Nota da autora: Estou de férias e vou poder atualizar com frequência :) Pelo menos mais uns 3 capítulos saem em pouco tempo.
Para quem leu este capítulo há alguns anos, deve lembrar que usei a canção Way of Difference, do grupo Glay (ouçam no Spotify se puderem). Eu usei originalmente porque os versos lembram muito este casal. O último deles reflete bem a situação entre Sesshoumaru e Rin na história: "Iki saki wa chikau koto / hajime kara shitte ita futari dane": "Nós sabíamos desde o começo que teríamos caminhos diferentes."
Obrigada a quem está lendo até agora. Quero ver se termino o quanto antes a publicação!
Escrevi um outtake depois da cena final e posso enviar para quem quiser ler, basta pedir :) Vou publicar naquela parte de outtakes quando eu tiver um tempinho de escrever o outtake da viagem de Yokohama e o outtake do acidente que a Rin teve na casa dela. Ou seja: só vou publicar quando eu tiver tempo de mexer ali. O último que postei foi o do último dia dela em Nagoya, não?
Enfim, quem quiser ler, basta pedir que eu mando. Ou pode aguardar um tempinho.
Se considerarem o capítulo digno de um comentário, ficarei feliz em recebê-lo.
UM CAMINHO PARA DOIS
CAPÍTULO 17
O caminho da diferença
Nozomu Rin foi, desde criança, treinada a ser uma pessoa determinada e confiante. Era boa aluna, tirava médias boas, era referência entre os professores, ganhava concursos de oratória... Dificilmente ficava sem palavras ou não sabia se expressar, seja pessoalmente ou por telefone – o que era exatamente o que estava acontecendo no momento.
Sentada em seiza em cima da cama, ela olhava fixamente o celular carregar depois de passar dois dias completamente apagado.
Depois de perceber que a luz do sinal de bateria passou de vermelho para verde, ela deu um sorriso. Então não estava quebrado, diferente do que havia pensado ao ver que o aparelho não ligava. Ela precisava aprender a mexer mais nesse tipo de coisa, mesmo que ela roube todos os dados pessoais do portador.
As mãos estavam fechadas em punho em cima das pernas, o olhar ainda fixo na tela, sobrancelhas unidas como se estivessem em dilema.
Havia decidido ligar para Sesshoumaru e marcar um jantar como forma de pedido de desculpas depois do que havia acontecido no dia do resultado da seleção. Ela admitia que não estava com os pensamentos em ordem. Não importava se havia conseguido ou não aquele estágio: ela poderia continuar procurando alguma experiência relevante pelos próximos meses. O semestre mal havia começado.
Pegou o telefone e começou a digitar:
Preparei um jantar hoje...
Olhou o relógio do celular. Eram nove da manhã. Desde quando as pessoas fazem isso tão cedo no Japão?
Resolveu mudar para uma pergunta mais direta.
Quer jantar hoje?
Direta demais.
Puxou os cabelos com força e irritação. Ela sempre foi eloquente. Era boa em oratória. Sabia se expressar bem. E por que com Sesshoumaru não conseguia formular direito um simples convite?
Começou novamente:
Oi, você gostaria de jantar hoje aqui em casa? Eu prometi semana passada, lembra?
Apertou o botão de enviar e esperou.
Depois lembrou-se que não havia se identificado e nem perguntado se estava tudo bem, então tratou de corrigir logo o erro:
Desculpe, aqui é a Rin. Tudo bem?
Colocou o telefone na cama e observou o display, mãos fechadas novamente em punho em cima das pernas.
Cerca de dez minutos depois, percebeu que não receberia uma resposta tão imediata. Ele sempre andava com aquele celular na mão, mas aparentemente não era sempre que respondia a tudo que recebia.
Deu um suspiro e levantou-se da cama para olhar ao redor no quarto.
Na tarde anterior, a amiga Sango estivera ali para ajudá-la a arrumar as malas e conversar. Depois do momento de revelação e da conversa com o primo Jakotsu, terminou de arrumar as coisas no guarda-roupa como uma forma de ajudar a organizar os pensamentos.
De forma alguma poderia ter uma conversa com ele se não estavam se falando. Sango comentava também que ele estava irritado. Seria por causa daquele dia? Ela realmente não havia colaborado muito para a paciência dele.
Um jantar seria uma boa oportunidade para ela pedir desculpas pelo comportamento do último encontro. Ele só queria ajudá-la por estar passando mal. Deveria ao menos ter agradecido na hora.
Estava verificando o conteúdo da geladeira quando ouviu a melodia do celular tocar do quarto. Correu e imediatamente jogou-se na cama para pegar o aparelho e olhar o display.
Para (um pouco) decepção dela, era o irmão. A imagem dele, uma foto dele ranzinza olhando para algum ponto distante ao lado da Rin, aparecia junto com a palavra "irmão" e um coração.
–Oi, Hashi. – ela falou ao atender.
–Você tá cumprindo mesmo a promessa de cuidar desse aparelho, né? – ele falou num tom irônico.
–Eu só deixo em casa. Eu nem saio com ele por causa disso.
Houve silêncio do outro lado da linha. Ela o imaginou apertando a ponte entre os olhos num gesto de impaciência.
–Rin, celular é pra andar conosco. E se acontecer alguma coisa? Vai nos avisar como?
–Você me ligou agora pra me dar de novo essa lição? Eu tenho muita coisa pra fazer agora. – ela reclamou ao ouvir um "tchi" como resposta dele. Não queria discutir sobre como e onde usar celulares com Hakudoushi. Só queria esperar uma resposta de Sesshoumaru.
–Está tudo bem por aí? – ele perguntou suavemente.
–Hmm... – ela ficou com receio de que Jakotsu tivesse contado algo ao irmão, mas depois lembrou-se que o primo era de extrema confiança. Não havia motivo para se preocupar – Eu não passei numa seleção de estágio. Fiquei bem chateada.
–Oh... – ele parecia também chateado por ela – É aquele negócio que vocês são obrigados a fazer, né? Eram quantas vagas?
–Duas. – ela deu um suspiro – Eu fiquei em terceiro lugar.
–Ah, isso não é tão ruim. Quer que eu mande alguém da yakuza eliminar o segundo lugar? Aí você ficaria classificada.
Rin quase ficou sem palavras ao ouvir o plano absurdo e maligno do irmão.
–Eu fico cada vez mais preocupada com essas menções à yakuza. Eu quero acreditar que você não tem amigos ou conhecidos em Tokyo por não gostar das pessoas daqui.
–Nunca se sabe. – ele falou enigmaticamente.
–O que você quer, Hashi? – ela perguntou com impaciência.
Ouviu o irmão limpar a garganta.
–Você vem pra cá no seu aniversário?
Rin arregalou os olhos e rapidamente pulou da cama para procurar a agenda em cima da mesa de estudos. Faltava um mês para o aniversário dela. E ela havia esquecido.
–Provavelmente sim. Se eu não tiver trabalho ou prova, posso ir sim. Nem que seja por dois ou três dias.
–Okay... – ele parecia cuidadoso na hora de falar – Os velhos queriam saber e pediram pra eu ligar.
Lentamente, Rin retornou para a cama, jogando-se nela.
–Minhas aulas acabaram de começar. Talvez em duas semanas eu possa confirmar. Vou deixar uma passagem pré-reservada. Qualquer coisa eu posso ir no fim de semana e volto logo pra cá.
–Perfeito. – ele parecia satisfeito – Vai pra aula agora?
Rin não queria ir para a aula. Ela queria preparar comida e esperar um telefonema ou uma mensagem de Sesshoumaru.
–Não sei ainda. Estou arrumando o apartamento. Tenho muita roupa ainda na mala. – ela mentiu.
–Eu tentei ajudar. – ele a lembrou do plano que não deu certo na estação de Nagoya.
–Eu sei. – ela deu um suspiro – É muita roupa. Não sei o que ele tinha na cabeça.
–Bem, vou passar o recado pros velhos. Qualquer coisa eu te ligo de novo.
–Okay... – ela deu um sorriso – Fique longe desse pessoal da máfia, tá?
–Tchi. – foi a resposta dele antes de desligar.
Ao olhar a tela e ver o nome do irmão desaparecer, ela deu um outro sorriso ao imaginá-lo já preparado para ministrar as lições no dojo que havia montado em casa.
De repente, o telefone tocou na mão dela e o nome de Sesshoumaru apareceu na tela, o que a fez dar um grito e largar o aparelho em cima da cama.
Acalmando-se, ela pegou novamente o celular e atendeu a chamada.
–S-Sim?
Houve uma pausa de segundos na linha, deixando-a extremamente ansiosa:
–Oi. – ele finalmente falou.
Escutar a voz dele a fez prender momentaneamente o ar.
–Oi. – ela começou timidamente – Você recebeu minha mensagem?
–Recebi as duas. – ele limpou a garganta antes de continuar – Você não precisava mandar a outra dizendo que é. Eu já salvei o seu número aqui.
–Oh... – ela franziu a testa, sentindo-se uma tola. É claro que ela não precisava mais fazer aquilo – Desculpe.
–Não é um problema, Rin. Não é nem um conselho também. – ele limpou a garganta de novo como se estivesse se preparando para mudar de assunto – Então, está preparando um jantar?
–Sim! – os olhos dela imediatamente ficaram em alerta – E-Eu queria conversar com você. Poderia ser hoje?
Houve uma pausa da ligação e ela olhou a tela do celular para se certificar de que ainda estava conversando com ele.
–Você tem certeza quer conversar comigo? – ele perguntou extremamente sério.
Rin entendeu o que ele quis dizer. Foram várias tentativas até ali. Muitas coisas ditas e não-ditas.
–É difícil ter que lidar com alguém que some por uma semana. – ele comentou e ela conseguiu sentir uma ponta de frustração na voz dele – Não deu notícias e nem apareceu por aqui. Eu fiquei preocupado.
–Desculpe ter sumido. Eu fiquei chateada com o resultado. – foi tudo o que ela pôde dizer.
–Sumiu por causa de uma vaga de estágio? Isso não é motivo. Pelo menos, não para mim.
–Foi estúpido, eu sei. – ela admitiu – Mas eu precisava pensar em algumas coisas. Você sabe disso.
–Você sempre diz isso. – ele falou muito diretamente para o desconforto dela.
–Bem... – ela começou sentindo o mesmo tremor do dia anterior a dominá-la por alguns segundos – Se você não quiser mais conversar, eu vou entender. É culpa minha também.
Ficaram os dois em silêncio. Rin sentiu o tremor desacelerar. Ela sabia o que o estava ali no não-dito dele. Ela decidiu falar algo para encerrar a conversa, mas foi interrompida antes:
–Eu tenho estágio hoje. Creio que... À noite estaria livre.
–Pra conversar também? – ela perguntou com esperança.
–Sim. – ele limpou a garganta novamente – Vai para a faculdade hoje?
–Ah, bem... eu planejei fazer o jantar. – ela falou timidamente – Não pensei em sair de casa.
–Então vai ficar livre à tarde?
–Sim. – ela respondeu com cuidado.
–Você poderia me acompanhar no estágio hoje. Acredito que mudará de opinião sobre ter perdido a vaga. É bem maçante, sabe?
Rin deu um sorriso. Ele queria fazer com que se sentisse melhor.
–E depois podemos jantar e conversar? – ela tentou.
–Se nada nos impedir de novo, podemos sim. – foi a resposta de Sesshoumaru.
O que Sesshoumaru falou a Rin sobre o estágio era verdade: tudo era extremamente maçante, irritante, confuso e bagunçado. Era claro que as vagas seriam preenchidas por estudantes que trabalhariam como os secretários ali.
Aquele era o quinto dia do estágio – assistente de um dos professores, advogado de acusação, o rapaz passava meio período trabalhando numa sala na corte judicial.
Mas ele não estava tão preocupado com se conseguiria ler a papelada que tinha naquele dia, nem com o nó da gravata que não conseguia fazer, mesmo em frente a um espelho.
Pensou na proposta de encontrar Rin depois do estágio.
Havia alguns dias que havia decidido separar os caminhos. Ela mesma havia dito que teria que voltar para a cidade natal se não tivesse alguma oportunidade ali.
Mas então Rin mandou mensagem e...
–Maldito nó... – desistiu de tentar ajeitar a gravata. Era melhor pedir ajuda a alguém. Talvez a Inuyasha ou a Kaede.
Sim, era bom ter que começar a trabalhar uma carreira agora. Era bom começar a planejar o que fazer depois de terminar a faculdade. Ela não estava errada em se preocupar com isso.
Desceu as escadas com a peça na mão e procurou pelo irmão na sala, onde geralmente ficava jogado no sofá – vendo alguma coisa na TV ou com ela ligada enquanto a mão tinha um celular grudado. Era um mistério ver o irmão assistindo a vídeos no aparelho e ainda, ao mesmo tempo, qualquer coisa na outra tela.
Ao chegar na sala, encontrou-a vazia – Inuyasha não estava ali.
Procurou Kaede na cozinha. Naquele horário, deveria estar preparando o almoço.
Vazia. Ela provavelmente estava no escritório ou jardim.
Torcia para não encontrar uma pessoa no escritório. A última coisa que queria era uma discussão com o avô. Ele queria apenas falar com Kaede.
Ao chegar, bateu levemente na porta. Escutou alguém pedir para que entrasse e fechou os olhos ao reconhecer de quem era a voz.
Deu meia volta. Ele podia pedir ajuda a alguém no estágio. Para a colega dele, uma garota cujo nome sempre esquecia, ou para Rin.
–Ora, ora... Bom dia, meu rapaz. – a porta abriu e um homem idoso de quimono azul escuro e com o jornal do dia nas mãos apareceu, encostando-se na batente – Está procurando Kaede?
Sesshoumaru parou e olhou por cima do ombro.
–Quer ajuda com a gravata? – o outro insistiu com as sobrancelhas levemente erguidas.
Ficaram os dois em silêncio.
–Vamos, eu ajudo. – ele jogou o jornal no chão e estendeu a mão.
Alguns segundos depois, o neto colocava uma gravata lilás que combinava com a camisa social azul clara dele.
O avô pegou a gravata e, com um habilidoso movimento das mãos, jogou por cima do colarinho da camisa social. Com cuidado, colocou por baixo do tecido e começou a arte de dar o nó, para não deixar dúvidas ao neto sobre a experiência dele naquela área.
Os dois ficaram por um momento em um silêncio constrangedor.
–Você não ia pedir minha ajuda. – o avô começou num tom de aviso.
–Não.
–Ia pedir a Jaken?
–Provavelmente sim.
–Você sabe que Kaede não é muito boa também. Ia ter que pedir a ele de qualquer forma.
–Ou a qualquer outro no trabalho.
Os dois novamente evitaram trocar palavras. Era visível a tensão entre os dois.
–Poderia pedir ajuda a uma mocinha adorável de Nagoya. – o avô comentou.
Escutou um rosnado ameaçador escapar da garganta do rapaz.
–Eu soube que ela é de uma família de políticos de lá. – ele tentou de novo.
Sesshoumaru se limitou a observar os movimentos da mão dele com tédio. Era como se quisesse dizer que não tinha interesse em ouvir o que ele queria falar sobre Rin, ainda mais que ele ainda não a conhecia.
–Uma pena que você acabou com a diversão de todos excluindo o Gossip Cop. Eu gostava das fotos dela. Uma garota linda. – o idoso terminou de fazer o nó com um aperto mais forte no pescoço do rapaz como se quisesse enforcá-lo.
Disfarçadamente, Sesshoumaru passou a mão pelo pescoço antes de murmurar um agradecimento ao se afastar.
–Bom trabalho hoje, garoto.
–Este Sesshoumaru não é um... garoto. – ele virou-se para replicar num tom furioso.
–Garoto. – ele repetiu sem medo.
Outro rosnado foi ouvido antes de Sesshoumaru retirar-se.
–Que coisa... Ele não aguenta uma brincadeira. – o avô meneou a cabeça antes de entrar novamente no escritório – Quero ver o que vai fazer quando perceber que ficou torta.
Sesshoumaru parou o carro em frente ao tribunal onde estava temporariamente trabalhando e olhou o relógio no pulso.
Havia marcado com Rin na frente do prédio às duas da tarde. Parado no meio da escadaria que dava acesso às portas giratórias da entrada, dizia a si que seria uma última chance: não fazia mais sentido em tentar um relacionamento com quem obviamente não tinha o menor interesse, e Rin mais de uma vez pareceu indecisa. Não seria de forma alguma saudável para os dois.
Faltavam cinco minutos e ele não poderia atrasar.
Pelo canto do olho, viu alguém se aproximar. Era a colega de trabalho – cujo sobrenome sempre esquecia. Por algum motivo, ela só dizia o nome pessoal, nunca o de família.
-Boa tarde, Sesshoumaru-sama. – ela disse. Estava elegante em um conjunto social azul escuro e um lenço azul claro ao redor do pescoço e broche de crisântemo na blusa. Tinha as mãos em frente ao corpo, um sorriso educado e convidativo na face – Vamos entrar?
O rapaz apenas lançou um último olhar em direção à rua antes de dar as costas e entrar no edifício ao lado da colega.
Ela não viria.
–Conseguiu ler os documentos que o professor Todaka pediu ontem?
–Quase todos. – ele entregou a ela uma das pastas que carregava – Será que terminará...
Parou de falar ao ouvir um alvoroço na entrada, perto da segurança. Ao olhar para trás, viu Rin se curvando aos seguranças inúmeras vezes, como se pedisse desculpas.
–Espere um momento. – ele nem prestou atenção mais ao que a colega dizia.
Andou decidido até a segurança e, ao se aproximar, viu Rin com os sapatos na mão e os pés feridos. Ao vê-lo, a expressão dela virou um misto de alegria e vergonha ao mesmo tempo.
–O que houve? – ele perguntou.
Ficaram os dois frente a frente – ela com os sapatos em uma mão e uma bolsa social em outra, cabelo preso, elegante como sempre apesar do estado dos pés; ele com documentos em uma das mãos, a outra fechada em punho.
–Você veio. – ele murmurou.
–Desculpe. – ela curvou-se para ele num pedido de desculpas sem a menor necessidade – Meus pés... o sapato... Eu não consegui chegar no horário.
–É melhor cuidar disso. – a mão fechada se abriu para estender na direção dela, silenciosamente pedindo que entregasse os calçados para ele.
–E-Eu posso cuidar disso, você vai acabar atrasando por minha causa... – ela teimosamente não ia entregar o que Sesshoumaru pedia e ele precisou afastá-la dos seguranças para levá-la, mancando, até o ponto onde a colega dele estava.
A garota com quem trabalhava tinha os olhos arregalados, o queixo caído de espanto.
–Nozomu-san, aconteceu alguma coisa? – ela estava genuinamente alarmada.
-Eu machuquei os pés com o sapato. Um está sangrando... – Rin lamentou – E-Eu falei pra Sesshoumaru que eu vou resolver sozinha. Não quero atrasar ninguém.
–Você precisa cuidar disso primeiro. – ele asseverou.
–Eu ajudo você. – a garota cujo nome Sesshoumaru nunca lembrava pegou os sapatos das mãos de Rin e passou um braço pelo ombro – Há um banheiro feminino aqui perto.
–Obrigada, Aoki-san. – Rin começou a andar, com certa dificuldade, ao lado da colega de classe.
Ao ouvir o sobrenome, Sesshoumaru discretamente arqueou as sobrancelhas. Aoki. Era um sobrenome comum, a culpa não era dele.
–Ah, Sesshoumaru... – a garota Aoki parou por um instante e olhou-o por cima do ombro – Pode avisar ao sensei que chegarei um pouco atrasada?
–Tudo bem. – ele respondeu.
Ao lado de Aoki, estava uma Rin com olhos arregalados. Ela já o chamava pelo nome? Como era possível isso?
Em poucos minutos, as duas já estavam no banheiro feminino. Rin lavou e limpou os pés, Aoki ajudou a enxugar com lenços de papel, perguntou sobre o tipo de calçado que a outra estava usando para deixar os pés daquela forma, recomendou colocar os pés em água quente assim que chegasse em casa.
Quando as duas saíram, Rin ainda descalça, mas com o pé mais limpo e menos dolorido, foram a uma máquina de venda de garrafa d'água. Rin comprou uma e ouviu a colega começar num tom de voz que dava um mal pressentimento:
–Nee, Nozomu-san...
–Sim? – ela abriu a garrafa e começou a tomar o conteúdo, sentindo o líquido escorrer também pelos cantos da boca.
–Você e Sesshoumaru estão juntos?
Rin cuspiu o líquido em uma velocidade impressionante, olhos arregalados e coração acelerado na hora.
–N-Não... – Rin limpou o queixo e a boca com o próprio braço – Hmm... Por quê?
–Ai, que maravilhoso! – Aoki uniu as mãos e levou ao rosto que tinha uma expressão abobalhada e apaixonada – Ele é tãããão bonito. Que bom que não estão juntos, então. Vou pedir pra sair com ele hoje. Bem, eu tenho que ir. Até depois, Nozomun.
E foi embora quase saltitando até a sala que Sesshoumaru e ela ficariam trabalhando pela tarde.
Rin virou o rosto com uma expressão assustadoramente diabólica na direção tomada pela colega.
Aoki Megumi mal sabia que Sesshoumaru iria definitivamente jantar com Rin naquela noite.
Durante quase a tarde toda, Rin viu Megumi ao lado de Sesshoumaru incansavelmente trabalhando e conversando com ele.
Não podia fazer muita coisa a não ser observar a interação entre os dois. Ela – elegante, bonita, graciosa, calçada, de cabelo arrumado e rosto impecável, a voz soando musical e sem nenhum sotaque de Nagoya. Já ele, igualmente elegante, mesmo com a gravata um pouco torta, estava calmo e totalmente alheio à outra presença feminina. Ou parecia estar.
Disfarçou um suspiro cansado.
Lembrou-se do que Jakotsu comentou: Os detalhes que ele nota são somente em você e em mais ninguém. Ele já havia observado o sotaque. Só ela falava daquele jeito. E só o sotaque dela havia sido alvo da provocação dele ainda nas primeiras semanas de interação entre os dois.
Sentada em um dos bancos de espera na entrada do auditório, ela viu a movimentação dos dois pelos corredores – correndo de um lado a outro, trocando palavras, mostrando documentos ao professor responsável pelo caso. Era como Sesshoumaru disse: parecia extremamente cansativo e chato. Os dois apenas faziam o que era mandado.
Sentiu um pouco de alívio por não ter passado na seleção e também um pouco de desânimo, pois provavelmente se encontraria em uma situação semelhante em breve.
–Ah, Nozomun... – a garota Aoki novamente usou o nome de família de Rin de forma mais amigável ao se aproximar – Sesshoumaru conseguiu o seu lugar no auditório, você pode se sentar por lá.
–Hmm... – Rin evitou revirar os olhos e manteve-se séria– Obrigada por ter me ajudado naquela hora. Nem agradeci direito.
–Ah, sem problemas! – ela tinha uma mão afetuosamente na frente do rosto – Eu fiquei surpresa em ver você por aqui hoje.
Rin se limitou a dar um sorriso que morreu ao perceber a garota ficar estranhamente empolgada. Ela sabia o que estava por vir:
–Você sabe que tipo de comida Sesshoumaru gosta? Já que é amiga dele, deve saber.
O rosto de Rin voltou a ficar impassível diante da alegria da outra.
–Não. – e ela realmente não sabia ainda. Mesmo o jantar que ela preparou para aquele dia foi com base no que ela gostava de comer.
–Hmm... – ela colocou um dedo no queixo e ficou pensativa sobre a questão – Será que ele gosta de comida tailandesa?
Ao virar-se para ir embora e voltar ao trabalho, não viu Rin pegar a alça da bolsa e puxá-la entre os dentes com a força do ódio.
Poucos minutos depois, entrou no grande salão e procurou um lugar mais discreto possível para acomodar-se. Sentou-se, respirou fundo, colocou bolsa num lado e os sapatos no chão.
Olhou para os pés. Péssima ideia sair de casa com aquele calçado, principalmente quando não estava acostumada a andar com eles. Flexionou os pés, contendo a vontade de esticar a mão e massageá-los no meio de tanta gente.
Entrou em pânico ao notar uma enorme bolha entre os dedos. Por que as coisas precisavam sair tão erradas? Ela realmente ficaria dias sem conseguir andar direito com qualquer calçado.
Estava tão concentrada no atual problema que nem percebeu uma pessoa se aproximar dela. Alguém que já a conhecia e que ficou muito silencioso ao lado dela, observando-a curvar os dedos do pé e franzir a testa em preocupação.
Sesshoumaru percebeu o que a afligia – o pé dela tinha uma bolha que precisava ser tratada logo ou a impediria de andar direito pelos próximos dias. O que ela tinha agora era o mesmo que causara problema no outro dia e a fez cancelar os planos entre eles.
Por que ela era teimosa ao insistir em algumas coisas? De maneira alguma ela voltaria para casa de metrô.
Parecia que ela não havia percebido ainda a presença dele. E, cansado de olhar aquela figura pensativa e adoravelmente preocupada, resolveu indicar que estava ali, movendo uma das mãos em frente ao rosto dela.
Quando Rin arregalou os olhos e virou o rosto para o lado, Sesshoumaru perguntou-se o porquê dela ficar tão vermelha.
–Ah... – ela umedeceu os lábios e olhos para ele, sentindo o rosto ficar mais aquecido – Oi...
–Problemas de novo com esse sapato? – ele perguntou suavemente.
Rin baixou o rosto em derrota.
–Não deveria simplesmente parar de usá-lo? É a segunda vez que isso acontece.
–Eu achei que combinava com minha roupa. – ela fez um beicinho e franziu a testa – Mas tem razão. Não vou mais usá-los.
Foi então que ele curvou o corpo e fez menção de tocar no pé dela.
–Posso? – ele perguntou e a viu dar um pequeno sorriso antes de mover "sim" com a cabeça.
Sesshoumaru fez com que ela levantasse a perna esquerda e dobrasse sobre um joelho, planta do pé voltada para ele. Ela pareceu entrar em pânico com a evidente vergonha que a posição tão deselegante causaria.
–Ninguém está prestando atenção. – ele falou ao notar a tensão – Não se preocupe.
Rin apenas moveu a cabeça afirmativamente.
E ele, ainda esticando a mão para o lado dela, começou a massagear o pé, circulando o polegar na sola e tomando cuidado para não tocar a enorme bolha que a machucava. Escutou-a gemer de dor de novo, mas continuou porque não teve maiores impedimentos.
–Você tinha razão em dizer que aqui não seria muito divertido. – ela murmurou de olhos fechados – É bem maçante mesmo, repetindo o termo que você usou.
–É verdade. – Aoki Megumi fez-se presente e Rin arregalou os olhos ao vê-la ao lado de Sesshoumaru. Muito perto dele – Se não fosse por Sesshoumaru, eu teria desistido no primeiro dia.
Ficaram os três em silêncio.
–Olá, Nozomu. – ela falou, mostrando todos os dentes.
Rin fez o mesmo e curvou ainda mais os lábios num sorriso forçado.
–Olá, Aoki-san.
Rin sentiu o rosto ficar vermelho, mas não de vergonha. Era de raiva mesmo.
Sesshoumaru franziu a testa ao lembrar-se novamente do nome da garota. Claro que tinha alguma coisa com A nesse nome.
–Oh. – a garota deu um pequeno estalido e tocou no antebraço de Sesshoumaru para chamar a atenção dele, o que não escapou dos olhos de Rin – Já vai começar. Silêncio.
Rin aproveitou que os dois olharam na direção da bancada central e novamente mordeu com raiva a alça da bolsa, disfarçando quando Sesshoumaru virou o rosto para o lado dela, testa franzida em dúvida.
–Sesshoumaru. – a garota Aoki ao lado do rapaz de novo deslizou a mão no braço dele. Rin precisou disfarçar a imensa frustração rangendo os dentes – Você sabia dessa nova prova?
O rapaz ergueu uma sobrancelha e a mão que massageava o pé de Rin parou por um segundo ou dois o movimento. A garota lançou um olhar irritado para a garota que tentava chamar a atenção dele.
–Não, não sabia. – foi a resposta seca dada por ele. Rin nem imaginava que ele conseguia fazer massagem no pé dela, conversar aos sussurros e ainda prestar atenção numa nova prova apresentada num maldito julgamento.
Megumi aproximou mais o rosto para sussurrar algo no ouvido de Sesshoumaru e ele educadamente inclinou o corpo para escutá-la.
Os olhos de Rin ficaram vermelhos.
–Quer parar de dar confiança pra ela? – a voz dela saiu num sussurro ríspido – Ou não percebeu que ela também gosta de você?
Sesshoumaru imediatamente encontrou o olhar de Rin, assim como Megumi olhou e as pessoas que estavam nos bancos da frente.
Mas ela mal percebeu isso, porque os olhos dela estavam firmemente trancados nos dele. Parecia que o mundo não existia.
Foi quando ele viu. Ele viu e entendeu tudo.
Ao ver aquela compreensão aparecer no rosto dele, ela entendeu o que havia acontecido e sentiu o rosto ficar duplamente vermelho de vergonha e de raiva. Pegou os sapatos e a bolsa e rumou para fora da sala, descalça mesmo, sem nem ao menos se dar conta para onde poderia ir.
Talvez o banheiro feminino fosse um bom esconderijo. Ele não se atreveria a entrar lá. Não mesmo.
Deu um suspiro pesado. O que ela tinha feito? Provavelmente ele não iria mais...
Sentiu longos dedos agarrarem o braço dela sem machucá-la, mas também não permitindo que desse mais um passo.
–Vai aonde agora? – foi a pergunta de Sesshoumaru, impedindo-a de dar mais um passo.
Rin, com o rosto corado, não conseguiu achar voz para responder. Sentiu as pernas tremerem, além de querer morrer ao ver Sesshoumaru aproximar o rosto e começar a falar num tom de aviso:
–Você não vai sair deste lugar sem conversar comigo. Não amanhã, nem semana que vem. Hoje. – ele tirou os sapatos das mãos dela e começou praticamente a arrastá-la em outra direção – Vai me esperar numa sala até eu terminar meu trabalho aqui.
–Mas... mas... – ela tentou protestar, mas o rapaz começou a puxá-la em direção a uma sala perto de onde estavam, e a fraqueza que sentia nas pernas era uma ajuda para que ele pudesse guiá-la.
Ao chegarem a uma porta, Sesshoumaru tirou uma chave de um dos bolsos do paletó e a abriu. Conduziu Rin até um sofá e foi depois para uma mesa que havia perto. Pegou algumas pastas, colocou-as debaixo do braço e depois se ajoelhou em frente à garota sentada, pousando os sapatos no chão.
–Fique esperando por mim. Só sairá daqui depois que eu voltar.
Rin levantou-se e cruzou os braços petulantemente, virando o rosto para o lado insolentemente para esconder as bochechas coradas:
–Como eu vou saber se você não vai aceitar o convite da Aoki-san pra jantar comida tailandesa hoje?
–Eu odeio comida tailandesa. – ele falou com o maior ar de indiferença possível.
Rin mordeu o lábio inferior e voltou o rosto para ele, uma expressão tímida no rosto vermelho ao encontrar o outro olhar:
–E coreana?
Sesshoumaru continuou inexpressivo.
–Não? – foi a tentativa dela.
Sesshoumaru ergueu o braço para indicar um canto da sala:
–Há café ali, uma geladeira, você pode dormir no sofá ou ler alguma coisa. Há muitas coisas para se distrair aqui dentro enquanto eu não volto.
A garota descruzou os braços quando viu Sesshoumaru se aproximar e tomar o rosto entre as mãos, prendendo o ar na garganta ao entender o que ia acontecer. Ele mal deu tempo para ela falar alguma coisa, pois simplesmente colou os lábios aos dela e a impediu de murmurar qualquer outra sentença.
A língua deslizou entre os lábios dela, sentindo o corpo dela relaxar e timidamente responder ao beijo dele.
Ao afastar os rostos, minutos depois, ele esperou pacientemente que ela abrisse os olhos – o que aconteceu segundos depois. As pálpebras, trêmulas, revelaram um olhar ainda inseguro completando um rosto ainda corado.
–Não tem nem meus biscoitinhos? – ela murmurou timidamente.
–Não. – ele se afastou e pegou alguns documentos – Volto logo. Espere por mim, por favor.
Rin deu um sorriso fraco e acenou para ele quando o viu sair da sala.
Depois de um minuto em silêncio, ela soltou o ar preso nos pulmões e colocou a mão no peito para conter o coração acelerado.
–Aaaaah, ele conseguiu entender... – ela exclamou para ninguém ali.
Jogou-se no sofá e olhou para o teto, sorrindo de orelha-a-orelha. Depois cobriu o rosto envergonhado com as mãos e deu um gritinho de alegria, pulando da mobília.
Sentou-se na cadeira atrás da mesa da qual Sesshoumaru pegara os papéis. Ficou por um momento em silêncio; depois começou a dar outros gritinhos histéricos, cobrindo novamente o rosto com as mãos.
Acalmou-se de novo e deu um sorriso doce, deitando a cabeça na mesa e fechando os olhos.
–Sesshoumaru... – ela murmurou. Ele trabalhava naquela sala, não?
Minutos depois, adormeceu em meio ao silêncio que predominava a sala.
Rin sentiu a mão quente de alguém tocar no rosto dela, exatamente na curva da bochecha, e abriu os olhos, arregalando-os ao ver quem estava ali.
–Acordou? – Sesshoumaru perguntou.
Rapidamente ela endireitou o corpo na cadeira, sem tirar os olhos dele. Ele parecia tão diferente, tão calmo...
–Já dormiu o bastante, imagino. – ele falou.
A garota confirmou com a cabeça antes de engolir em seco e perguntar:
–Você... Seu trabalho já acabou?
–Há muito tempo. Estou aqui há quase uma hora.
–Tudo isso? – ela arregalou os olhos – Que horas são?
–Quase sete da noite. Você podia ter descansado no sofá. Seu pescoço não está doendo?
Teimosa como sempre.
–Tá tudo bem... – ela respondeu com um sorriso e balançou a cabeça, mostrando que não estava sentindo dor.
–E o pé?
Rin viu, por baixo da mesa, os pés machucados e moveu os dedos, como se testasse se ainda estavam ali.
–Ainda doloridos. – ela atestou – Vou fazer uma boa massagem neles quando eu voltar pra casa.
–Antes ou depois do jantar coreano?
Rin ficou mais vermelha e levantou-se, esticando os braços para espreguiçar-se.
–Estou com fome... – ela reclamou – Não tinha biscoitinho, então não comi nada a tarde toda.
–Aqui não é um resort. – ele asseverou – Eu acho que deixei você mal acostumada.
Rin estreitou o olhar e deu as costas ao rapaz, preferindo olhar para o céu escuro de Tokyo pela janela que tinha ali.
–Rin... – escutou Sesshoumaru falar.
–O que foi? – ela perguntou, prendendo a respiração ao sentir os braços dele envolverem a cintura e o queixo dele apoiado no ombro dela.
Como conseguia ficar em pé sentindo os joelhos tremerem e a respiração dele quase confundindo com a dela era um mistério. Ele se mantinha calmo e apenas observava as feições nervosas dela pelo reflexo no vidro.
–Eu me preocupo em não escutar suas respostas ou não ter você me encarando quando fala. – ele falou, fechando os olhos e descansando a testa contra o ombro dela. Que cheiro bom ela tinha... – Achei que já tivéssemos passado dessa fase.
Ficaram daquela forma por um algum momento – ela olhando pela janela, ele com a testa no ombro dela, até ela se virar novamente, encontrando o olhar dele.
–Eu não sei bem o que falar... Mas eu sei que prefiro estar com você do que algum dia voltar pra Nagoya arrependida se não ter tentado.
Por um instante, ela ficou rígida nos braços dele. Depois ergueu o rosto e ele pôde ver toda a insegurança dela ali.
–Desculpe... mas eu não sei como agir, o que você vai pensar. – ela praticamente transpareceu todo o medo pelo olhar – Meu primo tentou me ajudar com alguns conselhos, mas essa é a única forma que conheço pra falar essas coisas.
Rin parou de falar e voltou a morder o lábio inferior e continuar olhando para os pés.
–Rin? – ele voltou a chamá-la.
A garota arregalou os olhos ao vê-lo se aproximar, rostos separados apenas por um dedo de diferença.
–Não vai tentar impedir desta vez?
A lembrança de quando se beijaram pela primeira vez, numa noite fria em frente ao antigo prédio em que morava, passou-lhe rapidamente pela mente, e ela deu um sorriso e moveu a cabeça num "não".
Segundos depois, sentiu o dedo no queixo erguer ainda mais o rosto dela e sentiu lábios macios colarem aos dela. Ela apenas fechou os olhos e decidiu aproveitar o momento.
Uma maravilhosa sensação passou pelo corpo dela como uma corrente elétrica, mesmo nos braços quando os ergueu para envolver o pescoço dele.
Sesshoumaru sentia a obrigação de envolvê-la completamente naquele momento, de fazê-la sentir-se perdida. Já havia esperado demais por aquele momento e apenas queria...
–... seu cabelo... – ele murmurou quando quebrou o momento e murmurou no ouvido dela.
–O que... O que tem ele? – ela desviou o rosto e olhou curiosamente para ele.
–Eu gosto dele solto. – o rapaz tirou a presilha sob os protestos dela e guardou em um dos bolsos dele – Deixe-o solto.
–Mas... Mas...
–Você gosta de começar todas as suas frases com "mas"? – foi a pergunta dele, aproximando o rosto para beijá-la de novo.
A resposta dela foi uma careta, desviando o rosto para o lado. Sesshoumaru não ligou e virou o rosto, entreabrindo os lábios dela com os dele.
Sentindo-a relaxar nos braços dele, ele aprofundou o beijo até sentir que faltava ar para ela. Parou lentamente o beijo e esperou que ela abrisse os olhos.
Quando ela finalmente o fez, tinha um olhar doce e deu um sorriso para ele. Ela respirou profundamente antes de falar, aproveitando para endireitar a gravata torta distraidamente:
–Eu tinha planejado conversar depois do jantar.
O rapaz preferiu não comentar aquilo. Simplesmente tirou o paletó e afrouxar o nó da gravata, conduzindo a garota para fora da sala.
–Comida coreana, é? – ele perguntou, guardando a chave e jogando o casaco por cima de um dos ombros. Passou um dos braços pela cintura da garota e começou a andar ao lado dela.
–Sem querer parecer muito atrevida, você poderia me dar uma carona até meu apartamento? – ela mostrou os sapatos que segurava – Meus pés estão me matando ainda.
Sesshoumaru ergueu uma sobrancelha, silenciosamente perguntando se ela realmente achava que precisava fazer uma pergunta daquela tipo. Depois esfregou a parte inferior das costas apenas para ouvir gemido de prazer dela. Ela gostava então daquilo. Era algo que iria guardar para futuras referências.
–Você preparou mesmo um jantar? O que vamos comer?
–Fiz oshinchae e bibimbap. De sobremesa teremos bingsu de chocolate. – ela começou falar como um atendente em um restaurante, depois uniu as mãos em uma súplica – Por favor, não reclame. Eu não sei fazer nada com carne.
–Eu não me importo.
–Você não vai então aceitar o convite pra jantar com Aoki-san?
–Nem se ela me oferecesse oshinchae e bibimbap.
Rin olhou para ele e deu o sorriso mais doce que tinha, movendo depois a cabeça afirmativamente. Passou um dos finos braços pela cintura dele e logo em seguida os dois saíram abraçados do tribunal.
E foi assim que pessoas de caminhos diferentes decidiram estar juntos.
