UM CAMINHO PARA DOIS
CAPÍTULO 3
Eleições a caminho
Dia radiante na Universidade de Tokyo. Sem neve há mais de uma semana, o sol brilhava timidamente entre as nuvens e os pássaros cantavam ao redor de quatro estudantes do curso de Direito que estavam reunidos em uma das áreas verdes do campus, muito embora tenham fugido e voado para outros cantos em disparada ao escutar o grito estridente de "o quê" de uma garota do grupo.
Rin estava em estado de choque. Ela olhava para Sesshoumaru como se fosse um grande demônio do Japão Feudal que não gostasse de humanos. Já o rapaz piscava tranquilamente e demonstrava a habitual calma, enquanto Sango e Miroku tinham as mãos tapando os ouvidos
-Você vai trabalhar comigo nas eleições. – Sesshoumaru repetiu com as mãos nos bolsos de um casaco mais leve. Não sabia se nevaria naquele dia. Era melhor ir prevenido.
-Que horror! E por que eu? Tinha tanta gente... Sango-chan, Miroku-sama, por exemplo. – ela lamentou com um suspiro pesado.
Sesshoumaru olhou para o casal e viu que estes tremeram ao receber sob o olhar dele.
-É verdade. Podiam ser vocês também. – estava impassível ao falar, mesmo quando estreitava os olhos, uma sombra maligna passando pelas feições - Vocês gostariam de trabalhar comigo nas eleições?
-N-Não. – o rosto de Sango estava praticamente azul.
-Esse negócio de trabalhar no poder não é conosco. –Miroku deu a opinião, erguendo as mãos em desistência – Ainda mais se for de graça.
-Ficaremos só torcendo por vocês, 'tá? –falou Sango com um sorriso sem graça.
-Banzai! Banzai! – Miroku erguia os braços e a garota ao lado dele jogava confetes no ar.
-TRAIDORES! – Rin rosnou aos dois.
-Nozomu... – Sesshoumaru recomeçou – Eu tenho certeza que você sabe sobre a importância de competirmos nisso e estar entre as lideranças nesta Universidade. Você se mostrou bastante competente desde que chegou aqui há algumas semanas.
Paciência, Sesshoumaru repetiu o mantra. Paciência.
-Você nem ficaria trabalhando direto comigo. Outras pessoas estariam envolvidas. Por que não tenta? Seria uma oportunidade para ficar mais conhecida também.
Rin franziu a testa:
-E quando seria essa reunião?
-Hoje. Já reservei o seu lugar. – ele tirou o celular do bolso e digitou alguma coisa – Você sentará ao meu lado só para eu garantir que não saia correndo na primeira oportunidade.
Os três arregalaram os olhos. Ele parecia estar sempre um passo à frente.
-E que horas seria isso? – ela ainda parecia desconfiada.
-Às dezesseis. – internamente Sesshoumaru se sentia um vencedor.
Até ouvir a frase seguinte.
-Eu não poderei participar. Vou procurar outro lugar para morar.
Sango, Miroku e Sesshoumaru fixaram o olhar nela.
Por um momento, o rapaz observou a postura dela. Rin parecia dizer a verdade, não simplesmente inventando uma desculpa para não estar com ele.
-Ué, mas o que houve com aquele apartamento? – Sango perguntou para a amiga – Achei que estivesse bem lá.
-Eu tive uns probleminhas com ele. – a outra balançou as mãos como se quisesse fazer a outra mudar de assunto – Ele não é tão bom mesmo e estou procurando outro lugar. Vou fazer visitar alguns hoje.
-Quer que a gente vá com você? – perguntou Miroku.
-Não precisa. – Rin assegurou com um sorriso.
-E amanhã? Vai procurar algum amanhã? – Sesshoumaru quis saber.
Rin tinha o indicador tocando de leve o queixo, pensativa.
-Não tenho nada marcado ainda. – ela confirmou.
-Excelente. Você vai então à reunião geral dos grupos candidatos. Ficará ao meu lado, claro. Até amanhã, Nozomu. – e ele foi embora com uma mão erguida para o alto e acenando para o grupo.
A garota ficou petrificada. Os olhos viraram duas listas verticais.
O vento frio circulou entre eles levantando folhas.
-O que aconteceu? – Rin parecia pasma – Ele me colocou no grupo mesmo?
-Parece que foi exatamente isso que aconteceu. – Miroku falou e Sango apenas confirmou com a cabeça, braços cruzados.
-O QUÊÊÊÊ?
No dia seguinte
Rin andava pelos corredores da faculdade de Direito procurando uma sala de reuniões em específico.
Olhou para um lado. Outro para o outro.
-Bem, lá se vai a pontualidade... – ela lamentou com a testa franzida. No dia anterior Sesshoumaru havia explicado em detalhes e assegurou que não havia como alguém se perder, e lá estava ela... perdida e com um atraso de cinco minutos.
-Você está atrasada. – a voz de Sesshoumaru soou atrás dela e novamente ela conteve uma exclamação de susto.
-Não faça isso com uma mulher. – ela tinha a mão no coração tentando controlar as batidas, os olhos arregalados.
-Fazer o quê? – ele franziu a testa.
-Chegar de fininho e assustá-la como você acabou de fazer comigo... de novo. – ela deu um suspiro e recobrou a postura – Desculpe o atraso, eu estou perdida.
Sesshoumaru a encarou por alguns segundos. Por que ela parecia se assustar com qualquer coisa?
Decidiu ignorar o assunto e estendeu a mão educadamente para guiá-la até uma sala.
-Vamos. Nesta direção.
Novamente ela estava ao lado dele caminhando e ele, instintivamente, quase colocou a mão no fim das costas dela. Recolheu antes de fazer contato.
-Como foi a procura por lugar para morar ontem? – ele tentou fazer uma rápida conversa – Encontrou alguma coisa?
-Infelizmente não. – ela tinha uma expressão cansada – Mas depois da reunião vou procurar de novo.
-Eu soube que por aqui perto é complicado encontrar algo desocupado. Geralmente quando alguém se muda outra pessoa já está na porta esperando a chave.
-Foi exatamente isso o que aconteceu comigo ontem. Fiquei bem chateada. – ela deu um suspiro – Mas parte disso foi culpa minha mesmo, eu não estava com um celular pra me avisarem.
-O que aconteceu com o seu?
-Eu perdi. – ela deu de ombros.
Entraram no auditório circular escolhido para a reunião e procuraram um lugar para sentar.
Ao se acomodarem, um ao lado do outro, Rin se virou para ele meio sem jeito.
-Sesshoumaru, eu realmente não posso ficar no seu grupo. – ela tentou ser o mais educada possível – Estou agora preocupada com esse problema do apartamento... Acho que não serei de muita ajuda.
-Você acha? – Sesshoumaru franziu a testa – Eu não acho que seja um problema. Não é por causa de outro motivo?
-"Outro motivo"? – ela não entendeu.
-Você não se dando bem comigo.
-Er... – ela deu um sorriso sem graça.
-Se ficar para essa reunião, pode ser que...
Não terminou a frase. Alguém aproximou-se por trás da dupla.
-Ora, ora... olhem só quem está aqui.
Sesshoumaru e Rin viraram lentamente o rosto e viram um rapaz em pé e de braços cruzados. Era Ookami Kouga, como sempre com o porte altivo, olhos azuis, cabelo negro preso num rabo de cabelo. Era conhecido de Sesshoumaru, mas Rin nunca o tinha visto nem pelos corredores.
-O grupo de vocês também está concorrendo, Ookami? –Sesshoumaru perguntou num tom educado.
-Estamos sim, e desta vez vamos...
Parou de falar. Ele olhava fixamente Rin de uma forma muito curiosa.
Fez um ar de cavalheiro e pegou uma das mãos dela para beijar. Foi tão rápido que Rin não teve reação a não ser abrir a boca em protesto.
–Ora, ora... E quem é essa adorável menininha aqui?
Ah, não.
Sesshoumaru olhou para a garota vermelha de raiva. Lá ia embora todo o cuidado que ele deu ao evitar tratá-la daquela forma nas últimas horas.
E ele precisava corrigir aquilo já.
-Ela é... É Nozomu Rin, uma aluna nova na faculdade.
-Já na faculdade, tão novinha assim? É do primeiro ano? – ele parecia impressionado
A cor no rosto de Rin mudou novamente e Sesshoumaru, muito intimamente, se divertia com a cena. Era uma questão de minutos para ver a reação dela.
-Ela é da minha sala e faz parte da minha equipe. Nozomu, este aqui é...
-Do quinto ano? – Kouga exclamou, soltando a mão de Rin – E ela é da sua equipe?
Rin contou mentalmente até dez para não estrangular Kouga, rilhando os dentes de forma discreta. Sesshoumaru ainda aguardava pelo ataque. Não ser mais o alvo do ranger de dentes dela era... estranho, também.
-Algum problema? – ela perguntou encontrando o olhar dele.
-Não, não há problema algum. Mas é uma pena que faça parte da equipe dele... Podia se juntar a nós e ser nossa mascote, o que acha? – Kouga falou, colocando uma das mãos sobre o ombro de Rin.
-Tire a sua mão do meu ombro. – ela falou repentina e friamente. Até a voz estava diferente.
Kouga deu um sorriso e afastou-se um pouco dela, tirando a mão do local como ela havia solicitado.
-Você fica lindinha quando está brava. – ele ousou segurar o queixo dela, o que rapidamente a fez reagir e se afastar do toque.
-Qual é o seu problema? – ela deu um tapa na mão dele para se proteger e o barulho atraiu a atenção de outras pessoas – Você precisa me tocar pra conversar comigo?
Kouga estreitou de leve os olhos e franziu a testa.
Quem era aquela garota novata e por que ela achava que podia falar naquele tom com ele?
-É uma pena que queira ficar com eles... Está perdendo uma oportunidade e tanto, já que vamos ganhar e... E você poderia andar sempre ao meu lado, com esse seu lindo chapeuzinho.
-É uma pena que você não vai ganhar e poderei passar ao seu lado com o meu chapeuzinho. – ela ironizou.
Kouga estreitou os olhos e Rin fez o mesmo. Os dois pareciam estar declarando guerra um ao outro.
-Está me dizendo que não tenho chances nessas eleições? –Kouga perguntou, já não se mostrando tão gentil quanto antes.
-Puxa... Até que você é bem inteligente: conseguiu perceber a verdade antes mesmo que eu dissesse. – ela respondeu num tom felino.
Kouga riu alto e falou:
-E você pretende dirigir nosso Centro como se fosse uma creche, é isso?
-O que foi que você disse?– Rin se levantou e o rapaz ao lado dela também.
Sesshoumaru precisou segurá-la por um braço quando ela deu um passo a mais na direção de Kouga. Seria péssimo se ela já arrumasse confusão com outro grupo diante dos outros. Será que não pensava nisso?
-Não ligue para ele. É só provocação. – falou no tom mais sério que tinha.
Rin virou o rosto e lançou um olhar estreitado para ele.
-Que direito você tem em dizer isso? – ela murmurou incrédula.
Kouga deu outra risada e, aproveitando que a garota era contida por Sesshoumaru, provocou-lhe outra vez, pegando no rosto dela pelo queixo e fazendo-a encará-lo.
Imediatamente a mão de Sesshoumaru segurou o pulso do outro rapaz e desfez o contato.
Ficaram os três se encarando. Sesshoumaru tinha as mãos ocupadas – uma segurando Rin, outra impedindo Kouga de tocá-la.
-Acredito que ela já tenha deixado claro que você não deve tocá-la. – ele falou suavemente, mas quem ouvia sabia que havia uma ameaça ali.
Kouga zombou para ele e depois dirigiu o olhar para a garota.
-Vou adorar ver esse rostinho com uma expressão decepcionada no dia do resultado das eleições. – ele soltou a mão presa e aproximou o rosto de Rin – Até mais, Nozomu-chan.
Depois ele afastou-se dos dois dando uma gargalhada que ecoou por certo tempo. Assim que viu que uma boa distância já os separava, Sesshoumaru soltou o braço de Rin.
-Desculpe por isso, mas... Eu precisava conter você. Está mais calma? – perguntou, passando a mão no cabelo – Eu acho que não apertei muito seu braço, apertei?
A garota ainda mantinha uma expressão assassina, mas não era dirigida ao rapaz que a segurou, e sim para o mais novo inimigo de Rin.
-Coisíssima alguma! – ela respondeu, o olhar seguindo o rumo que o outro havia tomado.
–Nozomu, se quiser, pode ir embora. Foi mesmo um erro ter colocado você sem consultá-la. Quer que eu leve você para casa depois?
-"Ir embora"? – ela repetiu numa descrença muito óbvia ao interrompê-lo – Mas a reunião não vai começar agora?
Sesshoumaru arqueou uma sobrancelha.
-Muito bem! –ela fechou uma das mãos e socou a outra, num gesto de quem comprava briga – Nossa equipe já está pronta?
-"Nossa"? Mas você não disse que...
-Qual é o seu problema para ficar repetindo as coisas que eu falo, hein? Vamos logo! – ela o pegou pela mão e o arrastou a uma das cadeiras, onde o fez se sentar antes de tomar o mesmo lugar ao lado dele – Temos que ler juntos as propostas dele e reformular as nossas.
-"Temos"?
-Olha, se fizer mais uma pergunta desse tipo... – parou de falar ao ver um arquear de sobrancelha e um sorriso torto no rosto do rapaz – O que foi agora?
-Nada.- ele respondeu, virando o rosto para olhar o palco.
-Ah, esse Kouga... – Rin falava fazendo outro gesto de quem chamava para brigar – Vou ensinar esse cara a rir no dia das eleições, mas de um modo bem diferente! Ele vai ver!
Um dia depois:
Sesshoumaru achava que aquele encontro de Rin com um novo inimigo tinha sido ruim. Muito ruim. Péssimo, na verdade.
Estava em uma das áreas de descanso da Toudai, o rapaz estava sentado em um banco de uma pequena praça. Aproveitou que ainda era inverno e quase ninguém estava no espaço para poder refletir sobre o que havia acontecido enquanto observava as pessoas que passavam.
-Faz tempo que não te vejo tão pensativo... - uma voz feminina falou perto dele. Ele virou o rosto e piscou em evidente surpresa.
A garota, de cabelos negros, extremamente magra e com um sorriso muito largo, usando um enorme vestido que cobria quase totalmente as pernas, estava bem atrás dele. Tinha as mãos no encosto do banco e uma pose silenciosa que pedia para sentar ao lado dele.
-Ah… Kagura. – ele murmurou o nome dela ainda piscando. Parecia se perguntar como ela o encontrara ali.
-Que bom que lembra do meu nome... Achei que tivesse esquecido. – ela tomou a liberdade de tomar o lugar ao lado dele – Tudo bem?
-Sim. – ele parecia confuso. Será que havia alguma coisa errada no rosto dele para as pessoas pensarem que ele não estava bem? – Sabe que não faço esse tipo de coisa.
-"Tipo"? – ela repetiu com as sobrancelhas arqueadas.
-Esquecer as pessoas. – ele falou num tom sério. Estava ainda observando o movimento na área de passeio.
-Não te vejo desde o outono. – ela franziu a testa – Nem pra tomar aquele café horrível do karaokê aqui de perto.
-O café de lá é ruim? – ele também franziu a testa.
-Você não pediu um quando foi lá há algumas semanas com a sua nova turma? – ela o cutucou com o cotovelo.
Ah, então era aquilo.
Evitou entrar em maiores detalhes porque provavelmente ela já tinha conversado com Houshi Miroku, se é que os dois ainda eram do mesmo círculo de amigos. Ela sorria como se soubesse de algum segredo muito secreto, mas que quisesse logo contar para ele.
-E como você está? – ele perguntou por educação.
-Eu vou bem. – ela deu uma pausa e depois suspirou – Indo e vindo com Bankotsu ainda.
Ah, não. Ela ia realmente falar do relacionamento dela? Sesshoumaru até fechou os olhos e orou para alguma divindade que sequer sabia o nome para que a conversa acabasse por ali. Ele não tinha o menor interesse em saber aquelas coisas. Ele só queria um pouco de sossego para refletir sobre o que havia acontecido na reunião e como poderia reverter a crise.
-Mas eu fiquei feliz de ver que está bem, tão bem a ponto de participar das eleições. – ela continuou para a sorte dele.
-Por que fala isso?- ele perguntou, olhando para algum ponto interessante no horizonte.
-Eu me pergunto se você já resolveu todos aqueles problemas... - ela começou. Sesshoumaru não a encarou e ela também passou a observar as pessoas – Problemas com aquela pessoa.
Sesshoumaru permanecia calado e Kagura se espreguiçou. Significava que ele não havia resolvido ou não queria falar.
-Ah...- ela falou, depois de alguns minutos em silêncio - Eu soube também que tem uma garota que anda pelos corredores atraindo muitos olhares.
Silêncio.
-... e que algumas pessoas... – ela continuou.
Mais silêncio.
-... gostam de andar e dar atenção a um garota que anda na moda e que tem sotaque estranho.
Momento de quebrar o silêncio.
-Você andou conversando com Houshi, não?
-Ah, sim... Eu acho que ele comentou algumas coisas... - ela tentou reprimir um sorriso – Maaaaas eu ando na verdade acompanhando o canal de notícias do curso.
Canal de notícias?, ele se perguntou e arqueou uma sobrancelha.
-Você está gostando dela?- ela perguntou de repente numa voz suave e escondendo o olhar sob o cabelo.
-"Gostando dela"... – ele experimentou a frase na ponta da língua e tinha uma expressão mais séria – Eu só a conheço há algumas semanas, Kagura. Nosso relacionamento é apenas acadêmico e definitivamente nada romântico.
-Hmmmm... – ela soltou a interjeição com uma melodia.
De repente, ele tinha um meio sorriso torto e olhava algum ponto no horizonte. Virou o rosto na mesma direção e percebeu uma figura feminina se aproximar, usando uma chapeuzinho francês e um casaco preto com enormes botões azuis.
"Será que você ainda não percebeu, Sesshoumaru?", ela pensou, preocupada.
-É ela? – perguntou e Sesshoumaru pareceu não escutar, pois não tirava os olhos da garota que se aproximou quase saltitando.
-Oi! - Rin saudou alegremente, escondendo as mãos às costas enquanto se curvava – Estou atrapalhando?
-De modo algum. - Kagura respondeu com um sorriso - Você deve ser Nozomu, não?
-Pode me chamar de Rin.- ela respondeu com um sorriso – Atualmente, só os mais velhos me chamam assim.
Os olhos dela estreitaram ao notar que o rapaz parecia estar formulando alguma piada para usar contra ela.
-Por que você tá com esse sorriso à la Miroku-sama, hein?
Outra pergunta veio por parte dele um segundo depois:
-Você pretende fazer parte da Yakuza se vestindo desse jeito?
Kagura arregalou os olhos ao ver a garota ficar vermelha e fechar os punhos com raiva. Parecia muito irritada com um comentário extremamente bobo.
-Eu não acredito que você não perde uma única chance de me provocar... - ela falou entre os dentes.
-Eu não tenho culpa se a yakuza está em toda parte.
-Sinto muito por ver isso. – Rin virou-se para a outra garota – Mas ele sempre quer me irritar falando essas coisas.
-Ah, não se preocupe, eu já fui namorada dele. – Kagura falou calmamente.
Rin arregalou enormemente os olhos e sentiu o rosto ficar vermelho. Namorados... Então ele teve uma namorada, um relacionamento? Ele chegou a ser relacionar com uma pessoa de verdade?
Notando o espanto de Rin, Kagura completou rapidamente:
-Quando éramos crianças.
Nisso, Rin caiu de lado.
-Mentirinha, foi nos primeiros anos da faculdade. – Kagura colocou uma mão em frente à boca para disfarçar o riso.
-Veio falar comigo?- Sesshoumaru perguntou, tentando mudar de assunto ao ver Rin recuperar a postura. Ela trocou olhares com ele aliviada, pois não teria que continuar pensando naqueles absurdos.
-Não, só estava passando por aqui quando vi você no banco. – ela deu um sorriso – Eu estava coletando informações sobre o nosso inimigo.
-"Inimigo"? – Kagura piscou – Está falando de Kouga?
Rin e Sesshoumaru trocaram olhares e depois examinaram o rosto de Kagura de perto.
-Como você sabe dele? – Rin perguntou.
-Alguém contou? – foi a questão de Sesshoumaru.
-Eu soube pelo canal de notícias do curso de Direito sobre o que aconteceu na reunião, se é isso o que vocês estão pensando.
Os dois colegas voltaram a trocar olhares.
-Eu não acredito que vocês não conhecem. – ela tirou o celular do bolso. Desbloqueou a tela, procurou um aplicativo de mensagens muito popular no Japão e finalmente entregou a Rin.
A garota leu com os olhos extremamente arregalados.
-"Gossip Cop"? – ela perguntou incrédula.
Sesshoumaru também se levantou para olhar.
Havia fotos de Rin andando pela área de lazer da universidade durante os dias frios. De Sesshoumaru andando pelos corredores. De Rin e Sesshoumaru indo para a sala de reuniões. De Rin e Kouga discutindo. De Sesshoumaru, Rin e Kouga durante a reunião.
Comentários. Vários deles de praticamente todos os estudantes. Falavam de Rin. De Sesshoumaru. De Kouga. Da roupa dela, da forma como Kouga olhava interessado para a garota.
Novamente ela e o colega de curso trocaram olhares.
-É por isso que eu não me apego a celular. – ela falou com um estremecimento, devolvendo o celular.
-Tome cuidado com Kouga. – Kagura avisou – Ele sempre dá um jeito de conseguir tudo o que quer. Por bem ou por mal.
-Ele não vai fazer nada contra mim. – Rin afirmou no tom mais sério que tinha – Ele não é maluco.
-Hmmm... - Kagura novamente transformou a interjeição em uma melodia.
-Ela está com mais raiva dele porque ele a confundiu com uma aluna do primeiro ano e fez outros comentários que... - Sesshoumaru começou a explicar.
Rin arregalou novamente os olhos e começou, meio atrapalhada, a balançar os braços exageradamente a ponto de tentar calar Sesshoumaru com as duas mãos para impedir que ele continuasse falando sobre o lamentável primeiro encontro entre ela e Kouga.
-Não, não conte, por favor... – a garota implorava num choramingo.
Sesshoumaru tentou tirar a mão dela e ela também fez um esforço para contê-lo, sem muito sucesso.
-Ah... – Kagura tinha uma enorme gota no rosto - Tem certeza que não precisa de ajuda, Sesshoumaru?
O rapaz se limitou a olhar pelo canto dos olhos.
-Você só sabe me matar de vergonha... - Rin falava numa voz chorosa – O Kouga me ofendeu e ele achou divertido...
-Todo mundo ouviu o que ele falou. Tem vídeo disso no Gossip Cop.
Rin lançou um olhar tão assustado para ela diante da nova informação que praticamente caiu em cima do rapaz e os dois desabaram no chão.
Kagura pulou do banco para observar a cena. Rin ficou por entre os braços dele, tentando levantar-se e corando furiosamente.
-Vocês estão gostando disso? – Kagura perguntou com um sorriso maldoso.
Aquilo bastou. Rin se desvencilhou e conseguiu se pôr em pé. O rapaz também, mais agilmente, ergueu-se num salto.
O clima ficou menos tenso quando Kagura resolveu finalmente se apresentar.
-Olá, sou Kagura. Ise Kagura.- ela falou sorrindo – E vocês podem continuar com aquilo, apenas finjam que não estou aqui...
Rin olhou com raiva para Sesshoumaru.
-Não me olhe assim. – ele estreitou os olhos para ela – Ela é amiga de Houshi. Ah, eu lembrei que você também é.
-Ora...- ela ficou vermelha, sem coragem de responder.
-Chega, Sesshoumaru... Você não tem noção do perigo, não?- Kagura falou, totalmente sem jeito – Vocês só faltaram rolar nessa grama em pleno inverno, você ainda quer mais?
-Olha... – Rin começou num tom irritado, mas depois de uma pausa desistiu de continuar. Apenas acenou num gesto para deixar o assunto de lado e decidiu sair dali – Já esqueci mesmo o que ia falar. Bem, deixa pra lá.- ela fez uma reverência para Kagura - Muito prazer e até logo.
-O prazer foi meu.- Kagura respondeu educadamente.
-Até!- Rin se afastou quase saltitando, deixando Kagura perplexa.
Um momento de silêncio depois, ela resolveu falar:
-Apenas acadêmico e nada romântico, hããã?– ela perguntou numa insinuação, a voz novamente melodiosa ao finalizar a frase.
-Sem comentários, Kagura.- ele falou com frieza.
-Mas eu quero comentários. – ela o provocou – Ou vou procurar um dos meninos pra saber mais.
Sesshoumaru deu um suspiro e sentou-se no banco.
-Não vamos falar sobre Nozomu agora. – ele encarou a garota – Bom vê-la hoje.
Kagura arqueou as sobrancelhas.
-Ah, eu quase ia esquecendo... - Kagura levantou-se e começou a falar para mudar de assunto - Miroku-sama vai nos levar para jantar mais tarde.
-"Nos levar"?
-Ué... Eu vou, tá? Ele vai, você, Sango, aquela menina...
-Se for ao do karaoke, a comida de lá não é mesmo boa. – ele avisou.
Rin procurava por Sango e Miroku em algumas salas dos semestres mais avançados quando parou ao escutar a voz de uma pessoa que, para ela, era, no mínimo, detestável.
-Sabe, há alguns guardas pelos campus que podem te ajudar a encontrar os seus pais, menininha.
A garota parou e olhou para o rapaz que se aproximava dela, mostrando-se muito irritada.
Era Ookami Kouga de braços cruzados no corredor em pose triunfal.
-Já começou?- Rin perguntou, estreitando os olhos para o rapaz.
-Você fica uma gracinha de preto. – ele analisava a pequena figura, pelo menos um palmo menor que ele, e apreciava o tom vermelho que apareceu no rosto dela com a provocação – Vai combinar bem com o dia do resultado. Preto está na moda entre os perdedores. - completou num sorriso maldoso.
-Não quero falar com você.- ela falou secamente, erguendo a cabeça com altivez ao dar as costas para o rapaz, apressando o passo para que ele não a seguisse.
-Ei, ei, ei! Não tão rápido!- Kouga conseguiu se aproximar dela com uma velocidade impressionante, aparecendo na frente dela – Só quero conversar com você. Eu sei que também não se dá bem com Sesshoumaru, mas pelo menos eu sou um pouco mais original nas minhas piadas.
Uma veia saltou da testa da garota e ela encarou com um olhar assassino o rapaz. Original nas piadas? O que ele queria dizer com aquilo?
-Na verdade, eu quero falar algumas coisas com você...- Kouga começou a guiá-la para outra direção, a mão encostando de leve nas costas dela. Sentiu o olhar estreitado e brilhando de raiva dela.
-Pra onde estamos indo?
-Você já vai ver... E não pense que um olhar tão doce quanto esse conseguirá me assustar.
-Pra onde?- ela perguntou, estacando de repente.
-Vamos conversar em particular na sala do clube de kendo... Já conhece?
A garota fez um gracioso movimento com a cabeça, indicando que não.
Pararam na frente de uma sala com a placa do nome do clube, uma das inúmeras ofertas de lazer para os acadêmicos daquela universidade. Rin havia visto a lista de algumas ofertas, mas nada a atraía no momento.
-Sesshoumaru era o presidente do clube de kendo até ter uns probleminhas por causa de uma pessoa... – ele abriu a porta e novamente tinha uma das mãos nas costas dela para dar a passagem para a garota.
-Olha, se for para falar a respeito dele, pode me deixar de fora. Não tenho interesse algum em saber da vida de Sesshoumaru.– ela falou num tom sério e tentou dar meia-volta.
-Ah, não? – ele perguntou quase estridente.
O tom chamou a atenção de Rin. Não era a primeira vez que alguém insinuava alguma coisa sobre o poço de provocação que sempre faltava com respeito para com os que tinham uma estatura... menor que a dele. Primeiro tinha sido aquela moça, agora até Kouga imaginava o mesmo.
-É claro que não. – ela enfatizou. Queria sair de perto dele o quanto antes – Olha, preciso resolver algumas coisas. É só sobre isso ou quer falar algo mais importante?
Silêncio se fez. E os rostos estavam próximos. O de Rin porque queria sustentar um olhar mais letal, o de Kouga porque ele observava os...
Parecendo sentir o que aconteceria, Rin arregalou os olhos e virou o rosto para o lado, quebrando o contato visual por segundos. Kouga deslizou a ponta de um dedo pela bochecha dela e depois a mão voltou a fazer com que ela o encarasse ao segurar o queixo com certa força.
E então teve um beijo. Absolutamente forçado. Um grito queria sair do fundo da garganta de Rin e não pôde. Ele não parou o assalto oral até escutar algo como um flash de câmera disparar.
Ao separarem os rostos, abruptamente, perceberam uma plateia formada por alguns alunos tirando fotos com o celular.
