UM CAMINHO PARA DOIS
CAPÍTULO 4
Um difícil caminho de brigas
-Saia do caminho.
A ordem partiu de Sesshoumaru a Houshi Miroku, este sorrindo de forma quase abobalhada no meio do corredor da faculdade. Encontrou-o casualmente ali quando se dirigia a uma sala desocupada para trabalhar.
-Sesshoumaru-sama... – ele cantarolou como num pedido de desculpas – Foi Kagura que me procurou pedindo informações por causa das fotos e dos vídeos do nosso canal de notícias.
De novo aquele assunto. De alguma forma aquilo não soava como boa coisa.
-Nozomu estava atrás de você e de Kawashima. – ele tirou uma chave do bolso e entrou na sala cedida para reuniões de grupo. Girou a chave no tambor e abriu a porta.
Tinha uma lista mental das coisas que precisava fazer, e acabou adicionando a informação sobre o tal canal de notícias. Precisava saber sobre aquilo. Pelo menos poderia coletar algumas informações sobre as pessoas. E como é que eles conseguiam tantas fotos de Nozomu Rin? Havia alguém a espionando na faculdade?
Os dois ouviram um grito feminino estridente. Todos no corredor também. Muitos saíram das salas, colocando apenas as cabeças para fora, tentando adivinhar de onde vinha a voz.
-O que aconteceu? – Sesshoumaru franziu a testa.
Repentinamente, o celular de Miroku começou a tocar. Se fosse em outro momento, Sesshoumaru não perguntaria, mas o toque era a música Bad Romance, e se ele estivesse certo, era o sinal de mensagens do tal canal de fofocas do curso.
Como Sesshoumaru parecia curioso para saber o que havia acontecido e aguardou Miroku procurar o celular pelos bolsos, pegá-lo e abrir algum aplicativo de mensagem.
-É do Gossip Cop, nosso correspondente de notícias extraordinárias – explicou num tom casual, o que fez Sesshoumaru logo entender o porquê de algumas pessoas serem sempre tão atualizadas e fofoqueiras – Esse povo que vive assistindo seriados não perde tempo de inventar alguma coisa.
Ao olhar a tela do celular, um grito estrangulado ficou preso na garganta dele, os olhos se arregalaram e...
-O que aconteceu? – perguntou Sesshoumaru.
Miroku nada respondeu. Ele parecia assustado.
E saiu correndo dali, sem dizer uma palavra a Sesshoumaru.
Segundos depois, a colega dele Kawashima Sango também passava por ele correndo.
-O que está fazendo aí? – ela perguntou. Ao se aproximar, ela pegou o braço dele para arrastá-lo – Vamos logo!
-Aonde? O que aconteceu? – ele quis saber. Ninguém falava nada e o mistério aumentava – Alguém morreu?
Sango parou e estreitou os olhos incrédula. Depois tirou o celular de um bolso do casaco e procurou alguma coisa, mostrando depois a tela para ele, posicionando o aparelho a centímetros do rosto dele.
Piscando, Sesshoumaru pegou o objeto e evitou ver o que era. Trocou primeiro um olhar com Sango.
E depois olhou para a tela.
Um momento de silêncio se fez. Parecia que havia som algum no mundo, nem da própria respiração naquele momento.
-Er... Ses-Sesshoumaru...?
No outro, o rapaz já tinha se tempestuado pelos corredores depois de ver uma imagem de Kouga e Rin se beijando num dos corredores da universidade.
Rin estava irritada.
Não, irritada era uma palavra usada para descrever a Docinho de Powerpuff Girls em ação.
Rin estava, de longe, furiosa. Estava naqueles momentos de querer bater em alguém e perguntar "o que houve?" apenas depois de ter surrado.
Ninguém, ninguém entenderia a ira dela naquele momento.
-Rin, sinto... sinto muito, eu não queria... – Kouga se desculpava – Eu não queria que a universidade toda soubesse.
E aquele maníaco, ainda por cima, a tratava pelo primeiro nome com a maior intimidade.
Os dois se escondiam na sala de kendo, para onde Kouga guiava Rin anteriormente, e tentava ignorar os toques insistentes do celular. O Gossip Cop já havia espalhado para todos no curso uma foto com o beijo entre os dois.
A universidade inteira já sabia.
A cidade inteira também, provavelmente.
O país também.
Possivelmente até o irmão dela em Nagoya.
Mas não era apenas aquele o problema. A foto tinha um ângulo que mostrava o rosto Rin absurdamente inclinado, de olhos fechados, lábios partidos e bochechas rosadas, e qualquer um que visse juraria que ela estava gostando.
-Você... – ela rangeu entre os dentes – Você vai fazer um pedido de desculpas público, Kouga... – parecia que ia soltar fumacinha pelas orelhas.
-Desculpe. – ele falou num muxoxo.
-Eu falei público!
O punho de Rin bateu no ombro dele. Depois ela ficou balançando o braço e gemendo de dor e raiva.
-Er... – o rapaz tinha uma gota ao lado da cabeça – Rin-chan, você... está...?
-Você – ela encostou um dedo contra o peito do rapaz – VAI PAGAR CARO POR ISSO!
Aquelas ameaças já estavam deixando Kouga irritado. Ele já havia pedido desculpas, também não imaginava que aconteceria algo do tipo. O canal Gossip Cop de notícias foi descaradamente copiado daquele enlatado americano, mas era um ótimo serviço no curso.
Isso quando não publicava fotos de beijos roubados por aí.
Agarrou a mão que o espetava no peito e encontrou firmemente o olhar de Rin, que prendeu a respiração com a nova proximidade. Deu alguns passos para a frente e Rin precisou recuar, até ficar presa contra uma parede e Kouga.
-Eu já pedi desculpas, já falei também que não sabia que isso ia parar no celular de todo mundo. – inclinou mais o rosto em direção ao dela – Mas é bom saber que você está mais irritadinha por causa da foto do que pelo que eu fiz. Agora que não tem Gossip Cop aqui... – os lábios ficaram mais próximos ainda – Que tal se nós...
Parou de falar com o punho dela tentando acertar a região entre os olhos dele, mas apenas ouvindo um "crack" dos dedos quebrando.
O grito que Rin deu foi tão alto que provavelmente a universidade toda ouviu sem precisar do Gossip Cop.
-Ah, que droga, Rin! – ele se afastou e pegou a mão dela – O que diabos estava pensando em fazer?
-Eu ia bater em você, seu amaldiçoado! – ela tinha lágrimas escorrendo por um canto dos olhos – Você não sabe que não pode fazer isso com uma mulher?
Kouga notou como ela estava agitada, balançando o punho com os dedos machucados, chorando a cada movimento.
-Não pode se mexer assim. Vai acabar machucando mais ainda. Vou te levar pra enfermaria pra olharem isso. – ele falou e tocou de leve a mão machucada.
Rin deu outro grito.
A porta da sala de kendo se abriu abruptamente. Os rostos se voltaram e viram Sesshoumaru parado na entrada.
E ele não parecia também apenas irritado.
Sesshoumaru tinha um olhar sombrio direcionado a Kouga, que se afastou de Rin como se estivesse tendo um pressentimento ruim. Mas o rosto não tinha linhas de expressão. Nem a testa estava franzida. Ele parecia sereno e estranhamente perigoso.
-O que você fez com ela? – ele perguntou suavemente ao vê-la curvada, apoiando um punho fechado em outra mão como que se quisesse protegê-lo.
-Rin! – Miroku e Sango entraram na sala, ignorando o corpo que bloqueava a entrada, e foram na direção da amiga.
-O que aconteceu? – Sango tocou na mão machucada e fechou os olhos ao ouvir outro grito.
-Onde é a enfermaria? – Rin perguntou num tom de desespero, sentindo as lágrimas escorrerem livremente – Eu quebrei minha mão!
-Vamos, vamos... – Miroku guiava Rin para fora da sala, virando-se de última hora – Você vem também, Sesshoumaru?
Houve uma última troca de olhares entre Sesshoumaru e Kouga. Os dois sérios e altivos.
Aquilo não ia acabar ali.
-Sim. – ele finalmente respondeu, dando as costas a Kouga – Vamos no meu carro. A enfermaria é no outro prédio.
No centro de atendimento para emergências do curso de Direito, localizado em outro prédio dentro da universidade, um grupo aguardava a volta de uma colega do atendimento.
Sesshoumaru, Sango e Miroku não se falavam, mesmo sentados próximos no banco da sala de espera. Eles olhavam fixamente a porta esperando que Rin aparecesse a qualquer momento. A garota tinha o chapéu de Rin nas mãos e o apertava com força nos dedos.
A equipe que atendera a garota disse que ela havia quebrado dois dedos ao tentar se defender. Ficaria com uma órtese protegendo os dedos indicador e médio por um mês.
Finalmente, depois de uma hora, ela reapareceu acompanhada do médico. Estava com o rosto vermelho e olhos inchados de choro.
-Rin! – Sango pulou do banco, assim como Miroku. Sesshoumaru levantou-se depois, limitando-se a observar as feições da garota.
-O-Oi... – ela murmurou num fio de voz.
-Bem... – o médico que estava com ela começou, entregando um papel e uma sacola pequena de papel pardo – Aqui estão a receita e alguns remédios para os primeiros dias.
-Obrigada. – ela continuou no mesmo tom, sem olhar para ninguém.
-Até mais e cuide-se. – ele acenou para ela e voltou a entrar na sala para realizar outro atendimento.
O grupo mergulhou em mais um momento de silêncio. Os três conhecidos não sabiam o que falar para Rin.
-Eu vou pra casa agora. – ela murmurou com evidente cansaço e olhos sem vida.
-Eu deixo você lá. – Sesshoumaru avisou antes de Miroku e Sango se manifestarem – Não quer comer alguma coisa antes?
-Não quero nada. – ela respondeu mecanicamente e se afastou deles, indo na direção da saída.
Do lado de fora, Sesshoumaru aguardava Rin terminar de se despedir dos colegas. Ela escondia a mão machucada dos olhos dos outros, talvez por vergonha com o que havia acontecido.
Sango e Miroku a abraçaram ao mesmo tempo e falaram alguma coisa, provavelmente palavras de conforto. Sango colocou o chapéu na cabeça dela e o ajeitou para que a dona não precisasse mexer as mãos. Rin murmurou alguma coisa e depois afastou-se.
-Não esqueça de nos avisar amanhã! – Sango gritou, a mão próxima à boca antes que o carro sumisse das vistas dele.
Sesshoumaru abriu a porta para ela e esperou que ela se acomodasse antes de fechar. Depois deu a volta no carro e entrou pelo lado do motorista.
-Akasaka, 2 Chome, 19-2. – ela falou o endereço antes que ele perguntasse.
Sem dizer uma palavra, ele deu a partida.
Nos primeiros minutos não houve conversa. De vez em quando ele lançava olhares na direção dela, evitando tecer comentários de qualquer natureza. Nem perguntar como ela se sentia ele conseguiu – primeiro porque era evidente que ela não estava bem. Segundo: ele tinha a ligeira impressão que ela ia cair no choro ali no carro dele.
Mas estava errado: ela não chorou. Parecia que nem respirava. Ela olhava os prédios e segurava com força, com a mão boa, a sacola de papel com os medicamentos. O papel da receita estava completamente amassado também.
Trinta minutos depois, ele parava na frente do prédio dela. Parecia uma boa área para morar. Por que será que ela queria procurar outro apartamento? Será por causa da distância?
Parou o carro, motor ainda ligado, e procurou as palavras certas:
-Desculpe por colocar você nessa história. Se não fosse por isso, você não teria se envolvido nesse jogo de Ookami e não teria se machucado.
Esperou que ela falasse alguma coisa. Mas Rin continuava muda, olhando algum ponto na frente dela.
-Se precisar de alguma coisa, você pode me ligar também. Eu lembro pedi uma vez o seu número quando começamos a estudar juntos, mas nunca me passou. Acho que você tinha perdido o celular na época.
Rin o olhou pelo canto dos olhos, mas continuou em silêncio.
Foi então que ele entendeu que precisava destravar a porta. Apertou um botão e ela saiu do carro levando a sacola de remédio e receita médica.
-Obrigada. – ela murmurou tão baixo que ele precisou adivinhar se era mesmo aquela palavra.
Viu-a dar a volta no carro e caminhar na direção do prédio. Ele precisou desligar o motor e abrir a porta para ir atrás dela.
-Espere. – ele pediu.
Rin estancou e virou o rosto lentamente, desta vez sem esconder as lágrimas.
-O que foi? – ela piscou, mais lágrimas caindo.
-Você vai precisar de alguma...
-Não preciso de nada. – ela o interrompeu e o ignorou, andando na direção do prédio.
No final da manhã do dia seguinte, Sango e Miroku andavam apressados pelas ruas do bairro de Rin. Miroku estava sem carro por conta de problemas técnicos e os dois tiveram que pegar o metrô mais próximo da rua onde a amiga morava.
-Agora sim acertamos a rua. – Sango tinha o celular na mão para ver as direções – Tomara que ela goste da surpresa.
-Ela não nos ligou até agora. – Miroku franzia a testa, mãos dentro do casaco para dias de inverno menos frios que o de costume – Ela está com um telefone novo, não?
-Se ela não tiver perdido de ontem pra hoje, está sim. – a garota apontou para a calçada – É na outra quadra.
-Okay.
Os dois atravessaram a rua correndo, fora da faixa, e alcançaram o outro lado apenas para dobrar o quarteirão.
Ao se aproximarem do prédio, viram uma pessoa conhecida parada do lado de fora do prédio, olhando curiosamente o interfone. Era alto, bem vestido com um casaco de inverno, imponente, cabelo amarrado.
-Aquele é...? – Sango começou.
-É sim. É Sesshoumaru. – Miroku completou, franzindo a testa. Ele veio ver Rin também?
O casal se aproximou dele.
-Bom dia. – Sango falou sem jeito. Mesmo tendo se aproximado um pouco mais dele nas últimas semanas, não havia ainda certeza quanto ao tratamento que deveria usar.
O rapaz tirou os olhos do interfone e não deixou de esconder uma surpresa ao vê-los ali.
-Bom dia. – ele também cumprimentou – Vieram falar com ela também?
Os dois assentiram.
Sesshoumaru apontou com movimento de cabeça o aparelho na parede.
-Ela não colocou o nome no interfone. Eu não sei qual é o apartamento.
-Ah... – Sango se aproximou e constatou com um aceno – É verdade. Mas ela mora no terceiro. Só há dois apartamentos por andar...
-O que estão fazendo aqui? – alguém suavemente perguntou perto deles.
Ao se virarem, perceberam Rin ali pronta para sair com uma mala de rodinhas pequena, mão machucada escondida dentro do casaco. O rosto estava abatido e sério. Era como se ela não quisesse ver mais ninguém na frente dela.
-Rin-chan... – Sango uniu as mãos – Você não nos ligou, ficamos preocupados.
-Eu não estava bem. – ela continuava com a voz calma e suave, mas o rosto e as palavras a traiam.
-Entendo... – a amiga tentou dar um sorriso, mas sentiu que ia parecer um deboche no momento e evitou mostrar qualquer sinal de alegria por ver Rin simplesmente conversando. Ela estava falando. No dia anterior ela não falava com ninguém.
-Você vai a algum lugar? – Sesshoumaru perguntou.
-Vou para casa. – ela desencontrou o olhar deles.
-"Casa"? – Miroku repetiu com estranheza até entender o significado – Em Nagoya?
-Vou passar alguns dias lá. – ela explicou depressa, impaciente com as perguntas sobre ela. O que esse povo da capital tinha para querer saber sobre a vida dos outros? Já não bastava aparecer em canal de fofocas, ainda precisava dar explicações para eles?
Nenhum dos três fez comentários. Ela percebeu que o problema era com ela e que não tinham culpa do que havia acontecido. Os lábios dela ficaram numa linha fina, queixo travado.
-Vou pegar o trem. – tentou ser mais paciente para explicar.
-Rin-chan, você não acha... – Sango começou a falar, mas foi interrompida por Sesshoumaru.
-Quer comer alguma coisa antes de viajar?
A pergunta foi feita num tom suave. Sesshoumaru sabia que ela não estava bem. Não ia tentar convencê-la a não viajar e faltar às aulas. Só queria saber se ela precisava de ajuda.
- Podemos deixá-la na estação. – ele continuou.
Rin demorou a responder, mas finalmente confirmou com a cabeça. Ela não tinha comido desde que voltara para casa. Ficou completamente sem fome, mas sentia necessidade de comer alguma coisa naquela hora.
-Eu conheço um bom lugar aqui perto. – ele indicou o carro dele com a cabeça – Vamos.
Sesshoumaru fez um gesto com a mão e ela entregou a mala para ele. Em poucos minutos os dois já estavam próximos ao carro dele, com a bagagem no porta-malas. Ele também abriu a porta do assento ao lado do motorista para Rin e olhou para os lados.
-Vocês não vêm? – ele falou do carro para os outros dois colegas que estavam ainda parados do lado de fora do prédio.
O casal se entreolhou.
-Ah... Sim. Claro. – Miroku guiou Sango até o carro, a mão apoiada nas costas dela.
O restaurante Narisawa, no distrito de Minato, era considerado um dos melhores lugares da capital para fazer uma boa refeição. Miroku trocou um olhar desconfiado com Sango, pois conhecia a fama do local. Aparentemente só se podia entrar ali se tivesse uma reserva ou fosse conhecido do chef, Narisawa-san.
Mas Sesshoumaru simplesmente chegou, deu o nome dele e pediu mesa para quatro pessoas. Nem cinco minutos depois, o grupo foi guiado até uma mesa arrumada.
Rin olhava o ambiente com curiosidade, movendo o rosto para olhar até as lâmpadas.
-Eu já ouvi falar daqui... – ela comentou pela primeira vez com um tom de voz mais parecido com o habitual dela.
-É um dos melhores da capital. Duvido muito que tenha algo parecido com isso no seu lugar. – Sesshoumaru explicou ao puxar a cadeira para ela se sentar.
A resposta dela foi uma sobrancelha erguida ao mesmo estilo dele.
-É a primeira vez que entro aqui. – Sango comentou timidamente, também olhando para os lados para ver os detalhes.
-Não é de admirar que alguém como Sesshoumaru-sama conheça o lugar. – Miroku deu um sorriso sem graça, imitando o gesto do colega ao puxar uma cadeira para Sango se acomodar.
Os quatro ficaram em silêncio por alguns segundos até aparecer um rapaz com quatro cardápios para atendê-los.
Cada um fez um pedido do "especial de inverno" com bebidas, até chegar a hora de ele anotar o pedido de Rin.
-"Floresta 2010" como entrada, "Spring Garden" sem carne como principal e uma taça de Blanc Cuvee.
O rapaz anotou pacientemente o pedido até ouvir o nome da bebida. Timidamente ele baixou o caderninho e começou:
-Eu posso...
Rin tinha já a cartão de identidade entre os dedos da mão boa antes de ele terminar de falar. Ela não parecia ofendida, mas sim já acostumada. O atendente pegou o cartão e depois o devolveu com um agradecimento.
-O que é isso? – Sesshoumaru perguntou com a testa franzida.
-Ele estava verificando minha idade. – ela respondeu com tranquilidade, olhando-o pelo canto dos olhos.
O rapaz olhou o atendente com uma sobrancelha erguida. Se Rin não ficou ofendida com aquela impertinência, ele tinha ficado por ela. O maxilar estava travado, os lábios apertados numa fina linha.
Miroku e Sango também se sentiram extremamente constrangidos, apesar de terem ouvido as histórias de Rin de ser abordada em restaurantes na hora de pedir bebida alcoólica. Na época deram risadas, mas ao passarem pela experiência não achavam mais tão engraçado assim.
-Desculpe, é procedimento padrão. – o atendente se justificou, guardando o caderno – Mais alguma coisa?
O grupo ficou em silêncio. Ele fez uma reverência e afastou-se.
-Está tudo bem. – Rin falou para eles sem dar um sorriso – Eu não ligo mais pra isso.
Nenhum dos três comentou nada por algum tempo, tentando ainda absorver o que havia acontecido.
Ao chegarem as bebidas – água para Sesshoumaru e vinho para os outros três acompanhante -, uma pergunta foi feita:
-Qual é o horário do trem? – Sesshoumaru quis saber.
-Não comprei ainda a passagem. Eu vou pegar o primeiro que sair depois de chegar lá. – Rin respondeu suavemente.
-Então podemos comer com tranquilidade. – ele admirou também o ambiente assim como os demais colegas fizeram – Eu gosto daqui. Costumava vir com meus pais e Inuyasha uma vez por semana. Era o lugar favorito da minha mãe.
-Há um restaurante em Nagoya que costumo visitar com minha família, dentro de um templo muito conhecido. É um dos melhores da cidade. – Rin deslizava o dedo pela borda da taça – Na última vez, foi minha "despedida" antes de mudar pra cá.
-Ah, é? – Sango apoiou o rosto na mão e deu um sorriso – E como foi?
-Não muito boa. – ela deu um sorriso triste – Meu irmão e eu discutimos alguns dias antes e não estávamos nos falando. Só voltamos a nos falar nessa noite depois do jantar.
Sesshoumaru notou a forma como ela franziu a testa em preocupação. Parecia que lembrava de alguma coisa desagradável.
-Ah, que pena. – a amiga soltou um lamento – Mas vocês estão bem agora?
-Sim. – Rin continuou o movimento do dedo na taça – Nós nos damos muito bem, ele é do tipo irmão protetor e irritante, mas é um dos meus melhores amigos.
-Você falou para ele o que aconteceu? – Sesshoumaru quis saber.
O dedo que circulava na borda parou de mover. Rin estremeceu e parecia assustada.
-Você não contou ainda, não foi? – ele estreitou os olhos.
A garota moveu a cabeça negativamente.
-Por quê? – ele perguntou suavemente.
-Porque não quis causar uma confusão maior com ele vindo aqui.
Sesshoumaru se perguntou se esse irmão poderia mesmo fazer isso. Talvez fosse apenas exagero por parte dela.
-Então você vai chegar lá e mostrar o que aconteceu. – não era uma pergunta.
O rapaz viu, pela segunda vez, a garota estremecer. Prendeu até a respiração por alguns segundos. Ela não tinha pensado naquilo também.
-Você pelo menos ligou ontem pros seus pais? – Miroku parecia tão preocupado quanto Sango.
Rin meneou a cabeça. Não havia ligado. Ela estava chateada demais para ter que falar com alguém.
-Você já está com um novo celular, Rin-chan? – Sango perguntou com evidente preocupação. Não era bom que ela ficasse sem contato.
-Eu tenho o fixo em casa. Esqueci de passar o número pra vocês. Mais tarde eu compro um novo celular.
-Pelo menos não perde o fixo, né? – Miroku tentou fazer piada da situação e recebeu um pequeno sorriso por parte da amiga.
As entradas chegaram e momentaneamente deixaram a conversa de lado.
-Boa refeição. – falaram os quatro ao mesmo tempo.
Alguns minutos depois, Rin foi a primeira a se manifestar.
-Hm... – ela teve que pegar o guardanapo para poder limpar os lábios, apontando para o prato com o hashi – Isso aqui é uma delícia.
-Está muito bom mesmo. – Sango comentou apontando para o prato dela – Eu costumava ir com os meus pais no Ishikawa em Sobu, mas agora acho que passa longe da comida daqui.
-Vocês precisam também conhecer os de Nagoya. – Rin disse pela primeira vez com um sorriso verdadeiro desde o incidente no dia anterior – É a melhor do Japão.
-Lá vem você e o seu regionalismo. – Miroku deu uma risada discreta.
-Daqui a pouco vai falar como o seu pai sobre a origem das palavras do nosso idioma. – Sango complementou.
-Se vocês já acham que o que eu falo soa como regionalismo, nem sei o que vão dizer quando ouvirem meu irmão. – ela deu outra risada, mais natural que a anterior – Ele praticamente diz que Aichi precisa se separar do Japão.
Reparou que os três a olhavam com interesse.
-O que foi? – ela perguntou, inclinando a cabeça sem esconder a curiosidade.
-Nada. – Sesshoumaru desconversou. O grupo reparou que ela estava com um humor melhor. Talvez a comida e a boa companhia fossem a resposta, afinal de contas.
Depois de pagar a conta do restaurante para os "convidados", Sesshoumaru aguardou Rin voltar do toalete antes de ele e os outros dois colegas seguirem para a saída.
Sango olhou para os lados antes de comentar:
-Que bom que Rin-chan melhorou um pouco. Mas não é um exagero ela querer voltar pra família dela? Quantos dias ela ficará por lá?
-Não acho um exagero. – Miroku ponderou enquanto olhava a saída – Ela deve também estar preocupada com a repercussão na faculdade. Mas não podemos convencê-la a ficar por um motivo simples como "perder aula". No momento ela não está pensando nisso.
-E por que não? – Sango franziu a testa – Ela realmente vai perder aula.
-Isso cabe a ela decidir. – Sesshoumaru falou de repente, mãos no bolso, olhos sérios e serenos – Nós não podemos interferir nas decisões dela, isso pode deixá-la mais chateada. Se ela quiser ficar em Tokyo ou voltar para a cidade dela, isso diz respeito apenas a ela.
Então por isso Sesshoumaru me interrompeu na hora que eu ia sugerir que ela ficasse aqui, Sango pensou.
Quando Rin voltou a se juntar a eles, tinha um aspecto mais renovado. Até o sorriso estava lá.
-Vamos? – Sesshoumaru deu a passagem para ela, novamente contendo a vontade de tocar nas costas dela para guiá-la até o carro.
Como das outras vezes, ele abriu a porta para ela. Também a ajudou a colocar o cinto de segurança.
Quando os outros dois colegas se acomodaram, ele deu a partida e perguntou:
-Onde fica essa estação?
Rin ficou em silêncio, mordeu o lábio inferior e depois balançou a cabeça:
-Eu pensei melhor e não vou mais. Vou voltar pra casa.
Os outros três ficaram em silêncio.
-Desculpem por ontem. – ela falou com a mão não machucada circulando a cintura, abraçando-se.
-Você não precisa se desculpar por nada. – Sesshoumaru impediu que ela continuasse com aquele pedido sem sentido – Nada do que aconteceu foi culpa sua.
-Além disso, eu soube que a equipe de Kouga está fora da disputa. – Sango comentou e Rin virou o rosto para ela e depois para Sesshoumaru, como se pedisse explicações.
-O comportamento dele foi inaceitável. – o rapaz começou a explicar num tom calmo, o olhar frio – Ele foi punido por isso. E espero que nunca mais tenha que cruzar pelos corredores com ele.
-Hm. – Rin continuou se abraçando. A mão machucada continuava à vista de todos no colo dela.
-O nosso canal de informações do curso também sabe que você não teve culpa de nada. A reputação de Kouga foi trucidada por lá. E muitos hoje perguntaram se você precisava de alguma coisa. – Miroku tinha os braços cruzados e estava sério – Também tenho filtrado todas as informações e colocado o público contra Kouga.
-Você faz parte dessa equipe do Gossip Cop? – Sesshoumaru perguntou.
-Mas é claro. – Miroku sorriu malandramente. Os dentes até brilharam.
-Você vai amanhã pra aula, então? – Sango perguntou timidamente tentando mudar de assunto.
-Não. – a amiga respondeu – Vou ficar mais um dia em casa. O médico me deu um atestado.
-Voltar para casa, então? – Sesshoumaru perguntou.
-Sim. – Rin respondeu com um sorriso – Pra casa.
