Nota inicial da autora: Demorei uns dias porque encontrei uma minissérie e quis ver tudo de uma vez. Espero não atrasar agora de novo hahahah.

Acho que na próxima semana já divulgo informações sobre o outtake especial :) Sim, aquele mesmo sobre o fim de semana dos dois.

Obrigada a quem está comentando e acompanhando até agora: Li'Luh, Jo-Anga, isabelle36, Bruna-san, vicman, autumnbane, Hellobraga, Jusamurai, Ana Clara, kahdi, Ayame, Josy, Priy Taisho e aos demais que comentaram anonimamente. Um agradecimento especial também para a Kuchiki Rin também :)

Próximo capítulo sai dia 28/11. Queria fechar o mês com 2 capítulos postados, mas também depende do incentivo de vocês :*


UM CAMINHO PARA DOIS

CAPÍTULO 26

Caminho de volta a Nagoya – parte I

Três semanas depois

Sesshoumaru terminava de arrumar as coisas que deveria levar para a faculdade naquele dia, o olhar ocupando-se em verificar o conteúdo de uma pequena caixa de presente em cima da cama.

Era um par de luvas de caxemira da Shoo La Rue, em cor de vinho, com estrelas douradas bordadas nas costas e pele falsa em rosa nos punhos. Um presente para Rin: ela reclamava das mãos geladas por causa do tempo nos últimos dias e dizia que antes, em Nagoya, não incomodava-se com o estado que elas ficavam porque fazia menos frio que em Tokyo.

E então ele saiu para comprar um par de luvas e presenteá-la.

Fechou a caixa e verificou uma pasta de documentos que precisava levar para a faculdade, até começar a ouvir, pela terceira vez em menos de trinta minutos, um barulho estranho no quarto dele.

Apenas naquela hora entendeu que havia um celular vibrando e não era o dele. Revirou lençol, travesseiros, procurou em gavetas. Ele sabia de quem era, porque só havia uma única pessoa frequentando o quarto que poderia ter esquecido um aparelho em qualquer lugar.

Debaixo de uma das almofadas, ele encontrou o celular de Rin.

Rin havia passado mais um fim de semana com ele, como agora era comum de acontecer. Bokuseno nem reclamava mais, ainda mais que Rin tirava um tempo para jogar com ele, conversando e contando histórias. O avô parecia ter se acostumado e passado a gostar da rotina que os dois compartilhavam.

Ao voltar a atenção para o aparelho em mãos, viu na tela o rosto já conhecido por fotos de Hakudoushi.

O celular parou de tocar e ficou com o display preto. Tocou uma vez, muito suavemente, apenas para ver que o outro havia deixado também mais de vinte mensagens para Rin. Outro número, o da casa, estava registrado como ligação perdida outras tantas vezes.

Aconteceu alguma coisa.

Na mão dele, o telefone tocou e mais uma vez o rosto de Hakudoushi apareceu na tela, e ele tomou uma decisão: atendeu a chamada e encostou o telefone na orelha, sem falar nada.

Do outro lado, houve silêncio também. Sesshoumaru conseguiu até imaginar Hakudoushi fumegando do outro lado.

Ambos ficaram daquele jeito por quase trinta segundos. Era evidente que o outro sabia quem estava na linha.

Eu preciso falar com ela. – Hakudoushi falou num tom extremamente irritado.

Depois desligou.

Sesshoumaru baixou o aparelho e viu a tela preta, apertando-o com força.

Demorou para aparecer.


O carro de Sesshoumaru estava prestes a entrar no quarteirão de Rin ao mesmo tempo que o telefone dela, jogado no banco ao lado do motorista, vibrou mais uma vez. Era possivelmente a vigésima chamada durante o percurso da casa ao carro.

Olhou de canto o aparelho e voltou a atenção para a rua, ignorando-o até estacionar na frente do prédio de Rin.

Desceu do veículo com o celular em mãos, olhando fixamente para o andar onde Rin estava. As cortinas do quarto já estavam abertas. Ainda nem havia amanhecido e estava extremamente cinzento, indício de mais um dia de frio. Pelo horário, quase oito horas, ela deveria ainda estar se arrumando para ir para a faculdade.

Tocou o interfone e aguardou.

Sim?

— Sou eu.

O rapaz conseguia imaginá-la observando-o pelo interfone com a testa franzida em dúvida ao destravar o portão para ele subir. Não haviam combinado encontro naquele horário. Apenas mais tarde, depois do estágio dela, iriam sair para jantar.

Dentro do elevador, ele tentou novamente se controlar para não atender mais uma chamada. Tinha que se preparar para o que viria dali a alguns minutos.

A porta já estava entreaberta quando ele se aproximou do apartamento. Ele entrou, fechou-a, tirou os sapatos, aguardou que ela aparecesse.

Rin saiu do quarto usando o yukata de tecido branco e desenhos de ideogramas em vermelho nas mangas, que já tinha sido dele um dia, e um sorriso no rosto.

— Bom dia. – ela deslizava os dedos no cabelo para terminar de arrumar as pontas meio rebeldes – O que faz tão cedo aqui? Achei que só nos veríamos mais tarde.

Ao aproximar-se, ele aproveitou para dar um rápido beijo nos lábios dela, depois mostrou o aparelho:

— Você esqueceu em casa no domingo e o seu irmão não parou de ligar. Eu só ouvi hoje.

Rin arregalou os olhos e imediatamente pegou o aparelho, dando as costas para ele para poder retornar as ligações.

Sesshoumaru a observava enquanto a via andar pelo quarto. Viu-a pedir desculpas por não atender os telefonemas e arregalar mais ainda os olhos, exclamando:

— Como assim? O que aconteceu?

Eu quero saber, ele pensou ao se sentar na poltrona do quarto. Ela continuava andando de um lado a outro, falando algo no dialeto, impossível de acompanhar de tão nervosa que estava.

Por fim, cerca de vinte minutos depois, ela desligou e atravessou o quarto para jogar-se no colo dele.

— Eu preciso ir pra casa. – ela explicou num tom de choro, enterrando o rosto no peito dele – Meu irmão está muito nervoso, ele só conseguiu explicar que meu pai se acidentou em casa. Quebrou a perna!

Casa, ele evitou estreitar os olhos ao ouvir a palavra, tentando parecer indiferente quando realmente não se sentia daquele jeito. Ela iria para Nagoya e ele ficaria em Tokyo. Nagoya era a casa dela.

— E quando vai ser isso? – ele perguntou suavemente, num contraste com o estado dela. Alguém deveria manter-se calmo ali, mesmo sendo uma situação delicada.

— Agora. – ela pulou do colo dele e correu para a mesa de trabalho. Sentou-se na cadeira e abriu o computador, começando a digitar apressadamente assim que reiniciou. Ele levantou-se também e, ao se aproximar, viu a página da companhia ferroviária do Japão aberta.

Rin procurou os horários das partidas dando prioridade ao trem-bala que saísse o mais cedo possível, evitando os comboios regionais com paradas em várias cidades. Minutos depois, ela tinha uma passagem comprada.

— Eu preciso ir, meu irmão não sabe cuidar dessas coisas sozinho quando tá nervoso.

— Você também está. – ele apontou e viu-a morder o lábio inferior numa incerteza.

Pelo menos ele achava que aquilo era normal. Ele mesmo nunca se permitiria perder o controle.

Rin ficou calada, voltando o olhar para ele. Depois fechou o laptop e atirou-se nos braços dele. Ele deslizou a mão esquerda no cabelo dela, deslizando os dedos novamente pelos fios, e com a outra massageada a parte inferior da costa dela.

Voltou a sentar-se na poltrona do quarto, onde os dois ficaram sentados sem comentar nada por alguns minutos sobre a situação, até ele resolver quebrar o silêncio com uma pergunta:

— Quanto tempo vai ficar lá?

Depois de pensar, ela respondeu:

— Eu volto quando meu pai estiver melhor.

Aquela não era uma boa resposta, mas ele resolveu deixar de lado. Sabia que a situação poderia ser complicada, ainda mais por causa da idade do senhor Nozomu. Por vezes precisou lembrar que tratava-se do avô de Rin, apesar de ela nunca tê-lo considerado como tal.

— Quer que eu vá também? – ele perguntou de súbito.

Rin ergueu o rosto. Foi só então que ele percebeu que as primeiras lágrimas já haviam escorrido.

— Sua primeira viagem a Nagoya pra ver meu pai nessa situação? – ela fungou – Acho que não vai ser bom.

O rapaz ponderou a respeito. Sim, ela tinha razão.

— Mas... – ela mordeu o lábio inferior – Se por acaso eu tiver que estender minha estadia lá... você... Você...

Sesshoumaru ergueu uma sobrancelha.

— ... se eu vou para Nagoya? – ele completou por ela numa pergunta.

Rin confirmou com a cabeça, depois falou:

— Eu só fico com medo por você, porque nunca viajou antes... Você não sabe pegar nem um ônibus.

O comentário fez com que ele estreitasse os olhos.

— Você acha que é difícil eu pegar um trem na estação?

— Tenho medo que você se perca entre a plataforma e o vagão.

Sesshoumaru estreitou ainda mais os olhos e a namorada riu, afundando o rosto no peito dele.

Ficaram naquela posição por alguns minutos, até ela que ela ergueu o rosto e deslizou o dedo pelo queixo e mandíbula dele.

— Meu irmão disse que ele fez uma cirurgia e vai ficar um tempo em recuperação, vou ficar apenas pelo período do pós-operatório. Não deve ser longo, mas queria ficar um tempo com ele. Estou preocupada.

— Qual é o horário do trem?

— Sai às nove e meia. Vou levar só a mala pequena com os livros e a mochila. Você tem como explicar a situação no estágio? Hosogawa-sensei conhece o meu pai também, acho que ele vai entender a situação.

— Explico sim. – ele fechou os olhos – Você vai levar o celular, não é?

— Claro que vou. – ela franziu a testa em irritação consigo mesma – Eu não vou mais largar. Vai andar pendurado no meu pescoço agora.

Sesshoumaru ergueu uma sobrancelha em desafio.

— É verdade! – ela protestou.

— Vá se arrumar. – ele falou gentilmente, cessando a carícia que fazia nas costas dela e a conversa – Eu posso levá-la à estação.


Na estação central de Tokyo, um casal de namorados procurava uma plataforma com o trem-bala que partiria naquele horário. Os dois estavam de casaco para se protegerem do frio, ele segurando uma maleta pequena, ela com o bilhete impresso em mãos.

Somente ela viajaria naquele dia. E não tinha, até aquele momento, previsão de retorno, o que deixava o rapaz em um estado de dúvidas.

E Sesshoumaru detestava dúvidas. E de finalmente perceber que sentia coisas que antes não tinha ideia que havia dentro de si.

Percebeu que detestava que Rin tivesse que viajar para a cidade natal sem ele. Era a terceira vez que isso acontecia desde que se conheceram. Teria que aceitar que ela fizesse o trajeto com frequência durante o relacionamento, ainda mais que em breve continuaria a estudar e a viver na capital e precisaria eventualmente visitar os familiares.

Mas uma coisa chamou a atenção: era a primeira vez que tinha um pressentimento ruim.

Não atreveu-se, porém, a comentar a respeito daquilo com Rin. Ela já estava muito angustiada com a situação. Viu-a arrumar a mala pequena e a mochila às pressas, separar livros e deixar a casa em ordem antes de sair, toda hora reabrindo as duas bagagens para verificar se não havia esquecido nada.

Os dois pararam em frente a um aparelho que Sesshoumaru via apenas em filmes ou em reportagens de televisão quando os metrôs entravam em greve no país. Rin tirou um pedaço de papel impresso da bolsa e ia movê-lo em frente ao sensor, mas parou ao notar a expressão de dúvida do namorado.

— Por que você precisa disso? – Sesshoumaru perguntou com a ignorância mais sincera. Ele olhava o visor como se fosse o aparelho mais estranho do mundo

— Eu preciso passar a passagem aqui. – ela passou o código em frente ao visor e apareceu rapidamente os dados da compradora e da viagem – Não acredito que não sabe pra quê serve isso.

— Você poderia usar o celular. – ele sugeriu – É parecido com qualquer aparelho que usamos para entrar nos cinemas ou teatros.

Rin mordeu o lábio inferior. Ele tinha razão. Ela deveria tentar se acostumar com a tecnologia.

— Eu nunca viajei de trem, mas imagino que possa comprar e usar o bilhete pelo celular. – ele falou no tom mais sincero dele.

— Hmm. – foi o único comentário dela. Aquilo implicava que ele nunca pisou numa estação antes de conhecê-la.

Ficaram em silêncio de novo. Ambos entraram na plataforma e pararam em frente ao único trem que havia ali.

Sesshoumaru esperou ao lado dela na plataforma, segurando-a pela mão direita enquanto que a outra ainda estava na alça da maleta de quatro rodas que ele ajudou a arrumar.

Quando sentiu a mão dela fria, lembrou-se do que precisava fazer: procurou em um bolso interno do casaco o presente que havia comprado.

— Quase ia esquecendo... – ele abriu a pequena caixa com o par de luvas. Viu-a arregalar os olhos e corar.

— Que lindas... – ela imediatamente protegeu as mãos e ficou na ponta dos pés para dar um beijo no rosto dele – Obrigada.

Rin levou alguns minutos observando os detalhes das luvas, enquanto Sesshoumaru passava a notar as outras pessoas na plataforma. Do lado esquerdo, um casal com um bebê no colo da mãe também estava ali, mas apenas o marido parecia que ia viajar. Toda hora a mulher erguia o bracinho do bebê para movê-lo num "tchau", o mesmo fazendo o pai.

Do direito, viu um casa mais jovem se preparar para viajar. A garota digitava com extrema eficiência o que o rapaz falava na tela do celular, como se estivesse ditando uma lista. Depois que ela terminou, guardou o celular em um dos bolsos do casaco e tirou de lá um bilhete impresso, dando a outra mão para que ele a segurasse.

O pressentimento ruim continuava.

— Está levando seu celular? – ele perguntou de súbito.

A garota assentiu e colocou a mão num bolso do casaco, tirando o aparelho de lá. Com o péssimo hábito que tinha, era capaz mesmo de deixar o celular em Tokyo e lembrar apenas quando já estivesse na casa da família.

— Eu mando uma mensagem quando chegar lá. – ela assegurou.

Sesshoumaru também assentiu.

— Eu ligo pra você todos os dias. – ela continuou.

De novo, ele moveu a cabeça confirmando.

— E tentarei voltar o mais rápido que puder. Talvez eu fique apenas uma semana. Quero só passar o período de recuperação dele.

Desta vez, ele não moveu a cabeça. Muito menos fez uma réplica.

Faltando apenas cinco minutos para as dez e meia da manhã, o trem Tokyo-Nagoya deu sinal de partida. Os outros passageiros começaram a organizar-se em fila. O homem da família despediu-se do bebê mais uma vez e mãe e filho se afastaram. A garota que anotou as coisas no celular abraçou e beijou o namorado antes de embarcar.

Faltava então apenas a vez dele.

Rin foi uma das últimas pessoas dela para prolongar o contato com a mão do namorado por mais alguns minutos. Ele também fizera questão de aproveitar.

— Espero que possa mesmo voltar o mais rápido que puder. – ele comentou casualmente, fazendo com que ela virasse o rosto.

Notando a expressão calma dele, Rin ficou surpresa de ver a quantidade de sentimentos que uma simples frase como aquela, pronunciada por Sesshoumaru, poderia atestar.

— Não quero ficar o fim de semana longe de você. – ela também falou, sem evitar que um rubor dominasse o rosto.

Rin percebeu que se aproximava mais e mais da porta. Mais duas pessoas e ela...

— Não esqueça de falar com o seu irmão sobre a sua formatura e o seu mestrado aqui. – ele avisou.

— Sim, preciso ver também como eles virão para a cerimônia.

A inquietação mais uma vez o perturbou, mas ele tentava parar de se incomodar com aquilo. Era sempre quando ele mencionava o irmão dela.

— Passagens, por favor. – um funcionário pediu.

— Só uma. – Rin informou, indicando com a cabeça o rapaz que ainda a segurava pela mão – Ele só está me acompanhando.

O homem segurou o ticket, viu as informações sobre a compradora no ipade deu passagem para que a passageira subisse.

Era aquele o momento. Sesshoumaru soltou a mão, entregou-lhe a mala de rodinhas e ela se virou. Deu um breve e casto beijo nos lábios dela, e a viu subir no trem. Pelo vidro, acompanhou com o olhar a namorada andar pelo vagão à procura do assento e acomodar-se próximo a uma janela. De lá, ela acenou para ele.

O rapaz escutou, minutos depois, o celular no casaco social avisar sobre o recebimento de uma mensagem: era de Rin.

Já estou com saudades. Sentindo minha falta também?

O trem indicou a partida. Os vagões começaram a mover. Um alerta de segurança foi emitido: demais pessoas deveriam ficar atrás da faixa de segurança, longe dos trilhos.

A resposta de Sesshoumaru chegou ao celular dela cerca de um minuto depois que o trem começou a acelerar.

Bastante. Volte logo.

No trem, Rin deu um sorriso e encostou a cabeça na poltrona.


O Subaru da família Nozomu estacionou próximo ao portão da grande casa, de onde desceram Hakudoushi e Rin. Da estação até chegarem, os irmãos conversaram sobre o acidente, sobre a cirurgia, o período de recuperação e fisioterapia do pai.

Segundou contou Hakudoushi, o pai, ao descer do quarto para a cozinha, errou um degrau, escorregou e quebrou o fêmur, tendo que usar um fixador externo por pelo menos seis meses.

— Eu acho que passei a noite inteira te ligando. – ele abriu o porta-malas e tirou a pequena mala cheia de livros e a mochila amarela – Não tem ideia da loucura que foi de ontem pra hoje por aqui. Vou tentar dormir agora.

— Eu já pedi desculpas. – ela resmungou – Eu esqueci o celular na casa do meu namorado. Ele também disse pra eu me acostumar a usar.

— Achei que fosse usar o tempo todo que nem aquelas menininhas de colegial. – ele também reclamou, fechando o porta-malas – Trocando mensagens toda hora com ele e...

Hakudoushi continuou reclamando sobre a irmã não estar com o aparelho nos momentos mais necessários, mas Rin não prestava atenção. Os olhos estavam voltados para dentro da casa, mais especificamente para o enorme jardim.

— Hmm... Hashi... Por quanto tempo o papai vai precisar ficar de repouso?

— Uns seis meses. – ele colocou as mãos nas costas dela para guiá-la para dentro da casa, mas a irmã nem se moveu. Apenas ergueu a mão e apontou para o jardim, visível do ponto onde estavam.

— O que ele tá fazendo ali regando aquelas plantas? – Rin perguntou.

Os olhos de Hakudoushi arregalaram comicamente.

Segundos depois, ele marchava portão adentro para tirar satisfação do homem que tinha acabado de fazer uma cirurgia, com um fixador em uma das pernas, calmamente sentado em uma cadeira com uma mangueira na mão, jogando água nas plantas.

— O QUE TÁ FAZENDO AQUI, VELHO?! – Hakudoushi gritou, como era típico de acontecer naquelas situações.

— Minhas plantinhas estavam secas. – o outro deu de ombros – Vou cuidar agora que tenho mais tempo.

— VOLTA JÁ PRA CAMA! – ele apontou autoritário para dentro da casa, numa verdadeira pose de chefe da família – NEM DEVIA TER SE MEXIDO!

O senhor Nozomu virou a mangueira para o lado e jogou água na cara do filho.

Rin observou a discussão entre os dois de longe, dando um suspiro cansado. Durante a viagem, ela torceu para que a estadia em Nagoya não se prolongasse, mas, dali, ela entendeu que o pai daria extremo trabalho para se comportar no período de recuperação.


Três dias depois

Quando Rin desceu as escadas naquela manhã, fazia uma lista mental de coisas que precisava comprar na papelaria favorita no centro da cidade. Precisava de dois cadernos novos e canetas, pois esquecera o material em Tokyo na pressa da viagem. Talvez comprasse também uma agenda nova.

Mas eram coisas que decidiria na hora. Papelaria era um dos lugares favoritos dela, onde conseguia passar horas apenas olhando os itens e escolhendo os diversos modelos, principalmente os modelos de diários. Em Tokyo havia dezenas, mas a Nagoya já conhecia por cada seção.

Ao chegar à cozinha, viu a seguinte cena: o pai sentado numa cadeira preparando café, a cozinheira da família de braços cruzados e batendo furiosa e impacientemente o pé no chão, e Hakudoushi e a mãe fulminando-o com o olhar. Tinha sido a mesma cena dos últimos dias. O pai não gostava do café dos outros e queria preparar ele mesmo um, então simplesmente arrastava-se até o cômodo para atrapalhar a cozinheira e deixar todo mundo nervoso.

— Bom dia. – ela os saudou.

— Bom dia. O café de verdade está quase pronto. – o pai anunciou enquanto jogava água quente num filtro de pano cheio de pó preto.

— De novo isso? – ela olhou a cena. A mãe e Hakudoushi balançavam a cabeça em desalento.

— "De novo" o quê? – o pai fingiu que a situação não era nem com ele.

— Você deveria estar de repouso. – ela tomou delicadamente o coador das mãos dele. Parecia ser a única que o pai deixava aproximar-se naquelas horas.

— Ei, devolva isso, mocinha! – ele asseverou.

Rin não se deixou abalar diante do tom.

— O café pode ser feito pela ba-chan. – ela entregou bule e coador para a cozinheira com a devida autoridade. Era agora ela mandando no pai – Vá se deitar.

— Mas eu quero o meu café.

Rin continuou usando o tom de voz calmo:

— Não pode nos dar trabalho assim. Precisa ficar melhor. Ontem Hashi dispensou os alunos pra ficar vigiando o que fazia no jardim e você jogou água nele duas vezes.

— Ele poderia ter saído da frente da mangueira, ué. – o outro falou teimosamente.

Tchi. – o outro murmurou.

— Eu também não consigo fazer meu trabalho porque preciso ficar de olho no senhor toda hora. Preciso terminar o estágio e me formar. E se você não puder ir pra minha formatura porque está ainda se recuperando?

O pai ficou em silêncio.

— Hunf. – Hakudoushi resmungou – Parece que ele entendeu agora.

— Vai, vai se deitar. – a cozinheira o expulsou com um movimento de mão – Preciso terminar aqui. Eu levo seu café da manhã.

— Vamos, velho teimoso. – Hakudoushi se levantou e estalou os dedos – Vamos já pra cama.

Minutos depois, ele levava o pai para fora da cozinha, ajudando-o a andar.

— Ele realmente só ouve o que você fala. – a mãe comentou, só naquele momento analisando como ela estava vestida – Vai sair?

— Vou ao centro comprar algumas coisas. – ela explicou, sentando à grande mesa da cozinha – Cadernos e livros.

— Oh. – ela murmurou – Boas compras, então.


A papelaria Haibara tinha matriz em Tokyo e várias filiais no Japão todo, incluindo uma grande, tanto quanto a da capital, em Nagoya. Rin a frequentava desde a adolescência, quando começou a escrever diários. Mesmo agora, mais de um ano depois de perder o hábito, ela continuava a olhar modelos novos e a imaginar-se escrevendo neles.

Interessou-se em levar uma caneta tinteiro para o avô de Sesshoumaru como um presente de viagem. Havia conseguido estabelecer uma boa relação com Bokuseno, numa tentativa de entender a relação entre ele e o neto e a vida cheia de normas daquela família.

Algo chamou a atenção em um estande perto dos cadernos: um pequeno globo cheio de focos de neve, em uma imitação do famoso templo de Nagoya. Servia de peso de papel e era semelhante ao que ela havia dado a Sesshoumaru meses antes.

— Ah... que lindo... – ela pegou o objeto e balançou com força, vendo quase hipnotizada a neve cair em cima do mini-telhado.

Seria um bom presente para Sesshoumaru, ela decidiu ao colocar na cesta que carregava. Já tinha canetas, cadernos, uma nova agenda de telefones, papel de arroz, um carimbo novo para assinaturas e o presente de Bokuseno.

Rin-chan?

Ao ouvir ser chamada, ela olhou para trás.

— Ah, é você mesmo! – uma garota, com cabelos castanhos ondulados até os ombros, um pouco mais velha que ela, deu um sorriso – Há quanto tempo!

Levou alguns segundos para a outra reconhecer aquela pessoa: uma antiga amiga da época que cursava a Universidade de Nagoya.

— Ah, Eri-chan! – ela exclamou.

Rin afastou-se do estande e foi ao encontro da velha conhecida.

— Como você está? – Eri se adiantou em perguntar – Soube que nem mora mais aqui.

— Bem... eu ainda estou morando longe. Vim pra Nagoya porque papai sofreu um acidente e vim às pressas pra cá.

Eri arregalou os olhos.

— Nozomu-san está bem?

— Está sim. Bem até demais. – Rin enrugou a testa para indicar que estava realmente irritada – De manhã queria ensinar todo mundo lá em casa a fazer café do jeito que ele gosta quando deveria estar de repouso.

Eri deu uma risada alta e tentou abafar depressa, tapando a boca. Rin lembrava-se bem daquele som. Sempre a fazia rir quando estudavam juntas.

— Falando em café, vamos tomar um agora?

— Claro. – Rin deu um largo sorriso e mostrou a cesta para ela – Vou pagar primeiro isso aqui.

— Ainda louca por cadernos e canetas?

— Sempre. – ela confirmou com um sorriso.


— Só você mesmo ainda anota os números em agendas. – Eri comentou enquanto via Rin anotar o número de contato da amiga em uma nova caderneta de telefones – Eu salvo tudo no celular.

— Ainda não confio nisso. – ela declarou admirando uma nova caneta tinteiro – Vocês sabem dos perigos que essas coisas trazem.

— Somos dependentes, eu sei. – Eri bebeu um pouco do chá verde – Mas, sabe... Não há como fugir dessas coisas agora.

— Vou resistir até o último momento. – Rin falou teimosamente.

Ficaram em um confortável silêncio, sentadas em uma cafeteria próxima à papelaria Haibara. Depois de fechar e guardar a agenda nova na sacola, Rin bebeu um pouco de chocolate quente com avelã, um dos favoritos dela. As duas sorriram uma para outra, felizes com aquele encontro.

— E o que anda fazendo? – Eri perguntou.

— Estou terminando meu estágio e a faculdade. A formatura é daqui a dois meses. Já estamos terminando os seminários do último período.

— Parabéns, Rin-chan! – ela colocou a xícara de volta à mesa e bateu palmas discretamente – Você vem comemorar aqui?

— Ainda não pensei nisso. – Rin franziu a testa. Realmente, era a primeira vez que pensava em fazer festa ou talvez um jantar com a família, ainda mais agora que havia essa incerteza sobre o estado do pai. Também não havia conversado com Sesshoumaru sobre a possibilidade de ele viajar para Nagoya para conhecer a família e a cidade.

— E vocês estão formadas. – não era uma pergunta de Rin.

— Sim. – Eri baixou o rosto e sussurrou olhando para a xícara – Sentimos a sua falta na festa. Mandamos o convite e várias mensagens.

O sorriso de Rin morreu.

— Desculpe. As coisas ficaram difíceis pra mim nessa época.

— Eu sei. Também nos avisaram sobre o que aconteceu. – Eri sussurrou – Nós estivemos no funeral de Akihito e você não foi. Queríamos te dar apoio.

A mão que segurava a xícara de chocolate quente tremeu e ela teve que colocar de volta à mesa. Os sentimentos dela em relação ao que fez naquela época ainda precisavam ser revistos e resolvidos, fazendo-a decidir marcar uma nova consulta para continuar a analisar a melhor forma de tratar aquela situação.

Para disfarçar, Eri mudou novamente de assunto:

— E como está em Tokyo?

Rin ergueu o rosto novamente e forçou um sorriso antes de responder:

— Estou bem por lá. Mas é bem mais caótico do que imaginava. – curvou o corpo sobre a mesa para falar como num segredo – Você sabia que os apartamentos lá são projetados com toalete e banheiro juntos?

A outra arregalou os olhos, moveu a boca num silencioso "não" incrédulo, depois fez uma cara de nojo.

— Alguns lugares que eu visitei tinha um banheiro quase grudado com a pia da cozinha e o fogão. Um amigo meu disse que nem dava para distinguir se o cheiro ruim era do arroz queimado ou do toalete.

— Isso só pode ser brincadeira! – a outra balançou a cabeça em descrença, tamanho o absurdo contado.

— É verdade! – Rin insistiu.

— Que coisa horrível. Como as pessoas vivem lá?

Ao dar-se conta do que falara, ela tentou corrigir rápido:

— Não você, claro! Tenho certeza que não mora num lugar desses.

— Não, meu apartamento é um dos melhores. É perto da universidade e é muito confortável.

A amiga deu um sorriso que mais pareceu um misto de alegria e alívio.

— E eu estou com uma pessoa lá agora. – Rin continuou com um sorriso, sentindo o rosto corar levemente – O nome dele é Sesshoumaru.

Houve um momento de surpresa no rosto de Eri, depois o sorriso de antes apareceu:

— Que bom, Rin-chan. Fico feliz por você. Há quanto tempo estão juntos?

— Desde o verão. – ela lembrou com carinho do dia desastroso que ela teve, com atraso nos compromissos e o pé machucado, antes de terminá-lo com Sesshoumaru na casa dela – Estou gostando muito de estar com ele.

As duas ficaram novamente em silêncio.

— E você? E as meninas?

— Bem, Yuka está trabalhando muito e disse que pretende juntar dinheiro pra viajar bastante. Não está mais com Houjo. Ainda bem na minha opinião. Você sabe que eu não gostava dele e daqueles presentes estranhos.

Rin tentou abafar a risada. O rapaz tinha uma preocupação quase obsessiva com a saúde da então namorada.

— Ayumi agora é mãe.

— MÃE? – ela arregalou os olhos.

— Ela tem dois filhos.

— DOIS? – a voz ficou mais aguda.

— Sim, um casal. – Eri alargou o sorriso – Você precisa conhecê-los! São uma gracinha. Apenas um ano de diferença entre um e outro.

— Nossa, dois de uma vez... – Rin baixou o rosto para beber o chocolate.

— E teve que largar o emprego pra cuidar das crianças. O marido ganha bem, claro.

— Ela largou o emprego? Mas ela queria tanto trabalhar!

Eri deu de ombros.

— Acontece.

Rin franziu a testa. Como algo assim poderia "acontecer"?

Era costume que mulheres não chegassem ao ensino superior no Japão para se dedicarem à casa e à família depois de se formarem no secundário. O pai, como todo progressista, priorizou a formação dela. Até para autorizar o noivado da filha teve que expressar a preocupação em vê-la formada e que o casório só aconteceria depois da formatura.

Talvez ela simplesmente entrado numa bolha que a impedia de ver que a região de Aichi, dita tão progressista, tinha os mesmos problemas das outras, e que ela teve uma oportunidade maior que as próprias amigas.

— A verdade é que não há muitas oportunidades pras mulheres em muitos lugares quando temos família. – Eri confessou como se tivesse lido o pensamento da outra, olhando a xícara com interesse incomum – Mas Ayumi é muito feliz assim. Escolha dela.

— Você está trabalhando? – ela perguntou suavemente, mas o rosto não escondia a preocupação.

— Sim, em um escritório de advogados. Mas conversei com meus pais sobre sair de lá. Ganho menos que meus colegas que são homens e trabalho o dobro. O problema é que não é muito diferente em outros lugares.

— Oh. – ela baixou o rosto.

Será que seria assim em Tokyo?

Chegaria um momento de fazer o mesmo tipo de escolha que as amigas?

— Você vai ficar na capital até quando? – a outra bebeu um gole do chá.

— Hmm... vou fazer o mestrado. Papai vai me ajudar por um período.

Eri baixou a xícara meio cheia e deu um sorriso.

— É bom ter essas oportunidades. Pode conseguir um salário melhor.

— Você falando essas coisas me fez ver que tenho muita sorte. Agora entendo por que ele ficou tão chateado quando tranquei a faculdade pra ficar no hospital.

— O senhor Nozomu? – ela perguntou com evidente surpresa – Achei que ele tinha permitido. Foi bastante compreensível na época, já que você tinha que cuidar de...

— Não... – Rin a interrompeu – Não o meu pai. Estou falando de...

A voz silenciou para não precisar falar o nome. Somente segundos depois Eri entendeu o que ela quis dizer.

— Ah... Ele também não gostou?

Rin balançou a cabeça.

— Brigou até no último dia. Eu voltei a estudar porque ele disse que queria me ver formada.

— Nós queríamos muito te ver na nossa festa, Rin-chan. – Eri confessou num sussurro – Se quiser comemorar por aqui agora que vai se formar, avise todo mundo. Pode ter certeza que vamos. Ah, e traga o seu namorado também! Queremos conhecê-lo!

Rin deu um sorriso e assentiu, mesmo sem ter certeza sobre como iria celebrar aquele momento.


Ao atravessar o portão da casa, Rin olhou para os lados para ver se o pai não estava de novo no jardim podando alguma planta, regando, cultivando um bonsai ou brincando de lançar água na cara de Hakudoushi.

Olhou para um lado. Olhou para o outro.

— Nada? – ela piscou ao estranhar o fato.

Ao entrar, viu do genkan a mãe na sala, sentada numa poltrona, costurando um dos uniformes de Hakudoushi.

— Cheguei. – ela anunciou depois de tirar os sapatos.

— Bem-vinda. Não pensei que demoraria tanto. – ela comentou.

— Encontrei Eri na Haibara. – Rin explicou ao mostrar as sacolas – Trouxe também o bolinho favorito do papai.

A mãe parou de costurar por um momento e observou Rin seriamente.

— O que foi?

— Nada. – ela voltou a costurar, dando de ombros – Só o seu pai que está chateado lá em cima por ter brigado com ele.

Rin franziu o cenho.

— Que absurdo. Eu não briguei com ele. Só falei que ele tá dando trabalho desnecessário. Ah, ele vai ver só!

Ao marchar em direção às escadas com sacola e tudo, ouviu a mãe chamá-la:

— Rin.

A garota parou e olhou curiosamente para a figura que voltara a costurar a peça:

— Sim?

— Você marcou uma hora com o seu terapeuta?

— Oh... – ela franziu a testa – Ainda não. Eu tinha esquecido.

A outra novamente parou de costurar e voltar a fitá-la com seriedade:

— Marque ainda hoje, por favor. – avisou, voltando os olhos para a costura.

Rin nada respondeu porque entendeu que era uma ordem. Precisava apenas cumprir o que foi dito pela mãe naquele tom.

Chegou ao outro andar, seguiu pelo corredor e chegou à porta do quarto dos pais, batendo de leve.

Entre.

Colocou a cabeça na fresta e viu o pai sentado na cama a ler uma revista, uma perna dobrada e a com o fixador estendida em cima de uma almofada para ter mais conforto. Esticando o braço, mostrou uma sacola de papel como um sinal de paz.

— Trouxe seu bolinho favorito daquela cafeteria da Haibara.

— Oh... – ele baixou a revista e a olhou curiosamente – Eu achei que estava de castigo.

— Hunf. – ela entrou de vez no quarto – Eu só quero que se recupere. Nem estava brigando.

Jogando as demais sacolas com as compras no chão, ela aproximou-se da cama apenas com a do bolinho.

— Se você não for tão teimoso, vai poder subir a montanha comigo pra comprar nossos vinhos favoritos.

— Oba. Isso é um bom motivo. – ele recebeu o presente, tirando da sacola segundos depois o bolinho de chocolate.

Na primeira mordida, fechou os olhos para concentrar-se no sabor. Rin aproveitou para sentar-se na beirada da cama para observá-lo com um sorriso.

— Encontrei Eri-chan lá.

— Oh... – ele limpou os cantos da boca sujos com chocolate – Eu nunca mais a vi. Como ela está?

— Muito bem... Trabalha agora num escritório de advocacia. Ah, sabia que Ayumi-chan tem dois filhos agora?

O pai parou de comer e piscou curiosamente.

— Não sabia. – ele confessou – Há bastante tempo que não vejo suas amigas. Yuka está bem?

— Sim... parece que trabalha muito pra ficar viajando por aí.

Rin ficou em silêncio, pensando em como dizer algumas coisas que havia percebido enquanto falava com a velha amiga:

— Ayumi parou de trabalhar por causa dos filhos e agora é dona de casa, Eri pensa em sair do emprego e achar outro porque ganha pouco. Yuka trabalha muito e quase não tem tempo pra ver ninguém. Eu sou a única não trabalhando.

— Bem, você precisa de um diploma primeiro. – ele falou para atestar o óbvio – Há muito problema se tentar fazer isso sem um.

— Será que vai ser assim também? Vai ser algo como trabalhar muito e ganhar pouco?

O pai lambeu discreta e rapidamente a ponta dos dedos para tirar o doce que restou lá, e olhou seriamente a filha.

— Rin, você não está trabalhando porque você escolheu trancar o seu curso no último ano.

— Eu não quis dizer isso. Só quis dizer que sou bastante privilegiada de conseguir continuar estudando, mesmo passando da idade de começar a trabalhar.

— Assim você se concentra nos estudos. Nem todo mundo tem realmente essa chance. As coisas são assim no Japão todo. Temos sorte de em Nagoya permitirem que mulheres entrem nas universidades.

Rin ficou em silêncio.

— Você não precisa ficar aqui. – ele avisou subitamente – Já devia ter voltado pra Tokyo.

— Mas o senhor não melhorou ainda!

— Você não vai ficar seis meses comigo aqui. – ele insistiu num tom mais severo – Foi assim que aconteceu da outra vez.

— Que outra vez? – ela franziu a testa.

O pai ergueu uma sobrancelha.

Rin desviou o olhar e apertou os lábios numa linha fina. Havia entendido a respeito do que ele falava.

— Não precisa ficar parando a sua vida pra cuidar dos outros quando adoecem ou sofrem um acidente. Você viu que eu ainda consigo cuidar das minhas plantinhas e fazer meu café sozinho.

— Vai usar mesmo esses exemplos?

O pai balançou a cabeça para que ela não o interrompesse mais, continuando:

— O que eu quero dizer é que aceitamos algumas das suas escolhas naquela época por causa do que aconteceu, mas precisa entender agora que deve seguir seu próprio caminho. Você parou de estudar e perdeu um ano da sua vida aqui e não se formou. Não pode fazer isso de novo. Eu quero que volte imediatamente pra sua casa em Tokyo.