Nota da autora: Gente, não deu mesmo pra postar mais capítulos semana passada. Muito trabalho num período muito curto. E no fim de semana eu fico vendo e revendo Hanyo no Yashahime. Falando nisso... Que capítulo polêmico, né? Mas ali tudo tem um motivo, então a gente fica na ansiedade pra ver o que aconteceu com o Sesshoumaru. Espero que o povo não jogue hater nele até surgirem as explicações, hahaha.

Estão gostando da reescrita? Este capítulo é 90% novo. Comentem se gostarem. Cada review dá uma incentivada na revisão que vocês precisam ver.

Beijinhos e boa leitura!


UM CAMINHO PARA DOIS

CAPÍTULO 6

Um caminho entre o passado e o presente

Um provérbio chinês diz que quando não entendemos a dor, ela nos dilacera. Quando entendemos seus fins, ela renova e nos torna mais fortes.

Era justamente nessa parte de compreender os fins que se viu Rin olhando o teto do quarto naquela manhã. Não conseguira dormir direito. Também não sentia sono. Apenas mudava de posição enquanto pensava no que deixou para trás em Nagoya para evitar pensar na dor.

Parou de olhar o teto e ficou de lado. O cabelo estava jogado como uma cortina na cama.

Apertou os dedos no lençol.

Sabia exatamente por que estava daquela forma.

Olhou o relógio digital no criado mudo. Ultimamente contava mais com ele para acordar cedo. Ela tinha raiva dos dias com seminários pela manhã.

Suspirou e resolveu levantar-se. Eram quase sete da manhã. Ela se levantou para se arrumar porque era necessário, por isso tentou ignorar o frio do piso ao fazer contato com o pé descalço.

Precisava fazer alguma coisa no dia, algo que fosse produtivo.

Andou até a janela do quarto e afastou as cortinas. Depois abriu completamente o vidro e deixou o vento frio da manhã entrar no quarto. Tokyo ainda estava com um pouco de neblina do tempo fechado. O inverno estava quase acabando, mas a paisagem continuava a mesma do início da estação.

Combina bem com o dia, ela pensou.

Fechou a janela e as cortinas.

Lembrou-se do rosto de Akihito, o ex-noivo, e do que estava fazendo ali.

Depois, por conta do cansaço provocado pela falta de sono, ela voltou à cama e fechou os olhos.

Aki... – ela murmurou num suspiro.

Naquele dia completava um ano do falecimento dele.


A tarde nos corredores da Universidades eram sempre movimentados.

Rin chegou apenas naquele horário ainda sentindo sono e muito cansaço pela noite mal dormida. A manhã não foi diferente – ela só conseguiu dormir cerca de duas horas.

Talvez ela pudesse encontrar algum conhecido da turma que a ajudasse com as notas da disciplina da parte da manhã. Só esperava não encontrar Sesshoumaru enquanto ele ainda tivesse que se explicar para aquela namorada ou ex-namorada dele.

Fazia um bom tempo que o ignorava por conta da situação. Ela explicou que não queria se envolver naquele tipo de problema, seja lá qual fosse, entre os dois.

Parou no meio do corredor para bocejar. Deveria ter ficado em casa mesmo. O sono ia acabar com as forças dela.

Andou mais um pouco até encontrar o auditório onde seria o próximo seminário.

–Está procurando por alguém, Rin-chan? – Sango foi a primeira a encontrá-la no local.

–Ah, oi, Sango. – ela começou num bocejo – Eu ia pegar as anotações de alguém que tenha vindo pela parte da manhã. Mas posso pegar também de vocês. Escreveram alguma coisa desta vez?

Sango ignorou a pergunta final para observar a amiga.

–Nossa, você está... – ela observou bem as feições de Rin. Olheiras mais profundas e olhos vermelhos – Você está bem?

Rin balançou a cabeça para os lados.

–Não consegui dormir nada hoje. E de manhã consegui dormir só um pouco até meu vizinho me acordar com um sapateado no andar de cima.

Aquilo foi dito para fazer qualquer um rir, mas Sango não achou graça. Rin percebeu que era porque ela deveria estar com um aspecto muito ruim.

–Aconteceu alguma coisa pra deixar você assim?

Rin apenas ficou em silêncio e não respondeu, dando um suspiro.

–Se quiser conversar comigo, fique à vontade. – Sango deu um sorriso – Eu já percebi que não gosta de falar sobre si mesma, mas é sempre bom ter um ouvido amigo pra escutar o que incomoda.

Rin continuou calada e desviou o olhar, ajeitando o chapéu que usava com a mão esquerda. A direita estava novamente à mostra, como que numa expectativa pela retirada da órtese nos próximos dias.

Sango a olhou como se estivesse analisando um quadro. A amiga estava com o habitual chapéu que cobria parte da testa e com um casaco que passava por um vestido de botões, mas ela conseguia ver a barra de uma saia florida que quase alcançava as botas de inverno.

–O que foi? perguntou, totalmente sem jeito por estar sendo encarada daquele modo.

–É que... – Sango se aproximou e retirou a boina da cabeça de Rin, sob os protestos dela.

EEEEI! Não, Sango! Para! – por que as pessoas em Tokyo tinham aquela estranha necessidade de se aproximar dos outros sem permissão?

–Calma... É uma coisa que quero ver... - ela fez com que a garota se virasse – Não se mexa...

Sango arrumava agilmente o cabelo dela. Pegou o prendedor que usava e o separou para usá-lo no cabelo de Rin. Fez um rabo-de-cavalo e o prendeu quase no alto da cabeça.

–Ficou bom também. - Sango comentou ao observar o rosto da amiga um pouco de longe, como que tentando ver melhor o resultado.

Escutou Rin dar um gemido de angústia e fingiu que não ouviu.

–Você usa muita roupa, Rin-chan. Tire esse casaco e fique só com a blusa, vamos... Nem está frio hoje! – começou a trabalhar da mesma forma, praticamente forçando a garota a tirar a bolsa e o casaco.

–Mas... – Rin começou o protesto numa voz quase infantil – Eu já estou acostumada com essas roupas.

–Tokyo faz já está esquentando agora com o fim do inverno, dá pra você ficar só com essa blusa em sala – apontou para a peça branca que ela usava e depois para a saia florida – Está combinando mesmo com a saia, por sinal, achei incrível você estar usando uma hoje. E o cabelo também está bonito assim.

Por fim, colocou a bolsa transversal da amiga com extremo cuidado, como já estava fazendo há dias por conta da mão machucada de Rin.

–Mas... Mas... – ela estava quase chorando tentando mexer a franja como se quisesse esconder a testa – Eu estou diferente.

A amiga colocou uma das mãos no ombro dela e deu um sorriso.

–Você está linda, como sempre. Agora vá procurar Sesshoumaru-sama, ele deve ter sido o único a anotar as coisas. Depois me conte o que ele achou do seu visual... Ah, e eu fico com isso e devolvo no fim do dia! – Sango colocou no braço o casaco e brincou com o chapéu no dedo. Depois deu um tapinha no ombro dela e depois saiu correndo, acenando antes de ir embora.

Rin olhou surpresa Sango se distanciar como se não tivesse mais aulas depois. Provavelmente ia namorar escondido Miroku, como se ninguém mais soubesse que estavam juntos.

O irmão tinha razão em dizer que o povo da capital era estranho.


Sesshoumaru deu um suspiro pesado ao lembrar de um incidente que tivera pela manhã com Miroku.

Havia discutido com ele sobre a quantidade absurda de postagens sobre as roupas de Rin no grupo do canal de comunicação Gossip Cop. O outro disse que era o tópico mais aguardado do dia e era completamente livre de qualquer tipo de malícia, pois todos os participantes sempre elogiavam muito o vestuário da garota.

Acertou então com ele que conversaria com Rin para saber se ela permitia aquele tipo de coisa. Havia ficado evidente dias antes que ela particularmente não gostava que tirassem fotos sem autorização.

Sesshoumaru percebeu também que ela o evitava de todas as formas possíveis, incluindo pegar as anotações dos assuntos discutidos em sala. Ele sabia que deveria, mas ainda não havia sido possível conversar com Sara sobre as insinuações que fizera a Rin no primeiro encontro entre elas.

Ao se aproximar do auditório para a próxima disciplina, ele passou pelo quadro de avisos afixado próximo à porta e viu uma garota que estava quase dormindo em pé. Sesshoumaru parou porque havia alguma coisa na pessoa que ele reconhecia.

Voltou alguns passos, aproximou-se mais e resolveu arriscar:

–Nozomu?

A figura virou o rosto e os olhos dele se encontraram com os brilhantes olhos castanhos de Rin, com os cabelos presos, graciosamente usando uma saia florida e uma blusa branca que delineavam bem o seu corpo. A órtese ainda estava ali, mas nem isso impediu de Sesshoumaru encará-la quase boquiaberto, até se dar conta de que ela ficava sem jeito.

–Ah... Desculpe. Achei que fosse outra pessoa. – virou-se e começou a se afastar para entrar novamente em sala.

Uma veia saltou na testa de Rin e ela gritou:

EI, EI! SOU EU!

Sesshoumaru parou novamente e olhou para trás.

–Você adora começar o dia me irritando, né? – ela perguntou, cruzando os braços cuidadosamente.

–"Começar o dia"? – ele repetiu com uma sobrancelha arqueada – Estamos na metade da tarde.

–Ah, é mesmo. – ela coçou a cabeça e discretamente bocejou.

Sesshoumaru levou um tempo para observar que ela estava com um aspecto cansado, com olheiras profundas.

–Você está bem?

Rin balançou a cabeça negativamente.

–Você está praticamente dormindo em pé.

–Não dormi hoje. Começo a achar que foi um erro vir aqui. – ela ajeitou uma mecha de cabelo na testa como se quisesse esconder o rosto ou que isso tivesse a mesma função do chapéu.

–Está sem o seu chapéu. – ele apontou.

–Ah... – ela passou a mão na cabeça e deu um suspiro, soltando a cabeleira negra com um movimento delicado – Sango-chan pegou meu casaco e uma boina e prendeu meu cabelo.

O rapaz ficou em silêncio, como se a analisasse. Ela estava realmente... diferente daquela forma.

–Aconteceu alguma coisa? – ela perguntou.

–Nada. – ele respondeu dando de ombros – A não ser que conte o fato de ainda estar me evitando sem motivo.

Os dois entraram juntos na sala e ele a viu sentar-se no lugar de sempre – na fileira quase no topo do auditório circular. Como alguém como ela poderia gostar de ficar ali? Ela conseguia enxergar e escutar o professor no palco daquele ponto?

–Eu já expliquei o motivo. – ela apoiou o cotovelo na mesinha e o rosto na mão – Deveria já ter entendido.

–Eu entendo, não quer dizer que eu aceite e...

Parou de falar quando a viu fechar os olhos, mão ainda apoiando o rosto. Ela estava dormindo.

Sesshoumaru olhou para um lado. Olhou para o outro. Havia alguns alunos em sala, mas ele procurava alguém em especial.

Ao olhar para trás, viu Houshi Miroku com um celular preparado em mãos e um sorriso estúpido no rosto.

–Houshi. – ele falou num tom suficiente para que ele ouvisse – Nem pense.

A resposta dele foi um sinal positivo com a mão direita enquanto a outra segurava o celular.

–Houshi. – Sesshoumaru foi mais uma vez incisivo – Não.

O colega baixou o celular e cruzou os braços como uma criancinha.

–Venha me ajudar aqui, por favor. – ele pediu.

Miroku piscou e saiu da fileira onde estava para se aproximar de Sesshoumaru. Rin ainda cochilava.

–Ela está dormindo mesmo. – ele observou, guardando o celular – Será que tá doente?

–Não tire fotos dela assim. Ela não vai gostar. – Sesshoumaru o alertou e abaixou-se, apoiando um joelho no chão. Aproximou uma mão de Rin e a sacudiu de leve – Nozomu?

Rin despertou e olhou surpresa para os dois, esfregando os olhos que ficaram ainda mais vermelhos de sonolência.

–Desculpem, acho que vou pra casa. – ela começou num tom baixo como se estivesse com vergonha – Eu não vou aproveitar a aula assim.

–Aconteceu alguma coisa, Rin-chan? – Miroku também ficou sob um joelho perto dela.

–Só não consegui dormir hoje. Passei a noite em branco. – ela bocejou discretamente.

–Você vai conseguir voltar sozinha assim? – Sesshoumaru perguntou.

–Acho que siiim... – ela falou e, à medida que pronunciava a última palavra, voltava a dormir de novo.

Sesshoumaru e Miroku se entreolharam e depois a viram acordar novamente e balançar a cabeça violentamente para os lados para ficar desperta.

–Desculpa. – ela murmurou envergonhada.

-Venha. – Sesshoumaru se levantou e pegou a bolsa transversal dela – Você pode dormir no sofá do Centro. Houshi, venha comigo.

Rin estava tão cansada que não teve forças para protestar contra aquilo. Simplesmente se levantou e começou a acompanhar lentamente os dois amigos na direção da sala onde Sesshoumaru agora trabalhava.

–Por que Rin-chan não dormiu hoje? – Miroku perguntou curiosamente.

A garota lembrou-se do rosto do falecido namorado e pensou no quão rápido o tempo passava.

–Estava pensando em algumas coisas.

–Caramba, é algo grave? Geralmente quando eu penso em algumas coisas desse nível acabo dormindo pra valer. Daí não penso em mais nada. – Miroku deu um sorriso malandro.

–Típico. – Sesshoumaru murmurou.

Ao chegarem na frente do centro, Sesshoumaru abriu a porta com a chave, acendeu as luzes e deu passagem para os dois colegas.

–Você quer dormir no sofá ou no futon?

–Vocês têm um futon aqui? Isso aqui vai ser um resort? – Miroku brincou tirando fotos do local – Olha, tem até café e biscoitinhos de manteiga.

–Acho que prefiro o sofá. – Rin abafou mais uma vez um bocejo e caminhou direto até o sofá, sentando-se de um vez nele.

–Houshi, abra aquele armário e pegue um travesseiro e lençóis limpos. – Sesshoumaru pediu enquanto pousava a bolsa de Rin em cima de uma mesa pequena perto de uma estante.

Miroku retornou com os itens pedidos e esperou pelo comando de Sesshoumaru.

–Levante-se um instante. – ele pediu a Rin para poder colocar um lençol no sofá e jogar o travesseiro.

–Obrigada. – ela murmurou, finalmente sentando. Ela tirou as botas usando apenas a mão não machucada e puxou as pernas para cima do sofá, tudo sob um olhar atento dos dois.

Por último, Sesshoumaru colocou um outro lençol em cima dela.

–Pode ficar aqui até o final do dia. Quando terminar a aula, voltamos aqui. Pode ser?

–Vocês podem me dar as anotações depois? – ela murmurou enquanto forçava os olhos a ficarem abertos – Eu preciso...

–Todas as notas que você quiser, Rin-chan. – Miroku colocou um joelho no chão – Eu volto aqui depois para acordá-la com um beijo.

Um pé encostou na cabeça dele e o fez cair de cara no chão. Era Sesshoumaru impedindo-o de falar mais alguma bobagem.

–Vamos, Houshi. – ele tinha uma aura assustadoramente sombria ao ficar com o pé ainda levantado a ponto de ser uma ameaça para Miroku naquela posição – Vamos deixá-la dormindo sossegada.

Rin arregalou o olhar por conta da última cena, mas depois a expressão suavizou.

–Obrigada, pessoal. – ela deu um sorriso.

A última coisa que viu foi Sesshoumaru empurrando Miroku para fora da sala com um soco nas costas.


Nozomu?

A voz calma e suave chamou Rin mais duas vezes antes de ela finalmente abrir os olhos.

Deu de cara com Sesshoumaru e se levantou abruptamente, piscando para entender onde estava.

–Ah. Eu dormi aqui. – ela comentou.

–Você não lembrava? – ele franziu a testa.

Rin esfregou os olhos e deu um sorriso ao se espreguiçar.

–Claro que sim.

–Os seus amigos estão aí fora e querem conversar com você. – ele indicou com um movimento de cabeça a porta – Eles podem entrar ou prefere encontrá-los lá fora?

Rin olhou na direção indicada. Miroku já devia estar preparado com uma câmera para tirar fotos dela, então ela precisava frustrar os planos dele:

–Miroku-sama não disse que vinha me acordar com um beijo? – ela falou num tom forte a ponto de ser ouvido lá fora.

Escutou um tapa ruidoso e já sabia o que havia acontecido.

–Eles podem entrar sim. Quer que eu arrume agora isso? – ela pegou o travesseiro e o lençol.

–Não precisa, eu arrumo depois. – ele levantou-se e dirigiu-se até a porta, abrindo e dando passagem ao irmão, Kagome, Sango e Miroku, este com uma marca vermelha de tapa no rosto.

–Ora, ora... – Inuyasha olhava para os lados – Parece um resort aqui.

–Olha, Inuyasha! Biscoitinhos de manteiga! – Kagome apontou para a mesinha de café quase ao lado do sofá.

Sesshoumaru, ainda perto da porta, viu Rin e Inuyasha correrem ao mesmo tempo em direção ao pote. Como estava mais perto, Rin o pegou primeiro e encheu a boca de biscoitos. Inuyasha fez o mesmo logo em seguida.

–O que acabou de acontecer? – Kagome murmurou boquiaberta.

–Parecem crianças. – Miroku rebateu piscando incrédulo.

–Parece que Rin-chan está mais descansada. – Sango arriscou. Os braços estavam para trás segurando o casaco e o chapéu da amiga.

A outra limpou os farelos da boca e deu um sorriso.

–Sim. Mas eu não deveria mesmo ter vindo hoje. Imagine se não tivesse uma sala assim aqui.

–Você tá bem para sair conosco? – Sango devolveu os pertences dela.

–Aonde vamos? – ela sentou-se no sofá para calçar as botas.

–Comer alguma coisa. – Miroku respondeu pela namorada, escondendo a boca cheia de biscoitos. Ele e Inuyasha estavam na disputa para ver quem comia mais rápido e o pote estava quase vazio.

–Vocês já acabaram tudo? – Rin exclamou num tom extremamente indignado.

–A gente adora isso. – eles falaram ao mesmo tempo.

Sesshoumaru apenas observava a cena toda em silêncio. Ao ver a discussão sobre quem comeria os últimos biscoitos de manteiga, ele deu um suspiro. Mantinha o rosto sério ao balançar discretamente a cabeça.

–Vamos logo comer. – Sango ajudou Rin a colocar o chapéu e o casaco para que ela não movesse a mão, ajeitando por fim a alça da bolsa no ombro – Conheço um café muito bom em Shimokitazawa. Você vai gostar de lá.

–Ah, eu sei qual é! – Kagome deu pulinhos de alegria – Eu já pedi pra Inuyasha me levar lá, mas ele sempre diz que é muito longe.

Sesshoumaru bufou em uma ironia e murmurou um "típico" para o irmão, que estreitou os olhos para ele.

–Hmm... ok. – Rin finalmente concordou.

–Você também vai, Sesshoumaru? – o irmão perguntou tirar os últimos farelos da boca.

–Sim. – ele respondeu enquanto estalava o pescoço – Eu também gosto de lá.


O grupo que chegou ao Café Stay Happy em Shimokitazawa procurou a maior mesa com kotatsu, a manta aquecedora, para sentar, comer e conversar.

–Aqui parece ser bem agradável. – Rin comentou olhando os detalhes do ambiente, assim como tinha feito no restaurante escolhido por Sesshoumaru algumas semanas antes.

Kagome e Inuyasha se sentaram de um lado acompanhados pelo irmão mais velho, enquanto Rin se sentava ao lado de Miroku e Sango.

–Aqui não vai ter Gossip Cop, né? – Rin perguntou ao amigo.

–Você tem minha palavra. – ele ergueu uma mão e fechou os olhos em oração como se fosse um monge.

Todos fizeram os pedidos, comeram, beberam, conversaram sobre as aulas, o curso, sobre a mão de Rin. Ela explicou que na outra semana tiraria a órtese e que não dependeria tanto deles para as anotações.

–Assim eu deixo um pouco Sesshoumaru em paz. – ela deu um sorriso.

–Ah, mas ele não deve se importar tanto assim. – Miroku comentou com um sorriso estúpido.

–De fato, eu me importo sim. – o rapaz falou enquanto sorvia um chá verde kinako – Ela vem atrás de mim porque vocês dois nunca podem ajudar.

O casal deu uma risada sem graça.

–Era por causa disso que você estava dormindo no sofá? – Inuyasha perguntou colocando as mãos atrás da cabeça para relaxar – Os dedos estão doendo ainda e isso incomoda?

–Um pouco. – ela tentou mover a mão machucada. Os dedos protestaram de dor – Vou fazer fisioterapia depois.

–Quando o Sesshoumaru quebrou minha mão acontecia isso. Nos primeiros dias foi horrível dormir. Nos últimos eu tinha reflexos de querer estalar os dedos durante o sono e acordava com dor.

Quase todos à mesa arregalaram os olhos.

–Você já quebrou a mão de Inuyasha? – Kagome perguntou a Sesshoumaru.

–Ele já quebrou meu braço, então é o mínimo que eu podia fazer para retribuir. – o mais velho respondeu muito tranquilamente, olhos fechados enquanto bebia o chá.

–Caramba, vocês parecem aqueles irmãos cachorros do conto do Japão feudal. – Miroku apontou enquanto comia uma torta de chocolate.

Enquanto Kagome discutia com Sesshoumaru e reclamava das brigas entre irmãos com o namorado, recebendo também apoio e comentários de Miroku, Sango discretamente começou a conversar com Rin:

–Está tudo bem mesmo com você?

A pergunta veio num tom suave e recebeu um sorriso de retorno.

–Foi por isso que você não dormiu? Por causa da mão?

Rin negou com a cabeça. O semblante ficou menos alegre e suave.

–Eu não consegui parar de pensar em uma pessoa. – ela começou lentamente enquanto brincava com a colher da taça vazia de creme de frutas que pedira – Completou hoje um ano que ele faleceu.

–Oh. – Sango piscou – Eu sinto muito, Rin-chan. Ele era parente seu?

–Não. – ela balançou a cabeça e os olhos fixaram no nada – Ele era meu noivo.

Sango empalideceu.

–Ah... – ela murmurou num fio de voz – Eu sinto muito mesmo. De verdade.

Era óbvio que sabia da tal aposta que estavam fazendo e dos planos idiotas dos amigos para que Rin e Sesshoumaru formassem um casal e que Miroku e Inuyasha planejavam alguma coisa em Yokohama.

Mas agora, depois de ouvir Rin...

–Ah, Rin-chan. – Miroku parou de se intrometer na discussão entre os irmãos ao lembrar de algo que parecia importante – Quer ir a Yokohama este fim de semana? Kagome tem uma casa lá.

–Minha família tem uma casa lá. – a garota corrigiu.

–Inuyasha e Kagome vão, além de Kagura e o namorado dela. E, claro, Sangozinha e eu. – os dentes brilharam com o sorriso que ele deu.

–Hm... – ela arqueou uma sobrancelha e olhou para Sesshoumaru – E você não vai?

O rapaz balançou a cabeça negativamente.

–Hmm... e por que vocês querem ir este fim de semana? – ela apoiou o rosto na mão não quebrada – Vocês estudaram muito e estão bem nas disciplinas? Porque no sábado e no domingo eu vou estudar pras provas da semana que vem.

–Provas? – Sango repetiu em choque.

–Agora? – Miroku completou.

–Sim. – Rin e Sesshoumaru falaram ao mesmo tempo.

–Ah... então... – Inuyasha coçou a cabeça sem graça – Quer deixar pra outra vez? Depois das provas?

–Depois das provas seria excelente. – Rin deu um sorriso.

–A gente convida também o Kohaku. – Miroku falou com um sorriso malandro direcionado a Inuyasha, que rangeu os dentes ao entender qual era a provocação.

Sango encarou o rapaz ao lado dela boquiaberta. Parecia indignada.

–Quem é Kohaku? – Rin perguntou. Discretamente Sesshoumaru arqueou uma sobrancelha.

–É meu irmão, Rin-chan. – a garota tentava disfarçar a raiva. Era errado o que estavam fazendo. Rin não merecia ser o ponto principal daquela aposta. Principalmente agora que Sango sabia que ela tinha motivos para não se envolver com ninguém no momento.

–Você tem um irmão? Que legal. – ela deu um sorriso – Ele é mais novo ou mais velho que você?

–É meu irmão caçula. Mas apenas dois anos mais novo. – Sango parecia animada ao falar do rapaz assim como Rin falava de Hakudoushi.

–Ah, podemos chamar o Takeda. – Inuyasha contra-atacou.

–Quem é Takeda? – Rin parecia interessada em conhecer as pessoas, mas no fundo perguntava apenas por educação.

De novo, Sesshoumaru arqueou as sobrancelhas e se limitou a escutar a conversa.

–Ele é o maior playboy do curso de Direito, Rin-chan. – Miroku colocou um pedaço do bolo de chocolate com ingredientes orgânicos, olhos fechados de indignação – Eu fico admirado de Inuyasha e Kagome-chan quererem apresentar alguém como ele para Rin-chan.

–Hmm... E por que exatamente vocês querem me apresentar o irmão de Sango-chan sem ela saber desse convite e o maior playboy do curso de Direito enquanto conheço os pontos turísticos de Yokohama? – ela finalmente perguntou.

O choque apareceu nos rostos azulados de Inuyasha, Kagome e Miroku, cujos olhos viraram riscos verticais. Sesshoumaru se limitou a dar um discreto sorriso e Sango balançou a cabeça para os lados.

–Menina perceptiva. – o irmão mais velho se limitou a comentar.

–Desculpe, Rin-chan. – Sango puxava a orelha de Miroku com violência para dar uma lição – Eu não sei o que deu em Houshi-sama pra dizer uma coisa dessas. Kohaku-kun nem deve saber sobre essa viagem ou que Kagome-chan tem uma casa por lá.

–Inuyasha...! – Kagome fez o mesmo com a orelha do namorado e ele abafou um grito de dor.

Enquanto os casais discutiam, Rin trocou um olhar com Sesshoumaru. Este se limitou a balançar a cabeça discretamente para os lados, como se indicasse que também não concordava com a ideia deles.

–Quer voltar comigo para casa? – ele perguntou.

–Sim. – ela respondeu de imediato e ele arqueou uma sobrancelha.

–Oh? – ele estranhou – Sem negar a carona como tem feito nos últimos dias?

–Estou cansada demais pra negar uma carona pra casa. – ela riu discretamente – Acho que vou simplesmente dormir direto até amanhã.

Ao lado dos dois, os casais ainda discutiam falando sobre "ideias estúpidas", "Kohaku", "Takeda" isso, "Takeda" aquilo. Era evidente que falavam sobre a tal viagem para Yokohama.

–Ah, obrigada. – ela falou subitamente, os olhos castanhos arregalados como se lembrasse de algo importante.

–Pelo quê? – ele perguntou.

–Por aquelas horas de sono na sua sala. Eu teria dormido durante a aula mesmo se eu não conseguisse voltar de metrô.

Ficaram em silêncio por alguns segundos.

–Disponha. – ele falou finalmente.


Do lado de fora, Rin e Sango aguardavam os demais terminarem de pagar a conta para voltarem para casa.

–Desculpe pelo que aconteceu. – Sango esfregou a têmpora – Miroku às vezes tem essas ideias estranhas. Não sabia que ele queria levar Kohaku pra Yokohama.

–Deu pra perceber isso. – Rin deu um sorriso. As mãos estavam escondidas dentro do casaco por causa do frio – Eu percebi o plano deles de me apresentar aos dois.

Ficaram as duas alguns instantes em silêncio.

–É bem estranho vocês fazerem isso aqui na capital. Parece coisa de novela. Eu nem estou interessada em um relacionamento agora depois de tudo o que passei. – Rin chutou uma pedra imaginária. Estava ficando frio para ela naquele instante.

–Eu imagino. Desculpe por Miroku. Vou conversar com ele.

–Não. Não precisa. – ela deu um sorriso amigável – Eu achei divertido o que tentaram fazer. E a reação de vocês duas. Pode ficar tranquila.

Sango mordeu o lábio inferior em hesitação. O que a amiga faria se soubesse da tal aposta da equipe do Gossip Cop?

O restante do grupo saiu do café já equipados para o frio da noite.

–Obrigada por pagar, Miroku-sama. – Rin ficou se balançando alegremente na ponta dos pés. Tinha sido um oferecimento por parte dele por conta da confusão que ele arrumou em relação a Yokohama.

–De nada, Rin-chan. – o rapaz deu um sorriso sem graça.

Em poucos minutos, os dois casais se despediram e entraram nos respectivos veículos. Rin acenou a todos até que os carros sumiram e ficou a sós com Sesshoumaru, que a levaria para casa.

–Podemos ir? – ele perguntou.

A garota disfarçou um bocejo e esfregou um olho.

–Sim, por favor.

Sesshoumaru a guiou até o carro dele, intencionalmente desta vez colocando uma mão no fim das costas dela. Abriu a porta do veículo, ajudou-a a colocar o cinto de segurança e jogou a bolsa no banco de trás.

Os primeiros minutos depois de ganharem as ruas na direção do bairro de Rin foram em silêncio. Sesshoumaru pensou até que ela tinha voltado a dormir, mas, ao olhar discretamente para o lado, percebeu que ela observava a paisagem em movimento pela janela.

–Você já conversou com a sua namorada sobre aquele incidente? – ela perguntou de repente ao perceber que ele queria falar algo.

Era claro que ela perguntaria sobre isso. E ainda mais daquela forma.

–Eu já falei que ela não é minha namorada.

–Hmm. – Rin o olhou de soslaio – Não foi o que deu a entender naquele dia.

Sesshoumaru travou o maxilar.

A garota deu um suspiro pesado.

–Olha, eu não quero me envolver nessas situações. Só espero não ser seguida por gente ciumenta nos corredores. Se vocês estão ou estiveram juntos, não é da minha conta.

–Nós não estamos juntos. – ele foi incisivo.

–Já falei que não me interessa. – Rin deu de ombros.

Ficaram novamente em silêncio.

–Você não ia mudar de apartamento? – ele resolveu mudar de assunto sem tirar os olhos da direção.

–Tive que parar de procurar por causa do acidente, mas vou volto às buscas assim que tirar isso aqui. – ela ergueu a mão com a órtese, mesmo ele não olhasse na direção dela.

–O lugar não é bom?

É bom, mas...

Rin ficou em silêncio.

–O quê? – ele perguntou curioso diante do receio dela, girando o volante para fazer uma curva.

–Tem um fantasma lá! – ela se encolheu de medo, olhos fechados como se imaginasse a figura ali na frente dela.

Sesshoumaru arqueou uma sobrancelha, incrédulo.

–Oh... Sério? – era evidente que ele não acreditava naquelas coisas.

–É verdade! Uma mulher fica assombrando o lugar, joga minhas roupas no chão, fecha e abre janelas e a porta da varanda... Eu não fico mais nem um mês lá. – uma cachoeira de lágrimas escorreu pelo rosto dela.

O carro estacionou em frente ao prédio onde ela morava e Sesshoumaru finalmente virou o rosto para observá-la.

–Um fantasma, Nozomu?

–Uma mulher fantasma. – ela franziu as sobrancelhas e o fitou com raiva por conta da incredulidade dele – Mas hoje estou tão cansada que vou ignorá-la.

Sesshoumaru balançou a cabeça para os lados.

–Boa noite, Nozomu.

A garota retribuiu com um sorriso.

–Até amanhã? – ele tentou.

–Se tudo der certo, sim.

O rapaz a ajudou a tirar o cinto e destravou a porta. Depois pegou o material no banco de trás e entregou para a dona.

–Tchauzinho. – ela acenou e saiu.

Rin sentiu o olhar dele até na hora de entrar no prédio. Ao digitar o código do porta principal e abri-la, virou-se para vê-lo aguardando do carro, vidro abaixado, a entrada dela no prédio.

Deu mais um aceno e o viu subir o vidro e depois ir embora.

–Que estranho... por que ele ficou esperando? – ela se perguntou, confusa, e depois deu de ombros.

Subiu até o terceiro andar pelo elevador, a cada instante bocejando mais forte. Dentro do apartamento, pendurou a bolsa transversal e o casaco, tomando mais tempo para tirar as botas de frio.

Não iria jantar naquela noite. Havia comido bem no café. Foi um ótimo local para ir com os amigos. Será que em Yokohama seria daquela forma também?

Estava disposta a fazer aquele passeio, mesmo que tivesse estragado o plano inicial de ter um encontro com algum conhecido do grupo.

Entrou no quarto e jogou-se de bruços na cama.

–Ah, minha cama... – ela murmurou contra o colchão.

Não havia dormido tão mal no sofá naquela tarde, mas nada se comparava ao próprio quarto e ao conforto da cama.

Virou-se de costas e encarou o teto, jogando um braço em cima da testa.

Havia sido um dia muito ruim, mas aquele início de noite, com aquela saída junto aos amigos para a cafeteria, superou as expectativas de como seria aquele dia, afinal de contas.

Deu uma gargalhada ao lembrar da expressão de choque de Miroku e Inuyasha depois do comentário dela sobre as pessoas que eles convidariam para Yokohama.

Sim, seria divertido passear com eles e mudar um pouco a rotina para esquecer a tristeza. Ela tinha mudado para Tokyo por esse motivo, não?