Nota da autora: Gente, nem sei por onde começar sobre a demora para este capítulo. Foi simplesmente falta de tempo. Estou trabalhando muito e eu gosto de ter tempo para refletir sobre essa história (ler o original e ver o que eu posso mudar) :( Quando eu percebi, já tinha se passado mais de um mês desde a última atualização.

Quem leu a história original, vai reconhecer este capítulo :) Fiz algumas pequena alterações e fiquei satisfeita com ele, espero que vocês também gostem.

Sobre os outtakes: estou escrevendo e aviso/mando para vocês assim que eu acabar de escrever!

Obrigada a quem comentou: Li'luH, isabelle36, Jo-Anga, riloli, Bruna-san, Kuchiki Rin-sama e Ana Clara. Vou mandar uma cena pós-crédito para quem comentar neste capítulo.

("Cena pós-crédito? Virou Marvel agora, é?" hahahaha) - Só para explicar, é apenas uma cena do que acontece entre os dois na última parte do capítulo. Quem quiser ler, pode mandar um recadinho nos comentários e eu dou um jeito de mandar :*

Espero que gostem e que me digam o que acharam. Deu 20 páginas para compensar a demora. Espero que fique digno de um comentário e torçam para o que próximo não demore porque vai ter muito mais SessRin :*

EDIT: Pessoal, Li'LuH me avisou do erro no capítulo e eu tive que postar de novo. Não sei o que aconteceu, mas ele estava inacessível.

(eu achei que não estava recebendo comentários por estar ruim hahahah - cada "ha" uma lágrima).


UM CAMINHO PARA DOIS

CAPÍTULO 20

O caminho escolhido para ele

Sesshoumaru apareceu na sala com a enorme mesa familiar achando que teria uma manhã de sossego no café da manhã.

Havia acordado cedo. Treinado. Arrumado a agenda do dia no celular. Organizado o material que precisava levar para o trabalho. Havia se oferecido também para buscar a namorada na estação de trens de carro quando ligou para ela no dia anterior.

Sesshoumaru só queria apenas mais um momento de sossego, não queria guerra com ninguém. Rin estava a caminho. Queria estar bem quando ela chegasse.

Mas percebeu que seria um dia bem difícil ao chegar à sala do café da manhã e dar de cara com o rosto sorridente e cínico do avô, com quem definitivamente não tinha boas relações.

–Bom dia. – o mais velho falou.

Sesshoumaru deu meia volta. Não cumprimentou. Decidiu depressa que era melhor pegar algo para comer na cozinha e sair de casa o mais rápido possível.

Ao abrir a porta do ambiente, deu de cara com Kaede e a viu sufocar um grito.

–O que está fazendo aqui de novo? – foi o que ela conseguiu perguntar. Era a segunda vez em menos de um ano que aquele rapaz aparecia naquele cômodo. Ela nem sabia que Sesshoumaru conhecia o caminho do quarto dele até a cozinha.

–Vou levar algumas coisas para comer fora.

–Você não pode me avisar em cima da hora. – ela reclamou, limpando as mãos na barra de um avental – E por que não come conosco? Está atrasado?

–É que eu estava lá na sala e ele não quer falar comigo. – o avô apareceu na batente na porta, mãos dentro das mangas do quimono masculino – Está me evitando, como sempre.

–Ah, pelo amor dos deuses, Sesshoumaru. – ela balançou a cabeça exasperadamente para o afilhado, apontando para fora – Vá comer o que está à mesa.

–Eu não vou sentar lá.

–Pois então você vai ficar com fome porque eu não vou fazer outra coisa. – ela avisou.

Sesshoumaru e Kaede se encararam. Depois, sem falar mais nada, o rapaz virou as costas para voltar à sala onde a mesa estava posta. Recordou-se que não queria guerra com ninguém. Rin estava quase para chegar. Logo estaria com ele. E não ia gostar de vê-lo irritado.

Ao chegar lá, encontrou o irmão: mais uma pessoa que ele não queria ver porque sempre se unia ao avô para comentar e fazer perguntas sobre Rin.

No entanto, parecia que Inuyasha seria o menor dos problemas naquela manhã. Bocejava alto enquanto colocava uma coisa e outra num prato e se servia de café. Apesar de estar completamente arrumado para sair, era evidente que adormeceria a qualquer momento ali.

–Bom dia... – o mais novo murmurou, a cabeça pendendo um pouco como se fosse cair em cima do prato.

–O que aconteceu com você? – Sesshoumaru quis saber.

–Aquele professor perdeu meu trabalho... – ele murmurou num tom sonolento e deu outro bocejo – Eu tive que fazer outro porque o amaldiçoado me deu outro tema...

Em se tratando daquela pessoa, não era a primeira vez que aquilo acontecia. Era a primeira vez, no entanto, que ele via o irmão daquela forma.

–Você vai sair assim, Inuyasha? – o avô apareceu e tomou assento na ponta da mesa, acomodando-se para finalmente tomar café – Não é melhor descansar por uma hora? Não vai conseguir dirigir assim.

Subitamente, Inuyasha desistiu do café e levantou-se, jogando o guardanapo que estava no colo em cima da mesa.

–Vou dormir um pouco. Com licença.

O avô e o irmão viram a figura de Inuyasha cambalear e sair do recinto.

Sesshoumaru começou a se servir evitando olhar Bokuseno. Minutos depois, Kaede também apareceria para o desjejum, sentando-se do lado oposto ao do rapaz.

Os três começaram a se servir, mas não passavam tigelas ou pratos uns aos outros como normalmente os familiares fazem em refeições como aquela. Apenas cuidavam de encher o próprio prato e nada mais.

–Boa refeição. – Sesshoumaru murmurou, ouvindo o mesmo do avô e da madrinha.

Havia um silêncio constrangedor. Há muito tempo que Sesshoumaru não dividia o mesmo espaço com os demais. Era sempre o primeiro a acordar e o último a chegar em casa.

E desde que começou a sair com Rin, praticamente não via mais ninguém ali, a exceção do irmão, com quem esbarrava nos corredores da faculdade.

–Como está a garota de Nagoya, Sesshoumaru? – o avô perguntou para mudar o clima à mesa.

–Bem. – o outro respondeu sem trocar um olhar.

–Inuyasha falou que ela não está na cidade. – Kaede comentou, servindo-se de uma porção de arroz – Eu adoraria conhecê-la. Ela me parece muito simpática.

Sesshoumaru nada comentou. Naturalmente que Inuyasha tinha uma boca grande e ficava sem sono quando se tratava de comentar sobre a vida alheia.

–Traga-a para jantar conosco. – o avô ordenou.

O par de hashi quase escapou das mãos de Sesshoumaru. Pela primeira vez, ele parecia surpreso.

–Quando ela volta? – o outro continuou, ignorando a expressão do neto.

Reprimindo um suspiro cansado por saber que não haveria escapatória, o rapaz respondeu:

–Hoje.

Um meio sorriso de triunfo apareceu no rosto do avô.

–O jantar será às oito. – anunciou, virando o rosto para Kaede – Pode ser assim, Kaede?

–Claro, sem problemas. – ela agia como se aquele compromisso em cima da hora não fosse realmente um problema, diferentemente do que aconteceria em outro lugar – Ela não come carne, não é mesmo? Vou ver o que posso fazer.

–Eu vou conversar com ela antes. Não sei se ela estará cansada hoje. – ele tentou a última cartada.

–Oh, é verdade. Bem, você pergunta se ela aceita e depois nos avisa... Se ela não puder hoje, vamos adiar para amanhã sem falta. – ele continuava com o meio sorriso de triunfo para mostrar ao neto que realmente não havia como escapar do convite que aconteceria mais cedo ou mais tarde – Vai ser bem divertido conhecer alguém de Aichi... Como é mesmo o nome da família dela?

Alguns segundos de silêncio se fez antes de Sesshoumaru responder:

–Nozomu.

–"Nozomu"... – o avô murmurou como se testasse a palavra, arqueando as sobrancelhas num ar pensativo – Vou pesquisar um pouco sobre eles. Imagino que sejam progressistas. Ela sabe sobre nossa família?

Reprimindo outro suspiro cansado, o rapaz assentiu.

–Diga então que ela não precisa se preocupar com outras formalidades além do horário. E que ela tenha disposição para conversar bastante.


Sesshoumaru aguardava a chegada do trem vindo de Nagoya na plataforma onde ele havia mais de uma vez deixado a namorada. Não havia cadeiras, então estava em pé, braços cruzados enquanto via muitos chegarem com malas e se posicionarem atrás das faixas amarelas de segurança.

Um casal chamou a atenção dele. O rapaz estava com mala e a namorada segurava a mão dele. Apenas isso. Parecia que ele teria que viajar.

O trem chegou e logo começou a movimentação. Ele continuou parado, de braços cruzados, observando o casal se despedir com um abraço e um beijo.

Logo ele se afastou e ficou atrás da faixa e ela foi embora, passando tranquilamente por Sesshoumaru como se ela tivesse cumprido a missão mais especial da vida – levar aquele rapaz à plataforma para ele. Perguntou-se se eles faziam aquilo com frequência e se já estavam acostumados.

Logo ele viu a pessoa que mais queria descer do trem com uma pequena mala e a mochila amarela às costas. Havia trazido mais coisas, não? Ele já imaginava que aconteceria aquilo quando ficou sabendo do tipo de primo que ela tinha.

Aproximou-se dele com um sorriso. Murmurou algo que parecia ser uma saudação e uma pergunta que ele entendeu como se ele estava "esperando há muito tempo" na plataforma. Deu também um beijo no rosto dele.

Era absolutamente adorável ouvi-la falando naquele dialeto. Ela sempre deslizava uma vez ou outra quando ficava animada. Ele se recordava da sessão de beijos no antigo apartamento dela, algo tão espontâneo da parte dela, e de quando começou a falar coisas que ele não entendia na hora.

Pegou a mochila dela e jogou-a por cima do ombro, deixando as costas dela livres para deslizar a mão ali antes de contornar a cintura dela.

–O que foi? – ela estranhou a atitude dele.

–Você estava falando comigo no seu dialeto. – ele respondeu calmamente.

Viu-a levar a mão aos lábios, como se não acreditasse que fosse capaz daquilo. Claro que era. Ela nunca acreditava quando ele contava que aquilo acontecia mais vezes do que o esperado.

–Não tem problema. Eu entendi. – ele a guiou para fora da estação – Não fiquei muito tempo esperando.

Os dois não demoraram a alcançar o carro dele em um estacionamento. Ele colocou a pequena mala no banco de trás do carro e abriu a porta para ela.

Quando eles já estavam nas ruas, já em direção ao apartamento dela, ele interrompeu alguma cantiga dela:

–Trouxe vinho e roupas?

–Vinho pra mim de uma safra especial de Aichi. – ela deu um largo sorriso, a cabeça balançando ao som da cantiga – Dois conjuntos pra Sango-chan.

–Oh. – ele murmurou – Parece que seu primo encontrou outra modelo.

–Sim. – ela riu – Incrível, né?

Ficaram os dois em silêncio.

–E o seu irmão? – ele rapidamente lançava um olhar na direção dela, como se quisesse avaliar a reação à pergunta feita.

Viu Rin cruzar os braços e franzir a testa como se estivesse em dúvida ou preocupada.

–Hm... Ele vai viajar e ficou preocupado com nossos pais ficarem sozinhos... mas vai dar tudo certo. Meu pai estava em boa forma ontem subindo aquela montanha.

–Entendo. – ele murmurou.

Mais um momento de silêncio se seguiu. Ele tentou pensar na melhor forma de abordar o assunto, mas ele sempre foi do tipo que não gostava de dar voltas até chegar a um assunto.

Ia direto ao ponto:

–E como ele recebeu a notícia?

A namorada ficou mais alguns segundos em silêncio.

–Ele ficou... bem? Acho que pode ser interpretado assim.

Um alerta acendeu na mente dele.

O irmão dela não poderia estar "bem" depois de todas as coisas que ela contou sobre ele.

–"Bem"? – ele testou a palavra.

–É... Bem. Não brigou e nem teve um ataque de ciúmes ou quis pegar o trem pra Tokyo. – ela ainda franzia a testa – Ele não falou nada, na verdade. Só me escutou. Perguntou se você sabe o que aconteceu comigo.

Sesshoumaru novamente a olhou de soslaio.

–Acho que Hashi está bem diferente... eu não esperava essa atitude dele. Acho que criei uma imagem errada dele agora... Tinha ainda na minha cabeça o Hakudoushi de uns cinco anos atrás. Todo ciumento e protetor.

Rin deu um enorme sorriso e continuou falando sobre as coisas que haviam acontecido nos últimos dois dias que passou com a família, mas a mente dele estava concentrada em outra coisa.

Hakudoushi vai ser um problema.

–...Né? – ela perguntou para ele.

–Sim. – ele replicou apenas para não deixá-la sem resposta. Ele realmente não estava conseguindo acompanhar o que ela contava.

A dúvida agora era: O que Hakudoushi ia fazer?

Mas não era hora de se preocupar com o irmão mais velho dela. Ele precisava se preocupar com outros familiares. Mais especificamente, com os dele.

–Meu avô gostaria de conhecer você. – ele falou suavemente.

Rin arregalou os olhos.

–Oh, eu... – ela ficou corada – Eu também gostaria de conhecê-lo. Acho que só conheço Inuyasha e Jaken. Mas Jaken não é da sua família, né? Ele me pareceu muito simpático e...

Continuou a falar sobre o que ela sabia até o momento sobre a família dele até que Sesshoumaru ouviu algo meio inesperado.

–Será que ele vai gostar de mim? – ela parecia realmente preocupada – Eu quero me dar bem com a sua família. Quero que minha também goste de você.

–Ele a convidou para jantar hoje à noite. – ele falou de repente.

Dirigindo, ele não viu Rin arregalar os olhos em nervosismo.

–Oh... Eu devo usar uma roupa mais formal? Algo especial? Ele gosta de vinho? Posso levar uma garrafa de presente.

–Rin, por favor... – ele balançou a cabeça de leve, olhos ainda no trânsito – Não é nada disso. É um jantar em casa. Você já foi lá antes. Já conhece Inuyasha. Agora Kaede e meu avô querem conhecê-la.

–Se tivesse me avisado ontem, eu teria pedido ajuda a Jakotsu pra escolher a roupa.

A mão dele deixou o volante por alguns segundos para segurar a dela, flexionando alguns pontos da palma como se estivesse fazendo massagem.

–Preocupada?

–Um pouco.

–Não precisa. – ele falou com seriedade, a mão voltando ao volante – É mais importante eu gostar de você, não?

Rin deu um largo sorriso de orgulho.

–É, é verdade. Então eu vou levar a garrafa de vinho. Você me disse que ele joga go todas as noites também, né?

Sesshoumaru arqueou uma sobrancelha.

–Vai jogar com ele?

–Se ele quiser... – ela espreguiçou-se no carro, dando um suspiro cansado – Vai me ajudar a relaxar um pouco. Estou preocupada com um trabalho que tenho que entregar.

Outro alerta se acendeu na mente dele. Se fosse o que ele estava pensando...

–Qual?

–Daquele seminário optativo... vou precisar entregar agora. – ela cruzou novamente os braços – Se eu soubesse que seria aquele professor maligno, eu teria pensado duas vezes antes de cancelar a minha matrícula na optativa do outro período.

Sesshoumaru tentava virar o rosto na direção dela e manter os olhos no trânsito ao mesmo tempo.

–Você nunca me falou que estava cursando esse seminário com ele. – o rapaz parecia ligeiramente irritado.

–Oh... – ela franziu a testa – Eu acho que esqueci. Mas estava bem interessante no começo. O problema foi quando ele começou a perder nossos trabalhos. Tínhamos que refazer tudo porque ele...

–Mudava o tema. – ele completou pela namorada, fazendo-a arquear as sobrancelhas – Inuyasha nem dormiu hoje por causa disso e ainda atrasou para sair. Teve que dormir um pouco.

A jovem mordeu o nódulo de um dos dedos, visivelmente preocupada. Ela não queria ter que refazer um trabalho. Ela tinha tão pouco tempo com Sesshoumaru e ambos haviam decidido não estudar aos fins de semana para passarem mais tempo juntos.

Era injusto ela perder um fim de semana com o namorado quando os dois tinham que estudar e trabalhar tanto de segunda a sexta.

–Por enquanto eu não tive que refazer meus trabalhos... Hoje estou livre. Você quer que eu vá direto pra lá?

Sesshoumaru levou um tempo para responder. Ele já imaginava que Rin não deixaria de lado o jantar, mesmo estando tão ocupada. Provavelmente havia recebido a mesma rígida norma de respeitar os convites, mesmo que comprometesse algum outro compromisso pessoal e tivesse que sacrificar algo.

No caso dela, seria um fim de semana com ele.

–Não precisa. Eu pego você em casa mais tarde. O jantar será às oito.


Era a primeira vez que Rin iria para a casa de Sesshoumaru depois que os dois decidiram assumir o relacionamento. O casal preferia manter os encontros na cidade, ou nos entre turnos da faculdade/trabalho ou em outras atividades, como passeios perto da Universidade.

Com a corrente e o pingente de crisântemo visíveis, ela usava um pulôver verde-oliva, uma saia branca até o joelho, meia-calça preta e botas de cano curto. Aparentemente estava calma, mas o corpo mostrava alguns indícios de preocupação – a perna balança em ansiedade, suspiros pesados escapavam com mais frequência que o normal.

–Eu já falei que não precisa se preocupar. – Sesshoumaru falou tranquilamente – E nem precisava trazer isso.

Sentada no banco do carona no carro de Sesshoumaru, a garota olhou para isso – uma das garrafas de vinho que havia trazido de Nagoya.

–Eu gostaria de causar uma boa impressão na sua família. – ela falou tímida e pausadamente, como se estivesse treinando as palavras na língua padrão.

Um momento de silêncio se fez entre eles.

–O que você achou do que eu falei? Meu sotaque tá forte? Você sabe que eu fico nervosa e começo a falar no meu dialeto. Não quero que a sua família pense que eu não sei falar japonês.

O rapaz balançou a cabeça.

–Você teve problemas com o trabalho do seminário ou deu tudo certo hoje?

–Oh... – ela coçou a cabeça – Sim, deu tudo certo. Até agora sem problemas. Ah, eu vi Inuyasha hoje. O coitadinho parecia exausto. Ah, também encontrei o Hosokawa-sensei. Ele me procurou, na verdade.

Sesshoumaru a olhou discreta e curiosamente de soslaio.

–O que ele queria?

–Ele me ofereceu uma chance de estágio. E eu preciso fazer um ainda. Ele me pediu pra mandar os documentos neste fim de semana.

–Ele pediu isso só para você ou mais alguém?

–Hm... – ela ponderou por alguns minutos – Eu não perguntei. Fiquei tão feliz com a chance que só agradeci.

–E você vai passar o fim de semana organizando os documentos. – não era uma pergunta.

–Bem... eu tenho que fazer isso, não? Mas não deve ser muita coisa. Vou aproveitar o que eu fiz da outra vez pra poder passar um tempo com você. – ela disse com um tom de voz confiante no começo e que ficou adoravelmente tímido nas últimas palavras.

Outro confortável silêncio se fez.

–Então... você não tem nada mais para fazer hoje.

–Além de tomar vinho e jogar go com o seu avô? Não.

O carro entrou na propriedade minutos depois e Sesshoumaru em uma área reservada para veículos perto do jardim.

–Espere aqui. – ele pediu e saiu do carro, dando a volta nele para abrir a porta para ela.

–Eu não acredito que você continua a fazer isso. – ela comentou baixinho – O seu avô está por perto?

–Ele está vendo de uma das janelas. Quero mostrar como você é bem tratada.

Rin reprimiu a vontade de rir e deu a mão para ele guiá-la até a entrada, a outra segurando a garrafa de vinho.

–Você não precisa fazer isso, sabe? – ela voltou a falar de uma forma mais natural, mais calma, mais suave – Segurar minha mão... Abrir a porta do carro pro seu avô ver... Você sempre me tratou muito bem desde que nos conhecemos, apesar de não conversarmos muito.

Ao pararem na entrada, o rapaz segurou o rosto dela entre as mãos.

Antes que os lábios dele encostassem nos dela, a porta da entrada da mansão se abriu e o rosto sorridente do avô apareceu entre eles.

Sesshoumaru apenas continuou com os olhos fechados em irritação, mãos ainda no rosto dela, agora assustada com a intromissão.

–Momento love-romantic! – o outro bateu palmas e falava numa voz divertida – Beautiful, beautiful...

Os dois se afastaram e ficaram respeitosamente lado a lado na frente de um idoso com um velho kimono cinzento e com as mãos por dentro das mangas. O rapaz estreitou os olhos e falou numa voz de desprezo:

–Você ainda não se arrumou? Vai ficar vestido assim?

O avô acenou com indiferença, como se aquele gesto insinuasse que mais ninguém ligava para aquela formalidade.

–Estou em casa, eu me visto como quiser... – ele deu um sorriso, aproximando-se dela e pegando a outra mão dela, momentaneamente ignorando a garrafa de vinho na outra para que ela notasse o sábio brilho que tinha nos olhos escuros – E que mocinha adorável você trouxe para jantar com nossa família. Presumo que você seja Nozomu-san? Seja bem-vinda à nossa humilde morada.

–Muito prazer. – ela falou num voz confiante, erguendo a garrafa de vinho depois de fazer uma rápida reverência – Trouxe uma lembrança de Nagoya.

–Oh. Que presente bom. – ele pegou a garrafa e leu o rótulo com interesse – Eu li que a safra de Aichi é tão boa quanto a de Furano.

O idoso deu passagem para os dois entrarem no genkan e tirarem os sapatos, ainda de olho na garrafa. Mal percebeu quando os dois terminaram de tirar os sapatos o aguardavam no meio da sala.

–Ah, perdão. – ele piscou inocentemente – É a primeira vez que tenho em mãos um presente como esse.

Rin olhou timidamente para o namorado, mas intimamente satisfeita pelo feito. Ele havia insistido que não era um gesto necessário.

Da escada principal, ela e Sesshoumaru viram Inuyasha descer arrumado, mas sem ainda conseguir disfarçar as olheiras depois da péssima noite que passara acordado.

–Boa noite, Rin. – ele falou apenas com a garota.

–Boa noite. – ela fez uma rápida e curta reverência, o cabelo solto encostando em Sesshoumaru com o movimento – Parece que você sobreviveu.

–Aquele desgraçado me paga, mal posso esperar o Sesshoumaru se formar pra ser meu advogado quando eu passar com o carro por cima dele. – ele coçou o ouvido com preguiça.

Rin deu um sorriso sem graça. Seria uma coisa que Sesshoumaru também diria.

–Ah, chegaram... – um mulher apareceu vestida formalmente em um quimono azul escuro apareceu na sala, o olho direito ocultado por um tapa-olho – Seja bem-vinda. Eu sou Kaede.

–Muito prazer. – ela fez outra rápida reverência – Pode me chamar de Rin-chan.

Kaede deu um sorriso gentil – era um daqueles que você conseguia sentir a confiança emanando da pessoa. Talvez tudo no rosto dela estivesse concentrado ali por não ter parte da visão.

De repente, ela virou o rosto para o lado onde estava o avô:

Oi... você nem foi se trocar? – ela falou num tom repreensivo.

O outro revirou os olhos.

–Eu estava fazendo uma pesquisa. Acabei atrasando demais. Estava lendo algumas coisas. – ele entregou a garrafa a Kaede – Deem-me alguns minutos antes de começar o jantar. Volto logo.


Era a terceira vez que Rin estava ali na sala de estar. Daquela vez, porém, estava como convidada especial.

Sentada ao lado de Sesshoumaru, ela conversava com interesse com o avô e patriarca da família, Taisho Bokuseno, sentado na ponta da mesa, e de vez em quando trocava olhares com Inuyasha e Kaede, sentados do lado oposto ao casal.

Sesshoumaru mantinha a máscara da indiferença, mas Rin sabia que se impacientava com os comentários do avô sobre problema que o namorado tinha no momento ou já teve na infância. O irmão e a madrinha evitavam rir por educação porque sabiam que haveria troco mais cedo ou mais tarde.

–Quer dizer que Sesshoumaru nunca nem falou meu nome pra você? – Bokuseno perguntou a Rin – Você ia passar chegar aqui me chamando de senhor avô?

–Bem... eu... – a garota respondeu, sem jeito – Eu nunca perguntei, na verdade. Acho que eu o chamaria de Taisho-sama mesmo.

Bokuseno olhou Sesshoumaru e falou num tom de desprezo:

–Que falta de gratidão.

–Não era importante que ela soubesse o seu nome. – o neto respondeu com indiferença.

–Que falta de respeito para com os mais velhos... – Bokuseno falou com fingido desgosto, voltando a atenção novamente para a convidada – Como ele é mal-educado, né... Rin-chan?

Uma azeitona acertou o rosto do idoso como se fosse um projétil.

–Você não acha que está falando demais, velho? – Sesshoumaru perguntou ao se armar com outra azeitona.

Armado com a mesma indiferença do neto, o avô novamente voltou a atenção para Rin:

–Você está vendo como ele é um ser sem coração, Rin-chan? – ele fingiu o drama – Por que você anda com um sujeito como esse?

Rin alargou o sorriso ao virar o rosto para Sesshoumaru. Ela tinha muitos comentários a fazer sobre o namorado, incluindo corrigir o termo "sem coração", pois sabia que aquilo era uma inverdade.

Antes de poder rebater, porém, Jaken chegou correndo na sala de estar carregando no braço vários livros e arquivos num único monte:

Bokusseno-sssama! – Jaken apareceu repentinamente na sala carregando uma pasta – O arquivo diz que um dos tiosss dela foi o honorável primeiro-minissstro na década passssada!

Bokuseno tinha um sorriso extremamente sem graça e esticou o pé para fazer Jaken tropeçar e deixar cair todos os arquivos de uma vez.

–Peço desculpas pelas trapalhadas de nosso honorável Jaken. Ele é extremamente fofoqueiro e gosta de pesquisar sobre a vida alheia.

Um silêncio mortal dominou a sala de jantar, sendo possível escutar os grilos que estavam zunindo no jardim da mansão. À mesa, apenas Inuyasha fazia barulho por causa das colheradas do misoshiro.

Tentando recuperar a "harmonia", Inuyasha perguntou:

–Alguém passa o shoyu, por favor?


–Eu não fazia a menor ideia de que você também jogava go. – Bokuseno comentou antes de tomar um gole de vinho de Aichi.

Depois do jantar, Rin se convidou a jogar go com Bokuseno na biblioteca da casa, o que o patriarca prontamente aceitou para poder conhecê-la melhor. O namorado estava do lado, em silêncio, braços cruzados. Não prestava atenção aos movimentos do tabuleiro e preferir apenas ouvir a conversa .

–Então o seu pai já está aposentado da política...

–É... – Rin sorria, ignorando que o mais velho a observava com atenção – Mas ele ainda é convidado para seminários e palestras no nosso congresso. Ele é muito... entusiasmado por algumas ideias sobre o governo no nosso país.

A garota evitou falar em quais, mas o homem sabia. Ele deu um pequeno sorriso de esperteza. Ela não queria falar na frente dele.

–Achei interessante o artigo dele sobre a decadência do nosso Império, principalmente sobre nosso primeiro-ministro. – Bokuseno comentou casualmente, tomando mais um gole do vinho – Muito interessante.

–Você investigou sobre a família inteira, Velho? – Sesshoumaru perguntou, dirigindo a palavra pela primeira vez desde que os outros dois começaram a jogar.

–Um pouquinho, um pouquinho... Você ficou chateada pelo que fiz, Rin-chan? – ele perguntou à garota.

Um rosnado de Sesshoumaru foi ouvido e Rin deu uma curta risada.

–Nem um pouco. – ela moveu uma peça branca – Acho que meu irmão faria o mesmo em outra época no caso de Sesshoumaru. Ele acredita que todo mundo aqui faz parte da yakuza.

–Do jeito que ele é um insensível sem coração, seu irmão pode pensar mesmo isso.

Rin olhou timidamente o namorado.

–Ele pode ser ou parecer um insensível para alguns, mas eu sei que ele gosta muito de mim.

A resposta de Bokuseno foi um sorriso e uma discreta olhada de soslaio ao neto, ainda de braços cruzados e olhos fechados na poltrona ao lado da namorada. Parecia a imagem perfeita de um cão de guarda.

–E sua família quis que você viesse terminar seus estudos aqui por quê? – ele moveu uma peça preta.

–Oh... – ela mordeu de leve o lábio inferior, pensando na próxima jogada – Eu decidi, na verdade. Meus pais não interferiram.

O mão de Bokuseno paralisou antes de alcançar o tabuleiro na vez dele.

–Que interessante. – ele murmurou – Eu havia esquecido que essa é uma atitude dos progressistas. Eles não devem ter obrigado a escolher um curso de elite na faculdade, não?

–Oh, não. De forma alguma. – ela balançou as mãos como se ele tivesse que apagar aquela ideia sobre os pais dela – Eu escolhi por causa de uma pessoa e acabei gostando. Mas se acontecesse de não gostar ou não querer mais, eu podia simplesmente largar e fazer outra coisa. Quando criança, eu queria ser aeromoça para viajar de graça para todos os países.

Rin deu uma curta e graciosa risada, escondida por trás da mão, sentindo os olhares de Sesshoumaru e do avô em cima dela.

–Muito diferente do nosso caso. – o avô fez outra jogada – Veja bem: nós somos uma família ligada ao Império. Somos acostumados a tradições desde a infância.

Rin sentiu o namorado se remexer inquieto ao lado dela.

–Veja o caso de Sesshoumaru, por exemplo: ainda na infância dele já havia sido decidido que ele se formaria em Direito e onde trabalharia, até com que idade ele deve morar nesta casa. Eu e o pai dele também passamos pela mesma coisa. É de família.

–Também decidiram com quem ele casaria, não? – ela perguntou num tom casual.

A garota arregalou os olhos ao ver Bokuseno engasgar na própria saliva, tossindo fortemente ao encher a taça com mais vinho e tomar um gole.

Depois de limpar a garganta, o avô perguntou:

–Ele contou sobre isso?

–Claro que contou... – ela franziu a testa, olhando confusa para Sesshoumaru – Era segredo?

–Não. – o rapaz respondeu pelo outro.

–Você parece muito calma sobre esse assunto. – o avô comentou ao tomar mais vinho – Alguns progressistas podem achar um absurdo isso, mas para nós é muito comum. Sesshoumaru também nunca quis estudar Direito como eu e o pai dele fizemos.

–Sério? – ela piscou, surpresa, e virou o rosto para encontrar o rosto do outro virado para o lado oposto.

–É por isso que ele é revoltado assim comigo. – o avô continuou.

–Eu estou aqui na sala. – o neto fez-se presente num tom de aviso. Era sinal que Bokuseno deveria tomar cuidado com o que falava.

–Mas se ele não tivesse aceitado essa tradição da família, nós não teríamos nos conhecido. – ela comentou com um sorriso.

Sesshoumaru virou o rosto para ela e ambos pareciam se comunicar através dos olhos, o que foi notado por Bokuseno.

–E... – ele pigarreou para interromper aquele momento e moveu uma peça no tabuleiro – E você chegou a conhecer Nozomu Shigure e Nozomu Keiko?

–Ah... – Rin deu um sorriso doce – Eles eram os meus pais.

Bokuseno parou novamente o movimento da mão no tabuleiro.

–Os seus pais? – Bokuseno repetiu.

–Eu fui criada pelos meus avós depois que eles morreram em Kobe. – era a vez da jogada dela – Só os conheço por fotos.

Um momento de silêncio se fez, apenas um e outro movimentando as mãos e as peças no tabuleiro.

–Pensando bem, minha família segue muitas tradições, apesar de se dizerem progressistas. – ela começou a comentar e recebeu atenção do mais velho, a mão ainda habilmente fazendo as jogadas necessárias no tabuleiro – Qualquer mulher perde o direito à casa e ao sobrenome depois de casar. Também nos incentivam a entrar na política ou a fazer cursos de elite. Ficar na região é outra coisa muito comum. Ninguém de Aichi gosta da política ou dos políticos de Kantou.

–E como você vê esses incentivos? Você quebrou uma das tradições e saiu de lá.

–Ah, eu fiz porque era necessário... – ela continuava concentrada no jogo, evitando entrar em maiores detalhes – A minha família incentiva, mas respeita os desejos de cada um. Se o senhor conhecesse o meu irmão, ia ver que ele é um professor de artes marciais sem qualquer interesse por política. Nosso pai nunca o forçou a continuar os estudos.

Um estranho silêncio se fez na sala e Sesshoumaru, estranhando, abriu os olhos para ver a namorada sorrindo alegremente e o avô olhando incrédulo para o tabuleiro.

Rin havia vencido.

–Como você fez isso? – Bokuseno deixou de lado a taça de vinho em cima de uma mesinha e Rin fez uma careta travessa ao puxar uma olheira para arregalar o olho e mostrar a língua.

–Você só ficou olhando pra minha cara e não prestou atenção no jogo. Lero-lero!

–Você é muito espertinha, né, mocinha? – ele parecia estarrecido por ter perdido um jogo pela primeira vez para aquela adversária.

–Sou a espertinha que ganhou o jogo.

Sentada, Rin balançava o corpo de um lado para o outro em uma alegre comemoração enquanto Bokuseno a observava com um brilho de esperteza nos olhos.

–Muito bem... Outra noite jogamos outra partida. – ele deu um sorriso, voltando a pegar a taça para terminar o vinho – A propósito, esse pingente que você tem é muito bonito. A mãe de Sesshoumaru também tinha um parecido.

A garota congelou no assento e empalideceu.

Sesshoumaru deu um suspiro cansado e levantou-se, estendendo a mão para ajudar a namorada a se erguer. Ela olhou para o rosto, depois para a mão, novamente encontrou o olhar dele até finalmente se decidir por aceitá-la.

–Já vai acabar nossa diversão? Ainda nem mostrei as suas fotos de infância.

O olhar assassino que Sesshoumaru lançou-lhe fez com que surgissem muitas gotas de suor no rosto de Bokuseno.

Quando viu o neto sair da biblioteca de mãos dadas com a namorada, recuperou a compostura e deu um sorriso, balançando a cabeça.

–Sesshoumaru! – Rin sussurrou num tom irritado – Por que fez isso? Nós estávamos conversando!

–Ele não ia parar de falar. E você ouviu que ele ia mostrar as fotos de infância.

Rin franziu o cenho e nem percebeu que estava subindo as escadas que levavam aos demais aposentos, até se ver diante de uma porta – a do quarto de Sesshoumaru.

–Vamos conversar mais tranquilos aqui. – ele deu passagem para ela entrar primeiro – E ele não ousaria nos incomodar.

Rin estava no meio do aposento dele – um quarto com banheiro (apenas banheira e chuveiro, como na casa dela) e sacada, mesa grande de estudo, uma pequena biblioteca, uma poltrona branca com luminária que ele provavelmente usava para ler, mesinha de cabeceira com uma pilha de livros marcados e a cama com um recamier aos pés. A sacada tinha uma porta que ia do teto até o chão que estava, naquele momento, ligeiramente aberta para deixar entrar um pouco de vento da noite. Sesshoumaru foi direto até ela para trancá-la e fechar as cortinas.

Ao se virar, encontrou Rin ainda parada no meio do quarto, evidentemente sem saber o que fazer ali.

–O que foi? – ele perguntou, aproximando-se para envolvê-la nos braços.

–É aqui que você dorme. – ela parecia meio surpresa – É diferente do que eu imaginava.

–Imaginou que fosse um castelo? – ele a puxou pela mão para a cama.

Sentou-se primeiro, apoiando as costas na cabeceira, depois estendendo a mão em um convite que ela aceitou sem pensar duas vezes, acomodando-se nos braços dele.

–Confortável? – ele perguntou, estudando o rosto dela.

–Sim... – ela deu um pequeno sorriso, mostrando uma insegurança que ele conseguiu ler bem nos olhos dela.

–O que foi?

Receosa, Rin pegou o pingente e o segurou nos dedos, levando mais alguns segundos até resolver perguntar:

–O pingente era da sua mãe?

Sesshoumaru desviou os olhos para o outro lado.

–Sim. – ele fechou os olhos – Eu quis dar de presente para você.

A preocupação e o receio começaram a diminuir no rosto dela, até ceder espaço para o costumeiro sorriso. Ele tinha pensado nela para receber algo tão especial.

–Obrigada. – ela encostou a cabeça no ombro dele – Sua família é muito simpática.

–Mesmo com aquele velho investigando sua família? – ele arqueou uma sobrancelha.

–Como eu falei: meu irmão faria a mesma coisa com você pra saber se não faz parte da yakuza. – deu uma risada e completou – Mas ele está mudado agora, então não precisa se preocupar com isso.

Assim você acredita, ele a corrigiu mentalmente.

–Eu não sabia que você não queria cursar a faculdade... – ela murmurou, o tom lento e suave da voz acompanhando uma feição mais compreensiva – Você gosta do que está fazendo agora?

Houve uma pausa prolongada e carregada. Ela chegou a morder o lábio inferior como se aquilo diminuísse algum problema que o assunto trouxesse para ele.

–Eu acabei me acostumando. – disse, por fim.

–Você já me falou que não se dá bem com o seu avô. – ela apontou – É por causa disso e das outras coisas que ele falou?

–Isso e outras coisas mais. – Sesshoumaru fechou os olhos como se aquilo o ajudasse a pensar e se expressar melhor para ela – Ele tem esses planos para mim, eu preferia não me sentir tão controlado e poder escolher meu próprio caminho.

Ao abrir os olhos, ele percebeu que Rin tinha dificuldade para manter os dela abertos. A cabeça pendia para um dos lados como se esforçasse para se manter desperta enquanto o ouvia falar.

–Deite um pouco. – ele murmurou, tirando uma parte da franja que insistia em cair em cima daqueles enormes olhos castanhos – Descanse.

Foi a última coisa que Rin ouviu antes de mover a cabeça concordando e acomodar o rosto no vão entre o ombro e o pescoço dele.


Rin abriu os olhos lentamente e respirou fundo, sentindo um cheiro diferente e agradável do travesseiro. Ao lembrar-se onde estava, virou imediatamente para o lado oposto, encontrando o rosto desperto e sereno de Sesshoumaru a observá-la. Ele, deitado de lado, aparentemente não havia adormecido.

–Achei que ia dormir o resto da noite. – ele falou tocando o rosto dela – Mas você começou a falar de comida e acordou.

Os olhos dela ficaram arregalados por alguns segundos. Será que ele havia ficado o tempo todo a observá-la?

–Impossível eu ter feito isso.

–Mas fez. – ele continuou a tocar com a ponta dos dedos o rosto dela, deslizando-os pela maçã do rosto, maxilar e queixo – Ou não acredita em mim?

Rin franziu a sobrancelha, visivelmente preocupada.

–Por quanto tempo eu dormi? – ela perguntou num sussurro.

–Um pouco mais de uma hora. – ele devolveu no mesmo tom – Você parece muito cansada da viagem ainda.

–Acho que o jantar me deixou tensa também.

Sesshoumaru deixou escapar um "tchi" de zombaria. Ela não entendera ainda que não seria um jantar tão formal e que não era necessário trazer presentes como convidada.

–Eu falei que não precisava se preocupar.

Rin mordeu o lábio inferior. Se ela dormiu tanto assim, imaginava que já fosse extremamente tarde e que todo mundo já tivesse se retirado.

–Hm... acho que preciso ir pra casa.

Viu-o parecer ligeiramente confuso, um sentimento que passou rápido, mas que conseguiu reconhecer nos olhos dele.

–Você vai me fazer ir até a cidade quando pode passar a noite aqui?

Um momento de silêncio se fez, com ela piscando suavemente diante do rosto sério dele.

Depois apoiou-se nos cotovelos e virou a cabeça para os lados como se procurasse algo.

–Hmm... eu não tenho roupa pra dormir aqui.

Alguns segundos se passaram até Sesshoumaru sentar-se na beirada da cama para ficar de costas. Um momento depois, ele encontrou o olhar dela ao virar o rosto para encará-la por cima do ombro:

–Eu arranjo algo para você.

Minutos depois, ela tinha em mãos um yukata, uma toalha de rosto limpa e uma escova de dentes e caminhava ao toalete do corredor onde ela poderia se trocar.

Lá, ela levou algum tempo observando as próprias feições no espelho enquanto escovava os dentes. Era um yukata branco de algodão de alta qualidade com flores vermelhas nas mangas e na barra inferior. Ficava um pouco grande nela, o que a fez suspeitar de que pertencia a Sesshoumaru.

Depois de escovar os dentes e enxaguar a boca, ela tratou de limpar bem o rosto por alguns minutos, voltando a olhar as próprias feições pelo espelho: o rubor estava ali quase como uma marca registrada e os olhos estavam brilhando com... ansiedade?

Olhou por cima do ombro para trás como se pudesse ver o corredor que levava ao quarto de Sesshoumaru através das paredes.

Instantes depois, ela estava na frente do quarto dele de novo, batendo levemente na porta.

Quando ele abriu, já trajando um pijama azul escuro, as suspeitas dela sobre o yukata se confirmaram quando percebeu que ele demorou alguns segundos antes de dar passagem para ela. Era como se naquele momento ele estivesse hipnotizado por vê-la usando uma roupa dele.

Ao entrar e ficar no meio do quarto, como havia feito horas antes, escutou Sesshoumaru girar a chave no trinco.

–Lado direito ou esquerdo? – foi a pergunta dele.

Rin parecia confusa.

–Da cama. – ele apontou com a cabeça – Lado direito ou esquerdo?

Direito ou esquerdo? Qual era o lado direito mesmo? Espere um pouco... Eu escrevo com a mão direita, então eu acho que a mão direita está no lado direito... Ou será que eu escrevo com a esquerda?, eram as indagações dela no momento. A garota deu um suspiro e murmurou um "esquerdo" como se estivesse pronunciando a palavra pela primeira vez.

Ambos deitaram de lado na cama, um de frente ao outro e em silêncio. Ela o observava em alerta, ele mantinha a serenidade do mundo no rosto.

–Achei que ia voltar a dormir. – ele murmurou – Ou perdeu o sono?

Rin franziu a testa como se estivesse preocupada.

–Algum problema? – Sesshoumaru estendeu novamente a mão para, com a ponta dos dedos, tocar a região levemente ruborizada do rosto dela.

–Nenhum... – ela fechou os olhos como se quisesse apreciar aquele momento, depois deu um pequeno sorriso – Só achei que íamos dormir abraçados.

Houve dois ou três segundos de pausa no movimento da mão dele.

Depois, ela se viu ser puxada contra o corpo dele, as costas pressionadas contras o peito dele, o queixo de Sesshoumaru apoiado no ombro dela. Depois de cobrir os dois corpos, os dedos dele começaram a deslizar pelo antebraço dela numa carícia que Rin conhecia muito bem e que gostava.

–Dormir assim? – ele perguntou e provocou um zunido no ouvido dela ao beijá-lo.

Assim é bem melhor. – ela murmurou com um sorriso de satisfação – Eu gosto dos seus braços.

O rapaz inalou o perfume no pescoço, encontrando a corrente que havia dado a ela, observando os detalhes do pingente de crisântemo que estava virado naquele local. Rin sentiu a ponta do nariz dele deslizando no cabelo dela, inalando aqui e ali, e, em seguida, os lábios se fecharem no lóbulo da orelha.

Um gemido fraco escapou de Rin e ela precisou apertar o lençol que os cobria com força, os olhos fechados e trêmulos.

–Gosta disso também, Rin? – ele perguntou no ouvido dela.

A resposta dela foi puxar o rosto dele para fazê-lo encontrarem as bocas, o calor e os gemidos tornando-se mais evidentes e os únicos sons no quarto.

–Você não está mais com sono. – ele declarou ao parar o beijo e deitá-la na cama de costas, posicionando-se por cima dela, os braços sustentando o peso do corpo.

Sentiu as mãos dela tocarem o peito e subirem ao rosto para aproximá-lo do dela e se beijarem novamente.

Sesshoumaru afastou-se e tirou alguns segundos para admirar o rosto corado dela, o cabelo espalhado na cama, o yukata com tecido amarrotado cobrindo o corpo de Rin.

–O que... o que foi? – ela perguntou num sussurro.

O rapaz aproximou a boca da orelha dela:

–Você fica tão bem assim. – ele fez os lábios trilharem da orelha, pelo maxilar, parando no queixo, atento aos suspiros dela – Tão bem comigo.

Rin parecia extremamente receptiva ao toque dele. Mesmo suspirando e de olhos fechados, ela mantinha um largo sorriso.

–Não imaginava que hoje seria minha primeira vez. – ela deixou escapar outro suspiro – Eu podia ter vindo com uma roupa mais especial pra você tirar.

Sesshoumaru congelou em cima dela, os lábios colados e paralisados em uma das bochechas.

Ao senti-lo tenso, ela estranhou:

–Sess?

Novamente, ele se sustentou por cima dela para encarar. Ele parecia surpreso com a fala dela.

–O que você disse? – ele perguntou no tom sussurrado mais sério dele.

A testa dela ficou franzida com a pergunta. Por que ele havia ficado daquela forma?

–Eu não sabia que ia passar a noite aqui. Podia ter vindo com outra roupa e não estaria agora com um yukata seu.

–Não estou falando disso. – a fala dele era suave ao levar a mão como se quisesse amparar a face, o polegar acariciando a maçã do rosto – Você é virgem ainda?

Rin sentiu o rosto ficar ainda mais quente, de vergonha talvez, temendo que aquilo, por algum motivo desconhecido, fosse uma repreensão.

–Hmm... sim...? – ela tentou timidamente num tom que soava como uma pergunta, uma sobrancelha arqueada em dúvida.

Como ele parecia incrédulo, ela tratou de completar depressa:

–Hmm... eu nunca... Aki ficou doente quando fiquei maior de idade. Nós nunca... ficamos juntos.

A cabeça de Sesshoumaru caiu no ombro dela, deixando-a ainda mais preocupada.

–Sess, você tá me deixando nervosa assim... – ela murmurou meio envergonhada, meio ressentida.

Escutou-o suspirar pesado.

–Não fique. – ele murmurou ainda sem se mover – É que eu lembrei que não tenho preservativo aqui comigo.

–Oh... – ela piscou várias vezes, olhando o teto do quarto – Isso é um problema, não?

O rosto dele virou para o lado dela e os dois encontraram os olhares.

–Você toma alguma coisa? – ele perguntou.

Novamente ela ficou preocupada, a incerteza agora dominando os olhos.

–Nunca tomei. Eu... eu nunca precisei tomar.

A cabeça dele caiu de novo no ombro dela. Parecia que ela estava errada e sentiu um incômodo nó se formando no estômago.

Remexeu-se para sair debaixo dele e da cama.

–Acho melhor mesmo eu voltar pra casa. – ela murmurou num ressentimento – Eu posso chamar um táxi.

Sesshoumaru balançou a cabeça e impediu de se mover um milímetro.

–Perdão. – os olhos dourados tinham um brilho mais ardente – Eu só pensei que, se soubesse que estaria aqui na minha cama, não custava nada ter parado alguns minutos para comprar preservativos naquelas máquinas automáticas quanto fui buscá-la na estação.

–Hm... Desculpe? – ela tentou de novo, sem mesmo entender o motivo de estar se desculpando.

Sesshoumaru tomou os lábios dela de novo, ajustando o peso em cima dela.

–Não se desculpe. Está tudo bem. – ele sussurrou, boca próxima ao ouvido dela – Posso continuar a tocar em você?

Rin moveu a cabeça num "sim" meio vago, e Sesshoumaru voltou a beijá-la.

Boca e boca, lábios e lábios, língua e língua, as mãos deslizando pelo corpo vestido da garota e os braços dela envolvendo o pescoço do rapaz. Corpos unidos e esquentando com cada carícia que ele fazia nela e os arranhões que Rin fazia no pescoço dele.

–Ah... Sess... – ela se remexeu quando sentiu os dedos dele tocaram uma região extremamente sensível do ventre e que provocava cócegas nela, a região contraindo com o toque dele por cima do tecido.

–Calma... – a respiração dele estava misturada à dela – Já falei que está tudo bem.

Abriu o yukata e a deixou exposta – um conjunto preto de sutiã e calcinha contrastavam com a pele dela.

Rin arregalou os olhos quando as mãos dele começaram a massagear o seio encoberto. Ela fechou os olhos quando sentiu as mãos quentes dele deslizando na pele nua do ventre, parando novamente no seio.

–Rin... – Sesshoumaru parou de beijá-la e a encarava com uma expressão ligeiramente zangada – Yukata não é feito para dormir com roupa de baixo.

–Eu sei... – ela ofegou – Desculpe...

Aproximou o rosto do pescoço e começou a beijar o local, aproximando-se depois do ouvido para falar:

–Tire... Tire pra mim.

Rin o olhou meio extasiada, o rubor mais forte.

–Vamos, Rin. Tire pra mim... – ele abaixou uma das alças do sutiã e sugou a pele descoberta do ombro, escutando um gemido da namorada antes de perceber que ela arqueava o corpo para ficar sob os cotovelos e tirar habilmente a peça, jogando-a para o lado segundos depois.

O olhar dele se concentrou nos seios expostos como se estivesse fascinado, tentando decidir o que fazer com eles.

Sem esperar mais um segundo, os lábios dele se fecharam sobre o bico do seio esquerdo, arrancando um suspiro dela.

–Hmm... Sesshoumaru... – ela arqueou o corpo, ofegante.

O polegar dele brincou com o outro mamilo e ela fechou os olhos para aproveitar a agradável sensação de ter as mãos e boca do namorado no corpo dela.

Deixou escapar uma reclamação quando ele deixou de sugar o seio para beijá-la, as mãos dela entre os fios de cabelo prateado.

A mão direita dele deslizou entre os dois e começou a tocá-la na região mais sensível entre as pernas, por cima da lingerie.

Rin ofegou contra a boca dele.

–Relaxe, Rin. – Sesshoumaru falou no ouvido dela – Relaxe. Você vai gostar.

Uma confirmação de cabeça veio por parte dela, a respiração de ambos ofegante com cada movimento.

No outro segundo, ele se afastou e fez menção de tirar a única peça que a cobria.

–Sess... – ela estremeceu e tentou parar a mão dele – Você disse que não tem nada aqui pra gente...

–Calma... – pela primeira vez para ela, ele soou ligeiramente ofegante como se tivesse corrido uma maratona – Confie em mim.

Rin afundou a cabeça no travesseiro e fechou os olhos, sentindo os dedos de Sesshoumaru tocarem nas laterais da calcinha e deslizá-la entre as coxas e as pernas.

Em seguida, ele estava novamente por cima dela, o rosto próximo para beijá-la no pescoço e mandíbula. A mão dele voltou a tocá-la entre as pernas e ele não conseguir conter um gemido.

–Deuses... você está molhada. – nem ele conseguiu reconhecer a própria voz de tão rouca que estava.

Novamente, Rin puxou o rosto dele para beijá-lo, o corpo ainda mais quente e suado, os dedos enrolados no cabelo prateado, sentindo tudo ao mesmo tempo que ele continuava os estímulos com os dedos.

Alguns minutos depois, ele sentia o corpo dela ainda tenso e afastou o rosto para sussurrar:

–Vamos, Rin. – ele aproximou-se do ouvido – Pode gozar.

De olhos fechados, a resposta dela foi virar o rosto para o lado.

–Teimosa. – ele continuou aos sussurros – Vamos logo.

Minutos depois, ele teve que voltar a beijá-la para conter um grito de prazer dela, até senti-la mais relaxada e menos ofegante contra os lençóis dele.

Sem perder mais um segundo, ele tirou a parte de cima do pijama e atirou para longe, posicionando-se entre as pernas dela.

Ao sentir o membro dele duro, ela entendeu que ele queria um pouco de alívio também. Envolveu a cintura dele com as pernas, recebendo beijos no pescoço e próximo da orelha, onde ele sabia que ela gostava de ser beijada, como agradecimento.

As costas dele foram alvo das unhas dela, recebendo arranhões aqui e ali a cada movimento que ele fazia contra o centro dela.

Algum tempo depois, era ele quem precisava se conter para que a casa adormecida não o ouvisse quando alcançou o primeiro clímax daquela noite.

Isso porque os dois não pararam as carícias, beijos, arranhões nas costas, leves mordidas no pescoço ou no lóbulo da orelha dela. Ficaram daquela forma até metade da madrugada quando, exaustos, relaxaram nos braços um do outro e decidiram que era hora de dormir, Rin completamente despida e com um sorriso satisfeito no rosto, um único lençol cobrindo os dois corpos.