Nota:Perdão pela demora. Eu fiquei indecisa sobre uma parte deste capítulo, mas agora está tudo certo. Vamos continuar com a programação normal :)

Também demorei porque escrevi e li algumas histórias nas últimas semanas. Vejam lá no meu perfil: Yume (uma fic curtinha de oito partes com pensamentos da Rin sobre a Setsuna) e Atarashii Kimono (uma história curta de comédia sobre o Jaken procurando, a mando de Sesshoumaru, um kimono para a Rin). Também recomendo duas histórias: Fases e Além do Tempo, da Kuchiki Rin :) Leiam e comentem :)

Obrigada a quem comentou no capítulo passado: Li'luH, Kuchiki Rin, riloli, vicman, Shanthiyen, isabelle36, Dica-chan, Liryth, Jo-Anga, Bruna-san, Ana Clara e Vane Barros. Todo mundo recebeu o outtake? Acho que sim. Qualquer coisa, só me falar que eu mando. Tem até uma referência a uma parte dele aqui no capítulo.

Espero que gostem! Comentem, por favor!


UM CAMINHO PARA DOIS

CAPÍTULO 18

O caminho das magnólias

Um mês depois:

Na sala do Centro de Direito da Universidade de Tokyo, um casal que não se via há dois dias aproveitava a privacidade e o silêncio do lugar para alguns minutos juntos antes de ambos precisarem se separar de novo. Um, por causa do trabalho. A outra, por causa das aulas.

Sesshoumaru havia iniciado o beijo logo que entraram. Rin havia aguardado do lado de fora, como sempre, e ele, ao chegar, permitiu que ela entrasse primeiro antes de entrar e trancar a porta para não serem incomodados por aquele momento.

E agora lá estavam eles, Sesshoumaru sentado na beira da mesa de trabalho com Rin nos braços. Uma das mãos segurava-a pela cintura, a outra tocava a lateral do rosto. Já as mãos dela seguravam com força as lapelas do blazer dele.

O rapaz havia prometido que passaria na faculdade naquele dia mesmo sem compromissos no local. Era apenas desejo de passar um tempo junto com a agora namorada no dia do aniversário dela. Ele prometera que faria o dia ser especial, mesmo que por poucos minutos.

Era difícil, porém, parar de beijá-la quando Rin gemia em apreciação daquele jeito que estava fazendo no momento.

Sesshoumaru mudou o ângulo do rosto, a mão que estava no rosto também foi segurá-la na cintura; os dedos na lapela seguraram com mais força ainda o tecido.

–Sess... – ela murmurou quando ele afastou o rosto para trilhar beijos no pescoço.

Ouviu um "hmm" por parte dele, como se fosse um incentivo para ela continuar a falar enquanto ele fazia aquilo.

–Eu tenho aula daqui a pouco... – reprimiu um gemido ao sentir os lábios dele na mandíbula.

Outro "hmm" veio por parte dele.

–E temos meu jantar de aniversário com nossos amigos. – ela continuou, fechando os olhos ao sentir os lábios dele num ponto particularmente sensível próximo à orelha. Como ele era bom nisso...

Escutou o terceiro "hmm" dele.

–É sério. – ela deu um sorriso quando sentiu novamente ser beijada no pescoço – Hoje o dia será cheio.

–A que horas você viaja amanhã? – ele parou momentaneamente o que fazia apenas para fazer a pergunta, ela sentindo o movimento dos lábios dele contra a pele.

–Quase no final da tarde... às cinco.

Nisso, ele parou e ergueu o rosto para encontrar o olhar dela.

–Eu não poderei levá-la à estação. – ele franzia a testa – Achei que iria à noite.

–Não tem problema. – a mão dela foi à gravata dele e começou a ajeitá-la – Eu posso chamar um táxi ou pegar o metrô. Só vou levar uma mochila.

–Seu primo não vai mandar mais roupas de lá?

–Eu vou me recusar a aceitar. Ele exagerou da última vez. – ela terminou de ajeitar a gravata e deu um sorriso – Desculpe fazer isso toda hora, mas sinto uma agonia ao ver essas coisas tortas.

Sesshoumaru franziu novamente a testa e olhou para o que ela realmente se referia – a gravata em jacquard da Fortuna que usava naquele dia.

– "Tortas"? – ele repetiu em dúvida.

–Nas últimas semanas você tem feito isso. – ela deu um sorriso meio sem graça – Você não percebe quando eu arrumo? Eu faço isso toda hora.

Sesshoumaru continuava com a testa franzida, olhando ora para a gravata, ora para ela. Ele se concentrava em beijá-la e admitia que não prestava atenção ao discreto ato dela. No primeiro dia deles juntos, ela também havia ajeitado a gravata sem chamar a atenção.

–Meu avô estava me ajudando nisso. – ele falou.

–Oh... – ela reprimiu a vontade de rir – Ainda bem que às vezes nos encontramos antes de você ir pro trabalho e ajeito logo.

Sesshoumaru ainda parecia estranhamente pensativo, franzindo a testa como se tentasse compreender um enorme problema.

–Cadê minha presilha? – ela fez a melhor cara de choro que conseguia – Eu quero minha presilha de volta.

–Não vai precisar dela. Está segura comigo. – Sesshoumaru colocou a mão em um dos bolsos do blazer e tirou uma caixinha enfeitada com um laço para entregar a ela – Feliz aniversário.

A garota arregalou os olhos de surpresa e alegria. Pegou a caixa, abriu-a cuidadosamente e não conseguiu controlar o vermelho da face ao ver o que era.

–Isso é... – ela começou e não terminou a frase. Trocou um olhar assustado ao ver uma corrente de ouro com um pingente em forma de flor de crisântemo.

O símbolo das famílias mais nobres.

–Seu presente. Quer que eu coloque?

A voz de Rin não conseguia sair. O significado daquilo era...

–Sesshoumaru... Eu... não...

–Vou colocar para você antes que complete sua frase. – Sesshoumaru pegou a corrente e fez Rin virar-se para colocar a joia no pescoço.

Rin pegou o pingente e olhou fixamente o objeto até Sesshoumaru terminar de prender a corrente e sentir os dedos dele roçando no braço, deslizando para cima e para baixo na pele.

–Você irá aceitar o presente deste Sesshoumaru, não é? – ele perguntou sem parar a carícia que fazia no braço dela.

–É claro que sim. – ela franziu a testa – Por que não?

–Este Sesshoumaru não a deixou sem jeito, não é? – perguntou no ouvido dela – Você gostou?

–Sim. – ela se virou nos braços dele para mostrar um enorme sorriso – É muito bonito.

–Fico satisfeito em saber.

Ficaram se encarando por segundos, até que Rin abraçou-o e descansou o rosto no peito dele.

–Obrigada. – ela murmurou ao beijar o local.

Sesshoumaru a abraçou e beijou o topo da cabeça dela.

–Quando você vai devolver minha presilha? – ela tinha uma expressão de choro no rosto.

–E por que você ainda a quer de volta? Não precisa prender o cabelo.

–Foi um presente caríssimo de Jakotsu e de forma alguma posso aparecer em Nagoya sem isso no cabelo.

Era realmente um argumento importante para ele. Jakotsu era capaz de fazer Rin voltar com mais cinquenta tipos diferentes de prendedores de cabelo de Nagoya por causa daquela brincadeira.

–Eu trago amanhã. Mas se voltar a prender seu cabelo aqui, vou esconder de novo.

–Você não manda no meu cabelo. Ele é meu. – ela virou o rosto irritada para o lado, braços cruzados em desafio – Se eu quiser fazer um rabo-de-cavalo lateral, ninguém pode reclamar.

–Isso machuca o rosto quando quero beijá-la. Você poderia voltar a prendê-lo com uma fita.

–Ah... – a expressão suavizou e ela descruzou os braços, as mãos indo imediatamente para o peito dele – Eu não sabia, você não falou nada.

–Eu fico um pouco ocupado e não posso falar.

Rin deu uma risada e aproximou o beijá-lo de novo, o que Sesshoumaru aceitou prontamente.

Lábios e línguas se encontraram e os dois se permitiram esquecer o tempo enquanto aproveitavam o momento. Rin sentia o corpo estremecer ao sentir as mãos de Sesshoumaru acariciando-lhe as costas, abraçando-o com mais força ao sentir a língua dele provocar-lhe cócegas na boca.

–Es... pe... Espere... – Rin murmurava entre os lábios dele – Preciso... respirar...

Rin sentiu que o rapaz abafou uma risada quando ele parou de beijá-la e começou a deslizar a ponta do nariz ao longo do pescoço dela.

–Eu trouxe o que me pediu. – ela falou alegremente – Quer ver?

–Claro. – ele deu um beijo no ombro dela, mas não fez menção de soltá-la.

–Você precisa me soltar pra eu poder pegar... – ela mordeu o lábio quando ele começou a sugar o lóbulo da orelha direita, fechando os olhos. Que sensação boa...

–Eu não preciso ver agora. – ele falou, passando a sugar o outro lóbulo.

Por um momento, ela esqueceu o motivo de estar ali e ele parecia saber que ele tinha aquele efeito sobre ela.

Era sempre assim. Sesshoumaru, nos horários vagos, a encontrava para ficarem juntos apenas... namorando. Ao que parece, ele queria tirar todo o atraso pelos longos meses separados.

E naquele dia ela havia prometido que compartilharia um pouco do passado e do presente com Sesshoumaru. Eles já haviam contado um ao outro sobre parte da infância, dos amigos e da família, e naquele dia haviam combinado de ver fotos da família de Rin.

E Rin fez Sesshoumaru prometer sob uma pena, ainda não decidida qual, que ela veria as fotos de infância dele também, o que ele disse que cumpriria o pedido. Eventualmente.

Eeeei... – ela exclamou, sorrindo – Eu tenho que mostrar agora... Daqui a pouco eu preciso ir pra aula. De verdade.

–Você não ia das outras vezes? – ele afastou o rosto e o deixou levemente inclinado para um lado como se estivesse confuso, o que ela sabia que era proposital.

–Sesshoumaru... – ela estreitou de leve os olhos, mas não se mostrou ameaçadora. Na verdade, o rapaz a achou adoravelmente interessante ao tentar mostrar-se zangada.

–Tudo bem. Então mostre. – ele a soltou e a viu esticar um braço para pegar a bolsa, tirando de lá um álbum de fotografias.

Rin entregou o álbum ao rapaz e este deu espaço à borda da mesa para os dois olharem juntos as fotos.

A primeira delas era uma foto formal de alguma reunião da família, mas era realmente antiga. Muitas pessoas mais velhas e outras crianças, algo comum nesses tipos de fotos.

–Este aqui é meu pai... E esta aqui é minha mamãe. – ela apontou para duas pessoas muito idosas nas fotos – Esta aqui... Bem, disseram que sou eu, e este aqui é meu irmão.

–Você me falou que eles não são os seus pais.

–Ah, sim... – ela coçou um lado do rosto – Na verdade, eles são meus avós. Acho que falei que meus pais morreram num terremoto.

Sesshoumaru rapidamente fixou o olhar nela, arqueando as sobrancelhas.

–Você me falou que eles morreram em Kobe, não falou do terremoto. – ele falou suavemente.

–Hmm... mas foi isso. Acho que eu tinha dois anos. Eu não lembro mais deles. – ela franziu a testa, braços cruzados numa pose pensativa – Mas meu irmão ainda hoje visita todo mês o túmulo deles, sempre me levando junto. Ele quase nunca fala quando estamos lá, mas, da última vez, ele não parou de conversar comigo. Falou sobre ter ficado ao lado do telefone enquanto esperava notícias dos nossos pais. Ele sofreu bastante.

Rin parou de falar por um momento e virou algumas páginas, até encontrar uma foto muito mais antiga.

–Bem... Estes aqui – ela apontou para duas elegantes figuras que seguravam a mão do irmão na foto e Rin, bebê, no colo – são meus pais de verdade. Eles estavam em uma viagem de trabalho em Kobe quando aconteceu o terremoto.

Sesshoumaru ficou por um momento calado, apenas a observar os detalhes da imagem: Rin tinha os olhos e o sorriso da mãe, e era extremamente pequena ali com os pais. Talvez tivesse dias ou um pouco mais de um mês de nascida.

E agora ela estava quase do mesmo tamanho da mulher da foto, adulta e comemorando aniversário na frente dele.

–Entendo... – ele olhou para outra foto, desta vez de Rin engatinhando – Meus pais também morreram há algum tempo.

Como ela ficou em silêncio, ele interpretou como se tivesse que continuar com a explicação:

–Meu pai morreu de câncer. – Sesshoumaru percebeu que ela estremeceu quando escutou a palavra – Minha mãe morreu um ano depois de tristeza.

–Oh... – a garota pareceu ligeiramente tensa, provavelmente, ao ver dele, porque havia perdido uma pessoa da mesma forma – Sinto muito, eu...

–Eu tinha dezoito anos. – ele a interrompeu – Inuyasha tinha quinze.

Sesshoumaru percebeu que ela ainda mantinha aquela expressão triste que ele queria evitar a todo custo, principalmente no dia do aniversário dela.

–Sinto muito. De verdade. – ela completou depressa, antes que ele resolvesse mudar para um assunto mais agradável, como as fotos dela em concursos de oratória.

–Está tudo bem, minha Rin. – ele a encarou serenamente – Eu acredito que os dois estão bem juntos.

Um silêncio desconfortável pairou na sala e Sesshoumaru percebeu isso.

–Você não perguntou nada perturbador ou estranho, Rin. Não precisa ficar sentida.

Rin apenas moveu a cabeça negativamente.

–O que é que a preocupa, então?

–Você... Você não sentiu falta deles? Que dizer... Foi há tão pouco tempo... Não foi há uma vida inteira como eu.

–Sim, eu sinto. – ele a encarava, serenamente – É triste.

A frase pareceu ser um ponto final, mas havia ainda muita coisa que Rin gostaria de perguntar para ele. Resolveu deixar para outra ocasião ao vê-lo novamente se interessar pelas fotos, passando por algumas sem fazer perguntas e em se interessando por outras.

–Quem é este aqui? – ele perguntou, já imaginando a resposta. Ele já havia visto o rosto no celular de Rin uma vez quando jantou na casa dela, no primeiro dia do romance entre eles.

Era uma foto de um rapaz de cabelos e olhos lilases, sério, quase da mesma altura dele, segurando uma espada de bambu em chudan no kamae, a postura mais básica do kendô.

–É meu irmão. – ela deu um sorriso.

Observava cuidadosamente as linhas de Hakudoushi. Não parecia ser filho de uma família de políticos e muito menos irmão de alguém de aspecto tão delicado quanto Rin. Ele parecia estranhamente perigoso com aquele olhar. Em outra foto, ele segurava um pequeno troféu de acrílico ao lado de outros competidores.

–Ele não é parecido com você. – Sesshoumaru comentou – Parece ser mais sério. Você vive sorrindo.

–Ele é campeão da região. Ele é muito forte. – ela falou com orgulho, abrindo os braços expansivamente para dar ênfase ao que falava de Hakudoushi – E dá aula nas escolas públicas da cidade. Também tem o próprio dojo em casa. Ele é muito protetor e sempre acha que tem que me proteger. Ele quer saber por onde anda Kouga pra aparecer por aqui e dar uma surra nele.

–Um motivo perfeitamente razoável. – Sesshoumaru falou.

Rin deu um leve tapa no ombro dele e depois riu.

–Ele gosta de você, Rin. Ele quer proteger. – o rapaz completou.

–É. – Rin fez um movimento afirmativo com a cabeça – Eu acho que ele é assim porque não temos mais nossos pais.

Se ele era assim com Rin em Nagoya, Sesshoumaru se perguntava o que ele estaria pensando a respeito do novo relacionamento dela.

–E como ele reagiu? – ele perguntou de repente.

–"Reagiu"? – ela repetiu, piscando em surpresa com a mudança de assunto.

Ambos se encararam até Rin entender a pergunta. Claro que ele estava perguntando sobre a reação de Hakudoushi ao saber do namoro deles.

Havia apenas um detalhe: ela não havia ainda contado ao irmão.

–Hmm... – ela olhou para o chão e fazia desenhos invisíveis com a ponta do sapato – Eu ainda não... hmm... contei pra... ele.

Sesshoumaru franziu a testa. Aquilo não era nada bom.

–Não contou por quê? – ele inquiriu, fazendo o possível para soar gentil. Não era o que sentia, claro.

E ela percebeu imediatamente a irritação dele.

–Por favor, não fique bravo comigo. – ela pediu, implorando com os olhos – Meu irmão não é tão compreensível quando se trata de meus relacionamentos. Ele demorou meses pra aceitar meu primeiro namorado.

–Você precisa pedir permissão para ele, Rin? – Sesshoumaru perguntou num tom tão baixo que a fez arrepender-se com a escolha das palavras. Era óbvio que ele não havia gostado daquilo.

–Claro que não preciso. Mas eu não quis falar pelo telefone sobre isso. Amanhã vou contar pra ele. – ela falou num tom gentil para apaziguar a raiva dele – Mas eu aviso logo que Hakudoushi não vê as coisas do mesmo jeito que você. Ele sempre acha que alguém vai me machucar a qualquer momento, e por mais que eu diga que você não faz isso, a primeira reação dele ainda vai ser querer pegar um trem pra dar uma surra em você por tocar o meu cabelo.

Sesshoumaru ergueu uma sobrancelha e soltou um leve "tchi" para zombar da imagem de Hakudoushi chegando com mala e tudo na capital para tentar tirar Rin dos braços dele. Já havia passado da fase de tocar o cabelo dela. Ele já sabia que ela derretia só de ele roçar o nariz no pescoço dela. E ainda exigia mais.

E mais recentemente, ele descobriu que uma área atrás da orelha era um lugar que ela exigia mais beijos dele.

–Não quero ver Hakudoushi ser preso por vandalismo na casa de um parente do imperador.

–Ele não vai fazer nada e nem pode me enfrentar. Ele precisa entender que você escolhe os seus relacionamentos e não precisa de aprovação dele.

–Eu disso, já disse. – ela cruzou os braços e ergueu o rosto – Ele reclama muito, mas sabe que não pode fazer nada pra me impedir. Ele não manda em mim.

Ouviu um "hunf" dele.

–Eu aproveitar a viagem pra contar. – ela deu o sorriso mais largo dela, depois deu uma risada – É provável até que já tenha ouvido algum comentário, meu primo Jakotsu sabe de tudo. Falta só você aparecer lá em casa em Nagoya pra conhecer todo mundo.

Sesshoumaru franziu a testa. Ir para Nagoya... Já havia chegado a esse ponto no relacionamento entre eles?

A resposta pareceu tranquilizá-lo, pois ele voltou a observar as fotos. Minutos se passaram até a próxima pergunta, justamente quando ele viu um rapaz abraçado a Rinem uma das fotos.

–E este aqui?

O rapaz era, pelos padrões femininos, bastante atraente. Olhos negros, Cabelos castanhos quase louros, vestido formalmente e com aspecto respeitável, uma aparência que demonstrava caráter verdadeiro até mesmo no olhar.

–Esse é Aki. Akihito. – Rin falou, depois de segundos em silêncio.

Mais um momento de silêncio se passou até que o rapaz falou:

–Deu para perceber.

Ficaram desconfortavelmente calados, cada um esperando por uma pergunta ou por um comentário qualquer.

Finalmente, depois de minutos, Sesshoumaru resolveu falar:

–Quanto tempo vocês ficaram juntos mesmo?

–Quatro anos.

Apesar de saber que não fazia sentido no momento, ele não gostou de ver a foto de outro rapaz com Rin. Virou discretamente a página do álbum, apenas para franzir a testa numa irritação para vê-los novamente juntos em outra imagem. Desta vez, era Akihito com a cabeça deitada nas pernas de Rin.

Disfarçou um rosnado numa leve tosse.

–Quantos anos ele tinha? – foi a pergunta dele.

–Hmm... Quando eu o conheci, ele estava com vinte e um anos. Eu tinha dezoito nessa época.

Desta vez, Sesshoumaru não deixou de demonstrar surpresa e arqueou as sobrancelhas.

–Seu irmão deixou que um cara mais velho ficasse com você quando ainda era menor?

–Er... Não. – ela deu um sorriso sem graça e coçou um lado do rosto – Ficamos sem nos falar por alguns dias, mas depois ele nos deixou em paz... Os dois conversaram e aí ficou tudo bem. Mas ele sempre tinha alguma coisa pra reclamar... Aki tinha muita paciência com Hashi.

–E o que ele fazia? – ele perguntou, completando o sentido da pergunta – De estudo, quero dizer.

–Ele se formou em Direito e era filho de uma família amiga da nossa. – ela sorria docemente enquanto olhava a figura com carinho – Foi por isso que quis cursar Direito também. Nós conversávamos sobre os assuntos das aulas. Ele também me ajudava em alguns trabalhos. Ele ficou chateado quando soube que eu tranquei o curso pra cuidar dele.

–E vocês noivaram. – não era uma pergunta.

–As famílias aceitaram nosso relacionamento. Aki me pediu em casamento um pouco depois de descobrir que estava doente.

–E você queria? – ele perguntou.

–Bem... – Rin coçou o rosto. O rosto ficou ligeiramente corado, o que não passou despercebido para ele – Eu pensava nessas coisas de casar e viver feliz com ele... Eu era muito nova. Não penso mais assim.

Rin parou de falar e olhou para o lado.

–Hoje você pensa em quê? – ele perguntou.

Sesshoumaru viu a hesitação no rosto dela. Havia uma certa dúvida e ele sabia que ela tentaria disfarçar da melhor forma possível:

–Hoje quero me formar e conseguir meu emprego. Pensei em trabalhar para o Ministério das Relações Exteriores do Império. Isto é, caso eu consiga me estabelecer na capital. – ela deu um sorriso forçado.

Os dois ficaram em silêncio.

–E como ele morreu? – Sesshoumaru perguntou.

–Ele teve câncer. – ela respondeu sem ao menos olhá-lo.

Rin já havia comentado antes, mas

–Quanto tempo ele...?

Ficou em silêncio e perguntou-se por que não conseguia mais completar as frases mais simples.

–Dois últimos anos foram num quarto de hospital. – ela não deixou que ele completasse. Já sabia o que ele queria perguntar.

Rin mordeu o lábio inferior.

–Sabe... Eu tinha esperança. Ele fez tratamento um ano antes e parecia que ia ficar bem. E depois as coisas pioraram. – ela deu um sorriso triste – E
foi tão depressa. Eu ia todos os dias pro hospital. Não queria que ele tivesse passado por tudo isso.

Sesshoumaru apenas trocou olhares com ela. Nada precisava ser dito por ele na hora.

–É um pensamento tolo, não? Não podemos controlar essas coisas.

Sesshoumaru a encarou por um momento e desviou o olhar, falando:

–Não... Não é tolo.


No café favorito da Rin na capital, ela comemorava o aniversário com ao lado de Sesshoumaru, Miroku, Sango e Kagura. Sentados em seiza, eles discutiam sobre o próximo período de provas e os motivos que levaram Inuyasha e Kagome a cancelarem o compromisso: o professor que atrasou as férias da turma deles também perdeu as provas da turma do outro casal e os dois tiveram que estudar para mais uma avaliação.

Depois de um bolinho de aniversário servido com chá e sanduíches, Sesshoumaru, Rin e Sango conversavam sobre a viagem para Nagoya enquanto Miroku e Kagura brigavam por comida.

–Esse é meu! – Kagura bufava, puxando um sanduíche de atum das mãos de Miroku – Dá pra mim!

–Você já comeu três desses, mulher... – Miroku rangia os dentes e puxava o lanche da mão dela – Eu também tô com fome.

–Peça um pra você! – ela reclamava.

–Esse é o quartoque eu pedi pra mim!

–Crianças, crianças... Por favor... – Sango tentava acalmá-los – É aniversário de Rin-chan...

Sango recuou ao ver o olhar mortífero que recebeu de Kagura e Miroku. Os dois voltaram a brigar e a garota deu um suspiro cansado, voltando a atenção para as outras pessoas que estavam com ela.

–Desculpe, pessoal... – Sango começou – Esses dois estão nessa briga há duas semanas.

–Devolve! – Kagura exclamava.

–Não! É meeeeu! – Miroku falava com raiva.

–Tudo bem, Sango-chan. – Rin, ao lado de Sesshoumaru, falou sem graça.

–Isso é patético. – o rapaz balançou a cabeça negativamente.

Devolve!

É meu!

–Que correntinha linda, Rin-chan. – Sango falou, admirando o detalhe do pingente – Ganhou de aniversário?

A garota moveu a cabeça afirmativamente e lançou um olhar ao namorado.

–Sesshoumaru-sama me deu.

Devolve!

É meu, caramba!

–É adorável. – Sango comentou.

–Obrigada. – a garota corou e olhou Sesshoumaru com carinho.

Você é egoísta!

Você tá reclamando de barriga cheia... Literalmente!

–Deuses... Esses dois... – Sesshoumaru já estava perdendo a paciência.

–Calma, calma... Deixe pra lá. – Rin deu um sorriso.

–Eles vieram porque falaram que divertiriam você. – ele comentou.

–Mas eu estou me divertindo, Sesshoumaru. – ela insistiu. E era verdade. O jantar tinha sido muito agradável.

–Rin-chan, seu presente. – Sango estendeu um embrulho pequeno para Rin – Meu e de Miroku.

Miroku-sama, me dá...!

Você já comeu, maldição...!

Rin pegou o presente e abriu uma caixinha, não contendo uma exclamação de surpresa ao ver o que era.

Seu egoísta!

Sua comilona!

–Marcadores de página em madeira!

–Tem de cerejeira, acácia, pinheiro... Achei que fosse gostar. – Sango deu um sorriso.

–E eu adorei. – Rin comentou, sorrindo - Muito obrigada, Sango-chan.

Mal-educada!

Seu grosso!

–Rin, podemos ir? – Sesshoumaru quase perdeu a serenidade. Era evidente que estava irritado.

–Calma, calma... – ela riu.

–Vai viajar então amanhã à noite? – Sango perguntou, tirando a poeira imaginária da roupa feita por Jakotsu – Agradeça ao seu primo por mim. Eu amei minha roupa.

–Eu vou dizer. Eu devo contar que você vem com a mesma roupa quase todos os dias pra faculdade? – ela forçou um sorriso. A amiga usava a roupa que havia ganhado de Jakotsu pelo menos três vezes por semana – Acho que ele vai querer fazer outra pra você.

–Será que dá certo? – os olhos de Sango ficaram incrivelmente animados com o pensamento de receber mais um modelo assinado pelo primo de Rin.

–Bem... Eu posso tentar convencê-lo a mandar mais um. – Rin falou com certo cuidado, temendo também a ideia de o primo mandar uma mala cheia para Sango.

Sesshoumaru levantou-se e ficou em pé ao lado dela.

Grossa!

Idiota!

–Rin-chan, quero abraçar você. – Sango pediu, levantando-se.

A aniversariante fez o mesmo e abraçou a amiga, escutando o que ela dizia num sussurro:

–Ele quer ficar sozinho com você... É melhor ir ou ele ficará impaciente.

Rin olhou para o namorado e percebeu que este serenamente a observava sem se importar com os outros naquela mesa.

–Obrigada, Sango-chan... Por tudo. – Rin sussurrou.

Sango apenas sorriu e voltou a sentar-se em seiza, observando Rin estender a mão a Sesshoumaru e os dois saírem de mãos dadas do Stay Happy.

–Ai, Kagura! – Miroku exclamou, massageando um braço dolorido – Que mão pesada!

Kagura já tinha engolido metade do sanduíche quando Miroku protestou.

–Vocês dois são tão mal-educados... – Sango suspirou – Nem ao menos deram os parabéns pra Rin-chan.

–É aniversário dela? – Kagura perguntou, engolindo a outra metade e limpando os cantos da boca.

–Por que você não avisou, Sangozinha? – Miroku tinha uma expressão zangada no rosto, mas que logo desapareceu ao ver o olhar furioso da namorada – Er... Quer dizer...

–Será que aqui tem sorvete de alguma fruta tropical? – Kagura falou, levantando meio que discretamente para fugir dali.

–Caramba, agora que você falou, fiquei com vontade de experimentar... – Miroku seguiu os movimentos de Kagura.

–Vocês ainda vão ter o que merecem... – Sango falou, levantando-se para correr atrás deles.


–Você está bem? – Rin perguntou a Sesshoumaru enquanto o via dirigir, olhos fixos no trajeto até o apartamento dela.

–Está tudo bem. – ele respondeu, não tirando os olhos da direção.

–Então por que não queria ficar mais um pouco lá?

–Não nos vemos há dois dias. Queria ficar sozinho com você. – foi a resposta dele.

–Oh...

Sango tinha razão. Ela intimamente ficou feliz com aquilo. Também ficariam mais dois dias longe, enquanto ele trabalhava e ela ficava com a família em Nagoya.

Eram quase nove da noite e ela ainda tinha algum tempo para continuar comemorando o primeiro aniversário em Tokyo.

–Espero que não se importe. – ele completou, rapidamente.

Rin conteve um sorriso e olhou para a paisagem. Viu que já estavam se aproximando do apartamento dela, mas Sesshoumaru passou direto, deixando-a surpresa.

–Ei, pra onde estamos...?

–Você já conhece o outro lado do jardim das magnólias? – ele perguntou sem desviar os olhos da direção.

–Não... – ela franziu a testa – Fica longe daqui?

–Vou levá-la agora. Acho que você vai gostar. Estamos perto. – ele mantinha os olhos na pista – Faz parte do jardim do nosso campus. Depois levo você pra casa.

–Oh...

Minutos depois, Sesshoumaru parou o carro e desceu, seguido de uma Rin receosa.

–Não estamos invadindo, né? – ela perguntou, mordendo o lábio ao ver Sesshoumaru conter um sorriso.

–Não. – ele falou, pegando na mão dela e começando a caminhar juntos até um portão que dava entrada ao jardim botânico. Do outro lado de um muro, Rin podia observar alguns prédios que ainda faziam parte da propriedade da Universidade.

Sesshoumaru a guiou por uma trilha feita no gramado por alguns minutos, até que os dois alcançaram uma área onde podia-se ver uma magnólia muito antiga.

Era um bonito jardim e parecia que o rapaz já estava familiarizado com o lugar. Era possível ainda sentir o cheiro das flores, mesmo no final do verão. Ela planejou mentalmente visitar o espaço em outro horário, com luz do sol, qualquer outro dia.

–Vamos nos sentar. – Sesshoumaru falou, tirando a atenção dela do jardim.

O rapaz encostou-se no tronco da velha árvore e Rin sentou-se ao lado dele, observando a expressão tranquila que ele tinha no rosto. Ela estava com os joelhos abraçados discretamente e encostou o rosto no ombro do rapaz.

–Já falou com seus pais hoje? – foi a pergunta dele.

Rin moveu a cabeça afirmativamente, sorrindo ao falar:

–Com Hashi também. Ele vai me buscar amanhã na estação. Vamos direto para o restaurante favorito da família quando eu chegar.

Ficaram em silêncio por um tempo, admirando o jardim, iluminado pelas lâmpadas e prédios próximos. Eram praticamente os únicos no lugar.

–Desculpe ter me irritado sobre ele aprovar ou não nosso relacionamento.

–Oh... – ela franziu a testa – Eu acho que você tem razão de pedir pra eu contar pra ele. Meus pais não têm problema algum com quem eu me envolvo, mas meu irmão é mais complicado por ser esquentado. Eu não posso fazer isso por telefone. Tem que ser pessoalmente.

Rin mudou de posição e sentou-se sobre os próprios joelhos. Deu tapinhas nas próprias pernas cobertas pela saia-lápis rosada que usava no dia.

–Deite a cabeça aqui.

O rapaz não fez objeção e deitou-se no lugar indicado, observando o céu estrelado e sem nuvens. A lua crescente estava bem visível no momento.

A garota começou a passar os dedos por entre os cabelos dele, percebendo que ele fechara os olhos para aproveitar o momento.

–O que está fazendo? – ele perguntou, ainda com os olhos fechados.

–Adivinhe... – ela deu um sorriso travesso que ele não percebeu.

–Espero que não esteja fazendo aquilo. – ele abriu os olhos e estreitou-os quando encontrou os olhos brilhantes dela.

–Oh... E o que vai acontecer se eu estiver? – ela arqueou as sobrancelhas em desafio.

Sesshoumaru passou a mão no cabelo e pegou na mecha que ela segurava por entre os delicados dedos, notando que Rin fizera uma trança no cabelo dele.

–Diga "adeus" à sua presilha. – ele falou, escutando a risada dela enquanto tentava desfazer a trança.

–Você leva tudo muito a sério, sabia? – ela abaixou o rosto e deu um rápido beijo nele – Não pode ser sempre assim.

–Sua presilha nunca mais voltará às suas mãos. – ele voltou a ameaçar.

–Ora... Veremos mesmo. – ela o desafiou. E seria um desafio e tanto, considerando que precisava tomar aquela peça de volta antes de o primo fazer perguntas a respeito.

–Pode ter certeza de que nunca mais a verá. Não vai precisar mesmo prender seu cabelo.

–Eu posso procurá-la nas suas coisas... Na sua casa, quando for algum dia lá... – ela prometeu com um sorriso maligno – Ao contrário do que você pensa, eu tenho sim paciência.

–Tolice. É claro que não tem.

Rin bateu de leve no ombro dele e riu.

–Além de não ter paciência, ainda é ciumenta. – Sesshoumaru se limitou a comentar.

–Eu não tenho ciúmes de você com Aoki-san! – ela riu ainda mais e bateu de novo no ombro dele – Por mais que ela tenha sempre os olhinhos brilhando pra cima de você.

O rapaz ergueu a sobrancelha. No dia em que eles começaram a namorar, ela reclamou da outra estagiária que queria a atenção de Sesshoumaru. Desde esse dia, a garota frequentemente o convidava para almoçar ou jantar com ela.

–O que ela preparou desta vez? – ela perguntou, a sobrancelha erguida numa expressão divertida de desafio.

–Comida de Okinawa. De novo. – ele respondeu. Levou alguns segundos para escolher as palavras com cuidado. Era claro que Rin tinha razão. A colega de trabalho era insistente e parecia alheia ao fato de a faculdade toda saber que Rin e ele estavam agora envolvidos.

–Você poderia aceitar e me dizer se ela cozinha bem. – ela deu um largo sorriso – Preciso de ideias pra preparar o próximo jantar.

Rin sentiu a mão de Sesshoumaru puxar de leve a cabeça dela para aproximar-se, não deixando de sorrir quando ele a fez encostar os lábios nos dele. Apenas fechou os olhos e aproveitou o momento, esquecendo-se do motivo da discussão inicial. Era claro que ela não tinha ciúmes dele trabalhando com outra pessoa. Aoki era uma boa pessoa, apesar de ser algumas vezes desligada.

Parecia que o jardim estava ajudando aos dois a ter aquele clima agradável, algo que ambos não sentiam há tempos. O cheiro das árvores era forte mesmo quando não era primavera e tornava a paisagem verdadeiramente romântica pra alguém como Rin.

Sesshoumaru sentiu a namorada tentando afastar o rosto e soltou-o, mas Rin mantinha-se próxima e abriu os olhos devagar, e o rapaz pôde notar o brilho que os olhos castanhos tinham.

–Ainda temos tempo? – ela perguntou em voz baixa.

–Alguns minutos, eu acho. – Sesshoumaru respondeu no mesmo tom e sem olhar o relógio – Tenho que terminar de ler uns documentos para amanhã.

–Então me beije de novo...

O rapaz aproximou de novo o rosto dela e beijou-a com tanta vontade quanto das outras vezes, brincando com a língua dela, fazendo-lhe cócegas na boca, imaginando o que fazer com ela em outras ocasiões. Era muito bom estar com ela, era bom tê-la perto de si depois de tanto tempo separados.

Rin gemeu algo que ele não entendeu e Sesshoumaru teve que parar o beijo de novo.

–Acho que já está na hora, Sesshoumaru... – ela falou em tom preocupado – Eu estou com frio.

–Frio? Mesmo depois desse beijo?

Rin fez estreitou os olhos e fez uma carranca, mas não foi levada a sério.

O rapaz levantou-se e ajudou a garota a fazer o mesmo, observando-a limpar a roupa da sujeira de folhas soltas do gramado.

–Vamos. – ele falou, passando um braço pela cintura dela – Daqui podemos ir andando para o seu apartamento.

Brrrr... – ela murmurou e encostou-se mais nele durante a caminhada – Aqui começa o outono mais cedo? Acho que tá mais frio que em Nagoya.

A resposta dele foi colocar um casaco nos ombros dela.

–Obrigada. – ela sorriu, recebendo segundos depois um beijo no topo da cabeça.