Nota da autora: Perdão pela demora... eu prometi que iria postar com frequência, mas o trabalho me impediu.

Final do ano chegando e ainda não terminei de reescrever a história... Bem, eu queria muito que isso se concretizasse o mais breve. Vamos ver se consigo atualizar bastante ainda em janeiro e fevereiro, certo? Vai depender dos recados que vocês deixam pra mim nos comentários, ahahahah.

Obrigada a quem comentou no último capítulo: Luna Crusader, Li'luH, Jo-Anga, HelloBraga, Autumbane, Priy Taisho, Bruna-san, isabelle36, Josy, Ayame, Ana Clara e Vicman. Obrigada, gente!

Um agradecimento especial a Kuchiki Rin por ler e aprovar a publicação!

Foi um capítulo bem difícil de escrever porque não queria deixar nenhuma ponta solta, por isso ficou um pouco grande. É um capítulo sobre conflitos de família, então preparem-se.

Fico aguardando os comentários. Tomara que gostem. Ah, deixei uma nota final sobre o outtake especial que estou devendo!


ADVERTÊNCIA: este capítulo trata sobre sentimentos negativos como angústia e melancolia. Se você se sente incomodado com o assunto ou está com problemas para ler a respeito, recomendo que leia apenas quando se sentir confortável.


UM CAMINHO PARA DOIS

CAPÍTULO 27

Caminho de volta a Nagoya – parte II

— ... E desde essa hora ele não para de me cobrar sobre a passagem! "Já comprou a passagem de volta? Que horas é? Vou te deixar lá na estação nem que seja amarrada". Ora, francamente!

Sesshoumaru ouvia tudo do outro lado em silêncio pela janela da sala do centro com vista para o jardim da faculdade de Direito da Universidade de Tokyo. Aquele mau pressentimento, sentido dias antes, ainda não havia passado e manifestava-se sempre que conversava por telefone com Rin.

Venho aqui ajudar e praticamente sou expulsa de casa! Não é um absurdo?

Rin continuava a falar sobre as coisas e ele apenas escutava. No geral, ela contara que o pai a convenceu a voltar para a capital, mas a mãe também insistira para que ela arranjasse um tempo para conversar com o terapeuta antes do retorno. Sesshoumaru não tinha ideia que ela ainda consultava um por lá. Se soubesse, teria tomado uma providência para que visse um por ali mesmo.

... E você está bem? – ela perguntou, tirando-o daqueles pensamentos – Não brigou com o seu avô, né?

— Não. – ele confirmou. Há tempos que ele não tinha uma discussão com o avô, coincidentemente desde que Rin passou a conviver mais com todos da família – Ele quer saber quando estará de volta para jogarem e beberem vinho.

Ouviu uma risada do outro lado da linha. Sesshoumaru olhava fixo para um ponto no horizonte. Ela parecia bem, mas ele queria saber...

— Comprou a passagem? – ele mudou o rumo da conversa.

Ainda não. Mas devo pegar um trem do fim do dia e chegar tarde da noite. Já comecei a arrumar minhas coisas.

Pelo menos o dia terminaria com o retorno dela. Ele tinha ainda muita coisa para fazer com o final do estágio, além de pensar em como poderia ajudá-la a recuperar o tempo que ficou fora sem que isso causasse prejuízo naquele último período, tão perto da formatura e...

— E o seu irmão? – ele quis saber.

Oh... ele quase não para aqui. Está trabalhando.

Como ela não estava perto e felizmente não podia vê-lo, deu-se a liberdade de balançar a cabeça em desalento. O irmão a fez ir para casa dos pais às pressas simplesmente para ele continuar trabalhando e ela ficar cuidando sozinha do pai, mesmo com este dizendo que estava bem, tanto que cuidava do jardim e jogava água na cara de Hakudoushi a longas distâncias.

Rin não havia percebido aquilo.

Estou com saudades. – ela falou de repente e interrompeu o pensamento dele – Posso ir direto pra sua casa?

O sentimento ruim deveria desaparecer com aquelas palavras, mas continuava lá.

— Dependendo do horário, eu posso buscá-la na estação para voltarmos juntos. – ele falou com seriedade, estreitando de leve os olhos para tentar fazer aquela sensação ruim desaparecer – Quer dizer que comprou um presente pro meu avô?

E pra você também. – até pela voz era possível de imaginar o sorriso dela.

— É um presente como daquele fim de semana?

Rin engasgou do outro lado.

Não, nada daquilo! – ela tentou se recompor. Conseguiu até imaginá-la corando ao lembrar da primeira vez que passou a noite na casa dela – É outra coisa!

— Hunf.

Ficaram em silêncio por alguns segundos.

— Volte logo então para eu ver meu presente, então.

Mais tarde eu mostro. Ah, encontrei uma amiga hoje e contei a respeito de nós dois. Quer te conhecer também quando vier por aqui algum dia. Vamos conversar sobre isso?

Planos. Planos de Rin. Planos com Rin. De alguma forma, ele não se incomodava que ela fizesse alguns envolvendo o nome dele, diferente dos pais e do avô que planejaram e controlaram cada passo que ele deveria dar.

Rin, por outro lado, aprendeu desde cedo fazer as próprias escolhas, bastante independente, recebendo apoio aqui e ali, mesmo que desagradasse algumas pessoas, principalmente o irmão. E ela, de certa maneira, mostrou que ele também poderia fazer isso, nem que fosse em pequenas situações: um jantar espontâneo num dia, uma mudança de planos no outro sem que prejudicasse, saída com os amigos que ele não havia notado que tinha ou ter um momento mais pacífico com o irmão ou o avô.

— "Algum dia." – ele repetiu para dar ênfase.

Bem, é melhor eu parar por aqui. Você tem que trabalhar, né?

— Sim. – ele fechou os olhos, sentindo uma espécie de alívio. Menos uma cobrança agora – Último dia.

Sua amiga Aoki-san vai ficar chateada. – ela falou num tom que ele sabia que era brincadeira – Não vai mais fazer ter desculpa de fazer jantares só pra você.

— Hunf. – ele pouco ligava para a provocação. Ele sabia que a colega era uma garota tão deslumbrava que nem percebia a relação que tinha com Rin, apesar de vê-los de mãos dadas com frequência pelos corredores da faculdade.

Prometo não esquecer meu celular e avisar sobre minha chegada. – ela queria encerrar a ligação – Bom último dia de trabalho.

Sesshoumaru não quis responder, mas ela sabia que ele gostou de ter ouvido aquilo.

Ouvi-o encerrar a ligação jogou-se na cama de vez, largando o aparelho em cima do edredom. Olhou fixamente o teto, como tantas vezes já tinha feito no passado, com um braço jogado em cima da testa. Estava cansada da discussão com o pai e mais exausta com o pedido da mãe de marcar um terapeuta no mesmo dia que precisava viajar.

O pai não deixava de ter razão. Ela não tinha que estar ali. Precisava ir para a capital o quanto antes para terminar o estágio e terminar os últimos trabalhos pendentes. Ainda precisaria pensar em como seria a formatura com o pai naquela situação. A recuperação dele iria demorar muito... Talvez fazer uma pequena comemoração em Nagoya fosse uma boa ideia, ao invés de esperar a família ir para a capital.

Ficou de bruços na cama, pernas balançados no ar, olhando os diários antigos da época de Aki espalhados pelo lençol. Ela precisava fazer uma leitura antes de ir para o terapeuta, estudar bem sobre um assunto que deveria conversar, até decidir deixar de lado e ligar para Sesshoumaru.

Durante a conversa com a amiga Eri, ela havia ficado incomodada com um ponto: ela não tinha ido ao funeral. Até as amigas, com quem não falava há tempos por estar isolada cuidando dele, foram prestar homenagens e ela não.

Abriu um caderno e começou a folhear algumas partes: relatos sobre as idas ao hospital, sobre o curso, sobre o trancamento e...

Fechou novamente com força e deu um suspiro.

Pegou o celular e esticou o braço para pegar a nova agenda de telefones, caída embaixo da cama enquanto conversava com o namorado. Lá, abriu a página com o nome e o número do terapeuta.

RIIIN-CHAAAAN... – ela ouviu a voz cantarolada de Jakotsu aproximando-se mais e mais da porta – RIN-CHAAAAAAAAAAAN!

— Oh, não... – ela murmurou. Toda vez que ele vinha tão animado daquele jeito significava que ele estava trazendo alguma coisa de presente. Só esperava que fosse muito daquela vez.

A porta abriu-se com um chute e ele entrou rodopiando com dois enormes vestidos de inverno protegidos por capas e quatro sacolas da marca dele, igualmente distribuídas em cada mão.

Ao parar na frente dela, sentada em seiza na cama, ele estendeu as mãos com os presentes e um enorme sorriso no rosto:

— Pra levar.

— De forma alguma! – ela protestou – Eu nem trouxe mala grande!

— Compra outra. – ele balançou a cabeça diante daquela ideia considerada óbvia – É tudo da minha nova coleção outono-inverno. Você tem que levar.

— Não, Jakko!

Jakotsu viu a prima pular da cama e correr até o guarda-roupa para abrir as duas portas de uma vez e apontar para o interior abarrotado de roupas:

— Olha isso aqui! Eu nem experimentei toda essa coleção!

— Ora, ora, veja só o que temos aqui... Tá tuuuudo aqui mesmo, hein? Andou sem roupa em Tokyo, então? – ele falou como se fosse uma coisa absolutamente normal, gesticulando com desprezo para que ela fechasse aquelas portas – Pode queimar tudo, já passou, não vale mais nada.

— Não! De jeito nenhum! – ela parecia horrorizada com a ideia – Vou usar ano que vem!

Jakotsu deixou um dedo em riste e usou o tom mais sério para falar:

— Nenhuma... preste bem atenção, Rin... NENHUMA Nozomu usa uma roupa fora de moda da MINHA marca. JAMAIS.

— Eu tenho que arrumar minhas coisas pra voltar hoje pra Tokyo! – ela explicou num tom meio exasperado – Como vou levar tudo isso?

— Como assim, vai voltar hoje? – ele apoiou as mãos nos quadris em indignação – Achei que fosse ficar uns seis meses aqui cuidando do seu pai.

Tão logo as palavras saíram, Rin arregalou os olhos e Jakotsu tapou a boca com os dedos.

— Desculpe. Não era pra sair tão ruim assim. Era pra ser mais engraçado.

Rin estava tão em choque que não tinha coragem de olhar para o rosto do primo. O incômodo que ela sentia desde que voltara do encontro com Eri ficou mais forte.

Sentou-se na beirada da cama e ficou com os olhos fixos no chão.

— Ah, Rin... – Jakotsu apressou-se para tomar o espaço ao lado dela na beirada da cama, mas ainda muito receoso de tocá-la depois do que falou – Eu não sabia que ia voltar hoje. Só queria te deixar mais alegre. Sei que tá um estresse por causa do seu pai desse jeito.

— Papai me mandou embora. – ela começou num tom triste – Disse que eu não precisava vir às pressas pra cuidar dele.

Jakotsu tirou tudo que estava em cima da cama e colocou num monte desorganizado no chão, deitando-a gentilmente de lado no espaço mais livre. Ele fez a mesma coisa, ficando frente a frente com ela para poderem conversar.

— Rin, minha prima... – ele tentou provocar uma reação deslizando o dedo pela testa para tirar o cabelo que atrapalhava a visão, revelando um olhar mais duro e uma testa franzida – Ele está preocupado com você, assim como todo mundo. Aquele preguiçoso do Hakudoushi deveria ter falado que você não precisava vir. Seu pai está bem. Você viu que ele até gosta de fazer o Hashi tropeçar com o apoio que tá usando.

Rin deu uma risada leve e reprimiu o riso.

— Você tem esse jeito de querer ser... salvadora dos outros. – ele continuou, ignorando a forma como ela franzia a testa – Querendo sempre cuidar de quem está doente... não pode fazer isso todas as vezes e com todo mundo, sabe? Foi assim com Aki, e agora você quer fazer com o seu pai a mesma coisa.

— Não é pra tanto assim. – ela reclamou daquela observação que considerava injusta.

— Você ficou quantos anos fazendo isso? Só cuidando do Aki, todo dia indo pro hospital, abandonando a faculdade e seus amigos? – ele perguntou – Você tem que cuidar da sua vida também. Tem um namorado novo, tem que se formar e continuar a vida, seja lá o que decidir com esse cara depois. Já se perguntou o que ele tá sentindo achando que vai ficar aqui por mais tempo?

Os olhos de Rin umedeceram e ele notou que ela bravamente evitou derramar lágrimas.

— É tão ruim assim eu me preocupar com os outros?

— A gente fica preocupado de você encontrar algum desconhecido por aí e ir todo dia dar água e comida pra ele. E se for um assassino sanguinário?

Rin estreitou os olhos.

— Você é tão exagerado. – ela mudou de posição para olhar o teto.

Jakotsu tinha um sorriso mais largo no rosto e ela, pelo canto dos olhos, ficou desconfiada. O que ele estaria pensando em fazer?

— Quer relaxar um pouco? – ele perguntou de repente.

— Eu não tenho tempo pra...

Antes de completar que tinha que se preocupar com o retorno para Tokyo, o primo uniu as mãos dela no meio da barriga e repetiu o gesto.

— Vamos lá. Feche os olhos. – ele ordenou enquanto fazia o mesmo – Agora respire lentamente.

Os dois ficaram na cama juntos, deitados lado a lado, amarrotando as roupas, respirando calmamente.

— Imagine um lugar onde gostaria de estar agora.

Rin imaginou estar em qualquer lugar de Tokyo ao lado de Sesshoumaru.

Sesshoumaru era tranquilidade.

Sesshoumaru era o centro dela.

Sesshoumaru segurando a mão dela, Sesshoumaru na estação, Sesshoumaru dizendo para que ela voltasse logo. Sesshoumaru telefonando todos os dias.

Sesshoumaru.

Sesshoumaru.

Sesshoumaru...

— Eu queria estar em Tokyo. – falou de repente – Eu não esperava mais sentir essas coisas... Saudade dessa cidade enorme, cheia de gente insensível... Mas ele é tão bom comigo... E eu me sinto tão bem ao lado dele. Ficamos conversando quase duas horas ontem e eu não queria desligar.

Uma lágrima escorreu pelo canto do olho esquerdo, misturando-se ao cabelo.

— Eu sinto falta de tê-lo perto de mim, de sair com ele, estudar no nosso jardim... De estar com ele. De ter Sesshoumaru comigo quando estou aqui.

Apenas se deu conta de que era a primeira vez que falava sobre o namorado a alguém da família e abriu os olhos, virando o rosto para encarar o primo, que com certeza a observava.

Mas Jakotsu estava ainda de olhos fechados, dormindo. Respirava profundamente e até roncava suavemente.

Fechou os olhos de novo e deu um suspiro cansado. Aquilo pelo menos ajudou um pouco. Ela sabia o que queria.

Estar com Sesshoumaru.

Uns cinco minutos depois, o telefone de Jakotsu o despertou com uma chamada e ele, sonolento e desorientado, olhou para a prima sem entender o que estava acontecendo.

— Desculpe... estou esgotado tomando conta da empresa sozinho. – ele explicou coçando os olhos para franzir a testa para o número que aparecia na tela – Nozomu Jakotsu falando.

Rin voltou a observar o teto. Sim, ela tinha que voltar logo para casa.

— Quem está falando? – Jakotsu perguntou ao lado dela, levantando-se para sentar na beirada da cama.

Um minuto de silêncio se passou.

— "Byakuya"... sim. Eu lembro, sim.

Jakotsu virou o rosto para a prima e moveu a boca para falar silenciosamente "não lembro, não" e ela abafou a risada para não ser ouvida.

— Essa parte da empresa era do meu ex-companheiro... Okay... Sim. Podemos conversar sobre isso.

Rin ignorou a conversa por mais alguns minutos, tempo que Jakotsu acertou local e horário para uma reunião com a pessoa.

Ao desligar, virou-se o rosto para olhá-la por cima do ombro, ainda deitada.

— Um possível sócio. – ele explicou – Tomara que dê certo.

— Vai sim. – ela sorriu e estendeu uma mão para deslizar em sinal de conforto pelas costas dele – Você sempre é o melhor nisso.

— Eu quase não tenho tempo pras criações porque tenho que falar com fornecedores, fazer contratos, reuniões... Estou quase de cabelo branco! Esta semana eu acho que encontrei a assistente perfeita e já melhorou uns quarenta por cento.

— Ohh... – ela sentou-se na cama e o abraçou – Viu como já está dando tudo certo?

— Tomara, pois agora eu tenho que lidar com o fato de meus parentes não usarem minhas criações.

Jakotsu deu um suspiro profundamente fingido e Rin fechou os olhos em leve irritação. Não queria deixar-se comover por aquilo.

— Tenho que ligar pra uma empresa incinerar essas roupas. – ele balançava a cabeça em desalento enquanto Rin revirava os olhos. Para completar aquele teatro, ele ainda colocou a mão no coração e a outra no rosto, uma palma quase aberta na bochecha, suspirando pesadamente – Queimar tudinho numa graaande fogueira...

— Jakko... Por que não manda pro Museu da Moda? – ela sugeriu para evitar mais constrangimentos e drama entre os dois – Tenho certeza que vão aceitar o que mandar pra lá.

Jakotsu ergueu as sobrancelhas, colocou a mão no queixo e olhou a coleção considerando a boa ideia. Depois levantou-se e andou em direção ao guarda-roupa, afastando os cabides e separando uma peça aqui e ali.

Rin aproveitou o momento e começou a andar na ponta dos pés para sair do quarto sem ser notada, fechando a porta atrás de si.

Encostou-se na parede do corredor e deu um suspiro profundo. Provavelmente o primo ficaria uns bons minutos concentrado naquela ideia do museu e esqueceria o absurdo que era levar mais roupas para Tokyo.

— Rin?

A garota virou o rosto para o lado assim que reconheceu a voz da mãe.

— Aconteceu alguma coisa? – ela perguntou com cautela – Estava chorando?

Rin rapidamente limpou os resquícios de lágrimas que escorreram.

— Ah... não. Jakko e eu estávamos conversando. Ele agora está mexendo no meu guarda-roupa. – ela deu outro suspiro cansado – Preciso ligar pro terapeuta e reservar minha passagem.

A mãe a encarou por alguns minutos. Ela piscava lentamente, endurecendo algumas linhas do rosto para estreitar de leve os olhos enquanto a analisava.

— O... O que foi? – Rin franziu a testa em confusão.

— Aconteceu alguma coisa além de encontrar a Eri? – ela quis saber.

Rin continuava confusa.

— Não aconteceu nada. – ela deu um sorriso gentil – Só estou cansada.

— Hum. – a velha senhora baixou o rosto e voltou a andar pelo corredor, as mãos às costas, pensativa, indo em direção ao próprio quarto.

Rin continuou no corredor a encarar por alguns segundos a porta do aposento dos pais. A mãe provavelmente percebeu que ela havia ficado incomodada com a conversa que ela tivera mais cedo com Eri e a briga com o pai.

Minutos depois, o primo saiu do quarto com cabides de alguns modelos da coleção anterior em mãos e encostou os lábios na bochecha dela.

— Rin, eu volto mais tarde pra pegar mais alguns modelos. Vou pra uma reunião agora.

Ouviu-o cantarolar enquanto se afastava e deu um profundo suspiro. A mão direita fechou num punho e pressionou-a próximo ao coração, franzindo a testa. Havia uma angústia a dominando lentamente, mas ainda não sabia explicar o motivo.


Algum tempo depois, Rin ouvia alguém bater de leve na porta e abri-la. Sentada à escrivaninha enquanto fazia anotações para levar ao terapeuta, ela olhou por cima do ombro e viu o irmão colocar a cabeça pela fresta:

— Ah, Hashi... – ela deu um sorriso – Que bom que já chegou. Vai fazer alguma coisa agora?

O irmão, trajando o usual hakama dos treinos de kendô, entrou e olhou para a cama, onde viu a mochila amarela, e para o chão, especificamente para a pequena mala pronta.

— Vou precisar sair de novo. Treinamento pra competição.

— Oh... – ela franziu a testa. Ele havia falado antes sobre uma competição há algum tempo – Dá tempo de me levar pro terapeuta daqui a pouco?

Hakudoushi não deixava de olhar o que estava preparado. Era evidente que ela iria voltar, mas ele quis a confirmação:

— Pra onde você vai? – ele apontou com um movimento de cabeça diretamente para a bagagem.

Rin piscou curiosamente e deu um sorriso:

— Papai não contou? Vou voltar pra Tokyo. Ele me mandou voltar, na verdade. Está preocupado com o final do período.

Um silêncio se fez entre os dois.

— O que foi? – ela perguntou suavemente, mesmo incomodada com aquele olhar do irmão.

— Vai voltar com o papai desse jeito?

A garota franziu a testa, sem entender direito o tom usado pelo irmão. Parecia que ele estava irritado.

— Papai falou que está tudo bem e que eu não posso perder o final do semestre e...

— Você vai mesmo levar a sério isso que ele falou? – ele a interrompeu.

— Mas ele disse que está bem. E vou me organizar pra voltar em poucos dias. Fazer isso com frequência até ele melhorar. – ela continuou falando suavemente e insistiu no pedido – Você pode me levar pro terapeuta? Vou pegar o trem do início da noite.

Hakudoushi continuava calado e ela entendeu que ele não estava satisfeito com a notícia.

— Se não puder, eu posso pegar um táxi. – ela suspirou – Não entendo como não consegue aceitar que preciso ir e voltar agora por mais tempo.

— Seria mais fácil aceitar se você se importasse com a sua família. – ele deu as costas e saiu do quarto.

Rin sentiu o queixo cair e, em choque, viu-o andar no corredor em direção ao quarto dos pais.

— Hashi! – ela levantou-se e foi atrás dele.

— Sempre foi assim, Rin. – ele falou num tom mais duro – É sempre mais fácil você ignorar sua própria família.

— Isso não é verdade! – ela protestou, fazendo-o parar – Como pode dizer que não me importo se...

Hakudoushi olhou por cima do ombro e ela deu dois passos para trás: nunca tinha visto um olhar tão duro, mesmo quando brigaram das primeiras vezes por conta da mudança dela.

— Você nem se lembra mais dos nossos pais, Rin. Se eu não te arrastasse pro cemitério, era capaz de nem lembrar onde estão enterrados na cidade.

Rin sentiu-se tão ofendida e magoada que não encontrou palavras para rebater. Era claro que não era verdade, até porque...

A mão direita, fechada num pequeno punho, ficou pressionada contra o peito.

— Foi o que aconteceu com Aki. – ele continuou ainda mais sério e duro – Não foi ao enterro dele. Nem visitar no cemitério. Prefere ficar mais tempo em Tokyo do que lembrar que precisa visitar e prestar homenagem pra ele e pros nossos pais.

Ressabiada, ela desviou o olhar. Aquele incômodo que sentiu pela manhã voltou mais forte depois da menção sobre as despedidas e homenagens que ela deixou de fazer e que as outras pessoas que conhecia fizeram.

— Isso não é verdade. – ela repetiu num sussurro.

— Você vai ficar mais dois anos fora, né? – ele a lembrou – O papai contou sobre o que vai fazer por lá, já que você aparentemente esqueceu de me falar.

— Eu ia contar agora. – ela falou suavemente sentindo uma imensa tristeza pelo tom acusatório do irmão. Na mente, também ouvia a voz de Sesshoumaru com aquelas perguntas sobre qual seria a reação de Hakudoushi quando soubesse dos novos planos que ela tinha.

Era evidente que Sesshoumaru estava certo sobre como seria a reação do irmão e rapidamente lembrou-se das palavras dele: "O seu irmão não queria nem que você mudasse para cá. Acha mesmo que ele vai aceitar essa decisão? Estamos falando de família aqui."

— Eu fico cuidando da família agora. – ele continuou – Por mim, não precisa voltar pra visitar. Se vier, avise antes pra eu ficar uns dias longe e a gente não precisar se encontrar.

Rin respirou fundo e reuniu coragem para falar:

— Eu não sou esse tipo de gente. – ela tentou – Eu me importo sim com minha família.

A porta do quarto dos pais abriu e a mãe apareceu no corredor. Ao vê-los ali, ela colocou as mãos nos quadris, ficando com uma postura autoritária:

— Está acontecendo alguma coisa? – ela olhou para os dois – Rin, você já vai ao terapeuta? Arrumou suas malas?

Por um momento, a garota ficou confusa, sem conseguir focar e decidir qual pergunta deveria responder primeiro.

— Não aconteceu nada. – ele respondeu pela irmã – Ela já está de saída.

A mãe, desconfiando ainda que havia se passado alguma coisa entre eles, encontrou o olhar de Rin e tentou conseguir uma resposta diretamente dela.

— Vou terminar de arrumar minhas coisas. – ela falou num tom fraco e quase mecânico, dando de costas aos dois para voltar ao quarto, fechando a porta.

Voltou arrastando-se para cama e jogou-se nela, unindo as mãos para deitar um lado do rosto sobre elas.

Hakudoushi bobo. Eu me importo sim com todo mundo.

Olhou para o teto como tantas vezes havia feito antes.

Sempre me importei.

Cansada, ela fechou os olhos para tentar esquecer o que se passou.


RIIIIN-CHAAAAN! – Jakotsu abriu a porta sem bater como de costume. Carregava duas peças de inverno – Che-gueeei! Passei só pra deixar mais esses aqui pra você levaaar...

Parou de falar ao ver Rin deitada de lado, costas voltadas para ele.

— Tá dormindo numa hora dessas, menina? Vai perder o trem. – ele avisou. Jogou as peças na cama e sentou-se na beirada para tocar o ombro dela.

Foi quando ele notou a posição e o rosto dela, paralisando a mão. O sorriso divertido também morreu.

Segundos depois, ele correu para fora do quarto e voltou com a senhora Nozomu.

Depressa, os dois começaram a arrumar as coisas dela. Abrindo o armário, ele tirou uma mala grande e jogou aberta no chão sem qualquer zelo. Atirou algumas peças do guarda-roupa, as roupas que ele trouxera à tarde, sapatos, as compras que ela fizera pela manhã e os livros, cadernos e diários que estavam num monte no chão, perto da cama.

— Coloca essa roupa nela – atirou na cama um dos conjuntos que havia acabado de trazer – Vou terminar a mala.

— Jakotsu, não é melhor ela ir...?

— Ela tem que voltar pra Tokyo. – ele a interrompeu num tom sério e sem parar de arrumar a bagagem, atirando as peças de qualquer jeito – Ela vai ficar melhor por lá.

— Vamos, Rin... – a mãe ergueu os braços para colocar a blusa de mangas compridas.

O primo limpou rapidamente o suor da testa com um lenço finíssimo de seda com o kanji do nome dele bordado, olhando ao redor para procurar os pertences de Rin. A mala pequena foi aberta e ele viu pouquíssimas peças arrumadas no interior, jogando o conteúdo na mala maior.

— Será que ela anda mesmo pelada em Tokyo? Nunca vi ninguém viajar com pouca roupa.

— Ela nem foi ao terapeuta... – a mãe lamentou – Eu achei que ela só queria descansar...

— O que aconteceu hoje? Ela tava bem. – pelo menos ele achava que ela havia ficado depois de conversar. Será que ele tinha alguma coisa a ver?

— Ela e Hakudoushi discutiram.

— Hakudoushi, claro. Tinha que ser. – ele carregou a voz em ironia – Por que eu não surpreendo?

Ele me paga. E não vai ser pouco, pensou.

Olhou mais uma vez ao redor para se certificar de que ela levaria tudo que precisasse. Na cama, a senhora Nozomu tentava fazer Rin ficar sentada para deixar o cabelo mais apresentável.

— Ah, eu quase esqueci essas aqui! – ele correu para a cama e ignorou a avó sustentando o a cabeça de Rin com a mão esquerda enquanto penteava o cabelo com a outra. No outro segundo, ele precisava decidir qual peça caberia no espaço que sobrava na mala, optando por simplesmente colocar as duas e sentar em cima para fechá-la.

Minutos depois, ele voltava para perto da cama, atirando lençol, travesseiros e almofadas de qualquer jeito no chão para procurar o celular.

Encontrou o aparelho debaixo da última almofada que levantou. A prima, desleixada em relação à tecnologia e segurança, não tinha sequer uma senha programada.

— O que eu faço com você, Rin-chan? – ele lamentou-se enquanto começava a procurar por um contato em especial.

O nome apareceu como uma das ligações mais recentes e frequentes do aparelho. Sentando-se na beirada da cama, ele começou a digitar uma mensagem:

Rin vai pegar o trem de 19 horas. Por volta de 21:30 chegará a Tokyo. Procure a plataforma do trem de Aichi.

Depois de enviar o texto, ele por um acaso viu outro contato que achava mais interessante:

— I-Nu-Ya-Sha... – ele sussurrou e, mordendo os lábios em assanhamento, preparou-se para copiar o contato no próprio aparelho.

Sentiu um tapa atrás da cabeça e choramingou ao ver que era a senhora Nozomu já com a mão novamente erguida para bater:

— O que está pensando? Não faça isso.

— Mas... mas...

A mão erguida fez com que ele deixasse a ideia de lado com um beicinho.


— As chaves. – Sesshoumaru falou ao entregar o objeto nas mãos do professor: duas pequenas chaves ligadas a um chaveiro com o brasão da Universidade de Tokyo. Nos últimos meses, ele tinha sido o responsável por abrir e fechar aquela sala, além de ser o assistente direto do diretor enquanto Aoki Megumi, por algum motivo que ele não entendia, chegava atrasada com aquela desculpa de ter estado ocupada preparando comida.

Como ela ficou em primeiro lugar e Rin em terceiro naquela seleção era ainda um enorme mistério para ele. A namorada faria um trabalho muito melhor.

Ouviu um beep indicando o recebimento de uma mensagem, e automaticamente a mão entrou no blazer para tirar o celular do bolso interno.

No momento que iria ver se era alguma mensagem de Rin informando o horário de retorno, o professor falou e Sesshoumaru precisou deixar a mensagem de lado para escutar:

— Obrigado. O seu desempenho foi importante aqui. Vou enviar as informações para o departamento colocar como crédito em seu histórico no máximo em dois dias.

Sesshoumaru nada falou e apenas confirmou com a cabeça. Aquela era uma informação importante. Tão logo se livrasse daquela obrigação, melhor.

O professor, já acostumado com o jeito de poucas palavras do outro, arrumou alguns documentos e fez uma rápida reverência antes de afastar-se para levar os papéis para o departamento responsável por inserir as informações sobre o estágio nos históricos.

Sesshoumaru aproveitou para tocar a tela do celular e ver que, de fato, recebera uma mensagem de Rin. No momento em que ia abrir para ler, alguém novamente o interrompeu:

— Ah, Sesshoumaru-sama... – a garota Aoki apareceu atrás dele com um enorme bentô enrolado num pano xadrez em mãos – Eu trouxe isso aqui para você jantar hoje.

A única reação dele foi encarar de volta, sem piscar.

— Espero que goste de frutos do mar. – ela entregou nas mãos dele sem ter noção do próprio constrangimento – Ah, o que você acha de amanhã nós dois...

Enquanto ela continuava o falatório, Sesshoumaru aproveitou para ler a mensagem. Segurou o bentô com a mão esquerda e com a outra abriu a mensagem.

— ... E então a nossa família se reúne para...

Megumi parou de falar ao notar que ele franzia a testa para a mensagem. Em meses trabalhando com ele, dificilmente via uma reação naquele rosto e agora ele parecia preocupado.

— Aconteceu alguma coisa? – ela perguntou suavemente.

— Preciso ir. – ele guardou o celular no bolso interno e fez menção de devolver o bentô.

Megumi balançou brevemente as mãos para impedi-lo.

— Pode levar. Está muito bom. – ela continuava no mesmo tom sereno e um sorriso compreensivo – Espero que esteja tudo bem com Nozomu-san.

Aquela garota passou meses oferecendo jantares e almoços, alguns descaradamente na frente de Rin sem convidá-la, aparentemente sem entender que os dois estavam juntos, para agora demostrar que sabia da existência dela e parecer preocupada?

Resolveu deixar aquilo de lado. Era provavelmente a última vez que teria um contato mais próximo com aquela garota.

— Obrigado. – ele apressou-se em sair dali e correr até a estação central.

Longe, ele não viu Megumi dar um suspiro cansado e apaixonado.


Depois de pegar um trânsito pesado, Sesshoumaru chegou à estação e esperou. Poderia ter feito isso na própria universidade, mas ali, mesmo no meio do fluxo de pessoas partindo e desembarcando, teve a sensação de que não teria os pensamentos atrapalhados.

Procurou um dos bancos, sentou-se e leu várias vezes a mensagem de Rin. Tinha as informações básicas sobre o trem, como o nome da plataforma e o horário, mas algo chamava a atenção: não tinha sido uma mensagem escrita por ela.

Aconteceu alguma coisa.

Enquanto estava ali, viu na plataforma diversas pessoas aguardando para embarcar ou simplesmente receber alguém, como ele mesmo já havia feito por Rin. A impressão que teve era que já conhecia alguns rostos. Recordava-se de ter visto uma vez a mãe com um bebê de colo, apenas com o carrinho e uma bolsa, esperando o pai voltar.

Algum tempo depois, os alto-falantes anunciaram a chegada do trem-bala de Nagoya com destino a Tokyo. Ele levantou-se e aguardou as portas abrirem.

Homens, mulheres, crianças começaram a descer. Alguns tinham conhecidos aguardando, outros iam embora sozinhos. A primeira vez que Rin chegou tinha sido daquela maneira: ninguém a recebeu e ela arrastou sozinha aquelas malas carregadas de roupas do primo até ao primeiro apartamento que ela havia alugado.

O fluxo de desembarque começou a diminuir e nada de Rin aparecer. Ele conferiu a plataforma, o número do trem, tudo certo. Ele estava no local certo.

Mas onde ela estava?

Sesshoumaru olhava fixamente para a porta do trem. Os controladores e agentes de limpeza já conferiam os vagões e ele andou pela plataforma conferindo o interior pelo vidro das janelas.

No penúltimo vagão, viu um grupo pequeno de fiscais conversando entre si e aproximou-se. Talvez pudessem permitir uma subida para que a procurasse lá dentro. Talvez ela tivesse adormecido e ele sabia que, quando isso acontecia, poucas coisas conseguiam despertá-la.

Os fiscais, no entanto, falavam de uma mulher no interior do vagão e pediam instruções sobre como fazê-la descer.

— Com licença... – ele interrompeu – Uma pessoa ainda não desceu. Uma mulher. Estou procurando por ela.

Os homens trocaram olhares e um deles apontou com o polegar o interior do veículo:

— Lá dentro. Tem uma mala e uma mochila grande também. Precisa descer logo para terminar a limpeza.

Sem esperar uma segunda explicação, ele subiu com pressa os degraus e andou pelo estreito corredor até alcançar a parte principal do vagão. Viu um perfil pequeno, de grande casaco de tweed, sentado com o cabelo solto cobrindo as laterais do rosto e a franja escondendo o olhar. Ao lado, uma grande mala amarela de quatro rodas tinha a etiqueta com o nome dela, além da conhecida mochila que ela usava com frequência.

Impossível não reconhecer quem era.

— Rin. – ele a chamou.

A única reação que teve foi vê-la erguer o rosto abatido e a franja levantar, revelando o olhar mais vazio que ele já tinha visto nela. Sentada naquela poltrona, ela parecia extremamente cansada, como se tivesse todo o peso do mundo impedindo que se movesse.

Os olhos dele ficaram ligeiramente arregalados, apenas por meros segundos.

Aquela não era a Rin dele.

— O que aconteceu com você?


Sesshoumaru não demorou muito a encontrar uma vaga para estacionar perto do prédio de Rin. O problema, naquele momento, era decidir em como levá-la naquele estado para o apartamento com a mala e a mochila.

Voltou-se para ela. Rin ainda parecia completamente sem forças, com os olhos semicerrados e sem vida. A boca estava entreaberta e não saía um único som da garganta.

Decidiu deixar mala e mochila no carro e cuidar apenas dela. A bagagem ficaria para o outro dia, pensou ao desafivelar o cinto de segurança dela e tentar provocar alguma reação.

— Venha, Rin. – ele pediu.

Nada. Nem ao menos um suspiro.

Desceu, deu a volta e abriu a porta do lado dela. Tirou-a do interior e tentou deixá-la em pé, apenas para perceber que teria que ter ainda mais cuidado – a cabeça dela pendeu para um lado e quase bateu no vidro do carro quando ela praticamente escorregou ao encostar o corpo inerte no veículo.

Com cuidado, ele a segurou com a mão esquerda por alguns segundos enquanto procurava com a outra as chaves do apartamento no bolso do casaco novo, um modelo assinado pelo primo dela.

Depois de encontrá-las, jogou-a parcialmente por cima do ombro e hesitou por um momento antes de trancar o carro. Isso porque lembrou-se do bentô que a colega de estágio fez e resolveu levá-lo.

Carregou-a até o apartamento. Ao entrar, Sesshoumaru tentou fazê-la tirar os sapatos no genkan, mas não teve reação. Ela parecia uma boneca completamente sem emoção, os olhos sem brilho e o cabelo cobrindo parte do rosto.

Desistiu dos sapatos dela e simplesmente a carregou nos braços até o quarto, deslizando as portas com os pés.

Deitou-a na cama e a viu remexer-se para virar o rosto para o lado. Tirou os sapatos dela e a acomodou com os travesseiros, tomando um tempo para livrá-la do casaco, da blusa, das meias... deixou-a apenas com a roupa íntima antes de procurar o yukata que ela geralmente usava para dormir para vesti-la e cobri-la com o edredom.

Sentou-se na beira da cama e observou-a remexer-se e deitar-se de lado. Deslizou a mão pelas curvas como uma forma de dar um pouco de consolo.

Dobrou cuidadosamente a roupa e levou o sapato para o genkan, voltando de lá para tirar a roupa social e vestir um antigo yukata que passou a ser de Rin.

Procurou o celular no bolso interno do blazer já dobrado e ligou para Kaede, que o atendeu no primeiro toque.

— Vou passar a noite com Rin hoje. – ele avisou.

Você não precisa mais fazer isso. – ela avisou com uma voz cansada. Possivelmente ela já estava se retirando para dormir no momento que atendeu a ligação – Sabemos que está com ela agora.

Sesshoumaru olhou de soslaio a figura sem reação na cama.

— Volto amanhã de manhã com ela.

Oh... Tão cedo?

— Sim. – respondeu simplesmente – Ela vai passar o fim de semana comigo.

Bem... Já sei o que preparar para o café. Boa noite, então.

Sesshoumaru encerrou a ligação e foi para o lado de Rin, sentando-se na beirada da cama.

Não houve reação por parte de Rin. Só conseguia ver um lado do outro, enquanto o outro estava afundado no travesseiro.

Deitou-se e a encarou.

Foi exatamente daquele jeito que a mãe dele havia ficado depois da morte do pai: sem vida, sem alegria, apenas um corpo respirando em profundo estado de melancolia.

Aquilo não combinava com Rin. A Rin dele não fingia mais sorrisos educados para esconder a tristeza, como fazia quando se conheceram. Ele sabia reconhecer quando os olhos não combinavam com o sorriso que ela tinha.

Tocou a maçã do rosto com o polegar enquanto os demais dedos acarinhavam a mandíbula e atrás da orelha.

Com o contato prolongado, notou, pelo lado visível, que o olho voltou a adquiria uma reação: ela piscou e deixou as pálpebras descerem lentamente.

— Descanse. – ele sussurrou, sem parar a carícia – Está tudo bem agora.

Não demorou muito para que ela dormisse daquela maneira.

Sentindo um pouco de fome, ele decidiu comer o bentô preparado pela ex-colega de estágio. Provavelmente Rin não acordaria para jantar.

Alguns tempo depois, já terminada a refeição, olhou fixamente um número em especial na tela no celular, um que Rin havia usado uma única vez para mandar uma mensagem para ele.

Parado na frente da sacada, ele observava as luzes acesas do prédio da faculdade apagarem uma por uma ao mesmo tempo que decidia ligar para aquele número da mensagem.

Encostou o aparelho na orelha e ouviu tocar uma, duas, três vezes. Na quarta, alguém atendeu.

Do outro lado, houve silêncio. Sesshoumaru conseguiu até imaginar o outro olhando para algum ponto da cidade pela janela da casa em Nagoya, da mesma forma que ele fazia em Tokyo.

Ambos ficaram daquele jeito por quase trinta segundos. Era evidente que Hakudoushi sabia quem estava na linha.

— Vai se arrepender do que fez. – ele falou num tom de aviso.

Isso é entre mim e Rin. – o outro devolveu no mesmo tom – Não se meta em questão de família.

— Tudo que envolve Rin é do meu interesse também.

Você não conhece nossa história.

Mais uma luz se apagou do prédio da faculdade.

— Você também não conhece a minha.

A última luz apagou e ele, estreitando levemente os olhos, desligou na cara de Hakudoushi.


Nota da autora II: Sobre o outtake: resolvi contribuir com a antologia de natal de Sesshoumaru x Rin que será lançada no Natal. O outtake será publicado lá.

Quem tiver interesse em ler, o grupo que está organizando solicita a doação a uma ONG de causa animal ou para uma instituição de caridade e envio apenas do comprovante por e-mail. Vou deixar as informações completas no meu perfil :) A antologia será lançada dia 25/12!

Espero que tenham gostado do capítulo e comentem! O próximo será mais alegre, prometo.

Beijos!