UM CAMINHO PARA DOIS
CAPÍTULO 25
Escolhendo outros caminhos
Um semana depois:
Uma semana depois do festival no Templo Higurashi, Rin viu-se caminhando pelos corredores que levavam à sala do coordenador do estágio preocupada, as mãos ocupadas agora com uma caixa com arquivos de um processo.
A agenda para aquele dia estava cheia, incluindo leitura de documentos, o trabalho no local do estágio, aulas e evitar Asano Sara. Tinha sido bom afinal o encontro acidental entre as duas naquele dia para acertar os dias para não coincidir de uma estar trabalhando no mesmo horário da outra.
Deu um suspiro cansado. Ainda queria ver se Sesshoumaru estava na sala do Centro antes de ele ir trabalhar e combinar o que fazer durante o fim de semana.
Na frente da porta que tinha o nome do professor, ela deu uma leve batida, novamente ajeitando a caixa nos braços.
A porta abriu e ela se viu novamente de frente a Asano Sara.
Um silêncio sinistro se fez entre as duas, sem que uma desviasse o olhar ou que cedessem a expressão de indiferença. Ela não deveria estar ali. Todo o cronograma havia sido organizado para terem o menor número possível de encontros, e Rin tinha certeza de que não era o horário dela para estar ali e...
—Ah, Nozomu-san, pontual como sempre. – o rosto sorridente do professor Hosogawa apareceu entre as duas e tomou a caixa dela – Entre, por favor.
Enquanto ele falava sobre o que Rin precisava fazer, as duas continuavam trocando olhares inferentes e intensos ao mesmo tempo: indiferentes para tentar mostrar que não se importavam e intensos para enfatizar que realmente não se importavam com o que cada uma fazia ali.
Professor Hosogawa uniu animadamente as duas mãos e falou de uma única vez:
— Houve apenas uma mudança de planos hoje, Nozomu-san. Asano vai me acompanhar. Você está dispensada hoje. Volte apenas na segunda-feira.
Rin arregalou os olhos de surpresa e notou a forma como Sara também ficara com aquela informação. Era óbvio que não esperava aquilo.
— Oh... – ela evitou franzir a testa para não mostrar o quanto estava chateada de ter os planos mudados tão repentinamente. Ele poderia ter avisado. Rin basicamente serviu apenas para carregar uma caixa para que a outra trabalhasse com ele.
Esperava que fosse uma coisa de uma única vez. Seria muito ruim trabalhar com alguém desorganizado e que mudasse os planos daquela maneira.
— Está tudo bem, Nozomu? – ele perguntou, inclinando a cabeça de lado como se a analisasse.
— Está tudo bem, sim. – ela forçou um sorriso e fez uma discreta reverência antes de virar-se para sair dali – Até segunda.
— Até segunda! – ouviu-o dizer antes de abrir a porta para ir embora.
No corredor, ela pensava no que havia acabado de acontecer. Esperava que não significasse também que o professor Hosogawa, pessoa que conhecia e em quem confiava, duvidasse das qualidades dela e quisesse passar as tarefas apenas para Sara.
Foi pensando naquelas alternativas que ela se viu na frente da sala do centro onde Sesshoumaru trabalhava. Sabia que ele estava ali naquele horário e perguntou-se de valia a pena conversar sobre o que a incomodou tanto naquela situação.
Bateu suavemente na porta e entrou ao ouvir a voz dele dando permissão, colocando primeiro a cabeça pela fresta. Ele estava com o olhar concentrado na tela do celular, franzindo a testa preocupado, sem aparentemente perceber que era ela.
— Bom dia. – ela falou para fazer-se presente.
Sesshoumaru ergueu imediatamente o olhar da tela ao reconhecer a voz.
— O que está fazendo aqui? – ele perguntou suavemente e guardou o celular no bolso interno do blazer, estendendo a mão para ela.
Prontamente, ela entrou e foi até ele, aceitando a mão. Depois, explicou:
— Fui dispensada hoje do estágio. Só voltarei na segunda.
Viu-o franzir levemente o cenho, uma expressão menos preocupada do que quando ele olhava a tela do celular.
— Você não tinha que ficar a tarde toda com ele? – ele perguntou.
— Eu não entendi o que aconteceu. Eu só servi de youkai mensageiro: levei uma pilha de documentos de processos e ele só pegou a caixa e disse que Asano trabalharia hoje com ele.
— Menos mal. Pelo menos ela ficará ocupada e não vai perturbá-la.
Rin fez um beicinho. Era difícil tirar a razão dele naquele ponto: por aquele lado, até que não tinha sido tão ruim.
Notou como Sesshoumaru continuava com a testa franzida. Havia alguma coisa errada.
— Você está bem? – ela perguntou num tom suave e calmo, deslizando a mão pelo peito dele para atrair a atenção.
Depois de um momento de silêncio, ele começou:
— Meu avô oferecerá um jantar de aniversário hoje para amigos e família... – ele começou a falar enquanto olhava um ponto qualquer da sala, não diretamente para a namorada – Ele disse para você estar presente também.
— Oh. – ela corou levemente. Bokuseno mal a conhecia e já a convidou para algo tão particular? – Eu não sabia que era aniversário dele. Devo levar alguma coisa?
Sesshoumaru balançou a cabeça e manteve a mesma expressão de antes.
— O que há de errado, então?
Depois de algum tempo olhando para um ponto qualquer, os olhos dele encontraram de canto os dela:
— Muitos são conservadores. Você pode se incomodar com algumas coisas que eles falam.
A mão dela continuou deslizando no tórax dele.
— Como o quê, por exemplo? – ela tentou ao vê-lo teimosamente querer evitar falar sobre aquilo.
O maxilar dele travou antes que ele continuasse:
— Casamento entre famílias. Mulheres cuidando de casa e do marido. Manutenção da constituição.
— Ah, os assuntos que minha família adora discutir quando encontra alguém daqui. – ela deu um sorriso compreensivo – Eu sei o que eles podem falar.
— Eles podem querer ofendê-la, Rin.
— Não vão. Eu sei que eles serão... educados como o seu avô. – ela deu um sorriso maior para reassegurá-lo – Eu sei que ele gosta de mim e algumas vezes ele pode comentar uma coisa aqui e ali sem querer. Todos eles fazem isso.
— Hunf. – ele fechou os olhos em irritação.
— Meu pai poderia fazer isso na sua frente também. Ia falar mal de todo mundo do governo.
A mão parou de mover e Sesshoumaru viu um leve rubor colorir as bochechas dela.
— Hmm... eu poderia passar a noite com você.
Aquilo atraiu a atenção. Sesshoumaru ergueu uma sobrancelha.
— Poderia mesmo. – ele tocou na mecha rebelde do cabelo dela para escondê-la atrás da orelha – Você vai passar?
Rin confirmou com a cabeça.
— Não consigo esquecer o fim de semana passado. – ela comentou timidamente – Eu queria poder passar este outro agora com você de novo.
Sesshoumaru olhou para a mesa com algumas pastas e controlou-se, por educação, a não suspirar pesadamente na frente dela.
— Creio que vai ser difícil termos todo o fim de semana agora. Tenho o relatório do estágio para fazer. E um ensaio.
Rin arregalou os olhos.
— Eu tinha esquecido meu ensaio. Também preciso fazer um para entregar agora.
Ficaram em silêncio.
— Podemos pelo menos passar hoje e amanhã juntos? – ela perguntou em mais uma tentativa para encontrar um meio para que os dois ficassem juntos – Eu queria muito mostrar uma coisa.
Novamente, ela teve a atenção dele.
— E o que é, exatamente?
— Uma surpresa. – ela deu um sorriso e um rápido beijo nos lábios dele, ajeitando discretamente a gravata torta dele.
Sesshoumaru arqueou uma sobrancelha.
— Eu não vou contar. – ela foi enfática.
A sobrancelha continuou arqueada.
— Se eu contar, não vai ter graça. – ela deslizou mais uma vez a mão pelo peito depois de constatar que o nó não estava mais torto – Depois do jantar você verá.
— Um jantar chato com você sendo a única pessoa interessante. – ele estreitou os olhos de leve – O que você poderia querer fazer para chamar mais ainda minha atenção?
— Vai ter que esperar um pouco pra saber. – ela deu um sorriso e se afastou dele, saltitando displicente até a porta.
— Rin.
Ao ouvir o nome, ela parou.
— Eu não poderei buscá-la hoje. Terei que recepcionar algumas pessoas a pedido do meu avô.
— Hm-Hm. – ela balançou a cabeça mantendo o sorriso – Não se preocupe. Só me diga o horário e eu apareço por lá.
Rin segurou na frente do corpo um cabide com um vestido médio para ajudar a se ver usando-o no jantar na casa de Sesshoumaru. Queria ficar visualmente satisfeita consigo mesma para a celebração de aniversário do avô dele.
A roupa em questão era preto, com a parte de cima com estampa florida em tons laranja e vermelho. Jakotsu também complementou com uma capa preta e transparente, em musseline de fios de seda, que ia até metade das pernas.
— Hunf. – ela murmurou.
Logo em seguida, revirou os olhos. Havia realmente adquirido um dos maneirismos de Sesshoumaru depois de algum tempo de convivência.
Tinha tudo planejado para a noite, olhando por cima do ombro a surpresa, comprada dias antes, exposta em cima da cama.
Um conjunto azul escuro de lingerie de renda quase transparente.
Ao olhar as peças, ela sentiu o rosto aquecer. Casais gostavam disso, não? Ela tinha pesquisado bastante para usar algo do tipo com Sesshoumaru. Era a primeira vez e queria que ele apreciasse muito aquele momento.
— Ah, a hora! – ela correu para tomar banho e começar a se arrumar.
Quando o táxi entrou na propriedade da família Taisho, Rin olhou rapidamente pelo próprio vidro do carro e ajeitou uma mecha do cabelo preso em um coque enquanto o motorista falava o valor do serviço e apresentava o recibo.
Desceu do veículo e olhou para os lados, segurando uma pequena bolsa preta com as duas mãos na frente do corpo. O jardim estava começando a perder as folhas das árvores. Ela gostava daquele tom do outono, com o chão coberto de folhas vermelhas como um tapete.
Depois olhou para a entrada, onde viu Sesshoumaru aguardando por ela. Estava vestido formalmente para a ocasião, com calça em tom azul escuro e camisa social azul mais claro, sem gravata, mas ainda assim parecendo tão sério quanto no trabalho da faculdade. Ela sorriu e corou levemente ao imaginar-se abrindo os botões daquela camisa.
Sesshoumaru estendeu a mão quando ela subiu os três degraus que levavam ao pátio.
— Lembre-me de agradecer algum dia ao seu primo. – ele declarou.
Rin timidamente escondeu atrás da orelha uma mecha do cabelo armado no coque.
— Eu não cheguei atrasada, né? – ela falou num sussurro – Eu estava lendo algumas pautas conservadoras pra saber o que conversar com eles.
A mão dele imediatamente encontrou a curva das costas dela
— Não chegou. Mas as pessoas que chegaram mais cedo já estão bebendo. São os mais desagradáveis, por sinal. – ele aproximou a boca da orelha dela – Só você para "estudar" antes de vir para um jantar, minha Rin.
— Hunf. – ela fez uma carranca para tentar parecer mais séria.
— Você realmente gosta de me imitar. – ele observou.
A mão nas costas dela gentilmente começou a guiá-la para o genkan, onde Rin tirou os sapatos para colocar calçados separados especialmente para ela usar no interior.
Dentro, ela viu talvez a maior reunião de conservadores dos últimos tempos. Havia grupos separados conversando animadamente no sofá ou em pé, perto das janelas. Bokuseno estava em um deles e, ao vê-la, afastou-se para ir até ela como se fossem velhos amigos.
— Rin-chan... Que surpresa agradável aos nossos olhos cansados. Falta só Kagome-chan chegar.
— Boa noite. – ela curvou-se breve e educadamente e apresentou um sorriso sincero ao voltar à postura normal – Feliz aniversário.
— Muito obrigado. – ele indicou algumas pessoas com um leve aceno de cabeça – Gostaria de apresentá-la a alguns amigos meus.
Bokuseno tentou ele mesmo levá-la ao grupo, mas Sesshoumaru ficou fielmente atrás dela, sem largá-la.
— Oi, só quero emprestá-la por alguns minutos.
Sesshoumaru silenciosamente recusou-se: ele mesmo a acompanhou, ganhando um suspiro cansado do avô.
Ao chegarem ao grupo, Rin viu uma idosa vestida quase como uma cortesã e um homem de cabelos vermelhos encaracolados e uma pequena cicatriz em forma de cruz perto do olho. Um jovem de mesmo tom de cabelo do homem e enorme testa os acompanhava.
— Kirin... Zero... Riku... Gostaria que conhecessem esta jovem: Nozomu Rin. Ela veio de Nagoya e está morando por algum tempo aqui.
— Nagoya? – Kirin comentou com surpresa – Veio fazer o quê aqui em Tokyo? Achei que eram independentes o bastante para não precisarem sair de lá.
— Resolvi terminar o curso de Direito aqui. Conheci Sesshoumaru na faculdade. – ela respondeu educadamente.
— Ela e Sesshoumaru estão juntos agora. – Bokuseno interrompeu para explicar, completando – E uma ótima jogadora de go.
— Oh... – a mulher ergueu uma sobrancelha – Achei que a namorada de Sesshoumaru fosse a filha de Asano. Eles vão casar, não?
Um silêncio constrangedor se fez, mas Rin manteve a fachada de indiferença.
— Nunca tive nada com Sara. Agora com licença – o próprio Sesshoumaru quebrou o silêncio, virando-se para tirar a namorada dali – Vamos, Rin.
O próprio avô o impediu com o olhar mais sério que tinha, interceptando o caminho. Sesshoumaru continuou olhando para ele indiferente, achando que ele poderia sair dali com a força do ódio.
Bokuseno o ignorou e virou Rin novamente para grupo:
— Rin-chan é de uma família de políticos de Aichi... O pai dela é um político aposentado. Não é, Rin-chan?
— Ah, bem que reconheci o nome... – Riku comentou com um sorriso, a mão tocando o queixo pensativamente – Os Nozomu, não? Já ouvi falar deles. Progressistas, não?
— Ah, sim. – ela sorriu educadamente – Bastante.
— E você voltará para Nagoya quando? No fim do inverno? – Kirin perguntou.
— Na verdade, ficarei mais dois anos na cidade.
Aquilo chamou a atenção de Bokuseno.
— Eu não sabia que iria continuar morando por aqui. – ele franziu a testa e havia um estranho brilho nos olhou, fazendo questão de encontrar os indiferentes do neto – Pelo visto teremos mais tempo com Rin-chan na cidade.
— Oh, eu decidi recentemente. Vou fazer o mestrado.
— Mais tempo estudando? – a mulher do grupo ajeitou os fios do enorme coque com altivez – Vai ser bom ter uma formação para cuidar da casa e dos filhos.
Rin engasgou e começou a tossir. Ao lado dela, Sesshoumaru tinha os olhos fechados em profunda irritação. Bokuseno teve que intervir ao sentir que o neto falaria ou faria alguma coisa desagradável, como atacar o grupo com algum objeto pontiagudo:
— Rin-chan conseguiu me vencer no nosso primeiro jogo de go.
— Eu treinava bastante com o meu pai. Quase todas as noites. – ela comentou ao perceber que o homem tentava mudar de assunto.
— Imagino que ele esteja sentindo falta disso com você aqui. – Riku comentou, e ela notou um brilho de perspicácia nos olhos do sujeito – Deve contar os dias para o seu retorno para casa.
Rin optou por sorrir educadamente. Era óbvio que o pai sentia falta, mas não iria querer prendê-la em casa apenas para jogar go. Ele também priorizava a carreira dela.
— Podemos jogar durante a madrugada. – Kirin sugeriu num tom meio desinteressado, como se já soubesse que seria vencedor da partida contra ela – Não jogo também há alguns dias.
Madrugada? Rin arregalou de leve os olhos e piscou meio surpresa, encontrando o olhar estreitado de Sesshoumaru.
Ao notar aquilo, Bokuseno tratou de esclarecer:
— Vamos comemorar até o amanhecer. Ainda estou jovem para fazer essas coisas.
Uma pequena comoção se formou na entrada: era Kagome e a mãe chegando na companhia de Inuyasha.
— Ah, Kagome-chan, senhora Higurashi... – Bokuseno exclamou, afastando-se do grupo e do casal – Com licença, preciso falar com elas.
Tão logo também Rin tratou de se afastar assim que viu o aniversariante andar até os recém-chegados.
— Com licença, vamos falar com Kagome-chan também. – ela curvou-se brevemente – Prazer em conhecê-los.
Com certa liberdade, ela mesmo agarrou a mão de Sesshoumaru e se afastou.
— Até o amanhecer? – ela exclamou meio assustada – O meu pai deve ter a mesma idade que o seu avô e comemora os aniversários dele até onze da noite!
— Eu falei que eles seriam desagradáveis. – Sesshoumaru comentou. Ela notou que ele também olhava o avô de soslaio, vendo-o animadamente conversando com Kagome – Também não sabia que ficariam até tarde. Vou ter que ficar acordado também.
— Por quê? – ela franziu a testa.
— É um costume. – ele começou a explicar, fechando os olhos. Estava irritado ainda com os comentários do grupo – A família precisa ficar reunida nesses momentos.
— Oh. – ela baixou o rosto para esconder o leve desapontamento. Havia planejado passar noite com ele, mas agora... – Eu não sei se aguento ficar até mais tarde.
Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos. Parecia que Sesshoumaru estava concentrado em alguma coisa, olhando para a porta.
— O que foi? – Rin perguntou. Bokuseno estava agora conversando educadamente com um senhor acompanhado de um jovem rapaz provavelmente da mesma idade dela.
— O senhor Asano. Pai de Sara. – ele não tirou os olhos dos dois convidados – Ele sabe que não sou mais bem-vindo entre eles.
-Seu avô não os convidou por serem amigos da família? – ela deu um sorriso forçado – Acho que você me contou algo assim quando conheci Sara.
— Sim. É isso mesmo. – Sesshoumaru começou a guiá-la a um canto mais discreto da sala, onde ela podia ver uma estante cheia de espadas antigas em exposição. "Tenseiga" e "Tetsusaiga" eram nomes visíveis nas placas – Se você não quiser ficar até tarde, eu a levo de volta para casa.
— Tudo bem... – ela tentava esconder ainda o desapontamento através de um sorriso – Entendo que precise fazer essas coisas.
— Eu vou conversar com meu avô depois. Ele não havia me falado sobre isso. – ele lançava olhares discretos ao senhor que agora conversava novamente no grupo que havia sido apresentado a Rin.
Rin nada comentou. Os ombros estavam caídos, as mãos segurando a pequena bolsa delicadamente unidas na frente do corpo. Percebendo que ela estava chateada, ele resolveu mudar de assunto:
— É assim também na sua família?
— Não. – a expressão no rosto dela mudou – Meu pai costuma sair com a família para um restaurante ou faz uma festa em casa, mas não ficamos até tarde da noite. Mesmo nas reuniões de família, não levamos até madrugada.
Ficaram outra vez em silêncio, em que Rin aproveitou para ler o nome das espadas.
— De quem é essa coleção? É muito bonita.
— Era do meu pai. – ele ergueu o rosto para observar a coleção de alto a baixo – Se por acaso não tiver mais alguma imposição, vou ficar com essas relíquias também.
— Meu irmão ir adorar ver isso. – ela comentou enquanto observava os detalhes das bainhas de uma espada chamada Bakusaiga – Que tipo de imposição podem colocar a você para ficar com isso também?
— Não sei. Talvez casar com Sara também.
Rin engasgou de novo e tossiu discretamente.
— Se não seguimos um caminho, pode ser que aconteçam essas coisas. Eu perco meu direito de ficar com a casa, com alguns bens... Inuyasha ficaria com tudo, e ele nem teve essas imposições.
— Ele e Kagome-chan também tiveram esse acordo entre famílias?
— Não. Eles não. Nunca tiveram. Isso é apenas para os filhos mais velhos.
— Oh. – ela franziu a testa – Agora eu entendo. É bem injusto mesmo.
Sesshoumaru ficou calado. Ele havia pensado que ela já tivesse entendido a situação anteriormente, só pelo simples fato de existir aquelas tradições mais conservadoras para casar duas pessoas que mal se conheciam. Talvez, para a família dela, aquilo só existisse até a era feudal.
— Mas, sabe... Se for analisar... Pense nisso como um teste.
— "Teste"? – ele repetição com interesse.
— Talvez essas imposições sejam uma forma de mostrar que você sempre pode trilhar um caminho diferente e mostrar que ainda assim está tudo bem. – ela deu um sorriso.
O rapaz a observou com atenção redobrada. Foi o que aconteceu com ela também, de certa forma, tendo agora que prorrogar a permanência dela na capital.
Esperava também que ela, apenas agora, não sofresse com imposições de certo alguém para fazer as escolhas mais difíceis.
— Daqui a pouco vamos comer. – ele a fez desviar a atenção da coleção de espadas, estendendo a mão para ela – Quer conversar com Kagome e meu irmão enquanto isso?
Rin concordou com a cabeça, aceitou a mão dele, e os dois começaram a andar de mãos dadas pela sala, à vista de todos.
No carro de Sesshoumaru já havia entrado nos limites do bairro de Rin. Dentro, estava tão em silêncio que ele poderia pensar que nem estava mais ali se não olhasse para o banco ao lado dele.
Numa tentativa de fazer conversação, ele começou.
— Desculpe mudar os planos assim. Eu deveria ter imaginado que eles continuariam até tarde.
— Hmm... sem problema. – ela apertou a alça da bolsa nos dedos, pressionando os punhos de leve nas pernas – Acontece.
— Acontece sempre de o avô ficar até o amanhecer comendo e bebendo?
— É verdade. – ela coçou a lateral do rosto sem jeito.
Um silêncio, desta vez mais cômico, voltou a se fazer. Ela percebeu a tempo e tentou continuar:
— Eu não quero que brigue com seu avô. Eu não ligo pro que disseram. Não foi nada grave, eu meio que esperava ter que ouvir essas coisas...
Rin respirou fundo e tomou coragem de falar algo que já queria desde que os planos da noite mudaram:
— Na verdade... Que tal se você passar a noite comigo?
Sesshoumaru a olhou de soslaio por meros segundos, mas o suficiente para encontrar o olhar dela.
— Passar a noite com você? – ele repetiu.
— É... – ela deu um sorriso tímido – E você volta amanhã pra sua casa.
Um silêncio desconfortável se fez.
— Eu não avisei ao meu avô sobre isso. Ele está me esperando.
— Ah, tudo bem. – ela baixou o rosto – Eu entendo.
Pela primeira vez, o desapontamento na voz dela foi notado por ele, mas Sesshoumaru preferiu não falar nada.
Ao chegar na frente do prédio, Rin deu um sorriso sem graça.
— Bem... então vejo você amanhã? – ela perguntou.
Aquele tom triste, que combinava tão pouco com ela, ainda estava ali.
— Sim.
Rin curvou-se no veículo para beijar o lado do rosto dele.
— Obrigada por me trazer de volta. – ela falou – Não brigue com a sua família.
Sesshoumaru a encarou por um momento, tentando entender o motivo para a decepção dela, e depois confirmou com a cabeça.
Rin desceu do carro e andou lentamente até o portão do prédio, olhando uma única vez, rapidamente, por cima do ombro.
Sesshoumaru a viu entrar e ficou parado ali. A chateação dela era evidente.
De repente, ele lembrou-se da conversa que tiveram pela manhã, arregalando de leve os olhos:
— Podemos pelo menos passar hoje e amanhã juntos? – ela perguntou em mais uma tentativa para encontrar um meio para que os dois ficassem juntos – Eu queria muito mostrar uma coisa.
Novamente, ela teve a atenção dele.
— E o que é, exatamente?
— Uma surpresa. – ela deu um sorriso e um rápido beijo nos lábios dele, ajeitando discretamente a gravata torta dele.
As mãos apertaram com força o volante. Era por isso que ela havia ficado chateada.
Olhou novamente o prédio, como se pudesse vê-la através das paredes. Por que ela não o lembrou? Rin queria que passassem a noite juntos. E ele tinha que voltar para uma reunião chata apenas para fazer companhia ao avô e amigos conservadores.
Podia quebrar mais algumas regras ou tradições da família naquele momento, além das outras que já se recusara a seguir. Rin havia dito que poderia fazer aquelas escolhas.
Deu partida no veículo e começou a rodar na rua, procurando um local para estacionar durante a noite.
Depois de encontrar um ponto e cadastrar a placa no parquímetro, andou alguns metros até o prédio da namorada e tocou o interfone.
— Sim? – escutou a voz de Rin.
— Sou eu. – ele falou – Pode abrir?
— Oh...
Segundos depois, ele ouvia o sinal da porta destravando. Tomou então o elevador e subiu até o andar desejado.
Ao chegar ao corredor dela, ele a viu abrir a porta do apartamento timidamente. Ela já tinha soltado o longo cabelo negro e parecia... feliz, os olhos tranquilos transmitindo o quanto queria vê-lo ali, mesmo sem saber ainda o motivo de ter retornado.
— Aconteceu alguma coisa...? – ela perguntou suavemente.
Sem dizer mais nenhuma palavra, ele entrou sem pedir licença e a beijou, ele mesmo fechando a porta atrás de si.
Nota da autora:Obrigada a quem está comentando e incentivando a terminar de reescrever :) Obrigada especialmente a Kuchiki Rin, que leu e opinou sobre algumas partes, Hellobraga, Barbara Rettoree, Jo-Anga, Li'luH, Autumnbane, Ayame e Vicman. Mandei um trecho especial do capítulo 24 para vocês :*
Este capítulo é o último desta fase da história. No próximo começará uma guerra e uma pessoa voltará a aparecer. Preparem-se.
Estou escrevendo um outtake especial (e com ilustração SessRin) do que acontece depois que o Sesshoumaru fecha essa porta no final deste capítulo :) Só para adiantar, eles passam o fim de semana inteirinho juntos, tá?
Vou deixar aqui um trechinho:
Era a primeira vez que Sesshoumaru ouvia aquela canção, algo com um nah nah nah melodioso, sem letra que reconhecesse. Juntava a isso o cheiro forte de café que o despertou completamente, esticando o braço para sentir o lado onde Rin deveria estar totalmente vazio.
Abriu lentamente os olhos, encontrando primeiro a boca que cantarolava cessando a canção de ninar e esticando os lábios num sorriso.
— Acordou? – ela perguntou suavemente.
De repente, ele já estava sentado na cama, vendo Rin também sentada, pousando a caneca de café fumegante na mesinha ao lado. Estava a camisa social que ele usava na noite anterior que, por ser grande, cobria todo os membros superiores e ia até a metade das coxas.
— Bom dia. – ela o saudou com um sorriso – Parece que você estava mesmo precisando de um bom descanso.
Não decidi ainda como vou mandar para vocês por causa das ilustrações (não vou postar aqui), mas assim que eu decidir, eu aviso para quem tiver interesse em ler.
Obrigada mais uma vez por lerem e comentarem.
Próximo capítulo sai dia 14/11 (ou antes, dependendo das emoções aqui hahahah)!
Beijinhos,
Shampoo-chan/Analoguec
