelmente para recuperar sua pressão que deve ter desabado naquele curto período de tempo.

Entretanto, logo ele ergueu o tronco e perguntou curioso:

— De quem é? — Olhou em direção a porta fechada e de volta para mim. — Rosalie? Emmett vai ser pai?

— Edward, ninguém aqui tá grávida, ok? Foi Angela que suspeitou, só que deu negativo, mas você não pode contar isso pra ninguém tá bom?

— Sou ótimo para guardar segredos. — Apontou para o anel de noivado na minha mão. — E tanto faz, só de saber que não vou ser pai já tô feliz pra caramba! — exclamou e sorriu e algo na fala dele me incomodou muito.

— É, que bom — resmunguei. — A gente deve ter deixado a caixa cair aí, talvez eu precise arrumar meu quarto, mas fica pra depois, vou começar a me preparar para a festa.

Todo o alívio no rosto dele se foi e Edward ficou preocupado.

— Tem certeza? Você passou por aquilo e…

— Tenho certeza. — O empurrei para fora da minha cama. — Você já tem sua roupa, vai pro seu apartamento se arrumar que eu tenho muito que fazer.

— Tá, mas acho que antes vou comprar mais camisinha, essa caixa me assustou pra caralho.

Ele se foi e eu fiquei mais alguns minutos pensando na fala dele. Estava tão animado quando falou que não seria pai, mas me perguntava se era só pelo momento e pessoa inapropriada — eu —, ou se ele não queria ter filhos nunca.

Não que isso fosse da minha conta, com certeza não era. Ele era só meu pau amigo, apenas isso e o futuro familiar dele não era da minha conta.

Não era mesmo. Até porque eu sabia que teria filhos, sempre quis ser mãe e seria, ponto final.

X

A cada festa com meus avós, o pai de Edward e as pessoas relacionadas a eles, mais eu me questionava se realmente valia a pena lutar por aqueles dez milhões de dólares para as doações. Quer dizer, todos eram tão insuportáveis, egoístas, racistas, homofóbicos e tudo mais de ruim que existia no mundo.

— Tudo bem? — Edward perguntou ao me encontrar escondida num canto na festa, fugindo como era possível daquelas pessoas e seus pensamentos conservadores que me causavam náusea.

— Por que tem tanta gente escrota no mundo? — perguntei, enquanto tinha meus olhos focados na taça de champanhe que segurava, aparentemente ninguém pensou em comprar cerveja para a festa que estava sendo realizada num salão de festas em São Francisco.

— Aconteceu alguma coisa ou é uma pergunta geral? — O Emo se encostou na parede que eu já estava apoiada.

Suspirei alto e contei:

— Estava conversando com um dos diretores do programa, o garçom foi nos servir e ele começou a falar que o cara tinha jeito de bicha. — Apertei meus olhos com força e respirei fundo. — Eu não falei nada, ia ser uma confusão se abrisse minha boca para brigar com aquele infeliz, mas quis tanto socar a cara dele.

Tomei um pequeno gole do champanhe antes de continuar desabafando.

— Não tô dizendo que sou perfeita e nunca errei, tá? Eu vivi a maior parte da minha vida pulando de galho em galho, vivi com pessoas preconceituosas… Os Carter, a família que me abrigou depois de Renata me abandonar eram mega racistas e homofóbicos, eu tinha seis anos e fui exposta aquele tipo de pensamento logo cedo. As outras famílias depois não era muito melhores, a própria Renata tinha os preconceitos dela quando estávamos juntas. Mas, eu conheci meus pais e eles foram dia a dia quebrando toda a minha criação baseada em conceitos preconceituosos e isso me fez mudar pra valer. Então, quando escuto esse tipo de comentário, mesmo que não me atinja diretamente, ainda me machuca pra valer. — As lágrimas estavam acumuladas em meus olhos.

— Sinto muito, Bella. — Edward segurou minha mão livre e se posicionou na minha frente, criando uma barreira entre mim e todos aqueles ricos intolerantes.

Eu o abracei, o que pareceu pegá-lo de surpresa por um instante, mas o quarterback me abraçou de volta. E ficamos ali, abraçados, até que meu celular tocasse.

Me afastei de Edward, pedi para ele segurar minha taça e tirei o celular da bolsa pendurada em meu ombro. Era a mãe de Joe e Zoe, os gêmeos de quem eu era babá.

— Oi, senhora Grayson, tudo bem?

— Bella! — ela exclamou e parecia muito estressada. — Desculpa se tô te atrapalhando em algo, é que meu marido estava mexendo na casinha da árvore das crianças, escorregou e aparentemente quebrou a perna, ainda bateu a cabeça. A ambulância acabou de levá-lo, mas eu preciso ir ao hospital acompanhá-lo e não tem condições de levar as crianças para lá, a vizinha pode ficar de olho neles, mas por uma hora no máximo, pois ela tem um aniversário para ir. Você pode vir? Por favor, me diz que tá livre, eu pago o dobro por suas horas.

— Claro que eu vou — concordei prontamente, Edward me olhou confuso. — Só que eu estou em São Francisco, sua vizinha terá de aguentar um pouquinho, tá?

— Certo, certo, ela vai esperar. Ai, Bella, muito obrigada. Vou deixar dinheiro no balcão da cozinha, peça o que você e as crianças quiserem para o jantar, certo? Eles podem ir dormir mais tarde também, estão muito agitados porque viram o pai cair. Preciso ir, tchau!

— Até mais tarde. — Ela já tinha desligado, mas eu sabia que não era grosseria e sim desespero. — Edward, preciso ir cuidar da Zoe…

— Zoey!?

Eu ri por um segundo.

— Não Zoey, falei Zoe.

— Ah tá, mas quem é Zoe?

— Zoe de Zoe e Joe, os gêmeos de quem sou babá. Teve um acidente doméstico envolvendo o pai deles, a mãe me chamou para tomar conta das crianças. Acho que já dá pra ir, né? — Gesticulei para a festa. — Tiramos fotos, vimos o discurso do seu pai e do meu avô, você pode ficar ou ir direto pra sua casa, vou pedir um uber e…

— Não, eu te levo e te espero lá por perto — disse sério.

— Isso é sobre o assalto, você não precisa…

— Bella, sem negociações, pelo menos por alguns dias me deixa te dar carona, tudo bem? Sei que você não tá 100% depois de tudo que passou e se sentirá mais segura com alguém ao seu lado.

— Você?

— Exatamente.

Merda, pior que ele estava certo.

— Vamos nos despedir e ir…

Daquela vez, eu o interrompi.

— Nem pensar, iriam impedir a gente de ir, só vamos sair rapidinho daqui.

Agarrei a mão dele e o levei até a saída.

X

Por volta de sete da noite Edward estacionou seu carro na frente da casa dos Grayson, ele disse que ficaria por ali e foi logo pegando meu Kindle que eu tinha levado para ler durante o caminho de ida até São Francisco.

— Tá na hora de começar a andar com seu Kindle e esquecer o meu, Masen — resmunguei abrindo a porta, mas o escutei falar.

— É no seu que tem esses livrinhos cheios de…

— Shiu, calado! — Bati a porta e caminhei até a entrada da casa.

Toquei a campainha e a vizinha dos Grayson, que devia ter por volta de 50 anos abriu a porta, já parecendo muito cansada de lidar com os gêmeos. Ao seu lado estava Zoe, que foi logo falando:

— Credo, Bella, esse vestido não é bonito.

Eu estava usando um vestido verde claro — comprado por minha avó —, com só uma alça e cheio de babados na saia longa. Não era meu estilo, mas usei para não criar atritos com Helen Swan, ela também tinha me mandado sapatos e a bolsa prata que eu usava. E meus cabelos antes estavam presos em um coque lateral, mas os soltei no carro.

— Bom, eu vou indo — a vizinha anunciou. — Boa sorte — murmurou ao passar por mim.

— Vamos entrando, Zoe — falei, mas a garotinha olhou para algo atrás de mim e perguntou:

— De quem é aquele carro? Cadê sua moto?

— Longa história.

— Ei, aquele é seu namorado? Você tem um namorado agora? — Então, para minha surpresa ela saiu correndo até o carro de Edward e eu paralisei por um segundo, sabendo que Joe estava sozinho na casa. Porém, precisava ir rebocar sua irmã, e fui atrás dela.

A garotinha já tinha chamado a atenção de Edward, que tinha abaixado a janela e respondia o questionamento da criança.

— Na verdade, sou noivo da Bella.

Zoe olhou para mim com olhos brilhantes e um grande sorriso.

— Bella, você vai casar! — Ela me abraçou e aproveitei para pegá-la no colo, assim evitaria que ela fugisse de mim novamente.

— Vou, e agora vamos entrar, mocinha.

— E o seu noivo?

— Ele vai ficar aí.

— No frio?

— Tá quente no carro.

— Não, manda ele entrar, Bella! — Teimou.

— Zoe, sua mãe e seu pai não iam querer um estranho na casa de vocês.

— Ele não é um estranho, é seu noivo. — A garota quis sair do meu colo e eu estava quase sem força de carregá-la por mais tempo, mas tinha medo de ela escapar no momento que a colocasse no chão.

— Zoe, preciso ir ver seu irmão, vamos entrar. — Andei em direção a casa e ela conseguiu, pulou do meu colo.

— Mas eu quero conhecer seu noivo.

— Eu entro por um minuto, ok? — Edward saiu do carro, percebendo que eu estava mesmo em apuros.

Eu cedi, Zoe ganhou.

— Vem, noivo da Bella! — chamou por ele e correu até sua casa, corri atrás o quanto deu nos saltos.

Para meu alívio, Joe estava na sala sentadinho como um anjo assistindo a um desenho.

— Oi, Bella. — Acenou. — Quem é você? — perguntou para Edward.

— O noivo da Bella — Zoe respondeu e se voltou para meu vizinho. — Qual seu nome?

— Edward.

— Vou te chamar de Ed — Zoe decidiu e ele fez uma careta.

— Ok, Edward já entrou e agora vocês o conhecem, hora dele ir.

— Ah não! — os gêmeos reclamaram juntos e eu quis chorar, os adorava, mas sabia que eles eram bem difíceis de lidar quando queriam.

Meu celular tocou e era a mãe deles, ligando para uma chamada de video.

— Olha, é a mãe de vocês — anunciei e atendi a ligação.

— Bella, oi, você já está com as crianças?

— Sim, acabei de chegar, senhora Grayson. — Virei a câmera e mostrei Joe e Zoe para ela, claro que a menina gritou para a mãe:

— O noivo da Bella também chegou!

— O quê? Quem? — a senhora Grayson não estava entendendo nada e eu voltei a câmera para mim.

— Oi, desculpa — falei. — Meu noivo veio me deixar, Zoe viu o carro dele e foi se apresentar, mas Edward já está indo, eu juro.

— Ah. — Vi a senhora Grayson relaxar um pouco. — Você tem um noivo, querida? Nem sabia que tinha um namorado, parabéns!

— Ela desencalhou, mamãe! — Zoe gritou, eu corei e Edward sufocou uma risada com uma falsa tosse.

— Como eu disse, Edward está indo — falei para a mãe das crianças antes que ela repreendesse a filha.

— Ele pode ficar se quiser — ela disse. — Você está toda arrumada, provavelmente tirei vocês dois de algum evento importante. Comprem comida e se alimentem um pouco, certo? Eu tenho que ir ver se meu marido saiu da sala de exames agora, qualquer coisa é só ligar.

Então, ela desligou. Zoe e Joe gritaram juntos:

— Pizza!

— Fuja — murmurei para Edward, mas ele não teve tempo. Duas pessoinhas o agarraram pelas mãos e o fizeram sentar e brincar com carrinhos.

Para mim, restou pedir a pizza.

X

Quando descobriram que Edward jogava futebol americano os gêmeos ficaram ainda mais animados, quiseram ir para o quintal jogar com ele, mas eu os convenci do contrário. Não queria ninguém mais machucado e a cada minuto Edward parecia mais cansado das crianças falando alto e o requisitando para brincadeiras.

— Vamos sentar, assistir a um filme e esperar a pizza chegar. — Sentei Joe e Zoe ao lado de Edward no sofá, o jogador me olhou com agradecimento, largando o boneco do Homem-Aranha que o fizeram brincar antes.

— Qual filme? — Joe quis saber.

— Procurando Nemo — respondi voltada para a tv, procurando pelo filme, atrás de mim ouvi Edward resmungando.

Achei o filme e dei o play, depois fui sentar do lado de Joe. Porém, o menino se levantou e apontou para o lugar que estava antes.

— Senta com seu noivo, Bella.

Eu ri um pouco, mudando de lugar para perto de Edward. E Joe quis sentar no chão, enquanto Zoe foi deitar no outro sofá.

Quando a pizza chegou Edward foi me ajudar a pegar pratos, copos e o suco que também pedi. Enquanto estávamos na cozinha recolhendo tudo, eu falei em um tom de desculpas.

— Foi mal, não queria te envolver nessa confusão. — Indiquei com a cabeça a sala.

— Tá tudo bem, mas eles são bem agitados, né? Se antes eu já não queria filhos, agora quero menos ainda — falou e me deixou sozinha na cozinha, indo na frente com os pratos e copos.

Aquela fala dele só me lembrou a outra que proferiu em meu quarto mais cedo aquele dia, e ali ficou bem claro. Edward Masen realmente não queria filhos, diferente de mim.

X

O pai das crianças iria sobreviver, era apenas uma perna quebrada e uns arranhões pelo corpo. A senhora Grayson me agradeceu um milhão de vezes e pagou direitinho o que tinha prometido, quis dar um bônus por Edward ter me ajudado, mas ele e eu recusamos e saímos da casa deles, deixando seus filhos finalmente dormindo em seu quarto depois de uma longa noite.

Eu fiquei quieta durante todo o caminho até nosso prédio, ainda absorvendo o que Edward tinha dito. Nada de filhos, nada dele ser pai. Era por conta do pai dele? Ele estava com medo? Ou ele só não gostava de crianças como um idiota? Quer dizer, ele não estava muito animado com Zoe e Joe, mas em momento algum os tratou mal, longe disso, até cedeu e leu uma historia quando os dois clamaram por aquilo.

— Por que você não quer ter filhos? — perguntei quando ele estacionou.

— Quê? — Ele tirou o cinto e me olhou sem entender.

— Por que você não quer ser pai, Edward? — continuei questionando. — Você tem medo de virar o seu próprio pai para seus filhos?

Eu sabia que tinha falado merda quando o rosto dele ficou vermelho, mas não de vergonha e sim de raiva.

— Desculpa…

— Eu não quero ter filhos e o motivo não é da sua conta, Isabella — pontuou e saiu do carro primeiro.

Também seguiu na frente até o prédio e não se importou em dar boa noite, ou qualquer coisa assim quando chegamos ao nosso andar. Entrou no seu apartamento, batendo a porta, e eu entrei no meu.

Tomei meu banho, coloquei meu pijama e me enfiei na cama com meu Kindle, lendo o livro que Edward estava lendo antes. Era sobre um bilionário e uma cantora, e apesar de parecer bom, a história não foi suficiente para eu parar de pensar sobre meu vizinho não querer ter filhos.

Eu não sabia o porque, mas estava verdadeiramente incomodada por aquela afirmação dele.

X

Não seria uma madrinha no casamento do primo de Edward, mas ainda assim eu estava no quartel general da noiva no grande dia. Quando Victoria disse que o casamento seria algo reservado estava mentindo, ela tinha 10 madrinhas e a cerimônia e festa aconteceria em um hotel caro em São Francisco, para cerca de 300 pessoas.

— Estou tão feliz em estar aqui com vocês duas — Victoria falou empolgada e colocou taças de champanhe na mão de Leah e na minha. A namorada de Tanya também estava se arrumando ali, numa imensa suíte do hotel, assim como Esme, a mãe de Victoria, as avós da noiva e a avó paterna de James. — Somos tipo as Cullen agregadas, é tão divertido. — Soltou uma risadinha e bebeu da sua taça.

Franzi o cenho e a corrigi:

— Edward é Masen.

— Mas é como se fosse um Cullen. — Victoria deu de ombros, mas eu sabia bem que Edward não se sentia assim.

— Vic, vem aqui! — Uma das madrinhas chamou por ela e a noiva se afastou até ela.

— Tudo bem? — Leah perguntou para mim.

— Sim, sim — confirmei, ela assentiu sem prolongar o papo e foi falar com Tanya, enquanto eu esperava minha vez para a maquiagem, já tinha meus cabelos prontos em um rabo de cavalo alto, com os fios bem ondulados e duas mechas soltas na frente.

Tirei meu celular do bolso do roupão, do hotel, e verifiquei se Edward tinha mandado mensagem, só que aquilo não aconteceu. Desde o que falei para ele em seu carro, no domingo anterior, o quarterback estava me evitando o máximo que podia.

Bom, ele ainda me dava carona para todos os lugares possíveis, mas eu achava que aquilo era mais para sustentar nossa imagem de noivos do que ele preocupado comigo como estava antes. Afinal, quando estávamos sozinhos no carro, ele não falava comigo além do necessário e toda vez que eu tentava me desculpar era ignorada.

Não ficávamos mais juntos desde então também, ele sequer procurou por mim antes de viajar para seu jogo daquela sexta-feira. Um jogo que o time perdeu, o que foi uma merda, e talvez dissesse que a superstição do beijo de boa sorte realmente precisava ser seguida.

Bella: Oi.

Não aguentei, mandando uma mensagem para ele. A culpa de ter o afastado pela besteira que falei estava me consumindo mais a cada dia, eu nunca deveria ter insinuado que Edward tinha medo de virar o pai escroto que possuía.

Emo: Oi.

Bella: A gente pode conversar antes disso tudo começar?

Mordi meu lábio inferior enquanto esperava a resposta dele, nós tinhamos uma suíte no hotel para passar a noite e poderíamos ir para lá por uns minutinhos.

Bella: Por favor.

Edward: Te vejo no quarto.

Bella: Certo!

Me livrei da taça de champanhe e escapuli do quartel general da noiva sem ser vista, peguei o elevador de roupão mesmo, estava com uma roupinha simples por baixo, e desci até o andar do meu quarto com Edward. Entrei com minha chave e logo o vi sentado na cama, com uma garrafinha de água em mãos.

Fiquei de frente para o jogador, minhas mãos se apertando de tão nervosa que estava.

— Valeu por ter vindo — agradeci e continuei falando quando ele permaneceu quieto. — Edward, sobre o que eu disse no domingo passado, eu realmente quero me desculpar, tá? Não tinha direito algum de te fazer aquela pergunta e vou entender se você voltar a me odiar como antes, mas queria realmente me desculpar, fui uma…

— Não odeio você — ele me interrompeu e se levantou. — E desculpa ter ficado afastado durante a semana, eu só… — Suspirou. — Tá tudo bem, ok? — Concordei com um aceno de cabeça. — Aliás, tenho que te dar algo. — Andou até sua mala que ainda não estava no closet e tirou de lá uma sacola preta a entregando para mim, abri e vi que eram mais dois rolos de filme para minha cama. — Você já acabou com os outros, então, divirta-se. — O sorriso dele se espelhou em meu rosto.

Fiquei na ponta dos pés e beijei seu rosto. Uma, duas, três, quatro, cinco vezes. Beijos barulhentos que o fizeram rir, até parar para me beijar nos lábios.

X

O meu vestido, apesar de ser do brechó e ter custado 50 dólares, era lindo. Azul claro, com mangas longas, ombro a ombro e um pequeno decote em v. Justo na cintura, com uma fenda abaixo do joelho esquerdo.

Reutilizei os saltos que Helen me deu para a festa do patrocínio, com bijuterias na mesma cor. A maquiagem era leve, mesmo que fosse um evento diurno que se estenderia pela noite.

Rodopiei em meu vestido, na volta do banheiro para retocar o batom, acabando minha perfomance sentada no colo de Edward. Sua mão direita repousou em minhas coxas e a esquerda me apoiou nas costas.

— Você já está bêbada — acusou, mas estava sorrindo.

— Estou animada, é diferente. — Me remexi em seu colo para alcançar um docinho que estava sobrando ali em nossa mesa e ele resmungou, apertando minha coxa.

— Bella, para com isso?

— O quê? — perguntei realmente confusa.

— Ficar se mexendo no meu colo.

— Meu Deus, só isso e você já está se excitando? — sussurrei e apertei sua bochecha, o fazendo revirar os olhos e me tirar do seu colo, me sentando na cadeira ao seu lado.

Gargalhei da cara dele e comi meu docinho, observando os noivos dançando na pista ao som de uma música lenta da Taylor Swift, aproveitando que o clima da festa ainda era romântico e não curtição com músicas de rebolar a bunda. A cerimônia tinha sido linda, os dois choraram e eu chorei, amava casamentos e me emocionei mesmo sem os conhecer tão bem.

Victoria estava belíssima, mas eu suspeitava de que mesmo se ela estivesse usando um saco de batatas James ainda a olharia como se a mulher fosse uma Deusa. Era tão lindo ver um casal apaixonado, o jeitinho que eles não desviavam o olhar e que James não conseguia tirar uma mão do rosto dela, enquanto cantarolava para a noiva a canção tocando.

— Ele já traiu ela — Edward falou e virei o pescoço tão rápido que poderia ter quebrado.

— O quê?

— Você aí olhando para eles como se fossem um casal intocável, eles não são. James traiu ela, Victoria perdoou e na semana seguinte o pedido de casamento aconteceu.

Eu estava em choque, não conseguia acreditar naquilo. Eles pareciam tão perfeitos juntos, mas tinham uma traição no passado? Ok, sabia que algumas pessoas conseguiam perdoar traições e seguir seus relacionamentos, mas eu não era uma dessas pessoas, traições eram imperdoáveis na minha concepção.

— E ele me incentivou a procurar a Kate e voltar com ela depois do que rolou — Edward completou. — Disse que poderia ser superado, que não era grande coisa.

— Seu primo é um idiota — falei entredentes. — E eu chorei vendo esse cara se declarar pra Victoria na cerimônia.

— Sei lá, talvez ele realmente ame ela e foi só um erro com a outra garota. — Edward os olhou por um instante.

— Victoria deveria era ter quebrado o nariz dele. Mais uma vez, obrigada por ter socado Mike por mim.

— Ao seu dispor, Ratinha. Ah, não, meu pai tá vindo para cá, vamos fugir. — Ele se levantou, esfregando uma mão em seu terno cinza escuro antes de esticá-la para mim.

Cruzamos o salão, escapando dos olhos de Eleazar. Nem sabíamos se ele realmente iria ao casamento, mas chegou no final da cerimônia e durante o jantar ficou falando que Edward e eu teríamos uma festa ainda maior do que aquela.

No bar daquela festa também não estavam servindo cerveja, sendo assim pedimos champanhe e tomamos em uma golada. Edward estava sugerindo ir até o bar do hotel comprar cerveja quando começou a tocar uma música que me fez soltar um gritinho:

— O que foi isso? — questionou assustado.

— Lady Gaga! — Mais um gritinho, era a canção Dream Dancing, que minha cantora favorita cantou com Tony Bennett em um dos projetos dos dois juntos. — Vamos dançar, Emo.

Eu o puxei em direção a pista de dança, mas ele era mais forte e me fez parar também quando parou.

— Isabella, eu não sei dançar.

— Também não sou a melhor dançarina do mundo, mas amo essa música. Por favor, por favor, por favor. — Sacudi a mão dele entre as minhas, Edward soltou um longo suspiro, mas concordou e andou comigo para a pista de dança.

Coloquei meus braços apoiados em seus ombros, enquanto ele segurava em minha cintura. Ele realmente não sabia dançar e eu não era uma boa professora de dança, isso nos fez ficar parados lá, balançando de um lado para o outro.

Em determinado momento ele me abraçou, ainda nos balançando e apoiou seu rosto na minha cabeça. Eu mexi nos cabelos em sua nuca, curtindo a música, curtindo o cheiro de Edward e seus braços me envolvendo.

E foi quando um pensamento intrusivo se fez presente: nós poderíamos dançar aquela canção em nosso casamento.

Eu parei de me mexer, Edward perguntou:

— Tudo bem?

Nós não iríamos casar, era um noivado falso e não nos gostávamos daquela forma, um pensamento como aquele não poderia surgir novamente em minha mente, era tão errado.

— Quero aquelas cervejas — foi o que respondi.

X

O quarterback estava completamente calado na manhã seguinte, enquanto eu terminava de arrumar minhas coisas para sairmos do hotel. Talvez estivesse cansado, já que mesmo depois da festa no dia anterior tinha acordado cedo naquela segunda-feira para ir à academia do hotel antes de irmos para Berkeley, ele me deixaria na universidade e depois seguiria para seu estágio.

— Tô terminando aqui — anunciei e ele não respondeu, continuou sentado na cama, encarando a porta e jogando seu celular de uma mão para a outra. — Edward, o que você tem? — perguntei, sem aguentar o jeito todo estranho que ele estava.

Seu olhar se encontrou com o meu e respondeu na maior cara de pau:

— Nada, estou ótimo.

— Edward…

— Na verdade, tô com dor de cabeça. Você pode dirigir até a universidade? Até lá já melhorei e dirijo para meu estágio.

— Certo.

Tudo bem, talvez fosse só aquilo mesmo, dor de cabeça. Terminei de arrumar minhas coisas e saimos.

Eu não era a maior fã de carros, mas dirigi sem reclamar. Nos primeiros dez minutos fiquei ali pensando na minha moto, que a polícia ainda não tinha encontrado e continuava sem grandes pistas e só parei de pensar naquele assunto quando Edward, que até então estava caladão de novo, questionou:

— Isabella, posso te contar uma coisa?

— Sim, claro!

— Eu não quero jogar futebol americano profissionalmente.

Só não bati aquele carro por algum milagre, já que aquilo que ele disse me pegou totalmente desprevenida. O carro atrás de mim buzinou, me cortou e passou na frente, enquanto eu voltava a dirigir o de Edward, com o coração quase na boca pelo susto.

— O que você disse, garoto? — indaguei quase gritando, sem acreditar no que ele estava falando. Lhe olhei e vi que ele estava de olhos fechados, cabeça apoiada no banco do passageiro, o rosto preso em uma expressão torturada.

— Eu amo futebol americano, adoro jogar, mas não quero continuar fazendo isso.

— Tá falando essas coisas porque a temporada não está indo tão bem? Sei que o último jogo você não jogou tão bem — sussurrei. — Mas você é ótimo, Masen!

— Eu joguei mal de próposito no último jogo.

— Você o que?

— Quis que o time perdesse e isso é tão escroto da minha parte. Que merda, com o desempenho ruim na partida posso afetar a vida de todo o time, da comissão técnica, do seu pai… Eu sei que foi errado fazer isso, mas queria perder porque tinham olheiros lá e não quero que eles me vejam jogando o melhor.

— Ok, eu preciso parar esse carro — anunciei, meio em choque, meio revoltada.

Na primeira lanchonete com estacionamento que avistei, parei o carro dele lá. Tirei o cinto e o cutuquei, mandando ele olhar para mim. Edward hesitou, mas abriu os olhos, tirou seu cinto e se moveu para me olhar.

Desespero tomava conta de seus olhos verdes.

— Por que você não quer jogar mais? Você ama futebol americano, não faz sentido.

— Eu amo, mas estou cansado. — Engoliu em seco. — Os treinos diários, as viagens, a pressão que todo mundo coloca em cima de mim. E me apaixonei por arquitetura. Escolhi o curso quando adolescente porque vi o trabalho da minha mãe com a ONG e achei que fosse ser legal aprender mais sobre as técnicas uma vez que teria que estudar algo de qualquer forma, eu já gostava de desenhar mesmo. Mas aí entrei na universidade e realmente gostei de tudo e quanto mais imagino um futuro na arquitetura, menos imagino um no futebol.

Eu fiquei calada por um tempo, e mesmo achando terrível a ideia de não vê-lo jogar mais, afinal era um jogador bom pra caramba. Consegui o entender, também amava meu curso e amava a ideia de ser professora, era isso que queria para meu futuro.

— Você vai sair do time? — perguntei baixinho.

— Não, eu não posso desfalcar o time agora.

— Mas você também não pode continuar os sabotando — o lembrei daquilo.

— Eu sei, por favor, não conta isso para ninguém — implorou, seus olhos estavam marejados e seu lábio inferior tremeu um pouco. — Vou jogar pra valer depois das férias de inverno, tentar levar o time à vitória, sou o capitão deles e merecem isso. E no final das contas, nem sei se vou ter mesmo coragem de jogar tudo pro alto agora e não continuar no futebol.

— Por conta do seu pai? — Adivinhei, sabendo como Eleazar queria ver o filho em um time profissional.

— Ele vai surtar.

— Problema do Elezar, Edward. É seu futuro, não o dele.

— Mas também não é só por ele — sussurrou, encarando suas mãos naquele instante. — Não posso decepcionar seu pai, ele perdeu os últimos anos me treinando, me incentivando, me preparando para o futuro no profissional. Charlie vai ficar tão decepcionado se eu não seguir o caminho que ele me ajuddou a trilhar, não posso fazer isso com ele, Bella.

— Claro que você pode.

— Eu não posso.

— Pode e vai. Que se dane o seu pai e o meu, eles tem a carreira deles e você vai perseguir a sua na arquitetura.

— Não sei se sou realmente bom na arquitetura, posso tá fazendo uma péssima escolha, vou foder com tudo. — Esfregou uma mão no seu rosto, eu me remexi no banco e segurei a face dele, o fazendo me olhar bem nos olhos.

— Promete que você vai perseguir os seus sonhos e se eles estão na arquitetura este é o caminho que deve seguir.

— Não sei…

— Você sabe! — exclamei, uma lágrima rolou pelo rosto dele. — Estádios ou um escritório?

— Um escritório? — respondeu incerto.

— Estádios ou um escritório? — insisti.

— Um escritório — daquela vez respondeu com certeza.

— Um escritório — fiz eco e beijei seu rosto, deixando meus lábios limparem o rastro da sua lágrima solitária.

Eu o soltei, Edward respirou fundo, mexendo em seus cabelos e olhando pela janela por um tempo, até pedir:

— Não conta pro seu pai, tá? Só vou falar depois que a temporada acabar.

— Ele vai entender — assegurei, mas Edward não parecia muito convencido disso.

Mexi na minha bolsa no banco de trás, peguei meu celular, desbloqueei e passei para Edward.

— Toma, esqueci meu Kindle em casa, mas entra aí no aplicativo e escolhe um livo de putaria que você gosta para ler e se distrair.

— Obrigado, livros de putaria são os melhores — declarou rindo e colocando seu cinto. — Mas vou reler Percy Jackson.

Sorri, coloquei meu cinto e voltei a dirigir. Ficamos em silêncio o resto da viagem e quando parei na frente do prédio da minha primeira aula do dia na universidade, ele parecia mais calmo.

— Você vai me buscar na lanchonete mais tarde, né? — Peguei novamente minha bolsa no banco de trás, tirando uma escova para pentear mais uma vez meus cabelos aquela manhã.

— Vou — respondeu, continuando a ler, aproveitando os últimos instantes da leitura.

— Janta lá, por minha conta. — Devolvi a escova para a bolsa e escutei meu celular vibrar, eu tinha esquecido de desativar a função depois que briguei com o aparelho quando ele despertou mais cedo aquele dia.

— Mensagem do Demetri — falou, rapidamente passando o celular para mim, escutar aquilo paralisou meu corpo inteiro. — Desculpa, a notificação apareceu, eu não quis ler. — Edward franziu o cenho.

Envolvi o celular em meus dedos tremulos e li a mensagem de Demetri.

Demetri: Pensando em você.

E sua mensagem era seguida de uma dezena de emojis de corações vermelhos.

— Quem é Demetri? — Edward perguntou, eu não consegui responder, continuava paralisada. — Bella?


Beijos!

Lola Royal.

05.08.23