Nota da autora: Feliz ano novo para todos! Estamos de volta :) Tirei alguns dias de recesso de fim de ano, o que não permitiu atualizar com frequência.

Gostaria de perguntar algo: vocês se importam se eu subir o nível de classificação da história? Ela passaria a ser "M" por conta de algumas cenas... Mas eu também poderia deixar como "T" e enviar um capítulo "completo" para a pessoa de alguma forma... O que vocês acham? Facilitaria mais eu deixar simplesmente como "M" e colocar uns avisos no início do capítulo, mas não vejo problema também enviar para quem quiser. O que vocês acham?

Obrigada a quem leu e comentou no capítulo passado: Li'luH, Jo-Anga, Kuchuki Rin, Bruna-san, isabelle36, riloli e Dica-chan :) Arigatou gozaimasu!

Espero que gostem do capítulo. Se considerarem digno de um comentário, ficarei feliz em recebê-lo :)


UM CAMINHO PARA DOIS

CAPÍTULO 14

Pelos caminhos de Nagoya – parte II

–Você não tem medo de andar por aqui? – Rin perguntou ao irmão, o medo evidente no rosto.

Olhando para os lados, ela via lápides e mais lápides ao longo do caminho que levava ao túmulo dos pais, falecidos ainda durante a infância em um dos mais violentos terremotos do Japão moderno, há muitos anos.

Na família, todos ficaram sensibilizados e queriam a guarda das crianças, mas a decisão de ficar com o chefe da família só foi tomada depois que os corpos chegaram a Nagoya e do enterro. Por uma decisão tomada apenas por ele e aceita por todos, Hakudoushi, com cinco anos, e Rin, com quase dois, ficaram com os avós.

–Não. – o irmão respondeu enquanto controlava a vontade de rir – Acha que aquele fantasma vai aparecer?

–Ei! Eu não contei essa história pra rir da minha cara... – Rin choramingou, abraçando com força o buquê que levava a ponto de quebrar algumas flores.

Ohhhhh! – ele fez uma voz fantasmagórica e ergueu os braços em uma tentativa de assustá-la – Riiiiin... Vou te pegaaaaar...!

–Hakudoushi... – ela rilhou os dentes, erguendo o braço para acertar o irmão por força do hábito.

Entretanto, antes disso, ele ergueu a mão dele na defensiva e procurou alguma coisa nos bolsos. Puxou o celular, teclou alguma coisa e arqueou as sobrancelhas, ficando em silêncio por alguns segundos.

Os dois voltaram a caminhar sem trocar uma palavra até ele tomar a iniciativa e encontrar o olhar de Rin para perguntar:

–O que é "Sesshoumaru"?

Oh-Oh, a cor momentaneamente sumiu do rosto dela.

–Como é? – ela piscou, parando de andar.

–Alguém mandou uma mensagem. Parece que foi pra você. – ele mostrou o celular.

Rin pegou mais do que depressa o aparelho das mãos dele e leu:

De nada. Obrigado por avisar naquele dia. Divirta-se. Sesshoumaru.

Maldição, pensou ela enquanto levava a mão aos lábios, a boca aberta de espanto. Ele respondeu ao recado. Ela deveria ter dito que não precisava fazer aquilo.

Por que ela não tinha ainda arranjado outro celular logo que chegara à cidade?

Hakudoushi ainda a olhava curiosamente.

"Sesshoumaru"? – ele voltou a perguntou, a sobrancelha arqueada numa interrogação.

A garota continuava com os dedos nos lábios, escondendo a boca.

–Isso é alguma... maldição? – ele tentou adivinhar, vendo que Rin continuava abobalhada enquanto voltava a caminhar ao lado dela.

–N-Não... Não é.

–Você não andou se metendo com nenhuma daquelas seitas esquisitas lá da capital, né? – ele perguntou, parando no meio do caminho e fitando-a com um olhar sério.

–Não! – ela se defendeu. Por que ele sempre achava que tinha mais gente maluca do que sensata nas cidades fora de Aichi? – Ele é um... amigo meu.

–É? – Hakudoushi não tirava os olhos da irmã – Foi o que levou você à estação?

Rin baixou a vista, concentrando-se em olhar apenas para o buquê que segurava.

–Ele mesmo. – ela deu um sorriso rápido – Ele pediu pra avisar quando chegasse em casa. Acho que ele só teve tempo de responder agora.

–E ele tem um nome desses? – ele franziu a testa – Não admira que eu tenha confundido com o nome de seitas... Ou até podia pensar que ele é da Yakuza.

Rin nada comentou. Tentava ainda organizar os pensamentos para entender o motivo de Sesshoumaru responder dias depois uma mensagem.

–Bem... Chegamos. – ele falou de repente, tirando-a daqueles pensamentos.

Os dois se viram diante de um bonito e bem cuidado memorial com a foto dos pais. Na casa da família, havia também um menor na sala, como era costume entre os budistas.

Os dois colocaram as flores e se sentaram no chão, cada um encostado em um lado do bloco de mármore. Rin de um lado, Hakudoushi do outro.

Era sempre assim. Ela respeitava mais o momento por Hakudoushi. A única coisa que conhecia dos pais era através de fotos, diferentemente do irmão que parecia sentir mais a perda.

Os dois ficavam ali sentados por algum tempo, como se estivessem conversando com eles entre as orações.

–Você é muito parecida com a nossa mãe. O mesmo cabelo, o mesmo sorriso. – Hakudoushi falou de repente.

Rin prendeu a respiração. O irmão nunca falava nada nesses momentos. Cada um fazia uma oração e ficava em silêncio até alguém se levantar, na maioria dos casos ele.

–Eu não queria que os dois tivessem viajado naquele dia. – ele continuou – Eu fiz uma birra pra mamãe ficar. E nenhum deles foi encontrado por uns cinco dias. Fiquei todo dia esperando o telefone tocar na casa do titio esperando notícias.

A garota abraçou as pernas e apoiou o rosto no joelho. Deve ter sido tão triste para ele ter que passar por isso – esperar que no meio de um desastre algo milagroso acontecesse. Depois ela ainda teve que estudar sobre o acidente na escola, sabendo que parte da história dela perdeu-se lá. Não conseguia imaginar o que o irmão passou na escola ao ter que ler sobre o assunto.

–Eu sabia que Aki ia morrer naquele dia.

Os olhos dela arregalaram lentamente ao ouvir a confissão do irmão. Ao virar o rosto, viu-o com os olhos cobertos por parte do cabelo que caía pela testa.

–Eu acho que ele sabia também. Por isso eu sugeri ficar mais um tempo com ele. Você acabou ficando uns 15 minutos lá no quarto, né?

Hakudoushi recebeu o silêncio como resposta e virou o rosto para ver se a irmã o escutara, encontrando apenas o olhar assustado dela fixo nele.

–Ele estava cansado, Rin. Tão cansado. Dava pra ver pelos olhos dele.

Deu um suspiro cansado.

–Eu nunca entrei aqui quando criança. Diziam que não era lugar pra nós dois estarmos. Eu passei anos com raiva de todos por causa disso. Você deve lembrar que eu me metia em brigas e não conseguia controlar a raiva. Quer dizer, alguns dizem que ainda preciso controlar isso, mas acho que melhorei bastante, sabe?

A irmã não respondeu. Ela continuava amedrontada, olhando para ele como se não o reconhecesse mais.

–Eu sei que nunca entrou no cemitério onde Aki está enterrado, mas um dia você vai precisar fazer isso. Isso é pro nosso próprio bem.

Rin baixou o rosto permaneceu calado por algum tempo, até o irmão finalmente se levantar e estender a mão para ela.

–Vamos? – ele convidou.

A irmã não respondeu. Apenas se limitou a aceitar a mão dele e se levantar, limpando a eventual sujeira que estivesse na parte de trás do vestido usado.

–Você já marcou um horário com terapeuta? – ele perguntou ao fazerem o caminho de volta ao portão.

–Ainda não. – ela respondeu num sussurro – Eu faço isso hoje ainda.

–Bom. – ele passou o braço pelos ombros dela – Muito bom.


Confortavelmente acomodada na poltrona de leitura, Rin tinha um livro de Murakami-san, O Elefante Desaparece, aberto no colo.

O olhar estava concentrado em algum ponto do quarto, perdido em pensamentos. Ela não conseguia acompanhar o ritmo dos parágrafos. Parava a leitura, retornava três ou quatro sentenças, voltava a perder a linha do raciocínio, depois olhava algum ponto aleatório: mesa, cadeira, estante, algum outro livro.

A história era interessante, mas não para aquele momento, final do dia, antes do jantar.

–Que absurdo... – ela murmurou ao fechar o livro com força depois de tentar ler três vezes a mesma página.

Escutou o som de alguma canção heavy metal e do irmão xingando a si próprio no quarto dele, a alguns metros do dela. Provavelmente o fone havia quebrado e ele teve que baixar o volume da música para não incomodar os outros. Aquilo já acontecera algumas vezes, o que não a deixava nem um pouco surpresa.

Levantou-se da poltrona com um suspiro pesado. Talvez fosse uma boa hora para ligar para as primas Botan e Momiji.

Foi até a mesinha do quarto e abriu uma das gavetas, encontrando o caderninho de telefones.

Andou até a cama e pegou o fone do gancho. Ela tinha uma extensão no quarto desde que tivera o acidente no banheiro, quando precisou ficar de repouso.

Sentada sobre as próprias pernas em seiza na cama, ela folheou o caderno até encontrar o número da casa das primas.

Mas os olhos encontraram um nome e número de Tokyo na página aberta.

Sesshoumaru...

Sentiu o rosto aquecer por alguns segundos.

Por que logo agora?

Talvez as primas pudessem aguardar, por enquanto. Elas se encontrariam em poucos dias, a conversa seria apenas para acertar alguns detalhes.

Com uma certa coragem, ela segurou firmemente o aparelho e discou o número dele.

Tocou uma, duas, três vezes. Na quarta, escutou alguém atender:

Sim? – a voz de Sesshoumaru soou.

Rin levou a mão livre à boca para conter uma exclamação de surpresa, sem entender o motivo de se sentir um pouco ansiosa e o coração saltar ao escutar novamente a voz do rapaz.

Sesshoumaru falando. – ele insistiu para ouvir uma resposta.

–Ah... – ela começou, sentindo a voz tremer – É a Rin.

Sesshoumaru ficou calado por alguns segundos, segundos esses que pareceram uma eternidade para Rin.

Oh... – ele começou – Como está?

–Eu estou... – Rin engoliu em seco – Estou muito bem, e você?

Rin escutou Sesshoumaru tossir do outro lado.

Eu fiquei um pouco doente.

–O que você teve? – na voz dela era visível o alarme. Ela não gostava que as pessoas adoecessem. Ainda se lembrava como se tivesse sido recente a conversa do falecido noivo revelando que precisava fazer um tratamento.

Eu fiquei gripado. Já estou melhor agora.

–Que bom. – a preocupação cedeu para uma voz alegre, mas que soava forçada até para si mesma.

O que ia falar agora? Ela ligou por quê?

Queria falar comigo? – Sesshoumaru perguntou depois de perceber que Rin se calara por estar sem assunto.

–Ah, é que... – O tempo? A faculdade? A vingança contra Miroku? A mensagem? – Eu recebi a mensagem. Você demorou para responder.

Eu fiquei sem celular. – ele explicou – Levei um tempo para conseguir outro porque só puder sair agora, depois de melhorar.

Um momento de silêncio se seguiu durante o tempo em que Rin ainda formulava o que dizer.

Você está aí? – Sesshoumaru perguntou, tossindo mais uma vez.

–Eu estava tentando encontrar assunto depois de saber que você ficou doente. – ela respondeu com sinceridade – Então nem deve ter pensado na vingança contra Miroku.

Sesshoumaru ficou estranhamente calado.

–Ai... – ela fechou os olhos ao perceber pelo silêncio dele que havia acontecido alguma coisa – O que você fez?

Do outro lado, era possível ouvi-lo limpar a garganta.

Eu descobri todas as senhas dele e apaguei as fotos e tudo relacionado ao Gossip Cop. Sabia que ele tinha uma aposta para conseguir um namorado para você? Até meu irmão e meu avô estavam no grupo.

A boca de Rin abriu de espanto, mas não era possível sair uma única palavra.

Você ainda está aí? – ele perguntou mais uma vez.

–Eu estou... abismada. – foi o que ela conseguiu falar – Uma aposta?

Com muito dinheiro envolvido.

–Como permitem esse tipo de coisa por aí? Não é proibido no país todo? E por que eles querem se meter na minha vida?

As perguntas são retóricas ou devo realmente respondê-las?

–Não precisa. Eu acho que não quero ouvir.

Ficaram os dois em silêncio por um ou dois segundos até ela continuar:

–Ele disse como queria conseguir um namorado pra mim? Há quanto tempo estão fazendo isso?

Pelo menos desde a época da eleição.

–Oh. – ela murmurou – Aposto que tinham um álbum recheado de fotos minhas com a mão quebrada.

Rin... – ele deu um suspiro – Houshi pode ser bem canalha algumas vezes, mas sabe que ele não faria nada disso.

–Agora você o defende? – ela parecia extremamente chateada pela primeira vez com o outro amigo – Ah, lembro bem agora que foi por suaculpa que eu participei da eleição e quebrei os meus dedos.

Rin escutou o irritante som de capas de CDs quebrando. Olhou imediatamente para a porta, suando frio ao ver Hakudoushi parado ali, o frágil plástico aos pés dele, olhando-a fixamente.

Alô? – Sesshoumaru perguntou ao perceber que a garota ficara em silêncio – Rin, o quê...?

–MAS QUE DROGA! – ela largou o telefone e saltou da cama.

Hakudoushi ainda estava petrificado quando a irmã o empurrou para fora do quarto com CDs e tudo no momento em que ele ia finalmente perguntar sobre o que ela estava falando. Rin não deu oportunidade e fechou rápido e com força a porta do quarto, encostando-se e deslizando por ela até ficar sentada no chão.

O que Hakudoushi estaria imaginando quando escutou a parte mais interessante daquela conversa com...

–Sesshoumaru! – ela lembrou-se que ele ainda estava na linha. Correu para a cama e pegou o telefone.

Rin quase desmaiou ao escutar a voz do irmão pela extensão da sala, conversando com o outro rapaz. E era em japonês perfeito, nada de dialeto. Rin nunca ouviu o irmão falar em japonês padrão com alguém da idade dele.

Quem é você e o que você fez com a minha irmã? – Hakudoushi estava muito, muito irritado – Do que é que vocês estavam falando?

"Irmã"? - Sesshoumaru perguntou.

–Hakudoushi, desligue esse telefone! – ela tentou falar em dialeto com ele. De forma alguma Sesshoumaru escutaria uma conversa daquele tipo.

Rin, quem é esse cara? Por que não me contou sobre isso? – Hakudoushi ignorou o dialeto e continuou em japonês pelo telefone, falando tão alto que dava para a garota escutar de dois modos: da sala e pelo telefone.

–Hakudoushi, desligue isso!– ela tentou de novo. Que vergonha estar falando daquela forma com Sesshoumaru ouvindo. Era melhor falar em dialeto com o irmão naquele momento para não constrangê-lo do outro lado.

Rin... – Hakudoushi começou num tom ameaçador – Se não me contar agora, eu vou pegar o primeiro trem pra Tokyo pra caçar esse cara!

Os três lados ficaram em silêncio por um momento, até que Sesshoumaru resolveu arriscar:

Ainda estão aí? Eu consigo entender o que estão falando nessa língua, só para avisar.

Você! – Hakudoushi ainda estava furioso – O que você fez com minha irmã?

–Hashi, não foi ele! Você entendeu errado!

Por que você não me contou? – o irmão parecia ainda mais nervoso – Como foi que quebrou a mão?

–Foi um acidente! Ele me ajudou!– ela mentiu, sentindo o rosto vermelho de vergonha – Sesshoumaru não tem nada a ver com isso, ele não me machucaria!

Isso é verdade, Korosemaru? – o irmão perguntou para Sesshoumaru.

É "Sesshoumaru"- o rapaz corrigiu, calando-se depois.

É verdade ou não? – Hakudoushi voltou a perguntar ainda mais ameaçador.

–É verdade, Hashi! – Rin tentou convencê-lo, imaginando que aquele silêncio do rapaz fosse uma recusa em tentar ajudá-la naquela mentira.

–É VERDADE OU NÃO? – Hakudoushi voltou a gritar.

-Eu não tenho problema algum de audição para você ficar gritando assim comigo. – a voz de Sesshoumaru soou tão fria que dava para sentir o ar mudar de temperatura e dar calafrios em quem ouvisse.

Então responda. – Hakudoushi falou igualmente frio.

–Tchi. Ela está mentindo. – Sesshoumaru falou, calmamente.

Rin sentiu o coração quase parar de bater e os olhos marejarem. Hakudoushi tentaria arrancar a verdade dela e, depois que descobrisse o que aconteceu, nunca mais a deixaria voltar para lá.

E ela agora queria muito voltar.

Ela não contou para vocês que quebrou a mão tentando dar um soco em um rapaz que tentou beijá-la à força? – Sesshoumaru continuou ainda no tom calmo – Foi isso o que aconteceu. Mas não consegui quebrar a cara do sujeito. Você quer ajudar?

O QUÊÊÊÊÊÊÊÊ? – foi a pergunta de Hakudoushi, escutado pelos quatro cantos de Nagoya.

A garota arregalou os olhos e caiu da cama, subindo depois para pegar o telefone e escutar o resto da conversa.

Rin... – Hakudoushi falou num tom preocupado – Por que você não me contou? Por que fica tentando resolver tudo sozinha? Quem é o cara? Fala o nome dele que eu mando meus conhecidos na yakuza atrás dele! Quem foi, hein?

–Você tem amigos na yakuza agora? O papai sabe disso? – ela perguntou em evidente alarme.

Foi um cara chamado Ookami Kouga. – Sesshoumaru continuou – Sabia que ele fez isso na frente de todo mundo?

Rin escutava tudo em silêncio, sentindo um calafrio ao imaginar o sorriso maldoso que ele teria nos lábios ao falar aquelas coisas de Kouga.

Se vier para cá pra Tokyo, eu posso ajudá-lo no "serviço". – o rapaz continuou - Com todo o prazer.

Bem – Hakudoushi estava mais calmo – Eu te devo desculpas e um agradecimento, cara. Você ajudou minha irmãzinha.

Estranhamente ela sentiu os olhos arderem.

De nada – Sesshoumaru respondeu.

Estou muito mais aliviado. Muito obrigado mesmo, viu? – Hakudoushi deu um longo suspiro de alívio – Eu vou deixar vocês conversando de novo, tá?

E desligou a extensão, deixando Rin e Sesshoumaru conversando de novo.

No entanto, o silêncio prevaleceu entre os dois durante vários segundos até que o rapaz voltou a falar:

Tchi... Mentindo e escondendo as coisas do seu irmão, que coisa feia.

Depois de um momento de silêncio, Sesshoumaru escutava os soluços dela.

Por que está chorando? – ele perguntou num tom tranquilo, como se quisesse acalmá-la também.

–Por quê? – ela deu uma risada enquanto sentia mais lágrimas escorrerem pelo rosto – Eu estou aliviada, só isso...

"Aliviada"?

–Você me assustou, seu idiota... – ela enxugou as lágrimas e soluçou – Eu fiquei com medo que ele entendesse errado as coisas e fosse atrás de você. Não foi sua culpa eu ter quebrado minha mão.

Você ficou com medo por mim? – a voz dele saiu suave, deixando-a mais calma.

–Eu fico com medo da reação por ele ser muito protetor. Você foi um idiota, nunca mais me assuste desse jeito... – ela voltou a chorar.

Depois de minutos em que os dois ficaram calados, Sesshoumaru resolveu arriscar, temendo não escutar a resposta em meio aos soluços dela:

Você está bem por aí?

–Sim... – ela enxugou as lágrimas – Mas todos continuam preocupados comigo, com o que falam perto de mim... Hakudoushi tem estado desse jeito... mega-protetor. Isso é cansativo, sabe? Eu não queria deixar ninguém preocupado. Se soubessem o que tinha acontecido comigo, eles não iam mais deixar voltar.

E você preferiu esconder para continuar morando aqui?

Houve um momento de silêncio que ela usou para respirar mais fundo.

–Você viu como meu irmão ficou... ele ia me tirar da faculdade e me forçar a ficar aqui por achar mais seguro... e eu quero voltar ainda... Eu queria continuar saindo com todo mundo...

E ele continuou calado. Podia-se até pensar que ele havia desligado sem avisar, mas ela sabia que ainda era ouvida.

–Eu fico lembrando das nossas conversas, de você... dos... – ela engoliu um soluço, falando num fio de voz enquanto levava a mão instintivamente à boca para deslizar um dedo nos lábios – dos nossos beijos...

Mais um momento de silêncio e ela achou melhor encerrar por ali. Não queria ter que tomar mais um instante dele.

–Desculpe falar essas coisas agora... Você deve estar me achando uma bobona. – ela passou a manga no rosto para enxugar as lágrimas – Acho melhor desligarmos e...

Não desligue – ele a cortou – A conversa ainda nãoacabou.

–"Não"? – ela perguntou, piscando em confusão – Mas eu...

Rin – Sesshoumaru a cortou de novo – Em primeiro lugar, eu não a acho uma "bobona"; em segundo: eu entendi só agora o motivo de não querer contar para a sua família que você passou uma situação muito grave, escondendo até esse seu medo infantil pelos fantasmas do apartamento...

–Ora... ! – ela rangeu os dentes – Ela existia, tá?

Agora preste atenção, menina – Sesshoumaru falou num tom tão sério que Rin não quis protestar por tê-la chamado de "menina" – Eu só vou falar isso uma vez.

A linha ficou em silêncio por alguns segundos até que ele voltou a falar:

Os meus sentimentos por você não mudaram, Rin.

A garota, sentada na cama em seiza, sentiu as pernas tremerem ao escutar aquilo, o coração bater forte.

Quando estiver ansiosa ou triste, você pode me ligar, eu vou atender.

Rin não falou nada, sentindo a mão que segurava o telefone tremer, precisando da outra para segurá-lo.

Seja aqui em Tokyo ou se estiver em Nagoya, a distância não é um problema.

A garota baixou o rosto e um dos braços a segurava na cintura, as lágrimas escorrendo mais livremente.

Agora já pode desligar – ele falou no tom calmo.

Aquilo fez com que ela levantasse o rosto em alerta, olhos arregalados em surpresa e choro interrompido.

–Já?– ela exclamou – Só isso que tem pra me dizer?

Não acho que tenha sido pouca coisa. – ele zombou – E eu não gosto de conversar algo importante assim pelo telefone.

–Bem... – ela sorriu docemente – Acho que foi a conversa mais importante que tivemos.

A mais importante precisa ser pessoalmente, Rin. Quando você volta para cá? No último dia das férias?

–Eu pensei em voltar uma semana antes para ver um apartamento. – ela deslizou um dedo pelo lábio inferior novamente, como se ele estivesse antecipando algo – Você não vai mesmo viajar?

Não. Meu irmão me convidou para ir a Yokohama, mas ainda não estava bem para viajar.

–Eu gostei muito da nossa viagem para lá. Uma pena que você não foi.

Eu me arrependo agora. Gostaria de ter ido com você.

Rin permitiu-se dar um sorriso ao imaginar como teria sido o passeio ao lado dele.

Hakudoushi gritou que o jantar estava sendo servido e que ela deveria descer logo.

–Eu preciso desligar agora – foi a resposta dela – Eu ligo pra você quando chegar a Tokyo?

Sim. Ah, e mais uma coisa.

–O quê?

Arranje um celular. O seu irmão não terá oportunidade de ficar se intrometendo na conversa dos outros. Foi um pouco inconveniente o que ele fez hoje.

Rin deu uma risada alta. Ela realmente precisava arranjar um e aprender a cuidar para não perder o aparelho em menos de uma semana de uso.

–RIN, EU QUERO JANTAR! - Hakudoushi gritou irritado. Parecia que ele estava ao pé da escada.

–JÁ VOU!a garota respondeu, voltando a falar com Sesshoumaru – Preciso desligar agora.

Na linha, escutou Sesshoumaru tossir antes de falar:

Boa noite, Rin.

–Boa noite – ela falou, com um sorriso – E obrigada.

De nada. – voz a resposta dele.

Depois que escutou o rapaz desligar, ela ficou olhando com carinho para o aparelho.

RIIIIIN!- Hakudoushi gritou de novo.

–JÁ FALEI QUE JÁ VOU! NÃO SABE ESPERAR? – ela pulou da cama e saiu do quarto.


Horas depois do jantar acabar, Rin ia recolher-se quando decidiu procurar pelo irmão, sumido desde que havia terminado de comer. Encontrou-o deitado no gramado do jardim, olhando para o céu.

–Hashi? – ela o chamou, aproximando-se para ficar em pé ao lado dele – O que está fazendo aqui?

O irmão ergueu levemente a cabeça para encontrar os olhos dela.

–Você deveria estar descansando. Já vou entrar. – ele descansou a cabeça em cima de um braço que servia de apoio.

–Por que está aqui? – ela insistiu, o cenho franzido.

Depois de um minuto em silêncio, ele respondeu:

–Estava pensando no que o Setsunamaru contou hoje.

–É "Sesshoumaru". – ela corrigiu, contendo uma enorme gota e sorrindo sem graça.

–Eu fiquei muito chateado por não ter me contato o que aconteceu. – ele continuou, agora mais sério – Você não confia em mim.

Rin sentou-se sobre os joelhos e colocou a cabeça do irmão confortavelmente sobre as pernas dela, passando a mão nos longos cabelos dele.

–Obrigado. – ele falou com um sorriso.

Depois ficaram em silêncio.

–Hashi... Eu realmente acho que estou bem lá. Eu passei momentos maravilhosos. Foi só isso de ruim que aconteceu, mas meus amigos me ajudaram muito. – ela continuou.

–E aquele fantasma lá no seu apartamento? Eles também ajudaram nisso?

Rin não respondeu e deu um sorriso sem graça.

–Eu só tenho você, Rin. Não tenho mais ninguém. – ele continuou olhando para o céu – Depois desse acidente no banheiro, eu fico com medo que aconteça algo com você por lá.

–Não vai. E o que aconteceu ano passado foi um acidente, como você mesmo diz. Não temos como controlar. – ela deu um beijo na testa dele.

Hakudoushi deu um suspiro pesado e ergueu a mão, silenciosamente pedindo a dela.

A irmã levou alguns segundos para entender o que ele queria.

–Quero ver a mão que quebrou.

Foi a vez dela dar um suspiro cansado e obedecer ao pedido, pousando a mão aberta na palma da dele.

O rapaz franziu o cenho. Analisou os dedos, as linhas da vida, as costas... Largou a mão dela por um instante e sentou-se agilmente na posição de lótus, voltando a pegá-la para começar:

–Quebrou toda a mão?

–Dois dedos. – ela falou timidamente, destacando-os – Eu tentei me defender daquela forma que você me ensinou, mas acho que não deu certo.

–Você não deve ter fechado o punho direito. – ele massageou a palma dela – Ou isso ou a cara do sujeito devia ser de ferro.

–Hmm. – ela baixou o rosto de vergonha – É que eu nunca imaginei que precisaria bater em alguém... Você sabe que eu não gosto de violência.

O irmão balançou a cabeça negativamente.

–Não se trata de usar ou gostar de violência, você não pode permitir que um cara desses faça o que fez sem permissão. Você tentou se defender. Aconteceu alguma coisa com ele depois?

–Meus amigos disseram que ele sumiu da universidade, mas não sei o que houve. Não procurei saber.

–Quando voltar pra lá, procura saber pra me avisar. Ele não pode sair dessa história sem eu transformar a fuça dele num purê.

–"Não se trata de usar ou gostar de violência". – ela repetiu, com evidente sarcasmo, a fala anterior dele.

–Vamos entrar. – ele levantou-se e estendeu a mão para ela fazer o mesmo, limpando as roupas de folhas que haviam pregado nelas – Os dois já devem ter ido dormir.

A irmã agarrou-se no braço de Hakudoushi e os dois andaram em direção da porta da sala.

–Ah, lembrei de uma coisa – o rapaz começou – Jakotsu falou pra te levar na agência dele amanhã. Ele quer que você prove umas roupas pra levar pra capital.

–Amanhã?

–É... – ele deu um suspiro cansado – Mas você não vai.

Rin estancou na hora em que iam entrar na casa.

–Por que não? – ela perguntou, estreitando os olhos.

–As saias são curtas. Vai chamar a atenção dos tarados da capital.

–E se eu quiser?

–Ahhh. – Hakudoushi falou em tom de ordem – Só passando por cima de mim.

–Com o carro do Jakotsu?

–Rin... – ele usou um tom de aviso.

A garota deu uma risada e largou o braço do irmão, entrando correndo na casa e sendo perseguida por ele, escutando-o gritar:

VOLTE AQUI!


Os dias estavam passando devagar, observou Rin enquanto penteava o longo cabelo negro em frente a um espelho.

Havia uma promessa no ar, uma sensação nova e agradável de que as coisas seriam diferentes nas próximas semanas, quando já estivesse em Tokyo.

Mal conseguia controlar a ansiedade. A prova disso estava no canto do quarto: a mala ficou pronta dias antes, na mesma noite em que ela e Sesshoumaru conversaram por telefone.

A lembrança provocou um sorriso, e ela enrolou os dedos no cabelo tentando ondulá-lo. Não teve muito sucesso, dando um suspiro de derrota. Tinha uma enorme inveja do cabelo de Kagome, muito longo e ondulado... Quem sabe alguma prima pudesse dar uma dica de como deixar o cabelo da mesma forma e com mais brilho? Ela não entendia nada daquelas coisas, nunca fizera mais do que cortar os fios sob a medida que Jakotsu ordenava ao cabeleireiro.

Ou quem sabe o próprio primo desse alguma sugestão, já que ela nunca foi a um salão sem a presença dele?

Olhou-se novamente no espelho. Virou o rosto sob um ângulo, depois virou para o outro lado... mirou a forma como os fios de cabelo caíam de um imperfeito coque que tentou armar no alto da cabeça.

Estava se arrumando para ir a um jantar com toda a família Nozomu. Era um evento anual, ocorrido todo verão, no qual os familiares aproveitavam as férias de trabalho e escolares para reunir todos na casa de um membro em uma longa noite de conversa e comida.

A casa na qual celebrariam era um pouco distante, num distrito afastado do centro de Nagoya – um longo caminho para o pai de Rin dirigir. Hakudoushi não tinha permissão de usar o carro da família nos trajetos longos, pois sempre gostava de abusar da velocidade.

Eram quase cinco da tarde. O jantar começaria às oito horas. E Jakotsu estava trinta minutos atrasado. Ele fez questão de dizer que ela só passaria da porta da casa depois do olhar supervisionado dele. Todo mundo teria que vê-la bem e bonita. A pele já estava cuidada, a roupa já escolhida, mas o cabelo...

Deu mais um suspiro e observou o reflexo no espelho. Descobriu o problema: o cabelo era muito liso e as pontas tinham aquele estranho formato de desenho de árvore de Natal. Não tinha a mínima ideia de como arrumá-lo. E para quê um coque, era a pergunta. Talvez porque sabia que era um dos penteados mais populares, algo que dava um ar sério às mulheres elegantes.

Escutou a campainha soar e deu um suspiro de alívio ao escutar vozes estridentes no andar de baixo. O primo chegara, e era apenas uma questão de segundos até aparecer na porta do quarto.

RI-I-I-IN... – ele cantarolou da escada. Três segundos depois, lá estava ele em pessoa. Segurava um vestido envolvido por uma capa de uma das mais famosas lavanderias da cidade. Estava elegante como sempre, mas a expressão no rosto a preocupou.

Jakotsu parecia... transtornado, apesar de tentar mostrar o contrário.

Ao ver o que ele segurava, porém, entrou em estado de choque, deixando o pente cair no chão. Quando ele parou em frente a ela, viu cinco bainhas de cores diferentes, até se dar conta de que não era apenas um vestido.Eram cinco em um único cabide.

–Er... oi... Jakotsu... – ela murmurou, forçando um sorriso ao notar que ele ficava ainda mais estranho arqueando uma sobrancelha para ela – Eu já tinha escolhido uma roupa...

O primo não comentou. Simplesmente deu as costas para ela, foi até a cama, parou aos pés dela e largou com desprezo o cabide com as peças em cima. Depois virou-se para a prima, as mãos nos quadris.

–Rin, eu estou num péssimo dia hoje. Se não queria que eu viesse aqui, era melhor ter avisado. Celular existe pra isso, sabia?

Oh-oh. O péssimo dia significava que ele havia encontrado alguém e discutido. Muito provavelmente a causa era o ex-companheiro.

–Sinto muito... – se o primo estava chateado, sabia que ele ficaria contente em ajudá-la a se arrumar – Eu já escolhi a roupa... mas estou com problemas com o meu cabelo.

A expressão ranzinza de Jakotsu ficou levemente suavizada pelas linhas de uma dúvida. Parecia que ele estava tentando ver o que era o tal "problema".

–O seu cabelo parece o mesmo de sempre, Rin. – ele se aproximou dela. A garota voltou a encarar o espelho e os dois se observavam pelo reflexo, já aliviada pela melhora de humor – Longo, bonito, macio.

–Eu não consigo fazer um coque. – ela choramingou, pegando o pente do chão e jogando-o com desleixo em cima da cômoda. Em seguida, cruzou os braços como uma criança birrenta – Eu odeio meu cabelo.

–Tem mulher matando pra ter um cabelo como o seu. – ele pegou os fios numa única mãos e enrolou uma larga mecha no punho – E você não fica bem de coque. Isso é penteado de secretária.

–As mulheres em Tokyo usam e não são secretárias.

–As mulheres em Tokyo não têm um cabelo tão bonito quanto o seu e ainda usam cílios de led. Eu juro que se encontrar uma garota em Nagoya usando isso, eu peço pra Hakudoushi passar duas vezes com o meu carro por cima dela.

–Ah, Jakotsu... – ela cobriu o rosto com as mãos e deu um longo suspiro. Ele arqueou as sobrancelhas e observou-a pelo espelho.

–Por que quer ter um penteado diferente? Você sempre usou seu cabelo solto.

As mãos dela saíram do rosto e foram para o colo dela. Fez um beicinho e fingiu dar de ombros num desleixo.

–Eu cansei do outro.

–Assim como se cansou da forma de se vestir? – ele estreitou os olhos.

–Hmm... – ela sentiu o rosto queimar, e só teve coragem de responder "sim" com um movimento de cabeça.

–Aquele seu amigo de Tokyo também reclamou do seu cabelo?

–Ele não... – Rin se exasperou. Fechou os olhos, concentrou-se e voltou depois a encontrar o rosto do primo no espelho ao reabri-los, notando uma sobrancelha muito arqueada ali – Ele não tem nada com isso.

A expressão de Jakotsu não mudou.

–Ele não tem nada com isso. – ela insistiu, o olhar mais sério e determinado – Não faço isso por ele. Você sabe que eu faço por mim.

–Hmm-hmm. – ele foi irônico. Pegou a escova das mãos de Rin e começou a penteá-la lentamente, partindo as mechas em seções.

Ficaram em silêncio – e ela evitava encontrar o olhar inquisidor do outro.

–Você faz isso porque quer tentar alguma coisa com ele? – ele perguntou gentilmente, quebrando o silêncio.

–N-Não... – ela ficou violentamente vermelha com a insinuação.

–Eu sei que está mentindo, Rin.

–Jakotsu, eu... – ela deu um suspiro exasperado, cobrindo novamente o rosto com as duas mãos.

–Qual é o problema dele?

Silêncio.

–Ou o problema é você?

A pergunta fez com que ela afastasse as mãos do rosto e o encarasse.

–É isso, não é? – ele adivinhou – Você quer, mas não tem certeza.

–Hmm... mais ou menos... – ela murmurou, baixando o olhar para as mãos torcendo nervosamente no colo.

–O que é, então? – ele ajoelhou-se para ficar do mesmo tamanho dela – Alguma coisa está incomodando você?

A prima fez um beicinho, e ele sabia que aquilo era uma marca de quando ela queria chorar, mas aguentava firme. As mãos pararam de torcer e ela virou o rosto para olhá-lo de frente.

–Como é que nós sabemos se pode dar certo? – ela finalmente perguntou.

O primo inclinou a cabeça para o lado. As linhas do rosto estavam suavizadas.

–Nós não sabemos, Rin.

A resposta não a agradou, e o semblante continuou triste. Jakotsu se perguntou há quanto tempo ela estava daquele jeito – ansiosa por saber, ansiosa por perguntar, por conversar com alguém. Imaginou que ela manteve aquilo calado por muito tempo por causa do irmão: Hakudoushi ficaria extremamente preocupado e possesso se Rin perguntasse a respeito de ter um novo relacionamento.

-Nós nunca sabemos, por isso que sempre tentamos.

Os olhos dela ficaram mais expressivos, mas ainda assim não era uma resposta que esperava. As pessoas não podiam realmente prever o que aconteceria numa relação... Mas como arriscar e evitar mais tristeza?

–Eu... – ela deu um suspiro muito profundo e sentiu os olhos arderem. As primeiras lágrimas começaram a descer – Eu não sei se estou preparada pra outro relacionamento.

–Está pensando no que aconteceu com Akihito?

–É... – murmurou baixinho e limpou o rosto das lágrimas.

Há quanto tempo não escutava o nome dele? Mesmo dentro de casa evitavam falar ou tratavam pelo pronome ele porque mesmo o apelido, no momento de luto, fazia-a tremer.

–Eu não queria passar por outra separação. – outra lágrima escorreu, a voz saiu num sussurro – Eu não acho que posso aguentar de novo se não der certo, Jakotsu.

–E... e ele? Ele também pensa assim?

Rin balançou a cabeça para os lados.

–Ele parece bem... positivo. – ela deu um pequeno sorriso, lembrando de detalhes da conversa pelo telefone – Disse que vamos nos encontrar pra falar a respeito quando eu voltar.

–Isso é muito... bom, não? – o outro falou, pensando na melhor palavra para completar a frase. Sim, era bom. E se ele faz questão de ser formal, era porque tinha muito respeito pela prima e não brincaria com os sentimentos dela. – E você já considerou imaginar como seria um relacionamento com ele?

–Como? – ela piscou sem entender.

–Você já tentou se imaginar como namorada dele? – ele repetiu o sentido da pergunta, mudando as palavras.

–N-Não... – Rin murmurou, sentindo o rosto e o peito se aquecerem.

–Por que não?

–Eu nunca... pensei nisso antes. – ela confessou finalmente.

–Eu também não acho que seja bom pensar nessas coisas. Pode nos deixar muito iludidos, ainda mais quando não se é correspondido. Eu já passei por isso. – ele pausou por uns instantes, observando o rosto dela. Um dedo estava delicadamente traçando o lábio inferior enquanto ela olhava para o nada, extremamente concentrada em alguma coisa.

Não era a primeira vez que ele a via fazendo aquilo.

–Rin?

–O-Oi? – ela perguntou assustada, como se acordasse do nada no meio da noite.

–Como ele é... exatamente? – ele perguntou, curioso – Ele nunca tentou...?

–Tentou o quê? – ela ficou na defensiva, vendo o primo arquear a sobrancelha.

Segundos depois, ela entendeu a pergunta e tratou de se recompor.

–Bem... Você viu na foto. Ele é muito educado e bonito, a família dele parece que é importante na capital e eu sou amiga do irmão dele também... – ela falou de uma vez só, tentando dar o maior número de informações relevantes –Ele me disse um dia o que sentia por mim... e eu expliquei o que...

Rin não completou a frase e mais lágrimas escorreram. O primo resolveu pegar um chumaço de algodão e um tônico de pele da Sekkisei para umedecê-lo, erguendo depois o rosto dela para trilhar o caminho que as lágrimas percorreram.

Com o toque, ela voltou a falar numa torrente:

–Eu não pensei na hora... mas o tempo passou, e nós continuamos nos vendo, e ele continuou repetindo as coisas... e ele cuidou de mim também quando precisava de um amigo... Ele me consolou. E eu senti que queria ser... especial pra ele.

Quando ela parou de falar, o primo parou de limpar o rosto também.

–Obrigada. – ela murmurou, meio envergonhada. Agora sentia-se nua emocionalmente na frente dele.

–Não precisa agradecer. – ele replicou educadamente, pegando um puff de quatro rodas do canto do quarto, que estava ao lado de malas, sentando-se.

Internamente perguntou-se como ela já tinha arrumado as malas se ele ainda nem tinha escolhido metade das roupas que ela deveria usar na capital.

–Eu liguei pra ele um dia desses... – ela continuou a confissão – Eu percebi que estava com saudades.

–E você ainda tem dúvidas de quê, então? – Jakotsu apoiou os cotovelos nos joelhos e pousou o maxilar nas mãos cruzadas – Se você diz que ele gosta de você e você parece gostar dele também, então...

–Eu não sei se vai dar certo. – ela sussurrou, voltando a baixar o rosto – E eu tenho medo de perder meu amigo no final de tudo.

–Como assim?

Ao entender a linha do pensamento, o primo ergueu o rosto dela meio bruscamente.

–Eu já tenho ideia do que você quer dizer, mas pelo menos espero que, quando falar a respeito de si mesma, você mostre seu rosto pra mim e me diga de frente.

Rin sustentou o olhar, mas ainda parecia triste. Se Jakotsu percebesse bem, parecia até decepcionada consigo mesma.

–Desculpa... eu não consigo deixar de pensar que... que um dia ele não queira nada comigo por eu ser... inexperiente em alguns campos. – ela sentiu o rosto corar absurdamente, mas não baixou o olhar.

–Você acha que é esse o problema?

Rin confirmou com a cabeça positivamente.

–Você e Aki nunca... – ele não completou a frase. Parou por ali mesmo porque já sabia que ela entenderia.

Desta vez, a cabeça mexeu para os lados.

–Eu percebo agora que passei muito mais tempo cuidando dele. Ele ficou doente antes de completarmos um ano juntos, lembra?

Suspirando pesadamente, ele levantou-se e ficou de pé em frente a ela, puxando-a para erguer-se e abraçá-la.

–Eu não vejo problema algum nisso. – ele murmurou contra o cabelo dela, erguendo uma das mãos para tirar os fios dos ombros e jogá-los para trás – Se ele é uma pessoa de respeito como diz, ele vai entender e cuidar bem de você.

–Hmm. – ela fechou os olhos.

Era somente aquilo mesmo?

Melhor não pensar nos motivos naquela hora. Ela olhou o relógio e se preocupou.

–Precisamos ir... – ela afastou o rosto e deu um sorriso gentil – Ou vamos ser os excluídos do ano. De novo.

Jakotsu revirou os olhos.

–Tudo bem. – ele a sentou novamente e ela, confusa, se voltou para o espelho, onde podia ver o primo às costas dela segurando uma escova como se fosse uma arma – E então? O que eu ia mesmo fazer com o seu cabelo?


A casa escolhida para a reunião de família Nozomu ficava localizada numa das áreas mais nobres da cidade – quase fora dos limites da cidade. Rin e o irmão moravam por um tempo relativamente curto com os outros tios após a morte dos pais, até que a família decidisse com quem as crianças iriam morar. Tinha pouquíssimas lembranças do local, e a distância de casa ainda afetava a memória. Se não fossem as tradicionais reuniões familiares a cada seis meses, ela nem teria motivo para visitar os parentes.

E ela só estava determinada a ir por um motivo mais nobre: ela não foi à última reunião porque ainda não se sentia preparada emocionalmente para conversar com outras pessoas. E também porque, para ela, ninguém, além de alguns primos mais próximos, parecia ainda sensibilizado com o luto que ela enfrentava pelo falecido noivo.

Mas lá estava ela, entre o irmão e Jakotsu, no banco de trás do novíssimo Subaru que o pai comprou depois que Hakudoushi reclamou dos anos de existência de um Aygo, o carro que Rin usou aprender a dirigir – algo que ela nunca mais fizera depois de conseguir a carteira.

O primo arrumou cabelo dela em uma única trança lateral, presa com grampos do lado direito do rosto.

A viagem estava chata.

Olhando pela janela, ela só pensava em voltar para casa e pensar sobre o retorno para Tokyo, sobre como ficaria a vida e...

Seguindo a sugestão de Jakotsu, tentou imaginar como seria um relacionamento com Sesshoumaru: encontrá-lo todos os dias nas aulas, ele levando-a de volta para o apartamento, de como seria quando os dois fossem jantar juntos... Ele nem sempre foi assim, segundo os colegas e os poucos amigos. Nunca foi tão próximo de alguém. Será que tem alguma coisa a ver com a criação dele? Os pais tiveram algo com isso?

Os pensamentos com ele fizeram com que suspirasse e ela sentiu o rosto ficar vermelho.

–Tá gripada, Rin? – o irmão, que nunca tinha o que perguntar de melhor, inclinou-se para examinar o delicado rosto dela – Tá ficando vermelha.

Como resposta, ela ficou mais corada ainda e não encontrou palavras.

Felizmente, Jakotsu veio ao resgate:

–Deve ser cansaço por ter um irmão troglodita.

Os três ficaram em cômico silêncio. Os pais continuaram ignorando o que se passava no banco de trás.

–Eu... – Rin respirou fundo, tentando quebrar o gelo – Estou cansada mesmo. Acho que vou pegar um dos quartos e cochilar um pouco antes das meninas aparecerem.

Se elas já não estiverem lá, não é? – Jakotsu observava as mãos bem-feitas.

–Não quer tentar dormir enquanto não chegamos?

–Hmm... – ela assentiu, movendo-se para perto do irmão, adormecendo em poucos minutos. Ele deslizou o braço protetoramente ao redor dela, e com o outro retirou o celular do bolso ao receber uma mensagem recebida segundos antes.

Era mais uma daquelas mensagens de operadora, e logo ele a deletou... e veio a ideia de limpar a caixa de mensagens.

–Sua mão vai acabar pegando câncer de tanto que usa esse celular, Hashi. – Jakotsu opinou, sem deixar de olhar a janela – Rin tem razão em não querer se acostumar com isso.

Tantas mensagens, tantas promoções desinteressantes... Ele ainda ia ver como fazia para impedir que a operadora mandasse tanta coisa inútil.

Até que chegou a uma.

De nada. Obrigado por avisar naquele dia. Divirta-se. Sesshoumaru.

Arqueou uma sobrancelha e olhou a irmã. Ela estava se olhos fechados, respirando tranquilamente. Fios de cabelo caiam daquele estranho penteado na cara dela, e ele precisou tirá-los do rosto... Provavelmente ela e Jakotsu tentaram fazer alguma coisa para que ele ficasse... estranho daquele jeito. Raríssimasvezes viu Rin sem o cabelo solto. E as pontas dos grampos incomodavam o braço. A mão dele segurou um por alguns segundos até ouvir novamente o primo:

–Vou colocar ácidonesse dedo se tocar num fio de cabelo dela.

–Mas ela nunca usa preso!

–Ela quis mudar um pouco, Hashi. – Jakotsu deu um suspiro cansado, fingindo irritação. Não queria, na verdade, que o primo continuasse fazendo perguntas sobre o novo estilo que a prima queria passar a usar – Dê um tempo, ok? Já basta aquela discussão ridícula sobre o tamanho da saia. Parece um velho conservador da capital.

–Se continuar deixando essa menina copiar tudo que ela vê em Tokyo, ela vai voltar pra cá no final do ano com cílios led na cara.

–Só por cima do meu cadáver. – o primo deixou escapar, determinado.


–Rin... Acorde.

A garota murmurou alguma coisa e forçou os olhos a abrirem... e encontrou o rosto do irmão a centímetros do dela. Deu um sorriso e lembrou-se que estavam a caminho da casa dos tios-avôs.

–Já chegamos?

O irmão assentiu e ela esfregou os olhos e levou delicadamente a mão esquerda à boca para disfarçar um bocejo. Ainda estava com muito sono, por que será? Seria algo emocional? Alguma gripe para atrapalhar as férias dela?

–Vamos. – o irmão a chamou. Jakotsu e os pais já haviam descido, e o irmão segurava a outra mão dela, esperando pacientemente que ela "acordasse". Rin desceu depois dele, e ambos andaram de mãos dadas atrás dos pais, com o primo ao lado.

Havia muitos carros na rua, provavelmente dos outros parentes. As primas com certeza já estavam lá, e foi uma ótima ideia poder ter descansado dentro do carro, porque com elas ali seria algo impossível de acontecer.

–Há tempos que não venho aqui também. – Jakotsu murmurou. Ele também não aparecera na última reunião por estar cuidando de Rin.

–Eu não faço mais tanta questão de vir aqui também por causa da distância. – foi o comentário de Hakudoushi.

Rin limitou-se a olhar para o chão. O irmão e o primo estavam querendo, no íntimo, deixar de lado as tradições familiares... Nova tendência entre os jovens japoneses. Na opinião dela, aquilo não era uma boa coisa.

Sim, há quase um ano não visitava a família. Tanta coisa havia acontecido... E agora ela parecia mais adulta, mais velha, mais preparada... e mais calma, mais consolada. Ninguém faria perguntas sobre o sumiço porque todos já sabiam. Eles gostavam de Aki, eles o respeitavam e achavam que seria um boa união para as duas famílias. Ela não era nem maior de idade na época e eles pensavam já em casamento...

A lembrança provocou um pequeno sorriso de saudade.

O irmão apressou o passo e ela precisou se esforçar um pouco para acompanhá-lo. Tomava cuidado para não tropeçar nos paralelepípedos que armavam um caminho até o portão de entrada da residência, uma enorme mansão revitalizada no início do novo século, projetada seguindo os novos padrões de residências economicamente sustentáveis. Tinha sete quartos, até onde ela lembrava, um enorme jardim na parte de trás da casa, uma varanda no segundo andar com espaço para confraternização no verão, quando os dias ficavam mais longos.

À frente, os pais fizeram sinal para que os acompanhassem até os fundos da casa, onde ficava a área de celebração.

Foi então que Rin, ao erguer o rosto para olhar a varanda da residência, teve uma das mais estranhas sensações do mundo.

Sesshoumaru, equilibrando o tronco sobre o parapeito de uma das janelas, observava o lado de fora. Não olhava exatamente para ela, mas ainda assim sentiu que os olhos eram todos dela. E a imagem foi tão forte que ela buscou na memória quando aquilo teria acontecido, quando, na verdade, Sesshoumaru nunca poderia estar ali – ele mesmo havia dito que nunca saíra de Tokyo.

Era como se fosse um déjà-vu.