Nota da Autora: Estou bem inspirada para esta história nos últimos dias, acho que vocês notaram, né? :) Já até comecei aqui o capítulo 24 (tem 1/3 já escrito).

Espero que gostem deste capítulo levemente parecido com o que foi publicado na primeira versão :)

Sobre a questão do grupo: ainda estou organizando as coisas. Cheguei a criar aqui, mas ainda estou aprendendo como mexer nas funções. Assim que estiver ok, eu envio o link para vocês e passarei a atualizar por lá.

Obrigada a quem comentou no último capítulo: Aninha, vicman, autumnbane, Jo-anga, Hellobraga, isabelle36, kahdi, Yayoi Todaka, Priy Taisho, Barbara Rettore, Fidelix0908 e Dica-chan. Acredito que todo mundo tenha recebido a parte extra que escrevi com o Sesshoumaru acordando a Rin. Adorei os comentários por PM, hahaha.

Um beijinho científico pra Kuchiki Rin :D

Espero que gostem do capítulo e que possam dizer o que acharam, especialmente sobre o final.


UM CAMINHO PARA DOIS

CAPÍTULO 23

Seguindo o caminho.

Quando Sesshoumaru acordou, a primeira coisa que fez foi olhar pela janela. A julgar pelo céu escuro, acreditava que ainda era cedo... Até notar que o tempo estava nublado e seria mais um dia de chuva.

Pegou o celular para ver as horas, acionando a tela principal com uma foto de Rin dormindo, tirada na semana anterior. Era agora papel de parede no aparelho e ele estava extremamente satisfeito.

As sobrancelhas arquearam levemente. Já passava das sete da manhã. Havia dormido uma hora e meia a mais do que o costume. Muito, muito tarde. Nesse horário já deveria ter voltado do treino e começado a se arrumar para...

A responsável pelo atraso remexeu-se sonolenta perto dele, suspirando uma reclamação qualquer. Uma cabeleira longa e negra cobria o rosto e estava espalhada pela cama.

Certo, certo. Agora se lembrava e entendia perfeitamente bem o motivo de ter acordado tão tarde. Não que ele estivesse reclamando por ela ser o motivo do atraso. Se todas as manhãs fossem daquela forma... Tê-la nos braços, sentir o corpo dela aquecido... Flashes da noite passam pela mente dele e lembrou-se de uma palavra em especial:

Kanbi. – ele murmurou.

Rin sussurrou mais alguma coisa e virou o rosto para o outro lado, a testa franzida em irritação. Era como se dissesse que não queria ser acordada ainda.

Mesmo com o rosto virado para o outro lado, ele podia vê-la de um bom ângulo. Corada, respirando profundamente e mergulhada num sono tranquilo. A vontade era de acordá-la e ver qual a reação dela ao perceber onde estava, mas Rin merecia descansar.

Por enquanto.

Fazendo um certo esforço para sair da cama sem acordá-la, ele sentou-se e olhou pela janela. O outono chegara, não? Era melhor se preparar para a onda de resfriados que atacava os habitantes de Tokyo nessa época.

Não iria treinar. Teria que se preparar para levar Rin relutantemente para casa e depois ir para a faculdade e para o estágio.

Olhou por cima do ombro e a viu ainda de olhos fechados. Parecia a tranquilidade em pessoa.

O yukata que ela usava na noite anterior estava jogado no chão. Em algum momento da noite aquilo foi parar ali. Pegou-o e inalou por breves segundos antes de dobrá-lo e deixá-lo em cima da cama.

E agora?

Tinha que ir para a faculdade, nem que seja para ver as aulas da tarde, resolver algo do Centro e... muito provavelmente sair com Rin, é claro. Pelo menos um jantar.

Mas antes tinha que preparar um banho para dois.

Vestiu-se depressa com outro yukata, uma peça azul escura que ele usava com mais frequência. Saiu do quarto e desceu as escadas para ir para a cozinha, lugar onde a família achava que ele nunca tinha pisado antes. Lá, encontrou Jaken à pia e de costas para a porta, terminando naquele momento de preparar uma bandeja com alguns temperos para colocar à mesa do café.

Ao virar-se e dar de cara com Sesshoumaru, o homenzinho quase atirou a bandeira para o alto, tamanho o susto que levou.

–S-S-S-S-Sesshoumaru-sa-sa-sama! O que faz por aqui?

A pausa feita por Sesshoumaru foi suficiente para o outro ficar suado e perceber que não deveria perguntar aquele tipo de coisa. Qual era o problema se ele estivesse ali? Ele ainda morava naquela casa também, afinal de contas.

–Precisa de alguma coisa, Sesshoumaru-sama?

–Café da manhã sem carne para Rin. Vamos descer depois. Preciso das roupas dela também.

–O senhor precisa delas? – ele perguntou idiotamente.

Sesshoumaru estreitou levemente os olhos.

–Ah, claro. A senhorita Nozomu precisa delas. – ele rapidamente se corrigiu.

–Arranje também um relaxante muscular.

–Ah... eu vou levar o que o senhor geralmente toma.

–É para Rin.

–Oh, ela precisa? O que aconteceu com ela? Machucou a coluna?

De novo Sesshoumaru fez silêncio, erguendo uma sobrancelha até notar uma expressão estranha de entendimento e de surpresa no rosto do outro.

–Suponho que tenha algum aqui em casa ou que possa pedir para alguém comprar. – ele ignorou a forma como Jaken parecia tentar entender o que havia acontecido com a namorada – Deixe no meu quarto para Rin tomar.

Voltando para o quarto, encontrou Rin ainda a dormir como se não existisse faculdade na vida, mergulhada num sonho sem preocupações. De madrugada, ela sonhava com comida e falava alto o nome dos pratos a ponto de acordá-lo.

Aproximou-se da cama e sentou-se na beirada, deslizando a mão pelo rosto dela, o polegar contornando suavemente a maçã do rosto.

–Venha tomar banho. – ele avisou suavemente.

–Hmm... – ela reclamou e pegou um travesseiro para cobrir a cabeça.

–Estarei esperando.

Sem resposta.

–Não demore.

Rin nem se moveu.

Balançando a cabeça, ele levantou-se e andou até o outro cômodo do quarto – uma área com a banheira, uma ducha, água limpa no balde para lavar-se antes de entrar. Tudo em ordem. Um pequeno aparelho de som também estava ali. Boa hora para escutar algum compositor oriental. Uma melodia de Osawa Seiji começou a tocar.

Por alguns segundos ficou apenas escutando, enquanto a água quente enchia a banheira lentamente. Em certa altura apropriada, ele molhou os dedos para se certificar se estava com temperatura adequada.

Tirou o yukata, entrou na água e fechou os olhos, escutando a música.

Pelos deuses... Que noite maravilhosa que tivera...


Rin, sonolenta, suspirou profundamente quando estendeu a mão e sentiu o outro lado da cama vazio.

O primeiro olho abriu, o segundo completou a tarefa preguiçosamente.

Já havia amanhecido, mas, pela luz que conseguia passar pelas cortinas, notou o quão nublado estava. Provavelmente teria chuva o dia todo em pleno outono.

–A aula! – ela sentou-se subitamente na cama.

Um momento de realização veio a ela e percebeu que estava no quarto de Sesshoumaru e que não havia aula pela manhã naquele dia. Somente à tarde teria que participar da última aula de um seminário optativo.

Se tivesse algum compromisso, sabia que Sesshoumaru, por mais que quisesse assustá-la para vê-la se descabelar para arrumar-se depressa, não a deixaria dormir até tarde depois de...

Os olhos arregalaram-se quando ela lembrou o que havia acontecido.

Kyaaaaa, comemorou em silêncio, abrindo a boca parar fingir um grito de comemoração.

Outra coisa se passou na cabeça dela. A voz de Sesshoumaru. E ele dizia...

Venha tomar banho.

Olhou na direção da outra porta do cômodo – estava entreaberta e, se fizesse um pequeno esforço, conseguia ouvir uma música clássica tocando.

Numa primeira tentativa ao sentar-se, sentiu o músculo interno da coxa esquerda contrair. Tentou ignorar por um momento, até tentar ficar em pé e sentir que teria um longo dia pela frente.

Vestiu o yukata de Sesshoumaru. Seria mais uma peça que ela levaria para casa, decidiu ao abrir os braços expansivamente no meio do quarto.

Antes de tomar banho, passou antes no toalete do corredor. Lá, sentiu novamente a coxa dolorida ao sentar-se no vaso.

Ao olhar-se no espelho, não conseguia conter o sorriso. Não havia nenhuma mudança física, mas ela sentia-se tão contente que parecia que ia passar o dia inteiro sorrindo, o que provavelmente atrairia a atenção e as perguntas de muita gente. Pensou imediatamente nas perguntas indiscretas de Miroku e em como Sesshoumaru poderia fazê-lo calar apenas com o olhar.

Minutos depois, ao abrir a porta para voltar para o quarto, Rin deu de cara com Jaken parado com a roupa dela nos braços, tudo meticulosamente dobrado e passado num pequeno monte e com uma cartela de comprimidos no topo.

Ahem. Bom dia. – ele falou num tom extremamente sério.

Passados alguns segundos de susto, foi a vez dela falar com um sorriso forçado no rosto corado.

–B-Bom dia, Jaken-sama.

–Sua roupa. – ele esticou os braços como se fizesse uma oferta para ela.

–Ah, obrigada. – ela aceitou, mantendo o sorriso sem graça.

Estava tudo em aparente ordem, com exceção daqueles comprimidos. Franziu a testa e pegou a cartela para olhar o nome.

–Pra que é isso?

Ahem. – o outro limpou a garganta novamente – Sesshoumaru-sama avisou que você precisaria de um relaxante muscular. Esse aí é muito bom, principalmente se estiver com dor nas costas por ter dormido mal.

Os olhos de Rin viraram dois riscos verticais numa expressão cômica.

–Precisa se cuidar, tomar remédio, beber bastante água. Não pode ficar com dor no corpo e sem poder andar direito, não pode. – ele foi embora e deixou Rin no corredor, tentando ainda se recuperar da conversa.

Deu um suspiro pesado e voltou para o quarto, andando lentamente até a cama para pousar a roupas dobradas.

"Estarei esperando" soou na mente dela, o que a fez andar até o banheiro do quarto.

Ao colocar a cabeça na fresta da porta, viu Sesshoumaru de olhos fechados, concentrado em alguma coisa.

–Oi... – ela chamou a atenção dele, sentindo-se tímida por interromper aquela meditação – Bom dia.

Os olhos dourados se abriram e fitaram-na.

–Vem. – ele convidou.

Rin entrou de vez e aproximou-se da banheira, sentando-se na beirada para tocar a água com a ponta dos dedos.

–Quer entrar? – foi a pergunta dele.

Viu-a prender o cabelo num coque bagunçado e levantar-se para tirar o yukata, observando como as costas nuas apareciam à medida em que o tecido deslizava pelos ombros, braços e cintura. Apenas a corrente de ouro com o pingente de crisântemo ficaria no corpo.

Quando ela levantou-se para sentar-se no banco e pegar o pequeno chuveiro para lavar-se com água fria, ele a parou:

–Não precisa se lavar. – Sesshoumaru explicou – A água será drenada depois.

–Oh... – ela parou. Ainda bem. Ela não ia aguentar ficar muito tempo sentada com a dor na coxa.

–Pode entrar, Rin. – ele estendeu a mão.

Mesmo com uma pequena ajuda dele, não conseguiu evitar franzir a testa no momento em que levantou a perna, como se testasse até que altura poderia não sentir qualquer dor. Obviamente aquilo foi notado por Sesshoumaru.

Até para sentar-se, de frente para ele, ela comprimiu os lábios como se não quisesse gemer. Estava com vergonha de dizer o que havia acontecido.

–A água não está boa? – ele quis saber.

–Está ótima. – ela fechou os olhos por um momento para ter uma expressão tranquila e sonhadora – Tão quentinha...

Depois viu-o estender a mão para ela. Tinha o olhar extremamente sereno, mas mesmo assim a viu intimidar-se e corar por alguns meros segundos.

Continuou com o gesto até ela aceitá-lo, pousando a mão dela na dele, e ser puxada para ficar de costas contra o peito de Sesshoumaru.

Mais um silêncio se fez, em que ele lavava o ombro dela e notava como ela aparentemente se sentia – meio tímida, meio envergonhada. Ela era tagarela e agora não falava nada. Ele detestava aquilo, por mais divertido que entendesse o motivo.

–Você também deixa de ser tagarela quando está tomando banho?

–Não. – ela balançou a cabeça por segundos para dar ênfase – Eu não tenho muito o que falar, na verdade.

Enquanto a escutava, ele começou a beijar o ombro, passando depois a ponta do nariz na orelha dela.

–Você fala de comida quando dorme. – ele começou a mordiscar o lóbulo e a viu instintivamente expor o pescoço para que ele se prolongasse ali – Acho que você não é vegetariana nos sonhos.

–Que absurdo. – ela fez um beicinho e afastou a cabeça para que a orelha não fosse mais alvo dos dentes dele – Isso não é verdade.

–Acredito que você estava ansiando por um prato de unadon. – ele voltou a atacar o lóbulo da orelha.

–Unadon? Blergh! – ela reclamou infantilmente.

–E também okonomiyaki.

–Nunca comi na vida.

–E falou que sukiyaki era "bom demais". Exatamente dessa forma.

–Não gosto nem do cheiro de sukiyaki.

–Hunf. – ele proferiu – Parece que está me acusando de ser mentiroso.

–Hunf. – ela o imitou, mas sem tanto efeito. Era a forma que encontrou para encerrar aquela conversa.

Ficaram em silêncio por alguns minutos, apenas ouvindo música clássica. Ela reconhecia aquele som. Era o mesmo que ele escutava no carro.

–Onde está doendo? – ele perguntou suavemente, deslizando a mão na coxa direita dela – Aqui?

Rin arregalou os olhos e sentiu o rosto aquecer.

–Incrível como você nota essas coisas.

–Eu a vi hesitar duas vezes na hora de levantar a perna de ontem para hoje. – ele começou a massagear a área – Se sair assim hoje, as pessoas vão notar pelo seu andar o que pode ter acontecido.

–Foi por isso que Jaken-sama me deu o remédio. – ela atestou com um pequeno sorriso.

–O nome dele é Jaken. – ele a corrigiu sem se irritar, passando a mão pela outra perna ao notar que a massagem não fazia tanto efeito quanto queria se o local estivesse dolorido – Você pode tomar aquele relaxante depois do café da manhã.

Ao tocar a outra perna, no entanto, viu-a fechar os olhos e apertar os lábios para não gemer de dor, num pedido claro para que ele parasse o que fazia.

–Não se mexa. – ele avisou, aplicando pressão nos pontos doloridos enquanto ouvia as reclamações de dor – A água quente vai ajudar também.

Demorou longos minutos, mas finalmente sentiu Rin relaxar nos braços a ponto de ficar sonolenta.

–Obrigada. – ela murmurou enquanto tentava novamente acordar, depois virou o rosto para poder encontrar o olhar dele – Não sabia que meu namorado era massagista também.

–Você sabe que eu treino artes marciais. – ele explicou com uma sobrancelha erguida – Tenho que saber esse tipo de coisa.

–Você então poderia ter feito uma massagem no seu pescoço naquele dia que dormi em cima de você no antigo apartamento? – ela corou ao lembrar daquela ocasião. Foi a primeira vez que havia dormido nos braços dele, mesmo que de forma não-romântica.

–Eu preferi omitir a informação para ganhar uma massagem sua. – ele falou calmamente, levantando a mão dela da água para beijar de leve – As suas mãos são quentes. Parece que está sempre com febre perto de mim.

–Você não quer ser meu massagista particular?

–Depende. – ele mantinha a expressão séria – Isso me dá direito de tocar no seu corpo com bastante frequência?

A pergunta fez com que ela corasse e, timidamente, concordasse com a cabeça.

–Na verdade, você não pode ficar com dor nas pernas, mas é perfeitamente compreensível sendo a sua primeira vez. – ele explicou para mudar de assunto, aplicando mais pressão em movimentos lentos para ter mais eficácia, notando os nós dos músculos menos tensos a cada momento – Não se preocupe que não vai mais doer nas próximas vezes.

–"Próximas vezes". – ela repetiu com um pequeno sorriso. Aquilo significava sim mais de uma vez. Ela e Sesshoumaru ficariam várias vezes juntos.

–Sim, nas próximas vezes. – ele reafirmou depois de parar de vez o movimento debaixo d'água – Melhorou?

Rin confirmou com a cabeça.

Ficaram daquela forma, em silêncio, ambos com os olhos fechados enquanto escutavam música até que ela resolveu romper o silêncio:

–A sua casa parece ser muito antiga.

–A casa existe desde a Era Taisho. Era do filho mais novo do Imperador Taisho.

–Mas o seu banheiro é novo. – ela apontou ao observar alguns detalhes do estilo – Foi uma reforma?

–Só eu tenho o banheiro no quarto. – ele explicou enquanto molhava, com movimentos lentos, os ombros e os braços dela – Lembra quando eu falei que eu durmo pouco?

–Hm. – ela confirmou de leve com a cabeça.

–Eu costumava treinar cedo e tomava banho em horário considerado impróprio para minha família.

–"Cedo" como em muito cedo?

–Extremamente cedo. – ele beijou de leve o ombro dela – A casa toda acordava quando eu estava tomando banho. A acústica de uma parte da casa é muito ruim por ser antiga.

–E então decidiram que você tinha que ter um banheiro no seu quarto.

–Sim. – ele confirmou a teoria dela – Meu avô conseguiu aprovação para modificar a planta há alguns anos.

–Eu também tenho um banheiro no meu quarto, mas já era dele mesmo.

–É? – ele a incentivou a continuar.

–É. A casa é da era Shōwa e a família Nozomu inteira morava junto. Meu pai contou que era muita gente pra poucos quartos. Ele teve dezesseis irmãos. As irmãs ficavam num quarto só e ele tinha que dividir o outro com nove irmãos. Por isso cada cômodo tinha um banheiro próprio.

–E é o seu quarto agora é o das irmãs do seu pai?

–Sim. Meu pai mora lá desde a infância. Ele era o mais velho dos irmãos. Nós mudamos pra lá depois do acidente em Kobe.

–Então você ainda tem uma casa? Uma casa dos seus pais biológicos?

–Sim. – ela confirmou com a cabeça – Hashi vai ficar com a atual casa. A outra está alugada há anos pra uma família, mas em teoria eu ficaria com ela.

Remexeu-se desconfortável entre as pernas dele.

–Eu iria morar lá se eu tivesse casado com Aki. – ela comentou suavemente.

A mão dele parou de molhá-la nos ombros e nos braços por um momento. Depois de dois segundos, ele voltou aos movimentos lentos.

–Entendo.

Rin não havia comentado, mas ele sabia que ela também queria dizer que a casa seria dela quando ou, melhor dizendo, se voltasse para Nagoya.

Nee... – ela começou.

–O que foi?

–Eu sei que durante a semana é mais complicado para nos encontrarmos e que combinados de nos encontrar mais aos fins de semana, mas... você quer sair pra jantar hoje? Podemos ir com seu irmão e os nossos amigos ao nosso café.

– "Nossos amigos"... "Nosso café..." – ele repetiu com certo interesse na sonoridade da frase, sabendo sobre qual local ela se referia – Eu não sei se meu irmão e Kagome viriam. Eles estão ocupados com a arrumação no Templo. Vai acontecer uma festividade por lá.

–Hmm... podemos tentar, não é? – ela unia as pontas dos indicadores – E depois podíamos ficar mais um pouco juntos. Acho que não conseguimos ainda repor o tempo que perdemos no fim de semana por causa daquele professor e...

Foi interrompida por um beijo inesperado por dele. Era a forma encontrada por Sesshoumaru para evitar que ela falasse qualquer assunto desagradável.

Ao separarem os rostos, viu-a dar um sorriso e voltar a aninhar-se nele.

–Eu nem acredito que falta tão pouco pra acabar tudo. – ela falou – Daqui a pouco vamos nos formar.

–Sim. – uma sombra passou muito rápido pelo rosto dele, apenas para um olhar mais determinado aparecer na expressão – Vamos mesmo.


O Café Stay Happy tinha novamente o mesmo ambiente que Rin viu na primeira vez que pisou ali – as mesas de verão foram substitutas por kotatsu para os clientes ficarem mais à vontade naquele dia chuvoso e com baixas temperaturas.

Em companhia do namorado e de Miroku e Sango, ela conversava com o outro casal sobre o que aconteceu com o trabalho dela no fim de semana e sobre o estágio, omitindo as informações sobre o que se passou com ela e Sesshoumaru.

Rin era a que mais interagia com os amigos. Ele, sentado ao lado, preferia apenas ouvir, ocupado em tomar o chá verde após o jantar.

O assunto que dominava entre eles era o professor do seminário e como os outros dois também tiveram problemas em períodos anteriores. Aparentemente, Rin teve sorte de ter conseguido terminar e entregar o trabalho a tempo.

–E vocês conseguiram na época?

Miroku deu uma risada diabólica, como se tivesse um grande plano.

–Claro que não. Eu abandonei a disciplina e fiz com outro professor depois. – ele finalmente respondeu espertamente, o indicador tocando a testa para indicar a genialidade do plano.

Rin quase caiu para o lado comicamente.

–Eu nunca gostei desse professor. – Sango franziu o cenho, depois deu de ombros e alargou um sorriso – Bem, mas deu tudo certo, né?

–Finalmente livre dele! – Rin ergueu as mãos alegremente.

–Pra comemorar, poderíamos ir ao festival no Templo Higurashi este fim de semana. – Sango uniu as duas mãos sonhadoramente – Há tempos que não vou lá.

–Inuyasha já está pra lá, né? – Miroku jogou um amendoim para o alto antes de comer – Tá quase pra mudar pra lá.

Por baixo da mesa, Rin apertou a mão de Sesshoumaru para chamar a atenção discretamente.

–Eu gostaria de ir.

–Podemos ir juntas. – Sango tentou convencê-la – Quero deixar um agradecimento na árvore.

–Árvore? – Rin perguntou num tom curioso.

–Lá tem uma árvore sagrada pra fazer pedidos. – Sango ergueu um dedo para explicar – Pode amarrar o papel com o seu desejo nos galhos e vai dar tudo certo.

–Você já fez isso?

–Fiz pra passar num seminário daquele professor. Fiz um ano antes de você ser transferida. – ela falou com uma expressão sombria no rosto – Eu estava desesperada. Miroku já havia desistido. Depois do pedido, deu tudo certo. Acredito de verdade que foi por causa disso.

Rin baixou o rosto e ficou pensativa. Se atendia pedidos daquele jeito...

Sesshoumaru apertou a mão dela de leve, mas o rosto estava para o outro lado.

–Você só precisa subir no galho mais alto e amarrar lá. – Miroku continuou atirando amendoins para o alto e apanhando com a boca antes que caíssem no chão – Se cair e quebrar a cabeça, o problema vai ser seu.

Ao jogar mais uma vez um amendoim para arrematá-lo, algo o acertou por baixo da pequena mesa coberta no momento que estava para engolir e ele acabou se engasgando.

Imediatamente, Rin olhou de soslaio para Sesshoumaru, este tranquilamente tomando o chá ainda como se o outro rapaz nem estivesse tossindo alto para se recuperar do susto.


–Você quer mesmo passar no Templo Higurashi no fim de semana? – foi a pergunta de Sesshoumaru quando os dois já estavam no carro, à caminho da casa dela.

A chuva havia dado uma trégua aos moradores. Não parecia que seria, no entanto, por muito tempo: a previsão do tempo indicava que a madrugada seria de chuva, vento e baixas temperaturas, assim como o restante da semana.

–Gostaria de ir. Acho que vai ser divertido. – ela deu um sorriso. Estava com o torso voltado para ele, apenas observando o perfil sério dele enquanto dirigia – Sei que não gosta dessas coisas, mas você quer ir também?

–Você vai passar o dia todo lá? – ele perguntou sem tirar os olhos da estrada.

–Se você não for, eu fico só algumas horas lá e depois volto pra casa. Podemos jantar juntos e... – ela deslizou um dedo suavemente pelo antebraço dele num gesto convidativo – Você poderia passar a noite na minha casa.

Sesshoumaru aproveitou um sinal fechado para encontrar os olhos dela.

–Eu posso ir com você. – ele confirmou.

–Iupiii. – ela comemorou com os braços para o alto.

–Mas pode ser que fique difícil voltar de lá com as chuvas.

–Hmm... – Rin cruzou os braços e franziu o cenho, pensativa – Você acha que devo então ficar por lá? Posso levar roupa pra passar uma noite lá.

–Converse com Kagome. Ela pode sugerir alguma coisa.

Ao chegarem ao apartamento dela, os dois se demoraram, na frente do prédio, nos braços um do outro.

–Vai começar a época que a gente quase não vai se ver durante a semana. – ela reclamou com o rosto pressionado contra o peito dele, a voz abafada pelo tecido da roupa – Vou ter que me acostumar a usar um celular pra mandar mensagens e te ligar.

–Nós poderíamos combinar de nos ver após as aulas. Como fizemos hoje. – ele sugeriu, deslizando a mão pelas costas dela – Você tomou só uma vez aquele remédio hoje?

Rin pressionou mais o rosto. Era óbvio que tentava esconder o vermelho do rosto.

–Hmm... sim. Não sinto nada agora. – ela mentiu. Ela havia voltado a sentir a coxa dolorida ao se sentar em seiza. Ficar naquela posição por algum tempo havia sido uma pequena tortura.

Ergueu o rosto para ele.

–E gostei da sugestão. Podemos pelo menos jantar juntos. Eu ia preferir fazer isso mesmo depois que meu estágio começar.

Sesshoumaru fez uma leve pressão no abraço. Ela nem precisava explicar para ele o que implicaria aquilo. Por isso, ele tomou a iniciativa:

–Depois do almoço, eu procurei outro estágio hoje para você não ter que ficar se encontrando com Sara e conseguir o mesmo número de créditos para se formar. Mas não consegui encontrar nada. Posso continuar procurando amanhã.

–Isso não é necessário. – ela franziu o cenho – Eu consigo fazer meu trabalho e ignorar essa pessoa.

Sesshoumaru ergueu de leve uma sobrancelha.

–Ignorar bastante. – ela reforçou.

–Eu sei que ela não vai fazer nada além de tentar irritá-la, mas é desagradável trabalhar com quem não gostamos. Por isso eu convidei você uma vez para trabalhar comigo... – ele encostou os lábios de leve no ouvido dela – Tome mais um comprimido amanhã e vai se sentir melhor. Eu sei que ainda está sentindo dor.

Rin sentiu o rosto ficar extremamente quente, mas não escondeu um sorriso.

Depois de se despedir dele e ver o carro sumir na rua para tomar o caminho ao distrito onde ele morava, Rin subiu ao apartamento.

Encostada na porta, ela tentava controlar o riso. Foram dias intensos. Tinha tido ainda uma noite ainda mais intensa.

Tirou os sapatos no genkan, entrou no apartamento, colocou a bolsa em cima da mesa da cozinha.

Ficou na frente do quarto fechado, deslizando as duas portas para cada lado.

A janela e portas de vidro permitiam que as luzes da cidade à noite iluminasse o quarto, sem que ela precisasse acender as luzes.

Olhou determinada para a mesinha com a gaveta que guardava o celular, esquecido ali desde que ligara no sábado para o irmão para pedir ajuda na hora de lidar com o problemático professor.

Iria ligar para o pai e fazer uma proposta.

E esperava ter uma resposta positiva.