Nota da autora: Vocês não sabem o quanto fiquei feliz com o episódio desta semana de HnY e com o que a prévia do 15... Sabem aquela emoção de ver este casal alternativo no fandom tornar-se canônico? Eu às vezes preciso me beliscar para ver se estou mesmo acordada, hahaha.

Eu fiquei tão feliz com tudo o que escreveram nos comentários. Isso me deu um ânimo para publicar logo este aqui. Não sei como agradecer, só sentir. Hahaha. Vou responder com carinho cada um ao longo da semana, ok? O novo capítulo sai sexta ou sábado... Bem, com toda certeza postarei algo legal no sábado.

Enquanto isso, fiquem com este capítulo (a última parte da Rin em Nagoya) e com Bokujun... Viram o novo capítulo com o pedido de casamento de Sesshoumaru? É uma história legal, eu sempre leio quando preciso dar umas risadas.

No próximo capítulo, um casalzinho vai se reencontrar depois de semanas longe.

Espero que gostem do novo capítulo. Se puderem comentar, ficarei EXTREMAMENTE feliz. Viva SessRin!


UM CAMINHO PARA DOIS

CAPÍTULO 15

Pelos caminhos de Nagoya – parte III

Sesshoumaru, equilibrando o tronco sobre o parapeito de uma das janelas, observava o lado de fora. Não olhava exatamente para ela, mas ainda assim sentiu que os olhos eram todos dela. E a imagem foi tão forte que ela buscou na memória quando aquilo teria acontecido, quando, na verdade, Sesshoumaru nunca poderia estar ali – ele mesmo havia dito que nunca saíra de Tokyo.

Então, quando foi que ela poderia ter visto Sesshoumaru numa das varandas da casa da família dela?

–Rin? – o irmão a chamou. Ela precisou de um toque no ombro para saber que todos, os pais, o primo e o irmão, pararam na metade do caminho para esperar que ela despertasse após parar subitamente e ficar olhando para a casa.

–Está tudo bem? – o pai perguntou de longe.

–Sim... eu... – ela olhou mais uma vez a casa. A imagem de Sesshoumaru perdia a força e sumia na memória – Eu pensei ter visto alguém na janela...

–Alguém? – Jakotsu repetiu e olhou curiosamente para a varanda. Hakudoushi fez o mesmo e franziu as sobrancelhas.

–Vamos, vamos. – Rin deu um suspiro quando percebeu o silêncio constrangedor que aquela simples parada causou na família. Ótimo, agora eles iam pensar que ela voltou maluca da capital – Não era nada. Eu pensei ter visto alguém.

–Quem? – Hakudoushi inquiriu num tom que soou meio ciumento.

–Não interessa agora! – Rin empurrou-o pelas costas, as mãos espalmadas pela área tentando forçá-lo a andar de novo, sem sucesso. Enquanto ela fazia um grande esforço, ele simplesmente ficou parado e não sentia nada – Anda logo, Hakudoushi!

–Só se me contar o que diabos está fazendo aí atrás de mim. – ele disse tranquilamente, sem mover um dedo.

–Ela está tentando te empurrar, animal. – Jakotsu tirou as mãos de Rin das costas dele e de um empurrão muito forte no primo, que precisou de pelo menos três passos para se equilibrar de novo.

Quando Hakudoushi iria retribuir o empurrão, a voz autoritária do pai chamou todos de volta ao motivo da visita e o jovem se restringiu a mandar um olhar muito assassino ao primo, que era tão alto e tão bem treinado em artes marciais como ele. Aquilo teria troco... eventualmente.

–Obrigada. – Rin murmurou para ele assim que eles voltaram a andar, aceitando um braço cavalheiro que o primo estendeu a ela.

–De nada. Foi um prazer fazer isso com Hakudoushi. Pelo menos ele vai ficar na curiosidade para saber com quem você estava sonhando acordada.

Rin não podia ver o próprio rosto naquela hora, mas sabia que provavelmente estava corada. Ergueu a vista para o primo e o viu dar uma piscadela e alargar um sorriso.

Deu um suspiro cansado. Por estar com o rosto vermelho, Jakotsu deveria bem saber que ela estava sonhando acordada com ele. Tinha como ser menos embaraçoso?

Adentraram na parte de trás da casa, ainda seguindo uma trilha de paralelepípedos pelo jardim. Ao avistarem um amontoado de pessoas de todas as idades, Rin deixou a respiração sair num suspiro cansado.

Era toda a família Nozomu reunida. Toda.

–Olha quem está aqui! – uma senhora anunciou enquanto arrumava a mesa para o jantar, parando de pôr os talheres para olhar quem chegava – Vocês estão atrasados.

Imediatamente, outras cabeças se voltaram para a mesma direção.

Melhor dizendo, para a direção de Rin. Ela reconheceu logo as primas, com quem brincou, foi para a escola e ouviu as primeiras lamentações de término de namoro durante a adolescência. Claro que elas sabiam sobre o falecido namorado, e estavam com ela para dar o consolo necessário.

–Olá a todos. – o pai de Rin tomou a palavra – Desculpem pela demora. Jakotsu estava promovendo um desfile de moda em casa.

–Eu não consegui escolher o vestido de Rin, oras. – ele tentou se defender com um argumento que implicava na obviedade do atraso – Ela não podia aparecer aqui vestindo qualquer coisa.

–Rin-chan! – duas das primas largaram tudo o que faziam e correram para a prima, cada uma pegando Rin por cada braço – Você está em Nagoya! – falaram ao mesmo tempo.

–Gostou da capital? – uma perguntou. O rosto de Rin virou para ela.

–Já terminou a faculdade? – a outra quis saber. O pescoço de Rin torceu para o outro lado.

–Vai ficar aqui até quando?

–O que visitou por lá?

–E como está a situação econômica da...

–Botan. Momiji. – Jakotsu e Hakudoushi agiram ao mesmo tempo, separando-as dela ao agarrá-las pelo braço – Depois ela conversa sobre isso.

–Mas vocês só vão ficar aqui por algumas horas! – Momiji protestou, cruzando os braços – Ou pretendem ficar aqui a noite inteira com a família?

–Vamos ver o sol se pôr às onze da noite. – o pai de Rin e Hakudoushi colocou uma gentil mão no ombro da garota, apertando-o de leve e fazendo-a relaxar a postura.

–Ah, que bom. Teremos bastante tempo pra conversar, Rin-chan! – Momiji e Botan falaram ao mesmo tempo.

Na mesma tempestade que as duas chegaram, elas se foram, deixando Rin para trás. Ela olhava timidamente para o irmão e para o primo. Eles balançaram a cabeça negativamente.

E Rin deu outro suspiro cansado. Seria uma longa noite.


–Tem certeza de que ele não vai aparecer por aqui? – Rin perguntou pela terceira vez a uma prima, quase cravando os dentes nos nós dos dedos de tanto nervosismo. As primas a chamaram pra terem uma conversa sem Hakudoushi.

Jakotsu, claro, quis participar. Ele, de leve, empurrou a prima até a beirada de uma enorme cama.

–Seu quarto está tão diferente, Botan. – Rin comentou, observando as paredes cor de laranja – Quando me falou da reforma, não imaginava que ficaria assim.

–Mudei as cores pra parecer mais alegre. – ela abriu os braços expansivamente – Adoro.

–Está mesmo bonito. – Jakotsu se limitou a comentar, sentando ao lado de Rin. Outras dez primas também ocupavam os espaços disponíveis em cadeiras, banquinhos, chão ou mesmo sentando no colo uma da outra.

–Vamos, vamos, já chequei tudo. – Momiji, irmã gêmea de Botan, anunciou depois de verificar a presença masculina próximas ao quarto – Só temos hoje pra conversar antes Rin voltar para Tokyo.

Todos os olhares de voltaram para ela.

–O-O q-que vo-vocês querem saber? – ela se tremia toda. Seria o centro das atenções por alguns instantes.

–Rin, eu achei que você voltaria usando cílios led. – uma prima de terceiro grau falou como se fosse a coisa mais trágica que já acontecera.

Jakotsu fechou os olhos, respirou ruidosamente fundo, contou até dez, depois reabriu os olhos e esperou pela resposta de Rin.

–Ah, é verdade, é moda por lá... mas nunca quis usar. O povo de lá se veste muito estranho. Sabiam que eles sabem da vida um do outro por anúncios num canal de mensagens?

–Hein? – todas as cabeças se inclinaram na direção dela. Pareciam esticados como pescoço de tartarugas.

–É um serviço de fofocas. O nome é Gossip Cop. – ela sentiu um delicioso tremor percorrer a espinha ao lembrar a foto dela com Sesshoumaru na biblioteca e que também foi parar onde não deveria – Acontece alguma coisa na cidade e todo mundo sabe na mesma hora.

–Nossa. Parece o serviço que a Momiji faz em nossa família. – o tom da irmã foi meio irônico, meio inocente, o que causou dúvidas na seriedade da afirmação.

–E os homens, Rin? – uma prima de cabelo pintado de vermelho parecia curiosa por outras informações – O que achou dos homens de Tokyo?

O silêncio pairou no quarto inteiro. Enquanto Rin prendia a respiração diante da ousada pergunta, os outros sentiam no ar o constrangimento. A garota ao lado da prima curiosa a cutucou, fazendo uma carranca para ela.

Mais um momento de silêncio se passou até Rin limpar discretamente a garganta e começar a falar num tom muito calmo:

–No começo, eu achei os homens de lá menos educados que os daqui... – ela mordeu o lábio inferior, pensando nas primeiras vezes que Sesshoumaru muito grosseiramente a ignorava nos primeiros dias.

Muitos pares de olhos piscavam como tivessem acabado de acordar. Inclusive Jakotsu, já erguendo as sobrancelhas em curiosidade.

–Mas eles são bonitos sim, e podem ser educados quando podem. – ela reprimiu o sorriso ao lembrar-se de Sesshoumaru abrindo e fechando a porta do Centro Acadêmico para ela nas vezes que tiveram que fechar a sala no final do dia.

Rin limpou a garganta.

–Além de bonitos e educados, eles também são bons amigos. – lembrou do dia que Sesshoumaru ficou jantando e fazendo companhia no apartamento dela, apesar dos terríveis dias que precederam ao momento – Eles escutam com atenção, fazem companhia e dão sugestões de como podemos resolver nossos problemas.

–E você gostou de alguém lá? – outra prima, que Rin jurava que não tinha mais que treze anos para estar ali, perguntou num tom imensamente curioso.

–A-Alguém?

–Fala logo, Rin. – Momiji ordenou, ficando subitamente em pé e colocando as mãos nos quadris – Essa sua cara de "não entendi" não engana ninguém.

Rin corou absurdamente, sentindo já suor de tanto que o rosto ficou aquecido com a pressão que exerciam nela para que revelasse as coisas. Ela gostou mesmo de alguém lá? Ela gostava de Sesshoumaru? Jakotsu achava que ela deveria tentar, mesmo não sabendo que futuro teria um relacionamento entre ambos.

Será que era realmente o momento de tentar?

Quando Rin iria abrir a boca para responder, viu Momiji colocando um dedo nos lábios, num gesto cuidadoso pedindo silêncio. Ela foi à janela, afastou as cortinas e abriu o vidro. Depois pôs a cabeça do lado de fora, virando para o lado esquerdo.

–Oi, primo Hakudoushi. – falou divertida.

Rin arregalou os olhos, assim como os demais.

Segundos depois, o rosto de Hakudoushi apareceu do lado de fora. Ele se segurava na batente para não cair do segundo andar.

–Você disse que não ia reportar pra família o que ela fosse contar aqui no quarto, então decidi escutar um pouco. Mas vocês falam muito baixo. Só ouvi alguma coisa com a Rin querer usar cílios led.

Jakotsu estava no outro instante ao lado de Momiji e assustou Hakudoushi ao simplesmente baixar o vidro da janela para fechar. O primo deu um berro de susto e acabou se soltando, e todo mundo ouviu o impacto seco de algo caindo no chão do jardim em cima do canto de roseiras, provavelmente.

–JAKOTSU! – Rin gritou, correndo para afastar os dois da janela e abri-la. Pôs a cabeça do lado de fora e viu o irmão coberto de folhas e com visíveis arranhões no rosto, escalando novamente a parede para chegar ao quarto.

Ops... – Jakotsu murmurou ao ouvir os impropérios que o primo soltava contra ele. Virou-se e correu até a porta para fugir, exatamente no mesmo instante em que Hakudoushi pulou pela janela como um ninja e correu atrás dele pelos corredores da enorme casa.

O quarto ficou em silêncio, como se tivesse passado um furacão e só sobrassem os destroços. Todas as garotas olhavam atonitamente a porta.

Botan foi a primeira a falar:

–Bem, agora que estamos sozinhas...

–... está na hora de continuarmos a conversa. – Momiji completou com um sorriso, indo até a porta para trancá-la.

Depois voltou na ponta dos pés e sentou-se na cama ao lado de Rin, colocando um braço pelos ombros dela.

–Quer dizer que os homens em Tokyo são educados, é? – ela provocou.

–Eles são muito, muito bonitos? Tipo o primo Hakudoushi? – a priminha que não tinha idade para estar ali era a mais interessada – Eles beijam na boca?

–Quantos anos você tem mesmo? – Rin franziu a testa e sentiu o rosto novamente ficar corado. Estava realmente incomodada com a menina ali.

–Ah! Você beijou! – a mesma menina apontou um dedo acusadoramente, os olhos arregalados – Beijou na boca sim!

Rin trocou um olhar assustado com Momiji. Ela parecia se divertir com tudo. Botan controlava as risadas com a mão direita escondendo a boca.

–Vamos, Rin... – Momiji deu um aperto nos ombros como se fosse para animá-la – Conte mais sobre o que achou dos homens da capital. Mentes ávidas estão curiosas.

E do lado de fora, as pessoas passavam pela porta sem se importar com a conversa que acontecia dentro de um quarto de paredes cor de laranja.


Sentados à grande mesa do jantar, os velhos, os adultos e os mais jovens se dividiam entre escutar o que os avós diziam, o que os pais aconselhavam e as últimas novidades entre os jovens. Rin não se sentia acanhada, mas também não sentia necessidade de conversar. Hakudoushi estava ao lado dela na mesa, fingindo interesse no que uma tia contava sobre a falta de controle dos filhos dela e a necessidade de eles terem que fazer algum tipo de arte marcial. Rin reprimiu o ataque de risada quando ele casualmente sugeriu que os priminhos entre sete e dez anos deveriam treinar ninjutsu e entrar para a máfia.

–Lá eles aprendem sobre controle. – ele tentou justificar diante do choque da tia.

–Mas eles são tão pequeninos... – ela ainda tentou defender. Olhou por cima do ombro e localizou os filhos na ala das crianças, cuidada por quatro governantas enquanto os adultos conversavam em paz. Um deles lançava tinta guache na cara das criancinhas com uma arma de plástico.

–Hakudoushi... – ela falou no ouvido do irmão em tom de repreensão – Você não tem mesmo amigos na máfia, né? Não me deixa preocupada.

O outro zombou.

–Tchi. Claro que não. É brincadeira minha. Eu não aguento esses moleques. – ele sussurrou de volta.

Rin balançou a cabeça e voltou a atenção dela para o primo, que agora estava ao lado dos pais dele e conversava sobre negócios e sobre a empresa dele com um outro primo que era empresário. Ele parecia tão... adulto. E entendia tanto sobre as coisas. Nem parecia que estava também na faixa dos vinte anos, como ela.

–E como andam as coisas pela capital? – uma voz masculina perguntou sem referir a um nome, mas Rin já sabia que falava com ela. Era a única da família que estudava fora. Provavelmente a única também a fazer aquilo.

–Política e economicamente instável desde as últimas eleições de governo. – ela respondeu, tomando uma taça de vinho Azzucae Azzuco, da região de Aichi. Ela precisava saber onde comprar para levar pelo menos uma garrafa para Tokyo. Será que Sesshoumaru também bebia? Vinho era um bom presente para amigos.

–Não era de se esperar menos quando inibem candidatos de Aichi na disputa. – outro tio se meteu na conversa. Num instante, outras três cabeças se uniram à conversa que basicamente tratava da disputa à cadeira de primeiro-ministro depois de duas renúncias. Política japonesa era um assunto que ela precisava dominar desde a adolescência, já que a família era estritamente unida ao governo da região.

A cabeça pensava em outras coisas, e ela logo discretamente se retirou da conversa, permanecendo calada à mesa. O irmão a cutucou com o cotovelo e mostrou o celular para ela.

Era uma mensagem de Jakotsu, na outra ponta.

Não pare de conversar. Erga a cabeça, ajeite os ombros. Espinha ereta. Eles estão testando você.

Trocou com um olhar com o primo, que endureceu os olhos e apontou com um movimento do rosto o grupo de políticos perto dela, os tios que ainda conversavam sobre o resultado das últimas eleições e o domínio de famílias do centro da ilha no que deveria ser uma política aberta e de integração. Aparentemente, na opinião de um, o Japão atual entrava num movimento separatista, com governo de famílias individuais.

–Talvez o problema seja o sul não querer se integrar com a capital e tentar demonstrar independência em tudo. – Rin chamou a atenção ao opinar sobre o assunto. Espinha ereta. Ombros erguidos. Os rostos do grupo não se alarmaram com a intromissão dela, afinal ela participava daquelas conversas desde a adolescência. Pelo contrário: pareciam bastante interessados no que ela diria – As ilhas do sul já são independentes em certo sentido, o centro-sul da ilha principal não colabora com a política de preservação ambiental. O norte já tem os próprios problemas para educar os habitantes e os nativos com pouco investimento do governo.

–Isso é sinal de enfraquecimento do Império. – um tio suspirou, tomando um gole de saquê – Enquanto isso, somos ainda escorraçados da disputa das cadeiras do governo por causa da nossa região.

–O que eu vi nesse tempo na capital é que eles veem nossa região como independente, mas não forte o bastante para o governo. – ela continuou se empertigando na opinião. A outra parte da mesa continuava conversando sobre mil assuntos diferentes – Isso não parece tão ruim assim se formos analisar o que achamos do governo da capital...

–... que está enfraquecido no momento. – completou o pai, o patriarca da família. Rin sorriu e ele retribuiu.

–Talvez o problema esteja em ter uma Diet tão conservadora, apesar dos partidos democráticos. – ela falou ao lembrar-se de um comentário de Sesshoumaru a respeito.

O patriarca da família deu um suspiro cansado e concordou, movendo a cabeça. Rin novamente trocou um olhar com Jakotsu, que piscou para ela. Hakudoushi permanecia óbvio à conversa e ria das histórias que a tia contava sobre o que os primos aprontavam.

–Quais são seus planos depois da formatura? – um dos irmãos do pai novamente dirigia uma pergunta a ela.

–Bem... – ela deu uma longa pausa. Os ombros voltaram a ficar ligeiramente curvados. Não era a primeira vez que ele fazia aquela pergunta. Quando Aki ainda estava vivo, a resposta era bem decidida: ela ficaria na cidade, os dois trabalhariam para o Estado. Mas agora... – Eu ainda não estou bem certa. Conheci pessoas na capital que podem me ajudar a conseguir um bom emprego, mas também posso conseguir um aqui. E eu considero isso positivo quando o país está em profunda recessão.

–O que você e aquele rapaz haviam decidido antes mesmo? – ele perguntou.

Talheres derrubados. Rostos voltados para uma direção. Silêncio à mesa. O pai de Rin lançava um olhar desaprovador ao próprio irmão. Jakotsu precisou de um gole de vinho.

Rin afligiu o lábio inferior entre os dentes ainda presa ao olhar do ancião, ciente de que chamava a atenção da família inteira. Sentiu a mão de Hakudoushi deslizar debaixo da mesa para pegar e apertar a dela, como se quisesse transmitir um pouco de segurança.

–Naquela época... – ela tentou relembrar os planos. Tinha sido há dois anos que pensara pela última vez naquilo... ou mais que isso. Praticamente não pensou no futuro quando Akihito estava fazendo tratamento – Bem, é claro que nós queríamos trabalhar para o Estado... Eu querotrabalhar para o Estado enquanto isso ainda representar alguma estabilidade na minha vida.

–Você sempre terá estabilidade enquanto for uma Nozomu... Mesmo tendo outro nome de família quando casar. – ele acrescentou rápido, obviamente lembrando que a família esperava uma união estável com o falecido noivo dela – O que todos nós gostaríamos, como sua família, é que não esquecesse o que você pode representar em fazer parte da tradição da família.

–Claro. – com a mão livre alcançou o copo e ela tomou mais um gole de vinho, apertando de volta a mão de Hakudoushi por baixo da mesa. Era sinal de que estava tudo bem – Mas, como falei, vai depender do exame da Ordem.

–É claro que também pode escolher ficar na capital, pelo Estado. Isso só torna as coisas mais... difíceis para nossa família ajudar. – outro tio-avô comentou.

–Tornam difíceis no sentido de não termos tanto papel na capital, minha filha. – o pai tratou de completar para que ela entendesse a situação – Isto é, se decidir seguir os nossos passos de atuação no Estado. Ainda mais que o governo está em crise.

–Acho que a situação está difícil para qualquer lado, de qualquer forma. – Jakotsu deu a opinião dele, mantendo a postura que ele quis que Rin assumisse. Ele realmente parecia mais sério, mais adulto quando tinha os ombros largos erguidos, a coluna não-curvada, o queixo para cima. Ela mesma observou Sesshoumaru assumir a pose diversas vezes – Até ontem estava tratando da divisão das ações da empresa com o meu... ex-companheiro. Felizmente a parcela dele na empresa era bem inferior e ficou bastante desvalorizada nas últimas semanas. – ajeitou-se desconfortável na cadeira – Estou fazendo cortes de funcionários, uma coisa que não queria. A filial na ilha do sul está com a produção parada, por enquanto.

–Eu só estou apontando, Jakotsu, que ela tem dois caminhos a escolher. Os dois são bem difíceis, porque, afinal de contas, nunca sabemos o que o futuro nos espera. – a voz do tio-avô continuou prendendo a atenção de todos. Rin o observava totalmente concentrada nas palavras dele – Mas ela terá apoio da família se decidir continuar nos fortalecendo nesta região. Se ela decidir ficar na capital, continuará sendo da nossa família, afinal é uma Nozomu. Mas não teremos um contato tão forte com um governo tão enfraquecido e uma forte recessão.

–É claro que você sempre vai ter apoio da família. – Hakudoushi murmurou para a irmã – Assim que ela terminar a faculdade, vai poder voltar pra casa e conseguir algo satisfatório por aqui.

Rin sorriu e tomou mais um gole de vinho. Há alguns meses, ela havia falado para Sesshoumaru que as famílias da capital eram muito tradicionais, até mesmo mantendo os casamentos arranjados entre as mais nobres, mas a dela não parecia ser muito diferente. Era tudo política.

Talvez precisasse beber algo um pouco mais forte. Tinha agora muito no que pensar de agora em diante.

Lembrou de Sesshoumaru e dos amigos da capital. E olhou para a ponta da mesa onde os tios e primos que faziam parte da política local conversavam a respeito da economia japonesa em crise.

Qual seria o gosto do saquê? Será que sobreviveria àquela longa noite?


–Então você não conseguiu entrar no cemitério de novo. – o senhor de meia-idade não estava fazendo uma pergunta a Rin, sentada em uma confortável poltrona de cor branca em uma grande sala de consultório.

Estava em uma sessão de terapia com Sakaki-sensei, conhecido especialista em luto na cidade de Nagoya, recomendado por Jakotsu.

Rin balançava com ansiedade uma das pernas cruzadas, a ansiedade evidente no rosto. Ela olhava os títulos dos livros nas estantes, olhava a janela, a xícara de chá servida para dar mais conforto e confiança aos clientes dele.

Sakaki notou a forma como ela evitou comentar.

–Não é realmente um problema, Nozomu-san. Muitas pessoas não conseguem isso nos primeiros anos.

Rin deu um suspiro cansado.

–Parecia que meus pés estavam grudados no chão. – ela lamentou sem encontrar o olhar dele – Não consegui nem chegar perto do portão.

Dias antes, ela havia tentado entrar sozinha no cemitério. O portão de ferro com uma placa na grade, indicando o nome do local e horários, estava aberto para visitação. Mas ela não passava dali. Ainda lembrava como as pernas pareciam pesadas demais e se recusaram a dar um passo para a entrada.

–Você ainda se recusa a acreditar que ele está ali agora.

Outro suspiro cansado escapou dos lábios dela. Normalmente ela tentava disfarçar para não chamar a atenção ou não ser considerada uma pessoa mal-educada, mas, com ele, não havia aquela restrição.

–Você vai voltar lá para tentar de novo esta semana?

–Não. – ela fechou os olhos – Tenho que resolver algumas coisas antes de voltar para Tokyo. Comprar presentes para os meus amigos.

–E quando pretende voltar para cá?

–Talvez na semana de férias do último semestre, acho que um mês antes das festas de fim de ano. – ela fechou os olhos – As coisas são bem puxadas por lá, eu realmente fico sem muito tempo pra ter que pensar no que aconteceu.

–Foi uma boa mudança, então?

Daquela vez, Rin encontrou o olhar dele, a mão que machucou se fechou em um punho.

–Depois de passar alguns meses longe, eu considero que foi boa sim. Meu irmão parece estar mais aberto. Conversamos mais também. Mas sinto que ele e meus pais continuam evitar certos assuntos com medo da minha reação.

–Ele está aceitando melhor a ideia de viver longe? – ele perguntou.

Um leve sorriso passou pelos lábios dela.

–Ele parece ter aceitado mais. Mas continua protetor. Bastante. Deu para querer controlar o que eu visto. Ele sabe que não pode fazer isso. Acho que faz isso apenas para se divertir.

Um silêncio confortável se fez entre os dois. Ela continuava com aquele sorriso discreto, uma perna balançando, o olhar perdido nos livros de uma das prateleiras.

–Você já abriu a caixa?

Sakaki notou como ela ficou paralisada: a perna parou de mover, o sorriso desapareceu. Ela nem precisava responder porque ele já sabia o que havia acontecido.

–Não. – ela balançou a cabeça com tristeza.

–Você tentou alguma vez para rever o conteúdo?

–Só uma vez. – ela admitiu – Mas não deu muito certo. Foi no dia que completou um ano da morte dele.

–Nozomu, lembre-se que você está aqui para tratar essa caixa. Você não poderia jogar tudo o que a incomoda lá dentro e não abrir depois para arrumar. Essa é uma solução temporária. Não pode deixar para sempre assim. Só tivemos essa alternativa como emergência para a sua mudança de cidade.

–Eu consegui arrumar algumas coisas. – ela confessou timidamente – Não tudo de uma vez.

–O que você arrumou?

Rin buscou um exemplo na memória.

–O ipod do Aki. – ela murmurou.

–O que aconteceu com ele?

–Parei mais de ouvir as músicas que ouvíamos juntos. Escuto outras agora. E não uso mais todos os dias. Ele fica guardado na maior parte do tempo. Eu nem lembro mais tanto dele. Acho que vou deixá-lo de lembrança. A bateria descarrega muito rápido e a tela está quebrada. Não há mais reparo por ser antigo.

–Você considera positivo deixar dessa forma? – ele quis saber, anotando algo em um caderno apoiado num joelho, as pernas elegantemente cruzadas para dar um apoio melhor.

–Depois do que aconteceu, sim. Eu não largava para ver nossa foto nele. Hakudoushi disse que eu ficava horas só ouvindo as músicas sem parar de chorar. Hoje não faço mais questão de guardar. Pensei em comprar um novo, mais moderno.

–O que mais você arrumou dessa caixa? Ou foi apenas isso?

Levou alguns segundos para ela responder com algo inesperado:

–Eu conheci uma pessoa.

A caneta na mão do terapeuta subitamente parou de mover nas páginas do caderno.

–Oh? – ele ergueu o rosto para encará-la calmamente.

–Um amigo da faculdade em Tokyo.

Como ele não comentou nada, ela percebeu que tinha que continuar.

–Eu expliquei para ele o que aconteceu comigo.

–E por que você se sentiu à vontade para conversar com ele e não com alguém da sua família? Com o seu irmão, talvez?

Rin voltou a balançar uma perna em ansiedade.

–Ele disse que tem... sentimentos por mim. – ela confessou num tom melancólico, fechando os olhos brevemente para se recordar do primeiro beijo entre eles – Eu não consegui responder. Nós conversamos e expliquei os motivos.

–E o que ele disse?

Os lábios dela curvaram de uma forma que deu a entender ao terapeuta que ela estava tentando reprimir um sorriso.

–Ele não falou muita coisa. Ele só me ouviu. Disse que eu tinha pedido para ouvir e não para comentar.

Um outro suspiro pesado escapou dos lábios dela.

–Eu contei o que aconteceu e falei sobre a caixa. Foi a primeira vez que fiz isso com alguém de lá. Ninguém mais sabia. Consegui formar um grupo de amigos e tenho uma amiga muito próxima, mas fiz isso com ele para explicar que não me sentia preparada para outro relacionamento... ainda.

O terapeuta anotou algumas coisas e mantinha a expressão sem emoções que tanto incomodou Rin nas primeiras sessões, até ela entender, posteriormente, que era parte do tratamento profissional dele.

–Então você quer tentar um relacionamento com ele depois?

A resposta veio longos segundos depois.

–Eu pensei que poderia tentar sim. – ela finalmente confessou.

–Oh. – foi tudo o que ele murmurou antes de desviar o olhar do dela e escrever mais algumas coisas.

–O que o senhor acha? Devo tentar?

A caneta parou de mover de novo e ele a posicionou no meio do caderno.

–Você sabe que eu não posso comentar sobre isso. Você é responsável pelas próprias decisões.

–Eu sei. – ela desviou o olhar para outro ponto da sala, a lateral do rosto voltada para ele.

–Independente de decidir ter um novo relacionamento ou não, você não pode deixar de resolver essas pendências. Isso já afeta a sua família. Você reclamou hoje que eles ainda temem alguma reação sua com o que falam. Isso não é nem um pouco saudável.

Rin continuava com o olhar fixo em outro ponto. Ela já sabia que seria aquela a resposta.

–Você sabe que pode levar o tempo que quiser com essa caixa. Dois, três anos. Dez. Mas só depende de você.

Rin suspirou.

–Eu sei. – finalmente concordou.


Alguns dias depois...

Faltando um dia para a viagem de volta à capital, Rin não estava em casa limpando gavetas e jogando fora papéis velhos. A mala, desfeita a pedido de um certo estilista, ainda não estava totalmente pronta. Ela não separou ainda os livros que precisava levar.

Em lugar disso, ela estava fazendo compras com o primo Jakotsu. Comprando sapatos, na realidade. Ela se recusou a entrar em qualquer loja com ele depois do quinto salto que ele comprou para ela, o tempo todo ele insistindo que ela precisaria usar aquilo na capital.

–Jakko... Vamos embora... – ela estava cansada. Carregava duas sacolas em cada mão, o primo também – Eu preciso ainda terminar de comprar as lembranças dos meus amigos e arrumar minhas coisas.

–O que estava fazendo então naquela loja? – ele arregalou os olhos para ela, depois abriu uma determinada sacola que segurava para verificar o conteúdo – Aqui tem vinte caixinhas de presentes. Achei que já tinha terminado.

A garota mordeu o lábio inferior, e a ação não passou despercebida aos olhos dele.

–Ah... – o rosto dele se iluminou – Ah, bom... Falta o presente de alguém?

Ao ver o rosto dela queimar de constrangimento, ele teve a resposta que queria.

–Já tem uma ideia do que comprar? – ele quis fazer com que ela se sentisse mais confortável.

Rin balançou a cabeça para os lados, voltando a caminhar. Ele a acompanhou em silêncio por algum momento. Ela estava esperando por alguma indicação dele.

–Ele já tem tudo. – ela murmurou finalmente – Eu não sei exatamente o que poderia ser um presente legal.

–Eu sei que vai soar muito brega, mas... – o primo pigarreou e tentou ficar sério – Ele vai gostar de qualquer coisa vindo de você.

–É, isso é muito brega mesmo. – ela riu, voltando a observar algumas lojas – Eu não faço ideia se ao menos exista alguma coisa que o deixe contente.

Como se ele esboçasse algum sorriso quando não está me provocando.

–Ei, mais uma parada, mocinha. – o primo parou e ficou olhando para uma vitrine. Rin virou o rosto na mesma direção e viu que a loja em questão era de uma joalheria.

A garota estremeceu. Ela usou joias uma ou duas vezes na vida, ele queria que ela...?

–Não se preocupe. – ele pareceu ler os pensamentos dela – Não é nada que as mulheres da capital usariam.

Rin reprimiu o riso. O modelo de mulher elegante e perfeita para Jakotsu era aquela que não seguia a moda da capital.

Entraram na loja e logo foram recepcionados. E muito bem atendidos, a julgar pelas duas funcionárias que davam atenção total e exclusiva a ele. O lado bom de fazer compras ao lado de alguém Jakotsu era que ele já sabia especificamente o que queria. O problema era a quantidade. Ele podia ter em mente um par de brincos diferentes para cada ocasião do dia de Rin.

–Você não usa joias, então não vamos exagerar. – ele murmurou enquanto esperava pelos pares que solicitou às atendentes, o polegar e o indicador unidos como se mostrasse um ponto pequeno na ponta da orelha da prima – Apenas ouro com uma pedra. Minúscula. Quero apenas um ponto brilhando na sua orelha. Nada de argolas, fios brilhantes, nada. Apenas uma pedra.

–Apenas um par de brincos, Jakko? – ela perguntou desconfiada.

–Bem, na verdade, eu pensava em seis, um pra cada quatro horas do dia. Também pensei em pulseiras, mas você já perde um celular e só se dá conta depois de três dias, imagine o que aconteceria com uma pulseira de pedras da Tanaka Kikinzoku.

Rin abafou uma risada. Ele tinha razão. Pelo menos estava se contendo. Os modelos que ele solicitou eram bonitos, com certeza fariam uma diferença. Ele estava ajudando tanto a tentar criar uma versão mais confortável dela mesma, nada que fizesse parecer artificial... Ou pelo menos que não parecesse que não era ela mesma.

Foi quando olhou para o lado que ela viu um objeto que chamou a atenção imediata dela. Era uma esfera redonda com neve falsa cobrindo algum monumento da cidade de Nagoya, parecido com um daqueles souvenires que se compra em locais turísticos de qualidade duvidável.

–Pensando naquilo como presente? – Jakotsu descobriu para onde ela olhava. Será que ela era tão óbvia assim?

–Sim... – ela corou. Depois foi até a vitrine, parando em frente a ela para ver o objeto de perto. Era bonito, elegante, alguma coisa que estava à altura de ser um uma pequena lembrança para Sesshoumaru. Ela mesma havia brincado que levaria um daqueles para ele.

–Gostaria de ver de perto? – uma das moças que os atendia falou perto dela. Aparentemente, as duas haviam voltado e entregado a Jakotsu todas as joias com a descrição dada por ele para ela experimentar.

Rin deu um sorriso educado e assentiu. Depois trocou um olhar com o primo, que fez um movimento positivo com a cabeça.

–Sim, por favor. – ela falou para a atendente, não evitando o sorriso.

Conseguira resolver uma das últimas pendências antes de voltar para Tokyo.

Já podia terminar de arrumar a mala e fechá-la.