"Eu tenho tantas coisas na cabeça, que atualmente eu me sinto perdida." - Resmungou a moça, apoiando sua cabeça sobre a mesa. - "Preocupações são como um labirinto, onde todas as paredes mudam continuamente." - Respondeu a idosa sábia. Pequenos coelhos de maçãs douradas eram feitos por suas mãos calejadas. - "Então como eu faço pra sair desse labirinto?" - Questionou mal humorada, pegando um dos pomos e ajudando a avó em seu labor. - "Huhuhu,bem,o primeiro passo é ver de um novo ângulo. "

(Cia H. Meu Dourado Amarelo Pecado)

Agosto de 1996,Coliseu do Santuário deAthena, Grécia.

Shina estava no coliseu observando o treinamento dos novos aprendizes que chegaram a pouco tempo no santuário.

Para falar a verdade ela não estava sequer prestando atenção aos jovens,perdida em pensamentos.

A guerra havia sido devastadora,no final dela,só restando alguns cavaleiros de bronze, prata,um aprendiz e nenhum cavaleiro de ouro,além de alguns servos que foram evacuados para não se envolverem no conflito.

Graças ao poderoso Cosmo de Athena, as casas zodiacais e o templo de Athena foram restaurados.

No entanto,das doze armaduras de ouro,cinco estavam desaparecidas,e as que restaram, apesar de terem retornado ao santuário, estavam em estado crítico.

Desde então, Kiki lutou para trazê-las de volta à vida, no entanto, segundo ele,faltava materiais essenciais para que isso fosse feito.

Foi melhor do que há dois séculos atrás,onde só restou dois sobreviventes segundo os registros históricos.

Athena assim que se recuperou, deu-lhes um resumo sobre o que aconteceu,mas faltando em partes,como se quisesse esconder algo,e para piorar suas aflições, Seiya estava preso há uma cadeira de rodas e não haviam notícias dos outros quatro cavaleiros de bronze,de nenhum deles.

Mas sentia que ainda não havia acabado, não haviam sinais de que Éris havia renascido,Ares ainda não fez um ataque,algo grande iria acontecer,sua intuição dizia.

- Você está se preocupando de novo Shina. - Percebeu o cavaleiro de unicórnio se aproximando.

Apesar de sua postura relaxada,era visível que ele estava preocupado com ela,ela ajeitou sua nova máscara no rosto.

- Você não devia estar patrulhando o lado sul Jabu? - Questionou fingindo mau humor ,mas obviamente o mais novo viu através dela.

- Intervalo,Ichi está no meu lugar,quer caminhar comigo? - Inquiriu encarando o metal frio, antes de dar as costas para a mais velha e começa a caminhar, sem esperar uma resposta da mesma.

- Espero que nenhum dos outros estejam vadiando por aí. - Ameaçou enquanto começava a andar,recebendo uma pequena risada do loiro.

Ignorando os inúmeros suspiros de alívio dos aprendizes que se sentiam sobre grande pressão.

Todos os jovens olharam para o unicórnio com brilho nos olhos, como se ele fosse algum tipo de celebridade.

- Tenho certeza que eles ainda têm algum amor à vida. - Riu o Japonês

Não era a primeira vez que ele resgatará os juniores do afiado olhar da serpente.

Nesse momento, ambos sentiram um cosmo familiar se aproximar do campo de flores onde se encontra Athena.

A jovem italiana sentiu seu peito apertar,seria este um sinal que confirmava suas preocupações?

- Ele voltou mais rápido do que pensei,Tatsumi vai ficar louco. -Comentou o unicórnio,que apesar do tom divertido,estava levemente chateado e até mesmo preocupado.

- Eu já desisti de tentar entendê-los. -Comentou a amazona, lembrando-se dos feitos considerados impossíveis de ser alcançados,mas que eles,com suas próprias mãos transformaram em milagres.

- Mas sabe,eu até entendo eles um pouco,afinal,eu não sou muito diferente deles, claro,tirando o fato da experiência em combate. - Riu amargamente, lembrando-se das batalhas passadas.

- O que quer dizer? -Inquiriu a esverdeada curiosa.

- Todos nós fomos obrigados a passar por um treinamento que não deveria ser dado a uma criança, para logo depois sermos enviados para um lugar distante para treinar e nos tornar cavaleiros,para mais tarde descobrir que o bastardo que nos meteu nisso, era o nosso pai biológico,então, já que a única vida que conhecemos é essa,lutar por ela não é o mínimo que merecemos?

- Suspirou cansado.

Mesmo depois de cinco anos, este ainda era um assunto repugnante e desagradável.

No entanto,apesar disso, seu rosto demonstrava tranquilidade e até certo alívio,como uma pessoa que já havia se agonizado e remoído com o passado e suas falhas,para então finalmente encontrar a resposta que sempre esteve diante de si.

Ela conhecia essa sensação,não é conformismo ou aceitação,mas apenas observar tudo de um novo ângulo,sem a lente da ignorância que optamos por usar, e descartar tudo o que nela se encaixa.

A amazona sem dúvida estava um pouco surpresa, já havia ouvido alguns rumores sobre o assunto,mas nada conciso,e pelo que ouviu, era horrível.

No entanto, ouvir isso em primeira mão de um dos envolvidos era pior.

Nunca pensou que ouviria um desabafo do loiro,que sempre se fez arrogante.

Seu estômago embrulhou de repulsa ao pensar que suas histórias não eram assim tão diferentes.

- Não vou dizer que entendo Jabu, seus sentimentos são apenas seus e talvez nem mesmo você vai entendê-los, no entanto,se servir de consolo,ao longo da história, muitos tiveram histórias semelhantes. - Comentou a jovem.

Consolar alguém não era o seu estilo, e infelizmente o que disse era a mais dura verdade.

Para todos aqueles que tinham em seu destino,se tornar guerreiros de Athena,sempre houve um passado de dor,abuso,abandono e morte,como se as próprias estrelas que os regiam quisessem o seu sofrimento,para provar que eram merecedores delas,ela sabia disso na pele.

Talvez por isso que ela sentia uma sensação de simpatia e solidariedade para com o menor.

- Eu compreendo. - Respondeu o rapaz sem emoção.

Nesse momento sentiu o cosmo de Athena e Shun se dirigirem para Star Hill.

- Se disser algo sobre isso eu negarei até a morte. - Brincou o loiro, aliviando o clima.

Ela sorriu levemente por baixo da máscara, ele ainda era o Jabu afinal.

Nesse momento,eles pararam no cemitério devastado,que estava começando a brotar algumas plantas selvagens,teriam que cuidar disso em algum momento,era um desrespeito para os antigos cavaleiros,não mais que queimar tudo e claro.

- Fique tranquilo,estes lábios estão selados. - Jurou chistosa.

Dito isso,sentiu o cosmo de Athena desaparecer,como se não estivesse mais nesse plano.

- Falando nisso,faz um tempo que eu queria te perguntar,por que você ainda usa máscara?Não é como se já não tivéssemos visto o seu rosto,que é muito bonito aliás. - Ela franziu a testa por baixo da máscara.

Internamente estava surpresa que ele havia demorado tanto para questioná-la.

Para seu alívio,isso foi deixado para segundo plano quando ouviu uma voz se comunicando através do cosmo.

"Todos os residentes, reúnam-se na frente do Zodíaco."

- Isso foi...- Comentou o loiro, demonstrando que também havia recebido a mensagem.

- A Grande Mestra,vamos. - Chamou a amazona, correndo em direção ao Zodíaco.

- No fim,suas preocupações não eram infundadas. - Lembrou o unicórnio correndo ao lado dela.

- Infelizmente sim. - Murmurou inquieta.

Sua intuição lhe gritava que este era apenas o começo

...

Uma vez mais havia bifurcações pelo caminho,provando-se ser um imenso labirinto sem fim,que distorcia a noção de espaço-tempo.

Poderiam passar minutos e acreditariam que eram horas e vice-versa,além da sensação de estar andando em círculos,o que só dificultava a jornada e aos poucos consumia sua paciência.

- Senhora Athena, novamente o caminho se divide,mas...

- Parece que nos perdemos Shun. - Declarou a grega ansiosa.

Ouvir Isso o preocupou enormemente,porém, foi deixada para segundo plano quando sentiu uma presença bem próxima a eles.

- Aonde pensam que vão? - Questionou uma voz tenebrosa.

Acima deles,sentada sob o obelisco da lua, estava sentada uma senhora de aparência lúgubre,envolta de uma capa que parecia ser feita de um pedaço da noite mais escura,portando em sua mão direita um cajado de madeira.

Ela lhe passava uma sensação nostálgica,como uma pessoa não vista há muito tempo,tempo demais para um mortal.

"Vós conhecestes, mas não de agora."- Apontou a incomoda voz.

"Não fale comigo." - Cortou o cavaleiro indiferente.

- Quem é você? - Inquiriu sua deusa, tirando-o do transe em que estava.

- Eu sou Hécate,deusa da magia e bruxa da lua,esse não é um lugar permitido a humanos,retornem imediatamente. - O cosmo que ela emanava,apesar de tranquilo,era sombrio,assim como os espectros e o próprio Hades.

- Não podemos,temos que chegar ao Templo da Lua o mais breve possível.

- E o que meros mortais como vocês, planejam fazer nesse templo?

- Encontrar-nos com minha irmã.

- Irmã?

- Eu sou Athena,deusa da sabedoria e da guerra,e irmã mais nova da deusa Árthemis. Hécate,diga-nos por favor,que caminho devemos tomar.

- Então tu és Athena? Eu eu vejo,com uma beleza que se compara a Aphrodite e a própria imperatriz dos deuses, tinhas que ser Athena,e tu,meu senhor,suponho que sejas o cavaleiro de Andrômeda. - Nesse momento,ele sentia vontade de perguntar como ela o conhecia,mas desistiu quando viu o olhar conhecedor e o sorriso travesso de quem esconde um segredo.

- Lhes mostrarei como chegar,mas o que me darão em troca? - Essa era uma pergunta justa.

Pelo que ele tinha aprendido,a maioria dos deuses não faziam nada sem receber algo em troca.

- Eu sinto muito,não possuímos nada de valor conosco. - Respondeu sua deusa,lamentando por sua falta de preparo.

Isso o lembrou do barqueiro do submundo, que lhes propôs algo semelhante.

Sentindo o metal frio por baixo da armadura contra seu peito,ele se lembra que ainda tem o medalhão de Hades.

Considerou entregá-lo para o benefício de sua missão,surpreendendo-se que só a ideia de ficar sem ele causava certo desconforto a si.

Felizmente conseguiu desistir desta ideia que estava se formando com a resposta da bruxa.

- Não preciso de objetos metálicos,em seu lugar...- Pode sentir que ela olhava para ele,porém isso foi esquecido quando ela sacou um sabre prateado de suas vestes negras.

Rapidamente ele se interpõe entre sua senhora e a bruxa preparado para defendê-la diante da ameaça de perigo.

- O que pretendes fazer? - Perguntou desconfiado.

Nunca perdendo a atenção aos seus arredores,nunca mais baixaria a guarda em território possivelmente inimigo ou prejudicial a sua deusa.

- Acalme-se meu senhor,tudo o que desejo é o belo cabelo de sua deusa.

- Seu cabelo? - Questionou desnorteado.

- Sim,o cabelo de Athena é especial,mesmo entre os deuses,se preparados em uma poção estenderá a vida de um mortal por cem anos,com ele até mesmo eu sou capaz de recobrar a minha juventude eterna a qual fui obrigada a desistir.

- Isso é absurdo e sem fundamentos,achas que alguém acreditaria em algo tão tolo?

- Não me importas se acredita em mim ou não meu senhor, sois vós quem vagaram por esses caminhos que se assemelham a uma intrincada teia de aranha por toda a eternidade.

- Compreendo. - Respondeu a grega.

Passando pelo rapaz e dirigindo-se a bruxa enquanto retirava seu elmo. Pegando o sabre estendido em sua direção.

- Espere senhora Athena,podemos encontrar outra forma.

- Não se preocupe Shun, somente trata-se de cabelo, e se com isso, eu terei uma chance de salvar Seiya,então eu posso dá-lo de bom grado.

- Saori-san. - Não pôde fazer nada enquanto assistia consternado a deusa cortar seus longos cabelos um pouco acima dos ombros.

- Aqui,pegue. - Insistiu a jovem nipônica, gentilmente entregando as madeixas arroxeadas para a bruxa, que parecia chocada por ela abrir mão de algo tão valioso facilmente.

- O-obrigada. - O bronzeado,sentindo-se incomodado, resolveu terminar rapidamente com essa barganha que estava durando muito.

Eles haviam perdido muito tempo,e por algum motivo,este lugar lhe causava desgosto.

- Então diga-nos qual caminho leva ao templo. - Perguntou mais áspero do que pretendia.

- Sigam a direita,logo estarão lá. - Respondeu,logo desaparecendo no ar como bruma.

- O que? - Perguntou a deusa confusa.

- Espere!Ela nos enganou!Pegou o que queria e fugiu.

Exclamou indignado,estava prestes a enviar suas correntes atrás dela e pegar as mechas de volta, quando a voz de sua deusa o impediu.

- Shun espere,olhe ali. - Confuso, ele seguiu o olhar da deusa.

Onde ela apontou,havia um enorme templo,rodeado de templos menores,formando uma cidadela,sob uma cadeia montanhas e desfiladeiros, com a lua brilhando majestosamente atrás de si.

Era óbvio que aquele era o lugar ao qual procuravam. O Tempo da Lua.

- Era um único caminho desde o início. - Murmurou a deusa.

- Que covarde,nos enganar com uma ilusão. - Bufou em desgosto.

- Por favor,não fique chateado,na verdade,há tempos que eu desejo ter cabelos mais curtos,é muito mais prático. - Pediu a deusa gentilmente, recebendo uma careta do outro.

- Senhora Athena.

- Eu não me importo com isso,temos coisas mais importantes agora,vamos Shun,o templo da lua já está próximo.