Nota da autora: Mais um capítulo para alegrar depois do episódio bomba de HnY.

Ah, e coloquei um pouco da minha própria experiência procurando apartamentos nesta história... Tive que mudar de cidade por causa de um novo emprego e encontrei algumas coisas parecidas com o que vocês vão ver por aqui.

Espero que gostem e que possam comentar. Foi algo escrito com carinho e 95% diferente do que foi publicado anteriormente.

Obrigada pelos comentários no capítulo passado. Cada um deles deu um enorme incentivo pra continuar a publicar!

Boa leitura!


UM CAMINHO PARA DOIS

CAPÍTULO 7

O caminho que nos separa

Nozomu Rin tentava escolher uma roupa apresentável para não sentir nem frio e nem calor naquele dia.

Na frente do espelho, ela colocava um cabide com as roupas assinadas pelo primo Jakotsu. Era uma blusa marrom claro de mangas compridas e botões frontais e uma saia preta reta que ia até a altura do joelho e tinha um palmo de barra plissada.

Parecia respeitável para conseguir alugar um apartamento.

Sem provas na faculdade e sem a órtese nos dois dedos da mão direita há duas semanas, ela reservava agora o tempo livre para procurar um lugar mais próximo da universidade para viver.

Não havia tido sucesso antes do acidente, mas desta vez ela tinha Miroku e Sango para ajudá-la na tarefa.

-Ah, as horas! – ela lembrou-se do horário marcado e tratou de se arrumar depressa. Em pouco tempo eles estariam ali.

Depois de vestir-se, olhou o cabelo e deu um suspiro.

Não precisava usar um chapéu, mas sentia falta de usar um. O primo disse que aquele modelo não precisava de boina ou qualquer outro acessório do tipo.

Jogou uma parte do cabelo para o lado esquerdo, olhando com atenção para uma pequena falha que tinha naquela região, resultado de um corte provocado por um acidente no ano anterior em Nagoya.

-Pronto. – disse para si mesma, dando um sorriso para a própria imagem no espelho.

Ao sair do quarto, ela passou correndo pela sala quase de olhos fechados, como se temesse encontrar alguém ou alguma coisa por ali.

Calçou rápido as botas e pegou uma bolsa mais social pendurada num suporte pregado na parede dentro do genkan.

Fechou o apartamento e desceu pelo elevador. Esperaria Sango e Miroku na frente do apartamento.

Não esperou muito até ela reconhecer o carro do amigo se aproximando do prédio. Acenou alegremente e, segundos depois de ele parar próximo, ela já estava com eles no carro.

-Boa tarde, pessoal.

-Boa tarde, Rin-chan. – Sango a saudou.

-Tudo bem, Rin? – Miroku perguntou ao começar a transitar novamente pelas ruas.

-Sim. Uma maravilha agora que estou sem aquele negócio na mão. – ela respondeu apresentando a mão complemente aberta.

-Está com alguma dor? Fiquei preocupada com o que Inuyasha falou naquele dia na cafeteria. – Sango quis saber.

-Eu sinto um pouco, mas o médico disse que era normal. Estou fazendo alguns exercícios que ele me ensinou e vou começar fisioterapia na próxima semana.

-Que bom que deu tudo certo. Eu já estava cansado de ter que escrever as notas e te passar. – Miroku comentou casualmente.

-Você não escrevia nada, Miroku-sama. E a pouca coisa que conseguia anotar estava tudo errada.

O rapaz fingiu evidente choque.

-Qual é o primeiro endereço? – Sango perguntou para Rin e a viu tirar um caderninho da bolsa – Que roupa linda. É do seu primo também?

-Tudo que eu uso é dele. E se eu usar outra coisa, ele pode ter um ataque.

-Eu adoraria conhecê-lo.

-Espero que um dia vocês possam conhecer Nagoya, passar alguns dias comigo lá. – Rin tinha um ar sonhador – Sinto saudades das tardes vendo o pôr-do-sol no parque do castelo.

-Um dia conheceremos, um dia... – Miroku comentou.

-O primeiro lugar fica em Nippori. – ela leu na nota – Depois vi os anúncios de apartamentos em Waseda, Nerimatakanodai e Shimokitazawa.

-Nippori é perto de Akihabara. – Miroku franziu a testa – Eu acho que nunca vi apartamentos decentes por lá. Geralmente há cubículos.

O rosto de Rin ficou azul de medo.

-Será que são aqueles lugares com só um lugar pra colocar a cama? – ela pegou uma caneta para riscar o lugar.

-Vamos dar uma olhada. – Sango tentou ser mais otimista – Não leve a sério os comentários de Houshi. Pode ser que não seja nada disso que ele esteja falando.

-Verdade. – Rin concordou, voltando a guardar a caneta.

Deu as direções a Miroku e continuou a conversar com os dois sobre o dia-a-dia deles na Universidade.


Nippori

O minúsculo apartamento em Nippori tinha apenas um cômodo – era quarto (no caso, uma cama) no mesmo ambiente da cozinha e da sala. O banheiro e o toalete ficavam do lado direito da cama, cada um em box de vidro fumê, separados, e do fogão do lado esquerdo.

-O bom é que você economiza com aquecedor nas noites mais frias com esse fogão aí do lado. – Miroku tentou ver pelo lado positivo.

Sango e Rin tinham os olhares arregalados com o cenário.

Os três saíram de lá em menos de cinco minutos de visita.


Waseda

Em Waseda, o apartamento de três cômodos tinha um problema em dois deles: o banheiro era ligado à cozinha. O vaso sanitário estava a meros passos da pia e próximo ao fogão.

-É... – Miroku olhou para aquela arrumação coçando um lado da cabeça.

Rin e Sango tinham os olhares muito mais arregalados que no apartamento anterior.

-Toalete e chuveiro... Juntos? – Rin perguntou sem acreditar ainda no que via.

-Você acha isso ruim? Eu já acho complicado que você não vai saber se o cheiro ruim vem do arroz queimando ou do vaso sanitário. – o rapaz comentou.

Rin ainda estava em choque.

-Veja pelo lado positivo: dá pra lavar a louça tomando banho. – Miroku suavizou o problema.

O trio saiu de lá em quatro minutos.


Nerimatakanodai

-Era disso que meus primos estavam falando, então. – Rin comentou aos dois amigos.

Estavam os três parados no meio de um apartamento de apenas um cômodo de dez metros quadrados, com apenas um mero pé afastando o contato entre eles. Havia uma cama minúscula, mesa para dois pequena, micro-ondas e um frigobar.

-Você nunca vai conseguir trazer um namorado pra jantar aqui. – Miroku comentou ao olhar a mesa – Ou você janta primeiro e ele espera no corredor, depois ele entra pra comer alguma coisa e você sai.

-Quanto é pra ficar aqui? – Sango perguntou desconfiada.

-Quarenta mil. – Rin olhou a nota e sentiu o rosto queimar.

-QUARENTA MIL IENES PRA FICAR NUM CATIVEIRO? – Miroku não se conteve – Parece uma cela aqui!

-Gente, vamos sair daqui, eu sou meio claustrofóbica. – Sango implorou se abanando.

-Calma, um por vez ou ficaremos entalados na porta. – Rin sugeriu.


Shimokitazawa

No bairro próximo à Universidade, Rin e os amigos encontraram um apartamento relativamente decente.

-Um quarto, um banheiro, sala, cozinha, área de serviço. – o homem responsável pela chave abriu a porta e apresentou sem entrar – Podem ficar à vontade.

-Obrigada. – falou Rin. Atrás dela vieram Sango e Miroku.

-Bem... aqui é... melhor... que os outros. – a amiga estava hesitante. Tinha medo de falar algo e descobrir o oposto.

-Vamos ver o quarto. – Rin puxou os dois para ver com ela. Parecia até que tinha medo de descobrir as coisas sozinha.

O quarto era relativamente grande, com armário, um futon empoeirado e sujo e uma cama queen size.

-Hm. – Rin parecia aprovar com ressalvas.

Os outros dois apenas assentiram mecanicamente.

-Cozinha. – Rin os puxou para fora do quarto e foi ver o outro cômodo.

O espaço também era grande, um pouco maior que o quarto. Tinha geladeira, fogão, utensílios como liquidificador, panelas, copos, uma mesa com quadro lugares.

-Já dá pra chamar nós dois e o Sesshoumaru-sama pra um jantar. – Sango comentou.

-Sesshoumaru? – Rin franziu a testa – Ele só come naqueles restaurantes de classe média alta. Jamais viria aqui.

-Verdade. – a outra concordou.

-O que é aquela janela? – Miroku perguntou para uma enorme basculante um pouco acima do fogão.

Ficaram em silêncio.

-Ah, não... – Rin murmurou.

-Ah, sim. – Miroku deu uma risada e correu para a direção do que seria o banheiro, abrindo a porta – Ah, sim!

Depois deu uma gargalhada alta.

-Vem ver, Rin! Dá uma olhada aqui nisso! Vem olhar também, Sango! – ele chamou.

Apenas Sango foi ver o que ele tanto queria mostrar.

-Não precisa. Já imagino como seja. – ela falou enquanto procurava outro cômodo que não tinha ainda visto – Onde está o toalete?

-Tá aqui também! – Sango avisou da cozinha.

-Como é que é? – Rin correu até o casal.

Os dois estavam na porta do banheiro/toalete, Miroku gargalhando muito e Sango com os olhos arregalados em choque.

-O banheiro e o toalete estão juntos? – ela passou entre os dois e ficou horrorizada com o que viu.

O espaço era tão pequeno que o vaso sanitário estava no meio da passagem para se chegar até a ducha, sem box ou cortina separando da outra parte. Para complicar ainda mais, a pia estava diretamente na frente da privada.

-Como é que eu vou passar pra tomar banho? – Rin lamentou – Como é que alguém passa daqui até o chuveiro?

Miroku continuou rindo ao se arriscar a pular por cima do vaso sanitário para chegar ao chuveiro, abraçando-se para aguentar as gargalhadas.

-Como é que alguém pode ser contratado de novo depois de projetar uma coisas dessas? – Sango estava abismada.

-Quem foi o engenheiro que pensou nisso? – Rin estava tão perplexa que não achava que sairia do lugar – Como podem colocar o banheiro e o toalete juntos?

-É muito comum isso aqui na capital. As pessoas dizem que é para economizar espaço e construir mais apartamentos em um prédio só. – Sango explicou.

Miroku saltou o vaso sanitário de novo e saiu do espaço.

-E aí? Aprovado? – ele ergueu o polegar.

-Claro que não. – Rin balançou a cabeça – Eu prefiro aguentar mais um pouco no outro apartamento!

-Vamos, vamos, até aqui nessa porta me sinto claustrofóbica. – Sango puxou os dois para fora daquele recinto.


Nos corredores da faculdade de Direito da Universidade de Tokyo, Miroku ainda gargalhada alto ao lembrar dos lugares que haviam visitado naquele dia.

-Eu preciso contar isso pra alguém. – ele tirou o celular do bolso da calça social – Ah, Inuyasha e Kagome estão na sala do centro com Sesshoumaru. Mandaram uma mensagem pra mim.

-Você vai contar tudo, né? – Rin tinha um aspecto cansado – Eu queria muito ter resolvido isso agora, mas vou ter que deixar pra lá, pelo visto.

Ao se aproximarem da sala, ouviram, pela porta fechada, a voz de Sesshoumaru discutindo com alguém, uma mulher.

Uma discussão forte.

Sango e Miroku franziram a testa em alerta e deram dois passos para trás junto com Rin.

-Acho que ele está discutindo com aquela namorada dele. – Rin comentou.

-Namorada? – os dois amigos falaram ao mesmo tempo, assustados.

-Hm... Sim. Eu a encontrei uma vez e ela falou algumas coisas desagradáveis para mim.

-Oh. – Sango parecia preocupada ainda – Por que nunca nos falou sobre isso?

-Melhor deixá-los aí. – Rin balançava as mãos na frente do corpo para mudar de assunto. Não queria falar sobre aquele encontro com Sara – Vamos embora antes que...

A porta abriu e fechou com força, com Asano Sara pisando duro para fora num salto agulha que estava quase para quebrar com o contato forçado com o chão. Ao olhar para o lado, viu o trio assustado e estreitou o olhar ao reconhecer Rin, que se encolheu atrás de Miroku.

Bufou, deu as costas a eles e foi embora em outra direção.

-Foi ela que você encontrou? – Sango perguntou.

-Sim. – ela saiu de trás do amigo e depois levou a mão direita fechada próximo ao coração – Acho que é melhor a gente deixar Sesshoumaru esfriar a cabeça. Da outra vez ele também ficou irritado.

A porta abriu novamente e desta vez quem apareceu foi Inuyasha visivelmente irritado.

-Oh. Vocês estão aí. – ele falou coçando um lado da cabeça, franzindo a testa – Estão chegando agora?

-Acabamos de chegar. – Miroku mentiu e colocou a mão no ombro do rapaz, passando depois por ele para entrar na sala – E temos que te contar nossa aventura hoje procurando um lugar para Rin-chan morar.

-Vocês foram procurar apartamentos? – ele franziu a testa para Rin, dando passagem para ela e Sango – Mas você não tá num bairro legal?

-Eu tenho uns probleminhas onde eu estou agora. – ela ficou sem jeito ao entrar. Os dois não iam falar que haviam escutado parte da gritaria?

Na sala estavam Kagome, no sofá, provavelmente acompanhando o namorado, e Sesshoumaru, no meio da sala e de braços cruzados. Rin trocou um olhar com o rapaz e viu o maxilar dele travar ao vê-la.

-Ah, procurar apartamentos é legal. Tivemos que fazer isso pra Kagome sair lá da casa dos pais e vir morar perto da universidade. – Inuyasha cruzou as mãos atrás da nuca enquanto andava atrás de Rin – Achou algum lugar bacana?

Miroku já estava praticamente em cima da mesa de café e biscoitinhos. Começou a engasgar porque queria rir e comer ao mesmo tempo.

-O que foi que houve pra ele ficar assim? – Kagome quis saber.

-Foi um desastre. – Rin tinha o rosto azulado – Fomos a quatro lugares. Era um pior que o outro. Os arquitetos daqui têm uns conceitos estranhos sobre espaço.

-Ou noção alguma, né? – Inuyasha comentou ao se sentar ao lado da namorada no sofá – Eu lembro que Kagome viu um daqueles dormitórios aqui perto que são cápsulas, com cama e UMA tomada. Você só entra e dorme. Nem dá pra trocar de roupa lá dentro. Se você colocar o celular pra carregar, você tem que esperar do lado de fora do quarto.

Miroku deu uma gargalhada mais alta ainda. Rin piscava assustada ainda, mas querendo rir também daquela história. Ainda bem que não havia encontrado nada parecido.

-Inuyasha! – o rapaz começou para chamar a atenção – Lá perto de Akihabara tinha um apartamento onde a cozinha era do lado do vaso sanitário!

-Sério? A pessoa faz comida sentada no vaso? – Inuyasha deu uma risada junto com Kagome, acarinhando o braço dela.

Rin discretamente riu. Ajeitou o cabelo atrás da orelha e evitou virar o rosto para o lado onde estava Sesshoumaru.

-Nem dá pra esquecer a comida queimando porque já tá do lado do fogão, né? – Inuyasha continuou provocando. Miroku gargalhou mais alto ainda, abraçando a barriga para tentar se conter.

-Eu não sei como conseguem colocar banheiro e toalete juntos só pra economizar espaço. – Rin comentou timidamente. Ela ainda sentia o olhar de Sesshoumaru nela.

E parecia que ele queimava na pele.

-Rin-chan não sabia que tinha isso aqui. – Sango explicou para Kagome e Inuyasha – O último apartamento que visitamos tinha um banheiro horroroso.

-A janela dele tinha saída pra cozinha e esse era o menor dos problemas. – Rin explicou.

-A Rin ia ter que saltar por cima do vaso sanitário pra ter que tomar banho. – Miroku explicou, depois puxou uma cadeira velha próxima e aproximou da mesinha – Agora, olha só essa: imagine que isso aqui é o vaso – apontou para a cadeira – e essa aqui é a pia. Estava exatamente assim.

Kagome, Inuyasha e até Sesshoumaru olharam interessados.

-Dá até pra dormir no vaso com a cabeça apoiada na pia. – Inuyasha comentou, provocando assim mais uma onda de risadas no amigo.

Rin e Sango abafavam o riso. Miroku parecia se divertir muito contando os detalhes de cada lugar que visitaram. Nada havia dado certo, mas certamente era bom rir daquelas situações estressantes em companhia dos amigos.

-Presumo que não tenha conseguido nada, então. – Sesshoumaru comentou perto dela, assustando-a com a proximidade dele.

-Hm... Não. – ela balançou a cabeça para os lados – Vou ficar nesse lugar onde estou até encontrar algo bom... Daqui a pouco chegam as férias de verão e eu volto pra Nagoya.

Aquela informação fez com que o rapaz ficasse um pouco surpreso. Rin pretendia ficar praticamente dois meses longe?

-Você quer sair para... comer alguma coisa? – ele perguntou num tom suave.

-N-Não, obrigada. – ela ficou novamente sem jeito, forçando um sorriso e balançando aquelas mãos na frente do corpo como se aquilo conseguisse apagar alguma coisa invisível na frente dela – Acho que...

-Ah, pessoal... – Miroku subitamente parou de contar histórias – Vocês não estão com fome? Rin-chan, você está, né?

A garota ficou extremamente sem graça, até porque havia negado o convite de Sesshoumaru segundos antes.

-Ah, vamos... – Sango se espreguiçou e depois abraçou a própria barriga – A aventura de hoje me deixou cansada e com fome.

-E-Eu acho que também gostaria de jantar sim... – Rin tentou se corrigir – Eu pensei em comer em casa.

-Ah, vamos a um lugar legal. – Inuyasha levantou-se e estendeu a mão para levantar a namorada – Já ouviu falar do Narisawa? Nosso pai costumava nos levar lá toda semana.

-Ah... sim. – Rin deu um sorriso – Sesshoumaru-sama nos levou lá um dia.

-Ah, é? – Inuyasha arqueou uma sobrancelha e olhou discretamente Miroku, ainda sentado na cadeira velha que imitava o toalete do horrível apartamento visitado – Ninguém me contou isso.

-Foi um dia depois de eu quebrar meu dedo. – ela falou e mostrou a mão – Eu estava muito chateada nesse dia. Mas os três apareceram em casa e me levaram para comer lá.

-Ah... – Inuyasha concordou e continuou olhando Miroku, este agora enchendo a boca de biscoitos e fingindo não ouvir as insinuações.

-O que foi? – ela perguntou, confusa.

-Nada, Rin-chan. – Kagome deu um sorriso e acenou com uma das mãos como se fosse para desmerecer as falas do namorado – Inuyasha está com inveja porque não foi convidado.

-Foi em cima da hora. – ela tentou se explicar, mesmo sem precisar. Por que ela teria que se explicar ao irmão de Sesshoumaru que saiu com o grupo para ir a um restaurante?

Parecia que os três ainda estavam tensos por conta da discussão ocorrida minutos antes.

-A gente poderia ir ao Takazawa. – Kagome sugeriu com um sorriso, unindo as mãos como se fizesse uma oração – Eu gosto muito de lá também.

-Takazawa, então. – Miroku se levantou, colocou a cadeira de volta no lugar original e limpou os farelos de biscoitos da boca e os que caíram na roupa.

-Eu acho que vou pra casa. – Rin tentou sair daquela situação – Eu preciso...

-Você não precisa de nada, Rin-chan. – Sango estava alheia aos motivos reais para as desculpas da amiga – Vai ser legal. Não vamos demorar muito.

-Hmm... Ok. – ela finalmente concordou num sussurro.

-Você vai também, Sesshoumaru? – Inuyasha perguntou enquanto ajudava Kagome a colocar o casaco dela.

-Sim. – o rapaz pegou o casaco dele jogado em uma cadeira próxima – Esse é outro lugar que eu gosto.


Por uma feliz coincidência, Rin havia deixado a bolsa no carro de Miroku na hora que chegaram à universidade, motivo que a levou a recusar uma carona de Sesshoumaru e ir com os dois amigos ao restaurante escolhido pelo grupo.

-Então foi isso que aconteceu entre você e Sara... – Miroku franziu a testa e trocou um olhar rápido com Sango, igualmente preocupada.

-Ela nem me disse na hora o nome dela, eu fiquei sem ação só pelo apelido que ela me deu.

-E o que Sesshoumaru disse? – Sango perguntou.

-Ele não disse muita coisa. – Rin franziu a testa para se recordar – Falei que deveria conversar com ela. Essa moça pensa que tenho alguma coisa com ele. A última coisa que quero é ter gente ciumenta me atacando nos corredores.

-Eles não estão juntos. – Miroku franziu a testa – Se já estiveram, deve ter sido antes. Pelo menos antes de Kagura. O Gossip Cop já apurou que já houve uma confusão e ele precisou sair do clube de kendo por causa dela, mas o relacionamento entre eles nunca foi confirmado.

O carro estacionou na área privada de um restaurante. Rin pegou a bolsa e verificou se a identidade estava lá mesmo.

-Ah, olha só... – ela comentou alegremente.

-O que foi? – os dois perguntaram curiosos.

-Achei um dos celulares que perdi há alguns meses. – ela mostrou o aparelho com um sorriso muito largo, deixando os dois em choque – Será que ainda funciona?

O casal balançou a cabeça e saíram do carro. Rin ajeitou as coisas na bolsa e saiu também.

Viu os carros de Inuyasha e Sesshoumaru já no local. Aquilo indicava que já os aguardavam.

Ao entrarem, foram levados direto para a mesa onde os irmãos e Kagome estavam. A garota acenou alegremente ao ver os recém-chegados.

-Aqui também é muito bonito. – Rin observava os detalhes da decoração.

-Mais um lugar de Tokyo para riscar da lista dos "lugares para conhecer". – Miroku puxou a cadeira para Rin sentar-se primeiro, depois puxou outra para Sango, sentando-se por último.

-Nós já pedimos algumas coisas para todos nós, menos as bebidas. – Kagome começou.

-Ah, maravilha. – Miroku viu o atendente se aproximar com os cardápios e entregar a cada um deles.

Minutos se passaram até finalmente escolherem o que iam beber. Apenas Rin escolheu um prato a mais sem carne e uma taça de vinho do vale de Koshu.

Como era de costume, o atendente curvou-se discretamente:

-A senhorita poderia...?

-Sem problema. – ela já tinha o documento em mãos.

Diante daquilo, Inuyasha franziu a testa. Kagome abriu a boca em surpresa. Sesshoumaru limitou-se a estreitar os olhos em desaprovação, já sabendo o que estava acontecendo, assim como os demais.

-Que diabos é isso? – o irmão mais novo não se conteve.

-Ele está verificando minha idade. – Rin tentou se explicar. Estava extremamente sem jeito diante da situação.

-Sério? – ele deu uma risada de ironia e fixou o olhar no atendente – A nossa amiga tem quase o seu tamanho e mesmo assim ela tem a idade verificada? Acha que a gente tem cara de quem deixa menor de idade pedir bebida?

-Inuyasha... – Kagome sussurrou num aviso.

-Está tudo bem. – Rin balançava uma mão para acalmar os ânimos e mostrar que não havia problema – Ele só está fazendo o trabalho dele.

O rapaz fingia não ouvir nada e devolveu o cartão da identidade para Rin com um agradecimento.

A mesa ficou em um silêncio constrangedor, uma cena que que se repetia desnecessariamente para Rin.

-O que vocês têm? – Inuyasha perguntou ao cruzar as mãos atrás da nuca despreocupadamente – Se vocês não têm coragem pra falar, eu falo.

-Por favor, não pense que eu gosto de passar essas situações. Minha família também acha um absurdo. São poucas as vezes que isso não acontece. – Rin comentou com um sorriso sem graça ao se lembrar das reações do irmão mais velho.

Conversaram sobre os apartamentos novamente, sobre os locais que ela poderia procurar, sobre a experiência de Kagome procurando um lugar para morar perto... A comida veio e Rin falou sobre alguns lugares de Nagoya e como ela estava tentando convencer Sango e Miroku a visitarem algum dia depois que ela se formasse e voltasse para a cidade natal.

-Você pretende voltar pra lá? – Kagome perguntou curiosamente.

-Hm... Sim. A princípio seria isso. – ela respondeu – Minha família não gosta muito da ideia de eu ficar sozinha... E meu pai disse que poderia me ajudar no meu primeiro emprego.

Enquanto os demais voltavam a comentar sobre as perspectivas da vida após a graduação, Rin encontrou uma vez o olhar de Sesshoumaru.

Sem muito o que dizer ao rapaz, que permaneceu em silêncio por quase todo o momento, ela deu um sorriso.


Na saída, Rin viu-se na situação de ir com Sesshoumaru – algo que ela absolutamente não queria desde a hora que ouviu parte da discussão entre ele e Sara na universidade.

Ao ver Miroku e Sango irem embora com acenos do carro, e Kagome e Inuyasha falando um "até logo", ela encontrou-se sozinha com ele no estacionamento.

Talvez não fosse necessário. Também poderia ir de táxi ou mesmo metrô. Não estava tão tarde assim.

-Aconteceu alguma coisa? – a voz dele a tirou dos pensamentos.

Estavam frente a frente – ela, protegendo-se do frio segurando a bolsa fortemente contra o corpo. Ele, sereno, sério, despreocupado.

-Hm... – ela balançou a cabeça para os lados – Nada aconteceu. Só me perguntei se você não poderia me deixar no metrô em vez de me deixar em casa...? – ela mudou a entonação e transformou o próprio pensamento em uma pergunta.

-Por que deixar no metrô? Eu posso deixá-la em casa. – ele falou tranquilamente, com as mãos no bolso do casaco.

De lá ela o viu tirar a chave do veículo. Abriu a porta do motorista e aguardou pacientemente que ela desistisse da ideia de usar o transporte público e entrasse no carro de uma vez.

Quando ela finalmente já tinha se sentado e colocado o cinto, ele deu a partida e começou a viagem sem dizer nenhuma palavra no começo.

Mas não demorou muito.

-Você ouviu a discussão, não foi? – ele perguntou.

Rin baixou o rosto e olhou com um súbito interesse a bolsa que tinha no colo.

-Não muito... – ela respondeu num sussurro – Nós tínhamos acabado de chegar e ela estava saindo.

-Ela falou alguma coisa para você?

-Nada. Ela só olhou pra mim e foi embora.

-Bom.

Ficaram novamente num curto silêncio.

-Eu tive uma conversa com ela. Pedi para deixar você em paz.

-Ah... – por que ela tinha que ouvir aquelas coisas? Ela não precisava se meter naquela situação desagradável.

-Você não precisa me evitar, é isso que quero dizer. Ela não vai fazer nada contra você. Kagome a convenceu do contrário. – Sesshoumaru continuou sem tirar os olhos da direção.

-Oh. – ela franziu a testa.

-Elas são primas. Nós nos conhecemos desde crianças.

Sentindo que ele continuaria a história, ela o interrompeu.

-Você sabe que não precisa explicar essas coisas pra mim. – ela deu um sorriso confiante, mesmo sabendo que ele não veria.

Poucos minutos depois, ele parava na frente do prédio dela. Sesshoumaru observou os detalhes do prédio com certo interesse, e em seguida fixou os olhos na garota.

-Você vai para Nagoya nas férias, então. – foi a pergunta que fez.

-Sim. – ela finalmente voltou o rosto para ele e deu um sorriso largo – Mal posso esperar. Fico contando os dias num calendário.

Sesshoumaru nada respondeu. Simplesmente destravou o carro e a encarou até desviar o olhar para o prédio.

-Boa noite.

O que tinha acontecido?

Rin ficou confusa. Ele estava conversando e parou.

-Hm. Boa noite. – ela continuava forçando uma expressão simpática e as maneiras educadas – Obrigada pela carona.

Saiu do carro sem esperar resposta. Nem um "de nada".

Deu um suspiro até alcançar o portão da entrada e se dar conta, na hora de colocar o código, de que não estava com a bolsa.

-Rin.

A garota sufocou um grito de susto e olhou para trás.

Sesshoumaru estava parado a poucos passos, estendendo a bolsa pela alça na direção dela.

-Você esqueceu no carro.

-Oh... – ela franziu a testa ao aceitar o objeto devolvido.

Hakudoushi já tinha falado sobre aqueles esquecimentos. Estavam recorrentes desde o ano anterior. Tinha mesmo que tomar mais cuidado. O maior medo dela era esquecer as chaves do apartamento em algum lugar e só perceber quando chegasse em casa.

-Obrigada. – ela fechou os olhos para forçar um sorriso mais educado – É a primeira vez que você me chama pelo nome.

Ao abrir os olhos, ele estava ainda mais perto dela, o corpo projetando uma sombra que impedia as luzes dos postes de iluminar o rosto de ambos. Sesshoumaru deu mais alguns passos até ela se ver ele entre e a parede da entrada, ao lado do portão.

-O que... O que está fazendo...? – ela perguntou num fio de voz. Pensou até que ele nem tivesse escutado de tão baixo que foi.

-Eu quero beijar você. – ele mantinha o rosto próximo ao dela e Rin sentiu o ar ficar preso na garganta e arregalou os olhos, encontrando os dele.

Foi a deixa que ele queria. Os lábios tocaram por iniciativa de Sesshoumaru, a princípio roçando nos dela e, em seguida, pressionando como se pedisse permissão. Os braços a envolverem na cintura e aproximaram os corpos também por determinação dele.

A bolsa caiu no chão, mas nenhum dos dois pareceu se importar.

Rin sentiu os lábios ligeiramente entreabertos, e Sesshoumaru os umedeceu com a própria língua e os abriu, suave no começo para depois aprofundar o beijo. Ela tinha ainda os resquícios da janta, principalmente do vinho que ela experimentou ao longo das entradas e da sobremesa ao final.

Rin fechou os olhos e pousou as mãos nos ombros deles, instintivamente retribuindo, a língua aveludada dela fazendo cócegas no interior da boca de Sesshoumaru, fazendo com que ele tivesse mais vontade de beijá-la.

Era muito diferente de quando foi beijada por Kouga. Não estava sendo forçada. Sesshoumaru estava levando o tempo necessário para fazê-la se sentir bem.

Até que ela gemeu de dor e forçou os rostos a se afastarem.

Rin baixou o rosto e deu outro gemido. A mão ainda em fase de recuperação estava fechada em um punho, deixando os dedos doloridos. Ela os abriu e murmurou um "ai".

-Você pretendia dar um soco em mim também? – Sesshoumaru perguntou ao notar o que ela fazia com a própria mão.

A pergunta era num tom sério, mas obviamente ela entendeu o humor por trás das palavras.
Vendo mais uma oportunidade, ele abaixou o rosto novamente e tentou aproximar, até ouvir o que não queria.

-Não... por favor... – ela murmurou e virou o rosto para o lado.

Foi o suficiente para ele dar dois passos para trás.

-O que foi... o que você fez? – ela perguntou assustada.

O rapaz franziu a testa e inclinou o cabeça para um lado. Ele não precisava responder. Ela sabia o que estavam fazendo.

-Você estava gostando. – simplesmente atestou.

-Eu só percebi depois o que estava acontecendo. – ela replicou com suavidade.

Ficaram em silêncio.

-Quer conversar sobre isso então, Rin? – ele perguntou.

De novo Sesshoumaru a chamou pelo nome. Ela estava tão acostumada com a formalidade dele que o simples tratamento por "Rin" provocava uma sensação diferente nela.

-A-Acho que... é bom conversar primeiro, né? – ela abraçou a si mesma, assustada e sentindo o corpo tremer, não de frio - E-Eu preciso entender o que... aconteceu.

O que tinha realmente acontecido, afinal?

-Quando? – novamente se aproximou, o rosto subitamente a centímetros do dela – Amanhã? Depois de amanhã? Mês que vem? Você quer conversar quando, Rin?

Um estremecimento passou por ela ao escutar novamente o próprio nome.

-Você tem alguém em Nagoya?

Sesshoumaru notou a mudança no semblante dela. A tristeza era evidente nos olhos.

-Não terminou bem? – ele arriscou.

A resposta veio com um movimento de cabeça para os lados. Não, não havia acabado bem.

-Vamos conversar então quando estiver mais descansada. – o dedo dele deslizou por uma mecha do cabelo que foi para trás da orelha dela – Tudo bem desta forma?

Viu-a mover a cabeça confirmando, mas sem olhá-lo diretamente nos olhos. Parecia que estava criando coragem ainda.

Sesshoumaru afastou o corpo e a deixou ali, começando a andar em direção do carro.

-Tenha uma boa noite. Espero vê-la amanhã. Cedo.

-B-Boa no... noite... também... – ela respondeu e viu, ainda paralisada, o rapaz entrar no carro e ir embora sem olhar para trás, deixando-a sozinha. Ela suspirou mais uma vez, pegou a bolsa caída no chão e abriu o portão depois de digitar a senha.

Entrou no apartamento ainda trêmula. Fechou a porta e encostou-se nela, escorregando até chegar ao chão e ficar sentada sobre as próprias pernas. Sentia-se quente, como se estivesse febril.

Tocou os lábios e sentiu-os maiores, inchados do contato que tivera momentos antes.

O que havia de errado com ela?