Nota da autora: Gostaram das pequenas mudanças e cenas novas? Espero que sim. Heheheh. Alguém aí está lendo pela primeira vez?
Semana passada eu só atualizei uma vez por causa do trabalho :( Espero que esta semana as coisas melhorem. Quero ver se posto pelo menos 4-5 capítulos por semana até o final.
UM CAMINHO PARA DOIS
CAPÍTULO 5
Caminho de conversas inacabadas
Nozomu Rin estava perdida em alguns pensamentos envolvendo planos para estudos e para os próximos fins de semana enquanto olhava alguns títulos da seção de Direito da Biblioteca do Centro de Estudos Jurídicos.
Faltavam ainda duas semanas para tirar a órtese dos dedos, algo que se tornou um empecilho na hora de estudar. O máximo que conseguia era ler um livro e marcar algumas coisas sem conseguir escrever muito. Tentou interpretar algo das notas de Sango e Miroku, mas os dois não tinham muito o hábito de escrever, pois eram acostumados apenas a receberem os resumos e anotações de Rin ou de Sesshoumaru.
A solução que encontrou foi memorizar o conteúdo dos textos ao máximo sem anotar ou fazer resumos. Por enquanto, era a única alternativa que tinha.
Deu um suspiro e retirou da prateleira um grosso volume. Ao fazer isso, um par de olhos dourados encontrou os dela e os dois se observaram por alguns segundos através da prateleira. A princípio ela assustou-se, mas tranquilizou-se ao reconhecer quem era.
–Ei, você não me disse que viria aqui... - ela segurou um livro qualquer de Código Civil e sorriu para Sesshoumaru.
–Se você tivesse me dado o seu número, eu teria ligado e avisado. - Sesshoumaru falou calmamente antes de sair por trás da estante e ir ao encontro de Rin – Como está sua mão?
A garota deu um suspiro cansado.
–Não aguento mais isso. Tentei anotar algumas coisas com a mão esquerda, mas não deu muito certo. E as anotações de Sango-chan e de Miroku não ajudam em nada.
Sesshoumaru observou a figura da garota. O chapéu verde, combinando com o casaco da mesma cor, estava lá fazendo presença, mas felizmente não cobria o rosto e nem fazia sombra no olhar. A órtese, que ela tanto escondia das vistas do outros nos primeiros dias, protegia os dedos da mão que tentava circular a cintura dela.
–Quer as minhas? – ele perguntou casualmente.
Os olhos dela se iluminaram como duas lâmpadas.
–Ah, eu gostaria sim. – ela parecia realmente feliz, como se tivesse encontrado um pote de ouro – Você nunca mais estudou conosco, eu tinha esquecido que você também tem o mesmo hábito que eu.
–É... – ele concordou. Era verdade o que ela falava – Não tive como. A direção do centro ocupa praticamente todo o meu tempo agora.
–Eu imagino. – ela falou com um sorriso.
Foi por isso que eu não quis fazer parte disso, ela pensou internamente.
–Se quiser, pode passar no centro depois das quatro da tarde. Se quiser aguardar um pouco mais, posso levá-la pra casa.
Ele sabe ser gentil, ela pensou enquanto assentia com um sorriso.
–Posso ajudar nisso? – ele pegou os livros da mão dela para não fazer peso.
–Ah, obrigada.
Os dois andaram juntos até o balcão de empréstimo de livros conversando sobre coisas relacionadas aos seminários que participavam juntos. Sesshoumaru nem percebeu quando a mão foi parar nas costas dela, meio que instintivamente.
Também não notaram que eram fotografados discretamente por uma pessoa ali.
Houshi Miroku estava muito satisfeito consigo mesmo. Com um sorriso abobalhado, ele andava despreocupadamente pelos corredores do Campus até ouvir alguém chamá-lo:
–Ei, Miroku... – Inuyasha dava risadas do início de um corredor até chegar próximo ao amigo e mostrar o celular – Pode me explicar o que é isso aqui?
–Olha, até onde eu sei, isso aí é um iPhone. – o outro respondeu idiotamente.
–A foto, animal. – Inuyasha tinha a paciência maior que a do irmão. Certamente Sesshoumaru teria batido com o celular na cara de Miroku antes de repetir a pergunta – Por que diabos quase todos os dias há uma foto da Rin e do Sesshoumaru como se eles fossem um casal? Tá acontecendo alguma coisa que ninguém tá sabendo? Eu me sinto agora protagonista de Gossip Girl.
–Nossa, você também recebe as notícias da Gossip Cop, Inuyasha?
O rapaz sentiu a camisa ser agarrada por Inuyasha e precisou erguer as mãos para se defender.
–A equipe do Gossip Cop fez uma aposta pra ver se eles ficam juntos. – ele falou depressa com os olhos arregalados em dois riscos verticais.
–Sério, Miroku? – o tom de Inuyasha era incrédulo – Vocês pretendem vigiar os dois tipo num reality show? É Namoro ou Amizade – Versão Toudai agora, é?
–Adorei esse nome, Inuyasha. Vou propor ao pessoal e dar os créditos a você.
O amigo o puxou mais para perto do rosto, ignorando o tom cínico do comentário feito:
–Estamos falando de quanto? – Inuyasha perguntou num sussurro e com os olhos dourados intensamente cheios de interesse.
–Muito dinheiro. Kagura está cobrindo as apostas. Só a elite administrativa do Gossip Cop faz parte e sabe disso. – até os dentes de Miroku brilharam com o sorriso que ele deu.
–Quem ganha?
–Quem conseguir o primeiro flagra leva tudo.
–Vale tudo? Vídeo juntos? Cenas de ciúmes de Sesshoumaru? Abraços? Beijos?
–Qualquer coisa que indique que estão juntos oficialmente.
–Eles já seguraram a mão um do outro?
–Por que não pergunta pro seu irmão?
–Perguntar o quê?
Essa voz...! Miroku olhou para o lado e viu Sesshoumaru acompanhado de Rin. Ele ainda segurava os livros que ambos haviam emprestado na biblioteca.
Tentando disfarçar a situação, ele soltou-se de Inuyasha e correu na direção da amiga, fingiu-se emocionado.
–Rin-chaaaan! – ele correu de braços abertos na direção dela – Que saudades! Desde ontem eu não te vejo! Eu estava pensando neste exato momento!
A palma de Sesshoumaru, completamente aberta, impediu que o rapaz se aproximasse demais de Rin. Ele parou a centímetros dela, e não se mexeu por segundos até deslizar derrotado ao solo.
–Se... Sesshoumaru! – Inuyasha engasgou.
–Por que você fez isso? – a garota ficou impressionada com a cena.
–Você não lembra das outras vezes que ele encostou em você? – ele perguntou pelo canto do olho.
–Ah, é. – ela coçou um lado do rosto e deu um sorriso sem graça.
–Como foi lá na biblioteca? – InuYasha quis saber arqueando as sobrancelhas sugestivamente.
Rin e Sesshoumaru trocaram olhares confusos.
–Como é que você sabe que viemos de lá? – o irmão mais velho quis saber.
O mais novo ficou calado enquanto sorria malandramente. Miroku se levantou e também tinha um sorriso do mesmo estilo. Tossindo de forma afetada, ele começou:
–Acho que Inuyasha deduziu que vocês estavam lá por causa dos livros com as etiquetas da biblioteca.
Sesshoumaru olhou para Miroku e depois para o irmão. Inuyasha não era de deduzir coisa alguma... Isso significa que...
–O que vocês aprontaram? – ele perguntou. Rin ficou olhando ora para um, ora para outro.
–Eu não aprontei nada. Por outro lado, vocês... – Inuyasha mostrou o celular com a foto do momento.
Os dois aproximaram o rosto da tela.
Sesshoumaru e Rin na biblioteca do curso. Os dois de costas. Ela falando alguma coisa e sorrindo. Ele prestando atenção ao que ela falava. A mão dele nas costas dela enquanto a outra carregava os livros.
Até ele se surpreendeu. Não havia percebido que tinha tocado nela. Tinha sido automático.
–Como vocês conseguem essas coisas? Não é proibido tirar fotos sem autorização aqui? Na minha cidade você já teria sido preso. – Rin bufou indignada.
–Em primeiro lugar, não fui eu quem tirou essa foto. O Gossip Cop tem correspondentes em toda a universidade. Em segundo: todo mundo adora suas fotos, Rin-chan. Você é a estrela do curso. Todas as mulheres comentam sobre os modelos que você usa. Os homens querem saber se você está solteira ainda.
A mão de Sesshoumaru que não segurava livros foi direto ao colarinho de Miroku, puxando-o para próximo dos dois. Era a segunda vez no dia que aquilo acontecia em menos de dez minutos.
–Tire essa foto de circulação. – ele ordenou.
–Ela está recebendo muitos likes. O pessoal gostou. Não vou tirar. – ele respondeu com certa petulância.
–Tire a foto de circulação. – desta vez quem falou foi Rin com uma voz pausada e absurdamente sombria.
–Eu já vou tirar. Calma, calma. – Miroku respondeu assustado, num fio de voz.
Depois do encontro com Inuyasha e Miroku pelos corredores, Rin aceitou as anotações de Sesshoumaru e o convite para levá-la para casa. Ele justificou que era quase caminho da casa dele também e que não seria um problema.
A equipe dele saiu vitoriosa na eleição depois que Kouga se envolveu na confusão que ocasionou em Rin quebrar os dedos. Desde então, o rapaz passava mais horas na universidade em sala de aula e administrando as coisas no Centro.
Olhou a mão. Talvez tenha sido bom que tivesse acontecido aquilo com ela. Kouga não merecia ser líder se tratava uma colega de curso daquela forma. E beijava mulheres sem autorização, o que era pior.
Enquanto Sesshoumaru resolvia algum assunto pendente, ela aguardava por ele no centro. Tinha sido gentileza dele autorizar a permanência dela na sala. Tinha água, café, biscoitos e um sofá confortável.
Levantou-se para pegar mais um biscoito. Deu um sorriso ao morder um pedaço. Era de manteiga. Ela gostava daquele tipo. Se o mercado estivesse aberto, depois de chegar em casa ela desceria para passar no mercado e procurar mais do tipo. Ou pediria para Sesshoumaru deixá-la lá ao invés de ir para casa direto.
Olhou novamente a mão. Ela não conseguia fazer compras ou preparar comida há dias... Era tão difícil depender dos outros. Não ia conseguir comprar muitas coisas que estavam faltando em casa por não poder carregar a sacola.
A porta do centro abriu e uma jovem que ela nunca tinha visto antes entrou. Era bonita, alta, com cabelos castanhos longos e soltos, roupa social elegante – saia até o joelho, blazer, casaco de inverno aberto, bolsa de marca. Jakotsu, primo estilista conhecido em Nagoya e por toda província de Aichi, teria achado uma figura absolutamente normal e proibiria a prima de usar a mesma coisa.
Rin disfarçadamente limpou os farelos da boca.
–Ah... Sesshoumaru não está aqui. – ela entrou e ficou no meio da sala, olhando Rin de alto a baixo.
–Ele... Ele disse que voltaria logo. – ela respondeu com um sorriso, mãos às costas para esconder a órtese.
–Ah, é você. A garota do dedo quebrado.
O sorriso morreu no rosto de Rin.
–É Nozomu. – Rin corrigiu ao deixar os braços penderem ao lado do corpo, sem esconder a mão machucada – Não "garota do dedo quebrado".
As duas ficaram em silêncio.
–Você nem trabalha aqui e já bem à vontade. – a outra olhava a sala com estranho interesse, como se pertencesse ao lugar.
Rin continuou em silêncio. Era preferível não comentar nada. Não sabia com quem estava falando, nem qual era o relacionamento dela com Sesshoumaru. Seria namorada dele? Ou tinha sido namorada? Nunca vira aquela moça antes com ele.
–Sesshoumaru tem uma história comigo. – a garota estranha começou num tom mais sério, como se tivesse lido o pensamento da outra – Se você não tivesse aparecido...
–Não tenho interesse algum em conhecer a história de vocês dois. – Rin interrompeu em uma voz firme, fria e controlada – Você deve discutir sobre isso com ele.
–Eu pretendo conversar assim que você parar de tomar o tempo dele. Vocês estão juntos o tempo todo e nós dois...
–Você deve discutir sobre isso com ele. – Rin deu uma ênfase em algumas palavras para que a outra entendesse que não queria estar no meio do problema entre eles, qualquer que fosse esse.
As duas se encararam: Rin com o rosto sério, determinado e um pequeno sorriso de simpatia, mãos unidas educadamente na frente do corpo sem se importar com a órtese visível em uma delas; a garota sem nome com a testa franzida e examinando a mão da outra com os dedos quebrados.
Por fim, a desconhecida deu as costas e foi embora.
Rin soltou a respiração que prendia para se fazer de séria e levou uma das mãos ao coração.
–Ahhh... achei que ela não ia mais embora. – exclamou para ninguém ali.
Sentou-se no sofá e deu um suspiro mais pesado. Quem era ela e por que o Sesshoumaru não falou dela antes? Eles eram amigos, não?
–Ou não somos? – um dedo tocava ritmicamente o queixo enquanto ponderava sobre o fato. Poderia considerá-lo como amigo?
E por que ela estava envolvida em uma briga de casal? Ela não queria passar por nada daquilo enquanto estivesse morando temporariamente em Tokyo. Quando estava com ele, nunca teve uma única briga por ciúmes, seja por causa de mulher ou de amigos. Era estresse demais ter que se envolver naquelas intrigas amorosas.
E definitivamente era melhor voltar sozinha para casa e passar um tempo longe de Sesshoumaru para evitar problemas com quem quer que fosse aquela garota.
Sesshoumaru tinha em mãos vários tipos de cadernos e envelopes de documentos sobre a administração do Centro dos últimos anos. Teria que ler tudo em uma semana juntamente com a equipe dele. Caminhava até a sala do Centro, novo local de trabalho, onde passaria mais horas do dia longe de pessoas perturbadas como Houshi Miroku ou o próprio irmão. Uma das primeiras coisas que iria discutir era sobre a legalidade do Gossip Cop.
Ao entrar na sala, ele viu o que queria: Rin sentada no sofá pacientemente esperando por ele. Por um estranho motivo, ele queria terminar logo o trabalho e levá-la para o apartamento. Talvez fosse o cansaço e ele quisesse voltar para casa o quanto antes.
–Desculpe a demora. – ele se desculpou com uma pilha de documentos, anotações e outros papéis cuidadosamente organizada em mãos – Demorou mais do que eu imaginava.
Ao colocar os papéis em cima da mesa, ele estranhou o silêncio dela. Rin não falou nada, não encontrava o olhar dele e tinha a testa franzida em preocupação.
–O que houve?
–Nada. Eu só esperei para dizer que vou de metrô pra casa. Acho que vou passar em um mercado. Não precisa me levar mais. – ela tinha o olhar fixo na mesinha com a garrafa de café, água e um tipo de biscoito – Ah, eu me servi dos biscoitinhos de manteiga e vou comprar um pacote para repor.
O rapaz notou que o vasilhame transparente com a especiaria estava quase cheio. Ele mesmo não sabia o sabor daquilo e não fazia questão de provar.
Ela está mentindo.
–O que foi que aconteceu? – ele perguntou com mais firmeza, desta vez encontrando o olhar dela.
A testa dela franziu com certa irritação.
–Não minta, por favor. – ele pediu. Ele já imaginava o que poderia ter acontecido e envolvia o Gossip Cop.
–Uma namorada sua veio aqui e me insultou. – ela respondeu depressa.
–Namorada? – ele repetiu, sobrancelhas levemente unidas fechando a expressão – Qual namorada?
A forma como ele ficou confuso provocou uma risada divertida nela como resposta.
Depois ela percebeu que ele não gostou daquilo e parou de rir.
–Desculpe, eu só achei divertido ver a forma como você respondeu. Dá pra entender que você tem mais de uma. – a mão quebrada fez um contorno na cintura como se ela quisesse se proteger – Eu não sei se é sua namorada mesmo, mas ela estava irritada por eu estar aqui e disse que eu tinha que ficar longe de você.
Sesshoumaru nem precisava que ela descrevesse a pessoa porque já sabia quem era.
–E o que você disse?
–Eu falei que tinha um nome. Ela chegou aqui me chamando de "garota do dedo quebrado".
–Ela chamou você assim? – ele estava tudo, menos calmo. Era a primeira vez que Rin o ouvia falar naquele tom e estremeceu de susto no sofá.
Silêncio se fez. Ela não sabia sobre o que se tratava. Pegou a bolsa e levantou-se de vez.
–Eu posso voltar sozinha pra casa. – ela deu um sorriso meio sem graça – Quero na verdade comprar os biscoitinhos de manteiga. Eu gostei muito deles.
–Eu posso levá-la ao mercado e depois deixá-la em casa.
Rin percebeu que ele não ia querer perder a discussão. Ela mantinha o sorriso sem graça.
–Ou você pode levar esse pote inteiro para a sua casa. Eu não como isso.
Os olhos castanhos arregalaram e ela virou o rosto na direção do pote com um interesse renovado, mordendo o lábio inferior.
Depois ele a viu balançar a cabeça.
–Não, eu realmente preciso passar num mercado. Eu não pude comprar nada nos últimos dias porque não consigo...
–Não consegue carregar as sacolas, eu já sei disso. – ele completou por ela num tom ligeiramente irritado.
Rin franziu a testa, depois o rosto ficou indiferente.
–Você não precisa falar assim comigo. – ela parecia estranhamente fria – Se tem algum problema com essa garota, deveria esclarecer as coisas para ela e não ficar aqui conversando comigo. Pode poupar o seu tempo do trajeto até minha casa assim.
–Eu quero saber o que ela falou pra você.
–Eu já disse: ela me insultou. Nem ao menos disse o nome dela. Não gostei do que ela falou. Mas claramente ela pensa que temos alguma coisa juntos. Você precisa esclarecer essas coisas pra ela, não eu. Não fique irritado comigo por ela ter me chamado de "garota do dedo quebrado".
Rin bufou irritada, desviando o olhar para outro ponto na sala. Era tão difícil de entender que era um problema que ele precisava resolver sozinho, em uma conversa com a garota?
–O que você falou pra ela? – ele perguntou com a voz forçadamente calma.
–Não tive como responder. Eu fiquei chocada por ela ter me chamado dessa forma e depois falado um monte de coisas sobre você estar longe dela e eu ser culpada por isso. Eu não quis ouvir o resto.
Sesshoumaru a encarou longamente. Ela parecia mesmo chateada e com razão.
–O nome dela é Asano Sara e eu não tenho nada com ela. – ele falou com firmeza como se tivesse que se explicar.
Rin balançou a cabeça, incrédula. Ele não havia entendido o problema ainda.
–Sesshoumaru, não precisa se justificar para mim. Você tem que conversar com ela e explicar a situação. Depois eu vou exigir dela no mínimo um pedido de desculpas. Eu nunca fui tratada assim antes.
Ficaram os dois em silêncio.
–Não vai mesmo aceitar minha carona? – ele tentou de novo.
–Não precisa. – ela respondeu com um sorriso forçado – Eu posso ir sozinha.
Sesshoumaru a viu pegar a bolsa com o livro que ele havia ajudado a carregar pela manhã e colocar de forma transversal no corpo, fazendo uma careta com a mão machucada atrapalhando os movimentos.
–Até amanhã? – ela tentou ainda ser simpática para disfarçar a irritação que sentia dando um tom mais alegre à voz.
–Até. – ele também estava profundamente irritado, ainda mais que ela havia rejeitado a carona dele.
Viu-a passar por ele e escutou a porta abrir e fechar enquanto se concentrava em observar algum ponto na sala. Apoiou as costas na mesa onde tinha a plaquinha com o nome dele, cruzou os braços e suspirou pesadamente.
Nem um minuto depois, alguém bateu de leve na porta. Antes que pudesse responder, ele viu novamente o rosto sorridente de Rin aparecer timidamente na fresta aberta por ela.
–Eu posso mesmo pegar mais alguns biscoitinhos? Eu gostei muito deles.
Sesshoumaru balançou a cabeça para os lados para esconder um meio sorriso.
Sesshoumaru chegou em casa e fez o ritual de sempre: tirou os sapatos no genkan, pendurou o casaco, repassou mentalmente o que deveria fazer no dia seguinte e...
–Boa noite. – ouviu a voz do irmão mais novo.
O rapaz tinha os olhos num misto de alerta e espanto. Estava tão surpreso de ser recebido por alguém na própria casa que nem retribuiu a saudação.
Inuyasha estava parado no meio da sala de estar, olhando a TV com um controle na mão. Era algo que praticamente ninguém usava ali e devia estar há alguns meses completamente desligada.
–Quer ver alguma coisa? Um seriado? Um filme? – Inuyasha novamente perguntou. Parecia que ele tinha descoberto a pólvora: o rosto estava estranhamente animado.
–Não... – Sesshoumaru franziu a testa. Ele estava agindo assim desde a faculdade, principalmente depois da história da foto.
Viu o irmão caçula se acomodar no sofá enquanto cantarolava alguma canção que soava extremamente familiar. Lembrou-se de um dia que ouviu Rin cantando com a colega Kawashima Sango no karaoke.
–O que aconteceu desta vez? – ele perguntou extremamente desconfiado.
Inuyasha continuou cantarolando:
–Por que acha que aconteceu alguma coisa? Eu só estou assoviando.
–Você está assoviando Four Seasons.
–Ah, é? – ele sorria sugestivamente – E como você sabe o nome dessa música?
–Ela é antiga. – ele respondeu tranquilamente.
–Hmmm. – a interjeição soou tão cantarolada quanto a de Kagura.
Sesshoumaru preferiu se abster e seguiu em direção às escadas, sem ver se o avô estava jogando com a governanta no escritório como de costume. Ele não precisava conversar com o irmão no momento, já que tinha coisas mais importantes para pensar.
–Kagome vai convidar Rin pra passar um fim de semana na casa da família dela em Yokohama. – Inuyasha falou do sofá e fez o irmão parar nos primeiros degraus – Miroku e Sango também vão.
Sesshoumaru olhou por cima do ombro.
–Quer ir também? Kagura já disse que vai. – o mais novo insistiu na conversa.
Sesshoumaru franziu a testa. Provavelmente não seria um bom passeio se a antiga namorada levasse o atual namorado. Pela conversa que tivera com ela no outro dia, parecia que só viviam brigando e ele não queria mais discussões pelas próximas semanas.
–Não, obrigado. – ele respondeu num tom educado e viu o choque no rosto do irmão – Boa noite.
Terminou de subir as escadas e entrou no quarto. No silêncio, ele respirou fundo e soltou o ar dos pulmões.
Sentou na cama e repassou os acontecimentos do dia. O encontro de Rin na biblioteca. A foto dos dois circulando. A reunião que participou. A forma como ela ficou irritada depois do encontro com Asano Sara. A recusa da carona. Ele nem lembrava direito do que havia visto nas disciplinas, mas sabia tudo o que havia se passado na companhia de Rin.
Deitou as costas na cama e olhou o teto.
A manhã havia começado bem e o final da tarde foi extremamente decepcionante e cansativo. Pior ainda: ser recepcionado em casa por ninguém menos que o próprio irmão insinuando alguma coisa que ainda não entendia.
Afinal de contas, estava acontecendo alguma coisa que ele não sabia?
Depois de voltar do mercado, Rin guardou os poucos produtos que comprou e se sentou no sofá com uma tigela cheia de biscoitinhos de manteiga. O telefone fixo estava ali, em cima da mesa, e parecia que olhava para ela aguardando por uma ação. Ela um aparelho sem fio, com um único número de telefone gravado.
Precisava ligar para a família, mas não queria ter que explicar o que se passou nas últimas semanas na vida dela. Tinha receio que o irmão ganhasse o argumento de que a decisão de mudar para a capital tinha sido ruim.
É claro que não havia de todo ruim. Enquanto comia um biscoito, ela pensava no que havia acontecido nos últimos meses. Ela havia melhorado, não? Tinha a boa companhia de Miroku e Sango, de vez em quando de Kagome e Inuyasha... E tinha uma boa relação com Sesshoumaru.
A testa franziu ao relembrar os primeiros encontros e briguinhas infantis que tinha com ele, como ela tinha com Hakudoushi a chamando de baixinha apenas para irritá-la. Ele, mestre de kendo e praticante de artes marciais, era um palmo mais alto que ela. Sesshoumaru parecia ter a mesma altura que o irmão. Agora parecia ser um passado distante. Nem lembrava quando foi a última vez que ele a provocou.
Finalmente, dando um suspiro, ela pegou o fone e apertou uma única tecla.
Comeu mais um biscoito enquanto ouvia o telefone tocou uma, duas, três vezes. Na quarta alguém atendeu.
–Casa dos Nozomu.
A pessoa na linha não podia ver, mas ela deu um enorme sorriso.
–Oi, pai.
–Ah... há quanto tempo, hein? A nossa família já estava discutindo aqui que você estava já contaminada pelas ideias dos falsos progressistas da capital.
Imaginou o pai, um idoso, sentado na poltrona preferida da sala com algum livro em mãos. Já era o horário de ele fazer aquilo. Quando estava em casa, ela costumava conversar com ele sentada no chão ou em outra poltrona.
–Há-há-há. – ela deu uma risada propositalmente forçada – Eu estou aqui em casa todas as noites. Vocês podiam ter me ligado também.
–Você sabe que é brincadeira minha.
–É claro que sei. – ela tinha no colo a mão machucada, a tigela também apoiada nas pernas – Desculpe não ligar antes. Eu não consigo mais arranjar tempo pra estudar. Queria que o dia tivesse pelo menos 28 horas.
–Você me lembra quando eu estava na faculdade. E não tinha nada de telefone celular, internet, computador para me ajudar nos estudos. Eu não conseguia dormir mais de quatro horas por dia com tanta coisa pra fazer.
–Isso foi há quase um século, né, pai?
–Vai me pagar por esse comentário, mocinha.
Rin deu uma gargalhada e quase fez a tigela cair do apoio nas pernas. Apoiou a louça na mesinha, ao lado da base do telefone, e dobrou os joelhos, jogando as pernas para cima do sofá.
–Eu fui convidada pra participar da chefia do centro de Direito. – ela falou num fio de voz.
–Oh.
Houve um momento de silêncio na linha.
–Como você não continuou a falar a respeito, imagino que não tenha aceitado.
–Não. – ela respondeu num fio de voz. Como o pai dela a conhecia tão bem? – No começo eu participei, mas saí por conta do... tempo. E vejo agora que foi uma boa decisão. Eu mal consigo estudar nos últimos dias com tanta coisa pra fazer.
–E está tudo bem com você?
Novamente Rin olhou a mão com os dedos quebrados.
–Tudo ótimo, pai. – ela mentiu – E Hakudoushi? Ele tá bem?
