Nota da autora: Desculpem não ter atualizado antes. Pensei que daria conta das coisas esta semana, mas tenho ainda muita coisa do trabalho acumulada por conta do tempo que fiquei sem computador. Foi um dos motivos para não ter respondido ainda aos comentários... :( Obrigada a Jo, Ana, Marilia, riloli e isabelle36.

Sobre Yokohama: vou postar um outtake em breve ;)

Espero que gostem deste capítulo. Quem puder ler e comentar, fico muito feliz.

Quem quiser acompanhar sobre atualizações e talz, pode visitar meu profile no ffnet ou no twitter (username ukitaketai).


UM CAMINHO PARA DOIS

CAPÍTULO 9

O caminho que não aparece

Sexta-feira pela manhã, último dia de aula do semestre.

O fim do semestre e início das férias de verão eram aguardados por todos os alunos, principalmente por Nozomu Rin. Com passagem comprada para Nagoya e malas quase prontas, ela cantarolava baixinho pelos corredores da faculdade, indo tranquilamente verificar nos quadros a nota da última prova que realizou três dias antes.

Três semanas se passaram desde que tivera uma conversa importante com Sesshoumaru. Nesse período também fizera uma viagem a Yokohama, onde passou três dias com os amigos, tivera provas e trabalhos, organizou a viagem para Nagoya.

Seria para Rin o último dia na faculdade antes do tão sonhado período se não fosse por um detalhe...

–Olá, Rin-chan. – Sango acenou ao vê-la se aproximando do quadro. Outros estudantes também estavam aglomerados – Está tão linda hoje. Ocasião especial?

–O início das férias. – ela sorriu e ignorou Miroku pegando o novo celular para tirar uma foto dela para provavelmente postar no Gossip Cop. O vestido branco de tecido leve com flores vermelhas ia até os joelhos e tinha uma faixa grande também vermelho, um rabo de cavalo amarrado por um laço vermelho na lateral completavam o visual dela. Ela adorava o verão.

–Já saíram as notas. – Miroku apontou para o quadro com a cabeça, atenção voltada para o celular, digitando agilmente alguns comentários sobre a mais recente postagem.

A garota animou-se para ver o quadro, ficando na ponta dos pés ao tentar localizar o próprio nome.

Depois franziu a testa. Não havia o nome dela na lista com as notas dos aprovados. Ela tinha certeza que estaria ali.

–Hm... Que estranho. – ouviu Sango comentar. Franzia a testa e olhava para uma tela cujos avisos estavam pregados em papel de tom mais rosa/vermelho – É o seu nome aqui, Rin-chan?

Miroku parou de digitar e correu para ver o quadro. Rin fez o mesmo.

QUÊÊÊÊ? – ela gritou ao ver o quadro de notas parcial, rosto extremamente pálido, olhos arregalados.

... haveria mais uma prova a ser feita.

HÁHÁHÁHÁ! – Miroku ria descontrolado e teve que se apoiar na parede para se manter em pé.

–Miroku, pare com isso. – Sango falava ao rapaz, mas igualmente tentando conter o riso diante da reação da amiga.

–Não acredito... – ela murmurava, sem tirar os olhos do papel – Não pode ser... MAS QUE DROGA!

–Oh... – uma voz que ela conhecia muito bem falou bem atrás dela – Entrou na lista vermelha?

Rin apoiou as duas mãos na parede como um gesto de desistência. Não queria se virar naquela hora. Sabia quem era.

E sabia que eventualmente ele perguntaria a respeito de algo para ela.

–Sesshoumaru-sama, não a provoque, por favor... – Sango tinha a testa franzida – Acho que é a primeira vez que isso acontece.

–Lamentável. – ele falou, sarcasticamente.

EU NÃO ACREDITO! – Rin puxava os cabelos num gesto irritado.

–Calma, Rin... – Sango tentou animá-la tocando-lhe o ombro – Veja pelo lado positivo: Miroku e eu também estamos nessa lista. Podemos estudar juntos.

O olhar sombrio de Rin a assustou. A sugestão não era nada animadora e ela precisou parar de tocar a amiga.

–E o que você está fazendo aqui? – Miroku perguntou.

NÃO ACREDITO!– Rin continuou para quem quisesse escutá-la.

–Eu vim saber sobre a data da prova para quem entrou na lista vermelha. – Sesshoumaru falou, ignorando os lamentos da garota – Seria melhor se fizessem isso também, a prova é segunda.

Sango e Miroku os olhos, sem entender o que o rapaz queria dizer. Ou melhor, pareceu ter entendido algo impossível de acontecer. Rin também parou de se lamentar e o olhava sem acreditar.

–Todo mundo entrou na lista desta vez. O professor perdeu a pasta com as provas e vamos ter que fazer novamente.

HEEEEIN? – os três perguntaram ao mesmo tempo.

Não, não, não, não, a palavra martelava na cabeça de Rin.

–Eu tenho uma viagem a fazer! – ela pegou Miroku pelo colarinho e o chacoalhava como se quisesse que ele entendesse à força o problema que ela tinha em mãos – Meu irmão já está fazendo acampamento na porta da estação!

–E não tem como mudar a passagem? – Sango perguntou também preocupada. Ela não entendia como funcionava a troca de passagens, mas, pela reação de Rin, poderia ser algo complicado.

–Tenho, mas... – ela tinha os olhos marejados – Eu já tinha tudo planejado.

–Você vai ter que desmarcar, não? – Sesshoumaru atestou.

Pela primeira vez ela parou os lamentos, soltou a gola da camisa de Miroku e encarou seriamente Sesshoumaru.

–Vai ficar mais alguns dias na cidade. – ele finalizou ao trocar olhares com ela, mãos casualmente nos bolsos da calça social – Não é?

Rin parou de respirar por um segundo, olhar fixo apenas nele.

Se fosse para ficar alguns dias a mais... Ele não teria coragem...

–Inuyasha disse que vocês querem encontrá-los hoje. Ele e Kagome já entraram de férias. – ele deu as costas ao grupo e ergueu uma mão para acenar – Avisem-me se pensarem em estudar em grupo. Vou me planejar para fazer isso também.

Ou teria?


Rin achou que as três semanas desde a conversa que tivera com Sesshoumaru passaram rápido demais para pensar sobre a situação entre eles. Claro que, às vésperas das tão esperadas férias, ela sabia que precisava ter outra conversa séria com ele.

Em casa, ela terminava de preparar um lanche para as visitas que receberia – Kagome, Inuyasha, Sango e Miroku. Sesshoumaru não havia confirmado se viria. Se viesse, talvez fosse uma boa oportunidade de conversar com ele depois que terminassem de estudar.

Olhou o relógio na parede. Estava quase na hora de chegarem.

Esperava que desse tudo certo. Na verdade, pensava em tirar um tempo para pensar em Nagoya longe de todos os problemas do curso. Será que Sesshoumaru entenderia se ela quisesse fazer isso?

Parecia ser ele uma pessoa compreensiva nesse aspecto. Ele também, nas semanas que se passaram, parecia ter dado espaço e tempo suficiente para ela não se sentir pressionada.

–Hmm... – ela segurou o queixo pensativa – Será que eles vão ficar para jantar?

Foi até a geladeira e abriu a porta, verificando o conteúdo. Não tinha o suficiente para todos. Não havia feito compras por já estar preparada para a viagem. Talvez pudesse pedir comida para completar o que já tinha.

O interfone soou e ela ficou ansiosa em antecipação. Fechou a porta da geladeira e correu para atender o interfone.

–Sim?

A gangue toda chegou. – Miroku falou divertidamente.

–Podem subir. – ela abriu o portão e colocou o fone no lugar.

Minutos depois, ela abria a porta para receber as visitas.

–Sejam bem-vindos! – recebeu todos com um sorriso.

Sango, Miroku, Inuyasha e Kagome estavam na frente.

E, para a surpresa dela, viu também Sesshoumaru com o grupo.

Ele veio...

–Olá, Rin-chan. – a namorada de Inuyasha falou, as mãos unidas em frente ao corpo – Obrigada por nos receber.

–Podem entrar. – ela deu passagem para eles tirarem o sapato no genkan – Fiquem à vontade.

Notou que o último a entrar seria Sesshoumaru, ficando os dois frente a frente.

Será que ele ia...?

–Eu posso entrar? – ele perguntou suavemente.

Rin deu passagem murmurando um "bem-vindo" e ele passou para o genkan para tirar os sapatos.

–Que apartamento adorável, Rin-chan. Já estava mobiliado, né? – Kagome perguntou ao se sentar no sofá junto com Inuyasha.

–Sim, é bem bonito, né? – ela respondeu, indo até a cozinha e gritando de lá – Querem beber alguma coisa?

–Água. – a maioria pediu.

Enquanto Rin estava longe, o grupo começou a conversar sobre a faculdade e como o professor poderia ter perdido as provas. Inuyasha contava a história de que na turma dele, o mesmo professor já havia feito o mesmo e estava grato por não ter mais disciplinas com ele.

De todos, no entanto, Kagome parecia estar demais concentrada em outra coisa, olhando para algo na janela.

–Parece ser bom aqui. Por que ela quer mudar? – Inuyasha perguntou para si mesmo – É por causa da distância?

–Ela mencionou isso e também disse que aqui há alguns problemas... – Sango tinha a mão direita no queixo – Mas eu não lembro quais.

Sesshoumaru arqueou as sobrancelhas. Então ela não havia contado aos outros o motivo de querer mudar de lugar?

–Eu ficaria por aqui mesmo. – Miroku comentou – Fica a 10 minutos andando do metrô, mas isso não é um problema muito grande. Acho que pra Rin-chan isso também não é.

–O que foi, Kagome? – Inuyasha perguntou ao notar a namorada olhando fixamente algum ponto da casa.

A garota mantinha uma expressão séria e assustou ao rapaz ao levantar a mão e apontar para a varanda cheia de vasos.

–Tem uma mulher ali mexendo nas plantas.

Todos olharam para a direção que ela apontava e não viram nada.

–O-Onde está, Kagome-chan? – Sango perguntou assustada.

–É um espírito. – ela baixou a mão e a largou no colo – Ela parece irritada.

Ficaram em silêncio e viram, do nada, um vaso pequeno cair do parapeito.

–Ela me contou... – Sesshoumaru falou, aproximando da varanda e abrindo a porta de vidro – ... que vê uma mulher mexendo nas coisas dela.

–Kagome... A mulher ainda tá lá? – Miroku perguntou.

–Não. Ela já foi. – a garota respondeu, baixando o rosto e abraçando Inuyasha – Rin-chan deve sentir muito medo. Ela está irritada com pessoas morando aqui.

–Ela sente sim. – Sesshoumaru falou enquanto olhava o vaso quebrado e várias plantas e flores quebradas.

–Trouxe água e chá... – Rin apareceu na sala com uma bandeja, pousando-a sobre a mesinha de centro.

Enquanto alguns se serviam e evitavam comentar sobre o que Kagome havia falado, ela olhou a varanda com a porta aberta, onde Sesshoumaru ainda estava próximo.

–Puxa vida... Minhas plantinhas... – falou em tom choroso.

–Era um gato. – Sesshoumaru falou ao fechar novamente a porta de vidro – Já o espantamos.

–Ah... – Rin voltou a olhar para a bandeja, unindo as mãos em frente ao peito – Querem mais alguma coisa? Comer algo? Eu tenho biscoitinhos de manteiga.

Parecia que aquela era a forma dela de implorar por mais tempo de companhia.

–Ah... bem... Nós já estamos de saída. – Kagome perguntou levantando-se e puxando Inuyasha com ela, este visivelmente irritado por ficar sem comer – Vamos deixar vocês estudando agora, Rin-chan. É melhor, né?

–Oh... – Rin murmurou, a testa franzida – Que pena...

–Vamos voltar outro dia, tá? – Kagome deu um beijo no rosto dela – Vou resolver algumas coisas...

–Até mais, Rin. – Inuyasha falou, segurando a mão da namorada.

Depois de colocarem os sapatos, os dois saíram do apartamento deixando os quatro com certas dúvidas sobre o que teria levado Kagome a agir daquele modo.

–Por que quis sair de lá assim, Kagome? – Inuyasha perguntou do lado de fora.

–Vamos lá pro templo... Vou conversar com Vovô sobre isso... Espero que ele ajude. Estou preocupada com Rin-chan.

–Não precisa se preocupar... – ele puxou a namorada para perto de si – Sesshoumaru está com ela hoje. Miroku e Sango também

–Tem razão, né? – ela deu um sorriso – Ficarei mais tranquila hoje sabendo que estão com ela.

–Keh...Você vive se preocupando com os outros...

–Mas você gosta quando fico preocupada com os outros, né? – ela encostou a cabeça no ombro dele enquanto desciam pelo elevador.

A resposta dele foi envolver um braço na cintura dela.

No apartamento, a conversa era outra:

–Vocês passariam mesmo a noite aqui? – Rin perguntou a Sango e Miroku, mãos unidas como se estivesse em prece e olhos brilhando.

–Sem problemas. – os dois responderam ao mesmo tempo.

–Vou arrumar então o outro quarto pra vocês. – ela parecia extremamente animada com a companhia – Eu nunca tive visitas aqui. Aluguei o apartamento pensando que meu irmão viria me visitar algum dia, mas ele nunca se interessou nesses meses que estive aqui.

–E eu vou ficar onde? – Sesshoumaru perguntou casualmente.

Rin franziu a testa, confusa.

–Ué... Eu não sou da equipe de estudos? – ele perguntou, colocando as mãos nos bolsos – Achei que eu também deveria passar a noite aqui.

–E por que você passaria a noite aqui? – ela inclinou a cabeça para analisar o rosto dele – Você não tem a sua casa? Miroku falou que parece um castelo.

–Você vai mesmo me deixar de fora? – ele arqueou as sobrancelhas e falava num tom absurdamente pausado e calmo para que ela se sentisse culpada.

–Tá bom, tá bom. – ela falou irritada ao perceber a estratégia dele – Eu arrumo o quarto de hóspedes pra você e Miroku dorme no futon na sala. Sango e eu ficamos no meu quarto.

–Sango e eu podemos dormir juntos. – o rapaz passou o braço pelo ombro da garota – Até na sala, se for o caso.

Rin franziu a testa.

–Ah, vocês estão juntos mesmo? – ela coçou a cabeça – Juntos, como num casal?

–Ninguém colocou nada disso no Gossip Cop. – Sesshoumaru comentou, a dúvida visível na expressão quase estoica.

–Você também acompanha isso? – Rin virou o rosto abruptamente para ele e parecia tão chocada que a boca não queria fechar.

–É que somos um casal discreto. Não gosto de ser alvo de fofocas. – Miroku quis beijar ruidosamente o rosto de Sango e recebeu uma cotovelada que o deixou sem ar.

–Bem, então... – Rin ficou pensativa – Vocês ficam no meu quarto e o Sesshoumaru no quarto de hóspedes... Eu durmo na sala, pode ser assim?

Uma gota escorregou pelo rosto ao ver Sango pegar a bandeja que estava na mesinha e bater sistematicamente na cabeça de Miroku. Trocou depois um olhar com Sesshoumaru que simplesmente deu de ombros.


Passos. Luzes. Mais passos.

Sesshoumaru abriu os olhos e tentou reconhecer onde estava e por que não estava em uma cama tão confortável quanto a dele, até lembrar-se que, apenas para implicar com Rin, ele decidira passar a noite no apartamento dela, apesar de já bastar a companhia de Miroku e Sango para ela naquela noite.

Percebeu depois que o barulho de passos que o despertara vinha da sala. Pela fresta debaixo da porta do quarto viu também a luz acesa. Alguém estava acordado e andava de um lado para outro, até finalmente parar.

Pegou o celular e viu que passavam alguns minutos depois das quatro da manhã.

Curioso, resolveu se levantar para ver se a pessoa na sala era realmente quem estava pensando.

Ao abrir a porta, viu Rin sentada no sofá, as duas pernas encolhidas para apoiar um livro. Ela arregalou os olhos e depois piscou ao vê-lo ali. Havia também uma almofada e um lençol amarrotado, como se fosse um leito provisório, perto dela.

–Oi... Não está conseguindo dormir? – a garota perguntou suavemente. Estava ainda com a roupa de dormir, um pijama roxo estampado com borboletas amarelas – A cama é ruim?

–O que está fazendo? – ele ignorou a pergunta e aproximou-se para sentar ao lado dela, que encolheu-se mais para dar espaço a ele.

–Estou estudando... – ela pareceu notar o tom preocupado na voz dele – Algum problema?

–Está acordada desde aquela hora? – todos se recolheram por volta das onze da noite, depois que Rin terminou de arrumar os quartos. Se ela ficou sem dormir, então...

Rin balançou a cabeça.

–Eu dormi logo que vocês. Acabei de acordar. Vou estudar um pouco agora enquanto o sono não volta.

–Agora?

–É... – ela deu um sorriso sem graça e coçou um lado do rosto – Mais tarde eu durmo de novo.

Ficaram em silêncio.

–Você não precisa ficar aqui comigo. – ela permitiu que o cabelo fizesse uma cortina para separá-los – A não ser que queira sacrificar algumas horas de sono pra estudar também.

Sesshoumaru nada falou e ela curiosamente ergueu a vista. Ele estava calmo, observando as feições dela, perguntando-se se ela mesma havia percebido que aquele cabelo solto era mais uma tentativa para evitá-lo.

–Você vai embora sem conversar comigo. – ele simplesmente atestou.

Rin o olhou de soslaio. Ele parecia resignado. Não havia um tom acusatório ou irritado. Era como se ele já aceitasse aquela situação.

–Desculpe. – ela falou depois de algum tempo, sentindo-se mal com a própria escolha feita.

–Pelo quê?

–Por não dar uma resposta. – ela fechou o livro e o deixou em cima das pernas dobradas – A verdade é que ainda não me sinto bem para pensar em nada nesse sentido. E as últimas semanas foram muito ruins. Você viu que tivemos um trabalho atrás do outro. Eu não tive como pensar em mim mesma.

Sesshoumaru a viu pegar o cabelo e colocá-lo em um só lado, tirando aquela cortina que os separava.

–Pensei em fazer isso em Nagoya. – ela baixou baixinho num tom quase triste.

–Você vai ficar quase dois meses longe. – ele estreitou de leve o olhar.

–Tenho bastante coisa pra fazer lá.

Aquilo parecia já ser uma resposta para ele: a falta de interesse por parte dela era evidente.

Talvez fosse melhor deixar aqueles sentimentos de uma única mão de lado. Não se tornariam uma mão dupla.

Mergulharam novamente no silêncio.

–Há quanto tempo... você sente isso? – ela perguntou repentinamente sem encontrar o olhar dele.

Sesshoumaru queria lembrar exatamente quando começou a pensar nela de uma outra forma, mas parecia que ela sempre estivera presente na mente dele desde o primeiro dia naquela faculdade, quando escutava músicas e cantarolava sem querer ser incomodada.

E naquele incidente com Ookami Kouga...

–Há algum tempo. – ele admitiu e a viu colocar o livro no chão.

–E por que você... por que só agora? – ela brincou com a ponta dos pés, apoiados na beirada no sofá. Os joelhos serviam agora de apoio para o rosto e ela os abraçava.

–Você falou em ir embora daqui. – ele admitiu – Isso fez com que eu tomasse alguma atitude.

–Hm. – ela murmurou timidamente para dizer que havia entendido.

Os dois pareciam adolescentes naquela hora, o que o irritou bastante. Mas verdade era que Rin ainda estava apavorada que acontecesse alguma coisa se ela decidisse se envolver com alguém.

E o fato de ter tão pouco tempo em Tokyo até se formar contribuía para que o pedido fosse negado.

Parecia que ele sentia o que ela estava finalmente decidindo, pois tomou uma das mãos dela como se quisesse chamar-lhe a atenção. Surpresa, ela encontrou o olhar dele e baixou as pernas.

Decidido, ele aproximou o rosto, apenas com a intenção de pedir permissão como havia feito das outras vezes. Manteve os lábios próximos, sentindo a respiração dela e ouvindo-a prender de leve o fôlego.

Rin olhou para os lábios e depois para o dono deles.

Quem tomou a decisão foi ela. Novamente ela subiu as pernas para sentar-se em seiza, o estilo tradicional japonês. Depois, discreta e habilmente, Rin passou a língua entre os lábios para umedecê-los e aproximou mais o rosto, um pouco hesitante a princípio, e começou a beijá-lo.

Sesshoumaru fechou os olhos e aproveitou, assim como ela.

A garota se afastou por um momento como se avaliasse o que estava fazendo, a mão tocando a própria boca em surpresa. Também murmurava alguma coisa que ele não entendia naquele dialeto da cidade dela. Era como se estivesse conversando consigo mesma.

Novamente ela aproximou o rosto, olhos fixos nos lábios dele como que hipnotizada, pressionando de leve.

Não demorou muito para que ambos começassem a se envolver. Sesshoumaru tocou o rosto dela, roçando o polegar na maçã do rosto, enquanto ela tinha a mão direita no ombro dele. As bocas se moldavam, as línguas se tocavam. Conseguiam sentir a respiração um do outro.

Sesshoumaru não sabe quanto tempo levou. Talvez tenha sido dez minutos, talvez mais de trinta. Os dois apenas aproveitaram aquele instante nos braços um do outro, Rin praticamente no colo dele. Ele sentiu-a menos tensa, mais quente, mais receptiva.

Rin de novo se afastou e abriu os olhos, mas não para fixar nos deles, mas sim novamente na boca. Ele aproveitou a chance para inclinar o rosto e beijá-lo no pescoço, sentindo a pele tão febril e ela sussurrar alguma coisa.

Aquilo indicava que ela aceitava ficar com ele, pelo menos por alguns meses?

Repentinamente Rin prendeu a respiração e sentiu-a tremer nos braços e sufocar um grito. Ele parou o que fazia para reparar o rosto dela, extremamente pálido, olhos arregalados. Estava assustada com alguma coisa que via por cima do ombro dele.

Olhou para trás e nada viu.

–Rin? – ele sentiu-a estremecer e esconder o rosto no peito dele.

A garota estava tão trêmula nos braços dele que parecia que ia desmaiar.

–Você está vendo alguma coisa ali?

Sentiu-a balançar a cabeça numa confirmação. A pele antes quente agora estava fria como o gelo.

Continuou abraçado a ela, de vez em quando olhando para trás. Parecia tudo normal.

–Eu quero ir embora daqui. – Rin confessou de repente como se fosse só para ela.

Sesshoumaru não entendeu em qual sentido era aquilo. Era ir embora da cidade? Ou ir embora daquele apartamento?

Nunca havia se dado conta que era realmente um problema que ela enfrentava ali, mesmo sabendo que ela perdia tempo procurando outro apartamento mais confortável para continuar na capital. Pela reação dela, não era agradável continuar morando ali.

–Você quer que eu fique aqui com você? – ele perguntou.

A resposta veio alguns segundos depois com outra confirmação de cabeça.

Continuaram assim até Rin dormir abraçada ao corpo de Sesshoumaru. Ele não queria sair daquela posição. Não havia mal algum em dormir daquela forma, abraçada a ela, havia? Ele pegou o lençol para cobri-los e o travesseiro, posicionando-o da forma mais confortável possível embaixo do pescoço, deitando-se com ela por cima dele.

–Boa noite... – ele murmurou, antes de fechar os olhos e adormecer também.


Sesshoumaru acordou com uma brisa a soprar pelo apartamento. Abriu os olhos e viu a porta da sacada aberta. Tinha quase certeza de que ela estava absolutamente fechada durante a madrugada.

Colocou um braço atrás da cabeça como apoio e observou a garota em cima dele. Ela estava respirando ainda calmamente. Talvez ainda estivesse sonhando.

A outra mão, um pouco hesitante, tocou o topo da cabeça, afagando o cabelo. Ela precisava acordar logo. Se os outros dois acordarem e os vissem daquele jeito, ia ser destaque pelo resto do ano no Gossip Cop.

O olhar estreitou ao notar uma coisa curiosa: uma cicatriz no couro cabeludo, mais precisamente no lado direito. Parecia ser profunda, quase não havia pelo na região. No inverno, ela usava o chapéu provavelmente para escondê-la, no verão ela costumava prender o cabelo na direita com um laço.

Sentiu-a se remexer sobre ele e despertar. Viu-a esfregar os olhos e levantar o rosto para olhar a sacada.

–Finalmente acordou. – ele falou.

Mas ESSA voz...

A princípio ela havia sentido um agradável cheiro masculino e sentia-se muito confortável por entre certos braços. Há muito tempo não se sentia daquele jeito... Lembrava um pouco a época que dormia com Aki quando ainda estava vivo, quando também tinha braços que a protegeriam e que diziam que sempre a abraçariam em todos os momentos.

Rin sentiu o sangue gelar e virou o rosto lentamente, desejando que não fosse aquela pessoa que estivesse embaixo dela.

–Você acordou mesmo, criança? – ela viu Sesshoumaru perguntar com o rosto impassível, distraidamente brincando com o cabelo dela.

Sesshoumaru sorriu ao ver a expressão chocada no rosto dela. Rin tinha a boca ligeiramente aberta, o rosto vermelho pela vergonha e ainda pôde perceber que estava a ponto de gritar a qualquer momento.

–Bom dia. – ele falou.

Um silêncio cômico se fez.

Para quebrar o gelo e aquele susto inicial, ele decidiu usar outra estratégia.

–Eu reparei que você tem cabelo branco.

O olhar dela arregalou mais do que o normal. A reação dela foi saltar de cima dele e correr para a frente de um espelho que tinha no genkan. Desesperadamente ela procurou o fio para arrancá-lo.

Sesshoumaru aproveitou para ajudá-la. Aproximou-se e, sem pedir licença, tocou no cabelo dela para, em menos de um minuto, encontrar o que ela queria e puxar o único fio prateado.

–Aqui.

A garota pegou o fio, arrancou-o, jogou-o no chão e pisou furiosamente nele.

–Você sabe que não adianta muito fazer esse tipo de coisa, não? – ele aconselhou.

A raiva no olhar cedeu e deu lugar a um receio de ter que conversar com ele. Sesshoumaru percebeu o que aquilo significava e tratou de desviar o olhar.

–Houshi e sua amiga devem acordar daqui a pouco. – ele perguntou.

–E-Eu vou preparar alguma coisa. – ela sentiu o coração acelerado. Era aquilo que ela queria evitar a todo custo, principalmente naqueles últimos dias na cidade – Você toma café pela manhã?

Recebeu uma resposta positiva dele e seguiu quase correndo para a cozinha.

Alguns minutos depois, ele estava de novo com ela, aproximando-se. Viu-a preparar o café, separar o pó, ajeitar a cafeteira com a testa franzida.

–Eu não vou dormir aqui hoje. – ela murmurou – Não aguento mais.

Sesshoumaru cruzou os braços.

–E vai dormir onde?

–Vou procurar um hotel. Mas não fico mais à noite aqui. Você viu o que aconteceu. Eu tenho que ficar tranquila e concentrada até segunda.

–Meu pescoço está... – Sesshoumaru colocou a mão no pescoço e o girou para o lado para tentar estalar. Mal percebeu as leves mãos de Rin tocarem o lugar que ele reclamava estar doendo.

–Aqui? – ela perguntou, ficando na ponta dos pés para ajudá-lo. Depois lembrou-se onde ele havia dormido e sentiu o rosto queimar – D-Deve ter sido o s-sofá. Desculpe.

A resposta dele foi um movimento rápido para tomar as as mãos dela e obrigá-la a ficar de frente. Sesshoumaru ficou em silêncio, notando que os olhos castanhos estavam com um brilho diferente.

Os dois ouviram a porta do quarto de Rin abrir e alguns murmúrios. Afastaram-se antes de Sango e Miroku aparecerem na porta da cozinha ainda esfregando os olhos.

–Bom dia. – os dois murmuram quase ao mesmo tempo, ambos ainda bocejando – Dormiram bem?

Rin baixou o rosto.

–Aconteceu alguma coisa? – Sango perguntou ao olhar para os dois.


Sábado à tarde

O apartamento que Sango dividia com o irmão tinha visitas: Rin, Sesshoumaru e Miroku, este último quase da casa de tantas vezes que agora frequentava.

Depois que ouviu uma parte editada do que havia acontecido de madrugada, Sango convidou Rin para dormir ali. Preocupada, ela e Miroku começaram a ajudar na busca por um apartamento.

–Enfim... – ela contava para eles durante a pausa que fizeram nos estudos para o lanche da tarde – Não tenho tempo de procurar nada agora, vou fazer isso depois que eu voltar de Nagoya.

Enquanto tomava chá, Sesshoumaru apenas se perguntou quantas coisas ela resolveria depois que voltasse da cidade dela.

Os pensamentos dos dois pareciam conectados, pois ela encontrou o olhar dele e depois desviou.

–A gente pode procurar também se quiser. – Miroku falou – Coloco um anúncio no Gossip Cop e pode aparecer algo interessante. Já sabemos mesmo como você quer. Sem basculante na cozinha e toalete separado do banheiro.

–Será que o povo que fala sobre a vida alheia pode mesmo ajudar? – Rin ficou pensativa.

–Cheguei... Tem alguém em casa? – ouviram falar da sala. Logo depois, na porta da cozinha aparecia um rapaz de roupa social aparentando ter a mesma idade de Rin.

–Ah, Kohaku... – Sango começou, percebendo também a expressão de surpresa do rapaz ao notar as visitas – Você já conhece Miroku, mas não estes aqui... Sesshoumaru... – ela apontou para o rapaz.

–Prazer. – ele falou ao rapaz, educadamente.

–E Nozomu Rin-chan – Sango completou.

Kohaku se aproximou da amiga da irmã e pegou uma das mãos para beijar a costa de modo ocidentalmente cavalheiro.

Diante disso, Sesshoumaru arqueou uma sobrancelha.

–Muito prazer, Nozomu-san.

–Você pode me chamar de Rin. – ela falou com um sorriso.

–Vou trocar de roupa. Volto daqui a pouco. – Kohaku saiu da cozinha.

–Não sabia que morava com o seu irmão. – Rin comentou entre um gole e outro de chá – Vou incomodar se dormir aqui hoje?

–De forma alguma. Você pode dormir no quarto do meu irmão. Ele dorme na sala. – ela foi até a porta e gritou para ser ouvida – Kohaku! Aparece aqui depois!

–Sango-chan, isso não é justo... – Rin parecia aflita – Se for pra ser incômodo, eu posso procurar um hotel.

–Imagine. Amanhã você também pode dormir aqui. – Sango ofereceu com um sorriso.

–Ou pode estudar na minha casa e passar a noite lá. – Sesshoumaru falou.

Os três arregalaram os olhos para o rapaz. Parecia que Miroku tinha estrelinhas no rosto. Seria uma boa oportunidade de fazer fotos de uma parte da vida particular do sempre discreto Sesshoumaru e ser um ponto de destaque do Gossip Cop.

–É verdade que é um castelo? O Inuyasha falou uma vez que parece um Hilton Plaza Tokyo. – Rin apoiou o rosto em uma mão.

–Então está combinado! – Sango tinha as mãos unidas – Você dorme aqui hoje e amanhã dorme na casa de Sesshoumaru-sama.

Rin trocou um olhar com Sesshoumaru e depois desviou.

–Queria falar comigo? – Kohaku reapareceu na cozinha usando roupas mais simples.

–Rin-chan irá dormir no seu quarto hoje, tá?

–Tudo bem. – o rapaz falou tranquilamente e começou a se servir das mesmas coisas que havia à mesa, sem perceber como era observado por Sesshoumaru.

–Mas não é justo, Kohaku! – Rin protestou de novo para tentar convencê-lo a mudar de ideia – Olha... Que tal você dormir no seu quarto e eu ficar na sala?

–Hmm... – Kohaku perguntou, colocando presunto e queijo num pedaço de pão – Que tal se nós dois dormirmos no quarto?

Quase todos arregalaram os olhos ao ver Miroku cuspir o chá que bebia, não conseguindo também conter um acesso de tosse e as gargalhadas. Sango tinha o rosto mais pálido que as paredes da casa e Rin olhava confusa para a reação deles.

Apenas Sesshoumaru observava toda a cena a sobrancelha levemente arqueada.

–Tudo bem aí? – Rin batia de leve nas costas de Miroku.

Sesshoumaru fez-se presente ao perguntar:

–Dormir no mesmo quarto?

–É... – Kohaku respondeu distraidamente – Ela dorme na cama e eu no futon.

–Mas não é justo que você...

–Você vai dormir na sala, Kohaku. – Sango interrompeu a amiga e deu a palavra final.

–Mas... – Rin tentou ainda argumentar.

–Eu quero que ele durma lá, Rin! – Sango exclamou, assustando-a ao se levantar da mesa e bater os punhos nela – Ele vai dormir na sala e você no quarto!

–T-Tudo bem, S-Sango-chan! – Rin estava levemente azul de medo.

Kohaku simplesmente deu de ombros e saiu da cozinha depois de preparar o lanche.

O telefone de Miroku tocou ao som de Telephone e interrompeu de vez a conversa entre eles.

–Um momento. – Miroku arqueou uma sobrancelha ao reconhecer o número e pigarreou para mudar o tom de voz – Você ligou para o Gossip Cop. Para compartilhar uma notícia, disque 1. Para falar sobre a enquete de moda da nossa estrela de Nagoya, disque 2. Para falar com o presidente geral, disque 3.

Houshi Miroku... – a divertida voz de Kagura soou do outro lado – Estão se divertindo aí?

–Kagura! Há quanto tempo. – o rapaz fingia surpresa. Todo mundo sabia que ele tinha contato direto com ela – Tudo bem?

–Quero falar com o seu amigo que não para de observar a menina de Nagoya.

–Quer falar com Sesshoumaru-sama? – Miroku olhou o outro e o viu fazer sinais para dizer que não estava ali – Só um instante, Kagura, ele vai atender

Miroku deu uma piscadela ao entregar o aparelho ao rapaz com um sorriso estupidamente malandro.

–Sim?

Quando você está apaixonado não fala com as antigas namoradas?

–Por que diz isso?

Fez sinal para Miroku para que não dissesse que você estava aí.

–Co... Como você sabe...? – Olhou confuso para Miroku, que brincava com o cabelo de Rin.

Olhe pela janela, meu querido.

O rapaz olhou para a janela da cozinha, fingindo muito bem esconder o choque ao ver o rosto sorridente de Kagura acenando na janela da casa vizinha.

–Quanto tempo você... Há quanto tempo você mora aí? – ele perguntou ligeiramente confuso. Realmente havia bastante tempo que não conversavam.

Há alguns meses... Eu estava dividindo com Bankotsu até eu chutá-lo daqui. Tenho uma bela vista daqui. Sabia que Miroku costuma dançar na cozinha ouvindo música americana quando Sango está tomando banho?

–Olha só... – Rin comentou alegremente, acenando para a janela – Kagura está ali!

E parece que Rin me notou aqui também... – Kagura acenava e sorria para a outra garota – Que menina tapada.

–Kagura... – Sesshoumaru a censurou.

Ah, me desculpe... Vou lembrar de não dizer isso na sua frente.

–O que quer falar comigo?

Querem sair pra ir ao cinema comigo depois da prova de vocês?

–Kagura está perguntando se podemos sair com ela depois da nossa prova. – Sesshoumaru falou ao grupo que calmamente tomava chá – Ela quer ir ao cinema.

–Não. – os três falaram ao mesmo tempo.

–Não, Kagura. Até logo. – ele desligou e devolveu o celular para Miroku.

Nem cinco segundos, ela novamente ligou e Miroku entregou novamente o celular nas mãos do outro.

–Nozomu vai viajar, Kagura. Acho que não será possível. – ele continuou.

Quero falar com ela, querido... Vou negociar. – deu uma risada que irritou o rapaz.

–Ela quer falar com você. – estendeu o telefone para Rin.

A garota franziu a testa ao pegar o celular. O que ela poderia querer?

–Sim?

Olá, Rin-chan... Sabe… Eu gostaria de fazer um passeio de despedida já que é a única de nós que não estará por aqui nas próximas semanas... Que tal um cineminha? Será na terça à tarde? Todo mundo vai, até Kohaku. O que acha?

–Eu não sei se...

O Gossip Cop para de mencionar o seu nome e a enquete sobre as suas roupas por um mês.

–Tá ótimo! – ela concordou imediatamente sem pensar duas vezes – Eu vou passar o recado pra eles, tá?

É ótimo planejar as coisas com você, Rin. Bom estudo pra vocês, querida.

–Até. – Rin desligou o telefone e acenou para a janela de onde podia ver Kagura.

–Nós iremos mesmo, Rin-chan? – Sango perguntou.

–Sim, sim. – ela fez um sinal afirmativo com a cabeça – Na terça. Vai todo mundo, será muito divertido!

–O que ela negociou com você? – Sesshoumaru quis saber. Era impossível Kagura ter um bom argumento que fizesse Rin ficar mais um dia na cidade.

–Ficar um mês sem as enquetes sobre a minha roupa.

É IMPOSSÍVEL QUE ELA TENHA FALADO ISSO! – Miroku bateu na mesa, levantando-se da cadeira indignado para lançar um olhar furioso à garota que acenava da outra janela – É A PARTE QUE MAIS RECEBEMOS COMENTÁRIOS!

–Vai ficar sem os seus comentários. – Rin tinha o rosto estranhamente sombrio ao determinar isso e Miroku se encolheu atrás de Sango.


Domingo

–Que casa legal! – Rin exclamou ao entrar no interior da mansão da família de Sesshoumaru acompanhada também de Sango e Miroku – Caramba, como é grande...

Rin correu por uma parte da sala como uma criancinha, olhando por todo o ambiente como se estivesse em um museu.

–Rin-chan não sabia, né? – Sango comentou – Eu vim aqui só uma vez com Inuyasha há algum tempo.

–Cadê o Inuyasha? – Rin sentou-se em uma poltrona e quase afundou ao perceber que o estofado era muito macio. Sesshoumaru teve que conter a expressão séria ao máximo para não rir dela, mas não impediu Miroku e Sango de fazerem o mesmo.

–Não sei... Deve estar em casa. Fiquem aqui enquanto eu procuro algumas pessoas. – ele afastou-se do grupo.

–Hmm. – Rin perguntou enquanto se ajeitava na poltrona – A família dele é importante aqui, né? Eu já tinha ouvido uns comentários sobre isso.

–Lorde Sesssshoumaru e o irmão são os legítimos herdeiros do nome da família. – um homem menor que Rin e com um estranho sotaque apareceu na sala, deixando todos surpresos ali – Meu nome é Jaken e Lorde Sessshoumaru pediu-me que lhes guiassse e os sservisse caso precisasssem de algo.

– "Lorde"? – houve um momento de cômico silêncio entre os três depois de repetirem a palavra. Quem no mundo ainda usava aquele título além de descendentes de famílias reais?

Rin continuou se balançando na poltrona. Havia gostado daquilo. Talvez procurasse uma em Nagoya para presentear o pai. Será que Sesshoumaru sabia quem era o fabricante?

–Menina, não faça issso. – Jaken falou a ela.

Rin saltou da poltrona com uma veia saltada bastante visível no rosto.

–Quem é menina? – perguntou num tom furioso.

Essssa poltrona não é para brincar – ele falou sem se alterar e o queixo de Rin caiu ao escutar aquilo – Depois eu possso arranjar uma para você e deixá-la no quarto em que irá dormir, mas esta aqui não.

–Ora, seu homenzinho... – Rin teve vontade de agarrar o pescoço dele, sendo devidamente contida por Sango e Miroku – Cadê o Sesshoumaru? Quero falar com ele imediatamente!

Sssó um momento. Aguarde aqui, irei chamá-lo. – ele permanecia numa calma inédita para quem aparentemente estava em apuros.

–O que está acontecendo, Jaken? – Sesshoumaru entrou na sala ao mesmo tempo em que o mordomo ia saindo.

–Lorde Sessssshoumaru, esta sssenhorita deseja falar com o sssenhor.

Sesshoumaru olhou para Rin, notando que estava de braços cruzados e extremamente irritada.

–O que foi, Nozomu?

–Ele me chamou de menina! – deu ênfase na palavra como se fosse um palavrão – Você o ensinou a fazer isso, né?

–Isso é verdade, Jaken? – Sesshoumaru tentou conter um sorriso cínico que queria aparecer nos lábios – Eu o mandei fazer isso?

–De modo algum, Lorde Ssssessshoumaru. Eu apenas a advertir a não brincar na poltrona.

–Oh... – ele forçou uma expressão séria e olhou para a garota, que o ameaçava a não fazer comentários sobre aquilo com os olhos – Então foi isso, Nozomu?

–Ora... – ela estava vermelha.

–Pode ir, Jaken. Vamos estudar na biblioteca e não queremos ser interrompidos até a hora do jantar.

Ssssim, Lorde Sssesssshoumaru. – falou, saindo da sala.

–Vamos. Ninguém irá nos interromper na biblioteca. – Sesshoumaru começou a andar em direção do cômodo devidamente seguido pelo trio. Miroku tirava foto de tudo.

O grupo estudou até a hora do jantar, e depois se retiraram. Menos Rin, que pediu mais um tempo para estudar novamente na biblioteca da casa.

Da noite o estudo passou para a madrugada e ela nem percebeu. Estava angustiada demais por conta da prova. Não conseguiria fechar os olhos naquela situação.

–Você não dormiu ainda? – escutou alguém falar.

A garota quase caiu da cadeira tamanho o susto que levou. Virou o rosto e encontrou Sesshoumaru parado na entrada da biblioteca, apenas de robe de mangas compridas por cima da roupa de dormir.

–Ah... hmm. – Rin respirou fundo para se recuperar. Depois, ao ver quem era, baixou o rosto – Não. Estou muito ansiosa. Não sinto sono ainda.

–Vá dormir. Agora. Acha que vai dar conta de fazer uma prova nesse estado? – ele aproximou-se dela.

–Eu pretendia dormir depois da prova. – ela franziu a testa diante daquele tom. Por que ele estava alterado? – Não precisa se preocupar.

Sesshoumaru a levantou por um braço e a puxou pela mão para fora da biblioteca. Alguns livros caíram da mesa de tão súbito que foi o movimento.

Me solte, seu animal! Pra quê isso? – era a primeira vez que Sesshoumaru era tão rude com ela. Ele nunca encostara nela sem pedir permissão.

–Vai acordar todo mundo se gritar. – ele calmamente a pegou nos braços, ignorando o choque no rosto dela diante do absurdo da situação, e levou-a para o quarto que pediu para Jaken preparar – Você vai dormir agora, ou não vou deixa-la fazer a prova mais tarde.

–Quem você pensa que é pra me dizer o que fazer ou não!? – ela sussurrou irritada – Eu posso e vou fazer!

Sesshoumaru jogou Rin por cima do ombro e mais do que depressa chegou ao quarto reservado para ela, chutando a porta para abrir e fechando-a atrás de si com as costas. Depois colocou Rin no meio do quarto.

–Você não dormiu direito também hoje, não é? Não estava se concentrando direito quando estava estudando conosco. Você nem subiu para cá depois do jantar. Todos já estão dormindo. Eu já vi como você fica quando não dorme. Está com olheiras, não está comendo direito.

–Mas eu preciso estudar... – ela tentou se defender – As minhas férias já atrasaram, eu não quero deixar essa pendência quando for pra Nagoya!

–Você já tem outra mesmo, não é? – ele falou numa acusação.

– "Outra"? – ela piscou – Como assim?

O silêncio dele já era a resposta.

–V-Você disse que não ia me cobrar assim. – ela sentiu a voz tremer ao se dar conta ao que ele se referia.

Engoliu em seco. Esperou que ele falasse algo, ou protestasse, murmurasse, sussurrasse o nome dela, perguntasse o motivo, qualquer coisa, mas ele permaneceu em silêncio.

O rosto dele, encoberto pelas sombras do quarto pouco iluminado, parecia querer mascarar sentimentos mais negativos. Ela sentiu um calafrio ao ver o brilho no olhar.

Parecia que Sesshoumaru queimava de fúria.

–Você me prometeu!

Nada.

–Nada ia mudar entre nós. Você me prometeu! – ela repetiu, abraçando-se para controlar o tremor no corpo.

–Rin... – ele finalmente começou num tom que ela estranhou, mais sério que o normal – Faça como quiser.

Sesshoumaru deu as costas e saiu do quarto sem esperar a resposta de uma Rin trêmula. Ela olhava a porta incrédula e, ao recuperar o ritmo normal, jogou-se na cama.

Sesshoumaru a odiava agora.

Era tudo o que ela queria evitar. E tudo aconteceu de uma vez.

Ainda com a mesma roupa, ela deitou na cama e ficou observando o teto, mordendo o nó de um dedo. Pensou em mil coisas para dizer ao rapaz quando fossem para a Universidade.

Novamente não dormiu, percebendo isso ao olhar pela janela e perceber que o céu já estava claro.


Nada do que Rin tinha planejado aconteceu. Sesshoumaru já havia saído para a faculdade quando ela e os demais desceram para o café da manhã. Inuyasha ficou responsável por levá-los para faculdade, respondendo com um dar de ombros sobre a razão de Sesshoumaru ter ido antes de todo mundo para a Universidade. Aparentemente ninguém da casa achava anormal o mais velho fazer aquilo.

Mas Rin sabia o motivo e sentia-se extremamente chateada, tanto com ele quanto consigo mesmo.

Ele havia prometido que as coisas não mudariam, continuou repetindo.

A prova começou pontualmente às nove da manhã. Durante todo o tempo, Rin teve dificuldades para se concentrar, mas atribuiu aquilo ao fato de não ter conseguido dormir. Sabia também que Sesshoumaru estava em algum lugar nas fileiras da frente, mas, do lugar onde estava, não conseguia vê-lo.

Por que eu sinto esse vazio...?

Ao meio-dia, a prova finalizou e todos se levantaram. Sesshoumaru foi um dos primeiros a sair da sala e ignorar qualquer um que tentasse falar com ele. Não tinha paciência alguma no momento.

Depois de passar pela sala do Centro para pegar um documento, ele procurou o carro dele no estacionamento para voltar para casa. Estava exausto tanto física quanto mentalmente. Não havia treinado pela manhã e queria fazer pelo menos uma sessão à tarde.

Estalou o pescoço. Talvez mais de uma sessão não seria de todo ruim.

Abriu a porta de trás e jogou pasta de documentos e material de estudo no banco. Ao trancar a porta, ele notou uma presença na visão periférica.

Virou o rosto e viu Rin parada. Pálida, com olheiras, abraçando-se para proteger-se ao falar com ele.

Não houve oportunidade de vê-la nem um minuto sequer. E lá estava ela na frente dele, de vestido azul escuro, as botas de cano curto e uma mochila grande às costas.

Ficou encarando-a por alguns segundos.

–Nós podemos... – ela começou, pausando para umedecer os lábios – Nós podemos conversar?

Houve um momento significativo de silêncio.

–Eu não quero ficar no apartamento. – ela falou num fio de voz – Eu posso... dormir na sua casa e daí a gente conversa?

Sesshoumaru arqueou as sobrancelhas em surpresa.

–Eu posso ir pra um hotel também, mas eu queria facilitar as coisas... – ela balançava as mãos na frente do corpo como que servisse para desmerecer a ideia anterior ou apagar a impressão de que ela estava se convidando para passar a noite na casa dele – Mas se não quiser falar comigo, eu vou entender também.

–Se é para conversar sobre o que aconteceu nos últimos dias, você não me deve explicação alguma. – ele falou extremamente sério.

–Eu preciso contar o que aconteceu em Nagoya. – ela desviou o olhar do dele.

Novamente ficaram em silêncio.

–Você não me deve explicações. – ele repetiu mais enfaticamente, abrindo a porta do lado do motorista – Se quiser dormir lá em casa, fique à vontade para entrar no carro.

Entrou e aguardou que ela tomasse alguma decisão.

Segundos depois, a porta do banco do passageiro abria e Rin apareceu.

Em poucos segundos, cada um colocou o cinto de segurança e ele deu a partida em direção ao bairro onde morava.