Nota da Autora: Gente, eu fiquei sem computador por três semanas D: Foi um sofrimento, vocês nem imaginam. Não perdi nada do que tinha escrito, mas não tinha o final dele ainda e nem tinha como revisar o que já estava pronto.

Espero que gostem, mesmo com essa demora. Boa leitura! Quem puder, deixe um comentário pra me deixar mais alegrinha.

(Eu revisei o capítulo, mas pode ser que tenha deixado passar alguma coisa. Perdão se tiver algo estranho. Faço outra revisão depois).

Para novidades sobre as atualizações ou saber o que estou fazendo, pode verificar meu perfil aqui no ffnet ou meu twitter (usuário: ukitaketai).


UM CAMINHO PARA DOIS

CAPÍTULO 8

Discutindo os caminhos

Sentada sobre as próprias pernas na cama, ainda com o pijama xadrez em laranja e amarelo, Rin tinha os olhos vermelhos e semicerrados, aspecto pálido, cara de muito sono e cansaço.

–Não dormi nada... – ela murmurou para ninguém em especial no quarto.

O dia estava amanhecendo e ela, em uma ocasião normal, deveria acordar naquele horário e se preparar para a aula do primeiro turno... mas não daquela vez, de novo.

Jogou-se num "puff" na cama, a cabeça caindo direto no colchão. Pegou o travesseiro mais próximo e colocou-o entre as pernas, depois mordeu o nódulo do dedo enquanto olhava algum ponto fixo na parede.

Não havia como dormir depois do acontecido na noite anterior, após o jantar, na frente do prédio. Era impossível fechar os olhos sem lembrar de cada minuto em câmera lenta.

Sesshoumaru chamando-a pelo nome.

Aproximando-se dela.

Rosto a rosto.

Olhos dourados nos olhos castanhos.

Lábio com lábio.

Ughhhh. – ela pegou o travesseiro e o pressionou contra o próprio rosto como se quisesse que ele virasse uma borracha para apagar aquelas imagens.

Sesshoumaru falou que poderiam conversar quando ela quisesse... Mas depois disse que queria vê-la cedo. Isso significava que deveriam conversar logo? Mas então ele não iria esperar? O que ele queria dizer? O que ela deveria falar?

Tirou o travesseiro do rosto e deitou a cabeça em cima, dando um suspiro pesado.

Quando mudou para Tokyo, ela tinha um caminho bem traçado. Pretendia ficar apenas por um ano, estudando, poucas amizades, sem envolvimentos amorosos. Estar com alguém quando passava por um período de recuperação não estava nos planos.

Olhou o relógio digital na mesinha ao lado da cama e encolheu-se, cabelo totalmente jogado no lençol.

Seria mais um dia sem produção. Sentia muito sono, mas não conseguia fechar os olhos. E se fosse para a faculdade, provavelmente dormiria em algum canto ou...

Na sala de trabalho do Sesshoumaru.

Outro suspiro mais pesado escapou das narinas.

–A felicidade vai embora a cada suspiro. – ela lembrou-se do dito popular.

Levantou-se para lavar o rosto no toalete. Na frente do espelho, era possível ver as olheiras e como a deixava com um aspecto cansado, nem um pouco gracioso. Provavelmente levaria três dias para recuperar a cor normal, com um pouco de rubor para deixá-la mais saudável.

Olhou os lábios mais uma vez, lembrando-se da sensação de ter Sesshoumaru tocando-os com os dele.

Balançou violentamente a cabeça para os lados.

–Nada de faculdade, pelo visto... – murmurou ao se arrastar novamente para o quarto e subir na cama.

As perguntas eram diversas na mente: o que ela deveria dizer quando o encontrasse? O que ela deveria fazer? O que deveria decidir?

A cabeça afundou no travesseiro.

Será que conseguiria dormir mais algumas horas?

Olhou a mesinha de cabeceira. Lembrou-se de algo guardado lá e que poderia ajudar a solucionar a insônia.

Abriu a gaveta e tirou um ipod antigo que estava enrolado num fone de ouvido, tela quebrada indicando tanto o descuido quanto o tempo de uso. Havia um pouco de bateria nele. Não ia precisar carregar para o que pretendia fazer.

A tela iluminou e ela viu, entre as partes do vidro rachado, uma imagem dela abraçada a um rapaz – o falecido noivo.

O ipod era dele e ficou de recordação para Rin, dado pela família dele. Antes usava direto como forma de distração, mas percebeu que era algo que fazia mal por diversos motivos.

Mas podia ser, afinal, um remédio naquelas circunstâncias. Colocou os fones, escolheu uma canção antiga e fechou os olhos, tentando se concentrar na letra.

Não demorou muito para finalmente dormir até a bateria acabar.


Sesshoumaru andava pelos corredores da universidade em direção da sala onde trabalhava com o mesmo aspecto sereno de antes – calmo, tranquilo, sério. Ninguém o perturbava no caminho, pelo menos não mais do que Rin já o fazia sem saber.

Esperava que ela aparecesse para as aulas pela manhã e... nada. Nem um aviso dado aos colegas ou a ele. Torcia para que ela não fingisse que nada havia acontecido ou continuasse ignorando-o depois do problema que ela inicialmente teve com Sara.

Os dedos estalaram num movimento inconsciente. Fazia aquilo quando estava tenso e pouquinhas pessoas notavam aquilo.

Ao parar na frente da sala e pegar a chave no bolso do casaco, sentiu a energia de alguém atrás dele. Olhou por cima do ombro e arqueou uma sobrancelha.

–Olá! – disse Houshi Miroku com um sorriso e uma alegria estúpida, mão erguida num aceno desnecessário.

O que ele queria agora?

–Boa tarde. – Sesshoumaru voltou a atenção novamente para a porta. Girou a chave e chave e abriu.

Miroku continuava atrás dele.

–Deseja falar comigo? – perguntou sem muito interesse.

Não houve resposta e ele estranhou, pensando que talvez o colega tivesse ido embora. Sesshoumaru olhou para trás e percebeu, no entanto, que ele continuava lá, parado atrás dele e sorrindo com aqueles dentes brilhando.

Aquilo poderia significar que...

–O que vocês aprontaram desta vez? – ele já estava cansado de fazer aquele tipo de pergunta. E era sempre por algum motivo ligado a Rin. Provavelmente aquele Gossip Cop fez mais uma daquelas enquetes sobre a melhor roupa que ela usou durante a semana.

Não esperou resposta e entrou na sala, deixando a entrada aberta como num convite. Miroku entrou, fechou a porta e tirou o celular do bolso. Começou a brincar com ele batendo de leve na palma da outra mão, tudo sob um olhar atento de Sesshoumaru.

–E aí, Sesshoumaru-sama? – até o andar dele estava diferente. Era como se ele o visse como uma presa – Tudo tranquilo?

O rapaz cruzou os braços e apoiou-se na mesa, aguardando pacientemente que o colega parasse com as cerimônias.

–Sim. – foi a resposta lacônica. Estava tudo tranquilo. Estava tudo bem. Os outros não precisavam saber o que tirava a serenidade que ele tanto prezava.

–Como foi ontem à noite na casa de Rin-chan?

Os olhos de Sesshoumaru brilharam em alerta e cérebro trabalhou rápido.

Apenas por precaução, ele voltou à porta e abriu-a, colocando a cabeça para fora. Olhou para um lado e para o outro. Não havia ninguém por perto para ouvir o que ia acontecer em poucos segundos. Voltou a fechá-la e a trancou com duas voltas da chave.

Ao fazer novamente o caminho na direção de Miroku, ele fez questão de mostrar quem estava no comando ali: pegou-o pelo colarinho e estreitou o olhar.

–O que exatamente você quer saber sobre ontem à noite na casa de Rin?

Miroku parecia não sentir medo de nada. Tinha ainda um sorriso triunfal.

–Oh... agora já se tratam pelos nomes?

Sesshoumaru continuava indiferente, o símbolo da tranquilidade.

–Acho que é normal depois do que aconteceu na frente do prédio dela. – Miroku mostrou a tela do celular ao outro.

Sesshoumaru precisou soltá-lo por um instante para ver o que ele tanto parecia se orgulhar em mostrar na tela.

Era uma foto.

Uma foto dele e de Rin.

Juntos aos beijos na frente do prédio dela.

–Como é que você...?

O rosto de Miroku continuava com aquele sorriso de provocação.

–Passei casualmente por perto depois de deixar Sangozinha em casa, meu caro.

O ar faltou nos pulmões dele ao ser pressionado pelo peito contra a parede e ter o aparelho arrancado da mão.

O olhar de Sesshoumaru estava sério, quase negro.

–Escute aqui, Houshi. – ele segurava o celular num aperto tão forte que trincou um canto da tela – Eu quero que você me responda apenas com a verdade.

Miroku ainda tentava recuperar o ar. Ele esperava uma reação de Sesshoumaru, mas não uma tão violenta.

–Você publicou essa foto? Responda com a cabeça.

O outro negou, assustado ainda com tamanha violência.

–Alguém mais viu essa foto? – aproximou o rosto para que o brilho ameaçador no olhar ficasse visível – Cuidado com o que vai falar.

Novamente o rapaz negou com a cabeça.

Um pequeno sorriso maligno passou pelos lábios de Sesshoumaru. Não, ninguém o transformaria numa presa.

E Miroku ia aprender da pior forma que Sesshoumaru era ótimo em fazer ameaças.

–Houshi, eu quero que preste bastante atenção agora: você não vai publicar essa foto. – ergueu uma mão e estalou os dedos de tal forma que o outro suou frio – Não vai falar para ninguém o que aconteceu. Não vai constranger a sua amiga. E eu vou apagar essa foto.

E Sesshoumaru desviou por um segundo o olhar para a tela e deletou a prova do que havia acontecido na noite anterior.

–Eu salvei numa nuvem. – o outro comentou idiotamente.

–Quero a senha dela.

–Claro que não!

O sorriso maligno de Sesshoumaru, antes discreto, ficou mais explícito e Miroku ficou aterrorizado com o punho que atingiu a parede ao lado do rosto dele.

Cinco segundos depois, Miroku entregava o celular e todos os dados de pastas e nuvens onde poderia ter salvado a foto que deveria ser apagada.

–Pronto. – o rapaz devolveu o celular minutos depois.

–Agora nem quero mais. – Miroku cruzou os braços num gesto de petulância e teimosia.

No outro instante ele se viu novamente pressionado contra a parede.

–Houshi Miroku… – a voz estava pausadamente fria – O seu erro número um foi me encontrar hoje de péssimo humor.

–E você estava de bom humor nos outros dias?

–Para o seu assombro.

Miroku engoliu em seco.

–Em segundo lugar, você mexeu com a pessoa errada, na hora errada, no dia errado. Em terceiro, se eu souber que escondeu essa foto em algum lugar e pensou, veja bem, pensou em publicá-la naquele canal idiota, você vai descobrir em primeira mão o motivo da minha expulsão do clube de kendo.

–O-Okay. – ele confirmou num fio de voz.

–Ótimo que tenha entendido. Já que não quer mais, ficarei com o seu celular.

–Ei… – ele ia protestar, mas foi tão intimidado pelo olhar do colega. Era tão ameaçador que só conseguiu se afastar de mansinho até alcançar a porta.

Sesshoumaru viu-o destrancá-la e sair correndo da sala corredor afora. Depois que se viu sozinho, ele guardou o dispositivo dentro do casaco para futuras averiguações.

Problema número um resolvido. Faltava agora encontrar Rin e ter uma conversa com ela.


Rin chegou à faculdade para o turno da tarde ainda sentindo um pouco de sono. Havia dormido no máximo quatro horas. Acordou no horário do almoço, preparou uma refeição rápida e arrumou-se o melhor que poderia para disfarçar as olheiras. Escolheu um vestido floral azul claro de mangas curtas que ia até o joelho e botas de cano curto para o dia, arriscando sair sem casaco de reserva e torcendo para que o tempo não se revoltasse e não esfriasse fora de época.

Levou dois livros para serem devolvidos e nada mais na bolsa, pois não planejava ficar para o seminário da tarde. Passou direto para a biblioteca, lugar que julgava ser silencioso o bastante para não atrapalhar os pensamentos e refletir sobre o que havia acontecido com Sesshoumaru para ter agido daquela forma. Assim que o encontrasse, os dois poderiam conversar com as ideias em ordem.

Ao entrar, no entanto, engasgou-se ao ver a fila quilométrica e barulhenta de acadêmicos com devoluções a fazer.

Deu um suspiro pesado. Pelo menos não vejo conhecidos aq

Nozomu. - escutou a voz de Sesshoumaru atrás dela e sufocou um grito, colocando a mão direita em cima do coração para acalmar as batidas.

–Ah… O-Oi… - ela murmurou ao virar-se e encontrar o olhar sério dele. O rapaz tinha uma pilha de livros.

Nada foi dito por alguns segundos até alguém reclamar que a fila estava andando e Rin atrapalhava o fluxo. A garota rapidamente tratou de andar até certo ponto, sentindo a proximidade e o olhar dele nas costas.

–Você não apareceu hoje cedo. - ele falou absurdamente calmo enquanto ela sentia o coração acelerado.

–Eu não consegui dormir. - ela não quis encará-lo.

–Houve algum motivo específico?

–Hm. - foi mais um resmungo do que uma confirmação por parte dela. Ele provavelmente entendera qual havia sido.

Ao redor, os demais estudantes ainda tagarelavam sobre várias coisas: sobre colegas, professores, o que acontecera na semana anterior. Rin estava alheia a tudo e tentava ignorar o calor da pessoa atrás na fila.

–Você vai mesmo me tratar dessa forma? - ele perguntou suavemente para apenas ela ouvir.

–Eu não sei ainda o que dizer... - ela baixou o rosto para olhar os próprios pés.

–Sempre dá para saber o que dizer se conversar com alguém.

Ficaram novamente em silêncio apenas ouvindo o que se passava ao redor.

–O que aconteceu em Nagoya para você ficar assim?

Sesshoumaru percebeu quando ela levantou o rosto e parecia ter se surpreendido com a indagação feita. Ela não esperava que ele quisesse saber?

Segundos se passaram até que veio uma resposta:

–Muitas coisas.

–Vai poder contar algumas delas um dia?

Talvez ela pudesse contar para ele o que havia acontecido. Já havia falado um pouco a Sango, Sesshoumaru poderia ser um bom ouvido também.

A vez de Rin chegou e ela foi atendida, tendo que pausar momentaneamente a conversa. Entregou os livros para a atendente com um sorriso educado e despreocupado.

–A multa é de mil e oitocentos ienes. – veio por parte da mulher no balcão.

O olhar de Rin arregalou. Se não fosse o vidro separando os atendentes dos estudantes, ela teria subido na bancada para verificar o computador.

–Como assim? – o tom de incredulidade era evidente na voz – Eu atrasei?

Não era possível que tivesse atrasado. Sempre foi organizada e zelosa em relação aos estudos, incluindo empréstimos de livros.

–Duas semanas.

Uma gota escorregou no rosto dela. Como ela havia esquecido? Ou não prestou atenção aos prazos?

–Onde eu pago isso? - ela perguntou ao receber o recibo da dívida.

–Final do corredor à esquerda. – a mulher indicou educadamente com a mão o caminho.

Rin deu um suspiro e seguiu a direção indicada.

–Atrasou a devolução? - escutou novamente a voz de Sesshoumaru e sufocou outro grito.

–Você tem essa mania de aparecer do nada e me assustar. – ela parou para encará-lo, a testa franzida em receio – Eu já tenho medo da mulher-fantasma no apartamento, qualquer coisa similar me deixa estressada.

Sesshoumaru a encarou com tanta seriedade que ela percebeu o absurdo da comparação. Havia acabado de falar que ele era um fantasma e que a deixava estressada.

–Desculpe. Não estou conseguindo raciocinar direito. Esqueça o que eu falei. - ela lamentou num tom sincero.

–É por aqui. – ele ignorou aquela fala e, ao lado dela, guiou-a até o balcão apenas para encontrar mais uma fila com mais estudantes com recibos para pagamento de empréstimos.

Rin deu um suspiro cansado e entrou no final da fila com Sesshoumaru ao lado dela.

O silêncio entre eles durou por alguns segundos, tempo que ela usou para reformular o pedido de desculpas.

–Você não me estressa. Só estou assustada com aquela assombração no meu apartamento. Eu fico assim o tempo todo agora.

–Eu entendi o que quis dizer. – foi o comentário suave que ele fizera.

Rin engoliu em seco.

Na vez de ser atendida, ela abriu a bolsa que sempre usava na transversal e tirou a carteira, sentindo pena de si mesma pelo gasto desnecessário se tivesse prestado atenção aos prazos. Pensou em aceitar a sugestão do irmão e adotar mesmo o hábito de ter um celular e ter mais cuidado para não perdê-los. Hakudoushi dissera que havia muitos dessas coisas chamadas aplicativos que enviam alertas até para lembrar de beber água regularmente.

Depois de tudo pago, ela voltou-se para Sesshoumaru e deu um largo sorriso.

–Como foram as aulas pela manhã?

O rapaz não respondeu. Apenas arqueou a sobrancelha.

Obviamente entendera o porquê do silêncio. Baixou o rosto e o sorriso se desfez.

–Você quer conversar agora?

–Podemos tentar se estiver disposta. – ele respondeu enquanto observava-a pela linguagem corporal. Parecia receptiva à ideia de conversar naquele momento – Na sala do centro pode ser melhor.

Rin, desta vez, encontrou o olhar dele.

–Tudo bem. – ela circulou um braço em si mesma como se estivesse se confortando.

–Vou procurar alguns livros agora… Pode ser daqui a uma hora?

A garota franziu a testa.

–Você não vai ver as aulas da tarde?

Viu o maxilar dele travar e a expressão ficar mais séria.

–Não porque eu sei que você também não vai.

Depois ele afastou-se e foi embora, deixando-a momentaneamente surpresa.

–Não vou mesmo… – ela disfarçou um bocejo.

A questão era: será que a conversa a deixaria sem sono pela segunda noite seguida?


Perto do horário combinado, Rin caminhou em direção da sala tentando evitar encontrar alguém conhecido, assim como havia feito ao chegar na biblioteca.

E pela segunda vez alguém a assustou pelas costas.

–Rin-chan, você faltou de novo. – Sango falou e viu a amiga tentar sufocar outro grito de susto.

Será que era alguma mania dos habitantes da capital?

–Aconteceu alguma coisa? – ela perguntou ao reparar que Rin tinha uma das mãos bem em cima de onde estaria o coração acelerado.

–Eu não dormi direito de novo e todo mundo está me assustando hoje. – ela explicou ainda tentando se acalmar.

–Oh… – Sango tinha o semblante preocupado – Mesma coisa de antes?

–Hmm… Sim. - ela mentiu.

O que ela ia contar? Sesshoumaru me beijou de surpresa ontem, eu nunca pensei que um dia ele fosse fazer uma coisa dessas. Não, ela iria querer saber de todos os detalhes e ainda não sabia como explicá-los.

–Ah, Rin-chan! – Sango lembrou-se de algo – Sabe o que pode animar um pouco e fazer dormir tranquila?

A amiga balançou a cabeça para os lados. Ela precisava da receita se houvesse alguma.

–Uma viagem para Yokohama. – ela ergueu o dedo indicador como numa explicação e deu um largo sorriso alegre, ignorando a expressão sem graça da outra que provavelmente pensava em uma desculpa – Longe dos problemas da faculdade, passeando com todo mundo e dormindo em uma casa bonita e sem os problemas que você encontra no seu apartamento atual.

Para a surpresa de Sango, ela parecia considerar a proposta.

–Hmm… – Rin martelou um dedo no queixo – Seria agora neste fim de semana?

–Pode ser quando você quiser. – Sango deu de ombros – Só avisar e organizamos tudo por você.

Dependendo da conversa com Sesshoumaru, talvez ela aceitasse o passeio, afinal de contas. Ia ser também uma boa oportunidade para ficar longe do apartamento e pensar melhor em algumas coisas.

–Vou verificar se é possível neste fim de semana… Posso confirmar mais tarde?

–Claro. – Sango deu um sorriso tão largo quanto anterior, mas que subitamente morreu ao olhar algo ou alguém por cima do ombro de Rin.

Curiosa, ela virou o rosto para trás e viu Asano Sara observando-a à distância.

–Ela está olhando pra mim, né? – ela perguntou sentindo o suor escorrendo em gotas pela testa, os olhos reduzidos a dois riscos verticais.

–Não ligue pra ela, Rin. Não vale a pena. Ela não ousaria ofender você aqui nos corredores. – Sango ficou mais séria, depois virou-se para ir embora fazendo um aceno – Vou aguardar a sua confirmação, ok?

Rin retribuiu o gesto e internamente suspirou ao se ver sozinha. Não olharia para trás de imediato. Conseguia sentir o olhar de alguém às costas.

–Rin-chan. – a voz de Miroku a assustou e ela deu um berro.

Um cômico silêncio se fez.

–Desculpe, eu te assustei? – ele coçava a nuca para disfarçar a gafe – Eu não tinha intenção.

–Achei que fosse a Asano. – ela murmurou ao olhar para os lados – Agora há pouco ela estava lançando raios lasers pelos olhos na minha direção.

Miroku franziu a testa.

–Ela está fazendo isso, é? – ele perguntou suavemente, passando um braço pelos ombros dela e puxando-a para si num ato muito amigável e protetor – Acha que é pelo que aconteceu ontem? Ou por outra coisa?

–"Outra coisa"? – ela aceitou o gesto do amigo para a surpresa de Miroku, cujo ombro serviu de apoio para a cabeça dela na hora que começaram a caminhar lentamente pelo corredor sem ter ideia para onde iriam.

–É… – o rapaz deu um sorriso amarelo. Tinha receio que talvez outra pessoa tivesse visto a mesma coisa que ele e contado para Asano Sara. Seria mais um motivo para ser alvo direto de Sesshoumaru e ele não queria virar um.

Rin franziu a testa evidentemente confusa sobre a insinuação dele e formulando outra teoria.

–Acho que foi por causa daquela discussão de ontem. Deveríamos ter ido embora na hora pra ela não pensar que estávamos bisbilhotando que nem aquele pessoal do Gossip Cop. – deu um suspiro cansado – Acho que vou aceitar o convite pra viagem pra Yokohama e esquecer o estresse da capital e os apartamentos com planejamentos estranhos.

–Vai mesmo? - ele ficou em êxtase, prontamente tirando o braço dos ombros dela para pegar um caderno pequeno e uma caneta de um dos bolsos da calça – Deixe tudo conosco.

–Eu disse que avisaria Sango-chan se pudesse ser este fim de semana.

–Não se preocupe, minha estrela de Nagoya. – ele anotava coisas em uma velocidade impressionante para quem nunca anotava nada nas aulas – Independente se for este fim de semana ou no próximo, vou começar logo os preparativos.

Fechou o caderno e deu um sorriso para deixar à mostra os dentes brilhando. Tudo sairia perfeito nos planos dele. Iria recuperar o celular das mãos de Sesshoumaru e, se tivesse muita sorte, conseguiria também um pedido de desculpas.

–Está tudo bem, Miroku-sama? – a cabeça de Rin pendeu ligeiramente para o lado como se o estudasse.

–Está tudo perfeito. – ele deu um último sorriso e começou a se afastar quase correndo – Não esqueça de confirmar, ok?

Rin deu um suspiro ao acenar para a figura do amigo indo embora e ver-se sozinha novamente.

Voltou a andar na direção da sala de Sesshoumaru, parando a poucos metros para pensar sobre o que exatamente falaria.

Seria bom colocar tudo em pratos limpos, como se dizia no popular.

Poderia começar explicando que ficou surpresa com o que ele tinha feito, que não esperava algo do tipo. Mas não tinha interesse em ter um relacionamento, obrigada.

Não, muito direto.

Diga que gostou do beijo, mas que por enquanto deveria avaliar melhor os sentimentos.

Vou parecer algum parente seu falando na câmara de Nagoya. E você gostou mesmo do beijo, né?

Melhor começar com uma pergunta: o que exatamente você estava pensando quando decidiu me beijar?

–Argh! - ela puxou os cabelos num gesto de impaciente irritação.

–Nozomu? - Sesshoumaru falou atrás dela.

Diferentemente das vezes anteriores, ela não se assustou. Virou lentamente o rosto até encontrar os olhos dele e ficarem se encarando por vários segundos na frente da porta.

–Está esperando há muito tempo aí? – ele finalmente perguntou.

–Hmm… – ela balançou a cabeça antes de falar – Não.

O silêncio voltou a predominar.

–Eu preciso abrir a porta. - ele avisou.

–Ah… - ela deu um passo para o lado e baixou o rosto. Claro que ele precisava fazer aquilo se quisessem conversar sozinhos. Abrir a sala. E ela estava atrapalhando o caminho dele.

Sesshoumaru abriu a porta e deu passagem a ela, entrando logo atrás dela.

Rin já estava no meio da sala quando ele, por precaução, trancou a porta para ambos não serem interrompidos.

–Ué, o que foi isso na parede? - ela perguntou ao olhar uma pequena rachadura no local acertado pelo punho de Sesshoumaru – Eu não lembro de estar aí ontem.

–Um peso de papel acertou aí. – ele mentiu para não ter que dar maiores detalhes.

–Ah… – ela aceitou a explicação sem continuar com as perguntas. Depois o rosto dela se iluminou ao virar o rosto na direção da mesinha de lanche e café – Biscoitinhos!

Sesshoumaru viu quando ela se afastou para atacar o pote que ele mesmo havia abastecido pela manhã, observando como franzia a testa e comia silenciosamente. Era como se estivesse pensando na situação.

Por quanto tempo ela agiria assim?

–Você quer começar a falar?

Viu-a se engasgar por alguns segundos. Estava concentrada mesmo.

–Perdão. – ela limpou os farelos da boca – Nem pedi permissão.

–Você não precisa pedir. – ele falou num tom sincero, mãos nos bolsos da calça.

Rin caminhou de volta ao centro da sala, abraçando o próprio corpo como se quisesse se proteger. Ele já havia percebido que ela agia assim para se proteger internamente e não porque necessariamente sentia frio.

Como ele havia pedido primeiro para ela começar, Rin decidiu falar sobre os eventos mais recentes:

–O que foi aquilo ontem?

Viu Sesshoumaru arquear uma sobrancelha.

Será que havia sido muito direta?

–Você não sabe ainda? – ele arqueou uma sobrancelha.

Não precisava explicar. Ambos sabiam o que havia acontecido. Rin sentiu o rubor crescer ao lembrar do momento e balançou a cabeça de leve.

–Eu quis dizer por que você quis fazer aquilo depois de todo esses meses. – ela refez a intenção da pergunta.

Um momento de silêncio se passou. Nele, Sesshoumaru continuava sério, olhar determinado.

–Porque era algo que eu queria e estava pensando em fazer há algum tempo.

–Há quanto tempo? – a voz dela saiu num fio.

–Tempo bastante para entender que precisava ser ontem.

A garota piscou e engoliu em seco. Ele já tinha se mostrado outras tantas vezes uma pessoa extremamente decidida. Na época da desastrosa eleição, Sesshoumaru deliberadamente colocou o nome dela na equipe porque ele queria os dois trabalhando juntos.

Agora ele dizia que também queria beijá-la? E o que eram aqueles sentimentos?

Rin.

O estremecimento que sentiu na noite anterior ao ouvir o próprio nome ser pronunciado por ele passou novamente pelo corpo. Parecia que era um efeito apenas por parte dele, como se somente Sesshoumaru tivesse aquele poder. Nunca havia sentido aquilo antes com qualquer amigo ou familiar que a chamava assim.

–O que aconteceu em Nagoya para você precisar mudar para a capital no último ano da faculdade?

A resposta demorou a vir. Novamente ele viu o semblante dela mudar para algo mais melancólico como havia acontecido na biblioteca.

–Eu tinha uma pessoa lá e não a tenho mais.

Não vieram outras explicações.

–Não quer falar sobre ela?

–Não. – o tom era mais ríspido que o normal, mas ele não se abalou.

–Por quê? – ele insistiu.

Nas sessões de terapia que ela fizera por algumas semanas para lidar com a dor da perda, o terapeuta falou várias vezes que ajudava conversar com pessoas próximas sobre como se sentia em momentos de luto.

Mas ela ainda não se sentia pronta.

–Porque não vou aguentar falar sobre isso.

Para seguir adiante momentaneamente, ela fechou tudo em uma grande caixa preta para abrir quando fosse a hora certa. Ou fazia isso ou não conseguiria mais seguir em frente. Foi o que a fez também decidir mudar para outra cidade até se sentir melhor e ter que abri-la.

–Eu passei por um problema em Nagoya… – ela começou lentamente. Ele não precisava saber sobre tudo o que havia acontecido com ela – Por isso eu mudei. Eu tinha que fazer isso ou ia ser pior.

Os dois ficaram por alguns segundos calados.

–O que aconteceu entre você e Asano? – ela achou que era a vez dela de fazer uma pergunta.

A menção daquele nome fez com que ele estreitasse de leve os olhos.

–Não aconteceu nada.

–Eu sei que não foi isso. – ela franziu a testa ligeiramente irritada – Houve alguma coisa ou ela não estaria me olhando atravessado nos corredores como aconteceu agora há pouco.

–Ela estava incomodando você? Agora? – ele parecia tão irritado quanto ela.

–Não chegou a falar comigo, mas estava me observando no corredor. Parecia que queria me fuzilar com os olhos.

–Ela e eu nunca tivemos nada. – ele balançou a cabeça sem desencontrar o olhar dela – Mas nossas famílias se conhecem há bastante tempo. Então praticamente crescemos juntos.

–E o que houve...?

Viu-o travar o maxilar.

Alguma coisa realmente havia acontecido?

–A minha família fez um arranjo com os Asano para nós... casarmos. Isso durante nossa infância.

Os olhos de Rin viraram dois riscos verticais. A boca abriu e não saiu som.

–Eu nunca aceitei isso, que fique bem claro. – ele explicou tão logo percebeu a reação exagerada dela – É um dos motivos para não ter um bom relacionamento com algumas pessoas em casa.

–Não é à toa que ela me trata mal. – ela cruzou os braços – Vocês já conversaram sobre isso? O que ela acha? Que vocês vão casar mesmo?

Sesshoumaru notou o quanto ela ficara transtornada. Não havia gostado daquilo, assim como ele.

–Nossas famílias inventaram isso há muito tempo. Éramos crianças ainda. Mas eu nunca tive nada com ela. – ele reafirmou para tentar tranquilizá-la.

–Isso é comum aqui? Casamentos arranjados? Crianças prometidas desde a infância? Vocês da capital pensam que estão em qual época, no Sengoku Jidai?

–Ainda é bastante comum nas famílias daqui, infelizmente.

–Não é justo nem pra você. Ou pra ela. Asano vai ficar presa nessa ideia até alguém sentar num banquinho e explicar que isso foi um arranjo entre as famílias sem consultar qualquer um de vocês. Ela vai querer atrapalhar qualquer relacionamento que você tenha porque a convenceram de uma bobagem dessas. Francamente, vocês de Tokyo são mesmo...

Parou de falar quando o viu na frente dela. Ele tinha sido tão rápido em se aproximar e, quando se deu conta, o corpo dele fazia uma sombra em cima dela.

Foi então que notou, pela primeira vez, que ela alcançava os ombros de Sesshoumaru. Definitivamente não era tão baixa como os outros diziam. Ela tinha a altura média de uma mulher japonesa.

-Ela não nos atrapalharia. Eu não ia deixar. – ele afirmou com a mesma calma que ela já estava habituada.

Sesshoumaru estava pensando que os dois teriam alguma coisa juntos?

Não, não, não, não, ela repetia mentalmente.

–Também não seria justo pra você estar comigo. – ela completou depressa ao baixar o rosto.

O rapaz se afastou o suficiente para estudar a feição dela. Notou o medo, o receio e como ela tentava se abraçar naquele hábito que tinha para se autodefender.

–E por que não?

–Porque... eu não ficarei aqui. – a voz dela veio tímida e com um leve sotaque que sempre tinha quando parecia lembrar da cidade natal, o rosto erguido para mostrar que ela tinha uma decisão já tomada – Vou voltar pra minha família quando meu compromisso acabar aqui. Eu já falei que só vim pra cá estudar por um ano e...

Percebeu só naquela hora que ele parecia não ligar para o que falava. Simplesmente estava com o rosto próximo, procurando os olhos primeiro e depois os lábios num pedido silencioso de permissão.

Rin sabia o que aconteceria em seguida. Não conseguia se mexer. Estava paralisada olhando os lábios dele e lembrando a sensação que tivera na noite anterior.

Quando faltavam segundos para se beijarem, a melodia de Bad Romance começou a tocar com insistência e os forçou a se separarem, trocando olhares com a música ao fundo.

Mas outra coisa chamou a atenção: ela reconhecia o toque. Viu Sesshoumaru pegar um celular do bolso do casaco e olhar a tela.

-Esse celular não é de Miroku-sama? – ela perguntou em choque. Era tinha certeza que era dele porque já havia visto o amigo tirar milhares de fotos dela para enviar para o canal de notícias.

–Sim.

–O que está fazendo com ele?

–Eu o confisquei. – ele desligou o aparelho para silenciá-lo de vez e voltou a guardá-lo no bolso.

–Por quê?

–Houshi jogou o peso de papel na parede. – ele mentiu e voltou a atenção a ela, baixando o rosto – Vai voltar nas férias para Nagoya?

Viu-a confirmar com a cabeça.

–Fique alguns dias na capital. Podemos passar um tempo juntos conhecendo alguns lugares.

–Programa de turista? – ela deu um sorriso sem graça que logo desapareceu quando ele novamente se aproximou para mais uma tentativa de beijo.

Sentiu as mãos dele tocarem os lados do rosto, primeiro apenas para roçar os lábios nos dela, depois selando as bocas num gesto gentil, a língua dele procurando a dela. Ela arregalou os olhos e prendeu a respiração por um segundo ou dois.

Não demorou muito para relaxar completamente e responder ao que ele estava fazendo. Fechou os olhos e permitiu-se sentir aquele instante. Dava até para perceber o gosto do açúcar dos biscoitos que ela havia comido minutos antes.

Era como o do dia anterior, também mais suave, calmo e sem interrupção, mesmo que não intencional, como havia acontecido.

Quente, foi a palavra que veio à mente de Rin. O corpo dela estava ficando quente com o que ele a fazia sentir.

Com a mesma calma habitual, ele separou os rostos e observou-a curiosamente, soltando o rosto dela. Rin tinha o rosto vermelho ao abrir os olhos e encontrar os dele, deslizando a língua entre os lábios como se quisesse provar algo ali.

–E-Eu... – ela sentia o rosto queimar e não conseguia evitá-lo – Eu preciso de um tempo pra pensar.

Sesshoumaru concordou. É claro que ela precisava. Ele próprio teve que tirar um momento assim ao ter que lidar com aqueles sentimentos sempre que ela estava por perto.

–Você não me respondeu sobre as férias.

–Oh, eu... – ela franziu a testa ao pensar, preocupada, naquele pedido – Acho que posso ficar mais alguns dias, mas minha família vai reclamar muito se eu demorar a voltar, principalmente o meu irmão.

–Entendo. – ele baixou o olhar para a mão dela, recém-recuperada do acidente – E o que eles falaram do que aconteceu com você aqui?

Viu a expressão dela mudar para um alerta e imediatamente percebeu o que havia acontecido.

–Você não contou ainda?

–Eles não precisam saber de tudo o que acontece comigo, principalmente o meu irmão. – ela cruzou os braços em teimosia. Ou ele viria me tirar da capital na mesma hora, completou em pensamento.

Um pequeno sorriso surgiu nos lábios dele. Se ela tivesse visto o diálogo trocado entre Houshi Miroku e ele no início da tarde, perceberia que era quase tão maligno quanto o que ele mostrou ao colega.

–Vamos fazer o seguinte: eu mantenho o seu segredo e lhe dou o tempo que quiser para pensar sobre nós dois... e você fica alguns dias a mais em Tokyo antes de voltar para Nagoya.

Os olhos de Rin viraram novamente dois riscos verticais e ela ficou em um silêncio cômico.

–Parece justo para mim. – ele permitiu-se colocar uma mecha de cabelo atrás da orelha dela.

Mais cinco segundos se passaram e ela continuava sem reação.

–Sim, esse tipo de negociação é comum na capital. – ele antecipou o comentário que ela muito provavelmente faria. Afastou-se e foi até a mesa de trabalho para abrir uma gaveta e jogar o celular de Miroku dentro antes de trancá-la.

Virou-se e a encontrou ainda na mesma posição como se fosse uma estátua.

–Fique tranquila, você sabe que eu não vou fazer isso. Mas eu falo sério sobre o passar alguns dias a mais. Nem que sejam dois. Você já tirou um tempo para conhecer a cidade?

Rin voltou a suavizar a expressão no rosto. Parecia menos nervosa agora.

–Eu vou tentar. – disse, por fim.

Ficaram novamente em silêncio. Ela realmente parecia mais tranquila. Sabia que ela não gostava de decidir ou de pensar em nada sob pressão. Teria tempo para tal. Sesshoumaru estava dando a oportunidade para ela escolher o que queria.

–Você quer sair para comer alguma coisa sem seus amigos?

–Meus amigos? – ela piscou em surpresa e depois franziu a testa – Miroku e Sango-chan?

–Existe mais alguém além deles? – ele perguntou. Queria também saber quem mais ela conhecia ou de quem era mais próximo na capital. Tinha quase certeza que eram apenas aqueles dois e eventualmente o irmão e Kagome.

–Eles são os seus amigos também, assim como eu. – a mecha que ele havia colocado atrás da orelha dela se rebelou e ela a colocou de volta ao lugar.

–Eu não quero ver Houshi hoje. – ele olhou discretamente a rachadura para que ela entendesse a situação.

–Oh... eu... – a ideia de comer algo bom naquele café que tinham ido outro dia passou pela cabeça, mas o momento não era o mais adequado por estar cansada. A tensão da conversa e aquele beijo a deixaram exausta – Eu prefiro ir pra casa. Vou dormir um pouco mais cedo. E também preparar tudo para o passeio em Yokohama.

–Você vai para Yokohama? Quando? – ele arqueou as sobrancelhas e disfarçou a surpresa daquela informação ao isentar o rosto de emoções.

–Decidi hoje. – Agora há pouco, na verdade. – Sango-chan me convenceu.

O maxilar dele travou. Provavelmente Miroku contaria sobre o que havia acontecido se ele tivesse muita coragem de sofrer as consequências nas mãos dele depois.

–Creio que você vai gostar de lá. Há bastante coisa para ver. Templos, parques e essas coisas.

–Ah... – ela deu um sorriso. Ele já sabia que ela gostava daquele tipo de coisa. Havia notado provavelmente pelas conversas que compartilhavam sobre Nagoya.

–E depois pode conhecer algumas partes de Tokyo comigo.

Rin ficou em silêncio, pensativa.

–Você disse que me daria tempo pra pensar. – ela sussurrou num lamento.

O que havia acontecido com ela para ela ficar tão melancólica à simples menção de estar envolvida com alguém? Algumas teorias começaram a passar pela mente dele para deixá-lo inquieto.

–Você não pensa em ter nenhum tipo de relacionamento? – ele quis saber.

–Eu não pensei nisso quando vim pra cá.

–Por causa do que aconteceu em Nagoya?

Rin confirmou com a cabeça. Segundos depois, ele a viu ficar estranhamente agitada e nervosa.

–Sesshoumaru, eu... – ela torcia as mãos sem jeito, franzia a testa como sinal daquela preocupação, o sotaque começando a ficar mais evidente – Eu considero você um dos meus únicos amigos aqui. Nunca pensei em você mais... romanticamente. Mas... independente do que decidirmos, eu não queria que as coisas ficassem estranhas entre nós. Por favor.

O rapaz apenas inclinou o rosto para o lado como se estudasse o dela.

–Você deve me prometer. – ela parecia ligeiramente irritada com a falta de uma resposta, voz sombria como se tentasse soar como uma ameaça.

Depois de alguns segundos, ele finalmente concordou com a cabeça.

–Ufa. – ela deu um suspiro de alívio e passou o braço pela testa para limpar um suor imaginário ali. Parecia contente consigo mesma por resolver aquela questão.

Para ele, a conversa foi meio caminho andado. Ajudaria mais saber mais sobre a história, assim poderia saber como agir ou mesmo sobre o quê conversar.

Mas a decisão estava com ela. Sesshoumaru já tinha a dele tomava. Rin disse que pensaria na situação entre ambos e conversariam novamente.

–Quer uma carona até o apartamento? – ele perguntou para encerrar aquele momento. Nenhum dos dois voltaria para ver o final das aulas. O dia estava encerrado ali mesmo.

–Ah... – ela deu um sorriso que aparentava tranquilidade, como se nem tivessem discutido sobre algo pessoal ali – Você sabe que aceito sem resistência quando fico sem dormir.