Nota da autora: Desculpa, gente. Acho que só vou cumprir com atualizações mais rápidas quando eu entrar de recesso de fim de ano :( Peço só que tenham paciência nestes últimos dias de trabalho antes do natal. Vocês devem saber como são as coisas nessa época. Pelo menos eu garanto um capítulo por semana, hahahah.
Obrigada a quem comentou no capítulo passado. Eu fico tãããão feliz quando recebo os comentários dizendo o que acham da história, às vezes dá vontade de largar tudo pra reescrever o que falta e atualizar logo. Eu particularmente estou ansiosa pra que leiam tudo, se eu pudesse atualizava uma vez por dia pra saber a reação de vocês.
Obrigada a que comentou no capítulo passado: Jo (ai, ai, ai, o que será que a Rin vai fazer? Hahhaha. Eu ia ficar possessa se fosse comigo...), Li'Luh, Bruna-san, isabelle36, Liryth e riloli.
Obrigada a Marilia por ser a beta-reader :D
Leiam. Comentem. Deixem-me feliz :)
Ah, quem quiser saber sobre novidades das atualizações, pode procurar informações aqui no meu profile do FFnet ou no meu Twitter: (arroba) ukitaketai.
UM CAMINHO PARA DOIS
CAPÍTULO 11
Um caminho possível
O celular de Sesshoumaru continuava acusando o recebimento de mais mensagens enquanto Kagura berrava impropérios num ataque de fúria, batendo o punho em uma parede próxima.
Praticamente todo mundo que estava na área de descanso do cinema queria saber o que acontecia. Um homem tirava fotos. Uma mãe colocou a mão em cima dos olhos da filha para protegê-la. Uma funcionária sugeriu chamar a emergência.
Sesshoumaru decidiu que precisava ligar para os outros e avisar que teria que levar Kagura para o hospital. Esperava que a mensagem que tinha recebido não fosse de alguém dizendo que estava a caminho. Teria sido melhor Rin continuar arrumando as coisas para a viagem. Se ela tivesse um celular, poderia ligar logo.
Tateou os bolsos do casaco para procurar o celular que tinha em mãos minutos antes. Nas horas mais urgentes, aquelas coisas sumiam como encantamento.
–O que houve com ela? – alguém perguntou.
Sesshoumaru olhou para trás ao reconhecer a voz do irmão mais novo. Ele estava parado, braço direito circulando a cintura de Kagome, assustada e boquiaberta com aquilo.
–Não sei. Ela ficou assim depois de receber uma mensagem. – ele parecia extremamente preocupado.
–É? De quem? – Inuyasha quis saber.
Gossip Cop de novo. Esse povo não tem férias, não?
A frase dita por ela minutos antes veio com um impacto tão grande que ele se viu segurando o celular sem perceber.
–Do Gossip Cop. – Sesshoumaru murmurou e depois trocou um olhar com o casal.
Kagome pegou o celular de dentro da bolsa e ativou o display. A cabeça de Inuyasha ficou colada à dela no momento em que ela abriu a foto em anexo.
Um segundo depois, o irmão mais novo deu uma risada alta. A namorada ficou assustada e empalideceu.
Ao perceber aquilo, Sesshoumaru entendeu que precisava abrir as mensagens que recebera depois de ser tomado por um mau pressentimento.
Ao fundo, apenas Kagura continuava ganindo e amaldiçoando um nome que ele entendia agora.
Ao abrir o aplicativo, viu dezenas de mensagens de pessoas se expressando por meio de desenhos e pontos de exclamação até chegar ao que queria realmente ver.
Era uma foto em alta definição enviado pelo time do Gossip Cop, em que se via claramente Rin, com um vestido cinza sem mangas, sorrindo a um rapaz cujo rosto a câmera não capturou. Ele estava de costas e segurava um das mãos da garota contra o rosto, como se a beijasse.
Não, não, não!
E aquele rapaz era...
–Aconteceu alguma coisa com Kagura? – escutou uma voz suave perguntar. Ele mesmo nem tinha percebido quem era.
Ao tirar os olhos da foto, viu Rin e Kohaku... ao lado dela, com as mãos nos bolsos da jaqueta, ambos completamente sem entender a situação.
O rapaz da foto.
–Ela... Hã... Hmm... acho que ela esqueceu alguma coisa importante em casa. – Kagome inventou depressa, olhando ora para ela e ora para Sesshoumaru, cujos olhos estavam fixos no rapaz.
–E ela fica assim quando esquece alguma coisa? – Rin parecia assustada. Admitia que era esquecida demais com aparelhos eletrônicos, principalmente celulares, mas nunca ficava daquela forma.
Ela disse que não queria a carona dele. Ela estava ocupada demais com a viagem. Ela disse que teria uma carona de um amigo, coisa que ele sabia que aquele rapaz de longe não era. Aquilo com certeza absoluta não era uma armação de Kagura para deixá-lo irritado. E se ele pegasse quem...
E voltou então os pensamentos ao nome que Kagura continuava murmurando no ataque de raiva.
–Houshi Miroku. – murmurou friamente.
–"Houshi"? – Rin repetiu e olhou para os lados. Depois, para a surpresa de todos, começou a acenar para alguém, o que fez todos olharem na mesma direção.
Um casal se aproximou do grupo. Miroku e Sango. Ele, feliz; ela, preocupada.
–Olá, pessoal. – Miroku falou segurando Sango pela mão. Sorria estupidamente como se tivesse ganhado na loteria e sobrevivido a um desastre aéreo no mesmo dia – Todos estão aq-?
No momento em que ia terminar de falar, uma mão não tão delicada puxou-o pelo colarinho e assustou Sango, que se afastou por precaução. Kagura, já controlada, tinha o rosto quase colado no dele, um semblante ameaçador que teve pouquíssimo efeito.
–Você... – ela sussurrou para que apenas ele pudesse ouvir – Isso foi golpe baixo, Houshi.
O rapaz continuou sorrindo ao retirar a mão dela lentamente da camisa.
–E quem você pensa que é pra me dizer isso depois de atacar de ex-namorada-superamiga de alguém?
Kagura rangeu os dentes com tanta força que poderia até quebrá-los.
–Gossip Cop, minha cara. – ele falou num tom calmo, que combinava com o espírito dele no momento – Nós sabemos onde você esteve pela manhã.
Depois de fazê-la soltá-lo, Miroku passou por uma Kagura perplexa e imóvel como estátua, como se ela nem estivesse ali. Sango simplesmente deu um suspiro cansado antes de balançar a cabeça.
–Vamos logo ver o filme, pessoal? Aposto que Rin-chan quer logo um pouco de diversão antes da viagem dela.
Sentiu uma energia extremamente negativa atrás dele. Ao virar lentamente o rosto, viu Sesshoumaru parado, silencioso, olhos dourados fixos no rapaz. Se fosse possível de acontecer, Miroku provavelmente já teria sido fuzilado por eles.
–Ah, Sesshoumaru-sama. – ele fingiu surpresa – Achei que não viria. Você não gosta desses programas em grupo, né?
–Já estou de saída. – ele falou numa suave e ameaçadora calma – Você parece me conhecer bem, Houshi.
–Bastante. – ele ousadamente tocou no ombro dele como se fossem conhecidos de longa data – Quer falar alguma coisa? Pode mandar uma mensagem pro celular da Sangozinha. Eu ainda não recuperei o meu, sabe?
Sesshoumaru continuava com a fachada da indiferença ao tirar a mão do outro e apertá-la com força, deixando Miroku com os olhos arregalados.
–Sei. – ele respondeu incrivelmente plácido – Eu vou voltar pra buscar Nozomu. Quer uma carona também?
–Não. – ele respondeu num fio de voz.
–Eu faço questão.
–Fica pra outra vez. – Miroku sufocou um grito ao sentir a pressão na mão aumentar.
–Ei, ei, ei. – Inuyasha se meteu entre os dois, ainda tentando esconder o divertimento que sentia ao presenciar aquelas reações – Depois vocês podem discutir sobre isso. Tá todo mundo olhando agora.
Sesshoumaru olhou de soslaio para o irmão antes de finalmente soltar a mão do colega de faculdade e dar dois passos para trás.
Ao olhar por cima do ombro, viu quase todo mundo do grupo e ainda outros curiosos observando a cena boquiabertos.
Balançou a cabeça e reprimiu um suspiro cansado. Era muito para um dia só.
Afastou-se do irmão e de Miroku e foi em direção a Rin, que ainda estava ao lado de Kohaku.
–Você quer que eu venha buscá-la mais tarde? – perguntou no tom mais educado possível.
–Você não vai ficar mesmo? – ela franziu a testa. Talvez não fosse nem bom insistir, já que Miroku deve ter aprontado alguma para ele e Kagura.
O que aconteceu agora?, perguntou-se enquanto o olhar dela dançava de um amedrontado Miroku para Kagura e depois para Sesshoumaru, parado na frente dela.
–Vou resolver algumas coisas no centro. Volto em três horas. Está bom assim?
No fim das contas, ela percebeu que não adiantaria insistir. Esperava apenas que ele estivesse mais tranquilo no retorno.
–Tudo bem. – ela confirmou com a cabeça – Até depois, então.
Sesshoumaru deu as costas ao grupo sem se despedir dos demais, sentindo muitos olhares em cima dele.
–O que aconteceu? – Rin perguntou ao grupo quando o rapaz desapareceu do recinto.
–Nada, Rin-chan. – Kagome deu um sorriso forçado, aproximando-se dela. Abriu uma grande bolsa que trazia a tiracolo e tirou de lá um pequeno embrulho com papel florido – Eu trouxe um presente pra você.
–Ah, é? – ela deu um sorriso gentil, segurando o regalo com as duas mãos – Muito obrigada, Kagome-chan.
Ao fazer menção de abrir a caixinha, Kagome a fez parar.
–Melhor abrir depois. Vou explicar pra quê serve. – ela falou, parando a mão de Rin que já havia se adiantado em tentar tirar o papel-presente.
–Ah, certo, então. – ela piscou sem entender, mas ainda assim guardou na bolsa transversal.
–Bem, bem... – Inuyasha chamou a atenção do grupo – E o que vamos ver então?
Depois do cinema, o grupo discutia sobre o que mais havia chamado atenção no filme enquanto aguardavam a hora para Sesshoumaru buscar Rin: uma garota de Tokyo da era moderna consegue viajar no tempo e vai parar no Sengoku Jidai e enfrenta perigos para proteger uma joia mística.
–No fim das contas, acho que vai ser uma trilogia. – Inuyasha tinha os braços cruzados atrás da cabeça – Não gostei muito.
–Há quem goste e quem não goste de sagas. – Kohaku comentou – Eu prefiro histórias longas. Sango sempre reclamava quando eu queria ir às estreias da parte dez de uma saga e ela tinha que me acompanhar.
–Aquelas estreias de madrugada? – Inuyasha torceu o nariz.
–Essas mesmas.
–Por isso que às vezes ela chegava sonolenta às aulas. – Miroku apertou a bochecha dela e recebeu uma cotovelada no meio das costelas.
A maioria riu com a cena.
Todos estavam sentados nas poltronas da mesma área de descanso onde havia ocorrido o incidente entre Kagura, Miroku e Sesshoumaru. Rin, próximo de Inuyasha e Kagome, se mantinha em silêncio, apenas interessada em ouvir e comentar algumas coisas que falavam aqui e ali.
Kagome aproveitou que todos estavam conversando ainda sobre as partes importantes da película para falar sobre o que havia trazido para Rin.
–Ah. O presente.
Rin arregalou os olhos em surpresa, lembrando apenas naquela hora do embrulho guardado na bolsa.
Tirou a caixinha e abriu com cuidado, sorrindo ao encontrar três amuletos: um vermelho, um azul escuro e um rosa.
–Você não está conseguindo dormir em casa, né? – Kagome foi extremamente cuidadosa ao tocar no assunto, pois não sabia se podia conversar aquele tipo de coisa – Inuyasha me falou que você pediu para dormir na casa de Sango-chan e lá na mansão.
–Oh... – ela franziu a testa – E isso é...?
–São amuletos yakuyoke. Meu avô preparou pra você. Hoje você pode até dormir no seu apartamento se colocar em lugares diferentes da casa.
–Ah... – os olhos de Rin brilharam de emoção, mas ela evitou chorar – Obrigada, Kagome-chan.
Os dedos de Rin deslizaram com carinho pela inscrição do amuleto azul escuro. Imaginava que talvez pudesse ficar em casa naquela noite e evitar dar trabalho a Sesshoumaru.
–Rin, o que vai fazer em Nagoya nestas férias? – Kagura perguntou de uma poltrona distante. Ela parecia extremamente entediada com alguma coisa e irritada com Miroku, os dois mal se falando durante o encontro – Há alguma coisa lá que não tenha em Tokyo?
Rin ignorou o comentário quase negativo sobre Nagoya enquanto guardava na bolsa novamente os amuletos.
–Há bastante coisa pra fazer lá. Eu faço os programas familiares, como piqueniques e idas às piscinas e fonte termais. Meus pais e meu irmão já estão com tudo programado. Temos até uma grande reunião em família.
–Eu fiquei com vontade de conhecer depois das coisas que Rin-chan contou. – Sango apoiou o rosto na mão, uma expressão sonhadora – Fiquei com vontade de pegar um trem e ficar pelo menos um fim de semana das férias lá.
–Você nunca me falou que queria ir. – Miroku reclamou.
–Tive a ideia agora. – Sango virou o rosto para o lado para ignorá-lo.
–Ah, Sango-chan! – Rin tinha as mãos unidas em prece – Se você for algum dia, pode ficar na minha casa.
–Estou ainda pensando. Vamos receber nossos pais nas férias. – ela apontou para Kohaku, que confirmou com a cabeça – Não sabemos ainda quanto tempo ficarão na cidade.
–Entendo. Espero que consiga ir. Você vai gostar da minha cidade. – ela deu um sorriso. Seria bom ter amigos da faculdade em Nagoya. E ela se aproximou tanto do grupo nos últimos meses...
O celular de Inuyasha tocou e ele tirou do bolso para ler a mensagem apenas por um ou dois segundos.
–Sesshoumaru mandou avisar que já está perto.
–Oh. – Rin murmurou. Ela teria que conversar com ele sobre a ida para o apartamento. Agora que tinha os amuletos feitos pelo avô de Kagome, ela tentaria passar a noite em casa.
Decidiu conversar com Sesshoumaru. Ele provavelmente entenderia, caso estivesse mais calmo.
Mas ela não saberia dizer sobre quais seriam as reações dele a partir do que já vira nas últimas semanas. Será que ele reclamaria?
Levantou-se da mesa e ajeitou a bolsa transversal no corpo, erguendo o rosto para mostrar um sorriso.
–Obrigada pela tarde, pessoal. Vou trazer lembranças pra todos no retorno.
Alguns, como Miroku e Kagura, soltaram exclamações de alegria como se Rin fosse trazer um carro de presente ou algo similar. Os demais se levantaram e a circularam. Cada um parecia querer um momento para se despedir.
–Ok... – Sango foi até ela e a abraçou – Boa viagem, Rin-chan. Descanse bastante ao lado da sua família.
–Obrigada, Sango-chan.
Imediatamente depois que Sango a soltou, Kagome e Inuyasha estavam com ela.
–Cuide-se, está bem? – ela deu um sorriso – Quando puder, mande notícias. E não se esqueça de usar o amuleto.
–Obrigada, Kagome-chan. – Rin deu um tapinha na parte da frente da bolsa – Vai ser de muita ajuda.
–Se ainda quiser mudar de lugar, avisa, tá? – Inuyasha deu um abraço rápido nela – Kagome também está pensando em mudar. Se quiser, a gente procura algo pra você também.
–Pode deixar que eu aviso. – ela assegurou sorridente.
Depois do casal, Miroku já estava envolvendo-a nos braços.
–Não tem Gossip Cop lá, né? – Miroku perguntou num tom divertido – Que droga, vai ser difícil saber o que acontece com você longe de Tokyo.
Rin deu uma gargalhada e balançou a cabeça.
–Boa viagem, Rin. – Kagura se abanava com um leque cor de vinho e manteve uma distância respeitável. Parecia que não ia se aproximar por não ter muita intimidade – Espero minha lembrança de Nagoya.
–Okay. – Rin deu um sorriso forçado e intimamente começava a se arrepender de ter mencionado que traria lembranças para todos, com receio que, no fim das contas, ninguém gostasse.
–Até outra vez, Rin. Foi muito legal conhecer você. – Kohaku apenas ergueu a mão amigavelmente e não se aproximou para um abraço.
–Foi um prazer também. – Rin começou a afastar-se – Até o retorno, pessoal!
A garota de um último aceno e foi embora para encontrar Sesshoumaru do lado de fora.
–Bem... – Kagome deu de ombros e olhou para Inuyasha – Já vamos também, né?
–É. – ele começou a massagear um ombro e movimentar o braço – Tenho muito o que dormir nessas férias.
–Achei que fosse me ajudar na mudança. – Kagome ergueu a sobrancelha – Isso significa que vai dormir menos.
Inuyasha fingiu-se de assustado a princípio, depois balançou a cabeça. Colocou um braço nos ombros da namorada e começou a afastar-se com ela, acenando para o grupo.
Na área de descanso, ficaram apenas Sango, Kohaku, Miroku e Kagura – todos estranhamento sem mais assunto.
–Pode me levar pra casa, Kohaku? – Sango se virou para o irmão e o viu arquear as sobrancelhas. A irmã não iria voltar com o namorado?
–Hmm... Claro, podemos ir agora... Vou pegar o carro. – ele apontou para a rua. Pelas suspeitas dele, havia acontecido alguma coisa porque ela e Miroku não estavam se falando desde que chegaram ao cinema – Vou esperar lá fora.
–Okay. – Sango deu um rápido aceno.
Ao ficarem sozinhos, Kagura ficou de frente para Miroku.
–Tá vendo só o estrago que você fez? – ela explodiu – Agora eles vão ficar dois meses sem se verem, e justo no último dia dela aqui você manda pra todos aquela foto estúpida! Foi o plano mais idiota que eu já vi!
–Tudo daria perfeitamente certo se não tivesse bancado a ex-namorada-amiga pra cima dele, oras! – ele rebateu, exasperado – Se não fosse por isso, eu não teria...
–Tudo teria funcionado muito bem antes de você mandar aquela foto ridícula pra todo mundo na cidade! As pessoas já viram a pobrezinha em três fotos com três pessoas diferentes!
Os dois começaram a discutir mais agressivamente, ignorando o que se passava ao redor e os outros que viam a cena.
Sango aguentou a discussão apenas por alguns minutos. Depois, num gesto para controlar a crescente impaciência, começou a apertar a região entre os olhos.
–Parem... – ela tinha o semblante franzido, e com a fala imediatamente os dois olharam para ela – Parem com isso, por favor.
–Parar com o quê? – Miroku perguntou, confuso.
Desta vez, ela ficou exasperada.
–Com o quê, você me pergunta? Você pegou meu celular pra tirar uma foto de Rin e colocar no Gossip Cop mesmo sabendo que ela odeia isso. E por quê?
Sango abriu os braços como se quisesse apresentar o cinema e todo o cenário.
–Tentando jogar um pra cima do outro, provocando ciúmes quando não deveriam, fazendo intrigas... – ela continuou – E pra quê isso, posso saber? É só por causa de uma aposta ou por que você não conhecem o limite do respeito?
–Sangozinha... – Miroku começou.
–Eu ainda não acabei! – ela asseverou.
Os dois baixaram os rostos, envergonhados. Dando um sonoro suspiro cansado, Sango continuou:
–Rin-chan é nossa amiga, o que vocês fizeram hoje passou de todos os limites. Deixem aqueles dois em paz. – ela estava extremamente séria – Deixem que as coisas aconteçam naturalmente entre eles. Não há necessidade de... provocar ciúmes um no outro, atrapalhar quando querem apenas se conhecer.
–Mas eles nem... – Kagura começou num tom tímido a se defender, mas não pôde prosseguir.
–Eles precisam se conhecer, eles precisam se entender. – ela a interrompeu –Vocês não podem fazer esse tipo de coisa com eles.
Miroku e Kagura baixaram os rostos de novo, ainda com vergonha pela lição de moral que levavam no momento e que qualquer um podia ouvir na área. Sango deu um suspiro e ajeitou a bolsa no ombro.
–Apenas deixem aqueles dois em paz, okay?
E foi embora para procurar o irmão mais novo, provavelmente já à espera dela em algum lugar do lado de fora.
Uma pena não poder ficar para conversar mais um pouco com os únicos amigos que fizera na capital naqueles meses, Rin pensou. Mas queria ficar sozinha. Havia percebido, durante a tarde, que ainda estava sensível demais com os acontecimentos do dia, principalmente com o sonho que tivera.
Foco, Rin. Você precisa voltar para arrumar suas coisas. Amanhã, a esta hora, já estará com sua família e sua mãe vai fazer algum prato gostoso como boas-vindas.
Caminhando, ajeitou a bolsa transversal e chutou alguma pedra imaginária da calçada. Muitos casais estavam saindo de mãos dadas ou abraçados.
Era bonito de se ver. Ela observou um ou dois juntos sentindo crescer uma melancolia no peito.
Lembrava-se da última vez que tinha ido ao cinema com Aki. Eles andavam juntos da mesma forma que aqueles casais estavam.
Um carro parou quase do lado dela e buzinou, fazendo-a esquecer aquelas memórias.
Era Sesshoumaru.
Rin deu um sorriso. Ele havia chegado. Deu uma volta no veículo e entrou no lado do carona, acomodando-se confortavelmente no veículo. Uma música suave chegou aos ouvidos dela.
Assim que entrou e colocou o cinto de segurança, ela virou-se para ele.
–Não fique bravo comigo. – uniu as duas mãos como se estivesse em prece e forçou um sorriso – Houve mudança nos planos.
Sesshoumaru ergueu uma sobrancelha.
–Kagome-chan me deu um presente que pode me ajudar a dormir em casa com tranquilidade. – ela continuava temendo a reação dele – E eu estou exausta. Gostaria muito de voltar pro apartamento e terminar de arrumar as coisas. Você não se importa, né?
Houve um silêncio prolongado por parte dele. Só a música continuava tocando.
–Não. – ele falou com a mesma inexpressividade de outras vezes.
–Não mesmo? – ela franziu a testa.
–Claro que não. Está cansada, não é?
Um sorriso fraco apareceu nos lábios dela.
–Sim. Bastante.
–Você faz o que quiser, Rin. Não se sinta obrigada a fazer alguma coisa por minha causa. – ele respondeu no mesmo tom habitual.
Era difícil de saber se ele realmente não havia gostado da decisão dela. Afinal de contas, ele havia se dado ao trabalho de voltar só para buscá-la e ajudá-la com a mala.
Mas Rin seguiu a própria intuição. Ele parecia não ter se aborrecido. Estava tudo bem. Ele entendia a situação. Ela tinha o próprio apartamento e ia ficar tudo bem agora que tinha os amuletos da família Higurashi.
–O filme foi bem legal. Demorei um pouco para entender. Fazia tempo que não ia ao cinema na companhia dos outros. – ela tentou iniciar a conversa.
Sesshoumaru nada comentou e ela sentiu que não era o momento de falar certas coisas.
A música continuou tocando, o que permitiu uma viagem tranquila durante os cinco primeiros minutos. Rin mantinha as mãos disciplinadas em cima dos joelhos, batia os dedos ritmicamente no tecido do vestido, evitando cantarolar, como sempre fazia. Era uma melodia triste, porém relaxante: um solo de piano com arquejos lentos.
Mas ainda assim ela percebeu que era um pouco perturbador não ter o que falar.
–Gostou da música? – ele perguntou.
Oh, finalmente.
–Hmm... sim. É do Iwasaki, né?
Sesshoumaru deu um aceno de cabeça para confirmar. Rin continuou batendo os dedos lentamente até escutar de novo a voz dele.
–Aquele rapaz... o irmão de Kawashima...
Rin aguardou que ele continuasse.
–Foi ele quem ligou para você perguntando se poderia buscá-la em casa?
–Oh... – ela franziu a testa. Ela havia recusado o pedido dele e aceitado o convite de alguém menos conhecido – Bem, na verdade...
Houve uma pausa. Uma longa pausa que ele pacientemente aguardou que ela quebrasse.
–Eu estava esperando Miroku-sama aparecer. Mas Kohaku explicou que ele estava muito ocupado para ir me buscar.
Houshi Miroku miserável. Sabia que tinha alguma coisa a ver com ele.
Tirando uma das mãos do volante e sem deixar de olhar a direção, ele habilmente procurou o celular no bolso do casaco. Teclou alguma coisa e entregou o aparelho a ela, que levantou uma sobrancelha questionadora antes de aceitá-lo, assim como Sesshoumaru estava acostumado a fazer.
–Veja.
Lentamente, ela pegou o objeto. Quando finalmente viu o que estava na tela, Rin engasgou um grito.
–Como isso foi...?
Depois um raio a atingiu.
–Miroku-sama...
Internamente, Sesshoumaru achou graça daquela situação. Pelo menos foi o que ela pensou ao ver os cantos da boca do rosto dele se erguerem levemente enquanto balançava a cabeça numa desaprovação.
–Deve ser a terceira vez que é notícia pra esses idiotas, e não estou contando com as enquetes sobre as roupas que você usa. – ele falou pausadamente – Quer impedir uma quarta? Posso tentar um... acerto com Houshi.
Rin piscou diante do comentário. Depois começou a rir, abraçando a barriga e deixando o celular cair no chão do carro. Parecia uma risada livre de todas as preocupações e tristezas do dia.
–Eu imagino como esse acerto será. – ela limpou um canto de olho com os dedos, tirando algumas lágrimas de lá, abaixando-se para pegar novamente o celular para olhar novamente a foto – Pode deixar, eu sei lidar também com Miroku-sama... ou posso contar ao meu irmão e ele vem aqui ter uma conversa com ele.
–Você parece... confiar muito mais no seu irmão do que em mim. – ele comentou casualmente – Ou que ele possa dar uma lição em Houshi melhor que as que eu dou.
–Ah... – ela piscou de novo, sorrindo meio boba, meio surpresa – Não... quer dizer... Eu conheço a forma do meu irmão de lidar com essas coisas.
–E nesse tempo que esteve aqui não conheceu as minhas?
–Eu conheci... parte delas. – ela pigarreou ao se lembrar de como ele a carregou da biblioteca até o quarto de hóspedes no fim de semana – Bem interessantes, por sinal.
–Poderia dar uma chance para mim, então.
Rin piscou de novo. Sentiu o rosto formigar e torceu para que ele não visse o embaraço. Sesshoumaru permanecia sério, sem tirar os olhos da rua, esperando algum comentário dela.
–Nós já conversamos sobre isso. – ela sussurrou.
–Conversamos? – ele ergueu uma sobrancelha. Parecia bastante confuso e curioso com a afirmação dela.
–Estamos falando sobre o quê, afinal? – ela perguntou suavemente.
–Pensei que estivéssemos falando de Houshi. Eu pretendo ter... uma conversa séria com ele a respeito desse canal de notícias idiota.
–Ah... – de novo ela riu, genuinamente aliviada – Acho que agora o coitado não sobrevive ao próximo semestre.
–Ah... sobrevive sim. – ele garantiu com tanta firmeza que não haveria sombra de dúvidas sobre o que estava reservado para Miroku no futuro – Eu preciso de algo para extravasar minha raiva pelo resto do ano.
Rin engoliu em seco. Ele estava fazendo aquilo por quê? Porque ficou realmente com raiva da foto, era isso? Ela também ficou. E parecia que ele estava...
–Você está pedindo minha permissão pra bater nele. – não era uma pergunta dela.
–Ele é seu amigo, afinal. – ele deu de ombros.
–Ora, seu também.
–Meu? – ele parecia realmente surpreso desta vez.
–Eu não acredito que me pergunta isso. – ela riu de novo, mais forte – É claro que ele é amigo seu também. Não percebeu que ele e os outros se importam com você?
Os dois ficaram em silêncio. Ele parecia levar algum tempo para formular o que dizer depois.
–Você está dando a mão para esse... – qual palavra era melhor para descrevê-lo? "Moleque"? "Imbecil"? – Garoto. E parece que ele a está beijando.
–Ah... – ela murmurou. Ela pegou o celular dele de novo e observou novamente a foto com mais atenção – Por favor, não pense que ele faz parte disso. Eu acredito que Kohaku nada tem a ver com algum plano de Miroku-sama. Ele estava só... – respirou fundo para que a próxima parte soasse o mais coerente e inocente possível – Cheirando minha mão.
Alguma coisa parecida com um rosnado soou baixinho, perceptível mesmo com a música clássica ao fundo. Ela jurava que tinha sido Sesshoumaru o responsável.
–A minha mão estava com cheiro forte de pimentão... E-Eu tive que fazer comida pra minha viagem e cortei pimentão pra fazer yakisoba... Eu lavei com um sabonete da Sensai muito potente e não adiantou muito porque parece que...
Subitamente, ele tirou uma das mãos do volante e a ergueu na direção dela, e Rin entendeu que precisava devolver o celular.
–A sua mão, Rin.
Relutantemente, ela estendeu a mão e deixou que ele a segurasse.
Por cerca de um minuto, ele apenas a segurou. Depois esperou encontrar um sinal fechado para parar o carro, e simplesmente aproximou a palma do nariz, fazendo-a prender a respiração.
–Não está mais. – ele soltou depois de alguns segundos, e continuar a dirigir.
Isso que ele fez...
Observou o perfil do rapaz que tinha os olhos voltados para o trânsito.
Por que isso agora?
Percebendo que ainda tinha a mão erguida, ela lentamente deixou que caísse novamente no colo.
O silêncio voltou a dominar até que ela reconheceu as árvores da esquina da rua onde morava.
–Obrigada... – ela murmurou. Parecia não ter pressa para sair e estava relutante até para tirar o cinto.
Os olhares se encontraram.
–Boa viagem, Rin. – ele falou.
–Você... – ela indicou o apartamento com um movimento de cabeça – Você vai fazer o quê, agora?
–Agora? – ele olhou o relógio no pulso e se voltou para ela – Já que não aceitou comer fora, vou para casa jantar. Pensar num bom plano de tortura envolvendo Houshi também.
Desta vez, ela de novo riu alto. Ele, pacientemente e em silêncio, aguardou que ela parasse.
–Você não está bem hoje. – ele afirmou, sério.
Dessa vez, o sorriso morreu antes da hora e os olhos deixaram a máscara de Rin cair.
–Por que... por que diz isso? – ela perguntou, dando um sorriso sem jeito.
Viu Sesshoumaru dar de ombros.
–Minha mãe costumava rir desse jeito, e os olhos dela simplesmente não... combinavam. Ela ficou assim depois da morte do meu pai.
Rin baixou o rosto, escondendo os olhos por trás da franja.
–Acho que só estou cansada... – ela murmurou, tentando disfarçar a própria tristeza – Pensei que me divertiria, mas acabou sendo cansativo demais sair quando ainda tenho algumas coisas pra organizar.
–Pelo que já conheço, acredito que já tenha tudo pronto e que não queria sair, mas fez por educação e porque já tinha prometido.
Rin optou por não comentar, engolindo em seco.
–Preciso voltar para casa. Comer. – ele se justificou, encontrando o olhar dela.
–Hmm... – ela ainda estava hesitante para sair. Olhava para ele e o apartamento do terceiro andar, cuja janela tinha as cortinas fechadas – Você quer...?
Como costume, ele arqueou uma sobrancelha, esperando que ela terminasse.
–Eu... nós... poderíamos jantar. Eu tenho comida pra dois.
Sesshoumaru continuou com a mesma expressão, o que a deixou bastante nervosa. Se ele recusasse, seria uma comprovação de que ele não havia gostado do que ela tinha feito.
Mas, alguns segundos depois, ele tirou a chave da ignição e saltou do carro. Ela sorriu e saiu também para ele poder acionar o alarme.
Andaram em silêncio da entrada do prédio até o elevador. Ela conteve a vontade de rir do desconforto dele. Era tudo tão pequeno, e ele era acostumado a ter uma casa daquele tamanho... O elevador, por exemplo, era quase da mesma altura dele.
–Aqui é pequeno. – ela comentou suavemente.
–Percebo. – ele respondeu laconicamente.
Ficaram mais alguns segundos em silêncio.
–Desculpe.
–Pelo quê?
Ambos se olhavam pelo reflexo das portas do elevador até que elas abriram no andar de Rin. Ao saírem, ela pegou um cordão com chave que estava dentro do vestido.
–Pela bagunça que vai encontrar aqui. – ela respondeu finalmente – Não estamos no seu palácio mais.
Abriu a porta e ele esperou que ela entrasse e tirasse os sapatos para poder fazer o mesmo e ver a situação daquele... local. Era difícil ver o chão: tinha a mala grande, caixas, livros e as plantas que geralmente ficavam na varanda espalhados por todos os cantos e em cima dos móveis. O único espaço praticamente livre era o sofá, onde eles se beijaram e dormiram nos braços um do outro dias atrás.
–O seu apartamento vai viajar também? – ele perguntou enquanto ela acendia as luzes do local. Tirou o casaco e o pendurou em um gancho no genkan.
Escutou uma risada como resposta.
–É pequeno, mas não tenho como levá-lo. – ela se dirigiu à cozinha – Vou preparar tudo.
Sesshoumaru parou no meio da sala, observando com certo interesse o sofá enquanto lembrava o que havia acontecido nele. Não haviam falado sobre o que fizeram. Não que não quisesse, mas não havia dado tempo.
–É yakisoba vegetariana. – ela falou alto da cozinha, tirando-o daqueles pensamentos – Você gosta?
Um sorriso muito discreto apareceu nos cantos da boca. Ele já havia observado os hábitos alimentares dela antes, mas só agora havia se dado conta de uma coisa.
Fez o caminho até a cozinha e encostou um ombro na parede, observando a cena: Rin de costas para ele, temperando os vegetais com o alguns molhos e evitando o máximo de contato possível com a tigela de pimentão
–Gosto. – ele se fez presente ao falar – Precisa de ajuda?
–Eu não acho que você saiba alguma coisa sobre como fazer uma yakisoba. – ela olhou para trás e riu enquanto despejava os vegetais e cogumelos de diferentes tipos em um wok devidamente aquecido em cima de uma chapa – É muito simples, vai ficar pronto num segundo...
Rin tirou os olhos do wok para ver Sesshoumaru comodamente de braços cruzados contra uma parede, observando-a. Ficou um pouco... intimidada dentro do próprio lar.
–Se quiser ainda ajudar... – apontou com a cabeça uma despensa próxima sem deixar de preparar a comida – Pode pegar as tigelas e os hashi ali.
Escutou os passos e a presença dele movimentando-se no espaço.
–Onde eu coloco?
–Hmm... Pode deixar aqui do lado... – tentou esconder da melhor forma possível o rosto corado, apontando para o wok – Vamos comer lá na sala.
Escutou o tilintar das tigelas de cerâmica e sentiu que ele continuava atrás dela.
–Vegetariana. – ele murmurou.
–Como?
–Eu percebi que você é vegetariana.
–Ah... Sim. – ela deu um sorriso meio orgulhoso – Desde criança.
–Por causa de família?
–Não. – ela deu uma risada, lembrando-se das vezes que o irmão reclamava da falta de carne na comida que ela preparava – Meu pai um dia nos levou a um criadouro de animais da nossa família... e... bem...
Houve uma longa pausa antes da continuação. Ele sabia que deveria haver uma, por mais que ela quisesse deixar tudo subentendido.
–"Bem"...? –ele tentou.
–Eu era muito pequena... Sempre achei que carne não vinha de animais tão fofos como porquinhos e bois. – ela corava de vergonha com a lembrança, mas não escondeu o rosto – Nesse dia, nossa família preparou uma festa e... havia um... porquinho com quem fiz... hmm... amizade.
Sesshoumaru escondia o divertimento por trás da fachada séria para persuadi-la a falar. Já sabia o final da história só pela forma como ela estava agindo.
–Eles... pegaram meu porquinho pra abater... – tomou fôlego e começou a falar muito rapidamente, algo que ele notou ser típico da região dela – E eu escutei os gritos e fiquei apavorada... não sabia que iam fazer aquilo com meu... bichinho.
Sesshoumaru a ouviu engolir um falso soluço de tristeza, uma expressão infantilmente magoado adicionada à dramaticidade dela.
Desligou a chapa e pegou o par de hashi e as tigelas, despejando porções mais ou menos iguais de comida nos recipientes. Depois rumaram para a sala, cada um com um prato em mãos.
–E o que aconteceu depois? – ele perguntou. Ambos se sentaram no sofá em cantos opostos, de frente um ao outro. Rin sentou sobre os próprios joelhos, em seiza, e Sesshoumaru preferiu uma posição parecida com a de lótus.
–Hmm... – Rin ajeitou a postura e abafou uma risada, tentando parece séria – Eu, criança, fiz um escândalo e me neguei a comer o que me ofereciam. Os meus pais ficaram preocupados que eu ficasse doente ou coisa do tipo e... bem, eles faziam todas as minhas vontades naquela época. Evitaram me dar carne por uns dois anos porque eu chorava quando via um pedacinho. Um dia eu quis voltar comer e achei o gosto muito estranho... e estava acostumada a não ingerir mais.
–Criança geniosa. – Sesshoumaru se limitou a comentar, depois ouviu uma risada.
–Escandalosa e teimosa também, segundo meu irmão. – ela concordou, completando a frase dele.
–Você se vê assim? – ele perguntou enquanto comia, apontando para a tigela com o hashi – À propósito, está muito bom o que fez.
–Obrigada. – ela também assentiu a aprovação. Sim, ela cozinhava bem e gostava de ser elogiada – Eu me vejo assim sim algumas vezes... Também me faz tentar melhorar... apesar de não ter sucesso.
–Não? – ele comia lentamente, apreciando o fato de ela estar descontraída, contando fatos da infância e sobre si mesma.
–Não muito... – ela repetiu, saboreando o macarrão com legumes com igual lentidão. Pigarreou e se preparou para mudar de assunto – O que vai fazer durante essas férias?
–Além de torturar Houshi Miroku? – ele observou a feição dela, que tentou conter a vontade de rir enquanto mastigava – Vou estudar para os exames da ordem.
–Você não vai perder as suas férias pensando em torturar Miroku-sama. – ela tentou ser razoável.
–Depois do que ele fez hoje você ainda o defende?
–Foi engraçado. Mas eu não vou perder meu tempo com a minha família pensando em como impedi-lo de fazer uma coisa que ele sabe que não gosto. Eu vou conversar com ele. Se não der certo, vou buscar outra solução.
–Ele e Kagura devem ter planejado isso juntos.
–E você não vai pensar em "torturá-la" também? – ela o desafiou.
Sesshoumaru ficou em silêncio.
–Vocês ficaram muito tempo juntos? – ela olhou timidamente para os pés.
Sesshoumaru parecia cuidadoso nas respostas. E também curioso para saber o motivo daquelas perguntas.
–Cerca de dois anos.
–E por que se separaram?
–Nós decidimos nos afastar. – ele respondeu sério.
–E você nem fala mais com ela direito. – ela fez desenhos imaginários no estofado – Você a destratou muitas vezes hoje.
Novamente, ele ficou calado.
–É assim que você vai me tratar também se eu voltar pra Nagoya? – Rin perguntou timidamente.
Houve novamente um breve silêncio antes de Sesshoumaru falar:
–Não diga bobagens.
E naquela hora parecia que toda a crise de choro ia voltar com mais força, e o pior de tudo: na frente dele. Sentiu os olhos arderem e baixou o rosto.
–Você ainda não está bem. – ele falou de repente, colocando tigela de comida e hashi em cima da mesinha onde também estava o telefone.
–Acho que... – ela engoliu um soluço, limpando os cantos dos olhos e tentando controlar as emoções – Eu nunca vou ficar bem.
–Você é... muito radical em alguns aspectos. – ele comentou – Sobre si mesma, muitas vezes.
–Sou...? – ela tentou inutilmente rir, mas logo perdeu a graça – É como eu me vejo.
–Eu vejo alguém que é muito independente e teimosa, mas também insegura e que não gosta da ajuda dos outros.
Rin deu um sorriso triste. Depois brincou de passar o dedo indicador na borda da tigela, tomando cuidado de não se machucar ao passar pela extensão rachada.
–Eu tive um sonho com o Aki hoje, o último dia dele vivo... e Kagura ficava... saltitante perto de você e... – ela estremeceu com a lembrança e enxugou as primeiras lágrimas que escorregaram pelas bochechas – Eu quis ficar sozinha... pensando na vida. Eu só fui porque tinha prometido e também porque... Sabia que ia ficar o dia inteiro chorando. – fungou e enxugou mais algumas lágrimas teimosas, as últimas antes de sufocar o choro – Quando eu voltei pra cá pra arrumar minhas coisas, eu fiquei chorando. Eu chorei, chorei muito, chorei tudo que tinha que chorar e... achei que já estava melhor no cinema. Mas agora...
Rin deu um suspiro cansado. As pálpebras tremeram.
–Desculpe eu falar essas coisas de novo. Achei que já tinha falado pela manhã.
–Está tudo bem. – ele murmurou. Também deu um suspiro, um pouco menos pesado que o dela, e olhou o relógio – Quer ficar sozinha de novo?
–Hmm... – ela instintivamente olhou um relógio de parede preso num discreto canto – Acho que preciso terminar de arrumar minhas coisas e... dormir.
Sesshoumaru pegou a tigela em cima da mesa e entregou para ela, juntamente com os talheres. Rin as colocou uma dentro da outra, e pousou-as ao pé do sofá, no chão.
–Obrigada por me ouvir. E desculpe por forçá-lo a contar suas histórias.
–Você não me forçou. – ele falou suavemente – Era algo que eu já queria contar a você, mas não sabia ainda quando.
Rin permanecia sentada do canto do sofá. Saltou graciosamente e se esticou, o braço derrubando uma pilha de livros que a fez fechar os olhos e encolher os ombros.
–Ops... – murmurou, depois deu de ombros de novo.
–Você quer que eu venha buscá-la amanhã? – ele perguntou repentinamente.
–Buscar? Pra levar à estação?
–Sim. – ele se levantou e colocou as mãos nos bolsos da calça, aguardando a decisão dela – Eu levo você para comer alguma coisa... Podemos tomar o café da manhã juntos.
Rin ficou pensativa, balançando-se na ponta dos pés enquanto tentava entender o esquema.
–Pode ser às oito e meia? Dá tempo de eu pegar o trem com tranquilidade depois.
–Certo. – ele se virou e foi em direção ao genkan para pegar o casaco pendurado, vestindo-o sem fechar os botões.
No outro instante, ele já estava calçando o sapato no minúsculo espaço.
Rin abriu a porta como sinal que desejava o retorno dele.
–Até amanhã. – ela sorriu da entrada enquanto ele já estava do lado de fora.
Assim como fizera no carro, ele estendeu a mão para ela. Rin só entendeu um segundo depois o que ele queria, estendendo a dela também.
Depois sentiu o ar faltar nos pulmões quando Sesshoumaru deliberadamente colou os lábios num leve beijo na palma.
–Não está cheirando mais. Minha mãe também usava o mesmo sabonete que você.
Largou a mão dela, deu as costas e foi embora, deixando-a com uma expressão apalermada na porta do apartamento dela.
